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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO MÍDIAS NA EDUCAÇÃO

CARLA SILVA MACHADO

HIPERTEXTO, LITERATURA E TECNOLOGIAS DIGITAIS: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR CONTEMPORÂNEO

JUIZ DE FORA 2018

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CARLA SILVA MACHADO

HIPERTEXTO, LITERATURA E TECNOLOGIAS DIGITAIS: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR CONTEMPORÂNEO

Artigo apresentado como requisito parcial para aprovação no Curso de Especialização Mídias na Educação, da Faculdade de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora.

Orientador(a): Prof. Dr. Carlos Klimick

JUIZ DE FORA 2018

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CARLA SILVA MACHADO

HIPERTEXTO, LITERATURA E TECNOLOGIAS DIGITAIS: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR CONTEMPORÂNEO

Artigo apresentado como requisito parcial para aprovação no Curso de Especialização Mídias na Educação, da Faculdade de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora.

Aprovada em: BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Carlos Klimick Prof. Dr. orientador ________________________________ Membro da banca ________________________________ Membro da banca

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HIPERTEXTO, LITERATURA E TECNOLOGIAS DIGITAIS: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR CONTEMPORÂNEO

Carla Silva Machado1 Resumo

O presente trabalho trata das relações entre literatura, hipertexto e tecnologias digitais. Foi desenvolvido a partir das disciplinas do curso de especialização Mídias na Educação e da vivência da autora como professora de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa no Ensino Médio. Além de tratar das relações entre literatura e hipertexto, o trabalho apresenta o conceito de literacia digital e trata dos leitores contemporâneos também como produtores de textos. Nesta perspectiva, conforme Canclini (2008), o leitor da atualidade é um leitor ativo, pois cria narrativas a partir das leituras que faz. O texto apresenta duas propostas de trabalho a serem desenvolvidas com alunos do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) ou do Ensino Médio a partir da ideia de que a literatura da atualidade vai além da leitura de livros e está em inúmeras ferramentas digitais, o que permite uma maior relação entre leitor e texto, além de uma maior autonomia na escolha dos textos. As atividades propostas podem ser adaptadas à realidade de cada escola, mas o importante é manter a ideia de que a escrita está vinculada a determinado tempo e lugar e, ainda, de que é necessário trabalharmos com textos (tanto os escritos quanto os visuais) a partir da realidade e do gosto do aluno, para assim motivá-los na participação das atividades. A partir das atividades desenvolvidas, propõe-se em conjunto com os alunos o uso de dois aplicativos, quais sejam: Photofunia e Stayfilm, além da criação de um blog para armazenar a produção de materiais desenvolvidos durante o projeto e o uso de links das comunidades literárias presentes na Rede social Facebook.

Palavras-chave: Hipertexto. Literatura. Literacia Digital.

Introdução

Nesse momento, o peixe deu um puxão súbito, que atirou o velho para o fundo da proa, e tê-lo-ia levado pela borda fora, se não se houvesse agarrado e não tivesse largado mais linha (HEMINGWAY, Ernest. O Velho e o Mar).

O romance O Velho e o Mar do escritor estadunidense Ernest Hemingway foi escrito em 1952 e conta a história de Santiago, um velho pescador que depois de 84 dias sem pegar um peixe, acaba fisgando um daqueles enormes, muito maior do que suas forças e tão difícil de dominar quanto sua vontade de realizá-lo. Após este

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feito, ambos, peixe e homem, ficam dias em alto mar em uma luta para decidir de que lado da vara está quem levará a melhor. A narrativa é a alegoria das nossas lutas diárias e da força de espírito de um homem por sua sobrevivência física e moral.

A boa literatura, e quando uso o adjetivo boa, não estou me referindo à clássica, conforme muitos estudiosos defendem, mas aquela que nos fisga, nos encanta, que nos faz sair do nosso cotidiano e é capaz de nos levar para outros lugares sem sairmos de casa, é como o peixe que fisga Santiago, mas que também é fisgado por ele. Ler é deixar-se entrar em alto mar sem medo do que vem pela frente, é paixão e é também perdição, posto que as páginas de um livro podem nos levar a outras e mais outras, nos fazendo presos ao anzol das palavras e letras.

Na atualidade, nossas leituras vão além do livro impresso, lemos textos, hipertextos, trocamos o mar de páginas pelo ciberespaço, conhecemos autores nas redes sociais; mas será que continuamos leitores literários ou da boa literatura? Para o pesquisador Néstor Canclini (2008), os jovens leitores apenas mudaram a forma e o suporte de leitura, posso, neste sentido, dizer que trocaram a leitura de livros por leitura de telas, mas usam o computador para, dentre outras atividades, ler notícias, artigos, crônicas e pesquisar sobre autores e frases ou trechos de livros encontradas nas redes sociais.

Nas palavras do autor: “Lê-se de outras maneiras, por exemplo, escrevendo e modificando. Antes, com o livro impresso, era possível anotar nas margens ou nos vazios das páginas” (CANCLINI, 2008, p. 59), mas na atualidade, segundo ele citando Chartier (2003), no texto eletrônico, pode-se intervir e introduzir ou cortar trechos.

Porém as diversas maneiras e possibilidades de ler um texto exige um leitor crítico, autônomo, que domine as diversas plataformas e suportes de leitura, ou seja, tenha letramento ou literacia digital, para isso, é preciso preparar-se para dominar o peixe ou as várias telas de leitura que se abrem diante de um toque.

A partir das ideias aqui expressas, pretendo, neste texto, discorrer sobre alguns temas aqui levantados tais como: hipertexto, literacia digital, o espaço escolar como possibilidade de formação de leitores de telas/mares/escamas. Além disso, apresento algumas propostas pedagógicas envolvendo literatura, redes sociais e digitais e ciberespaço na perspectiva da formação do leitor/autor crítico e autônomo. Para atingir estes objetivos, serão apresentados alguns aplicativos e ferramentas

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digitais que poderão ser usados em sala de aula ou no ambiente escolar como apoio à proposta pedagógica apresentada.

O Texto, o Hipertexto e o Mar de Textos

Segundo o minidicionário Aurélio, imbricar é “Dispor(-se) (coisas) de maneira que só em parte se sobreponham umas às outras, como, p.ex., as escamas do peixe” (p. 373), penso que se pudéssemos criar uma imagem para o hipertexto, bem grosso modo, ele seria o imbricamento ou sobreposição de textos a um texto base, ou para usarmos a imagem que o dicionário cria, o hipertexto são as escamas que formam o peixe. Numa conceituação mais acadêmica, Xavier (2005, p.171) diz que “por hipertexto entendo ser uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície formas outras de textualidade”. Dessa forma, podemos entender que o hipertexto permite ao leitor uma forma peculiar de ver e ler o texto, visto que possibilita o imbricamento ou um passeio por links, fazendo com que a experiência da leitura possa ser diferente de um leitor para outro, pois enquanto uns podem querer fazer leituras de todos os links, entrando em todas as escamas do peixe, outros podem ficar apenas nas camadas mais aparentes, há ainda, aqueles que podem se perder entre escamas.

Segundo Lima (2015), a escrita possibilitou ao homem armazenar conhecimentos e informações dando àqueles que a dominavam poder e saber. O surgimento do computador ampliou ainda mais a velocidade e as possibilidades de comunicação, trazendo novas formas de leitura e escrita. Nas palavras de Lima (2015, p. 8):

A informática provocou muito mais do que uma revolução nas formas e nos métodos de geração, armazenamento, processamento e transmissão da informação. Pode-se afirmar que o desenvolvimento das tecnologias relacionadas com o computador compara-se à revolução causada com a invenção dos tipos móveis de Gutenberg. A mudança do texto impresso para o texto eletrônico criou uma grande mudança na maneira como é armazenada e acessada a informação. Os textos eletrônicos, que podem ter as mesmas características dos textos lineares, bem como dos não lineares, são armazenados ou disponibilizados em CPUs, disquetes, CD-ROM, LANs, ou redes digitais. A possibilidade de explorar o texto de maneira interativa introduziu o conhecimento por simulação.

O hipertexto, fruto da tecnologia informacional das duas últimas décadas, é a forma de texto que estimulou e tornou possível o desenvolvimento do universo digital. O hipertexto, como nova tecnologia, também desterritorializa o texto, tornando-o sem fronteiras, o que remete, de certa

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forma, à transmissão da informação na tradição oral, em que o elemento da aleatoriedade é inerente à comunicação. Porém, o texto eletrônico acelera o tempo e concatena contextos, encadeando e justapondo diferentes documentos, compartilhando o mesmo espaço de produção e, às vezes, alterando sua compreensão.

Pensando nisso, vale destacar que este tipo de texto exige um leitor mais atento e com atenção mais cambiante para este ambiente digital, pois, ao contrário, um leitor menos preparado corre o risco de se perder nas diversas escamas que vão se abrindo e pode nunca conseguir voltar ao peixe, ou à intenção inicial de leitura. Dessa forma, há estudos que defendem a importância de uma educação para a literacia digital, ou seja, que prepare as pessoas e mais especificamente as crianças e os jovens para o uso das diversas tecnologias digitais, não só para estarem prontos para a leitura eficiente dos textos não lineares, mas para fazerem uma leitura crítica destes. Para Kellner e Share ( 2008, p. 689-690):

No contexto da contínua expansão da transformação tecnológica e econômica, a alfabetização crítica da mídia é um imperativo para a democracia participativa, pois as novas tecnologias de informação e comunicação, associadas a uma cultura de mídia com base no mercado, fragmentaram, conectaram, convergiram, diversificaram, homogeneizaram, estabilizaram, ampliaram e remodelaram o mundo. Essas mudanças estão reconstruindo a maneira como as pessoas pensam e reestruturando as sociedades, nos níveis local e global.

Estas mudanças apontadas por Kellner e Share podem levar a uma interação mais ativa com os textos ou à exclusão daqueles que não se adequarem às novas formas de ler o mundo. Por isso, é importante, que nós professores fiquemos atentos à maneira com que nossos alunos lidam com os diversos tipos de leituras. Martín-Barbero em artigo publicado no ano 2000 afirmava que os jovens são mais velozes e que lidam diferente com a relação espaço-tempo, porém, a escola continua centrada numa didática livresca que, de certa forma, ignora as manifestações culturais que estão a sua volta. Para o autor, a atitude defensiva da escola “limita-se a identificar o melhor modelo pedagógico tradicional com o livro e anatematizar o mundo audiovisual como o mundo da frivolidade, da alienação, da manipulação” (2000, p. 56).

Assim como o autor, acredito que todos os suportes de leituras devem ser conhecidos e a escola precisa se abrir a novas possibilidades de intervenção para formação de leitores críticos e preparados para todos os gêneros e suportes. Acredito ainda que tudo pode ser alienante e manipulador dependendo do uso que se faz de cada espaço de leitura, portanto, não é o suporte que define o tipo de leitor

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que temos diante de nós, mas ao contrário, o tipo de leitor pode olhar para cada suporte à sua maneira e criar novas possibilidades de leituras.

Sendo assim, mais uma vez estamos diante da palavra agora ligada à imagem e à cultura digital como perspectiva de saber/poder. Nas palavras de Canclini (2008, p. 33):

Os professores continuam falando de um divórcio ou curto-circuito entre, de um lado, escola e leitura e, do outro, o mundo da televisão, cinema e outros passatempos audiovisuais. [...] Os saberes e o imaginário contemporâneos não se organizam, faz meio século, em torno de um eixo letrado, nem o livro é o único ordenador do conhecimento (Martín Barbero, 2002). Muitos, porém, relutam em traduzir essas mudanças no conceito de uma escola que admita a interação da leitura com a cultura oral e a audiovisual-eletrônica.

Neste sentido, é cada vez mais importante que estes elementos e suportes de leituras façam parte do cotidiano escolar de forma crítica e que a escola seja também um espaço de formação para a leitura dos textos digitais, eletrônicos e audiovisuais, tais como o hipertexto, os filmes, quadrinhos e tantos outros. Xavier (2005, p. 161-162) enfatiza:

Do ponto de vista pedagógico é necessário ressaltar também o fato do computador ser ainda pouco usado como ferramenta de ensino. É necessário que a escola passe a se preocupar com a formação dos leitores para esse novo meio, oferecendo aos alunos práticas pedagógicas que demandem o letramento digital e também formem leitores autônomos. A autonomia do aprendiz é essencial para que esse saiba como explorar as possibilidades comunicativas oferecidas pelo hipertexto e pela hipermodalidade.

O que proponho, neste texto, portanto, não é ignorar o texto escrito, nem as formas orais de trabalho com as diversas linguagens, mas a perspectiva de que nós professores de todas as áreas possamos ver nos meios eletrônicos e digitais mais ferramentas para a formação de leitores, visto que estes já estão postos em nossa sociedade e vêm sendo cada vez mais difundidos. A escola não pode simplesmente ignorar que as tecnologias digitais podem ser de grande valia para a formação dos indivíduos e contribuir em suas práticas sociais cotidianas. Nas palavras de Martín-Barbero (2000, p. 58-59):

Daí a importância estratégica que adquire hoje uma escola capaz do uso criativo e crítico dos meios audiovisuais e das tecnologias informáticas. Isso, porém, só será possível numa escola que transforme seu modelo (e sua práxis) de comunicação, isto é, que torne possível a passagem de um modelo centrado na seqüência linear - que encadeia de forma unidirecional graus, idades e grupos de conhecimentos – a outro descentralizado e plural, cuja chave é o encontro do palimpsesto e do hipertexto. Entendendo por palimpsesto esse texto no qual um passado que foi apagado emerge tenazmente, embora difuso, nas entrelinhas da escrita presente; e por hipertexto uma escrita não sequencial, mas sim montagem de conexões em

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rede que, ao permitir/exigir uma multiplicidade de percursos, transforma a leitura em escrita.

Dessa forma, entendo que a função de todos nós que atuamos na educação e acreditamos numa educação transformadora, capaz de formar leitores, cidadãos e agentes sociais ativos seja não a de limitar, mas a de apresentar o máximo de possibilidades de leituras e suportes para, assim, propor aos alunos investigarem os que realmente valem a pena e aqueles que devem ser deixados de lado, pois não correspondem às suas expectativas. Neste sentido, seremos mediadores no processo de ensino-aprendizagem, proporcionando autonomia, criticidade e autoria.

Em seu livro Cultura da Convergência, publicado no Brasil em 2009, Henry Jenkins conta a história de uma adolescente estadunidense chamada Heather Lawver, que ao ler a saga do mágico Harry Potter da escritora inglesa J.K. Rowling e se apaixonar pelas histórias vivenciadas na escola fictícia de Hogwarts, resolve criar um jornal virtual intitulado The Daily Prophet (O Profeta Diário)2. Segundo o autor,

tendo a adolescente como editora-chefe: “Hoje, a publicação conta com uma equipe de mais de 102 crianças do mundo inteiro” (JENKINS, 2009, p. 240). O site criado por Lawver é uma espécie de fan fiction, ou seja, em uma tradução livre, é a literatura criada pelos fãs, em que os responsáveis pelo site (as 102 crianças juntamente com Lawvee) continuam as histórias do livro que se transformou numa espécie de jornal ou diário dos acontecimentos envolvendo os personagens daquela escola criada para dar vida a Harry Potter e seus colegas.

No livro de Jenkins ainda é possível encontrar a carta aberta aos pais dos colaboradores do site, escrita por Lawver e que define claramente os objetivos da publicação:

O Daily Prophet é uma organização dedicada a dar vida ao mundo da literatura... criação de um “jornal” on-line, com artigos que levam os leitores a acreditar que o mundo fantástico de Harry Potter é real, faz com que a mente se abra para explorar livros, mergulhar nos personagens e analisar a grande literatura. O desenvolvimento, em tenra idade, da capacidade mental em analisar e a palavra escrita faz com que crianças tomem um gosto pela leitura diferente de todos os outros. Ao criarmos este mundo de mentirinha, estamos aprendendo, criando e nos divertindo numa amigável sociedade utópica (JENKINS, 2009, p. 242-243).

A carta escrita pela criadora do site é muito interessante por vários motivos e o primeiro deles é o fato de esta garota tão jovem já entender o quanto a literatura

22 O jornal criado pela adolescente Heather Lawver pode ser acessado no endereço: http://www.dprophet.com.

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pode mudar a maneira com que cada um de nós passa a ver o mundo. Além disso, os esforços de Lawve mostram que ela não pretende apenas aprender e se formar leitora sozinha, ela quer compartilhar com outros a magia da literatura e faz isso aproximando crianças de várias nacionalidades e várias culturas diferentes que têm em comum a paixão por um livro e todas as histórias/estórias que podem ser contadas a partir dele.

Jenkins termina o relato enfatizando o quanto jovens e crianças são capazes de adquirir autonomia e autoria, além disso, umas ensinam a outras que juntas aprendem de maneira colaborativa e participativa. Segundo o autor:

Se as crianças devem aprender as habilidades necessárias à plena participação em sua cultura, podem muito bem aprendê-las envolvendo-se em atividades como a edição de um jornal numa escola imaginária, ou ensinando umas às outras habilidades para múltiplos jogadores, ou quaisquer outras coisas que pais e professores atualmente considerem ocupações sem importância (JENKINS, 2009, p. 249).

O que eu aprendi com o exemplo de Heather Lawver? Que o prazer da leitura não morreu com a propagação dos meios digitais, que os jovens leem, que os jovens não só leem como também escrevem e são capazes de criar histórias/estórias a partir de suas leituras. Que a escola também pode ser um espaço de criação/recriação de histórias/estórias e que trabalhos em grupo ou compartilhamento de ideias e propostas ou formas colaborativas de trabalhos são essenciais para chegar até os jovens e estabelecer relações na atualidade.

Pensando no que aprendi com a menina de 13 anos que criou um site por causa da leitura de um livro e hoje coordena outros 103 meninos e meninas num trabalho que envolve colaboração, respeito, autonomia e autoria; proponho, na próxima seção, algumas possibilidades pedagógicas com a leitura e a escrita a partir da literatura nos meios digitais.

Possibilidades pedagógicas na formação do leitor contemporâneo

A partir da perspectiva de que a escola pode abrir-se para outras leituras e suportes, proponho, nesta seção, duas atividades bastante simples que podem ser desenvolvidas com alunos do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) ou do Ensino Médio. Lembro que são apenas sugestões de atividades, que podem servir como ideias iniciais para outras mais elaboradas ou até serem transformadas em projetos ou exposição de produtos dos alunos, tudo dependerá da política da escola, do

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envolvimento e acolhimento dos alunos às atividades e a vontade dos professores de formarem leitores contemporâneos numa perspectiva do compartilhamento e produção de trabalhos em grupo.

A primeira atividade consiste na leitura de uma notícia de jornal que trata de algumas ações do prefeito de São Paulo, João Dória, para apagar os grafites da cidade. Na época que o fato aconteceu, início de 2017, houve grande repercussão na mídia e várias opiniões sobre o assunto. A ideia aqui é informar os alunos sobre o fato, portanto, o ideal é que o gênero textual usado seja a notícia. Como sugestão, busquei o assunto no Google e escolhi uma das notícias que foi publicada na versão online do Jornal Folha de São Paulo3. Após a leitura da notícia, o professor, caso

tenha interesse pelo tema, pode levar textos de opinião sobre o assunto e propor um debate em torno deste, visto que é um assunto que pode fazer parte do cotidiano do seu grupo de alunos. A sugestão seguinte é o uso de uma propaganda feita pela Amazon4, que a partir da polêmica, fez um vídeo grafitando a cidade de São Paulo

com textos literários. A ideia da empresa era divulgar o Kindle, um leitor de livros digitais desenvolvido pela empresa, que permite aos usuários comprar, baixar, pesquisar e, principalmente, ler livros digitais, jornais, revistas, e outras mídias digitais via rede sem fio.

A propaganda começa mostrando paisagens da cidade de São Paulo e a pergunta: “Cobriram a cidade de cinza”? E a resposta: “A gente cobriu o cinza de história!” Logo em seguida começam a passar projeções e áudios de textos literários em prédios e locais da cidade, como se tivessem sido grafitados.

A atividade prática consiste numa brincadeira com os alunos e a apresentação de uma ferramenta para edição de fotos. O professor irá pedir para que o aluno leve a foto de uma frase literária que ele goste. Simulando a atividade, eu escolhi uma foto tirada por mim no Museu da língua Portuguesa em São Paulo. Segue a foto:

3 O endereço eletrônico da notícia é: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/01/1852162-doria-passa-tinta-cinza-e-apaga-grafites-da-avenida-23-de-maio.shtml. Porém, é possível encontrar outras versões, caso o professor queira comparar textos diferentes de um mesmo gênero que tratam de um mesmo assunto.

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Após a escolha da foto, os alunos devem acessar o site Photofunia5 que é

um site de tratamento de fotos. Ao entrar no site, os alunos junto com o professor devem seguir o passo a passo que encontrarão, fazer o upload da foto escolhida e transformá-la em grafite. Após passar pela mudança no site, a minha foto original, em que aparece a frase de Fernando Pessoa, ficou da seguinte forma com o efeito grafite:

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No site há outras possibilidades de tratamento das fotos. Os alunos podem fazer vários testes e brincar um pouco com a imagem e o texto escolhidos. Paralelo ao processo de tratamento das fotos, o professor deve incentivar aos alunos a criação de um blog para registrar os trabalhos feitos, há inúmeras plataformas gratuitas de criação de blogs, um exemplo é o Wix, em que meu site Linguagens

em Movimento6 está hospedado. Após fazerem o tratamento da foto, cada aluno irá

postá-la no blog recém-criado com um parágrafo explicando o motivo da escolha daquele trecho de um texto literário. Neste momento, o aluno pode aproveitar e contar um pouco da história da obra em que tirou o trecho e da biografia do autor da obra. Para isso, pode fazer links com outros sites que tratam de literatura e deixar seu texto mais completo para futuras pesquisas.

Além dessa atividade, caso seja do interesse do professor e da turma, há um ferramenta online chamada Stayfilm7 que transforma fotos em vídeos, ou melhor

dizendo, o usuário alimenta a página com todas as fotos que queira e a ferramenta cria uma espécie de apresentação em slide com som usando todas as fotos disponibilizadas, é uma maneira interessante de armazenar e visualizar o trabalho feito por todos os alunos, muito fácil de fazer e prático também, dependerá, assim como a atividade da fotografia individual de um computador com acesso à internet. Sei que muitas escolas não têm estas ferramentas, ou o acesso à internet é restrito, mas, se for o caso, algum aluno pode ficar responsável em receber todas as fotos por e.mail e montar a apresentação para ser mostrada para a turma, esta é uma maneira de dar autonomia de ação aos alunos e colocá-los mais ativos no processo de ensino-aprendizagem.

Além disso, tanto o Stayfilm como o Photofunia são aplicativos muito leves e podem ser usados a partir de um smartphone com acesso à internet, dessa forma, isso pode facilitar o acesso no ambiente escolar e a atividade pode ser feita coletivamente. Tanto as fotos quando o filme (apresentação de todas as fotos) vão alimentar o blog criado pela turma.

Outra proposta seria um projeto a ser desenvolvido por um professor ou um grupo de professores na perspectiva de preparar os jovens para a leitura crítica e

6 O endereço do site Linguagens em Movimento é:

https://sites.google.com/view/linguagensemmovimento/pagina-inicial 7 O endereço do site da ferramenta é: http://www.stayfilm.com/

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eficiente dos textos digitais encontrados a partir das redes sociais. A atividade pode ser desenvolvida durante todo o ano letivo e, ainda, se for da vontade dos alunos, ser permanente e contar com apoio dos professores da área de linguagens ou de outras que entendem que a leitura perpassa por todas as áreas do conhecimento. Ela tem como objetivos: leitura crítica dos textos; pesquisa de autores; pesquisa de textos literários; escrita autônoma e compartilhada; ampliação do conhecimento literário e uso das redes sociais para pesquisa.

A proposta consiste na alimentação do blog coletivo em que os autores, alunos do Ensino Fundamental ou Médio, irão fazer deste espaço um ambiente de compartilhamento de links que levem a páginas sobre literatura ou vida e obra de autores específicos, ou ainda páginas de livrarias ou afins que estejam no Facebook. A ideia é que os alunos possam explorar as páginas para conhecerem novos autores e textos literários, mas também que aprendam além do que está nas páginas da rede social, por isso, eles partirão da rede, mas criarão links para páginas em que os visitantes possam encontrar mais detalhes sobre o texto ou autor em questão, além disso, como é muito comum encontrarmos textos com autorias equivocadas, eles terão a função de confirmar a autoria dos textos ou trechos de textos recolhidos deste espaço.

Neste sentido, ao partir de comunidades do Facebook, o aluno ampliará seu conhecimento sobre o assunto visitando outras páginas que tratem da literatura pesquisada. O aluno fará um filtro das páginas visitadas e as que ele identificar como as melhores ou mais completas deverão ser linkadas no blog, ou seja, a partir do endereço da página pesquisada que será colocada no blog, o aluno fará com que o leitor do blog seja direcionado à página pesquisada, se for de sua vontade.

Cada aluno ficará responsável por uma aba do blog e todos acompanharão a produção de todos, por isso entendo que a escrita do blog será autônoma e compartilhada. É interessante, ainda, que os professores criem momentos para discutir a construção do blog e avaliação das abas dos colegas com sugestões e análises do que está sendo construído, trabalhar as diversas opiniões sobre o trabalho em grupo é essencial para o aprimoramento da criticidade de cada um. Além disso, é importante que o grupo saiba lidar com opiniões diversas.

Como sugestão de páginas criadas no Facebook que tratam de literatura, cito algumas que podem ser o pontapé inicial do projeto:

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Chá de Poesia8: é uma página pública com mais de 41 mil seguidores.

Publica frases de autores diversos sempre acompanhadas de imagens.

Moça, você é Poesia9: criada por Diogo Souza e Michele Nola. A página

apresenta a seguinte descrição: “Poesias, contos, humor, romance e o que vier na cabeça”.

Pensamentos e Poesia10: segundo a descrição da página: Ela “foi criada

para partilhar coisas de Fernando Pessoa, mas também para partilhar todo conteúdo que ache oportuno para todos”. Conta atualmente com mais de 70 mil seguidores.

Eu me chamo Antônio11: uma das páginas mais populares do Facebook

com mais de 1 milhão de seguidores. É a página de um escritor que divulga seus escritos por ela, além de divulgar outros textos literários.

Em vez de ao invés12: segundo a descrição da página: “composta no intuito

de disseminar conteúdos Literário, Cultural e Artístico”. A comunidade tem mais de 30 mil seguidores.

Estas páginas foram citadas aleatoriamente, há muitas outras somente no Facebook,. A minha ideia ao apresentá-las aqui foi permitir aos professores que ainda não tiveram acesso a páginas como estas, pudessem conhecer algumas delas antes de propor a atividade para seus alunos. Acredito que os jovens já devam conhecer outras páginas parecidas.

No desenvolver das atividades, cada um dos alunos pode ficar responsável em acompanhar duas ou três das comunidades virtuais que tratam de literatura e fazer uma análise dessas páginas a partir de critérios definidos pelo grupo (alunos e professores participantes do projeto). Vale lembrar que ao acessar uma das páginas citadas, esta já sugere outras, portanto, a ideia da escama (ou hipertexto) estará presente o tempo todo no desenvolvimento das atividades.

A partir desta proposta, outras podem surgir. Pode-se ampliar para pesquisa de autores ou obras mais comentados ou citados nestas páginas, além disso, pode-se trabalhar com a confirmação de autoria de trechos e outras atividades que podem emergir a partir das demandas dos atores envolvidos.

8A página pode ser acessada em: https://www.facebook.com/chazinhodepoesia/

9 A página pode ser acessada em: https://www.facebook.com/Mo%C3%A7a-voc%C3%AA-%C3%A9-poesia-615610038580113/

10 A página pode ser acessada em: https://www.facebook.com/pensamentosepoesias.pt/ 11 A página pode ser acessada em: https://www.facebook.com/eumechamoantonio/ 12 A página pode ser acessada em: https://www.facebook.com/EmVezDeAoInves/

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O objetivo central desta atividade é despertar a curiosidade dos alunos pela pesquisa nas redes sociais e ao fazê-lo é possível despertar o interesse pela leitura de textos literários, pela confirmação de dados presentes nos meios digitais, além das habilidades já mencionadas que envolvem a construção e o envolvimento no trabalho coletivo.

As propostas deste trabalho vão em duas direções, a primeira delas é a perspectiva do trabalho com gêneros textuais, quais sejam: notícias, textos publicitários, textos de opinião, fotografia, imagens em movimento, textos literários e outros que possam aparecer ao longo do processo. A segunda perspectiva é o trabalho com os meios digitais como ferramentas pedagógicas para o incentivo à literatura. Para esta segunda proposta, há a criação do blog que armazenará a produção dos alunos e a apresentação de aplicativos como a Photofunia e o

Stayfim. Além disso, ao criar o blog como uma ferramenta de armazenamento de

textos e propostas literárias diversas, haverá o uso dos links como uma ferramenta de incentivo à pesquisa em sites especializados em literatura, mas partindo sempre da pesquisa nas redes sociais, por ser esta a mais conhecida do público adolescente.

Estas ferramentas iniciais poderão levar a outras apresentadas pelos professores do projeto ou pelos alunos, a ideia aqui é mostrar, ainda, que a escola não precisa estar desconectada do cotidiano dos atores escolares, portanto, com o desenvolvimento destas primeiras ferramentas, outras irão surgir e serão muito bem vindas!

Considerações Finais

Acredito que atividades como as propostas neste texto são formas de incentivar a pesquisa autônoma dos jovens, além de incentivar a escrita e ampliar o conhecimento literário de forma mais lúdica, visto que a sugestão dada é que os professores se apoiem didaticamente num espaço virtual que a maioria dos alunos desta faixa etária usa, porém, a ideia é dar um novo uso para estes espaços, ou seja, propor aos jovens novas formas de usar os ambientes virtuais que muitos acreditam já dominarem, mas fazem um uso restrito destes ambientes.

Além do exposto anteriormente, a ideia é, ainda, mostrar que a literatura não está presente apenas nos livros, que ela faz parte do nosso cotidiano e pode ser

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algo prazeroso. Dessa forma, espera-se formar leitores de diversos suportes e de textos variados contribuindo para a literacia digital e a formação de leitores críticos.

Ao pesquisar as páginas de literatura na rede social Facebook, pude me deparar com uma infinidade de páginas dedicadas à literatura, isso é a prova de que a literatura não está morta, como suspeitavam alguns estudiosos quando o computador começou a ganhar espaço em nossa sociedade. Acredito que a literatura não morrerá jamais, pois a cada dia novas maneiras de ler vão sendo descobertas. Creio que para cada tempo há um tipo de leitor diferente e ao pensarmos na formação de leitores da contemporaneidade, devemos ter em mente atividades dinâmicas, lúdicas e que estejam relacionadas à realidade daqueles que queremos atingir, por isso, acredito que a formação do leitor da atualidade perpassa pela literacia digital e pela leitura também de imagens, inclusive aquelas em movimento.

O leitor contemporâneo é cambiante, sente tempo/espaço de maneira bem diferente dos leitores de outros tempos, para este leitor, portanto, interferir no processo de escrita e sentir-se coautor da obra é algo essencial, não podemos ignorar isso. Neste sentido, cabe ao professor e à equipe escolar pensar em estratégias que reacendam cotidianamente a paixão pela literatura.

REFERÊNCIAS

CANCLINI, Néstor Garcia. Leitores, Espectadores e Internautas. Trad.: Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2008.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniáurélio Século XXI Escolar: O Minidicionário da Língua Portuguesa. 4 ed. rev.ampliada, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

HEMINGWAY, Ernest. O Velho e o Mar. Tad.: Fernando de Castro Ferro. 53 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Trad. Susana L. Alexandria. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009.

KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia radical e a reconstrução da educação. In: Educação e Sociedade, Campinas, vol. 29, n. 104 - Especial, p. 687-715, out. 2008. Disponível em: <

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Referências

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