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Este trabalho constou de uma pesquisa de campo da qual foram recolhidos dados para análise descritiva sobre os coletores de lixo e os varredores de rua de uma cidade da RMC e da revisão da literatura sobre a saúde desses trabalhadores, assim como sobre distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Devido à escassez de publicações a respeito da saúde dessa população, o foco do trabalho recaiu sobre a descrição do perfil desses trabalhadores e sobre a investigação da ocorrência de sintomas osteomusculares nesses indivíduos para, quem sabe, inspirar propostas para a melhora da saúde musculoesquelética dessas populações.

O presente trabalho demonstra, entre outros achados, o baixo nível de escolaridade dos coletores de lixo e varredores de rua. Gir (1991), em sua pesquisa que data de 1991, encontrou o seguinte quadro quanto à escolaridade dos coletores de lixo: 17% analfabetos, 80% com ensino fundamental I ou II (4ª a 8ª série) e apenas pouco mais de 2% com ensino médio. Santos (1999) relata em sua pesquisa que a maioria dos coletores de lixo são analfabetos. Já Oliveira (2008) encontrou em sua pesquisa, com trabalhadores da limpeza pública de Salvador, um índice de 60% de indivíduos com nível de escolaridade do ensino fundamental. Neste estudo, foram encontrados níveis mais satisfatórios de escolaridade dos lixeiros, porém, ainda baixos. Nenhum dos entrevistados era analfabeto e, comparando-se com os estudos citados, os coletores da cidade em questão tiveram melhores níveis de escolaridade: 49% com nível escolar de ensino fundamental II (5ª a 8ª série) e 37% com nível escolar de ensino médio.

Em relação ao nível de escolaridade dos varredores de rua, os resultados foram inferiores. Dentre os entrevistados, 95% estão dentro da faixa do ensino fundamental, subdividindo-se em 38% (ensino fundamental I), 57% (ensino fundamental II) e apenas 5% chegaram ao ensino médio.

Os dados deste trabalho mostram que o nível de escolaridade dos coletores e dos varredores ainda permanece baixo. O pouco tempo de estudo pelo qual passam esses trabalhadores sugere a exclusão social em que se inserem e resulta em falta de opções no mercado de trabalho. São indivíduos que provavelmente tiveram que abandonar os estudos para trabalhar ainda

crianças, perdendo oportunidades de acesso ao conhecimento e sendo levados a trabalhos que exigem somente o uso do corpo como ferramenta, como a coleta do lixo e a varrição das ruas.

As diferenças do nível de escolaridade entre os lixeiros e os garis da cidade estudada intersectam com as diferenças de idade das duas funções e sugerem algumas relações. A média de idade dos coletores é de 23,5 anos, evidenciando uma população jovem, quando comparada com a população de garis, que tem média de idade de 50 anos. Os dados sugerem que os coletores, por serem mais jovens, podem ter tido um melhor acesso à educação do que os varredores, que têm mais idade. Além disso, nota-se que a idade relaciona-se à capacidade física do trabalho.

Outro resultado deste trabalho que traz profundas diferenças em relação aos dois grupos é em relação aos índices de massa corporal. Os coletores apresentaram média de IMC de 21,97, enquanto os varredores apresentaram uma média de IMC de 24,86. Essa diferença sugere que o tipo de trabalho realizado pelos lixeiros, sendo mais dinâmico e desgastante, proporciona maior gasto calórico do que na varrição.

O ritmo de trabalho e a agressão física provocada pela função de coletor também pode ser constatada neste trabalho pela idade dos trabalhadores, todos muito jovens, e pelo pouco tempo que esses profissionais permanecem na profissão. Diferentemente dos lixeiros, os varredores têm, em média, muito mais tempo na função. Enquanto os coletores de lixo entrevistados estão, em média, 319 dias na profissão, os garis têm 1634 dias de trabalho. O ritmo de trabalho mais lento dos varredores pode sugerir um dos motivos da maior permanência desses trabalhadores na função.

O principal item desta pesquisa incide sobre as queixas osteomusculares desses trabalhadores. Devido às diferenças de ritmo e de intensidade de trabalho, é evidente que as maiores sobrecargas no sistema osteomuscular recaem sobre os lixeiros e as chances do desenvolvimento de DORT também aumentam. Como destaca Punnett (2004), há quase um consenso internacional de que as lesões musculoesqueléticas são causalmente relacionadas aos estresses ergonômicos do trabalho, aos movimentos repetitivos, ao esforço vigoroso, a posturas não neutras e às combinações desses fatores. Pelo QNSO fica clara a elevada ocorrência de

queixas osteomusculares desses trabalhadores entrevistados, 56% relataram ter sentido sintomas musculoesqueléticos nos últimos 12 meses e a mesma proporção relatou ter sentido os sintomas nos últimos 7 dias. Já no quadro dos varredores de rua, nota-se que as queixas são bem inferiores: 33% se queixaram por sintomas nos últimos 12 meses e 29% nos últimos 7 dias.

Quando se considera os locais das queixas, há um predomínio dos membros inferiores. Uma sugestão a respeito das causas dessa diferença de queixas, bem mais presentes nos membros inferiores, pode ser devido ao excesso de movimentos repetitivos e de carga durante o processo de coleta, visto que os coletores fazem o serviço correndo e saltando para cima e para baixo do caminhão. Já os garis não apresentaram diferenças significativas de queixas osteomusculares em algum segmento específico.

Quando questionados a respeito das próprias impressões, se estabelecem relação de suas dores com o processo de trabalho, os coletores de lixo que apresentaram queixas osteomusculares responderam, em sua imensa maioria (82% nos que relataram dor no último ano e 73% nos que relataram dor na última semana), que acreditam que suas dores têm relação com seu processo de trabalho.

Há a necessidade de ressaltar que os resultados do trabalho foram limitados pela exigência da empresa para que as entrevistas fossem feitas da maneira mais rápida e incisiva possível, sem que pudesse prejudicar o tempo e o processo de trabalho dos sujeitos entrevistados. Dessa forma, os instrumentos de coleta dos dados tiveram que ser reduzidos, assim, acarretando na impossibilidade de aprofundar qualitativamente outros aspectos sociodemográficos. Outro fator limitante em relação às análises dos dados é o pouco tempo de permanência dos trabalhadores da coleta de lixo. Se a grande carga osteomuscular pela qual passam os lixeiros pode justificar o grande número de queixas desse quesito nesses trabalhadores, o pouco tempo na função não permite que uma comparação adequada possa ser feita entre os coletores mais antigos e os mais novos, ou seja, dos indivíduos expostos por mais tempo em relação aos expostos a menos tempo.

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