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AS REDES SOCIOTÉCNICAS NO PROCESSO DE DIFUSÃO CIENTÍFICA: A DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

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Educação

V.10 • N.2 • Número Temático - 2020 ISSN Digital: 2316-3828 ISSN Impresso: 2316-333X DOI: 10.17564/2316-3828.2020v10n2p154-164

AS REDES SOCIOTÉCNICAS NO

PROCESSO DE DIFUSÃO CIENTÍFICA:

A DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

SOCIOTECHNICAL FOR THE SCIENTIFIC DIFFUSION PROCESS:

THE DEMOCRATIZATION OF KNOWLEDGE

REDES SOCIOTÉCNICAS EN EL PROCESO DE DIFUSIÓN CIENTÍFICA:

LA DEMOCRATIZACIÓN DEL CONOCIMIENTO

Raimundo Ralin Neto1

Cristiane de Magalhães Porto2

Verônica Alves dos Santos Conceição3

RESUMO

O processo de divulgação científica no Brasil tem se mostrado tímido. Vários motivos contribuem para esse fato, dentre os quais os meios de comunicação utilizados, a linguagem empregada e a ausência direta dos pesquisadores no ato de divulgar os re-sultados das pesquisas. Este estudo tem o objetivo de apresentar as redes sociotécnicas como meios de divulgar a ciência com potencialidade para abar-car um número significativo de leitores e tornar o processo mais interativo e educativo. Assume como metodologia a pesquisa teórica que levanta ques-tionamentos aos modelos tradicionais utilizados por pesquisadores para divulgação de ciência. Con-clui, evocando um trabalho conjunto de atores so-ciais na utilização as redes sociotécnicas com vista à relocar o papel basilar da ciência na democrati-zação do saber e na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos.

Palavras-chave

Produção Científica. Difusão Científica. Divulgação Científica. Redes Sociotécnicas.

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EDUCAÇÃO

Abstract

The process of scientific dissemination in Brazil has been timid. Several reasons contribute to this fact, among which are the means of communication used, the language used and the direct absence of researchers in the act of disseminating the results of research. This study aims to present sociote-chnical networks as a means of disseminating science with the potential to reach a significant num-ber of readers and make the process more interactive and educational. Theoretical research takes as a methodology that raises questions about the traditional models used by researchers to disseminate science. It concludes by evoking a joint work of social actors in the use of socio-technical networks with a view to relocating the basic role of science in the democratization of knowledge and in impro-ving the quality of life of subjects.

Keywords

Scientific production. Scientific diffusion. Scientific divulgation. Socio technical networks.

Resumen

El proceso de divulgación científica en Brasil ha sido tímido. Varios motivos contribuyen a este he-cho, entre los cuales se encuentran los medios de comunicación utilizados, el lenguaje utilizado y la ausencia directa de investigadores en el acto de difundir los resultados de la investigación. Este estudio tiene como objetivo presentar las redes sociotécnicas como un medio de divulgar la ciencia con potencia de llegar a un número significativo de lectores y hacer que el proceso sea más inte-ractivo y educativo. La investigación teórica toma como una metodología que plantea preguntas sobre los modelos tradicionales utilizados por los investigadores para divulgar la ciencia. Concluye evocando un trabajo conjunto de actores sociales en el uso de redes sociotécnicas con el fin de reubicar el papel básico de la ciencia en la democratización del conocimiento y en la mejora de la calidad de vida de los sujetos.

Palabras clave

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EDUCAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

A compreensão de como o conhecimento científico passa dos centros de pesquisa para a socie-dade nem sempre é clara para todos os envolvidos, apesar desse entendimento ser necessário para o desenvolvimento social. As empresas também seriam beneficiadas pela compreensão do processo na medida em que contariam com conhecimento técnico especializado. Logo, todos os envolvidos se beneficiariam do processo de produção e transferência do saber.

A difusão e a divulgação científica no passado eram restritas por conta da limitação dos veículos de comunicação. As instituições organizavam palestras, eram oferecidos prêmios para pesquisadores que encontrassem soluções para os problemas complexos por parte dos monarcas. Também, havia re-vistas e livros dedicados ao tema, embora apenas os de maior influência econômica e social tivessem acesso ao conhecimento. Nos dias atuais, com moldes mais evoluídos e mais abrangentes, parece haver uma predominância por esse modo de difundir ciência.

A disseminação se faz necessária devido à legitimação dos pares no que se refere ao artigo cientí-fico. Enquanto modo de difusão, a disseminação tem um público específico e seleto, ou seja, o artigo, em grande maioria, é lido por estudantes de nível superior, pesquisadores e atuantes na área. Para atingir a uma população maior e de maneira eficaz, por isso mais democrática, é preciso que o artigo seja traduzido para uma linguagem compreensível para um público sem a formação específica na área. Assim, consiste a importância da presença das redes sociotécnicas nas mídias digitais como um propulsor para um maior alcance do conhecimento científico às pessoas.

A sociedade contemporânea, ao instaurar uma nova forma de diálogo oriunda às inovações sociocomunicacionais, promove mudanças significativas nos exercícios de produção, circulação e apoderamento da informação e do conhecimento. Com isso, se faz como objetivo a participação direta das mídias socioeducativas na transmissão do conhecimento científico. Dessa forma, essas mídias podem colaborar para a expansão tecnológica e informativa com o intuito de atingir um maior número de espectadores de maneira mais dinâmica e funcional, salientando a interação com o público. Sem contar que, esse novo modo de divulgação científica é mais eficaz quanto à acessi-bilidade e preservação documental.

Com vista à problemática em relação ao alcance do conhecimento científico e o cuidado com a linguagem utilizada, o jornalista e escritor brasileiro Gilberto Dimenstein (2005, p. 6) afirma que “Quando não entende o que está lendo, qualquer pessoa perde o interesse e pára de ler”. Isso porque não há uma preocupação quanto aos termos usados em boa parte dos jornalistas, pesquisadores e demais escritores que sejam compreensíveis pelas diversas camadas da sociedade.

Assim, o pesquisador deve se preocupar com o público para o qual a produção é destinada, se é a sociedade de uma forma geral ou a comunidade científica. A sociedade tece críticas à predominância da linguagem científica sem o esclarecimento dos termos usados. Todavia, parece haver algumas explicações para esse fato: primeiro, o conceito cristalizado de que a ciência não é para pessoas comuns. Segundo, tem-se o predomínio da ideia de proteção à pesquisa. Terceiro fator a considerar é a crença de que a comunidade científica só validará determinada produção caso se faça presente

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EDUCAÇÃO

a linguagem científica intra ou extrapares. Nos três casos, a linguagem excessivamente acadêmica causa a exclusão do conhecimento e uma consequente separação entre ciência e sociedade.

Esse estudo defende que a presença das redes sociotécnicas na comunicação digital contribui para aumentar a velocidade na circulação das informações e possibilita que a sociedade possa com-preender melhor o conteúdo apresentado. Comunga a mesma linha de pensamento de Duarte (1994) que a difusão em fluxos digitais permite uma manifestação cada vez maior do pluralismo ideológico e propicia o surgimento de conflitos das interpretações a partir do afastamento entre o campo infor-mativo e a experiência comunicacional.

Enquanto metodologia, insere-se no gênero do estudo teórico com vistas à “reconstruir teoria, conceitos, idéias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamen-tos teóricos” (DEMO, 2000, p. 20). A pesquisa de natureza teórica não intenta, a priori, interferir na realidade; seus efeitos práticos são percebidos na medida em que cria condições favoráveis para as interferências sociais. Tendo isso em vista, o estudo teórico segue as regras da pesquisa científica pois é composto de “rigor conceitual, análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversifi-cada, capacidade explicativa” (DEMO, 1994, p. 36).

Ele está estruturado em três seções, a primeira sendo a introdução. A segunda seção aborda, bre-vemente, as primeiras iniciativas de divulgar ciência para a sociedade, inspiradas nas Feiras de Ciên-cias norte-americanas e no envolvimento de estudantes do ensino médio. Explica a importância de a sociedade compreender o lugar da ciência para se constituir força de resistência aos cortes orçamen-tários no campo do avanço científicos e na aceitação dos resultados das pesquisas desenvolvidas.

A terceira seção se volta para as redes sociotécnicas. Busca sua definição e realça a importância dessas redes no processo de divulgação do conhecimento científico. Aponta exemplos de plataformas que apresentam potencialidade para alcançar um número significativo de usuários e admite a interação no processo de divulgação como essencial para a formação de leitores e seguidores ativos e constantes. Finalmente, conclui-se que as redes sociotécnicas podem se construir um aliado forte no processo de divulgar a ciência e os resultados de pesquisas desenvolvidas em universidade e institutos. Um esforço con-junto de atores sociais que reconhecem e defendem a importância da ciência na cultura contemporânea.

2 A DIVULGAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

No Brasil, a ciência demorou a chegar ao patamar que hoje se encontra. Apesar das dificuldades para sobrevivência, a ciência desempenha importante papel no desenvolvimento dos diversos setores de atuação do Estado destinados ao avanço nacional, como o econômico, o social, o ambiental, o tec-nológico etc. Mas, essa importância parece não ser percebida pela população quando testemunham atos de redução de investimento no campo aos avanços científicos por parte do governo. Qual seria, possivelmente, um dos prováveis motivos para a indiferença da sociedade?

A questão não é tão simples, mas suas nuances revelam certo desconhecimento por parte da sociedade acerca da ciência e de sua relação direta com a vida prática. Uma parte da população com

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EDUCAÇÃO

formação acadêmica, concluída ou em curso, parece ter tido seu primeiro contato com artigos cien-tíficos dentro do ambiente acadêmico. Assim, a ciência encontra sua importância para os indivíduos que estão nesse ambiente, enquanto àqueles que não frequentam ou frequentaram a academia atri-buem pouca valorização e reconhecimento.

A crença de que cientista produz para outro cientista, assume status de verdade. Pequenas pro-porções de suas produções são transferidas para pessoas sem conhecimento específico daquela área, a sociedade de um modo geral. A iniciativa da extensão universitária em promover eventos, en-contros, simpósios, seminários e outras formas de divulgação pode não surtir o efeito esperado, pois a porcentagem de estudantes que frequentam a educação superior ainda é pequena em relação ao quantitativo que está fora dos muros das universidades. E, mesmo dentro das universidades, a quanti-dade de pessoas que participam desses eventos voltados para a divulgação de pesquisas e resultados científicos costuma ser pequena (PORTO; FERRONATO; LINHARES, 2015).

Quando o processo de divulgação científica é frágil, também o é a importância atribuída aos conhecimentos cientificamente construídos. Nesse contexto, a ciência perde um grande aliado na defesa pelos investimentos necessários à sua sobrevivência e, como desdobramento, o resultado do trabalho científico não alcançará a todos. Não é à-toa que quando divulgado corte nos investi-mentos científicos, o grupo que apresentou resistência é formado, em maior parte, por cientistas e pequena porcentagem da sociedade letrada.

Na contemporaneidade, se testemunha uma expansão, ainda que tímida, da difusão científi-ca para um público menos elitizado. As diversas científi-camadas sociais podem tem acesso ao conhecimento produzido dentro dos laboratórios, universidades e centros de pesquisa. É certo que a democratiza-ção do conhecimento ainda não está no nível ideal, mas a popularizademocratiza-ção do conhecimento técnico e científico costuma ser foco de atenção de alguns estudiosos.

A divulgação da ciência no Brasil, como conhecida na atualidade, nasceu no final da década de 1960. Mas não se pode desconsiderar o fato de que suas características já se faziam presentes desde as primeiras imprensas criadas pelos holandeses, durante o século XVII, na ocupação em Pernam-buco. A Feira Nacional de Ciências, realizada em 1969, foi um propulsor para a divulgação científica atingir um número de pessoas de forma mais abrangente (MAGALHÃES; MASSARANI; ROCHA; 2019)

No Brasil, a Feira de Ciências foi inspirada nas feiras realizadas nos Estados Unidos (EUA) no período pós-guerra. O país norte-americano investiu na busca de talentos para a ciência, baseado no entendi-mento de que a segurança e a prosperidade dos seus estados dependiam da rápida expansão do conhe-cimento científico. Segundo Magalhães e outros (2019), o interstício entre a Segunda Guerra e o fim da Guerra Fria constituiu um tempo propicio para o desenvolvimento científico seguido da divulgação dos resultados para a população. O intuito era evidenciar a importância da ciência para o desenvolvimento nacional. Logo, os EUA contam com sistemas bem elaborados de divulgação científica.

O sucesso das feiras estadunidenses logo contagiou outros países, inclusive o Brasil. Com o foco voltado para a participação de estudantes do ensino médio no processo de desenvolvimento cien-tífico, a Feira de Ciências foi um pontapé inicial para a divulgação científica que hoje é campo de produtividade de alguns pesquisadores. Naquele momento, o que poderia ser chamado de divulgação

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EDUCAÇÃO

científica era ainda restrito a pouquíssimas pessoas. Em um quadro geral, a educação e a divulgação científica continuavam limitadas a uns poucos favorecidos,

Atualmente, ainda existe uma considerável desigualdade de acesso ao conhecimento científico, pois poucas pessoas da população frequentam eventos científicos impulsionados por universidades ou centros de pesquisa, ou participam de projetos de extensão promovidos na sua comunidade, nos bairro, nas escolas, nas associações de moradores, entre outros. A ideia de trazer o público para a ciência e não levar a ciência ao público parece ainda cristalizada.

Logo, no que tange a divulgação cientifica, os principais meios de veiculação continuam sendo os livros, os periódicos, os anais, os jornais, as revistas, e ocasionalmente, a televisão. A crescente conexão da população com a internet e suas diversas redes, apresenta a possibilidade de modificar o cenário de forma positiva. Quando compreendida como um trabalho em conjunto com pesquisadores, com as instituições e os centros de pesquisa, as pró-reitorias de extensão e os jornalistas científicos, a ciência poderá assumir seu papel central na promoção da qualidade de vida dos homens pela via da divulgação.

3 REDES SOCIOTÉCNICAS COMO PROPULSORAS DA DIVULGAÇÃO CEINTÍFICA

Medeiros e Ventura (2008) definem Rede Sociotécnica como uma das muitas formas em que uma rede social pode se desenvolver. É por meio das redes sociotécnicas que as relações sociais se es-tabelecerão tendo a estrutura tecnológica como sustentação. Conforme os autores, as redes socio-técnicas são mais do que uma rede de computadores que gera um aglomerado de pessoas, são uma interconexão de seres humanos – uma rede social – possibilitada pelas tecnologias. Nela, tudo se dá de forma peculiar, inclusive as relações entre as pessoas.

Para Latour (1994, p. 119), quando se pensa em redes sociotécnicas, deve-se admitir que “[...] existe um fio de Ariadne que nos permitiria passar continuamente do local ao global, do humano ao não-humano. É o da rede de práticas e instrumentos, de documentos e traduções”. Segundo o autor, as redes sociotécnicas admitem os participantes como atores sociais para comporem uma estrutura complexa, não-linear e sempre aberta a novos componentes.

A produção contemporânea desse coletivo sugere um modelo de redes como um espaço fér-til de produção, de circulação, de conhecimento e de novas configurações sociais que emergem na atualidade. Sendo assim, esse modelo midiático também serve como espaço socioeducativo e científico, dirimindo a preocupação do como utilizar essas redes sem minimizar a importância da transferência do conhecimento.

É possível encontrar na internet uma diversidade de sites, redes sociais e portais com diferentes estruturas e concepções. A interatividade entre pessoas e pessoa-informação está cada vez maior. A revolução tecnológica a que estamos submetidos alcança terrenos dantes impermeáveis. As redes so-ciotécnicas extrapolam os limites dos sistemas informáticos comunicacionais para ganhar amplitude na vida cotidiana do sujeito. Com isso, essas redes estão presentes no cotidiano das pessoas, seja como forma de interação, seja como busca de informação.

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EDUCAÇÃO

As redes são consideradas um espaço social formado por elementos imateriais como a comuni-cação, as linguagens, os afetos, a cooperação, a difusão e a circulação de conhecimentos, estando presentes no dia a dia e se constituindo como essenciais para a inter-relação entre cognição e comu-nicação. Essa inter-relação é visível no próprio cotidiano. Ao questionar para uma pessoa conteúdos que não fazem parte da sua formação, ela, possivelmente, buscará a resposta no Google. Assim, a presença das redes surge como uma busca incansável de informações que, de certa forma, cria reféns do ciberespaço, ao tempo que os liberta do espaço geográfico e físico.

Diante do avanço das plataformas sociais dentro do ambiente digital, é inevitável a presença de um maior número possível de pessoas nas redes. Logo, não faz sentido continuar a centralizar a divulgação dos resultados de pesquisa científicas apenas em meios tradicionais, como os livros, os periódicos e outros do gênero. A ideia é usar as redes socioeducativas como forma de divulgação do conhecimento técnico científico, para além de artigos compartilhados no facebook. O facebook tem uma abrangência significativa, sendo considerada “uma poderosa interface de comunicação entre empresas, marcas e seus consumidores” (CHAGAS, 2015, p. 75). Além dessa utilidade merca-dológica, a rede social possibilita o acesso a informações científicas de forma rápida, alcançando assim, uma grande quantidade de usuários.

No facebook, a divulgação pode ser feita a partir da criação de uma página com nome convidativo e que estabeleça referência à área de atuação. Um fluxo constante de publicações adaptados para o público sem conhecimento específico poderá ser atrativo a partir do princípio da interatividade. O facebook é uma possibilidade rica de divulgação apesar dos limites apresentados, como o relativa-mente pequeno número de usuários na página e os processos empobrecidos de leitura.

Outra rede que pode ser citada é o instagram, uma plataforma majoritariamente constituída por imagens que pode ser explorada por cientistas a fim de divulgar o seu trabalho, tendo-se em conta que parte significativa de usuários migrou do facebook para o instagram nos últimos anos. Um dos fatores que talvez explique a preferência pelo instagram é a característica da sociedade contem-porânea que parece apresentar preferência pela interação por meio da visualização de imagens ou recursos audiovisuais aos textos. Prova dessa característica imagética está no sucesso explosivo das charges, dos memes, das fotografias, dos gifs e outros do gênero, compartilhados, criados e postados no instagram, seja por meio do feed, stories ou direct.

Diante da preferência pelas redes sociotécnicas como meios de informação, outros meios de divulgação foram convidados a se ajustarem e continuam a sobreviver e partilhar espaços com as redes sociais. Os jornais físicos, por exemplo, diante da evolução digital que ocasionou uma queda no número de leitores, foram convidados a ser adaptarem. A “Folha de S. Paulo” é um dos jornais que passaram a atuar em redes sociotécnicas, tendo presença marcada no instagram, sendo organizado de tal modo que no feed apresente um breve resumo da reportagem publicada em linguagem acessí-vel e diversificada, às vezes, abrindo espaços para as gírias e os jargões. A parte textual é acompanha-da por imagens que são, de certa forma, chamativas para o público alvo.

A preocupação que a divulgação do trabalho jornalístico acompanhe o desenvolvimento tecnológico e atinja o maior número possível de pessoas parece salutar, apesar de seu intuito lucrativo, haja vista algumas

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EDUCAÇÃO

matérias requerem a assinatura do jornal. Outra forma de atuação da página desse jornal no instagram é a partir dos stories. Ao final de cada dia, a página divulga os assuntos mais relevantes nesse recurso da rede social, ainda mais interativa do que no próprio feed. Essa ação é intitulada por “Não durma sem saber”, assim, o jornal consegue de forma eficaz transferir as informações para um amplo número de leitores.

O YouTube é outra possibilidade para a divulgação científica, tendo em consideração o seu grande número de acesso diário. O YouTube, conta com o canal do Instituto Nacional de Comunicação Públi-ca da Ciência e Tecnologia (ICNT), plataforma criada com o intuito de divulgar em forma de vídeo, re-sultados de pesquisas promovidas pelo Instituto. O trabalho é feito a partir de vídeos curtos voltados para um público mais geral, com linguagem acessível e compreensível (CIRIACO, 2017).

O canal do ICNT se volta a dirimir dúvidas e desmistificar crenças e medos que circundam a po-pulação, por exemplo, a polêmica do movimento contra a vacinação que é carregada de informações falsas e tendenciosas. O canal conta com uma série voltada para o trabalho de divulgação científica, incentivando pesquisadores a olhar para a divulgação com seriedade, assumindo seu compromisso com a sociedade. O canal, apesar do esforço e sucesso, conta com alguns desafios principalmente de-vido a pouca interação. Algo solucionável, certamente. Incentivar a propagação do canal nas diversas redes para atrair um público maior pode ser uma dica de melhoria na interação.

Portanto, o trabalho nas redes sociotécnicas, como facebook, instagram e youtube, tem se mos-trado eficaz, no entanto o desafio que se estabelece é: atrair o público para a plataforma que suporta os conteúdos voltados à ciência. A plataforma é um meio eficaz para a divulgação do conhecimento científico, quanto maior a interação maior a atração exercida nas pessoas (LAVADO, 2019).

Dessa forma, entende-se que as redes sociotécnicas podem alcançar um público de maior abran-gência. No entanto, a preocupação com a compreensão do público perante a informação publicada, requer adaptação da linguagem e a utilização de meios que sejam criativos e convidativos, mesmo que seja preciso a atuação de designers, publicitários, marqueteiros e a presença de jornalistas científicos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em meio aos conflitos da divulgação científica, é possível detectar alguns pontos positivos. Um deles é perceber que a sociedade, apesar da guerra ideológica e da disseminação de notícias falsas, se pron-tifica a debater acerca de determinados conteúdos científicos. Tal prontidão sinaliza que a linguagem científica tem sofrido modificações e o alcance das informações a tornou mais democrática. Em grande medida, devido à presença das redes sociotécnicas no processo de difusão e divulgação científica.

É importante que a comunidade científica esteja aberta a permitir um diálogo entre a ciência e a sociedade. A presença das redes digitais nesse processo age como um meio facilitador devido a cons-tante interação entre o público e as mídias sociais. Como consequência, a interação do público com o conhecimento científico por meio das redes sociotécnicas gera o senso crítico por parte do leitor e a curiosidade para pesquisar e ter acesso a outras informações presentes na web. Dessa forma, tam-bém facilita a compreensão e dinamização no processo de aprendizagem.

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EDUCAÇÃO

A juventude contemporânea parece familiarizada com a linguagem utilizada no processo de aces-so às informações. Nesse sentido, os pesquisadores não podem desconsiderar os novos procesaces-sos de aprendizagem, tendo em vista a constante interação entre o público e as redes sociais. O que ajuda a desenvolver competências informáticas e de difusão de dados no suporte digital, fazendo o uso de textos, imagens, GIFs, tabelas, desenhos etc.

Certos de que o enfoque nas redes sociotécnicas não soluciona a exclusão digital, ela potenciali-zará um grande avanço no processo de democratização do acesso ao conhecimento, já adaptado às exigências sociais do século em que se faz presente o desenvolvimento informativo e comunicacional.

REFERÊNCIAS

CIRIACO, Douglas. YouTube é acessado por 95% população online brasileira. TecMundo, São Paulo, 25 de

jul. de 2017. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/internet/119776-youtube-insights-brasil.htm. Acesso em: 10 abr. de 2020

DEMO, Pedro. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994.

DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.

DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os direitos humanos no

Brasil. São Paulo: Ática, 2005. p. 6-10.

DUARTE, Adriano. Comunicação e cultura: a experiência cultural na era da informação. Lisboa:

Presença, 1994.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução de Carlos

Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

LAVADO, Thiago. Uso da internet no Brasil cresce, e 70% da população estão conectadas. G1,

São Paulo, 28 de ago. de 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/ noticia/2019/08/28/uso-da-internet-no-brasil-cresce-e-70percent-da-populacao-esta-conectada. ghtml. Acesso em: 10 abr. de 2020

MAGALHÃES, Danilo Castro; MASSARANI, Luisa; ROCHA, Jéssica Norberto. 50 Anos da I Feira Nacional de Ciências (1969) no Brasil. Interfaces Científicas: Humanas e Sociais, Aracaju, v. 8, n. 2,

p. 185-202, ago./set./out. 2019. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/humanas/ article/view/7663/3664. Acesso em: 10 abr. de 2020

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MEDEIROS, Zulmira; VENTURA, Paulo Cezar Santos. Cultura tecnológica e redes sociotécnicas: um estudo sobre o portal da rede municipal de ensino de São Paulo. Educ. Pesquisa, São Paulo,

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PORTO, Cristiane; FERRONATO, Cristiano, LINHARES, Ronaldo. A produção científica brasileira na contemporaneidade: exigências e interlocuções. Salvador: Edufba; Aracaju: Edunit, 2015. p.

21-84; 111-162.

Recebido em: Avaliado em: Aceito em:

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Recebido em: 13 de abril de 2020 Avaliado em: 9 de julho de 2020 Aceito em: 6 de agosto de 2020

1 Aluno de graduação da Universidade Tiradentes – UNIT em Licenciatura de História. Aluno voluntário de Iniciação Científica (PROVIC/UNIT). Participa do Grupo de Pesquisa em Educação, Tecnologias da Informação e Cibercultura (GETIC/CNPq). E-mail: raimundoralin@hotmail.com 2 Doutora Multidisciplinar em Cultura e Sociedade – UFBA. Mestrado em Letras e Linguística – UFBA. Pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Pesquisa – ITP. Bolsista em Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 2 e faz parte do Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq. Pós-doutorado em Educação – UERJ. Coordena-dora do Programa de Estímulo a Mobilidade e ao Aumento da Cooperação Acadêmica da Pós-Graduação (PROMOB--FAPITEC/CAPES – UNIT/UERJ/UFSC). É professora do Curso de Comunicação Social e do Programa de Pós-Gra-duação em Educação da Universidade Tiradentes – Unit. Pesquisadora do Grupo Educação, Redes Sociotécnicas e Culturas digitais (EDUTEC/UFBA/CNPq). Líder do Grupo de Pesquisa Educação, Tecnologia da Informação e Cibercul-tura (GETIC/UNIT/CNPq). E-mail: crismporto@gmail.com 3 Doutoranda em Educação pela Universidade Tiraden-tes (UNIT), mestra em Estudos Interdisciplinares (UFBA), graduada em Pedagoga (UEFS), graduanda em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade do Paraná (UNO-PAR). Especialista em Psicopedagogia (UNEB) e Coorde-nação Pedagógica (UFBA). Atua como pedagoga (UEFS), professora na Educação Básica na cidade de Feira de Santana-BA. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesqui-sas em Pedagogia Universitária (NEPPU/UEFS/CNPq) e no Grupo de Pesquisa Educação, Tecnologia da Informação e Cibercultura (GETIC/UNIT/CNPq).

E-mail: veronica.alves604@gmail.com

A autenticidade desse artigo pode ser conferida no site https://periodicos. set.edu.br

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