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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL NA CIDADE DE MARICÁ (RJ): CONQUISTAS E NOVOS DESAFIOS

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Amanda da Conceição Rocha de Melo Nogueira Universidade Federal do Rio de Janeiro

amandanogueira@poli.ufrj.br

PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL NA CIDADE DE MARICÁ (RJ):

CONQUISTAS E NOVOS DESAFIOS

Gisele Silva Barbosa Universidade Federal do Rio de Janeiro

giselebarbosa@poli.ufrj.br

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL NA CIDADE DE MARICÁ (RJ): CONQUISTAS E NOVOS DESAFIOS

Nogueira, Amanda da C. R. de M.; Barbosa, Gisele S.

RESUMO

A ausência de um planejamento urbano eficaz contribuiu para o crescimento desordenado de muitas cidades brasileiras, gerando problemas estruturais e impactos ao meio ambiente. Este artigo tem por objetivo destacar a importância da realização do planejamento urbano de forma integrada e sistêmica, considerando aspectos diversos do meio físico e biótico inerentes às estratégias e princípios da sustentabilidade urbana e ambiental. A metodologia deste estudo baseia-se na análise sobre os preceitos de planejamento e os instrumentos da política urbana. Para isto, foi realizado um estudo de Maricá/RJ baseado no contexto histórico de desenvolvimento municipal. Por fim, ressaltou-se a importância da utilização da abordagem sistêmica no planejamento e concluiu-se que as estratégias descritas nos documentos públicos, buscam apoiar seu desenvolvimento de forma qualitativa. No entanto, salienta-se que nem todas as diretrizes serão executadas pelo poder público.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, é crescente o número de habitantes que residem nas cidades. Tendo as cidades surgido como um paradigma da especialização das funções humanas, elas representam uma mais-valia para a vida humana, no entanto também podem representar uma grande ameaça quando mal planejadas e geridas. Segundo Rogers e Gumuchdjian (2000) apesar da cidade ser o habitat atual da humanidade, esta também se caracteriza como o maior agente destruidor do ecossistema e consequentemente, a maior ameaça à sobrevivência da vida humana.

Observa-se que as cidades contemporâneas, sobretudo de países em desenvolvimento, crescem espontaneamente e são palco de inúmeros problemas sociais, econômicos e ambientais, onde as desigualdades sociais e a carência de investimentos nas questões de infraestrutura urbana e de gestão ambiental são as mais evidentes. Além disso, o modelo de produção e consumo atual empregados, sem o cuidado com o reaproveitamento de recursos ou a limitação do meio ambiente natural, tem sido a causa de muitas degradações.

Neste sentido, acredita-se na premência da implantação de novas formas de ordenamento e regulação do crescimento das cidades. Reflexões atuais, conduzem-nos à necessidade de adicionar sustentabilidade ao desenvolvimento, de forma a regular o ritmo do crescimento socioeconômico, além da busca por um equilíbrio ambiental. Sendo assim, o planejamento urbano se insere como possível solução, no sentido da promoção de um meio urbano e ambiental sustentável, capaz de preservar os recursos naturais, além de promover

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melhorias na qualidade de vida dos cidadãos, tendo por base políticas públicas bem formuladas que cumpram determinados objetivos sociais, ambientais, econômicos, políticos e culturais.

O presente estudo tem por objetivo apresentar conceitos relevantes relacionados ao planejamento urbano ambiental sustentável e realizar uma análise sobre o município de Maricá, a partir da discussão destes conceitos. Maricá localiza-se na região metropolitana do Rio de Janeiro e é um território que vem sofrendo aceleradas transformações decorrentes do processo de urbanização nos últimos anos, desde sua espontânea expansão à chegada de grandes empreendimentos. Segundo dados do IBGE, o município apresentou o quarto maior crescimento populacional projetado do país, entre os anos de 2003 e 2013. Estando o desenvolvimento diretamente relacionado à vida das cidades, é fundamental, conforme dito, que um plano de ações seja tomado no sentido da sustentabilidade no ambiente urbano. Para isto, além de um Plano Diretor Urbano capaz de orientar o desenvolvimento da cidade, fora elaborado pela prefeitura de Maricá um Master Plan com previsão de atuação de trinta anos, com grandes projetos de infraestrutura, incluindo a construção de um porto em Jaconé, a ampliação do aeroporto municipal e a instalação de um corredor de logística, que poderão atender a nova atividade econômica do município, a indústria petrolífera.

Sendo assim, o estudo será uma análise sobre as estratégias que serão adotadas pelo município de modo a apoiar o seu crescimento, procurando entender se estão realmente incluídas dentro dos preceitos de desenvolvimento sustentável de longo prazo, sendo eficaz socialmente, ambientalmente e economicamente.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Planejamento Urbano Ambiental Sustentável

Uma possível definição para o conceito de planejamento urbano é a que o configura como sendo um conjunto de ações propostas pelo Estado, tendo em vista o interesse coletivo, envolvendo a organização e o controle do uso do solo aplicado ao território de um município individualmente (Deák e Schiffer, 1999). Considerando a cidade como um sistema complexo, no âmbito do planejamento, ela está sujeita a diversas influências e decisões por diferentes pontos de vistas: sociais, ambientais, econômicos, políticos e administrativos. Atualmente, no processo de planejamento, também são inseridas novas questões, como a sustentabilidade ambiental e a participação social.

Vale ressaltar que os aspectos ambientais e urbanos são indissociáveis e portanto, devem ser tratados de forma integrada, através de uma abordagem sistêmica, no processo de planejamento, uma vez que é no meio ambiente natural que o homem atua por meio de ações na mudança física do ambiente natural, transformando-o em um ambiente construído. Não considerar a unicidade dos aspectos urbanos e ambientais, agrava os problemas oriundos da ocupação do solo urbano.

Ignacy Sachs (1993) entende o planejamento como um instrumento capaz de harmonizar a equidade social, a sustentabilidade ecológica, a eficácia econômica, a acessibilidade cultural e a distribuição espacial equilibrada das atividades e dos assentamentos humanos. Neste sentido, vê-se que o autor agrega outros valores ao planejamento e ressalta a

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importância da implementação da questão ambiental no processo.

Esther Higueras (2006) também salienta a necessidade de se considerar no planejamento urbano, os aspectos ambientais, através do adequado aproveitamento dos recursos naturais locais e também da adoção de critérios de economia de energia no planejamento, de modo a equilibrar o desenho urbano com as variáveis climáticas, topográficas e territoriais de cada município e assim, alcançar a otimização em todas as áreas urbanas. Além disso, no processo de planejamento de cidades com enfoque em questões ambientais e sustentáveis, há que se considerar, além dos parâmetros sociais, econômicos e ambientais, mas também as variáveis bioclimáticas e as características do lugar, no desenvolvimento do desenho urbano.

Na busca por cidades mais sustentáveis, algumas alternativas desenvolvidas por diversos autores da atualidade se inserem como possível garantia de se alcançar este ideal, tanto na concepção de novas cidades, quanto nas cidades existentes. Alguns exemplos são: a densificação urbana, o incentivo ao uso misto do solo e a implementação de sistemas de transporte de massa com maior capacidade e periodicidade, desincentivando assim o uso de automóveis individuais. Além disso, deve-se prever a criação de redes de cidades de menor porte, incentivar meios mais sustentáveis de locomoção como as bicicletas por exemplo, incentivar a utilização de energias renováveis, reuso e reciclagem de recursos e a utilização de critérios bioclimáticos no desenho dos projetos. Rogers e Gumuchdjian (2000) consideram que o planejamento urbano sustentável se configura como uma oportunidade real de criar cidades dinâmicas ideais, que sejam ao mesmo tempo, respeitosas com os cidadãos e com o meio ambiente.

2.2 Instrumentos de Planejamento e Gestão Urbana - Ambiental

A partir da caracterização sobre o que se constitui como planejamento urbano e ambiental, expõe-se os instrumentos normativos que tem como propósito traçar objetivos e metas de controle e gerenciamento do meio ambiente urbano e regulamentar este processo, no âmbito da administração pública brasileira.

Carvalho e Braga (2001, p.96) conceituam o Plano Diretor como “instrumento básico da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana, que tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”. O Plano Diretor estabelece, através de um documento de cunho teórico, diretrizes e objetivos de ocupação criteriosa e organização do espaço urbano, além de prever o desenvolvimento socioeconômico e do setor político administrativo, com o objetivo de melhoria das condições de vida da população (Mota, 1999).

O Plano Diretor é então considerado um instrumento de indução do desenvolvimento municipal e dentre suas principais características, deve prever: o adequado uso do solo urbano, garantindo múltiplos usos e evitando uma funcionalidade única; a implementação de redes de infraestrutura e de serviços públicos, tendo em vista o crescimento das demandas provenientes do aumento populacional; metas de desenvolvimento econômico para o município; limitações urbanísticas para a construção de novas edificações; a preservação e conservação ambiental; habitações de interesse social; a regularização fundiária; a otimização da mobilidade e da acessibilidade; bem como permitir uma gestão democrática e participativa. Todas estas características estão em conformidade com a aplicação dos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade (Bernardy, 2013).

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A partir da aprovação do Estatuto da Cidade, o Plano Diretor passou a ser obrigatório, não só para municípios que apresentam mais de 20 mil habitantes, mas também à municípios que fazem parte de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, municípios localizados em áreas de especial interesse turístico ou que façam parte de áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental na região ou no país. Atualmente, os Planos Diretores vêm buscando contemplar questões até então pouco abordadas no processo de planejamento urbano, como a questão ambiental. Embora no planejamento das cidades, o aspecto econômico ainda seja o mais relevante em relação aos planos de uso e ocupação do solo urbano, pode-se ver cada vez mais, a adoção dos aspectos ambientais, pelo menos em caráter normativo. Neste sentido, vale dizer que o Estatuto da Cidade (2001) visando corresponder às expectativas da população com relação à qualidade ambiental urbana, trouxe algumas inovações quanto a incorporação da questão ambiental e perspectivas de sustentabilidade, no processo de planejamento.

Com a maior autonomia dos municípios, novos instrumentos políticos foram incorporados nas administrações públicas, ampliando as possiblidades de soluções dos problemas urbanos e rurais dos municípios, uma vez que estes problemas foram colocados em pauta para discussão. Além do Plano Diretor, outros instrumentos relevantes a serem citados são: a Lei Orgânica dos Municípios, os Planos Estratégicos, os Planos de Arborização, e etc. Esses instrumentos não são obrigatórios, mas auxiliam na tomada de decisão.

Outro instrumento que merece destaque no âmbito nacional e municipal é a Agenda 21, que visa estabelecer um pacto por mudanças de padrão de desenvolvimento global. A Agenda 21 expressa o anseio dos países por mudanças em seus padrões de vida, buscando promover um desenvolvimento que seja pautado no equilíbrio ambiental e na justiça social. Sendo assim, a Agenda 21 pode ser considerada como um programa que tem por finalidade a inclusão dos princípios de sustentabilidade no desenvolvimento. A Agenda 21 não é obrigatória, porém constitui-se como um instrumento importante, uma vez que estabelece princípios capazes de nortear o desenvolvimento em prol da sustentabilidade.

Para Acioly e Davidson (1998) a gestão urbana pode ser definida como um conjunto de instrumentos, atividades, tarefas e funções que objetivam a assegurar o bom funcionamento de uma cidade. Ela visa a garantir não somente a administração da cidade, como também a oferta dos serviços urbanos básicos e necessários para que a população e os vários agentes privados, públicos e comunitários, muitas vezes com interesses diametralmente opostos, possam desenvolver e maximizar suas vocações de forma harmoniosa. Sendo assim, a inserção da participação social nos processos de gestão urbana é essencial.

Ainda neste contexto, ressalta-se que a participação social deve ser incentivada em todas as etapas do processo de planejamento urbano desde a formulação das estratégias até a implementação das ações, desta forma, garante-se a democratização do processo de tomada de decisões e os interesses de todos estarão seguramente representados. Por fim, entende-se que mesmo diante das diversas transformações introduzidas pelo Estatuto da Cidade, não são simples e nem poucos os desafios a serem enfrentados no processo de elaboração e nas aplicações dos Planos Diretores no Brasil.

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3 ESTUDO DE CASO: MARICÁ/RJ 3.1 Contextualização de Maricá

O município brasileiro de Maricá está situado na região litorânea do Estado do Rio de Janeiro, ocupando uma área de 362,5 km2. Localiza-se a 60 km da cidade do Rio de Janeiro e apresenta quatro distritos, sendo: Maricá, Ponta Negra, Inoã e Itaipuaçu (Fig 1).

Fig. 1 Localização do município de Maricá

A história do município de Maricá remonta ao final do século XVI quando começou a ser povoado, dada a necessidade de a Coroa Portuguesa defender o litoral pertencente à então colônia de ataques de corsários franceses. Sendo assim, as terras foram doadas à colonizadores portugueses, divididas em sesmarias. As terras concedidas, localizavam-se na faixa litorânea, entre Itaipuaçu e as margens da lagoa, onde mais tarde surgiu a cidade. É possível observar que com relação à ocupação do território e à utilização do solo no município, esta tem correspondido historicamente aos diferentes ciclos econômicos experimentados na região, com suas respectivas levas de ocupação e desocupação. Durante muitos anos, a principal atividade econômica municipal eram as lavouras de café e posteriormente de cítricos. A partir de 1940, com o declínio da produção agrícola, passou a vigorar um sistema de parcelamento de terras para fins imobiliários, sofrendo forte declínio em 1960 pela crise econômica que predominava no contexto nacional e recuperação exponencial em 1970, devido a boa fase da economia e um novo ciclo desenvolvimentista. No ano de 1977, um Plano Diretor Urbano foi elaborado para Maricá pela FUNDREM, fundação criada para a gestão do desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e aprovado na Câmara Municipal. De 1980 até final da década de 1990, é possível observar um substancial aumento demográfico no município, pois as terras outrora vendidas, começaram a ser efetivamente ocupadas.

No início da década de 2000, com a duplicação e ampliação da Rodovia Amaral Peixoto, houve um incremento populacional em Maricá, a partir da fixação de residência por veranistas e a atração de novos investidores, estimulando mais uma vez a especulação imobiliária. Já em 2006, foi implementado um novo Plano Diretor Urbano no município, sendo este elaborado a partir de discussões com diversos setores da sociedade e particulares, cumprindo a determinação da Constituição Federal quanto à participação social no planejamento territorial. Neste mesmo ano, foi anunciada a implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, no município vizinho de Itaboraí, determinando um novo momento socioeconômico ao município de Maricá. Em 2007, Maricá passou a receber os royalties provenientes do petróleo e desde então, vem experimentando um crescimento acelerado (Maricá, 2013).

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Nas últimas décadas, com relação às características demográficas do município de Maricá, é possível observar, com base nos dados estatísticos do IBGE, um grande crescimento populacional a partir da década de 1990, onde a população residente no município cresceu 42,69% em relação à década anterior 1980. Recentes contagens evidenciam um crescimento de 164% de 1990 a 2000 e de mais 166% de 2000 a 2010 (IBGE, 2010). 3.2 Proposições do Master Plan de Maricá e realidade urbanística atual

Tendo em vista, além do crescimento populacional, mas a importante atribuição do município como um pólo petrolífero, foi realizado pela Prefeitura Municipal um Master Plan que prevê a instalação de grandes equipamentos e infraestruturas na cidade. Este tem por objetivo orientar o crescimento e promover um desenvolvimento sustentável a longo prazo, que seja socialmente, ambientalmente e economicamente viável. Dentre os grandes projetos previstos ao município para os próximos anos estão a construção de um pólo naval com um porto em Jaconé (Fig.2), bem como a instalação de um corredor de logística e a ampliação do aeroporto municipal, a fim de suprir as novas demandas do pólo petrolífero.

Fig. 2 Previsão pólo naval Jaconé

No intuito de alavancar o turismo são previstos ainda pelo Master Plan, projetos de mobilidade urbana como a implantação de três linhas de bondes com extensão de 8km que interligarão as praias ao Centro e também a implantação de um trem de alta-velocidade interligando os distritos de Ponta Negra e Itaipuaçu e se estendendo à Niterói (Fig.3).

Fig. 3 Previsão bondes e trem de alta-velocidade – Ponta Negra x Niterói

O aproveitamento do complexo lagunar do município para fins de mobilidade urbana, também integra a lista de ações a serem implementadas pela Prefeitura. Para isto, foi viabilizado um projeto básico de um sistema modal de transporte aquaviário, que ligará os

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distritos ao Centro, através das lagoas, com a utilização de barcos que poderão transportar de 45 a 60 passageiros. É prevista a drenagem dos canais de ligação entre Itaipuaçu e Maricá, onde haverão as linhas para o transporte de passageiros.

Apesar das proposições de planejamento, o município de Maricá ainda apresenta um limitado sistema de infraestruturas urbanas. Muitos esforços relacionados ao provimento de infraestruturas essenciais à cidade tem sido empreendidos, recentemente impulsionados pela construção do Comperj, no entanto, com a crise econômica brasileira a partir de 2014, muitos desses projetos ainda se encontram suspensos.

Ressalta-se que a maior parte das áreas já urbanizadas no município são desprovidas de redes de água e esgotamento sanitário. Como um serviço básico, a água, captada e tratada no próprio município é restrita aos bairros do centro e algumas localidades próximas à orla. Somente 16% da população residente possui este serviço. Neste sentido, entende-se que este é um dos fatos que mais agrava e compromete a sustentabilidade do desenvolvimento local, pois o município continua a receber novos habitantes urbanos sem a oferta de água canalizada, serviço básico e primordial. Além disso, a situação do esgotamento sanitário é ainda mais grave no município, sendo somente 3% da população contemplada (IBGE, 2010). Em muitas localidades, moradores construíram sumidouros para solucionar o esgotamento, provocando a contaminação das águas superficiais e dos lençóis freáticos. Em relação às questões sociais, mais especificamente a educação, o município tem a intenção de investir em nova escola pública de ensino técnico e profissionalizante. Atualmente, grande parte dos jovens residentes no município permanecem com sua formação profissional limitada, visto que a continuidade dos estudos somente pode ser feita em uma única escola particular de ensino superior ou em outro município. Quanto à saúde, o município dispõe apenas de um hospital público municipal e aguarda a construção de mais um hospital, que possa atender as carências e demandas da população. Vale citar ainda, que a Prefeitura direcionou algumas ações afim de minimizar a discrepância econômica vivenciada entre os habitantes e para isto, criou a moeda social Mumbuca. Ainda com relação aos investimentos em mobilidade urbana, estes também tem sido feitos, começando por uma restruturação da malha urbana a fim de garantir a melhoria do trânsito na cidade, conforme demonstra a Figura 4 a construção da Ponte da Barra (Fig. 4). Além disso, a Empresa Pública de Transportes beneficia inúmeros moradores do município com o deslocamento gratuito feito por ônibus.

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Uma das principais ações da Prefeitura no âmbito urbano nos últimos anos, foi a realização do asfaltamento das vias urbanas e a criação de novas ciclo-faixas. Com relação às vias de circulação do município, na região central de Maricá, todas as vias são pavimentadas. Em 2014, ampliou-se muito a quantidade de vias pavimentadas, sobretudo na região litorânea. Vale ressaltar que a implantação de redes coletoras de esgoto, redes de abastecimento de água e drenagem urbana, não foram contempladas nos projetos de asfaltamento das vias urbanas. Além disso, boa parte das vias asfaltadas não apresentam meio fio, não havendo também uma preocupação com o dimensionamento ideal das calçadas. Além disso, também não fora estipulada a padronização dos passeios, cabendo aos proprietários de terrenos a responsabilidade pelos mesmos, assim como na maioria das cidades brasileiras. Em relação à drenagem urbana, é necessário ainda a proposição de um sistema de pavimentação permeável que possa colaborar com a infiltração das águas pluviais no solo, a fim de reduzir os impactos ao ciclo hidrológico em relação à impermeabilização do solo, permitindo a recarga dos lençóis freáticos e reduzindo o risco de enchentes e inundações. Outro aspecto de importante relevância, que merece ser citado é com relação ao turismo. O conjunto de atributos naturais e geográficos do município de Maricá, corrobora para sua promoção como um município eminentemente turístico. Sendo assim, é necessário o incentivo às diversas modalidades do turismo, com a implantação de parques ecológicos facilitando a prática esportiva e de lazer. Ressalta-se que é necessário prover o município de toda a infraestrutura adequada a esta atividade, pois nota-se a pouca estrutura que o município dispõe para atender aos turistas atualmente.

4 DISCUSSÕES E RESULTADOS

4.1 Estratégias de Desenvolvimento: a experiência de Maricá e o impacto da implantação de novos empreendimentos

Maricá vem experimentando um acelerado processo de ocupação ao longo das últimas décadas. Obras de infraestrutura como a construção da Ponte Rio-Niterói e a duplicação da Rodovia Amaral Peixoto permitiram uma rápida acessibilidade viária ao município e foram importantes influências ao incremento populacional e por consequência as rápidas transformações socioambientais e a crescente demanda por serviços básicos de saneamento, saúde, educação, dentre outros.

O incremento de uma nova população de origem urbana, que na grande maioria das vezes trabalha nos municípios vizinhos, agregou ao município de Maricá a característica de cidade-dormitório. Neste sentido, o município passou a se constituir como um local de residência para apoio, sobretudo à metrópole do Rio de Janeiro, a partir das obras que garantiram a conexão com a mesma, isto permitiu a fixação de famílias que já possuíam casas no município e no entanto as utilizavam apenas para veraneio. Vale ressaltar, que boa parte da população ainda é constituída por veranistas e turistas, isto demanda uma quantidade de serviços que representa uma dificuldade extra nas questões de planejamento e gestão do município, no provimento de serviços e infraestruturas necessárias, como a coleta regular de lixo, o abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica, em períodos específicos como as férias de verão.

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Observa-se ainda um aumento da ocupação urbana irregular e a concentração de uma população com nível de renda baixa nas áreas periféricas, áreas que em geral são ambientalmente frágeis. Esta ocupação dispersa e fragmentada, compromete os solos frágeis e as áreas próximas aos principais mananciais do município. Estas regiões sofrem com carências diversas em infraestruturas, redes de abastecimento, além de transporte, saúde e educação. Além disso, esta situação revela significativo impasse, no processo de urbanização, com relação à proteção ambiental e o direito à moradia.

Observa-se que durante muitos anos houve a falta de um planejamento urbano e ambiental que orientasse o desenvolvimento do município. Isto se reflete diretamente nas transformações do território, que assim como em muitas cidades brasileiras, veio expandindo-se de forma desordenada, acarretando problemas sociais e ambientais.

Com relação aos serviços e infraestruturas do município, pode-se dizer que estes foram sendo implementados de acordo com as necessidades e as possibilidades, cabendo muitas vezes ao cidadão encontrar soluções individuais, uma vez que a administração pública não fora capaz de suprir as demandas. A falta de infraestruturas gera as diversas insustentabilidades encontradas atualmente, como a poluição, a degradação ambiental e as carências por serviços assistenciais.

Também é possível notar que historicamente a administração pública não teve uma participação efetiva no tratamento das questões ambientais. A poluição das águas, do solo e a derrubada de diversas árvores para ocupação do território, foram durante muitos anos negligenciados como problemas de impactos mínimos, no entanto, a repercussão da herança de uma exploração sem controle e gestão, são evidenciadas pelas insustentabilidades que o município vivencia atualmente.

Nota-se então, que a aceleração do crescimento populacional urbano no município, sem planejamento, intensificou os impactos causados ao meio ambiente. Dentre as ações que configuram os problemas ambientais provenientes da ocupação urbana, por vezes desordenada e sobretudo nas áreas litorâneas e de restinga do município, é possível observar aterros e drenagem em áreas de manguezais, a abertura ou fechamento de canais pertencentes ao complexo lagunar e a poluição dos mesmos.

Atualmente, observa-se que a administração pública municipal, encontra-se mais compromissada e preocupada em relação as questões sociais e ambientais, que decorrem do processo de desenvolvimento do município. Por este motivo, nos últimos anos, foram promovidas diversas ações, a partir do entendimento da importância do planejamento na orientação do crescimento urbano. Nota-se o incremento de novas infraestruturas, ações em relação à proteção ambiental e do controle e ordenamento da ocupação do solo.

Em consonância com o Estatuto da Cidade, que apresenta as diretrizes para a formulação de políticas urbanas no Brasil, Maricá instituiu um novo Plano Diretor Urbano em 2006, o que representou um novo paradigma ao planejamento e à gestão territorial do município, sendo este elaborado através da cooperação e participação social. Este instrumento constitui-se atualmente na principal norma urbanística do município, responsável pela regulamentação do parcelamento, uso e ocupação do solo.

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Outro importante instrumento que fora elaborado em conjunto com a sociedade, nos últimos anos, a Agenda 211, inclui estratégias que buscam adicionar sustentabilidade ao desenvolvimento local, considerando um estilo de vida integrado e equilibrado com o meio ambiente, além da inclusão dos aspectos básicos inerentes à vida como saúde, alimentação, educação, transporte, habitação e outros. A Agenda 21 de Maricá assume então um compromisso em relação à proteção, preservação e a um acesso equilibrado aos bens comuns naturais (Agenda 21 Maricá, 2011).

Um aspecto de especial relevância refere-se à preservação e utilização adequada dos recursos hídricos e da biodiversidade. Uma peculiaridade que vale ressaltar no município é que este comporta dentro de seus limites quase que inteiramente sua bacia hidrográfica, o que é muito favorável à gestão do território, tendo a água como elemento chave e estruturante. Isto favorece a abordagem sistêmica de planejamento, bem como a sustentabilidade ambiental.

Atualmente, o município está passando por grandes transformações urbanas impulsionadas não somente por seu potencial turístico, mas sobretudo por novos empreendimentos impulsionados pelo Comperj. O contexto econômico atual prioriza os investimentos públicos voltados à nova área estratégica de desenvolvimento, o setor petrolífero, mas nos últimos anos, a crise econômica brasileira criou incertezas a esse setor.

Vale destacar que, dentro das estratégias atuais de desenvolvimento, a fim de viabilizar a implementação dos novos empreendimentos no município previstos no Master Plan, foram realizadas alterações na Lei de Uso do Solo contida no Plano Diretor, em setembro de 2013. A principal alteração foi a criação de cinco Zonas de Especial Interesse Industrial, que somadas correspondem a aproximadamente 30km2 de áreas, localizadas sobretudo próximas à Rodovia Amaral Peixoto. Tais alterações foram necessárias para permitir a adequação do município ao desenvolvimento do setor industrial voltado para a logística de apoio às operações offshore de petróleo.

Nota-se que o desenvolvimento do município passa a não ser mais vinculado somente aos setores de comércio e serviços, mas passa a basear-se economicamente nas novas oportunidades que a indústria do petróleo promete agregar ao município. Além disso, a Prefeitura também vem realizando ações para a promoção do município e a busca por novos investimentos também com países estrangeiros, visando a qualificação de novos empreendimentos imobiliários e o fomento à criação de um parque industrial voltado à área tecnológica.

Ressalta-se que a economia local segue vinculada à política de loteamentos e especulação imobiliária. A comercialização e valorização da terra urbana como mercadoria cada vez mais diferenciada e voltada a um público consumidor com faixas de renda média a alta, passam a ser vendidos a partir de slogans de “condomínios fechados”, “resort”, entre outros. A atividade econômica voltada ao parcelamento especulativo do solo, um processo estimulado até hoje pela administração pública local, é uma atividade que por ironia coloca em risco justamente a maior qualidade do município, ou seja, o meio ambiente natural.

1 A decisão de elaboração da Agenda 21 do município de Maricá, deu-se com o anúncio da implantação do Comperj em

Itaboraí. Foram elaboradas agendas para os municípios localizados no entorno do empreendimento, a partir da preocupação com a sustentabilidade socioambiental dos municípios.

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Outro assunto de especial relevância a ser tratado é com relação à APA de Maricá. Na década de 80, as áreas de restinga, encontravam-se quase totalmente loteadas. No entanto, uma região fora mantida preservada através de um decreto, que a transformou em 1984, na APA de Maricá. Infelizmente, esta região encontra-se ameaçada com a implementação de um grande empreendimento imobiliário, um resort de luxo. O projeto promete a geração de renda e empregos na região e a inclusão da comunidade pesqueira tradicional de Zacarias que habita parte da restinga. No entanto, é necessário refletir a viabilidade deste empreendimento, que poderá trazer grandes prejuízos ambientais e desequilíbrios à paisagem natural.

É notável a intenção do município de Maricá em realizar o Plano Diretor e a Agenda 21 com viés ambiental. Diversas ações da Prefeitura demonstram uma melhoria da qualidade de vida da população, como por exemplo, um aumento nos índices de educação e os novos incentivos econômicos em infraestruturas, entre outros. No entanto, é possível notar que muitas ações não consideram princípios de sustentabilidade urbana.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência de urbanização nas últimas décadas nas cidades brasileiras nos indica a necessidade e premência de se encontrar novas possibilidades de gestão do território. Sendo assim, é necessária uma mudança de atitude a partir da compreensão dos desafios da nossa atualidade. A sustentabilidade ambiental e urbana devem ser priorizadas no processo de planejamento e ordenamento do território. Este ideal tem fundamental importância e não pode estar apenas contido em slogans políticos ou empresariais.

É necessária a utilização consciente dos recursos naturais e a compreensão dos limites do meio físico. Neste sentido, devem ser adotados limites à expansão urbana a fim de garantir áreas diversificadas das quais depende a sustentabilidade da vida urbana. Além disso, é necessária uma otimização das infraestruturas no projeto dos espaços urbanos, com base nas reais necessidades locais e no bem-estar coletivo.

A conclusão desta pesquisa não pretende englobar toda a complexidade socioambiental do município de Maricá, objeto de estudo, mas sim incluir a temática da sustentabilidade como uma medida possível ao crescimento e desenvolvimento socioeconômico municipal, objetivando novas perspectivas de solução das insustentabilidades atuais que por si só se tornam evidentes, em relação à descrição dos problemas outrora realizada.

É evidente que um modelo de desenvolvimento baseado primordialmente nas questões econômicas, voltado ao lucro e na obtenção de benefícios de curto prazo, além de estar baseado nos interesses de um pequeno setor social, não constitui uma fórmula de sucesso. Os aspectos econômicos não devem prevalecer sobre questões sociais e ambientais, a todos devem ser atribuídas igual importância, a fim de equilibrar estas variáveis, visando um desenvolvimento sustentável.

Somente através de uma gestão eficaz, podem ser garantidos o cumprimento das estratégias sustentáveis de desenvolvimento orientadas pelo Plano Diretor, e assim, obter a qualidade de vida aos cidadãos e o equilíbrio ambiental tão almejados. Atualmente, os maiores desafios municipais, se constituem na solução dos problemas básicos inerentes às carências do processo de urbanização, como o provimento de infraestruturas necessárias, redes de abastecimento e saneamento, serviços sociais, além de conter a degradação

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ambiental e promover a inclusão social. A partir do cumprimento destes objetivos, certamente encontra-se o princípio de uma sociedade e cidade mais sustentável, pois ao mesmo tempo em que se baseia no enfoque ambiental, promove a consciência social e um desenvolvimento econômico qualitativo, objetivos potencialmente alcançáveis.

Na perspectiva de um novo olhar sobre o desenvolvimento das cidades, a qualidade ambiental e urbana almejadas, compreende uma abordagem sistêmica e estratégica sobre os desafios e obstáculos que se apresentam atualmente. É essencial a busca pela inserção do conceito da sustentabilidade ao desenvolvimento, que poderá garantir um planejamento qualitativo do espaço urbano, trazer melhorias e qualidade de vida, desde que sejam implementadas por uma boa gestão municipal. Além disso, poderá contribuir com a discussão dos princípios sustentáveis e parâmetros básicos, em um intercâmbio de experiências que subsidiam metodologias pertinentes a projetos sustentáveis para outras cidades.

6 REFERÊNCIAS

Acioly, C.; Davidson, F. (1998). Densidade Urbana: Um Instrumento de Planejamento e Gestão Urbana. Mauad, Rio de Janeiro.

Agenda 21 Maricá (2011). Histórico e Dados de Maricá. Disponível em:

http://agendario.org/wp-content/uploads/2016/06/Maricá_baixa.pdf (acesso: 17 abril 2018) Bernardy, R.J. (2013) O Planejamento Urbano de Pequenos Municípios com Base no Plano Diretor. Desenvolvimento em Questão, v. 11, n. 22, São Paulo. p. 4-34.

Carvalho, P.F.; Braga, R. (orgs.) (2001). Perspectivas de Gestão Ambiental em Cidades Médias. LPM-UNESP. Rio Claro. p. 95-109

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Referências

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