• Nenhum resultado encontrado

A CULTURA INDÍGENA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA PERSPECTIVA CULTURAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A CULTURA INDÍGENA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA PERSPECTIVA CULTURAL"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

A CULTURA INDÍGENA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA PERSPECTIVA CULTURAL

Indigenous culture in physical education: a cultural perspective

Juliana Trajano dos Santos Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO1

Roberto Ferreira dos Santos Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO2 Resumo: O objetivo do presente trabalho é apresentar as vivências da cultura indígena por alunos do Ensino Fundamental I, com a finalidade de ampliação nos conteúdos que contemplem a cultura corporal de movimento nas aulas de Educação Física. É uma pesquisa qualitativa, que utilizou a observação e os registros das aulas. Foram cerca de 70 participantes, alunos matriculados nas séries iniciais do Ensino Fundamental I, em uma escola municipal do Rio de Janeiro. Inicialmente, os alunos apresentaram poucos conhecimentos acerca da cultura indígena. Porém, ao decorrer das aulas ocorreram mudanças, como a utilização do termo indígena pelos alunos, os achados das pesquisas referentes às diferentes populações étnicas e à Fundação Nacional do índio (FUNAI). Assim, foi possível abordar a cultura indígena, abarcando a cultura corporal de movimento, a descolonização do currículo e a inclusão em uma perspectiva ampla, fazendo com que as aulas de Educação Física fossem um espaço democrático.

Palavras-chave: Cultura Indígena, Educação Física, Cultura Corporal, Ensino Fundamental I

ABSTRACT: The objective of the present work is to present the experiences of indigenous culture by students of Elementary School I, with the purpose of expanding the contents that contemplate the corporal culture of movement in Physical Education classes. It is a qualitative research, which used observation and class records. There were about 70 participants, students enrolled in the initial grades of Elementary School I, in a municipal school in Rio de Janeiro. Initially, students had little knowledge about indigenous culture. However, in the course of the classes, changes took place, such as: the use of the term indigenous by the students, the findings of research related to different ethnic populations and the National Indian Foundation (FUNAI). Thus, it was possible to approach indigenous culture, encompassing the body culture of movement, the decolonization of the curriculum and inclusion in a broad perspective, making Physical Education classes a democratic space.

Keyword: Indigenous Culture, Physical Education, Corporal Culture, Elementary School.

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física; julianatds@gmail.com 2 Docente no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física; rob.fersantos@oi.com.br

(2)

Temas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, ago./dez. 2019, p. 171-181. Introdução

A escola, desde a universalização da educação pública, tem sido um espaço com grande diversidade cultural, étnica e econômica, abarcando principalmente as classes populares, as crianças e adolescentes pertencentes a esta (SOARES, 2008). Dessa forma, este espaço deve ser democrático, no sentido da ampliação da participação de todos os discentes, bem como suas vivências e as suas bagagens culturais, dando voz aos grupos que por vezes foram silenciados pela sociedade. Esse silenciamento é fruto de preconceitos culturais, no qual o estudante era obrigado a usar uma linguagem padrão socialmente aceita dentro da escola (SOARES, 2008).

A Educação Física é uma disciplina obrigatória do componente curricular do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, tendo em sua estrutura os jogos, as danças, a capoeira, as lutas e conhecimento sobre o corpo como conteúdos orientadores para o docente trabalhar a cultura corporal nas aulas (BRASIL, 1997; SOARES et al, 1992). Devemos entender a cultura corporal como sendo: movimentos corporais nos quais os estudantes constroem a partir de vivências e, estas, são desenvolvidas a partir de contextos sociais históricos e culturais (BRASIL, 1997).

O movimento corporal, que o estudante constrói fora da escola a partir das brincadeiras e atividades corporais vivenciadas pelo mesmo, torna-se um dos objetos das aulas de Educação Física. A partir da cultura corporal do estudante, o docente cria e desenvolve as aulas pautadas no mesmo.

Dessa forma, o trabalho com o corpo e a consequentemente com a cultura corporal, deve partir do princípio da inclusão, respeitando o arcabouço de vivências dos estudantes, pois este é social e histórico, e não adotando o processo de padronização dos corpos. A inclusão nas aulas de Educação Física não é voltada somente para os estudantes que possuem algum tipo de deficiência. Pensar a inclusão em uma nova perspectiva permite que todos os estudantes sejam incluídos nas aulas, desde os deficientes até mesmo os que não possuem deficiências, mas têm dificuldades durantes as aulas (FONSECA; RAMOS, 2017).

Assim, dentro dessa nova perspectiva de inclusão, que não considera somente o estudante que possui alguma deficiência, mas inclui estes e também os estudantes

(3)

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

que são excluídos das aulas por não serem habilidosos, os grupos de cultura marginalizada pelo processo de colonização, como por exemplo, a cultura afro-brasileira e a indígena são trabalhadas dentro das aulas de Educação Física, buscando a descolonização curricular3 deste conteúdo (NEIRA, 2011), com a finalidade de uma educação democrática que atinja todos os grupos étnicos-raciais, que por diversos momentos estiveram ausentes do processo educacional. Pensar nessa perspectiva ampla da inclusão é pensar em uma educação na perspectiva cultural – entender que os processos culturais são dinâmicos, particulares e que a escola deve respeitá-los, enquanto espaço democrático – e partindo do saber dos estudantes, tornando-os protagonista do processo. Partindo de uma educação cultural e inclusiva, como trabalhar a cultura indígena dentro das aulas de Educação Física para estudantes dos Anos Iniciais?

Sendo assim, o objetivo do presente trabalho é apresentar as vivências da cultura indígena por estudantes do Ensino Fundamental I, com a finalidade de ampliação nos conteúdos que contemplem a cultura corporal de movimento nas aulas de Educação Física.

As diferentes vivências motoras que partem de grupos marginalizados ajudam a entender os processos sociais/culturais/educacionais e reduzir as marcas dos processos coloniais que marcam o espaço escolar e a Educação Física (NEIRA, 2011), fazendo com que o professor de Educação Física desenvolva somente os desportos – que também são importantes – em suas aulas, deixando invisível as expressões culturais pertencentes aos estudantes.

O esporte também é tido como produto cultural, desde a criação do desporto até os dias atuais (ELIAS; DUNNING, 1992; MURAD, 2009). Então, não podemos descartá-lo das aulas, mas proporcionar ao mesmo uma discussão que ultrapasse a questão competitividade. O esporte que tratamos aqui é não se limita ao recorte da

performance, mas o esporte que possa ser desenvolvido dentro da escola,

reconhecendo e valorizando as diferentes vozes que habitam a ambiente escolar.

3 O processo de descolonização do currículo inclui neste, que antes era predominantemente pautado

no homem branco e europeu, a cultura negra marginalizada no Brasil, assim, “viabiliza um leque de oportunidades ‘diferentes’, proporcionando a participação equitativa de múltiplas identidades” (NEIRA, 2011, p. 81).

(4)

Temas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, ago./dez. 2019, p. 171-181.

Além disso, este pode proporcionar discussões relevantes, como por exemplo, as violências - homofobia, machismo, racismo - que acontecem nos campos/ quadras, que por diversas vezes são meras imitações do estado de uma sociedade, e que surgem também dentro das aulas de Educação Física.

O esporte que discutimos é àquele que não percebe uma visão reificada do mesmo, em outras palavras, o esporte é uma construção plural que admite várias visões. Esse é, provavelmente, o segredo de seu sucesso cultural no mundo. Só como exemplo, podemos nos referenciar em Jorge Olímpio Bento (2014), que diz:

Formulado de outra maneira, o desporto é o artefacto cultural por excelência, criado pela nossa civilização, para corresponder ao desejo de instituir o corpo como instrumento de socialização em princípios e valores que elevam e qualificam s pessoa e a vida. Ei-lo, pois arvorado em factor importante de implantação da desejada e apreciada condição e social (p.131).

Realizar a inclusão na perspectiva ampliada significa também abarcar as culturas dos grupos esquecidos e marginalizados. Partir desse princípio, abordar a cultura indígena é possibilitar ao estudante compreender os processos de formação cultural no Brasil, partindo do princípio da diversidade e respeito às culturas dos povos originários brasileiros, ecoando as vozes indígenas a partir das vivências escolares. Metodologia

O presente estudo é uma pesquisa qualitativa, com uma visão etnometodológica das aulas – tendo uma visão mais aprofundada e detalhada dos comportamentos dos estudantes diante de tal situação de ensino, neste caso, as atividades da cultura indígena – tendo como base a observação das mesmas e as falas dos estudantes diante dos questionamentos e diálogos que surgiram durante o desenvolvimento da temática. A pesquisa qualitativa foi nossa opção, pois busca-se uma interpretação dos achados na pesquisa voltados para as aulas de Educação Física. Esse tipo de pesquisa possibilita o acesso a diferentes informações, dentro do cotidiano do grupo a ser investigado (YIN, 2016).

A entometodologia é uma forma de analisar um grupo dentro de seu contexto a partir da leitura dos etnométodos – forma de fazer – dos indivíduos pertencentes ao mesmo, suas maneiras de agir, suas falas e características intrínsecas. A análise dos

(5)

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

atores sociais busca entender certos fenômenos sociais (SILVA; VOTRE, 2012; COULON, 1995). A partir das falas, buscou-se entender o processo educacional ofertado pela Educação Física e a temática referente à cultura indígena.

Durante o segundo bimestre, as aulas foram construídas a partir da perspectiva cultural que abordasse as vivências da cultura indígena. Os anos contemplados com essa temática foram 1º e 2º anos do Ensino Fundamental I. Os estudantes destas turmas estavam no momento da pesquisa matriculados em uma Escola Municipal, localizada na Pavuna, bairro localizado na Zona Norte do Município do Rio de Janeiro. Foram desenvolvidas cinco aulas com a temática da cultura indígena, para 4 (quatro) turmas, totalizando aproximadamente 70 alunos, matriculados no momento da pesquisa nos turnos da manhã e da tarde, com faixa etária de 6 e 7 anos.

A escola foi selecionada devido a um dos pesquisadores está inserido nesse ambiente e perceber algumas ausências dentro dos conteúdos das aulas de Educação Física. A escolaridade presente neste estudo foi escolhida devido a fácil inserção de novas maneiras de se movimentar pelos estudantes e de o aprendizado ser mais enriquecido devido à formação do símbolo nessa faixa etária (FREIRE, 2009). Além do simbolismo, Freire (2009) afirma que: “as crianças criam livremente [..] e isso parece que garante o elo entre ela e o mundo na construção do real” (FREIRE, 2009, p. 39). É necessário entender espaço escolar e os estudantes para cada vez mais construirmos além de conhecimentos, laços de afeto, a fim que esse conhecimento ultrapasse os muros da escola.

Inicialmente, os estudantes apresentaram em suas falas, desconhecimento em relação à palavra indígena. Quando a palavra foi associada ao termo índios, os mesmos mostraram alguns conhecimentos: “tia, índio é o que mora na floresta” (Estudante A); “o índio caça para comer” (Estudante B); “eu sei o que o índio faz, ele anda com um negócio de pena na cabeça” (Estudante C). As falas dos estudantes apresentaram uma visão do indígena descontextualizada da atualidade, no qual muitos indígenas já estão introduzidos nas cidades. A partir desse conhecimento prévio, foi apresentado um pequeno filme4 que apresentava a vida indígena desde a

4 O filme é intitulado de Os indígenas – Raízes do Brasil, disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=cQkA5PDow2s>

(6)

Temas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, ago./dez. 2019, p. 171-181.

vinda dos portugueses ao Brasil, até os dias atuais, na busca de direitos e existência e atuação da FUNAI. A apresentação do filme foi uma forma lúdica de primeiro contato dos alunos com a cultura indígena.

Os estudantes realizaram uma pesquisa cujo tema era mostrar a vida dos indígenas brasileiros antigamente e na atualidade, podendo usar figuras e textos. Eles trouxeram diferentes materiais relacionados à vida indígena, sua forma de viver nas florestas, o número de etnias existentes no Brasil, a população indígena brasileira, os direitos adquiridos pelos indígenas e a FUNAI. A construção de conhecimento foi enriquecedora e advinda dos achados dos próprios estudantes, colocando-os como protagonistas nesse processo.

Como exemplo, o cabo de guerra foi uma das atividades trabalhadas durante as aulas. Inicialmente, os estudantes foram questionados como seria a mesma. Muitos sabiam o que era o cabo de guerra, mas não sabiam da origem indígena. Porém, um estudante explicou que sabia que o cabo de guerra era indígena, ele relatou: “tia, eu sabia que essa brincadeira é indígena, porque na minha outra escola, um amigo pesquisou sobre a cultura indígena e ele contou para turma que o cabo de guerra era feito pelos índios” (Estudante D). A partir desta fala, tentamos descontruir a ideia de índio e introduzir o termo indígena, que é mais abrangente e adequado quando se trata deste grupo étnico. Pois a utilização do termo índio passa um entendimento que todos são iguais, mas na verdade cada etnia indígena tem suas particularidades. O termo indígena carrega em si, tacitamente, as individualidades que tanto se defende. Outros pontos desenvolvidos durante esta conversa foram alguns conhecimentos a cerca da cultura indígena referente às etnias, suas diferenças e particularidades, dando ênfase ao direito de serem diferentes e respeitados, independentemente de sua forma de viver. A diversidade cultural e étnica permeou as aulas, tendo como pressuposto a cultura corporal dos discentes.

As brincadeiras/atividades indígenas foram contextualizadas a partir das pesquisas realizadas pelos estudantes, as vivências nas atividades (psicomotoras, conceituais e procedimentais) e trocas de experiências durante as aulas de Educação Física, proporcionando ao estudante o papel de protagonista e construtor de seu

(7)

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

próprio conhecimento. Além dos aspectos culturais da própria atividade, foram debatidos os aspectos que envolveram a força muscular dentro da atividade. Na dimensão afetiva, o conhecimento da cultura trouxe o respeito para estas vivências, respeito para com os indígenas e entre os próprios estudantes também.

Nas vivências psicomotoras e procedimentais, os estudantes puderam vivenciar as diferentes formas de exercer a força durante o Huka Huka, o cabo de guerra e a questão do respeito às particularidades de cada estudante e seu respectivo corpo. No campo conceitual, as mudanças dos termos índios e indígenas, os conhecimentos relacionados a termos mais específicos, como já mencionados anteriormente.

Outra atividade indígena vivenciada foi a luta Huka Huka. O Huka Huka é uma luta indígena brasileira, da etnia Xingu. É uma luta que tem como objetivo tirar o oponente do círculo marcado no chão, empurrando-o sem usar as mãos. Durante esta aula, foram contextualizadas as características das lutas e seus aspectos motores, como força e agilidade. As vivências desta atividade proporcionaram aos estudantes uma forma diferente de luta, já que quando questionados inicialmente sobre o que era luta, os mesmos falaram sobre artes marciais orientais, utilizando socos e chutes. Durante as aulas, foi dado ênfase ao fato de a Huka Huka ser uma luta brasileira, a fim de valorizar os aspectos culturais dos povos originários do país. Os estudantes se mostraram entusiasmados com a nova temática. “Tia, eu não sabia que existia uma luta assim” (Estudante E).

A abordagem dessa temática foi finalizada com uma atividade de campo, realizada por alguns estudantes junto com os responsáveis, a professora regente de turma e a professora de Educação Física. Os estudantes fizeram uma visita a Aldeia Maracanã. Nesta vivência, os estudantes conheceram indígenas de três origens étnicas diferentes: Canela, Guajajara e Xavante. Conheceram os aspectos históricos da localidade. Vivenciaram os grafismos corporais e o manuseio de miçangas. Essa experiência enriqueceu os significados às atividades realizadas na escola, durante as aulas de Educação Física.

(8)

Temas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, ago./dez. 2019, p. 171-181. Figura 1 – Indígena da etnia Guajajara

Fonte: Autora, 2019.

Figura 2 – Paredes do Local

Fonte: Autora, 2019.

Figura 1 – Estudantes tendo contato com o local

(9)

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

Figura 2 – Estudantes vivenciando o grafismo

Fonte: Autora, 2019.

Resultado e discussão

Durante o desenvolvimento das aulas, percebeu-se um saber advindo do senso comum referente à cultura indígena. Essa visão distorcida e preconceituosa acaba sendo reproduzida dentro do espaço escolar, sendo necessária a descolonização do currículo.

Para Neira (2011) descolonização do currículo é a utilização das práticas corporais e sociais dos grupos dominados ao longo da história, a fim de valorizar sua cultura e suas lutas, pois “[...] valoriza e reconhece a diversidade identitária da população e proporciona o ambiente necessário para que as narrativas sejam efetuadas a partir da própria cultura” (p. 80).

As atividades diversificadas dentro da Educação Física auxiliam no processo de inclusão de todos os estudantes (FONSECA; RAMOS, 2017). As diferentes vivências psicomotoras desenvolvidas pelas atividades Huka Huka e cabo de guerra proporcionaram aos estudantes experiências diferenciadas dentro das dimensões conceituais e atitudinais. A pesquisa realizada pelos estudantes possibilitou que eles trocassem informações que compartilhassem seus conhecimentos em um ambiente descontraído e prazeroso.

Os estudantes apresentaram diversas falas positivas em relação à população indígena e suas culturas. “Tia, os indígenas têm os mesmos direitos que a gente”; “não podemos maltratar a natureza, pois ela é importante pros indígenas e para gente”(Estudante E); “eles podem viver nas florestas, mas também podem viver nas

(10)

Temas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, ago./dez. 2019, p. 171-181.

cidades, estudar...” (Estudante F); “o Huka Huka é uma luta muito legal”(Estudante G).

Além das falas, os estudantes apresentaram grande entusiasmo na apresentação dos achados da pesquisa. Neste dia, o diálogo com a turma durou cerca de uma hora, a partir de questionamentos advindos dos estudantes e seus conhecimentos adquiridos a partir das pesquisas, feitas por eles, formando um ambiente construtivo de conhecimento compartilhado.

Dentro do conceito de uma perspectiva cultural, que busca a não padronização dos movimentos e a emergência dos conteúdos dos grupos marginalizados, as aulas apresentaram elementos importantes como o reconhecimento da cultura corporal e a problematização de representações distorcidas, no caso, referente aos indígenas (NEIRA, 2018). Assim, corroborando com a visão de Neira (2011) relacionada à descolonização curricular, as atividades foram pautadas em uma imagem real do indígena e sua vida na atualidade, descontruindo os conceitos de índio que só vive na floresta e usa cocar. Outra percepção importante foi a utilização do termo indígena pelos estudantes, mostrando assim utilização apropriada dos conceitos utilizados durante a aula, apresentados nas falas anteriormente descritas.

Conclusão

A descolonização do currículo de Educação Física se faz necessário para a apresentação de conteúdos de grupos marginalizados, como os indígenas. A cultura indígena possui aspectos históricos e sociais importantes para o ambiente educacional, como o respeito às diferenças e às diversidades étnicas-raciais.

A Educação Física pautada na perspectiva cultural busca a não padronização dos movimentos trabalhando a descolonização do currículo levando em consideração a cultura corporal dos estudantes. Além disso, trabalhar a diversidade de atividades, como pesquisas realizadas e manifestações culturais indígenas traz para as aulas a visão ampliada de inclusão, que possibilita abarcar todos os estudantes.

Assim, é possível para o docente abordar a cultura indígena, abarcando a cultura corporal a descolonização do currículo e a inclusão em uma perspectiva ampla,

(11)

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

fazendo com que as aulas de Educação Física sejam um espaço democrático dentro da escola, que pode ser percebido a partir das falas dos estudantes.

Referências

BENTO, Jorge Olímpio. 12. Em defesa do desporto. In: GAYA, Adroaldo. A Educação Física: ordem, caos e utopia. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2014.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997.

COULON, Alain. Etnometodologia. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. Em busca da excitação. Lisboa: DIFEL, 1992. FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2009.

FONSECA, Michele Pereira de Souza da; RAMOS, Maitê Mello Russo. Inclusão em movimento: discutindo a diversidade nas aulas de educação física escolar. In: PONTES JUNIOR, José Airton de Freitas (Org.). Conhecimentos do professor de educação física escolar [livro eletrônico]. Fortaleza, CE: EdUECE, 2017, p 184-208.

Disponível em:

http://www.uece.br/eduece/dmdocuments/Conhecimentos%20do%20professor%20d e%20Educacao%20Fisica%20escolar.pdf. Acesso em: 10 abr. 2020.

MURAD, Mauricio. Sociologia e Educação Física – Diálogos, linguagens do corpo, esportes. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.

NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Cultural: inspiração e prática pedagógica. 1 ed. Jundiaí: Paco, 2018.

NEIRA, Marcos Garcia. Coleção A reflexão e a prática no ensino – Educação Física. V.8. São Paulo: Blucher, 2011.

SILVA, Carlos Alberto Figueiredo da.; VOTRE, Sebastião Josué. Etnometodologias. Rio de Janeiro: HP Comunicação, 2012.

SOARES, Magda. Linguagem e escola. Uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 2008.

SOARES, Carmen Lucia; TAFFAREL, Celi Nelza Zulke; VARJAL, Maria Elizabeth; CASTELLANI FILHO, Lino; ESCOBAR, Micheli Ortega; BRACHT, Valter. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

Referências

Documentos relacionados

Burton: Bios Scientific Publishers Limited Oxford Handbook of Clinical Medicine - Murray Longmore, Ian Wilkinson: Oxford Handbook Series.. Academic

Destacamos como objetivos específicos desta investigação: identificar a formação inicial dos professores quanto à EF; identificar como os profes- sores planejam, realizam e avaliam

III – estar capacitado para o pleno exercício profissional no componente curricular Educação Física na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e

Ao negar no currículo nos anos iniciais o componente curricular Educação Física, a Prefeitura do Recife coercitivamente transfere a responsabilidade da formação

Caso seja F, a execução do programa ignora o bloco de comandos e continua na linha seguinte à estrutura de seleção.. O comando end indica delimitação do bloco

ou se a tomada onde o aparelho deve ser ligado não for adequada para a ficha do equipamento, o cabo de alimentação da máquina de lavar loiça deve ser substituído.. Isto deve

A pesquisa teve inicio no mês de Fevereiro e o índice de satisfação corresponde à média mensal das perguntas realizadas e respondidas com “ótimo”, “bom”, “regular”,

No componente curricular da Educação Física a unidade temática Danças apresenta como objetos de conhecimento as danças da comunidade e regionais, danças de