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ESHC019-17 - História do Pensamento Econômico

Quadrimestre: 3º. 2017 - Carga Horária: 48h

Recomendação: Pensamento Econômico e

Introdução à Economia

Prof. Maurício Martinelli Luperi –

mluperi@gmail.com

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Aula 4 – Thomas Robert Malthus (1766-1834) - Filho de uma família inglesa de posses.

- Educado na Universidade de Cambridge.

- Em 1805 ingressou no corpo docente da faculdade das Índias Orientais. Ocupou a primeira cátedra inglesa de Economia Política, onde permaneceu até sua morte em 1834.

- Em sua época havia dois principais conflitos: A Revolução Industrial e a antiga classe proprietária de terras ainda tinha o controle efetivo do Parlamento Inglês e travou-se um intenso conflito entre essa classe e a nova classe capitalista industrial. A razão última dessa discussão era se a Inglaterra deveria continuar com uma economia agrícola relativamente autossuficiente ou transformar-se numa ilha dedicada basicamente à produção industrial.

- A classe operária vivia perto do nível de subsistência em 1750, e seu padrão de vida (medidos em termos do poder de comprados salários) deteriorou-se na segunda metade do século XVIII.

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- Em toda época da Revolução Industrial não há dúvida de que o padrão de vida dos pobres caiu sensivelmente em relação aos padrões das classes média e superior.

- Tampouco há dúvida quanto à classe que arcava com custos sociais, em termos do consumo sacrificado necessário para industrialização.

- Os trabalhadores haviam perdido o orgulho da habilidade pessoal no trabalho e a proximidade das relações pessoais que existem nas indústrias artesanais.

- Pelo novo sistema, sua única relação com seu empregador era através do mercado impessoal, ou o elo do dinheiro. Eles perderam o acesso direto aos meios de produção, tendo sido reduzidos a meros vendedores de força de trabalho, totalmente dependentes das condições de mercado para sua sobrevivência..

- Pior que isso foi a regularidade monótona e mecânica imposta ao operário pelo sistema fabril. Na Europa pré-industrial, as tarefas do operário não eram tão especializadas. Ele passava de uma tarefa para outra, e seu trabalho era interrompido pela variação de estações do ano ou do tempo.

- Quando queria descansar, divertir-se ou mudar o ritmo de sua rotina de trabalho, tinha certa liberdade para fazê-lo.

- O emprego da fábrica trouxe a tirania do relógio. A produção era mecanizada e era preciso uma regularidade absoluta para coordenar a complexa interação dos processos e maximizar o uso da nova maquinaria.

- O ritmo de trabalho não era mais decidido pelo indivíduo, mas pela máquina.

- O novo sistema fabril destruiu completamente o modo de vida tradicional dos trabalhadores, lançando-os em mudo de pesadelos para o qual estavam completamente despreparados.

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- A máquina que, antes era um apêndice do homem, era, agora, o ponto central do processo de produção. O homem passou a ser um simples apêndice da máquina fria, implacável e ditadora do ritmo de trabalho.

- 183 – Revoltas Ludditas (destruidores de máquinas). Muitos trabalhadores foram enforcados ou deportados.

- A extensa divisão do trabalho na fábrica tornou grande parte do trabalho tão rotineiro que mulheres e crianças sem treinamento algum podiam trabalhar tão bem quanto homens. Eram empregados com um salário muito mais baixo que o dos homens. Famílias inteiras tinham de trabalhar para ganhar o suficiente para comer.

- As mulheres e crianças eram muito requisitadas porque podiam ser reduzidas a um estado de obediência passiva mais facilmente do que os homens.

- Ideologia da época era de que boa mulher era mulher submissa – era de grande valia para os seus empregadores.

- As crianças viviam na mais cruel servidão. A jornada de trabalho das crianças durava 14 a 18 horas ou até elas caírem completamente exaustas.

- Os capatazes eram pagos de acordo com o volume de produção das crianças e, portanto, pressionavam-nas sem misericórdia ( 20 minutos para refeição principal).

- Os acidentes eram comuns, principalmente ao final do expediente, quando crianças exaustas quase dormiam.

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- Nunca acabavam os casos de dedos cortados e membros esmagados pelas rodas. - As crianças eram disciplinadas de maneira brutal e selvagem sujeitas ao assédio

sexual dos empregadores e capatazes.

- Mulheres empregadas nas minas trabalhavam de 14 a 16 horas por dia, despidas até a cintura, ao lado de homens e executando trabalho de homem.

- Claro que os homens também não tinha condições adequadas de trabalho.

- Outro fator para verificação do padrão de vida da classe operária era o rápido ritmo da industrialização . Em 1750, só duas cidades da Inglaterra tinham mais de 50 mil habitantes. Em 1850, havia 29. Nessa data quase a terça parte da população vivia em cidades com mais de 50 mil habitantes.

- As condições das cidades na época eram terríveis: viviam enfumaçadas e cheias de sujeira, os serviços público de limpeza, abastecimento de água, espaços livres, etc. não acompanhavam a migração de massas para cidade, provocando, com isso, após 1830, epidemias de cólera, tifo e um alto índice de moetalidade no século XIX.

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- As novas populações das cidades eram comprimidas em cortiços e lotados.

- A destruição total da forma de vida tradicional dos trabalhadores e a disciplina severa do novo sistema fabril, associadas às condições de vida deploráveis nas cidades, geravam inquietação social, econômica e política.

- Houve reações de 1811 a 1848. Em muitos lugares esses levantes eram puramente espontâneos e de natureza basicamente econômica.

- Não pode haver dúvida que o capitalismo industrial foi construído com base no sofrimento vil da classe operária, à qual era vedado o acesso aos frutos da economia em rápida expansão e que era sujeita aos excessos mais degradantes para aumentar os lucros capitalistas.

- Desde a introdução da produção fabril nas indústrias têxteis, os operários procuraram reunir-se para, coletivamente, proteger seus interesses.

- Os trabalhadores reagiam a baixa de salários, recusavam-se a trabalhar por menos que certo salário mínimo e organizavam um boicote aos fabricantes que não pagassem o salário mínimo.

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- A luta se transformou em revolta aberta e em tiroteio, mas os operários conseguiram provar que eram um grupo forte e bem disciplinado e formaram um sindicato forte.

- As organizações trabalhistas difundiram-se rapidamente na década de 1790. A Revolução Francesa estava bem fresca em sua memória e os capitalistas temiam o poder dos operários sindicalizados.

- O resultado foi a Lei do Conluio, de 1799, que tornava ilegal qualquer combinação entre operários, com a finalidade de conseguir salários mais altos, jornadas de trabalho mais curtas ou introdução de qualquer regulamentação que restringisse a liberdade de ação de seus empregadores.

- Os argumentos dos proponentes dessa lei era a necessidade de livre concorrência e dos males do monopólio, mas não mencionavam combinações de empregadores nem suas práticas monopolistas.

- Eles se opunha a qualquer ajuda aos pobres, e muitos de seus argumentos se baseavam na ideia de Malthus, como veremos.

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- O que estava em jogo no começo do século XIX era que os proprietários de terra

queriam que a Grã-Bretanha continuasse com uma economia

predominantemente agrícola, a fim de perpetuar sua posição, sua renda e seu poder. Os capitalistas industriais queriam que a Grã-Bretanha se especializasse na indústria, a fim de aumentar sua renda e seu poder, além de diminuir a parcela de mais-valia que ia para os proprietários de terras.

- O que estava ocorrendo era a última batalha entre o último vestígio da classe dominante feudal, representada pelos proprietários de terra e a nobreza, e os capitalistas industriais que tinham controle sobre o trabalho e o processo de produção.

- A mais-valia gerada pelos trabalhadores era dividida entre capitalistas e proprietários de terras, cada uma dessas classes lutando para tornar-se a facção dominante da classe dirigente do capitalismo.

- Em 1815, os proprietários de terra obtiveram uma vitória ao aprovar a Lei dos Cereais que proibia todas as importações de cereais até o preço interno ter atingido um preço relativamente elevado.

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- Os capitalistas industriais tinham o domínio econômico, mas os proprietários de terras ainda controlavam o Parlamento. Essa situação não podia, porém, ser mantida indefinidamente.

- A classe econômica dominante sempre acaba estendendo seu domínio econômico ao domínio político.

- A luta continuou e, por fim, em 1846, o Parlamento votou favoravelmente à abolição total das Leis dos Cereais. Esse fato assinalou o domínio político final dos capitalistas industriais.

A Teoria da População

- Final de 1790 e início de 1800, a principal preocupação de Malthus era com a inquietação dos trabalhadores e com esquemas que estavam sendo defendidos por intelectuais radicais, com relação à reestruturação da sociedade, a fim de promover o bem-estar e a felicidade dos trabalhadores.

- Estes esquemas só poderiam tentar promover a causa dos trabalhadores em detrimento da riqueza e do poder das duas classes de proprietários – os capitalistas e os proprietários de terras.

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- Malthus era defensor declarado dos ricos, e sua teoria da população serviu de arcabouço para defende-los.

- Em 1798, escreveu o Ensaio sobre o Princípio da População.

- 1803 – Sengo Ensaio sobre o Princípio da População mais tarde publicou “A Summary View of the Principle of Population”.

- De 1814 em diante a preocupação de Malthus passou a ser com relação às Leis dos Cereais e à luta entre os proprietários de terra e os capitalistas. Nesse período, ele sempre defendeu os interesses da classe dos proprietários de terras.

- Os fundamentos dessa defesa estão contidos na publicação de 1820 em “Principles of Political Economy Considered with a View to Their Pratical Application” Nesses princípios a base teórica mais importante de sua defesa dos proprietários de terras era sua teoria de “superprodução” ou das depressões econômicas.

- Um tema sempre presente na teoria da população de Malthus era que a pobreza e o sofrimento abjeto eram o destino inevitável da maioria das pessoas, em toda sociedade.

- Além disso, as tentativas de minorar a pobreza e o sofrimento, por mais bem intencionadas que pudessem ser, tornariam a situação pior, não melhor.

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- Matlhus argumentava que devia-se reprovar remédios específico para o sofrimento humano e reprovar os homens bem intencionados, mas muito enganados, que pensam que estão prestando um serviço à humanidade, “ projetando esquemas para eliminação total dos erros particulares”.

- Malthus acreditava que quase todas as pessoas eram impelidas por um desejo quase que insaciável de prazer sexual e que, por isso, as taxas de reprodução, quando incontidas, levariam a aumentos em progressão geométrica da população, especificamente, a população duplicaria a cada 20 anos. Os seres humanos não seriam diferentes de outros animais.

- A questão central que ele procurou responder prendia-se às forças que, provavelmente, atuariam no futuro.

- A resposta mais imediata e óbvia era que a população de qualquer território era limitada pela quantidade de alimentos. Embora Malthus estivesse consciente de que com mais trabalho e melhores métodos de produção de alimentos, os seres humanos poderiam aumentar o nível de produção de alimentos, afirmava que era quase certo que os aumentos conseguidos em cada geração seriam cada vez menores, em determinado território.

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- Na melhor das hipóteses, achava que a produção de alimentos poderia aumentar em progressão aritmética, quer dizer, cada geração só poderia aumentar a produção em quantidade mais ou menos equivalente ao aumento conseguido pela geração anterior. - Então, se não houvesse qualquer outro controle, a fome acabaria limitando o

crescimento populacional à taxa máxima segundo a qual pudesse ser aumentada a produção de alimentos.

- Havia, porém, muitos outros controles, os preventivos e os positivos. Os preventivos reduziam a taxa de natalidade, incluíam a esterilidade, a abstinência sexual e o controle de nascimentos. Os controles positivos aumentavam a taxa de mortalidade, incluíam a miséria, as pragas, a guerra e o controle final e inevitável pela fome.

- A população era controlada por uma combinação desses controles para ficar dentro desses limites da oferta disponível de alimentos. Se os controles preventivos fossem inadequados, os controles positivos seriam inevitáveis e, se houvesse uma insuficiência de doenças, guerras e catástrofes naturais, a morte pela fome sempre controlaria o crescimento da população.

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- Malthus também tinha um segundo esquema de classificação.: os controles positivos e preventivos, que reprimem o poder superior da população e mantêm seus efeitos compatíveis com o nível de subsistência, se resumem em restrição moral, em vício e miséria.

- Segundo esse esquema de classificação, Malthus pôde argumentar que, se a riqueza e a renda de qualquer membro da sociedade aumentasse, a grande maioria reagiria, tendo tanto mais filhos que logo voltaria ao nível simples de subsistência, só o homem moralmente virtuoso poderia escapar a esse destino.

- A contenção moral era definida como evitar o casamento e não substituir por satisfações irregulares.

- É, entretanto, óbvio, em toda obra de Malthus, que ele acreditava que essa contenção moral só poderia ser encontrada em pessoas que tivessem todas as outras virtudes que ele apreciava.

- Também é óbvio que Malthus achava que a falta de contenção sexual seria uma característica dos que esbanjaram todo o dinheiro que recebessem acima de seu nível de subsistência em bebida, jogo e farras.

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- Assim, pela teoria de Malthus, a diferença final entre o rico e o pobre era o alto nível moral daquele e o baixo nível moral desse.

- Achava o controle da natalidade um vício que nem seria mencionado por um bom cristão e, muito menos defendido. Além disso, associava-o exclusivamente a relações sexuais antes do casamento ou fora dele.

- Malthus observou que a falta de cuidado e de frugalidade predomina entre os pobres. E mesmo quando eles têm oportunidade de economizar, raramente o fazem, pelo contrário, tudo que ganham além de suas necessidades do momento é gasto de modo geral nos bares.

- Qualquer cavalheiro cristão teria de concluir que, onde não houvesse contenção moral, a população seria contida pelo vício ou pela miséria. Portanto, um bom cristão teria de renegar, vigorosamente, o vício e aceitar, de forma realista, a miséria inevitável, necessária para manter a população não apenas nos níveis de subsistência.

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- Malthus rejeitava, portanto, todos os esquemas que redistribuíssem renda ou riqueza. Essas redistribuições, simplesmente, aumentariam o número de trabalhadores pobres e fariam com que eles voltassem ao nível de subsistência.

- Malthus também se opunha a quase todas as tentativas de aprovação de leis que diminuíssem o sofrimento dos pobres. Essas leis favoreciam os pobre em detrimento da classe mais produtiva que era a dos proprietários das terras.

- Essas afirmações de Malthus aliada a ideia de que as leis inevitáveis da natureza decretam que todas as sociedades sejam divididas em uma classe de proprietários e em uma classe de trabalhadores.

- Malthus achava que o sistema de propriedade privada e a desigualdade de classes por ele criado eram responsáveis por todas as grandes realizações culturais da humanidade.

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Economia de Troca e Conflito de Classes

- Durante e após a segunda década do século XIX, a preocupação de Malthus deslocou-se do conflito de classes entre os proprietários e trabalhadores para o conflito de classes entre os proprietários de terras e os capitalistas.

- Quase todos os seus escritos teóricos dessa época foram incorporados em seus Princípios da Economia Política.

- Para Malthus havia apenas dois estados na sociedade: o civilizado e o não civilizado.

- Malthus, embora estivesse consciente dos conflitos de classes que caracterizavam a sociedade britânica, adotou o ponto de vista da troca ou da oferta e demanda.

- A razão pela qual o ponto de vista da troca (esfera da circulação) em geral defende uma visão de harmonia social é que, por esse ponto de vista, aceitam-se como coisa natural as leis da propriedade vigentes e a distribuição dos direitos de propriedade.

- Pelo ponto de vista da produção (ou teoria do valor-trabalho), pelo contrário, consideram-se esconsideram-ses elementos da economia explicáveis pela teoria, vários como a manifestação legal das divisões de classe.

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- Quando se aceitam como coisa natural as leis da propriedade e sua distribuição, toda troca pode ser vista como mutuamente benéfica para ambas as partes envolvidas.

- O trabalhador que nada tem a vender, a não ser sua força de trabalho, ficará em melhor situação, se puder encontrar um comprador – independente de quão baixo seja o salário – do que se morrer de fome.

- Portanto, toda troca é benéfica para o capitalista e para o trabalhador, particularmente se for aceita a inevitabilidade de uma classe de proprietários e de uma classe trabalhadora.

“Toda troca ocorrida num país gera uma distribuição de sua produção mais adaptada aos desejos da sociedade. É, para ambas as partes interessadas, uma troca daquilo que se quer menos por aquilo que se quer mais e, portanto, tem que aumentar o valor de ambos os produtos”.

- Esse é o fundamento das teorias que ressaltam a harmonia social. Malthus , com isso tentou mostrar que os conflitos de classes aparentes em sua sociedade são passíveis de uma solução harmoniosa.

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- Como Smith, Malthus achava que a quantidade de trabalho contida em um produto era a melhor medida do valor. Também aceitava a teoria do valor baseada no custo de produção.

- Sua discussão de teoria do valor diferia, porém da de Smith. Primeiro, diversamente de Smith, que via o trabalho como o único custo social de produção absolutamente necessário, Malthus argumentava que os salários, os aluguéis e os lucros eram todos igualmente necessários. Segundo, não achava que as forças de mercado da oferta e demanda deslocariam obrigatoriamente preço do mercado em direção ao preço natural.

- Do ponto de vista da troca, para Malthus, a propriedade era considerada natural e inevitável. A produção era vista como uma troca de insumos produtivos. Cada classe tinha um insumo diferente, mas igualmente necessário.

- Malthus gostava de referir-se a uma loteria, em que a alguns cabia, por acaso, a propriedade de seu próprio trabalho, ao passo que a outros cabia a propriedade do capital e da terra.

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- O princípio fundamental da propriedade era o mesmo para as três classes. Dizia ele: “não se pode deduzir que o trabalhador ou lavrador que, na loteria da vida humana, não tenha triado um prêmio pela terra, seja alvo de qualquer injustiça, por ser a dar algo em troca do uso de algo que pertence a outro”.

- Não correto par Malthus identificar, como fez Adam Smith, os lucros de capital como uma dedução do produto do trabalho.

- Como a produção não poderia ocorrer sem recursos naturais, os produtos do trabalho passado e do trabalho presente, e como os donos de cada um desses fatores simplesmente tinham conseguido seu tipo de propriedade “na loteria da vida humana”, cada classe tinha o mesmo direito a uma remuneração que representasse sua contribuição para o processo de produção.

- Desse ponto de vista da troca, que mais tarde viria a dominar a economia neoclássica, a contribuição distintamente humana para a produção era ter propriedade – não uma atividade produtiva, mas um relação legal. Além disso, só possuir a própria força de trabalho não era, em princípio, diferente de possuir os meios de produção.

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- A justificativa de Malthus dos lucros como um retorno sobre a contribuição produtiva dos capitalistas era que os operários podia produzir mais quando tinham instrumentos e máquinas do que quando não tinham. Isso aumentava a produtividade e ocorria porque os capitalistas permitiam que seus instrumentos e suas máquinas fossem usados. Portanto, Smith estava errado de qu os instrumentos e as máquinas erma, simplesmente, a representação, no presente, de trabalho passado.

- Malthus preocupou-se em refutar a noção de que o aluguel era o retorno de um monopólio ou uma forma de renda auferida sem ter trabalho.

- Malthus elaborou uma teoria da renda muito parecida com uma teoria que estava sendo, ao mesmo tempo, elaborada por David Ricardo e que depois passou a ser associada a Ricardo.

- Malthus insistia que a renda era o resultado natural de uma qualidade inteiramente inestimável do solo que Deus concedeu ao homem – a qualidade de poder manter mais pessoas do que as que são necessárias para nele trabalhar.

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- Quando a população de um país era pequena, sua necessidade de alimentos podia se satisfeita apenas pelo cultivo das terras mais férteis. Contudo, com a acumulação de capital e o crescimento da população, seria preciso cultivar terras cada vez menos férteis.

- Com terras inferiores, o lucro e os custos dos salários para a produção de determinada quantidade de produtos agrícolas aumentariam.

- Portanto, para tornar lucrativa a agricultura nas terras inferiores, os preços agrícolas teriam de subir o suficiente para cobrir esses custos elevados.

- No entanto, os custos de produção de uma dada quantidade de produtos agrícolas na terra mais fértil continuariam mais baixos. Seguia-se que o aumento dos preços dos produtos agrícolas daria uma maior excedente de preço sobre os custos de produção para os produtos cultivados em terra mais fértil.

- Esse excedente, criado pelas diferenças de fertilidade da terra, é que era a base da renda.

- Assim, a renda não era o retorno de uma limitação artificial da oferta; era devida às diferenças das dádivas da natureza ao Homem. Ele não questionava direitos de propriedade, mas achava bastante correto considerar um dom da natureza as contribuições pessoais que os proprietários de terra davam a produção.

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- Malthus concluiu que os lucros elevados, a prosperidade econômica e o crescimento populacional eram, de modo geral, as forças que levavam a maior produção agrícola. - Essa teria, obrigatoriamente, de exigir o cultivo de terras cada vez menos férteis, aumentando, com isso, as rendas. Portanto, as rendas elevada eram tanto uma consequência, quanto o melhor indicador de prosperidade econômica e social geral.

A Teoria da Superprodução

- O segundo reparo de Malthus à teoria de preços de Smith foi quanto à insistência desse em que as forças de oferta e demanda do mercado não fazem, automaticamente, com que o preço de mercado se iguale ao seu preço natural.

- Segundo Malthus, o valor da mercadoria no lugar em que é estimado é o preço de mercado e não seu preço natural. Quando os preços de mercado diferiam dos preços naturais, aqueles eram determinados pelas relações extraordinárias ou acidentais da oferta e demanda, as quais Malthus deu sua contribuição mais importante à teoria econômica, sua teoria de superprodução ou das depressões.

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- Malthus sabia que, para que o valor natural de todas as mercadorias produzidas fosse realizado por meio da troca monetária, teria de haver uma demanda monetária efetiva total dessas mercadorias, igual, em valor, ao valor natural das mercadorias,

- Como os custos que compunham o valor natural de todas as mercadorias também apresentavam as rendas das três classes da sociedade, seguia-se que em qualquer período, os custos totais que formavam o valor natural agregado de todas as mercadorias produzidas teriam de ser iguais à renda agregada pelas três classes, ao mesmo período. - Portanto, a condição necessária para demanda efetiva ser igual ao valor de todas as

mercadorias produzidas era que as três classes em conjunto estivessem dispostas a gastar, e pudessem gastar toda a sua renda coletiva nas mercadorias produzidas em cada período.

- Existindo duas maneiras em que poderiam gastar: em mercadorias para o consumo e comprar mercadorias que seriam acumuladas como capital.

- Os economistas clássicos (e quase todos economistas, até hoje) definiam poupança como a renda que sobra após a dedução dos gastos para o consumo.

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- Segue-se, então, que, para toda renda ser gasta, os gastos com mercadorias a serem acumuladas como capital teriam de ser iguais a renda poupada.

- Os economistas modernos definem como investimento a compra de mercadorias produzidas no período, com o objetivo de acumulação de capital. Por isso, a condição necessária para a oferta agregada ser igual à demanda é que o investimento seja igual à poupança.

- Adam Smith tinha consciência dessa condição necessária para circulação, mas supunha que ninguém pouparia, a não ser que se quisesse guardar para o futuro. - Por isso, Smith e quase todos os outros economistas clássicos argumentavam que

o capitalismo nunca passaria pela dificuldade de uma demanda agregada insuficiente por todas as mercadorias produzidas e destinadas à venda.

- Entretanto, o sistema capitalista teve e continua tendo esses problemas.

- Desde o início, sempre que se dependeu das forças de oferta e demanda do mercado para regular a produção das mercadorias e a alocação de recursos, isso resultou em crises econômicas que se repetem ou em depressões.

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- Nas depressões, os empresários sempre encontram problemas para achar compradores para suas mercadorias, a capacidade de produção fica ociosa, o desemprego é muito pior do que o habitual e o aumento da pobreza é inevitável.

- 1818 – Depressão na Inglaterra – queda de preços agrícolas.

- Malthus nos Princípios propunha políticas para minorar a crise. Buscava entender a superprodução.

- Para Malthus, parecia óbvio que a causa de uma superprodução geral de mercado era a insuficiência periódica de demanda efetiva.

- Para entender a fonte e o remédio dessa falha de demanda, ele analisou o padrão de gastos de cada uma das classes. Os trabalhadores gastavam toda sua renda em subsistência.

- Os capitalistas eram levados pela paixão a acumular capital e não tinham tempo ou inclinação para gastar grande parte de seus lucros em consumo ou em serviços pessoais.

- Os proprietários de terras, porém, eram cavalheiros do ócio. Como tinham a garantia de uma renda continua de suas terras, gastavam toda ela em ambientes confortáveis, com criados, e promovendo a arte, as universidades e outras instituições culturais.

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- Os proprietários de terra gastavam sempre toda sua renda em bens de consumo ou em serviços pessoais e, nesse processo, promoviam “todas as manifestações mais nobres do gênero humano, todas as emoções mais finas e dedicadas da alma”.

- Cada uma das três classes procurava gastar toda a sua renda, mas os capitalistas procuravam gastar todos os seus lucros na compra de novo capital.

- Malthus achava que o problema era que, com o progresso do capitalismo, havia uma tendência para os capitalistas receberem muita renda. Eles não podiam investir em capital, com lucro, todo o dinheiro que poupavam. “Quase todos os mercadores e industriais poupam nas épocas de prosperidade, muito mais depressa do que seria possível aumentar o capital nacional para acompanhar o valor do produto”.

- A pergunta para Malthus era por que os capitalistas não podiam - conforme sugeriria Smith – empregar sempre mais operários e auferir mais lucros, à medida que fosse aumentando seu capital no ritmo que pudessem.

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- Malthus deu duas respostas a essa pergunta: ou o novo capital incorporaria a mesma tecnologia que o antigo ou incorporaria inovações técnicas que tornariam os operários mais produtivos. Em ambos os casos, ele achava que surgiriam problemas.

- Em uma época de prosperidade, se os lucros fossem investidos em novo capital que incorporasse a mesma tecnologia que o capital antigo, qualquer quantidade de capital novo empregaria o mesmo número de operários que a mesma quantidade de capital antigo..

- Isso exigiria que a mão-de-obra aumentasse no mesmo ritmo que o capital. O problema era que com o advento da prosperidade, o capital começaria a crescer imediatamente.

- Malthus, porém, insistia que era “óbvio...que, pela própria natureza da população e pelo tempo necessário para trabalhadores adultos entrarem no mercado, um súbito aumento de capital e de produto não poderia conseguir uma oferta proporcional de trabalho em menos de 16 ou 18 anos”; - Por isso, quando esse novo capital ultrapassava a oferta de trabalho, duas coisas podiam

acontecer. Primeira, algum capital não encontraria trabalho para empregar e, por isso, ficaria ocioso. Segunda, haveria uma escassez de trabalho,

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- Em ambos os casos, os capitalistas prefeririam guardar sua renda sob forma de moeda improdutiva a continuar reduzindo os lucros sobre o capital já empregado com a acumulação de mais capital. Assim, os capitalistas deixariam de gastar toda a sua renda, e haveria insuficiência de demanda efetiva.

- Esses desequilíbrios da circulação de moeda e das mercadorias realmente ocorrem e Malthus deu uma importante contribuição para se entender a economia, ao analisar seus efeitos. A análise, entretanto, parece contradizer sua teoria da população, embora seja verdade que, se a taxa de acumulação de capital “aumentasse subitamente”, a quantidade de trabalhadores adultos não poderia aumentar de repente.

- O que não está claro – dentro de sua teoria da população – é por que sempre iria haver um aumento repentino de capital que exigisse um súbito aumento da população. Independente da taxa de lucro e da consequente taxa de acumulação, uma vez que elas fossem historicamente estabelecidas, seria de se esperar que a taxa de crescimento da população se ajustasse à taxa de acumulação.

- Assim, se o capital fosse acumulado a uma taxa anual de 10%, o crescimento de 10% da população, em um ano, ofereceria os trabalhadores necessários para os 10% de crescimento do capital que ocorreria em 16 anos.

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- De forma análoga, se aquela taxa se mantivesse durante um certo tempo, o aumento da população ocorrido há 16 anos teria sido suficiente para satisfazer a demanda atual por trabalho. A dificuldade não está na teoria da superprodução de Malthus, mas em sua teoria da população. - O segundo tipo de acumulação possível envolvia mudanças tecnológicas que aumentassem a

produtividade do trabalho. Esse novo capital poupador de mão-de-obra atuaria como substituto do trabalho. Mais capital e menos obra para se obter mais produto. Mas menos mão-de-obra diminuiria a demanda. Portanto,

“se a substituição do trabalho por capital fixo fosse feita muito mais depressa do que o tempo necessário para se encontrar um mercado suficiente para a oferta mais abundante, propiciada por esse capital fixo, e para os novos produtos dos trabalhadores que tivessem perdido o emprego, haveria, em toda parte, uma queda das demanda por trabalho e aflições de classes operárias da sociedade”.

- Com isso, em ambos os casos, a causa final da superprodução devia-se aos lucros excessivos, que levavam a uma taxa insustentável de acumulação de capital.

- Á única resposta para esse problema, na opinião de Malthus, era adotar políticas que alterassem a distribuição de renda, deixando os capitalistas com menos lucros e alguma outra classe com mas renda para ser gasta em consumo.

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- A relação entre a teoria da superprodução de Malthus e a controvérsia que cercava a leis dos cereais torna-se, agora, evidente:

“Deve haver, portanto, uma classe considerável de pessoas que têm vontade e o poder de consumir mais bens materiais do que produzem, ou as classes mercantis não poderiam continuar produzindo um lucro além do que seria consumido. Neste caso, não há dúvida que os proprietários de terras têm uma posição de destaque”.

- Os proprietários de terra não consumiriam todo o excesso de produção. Malthus achava que eles consumiriam muitos criados e outros trabalhadores improdutivos ou prestadores de “serviços pessoais”, que gastariam suas rendas comprando as mercadorias produzidas no setor industrial.

- Assim, a solução apontada por Malthus implicava a criação de um exército de trabalhadores improdutivos como criados dos proprietários de terras. Eles consumiriam riqueza material sem produzi-la e, com isso, eliminaram o problema da insuficiência da demanda agregada.

- A única maneira de garantir a demanda efetiva suficiente era por meio de algum mecanismo de redistribuição, como as Leis de Cerais, que permitisse aos proprietários de terras receberem mais renda e, com isso – por meio de seus próprios gastos e dos gastos de seus criados – contribuírem mais para a demanda agregada sem contribuir para aumentar mais ainda a produção. Uma vez mais o bem estar econômico de toda sociedade dependia da promoção dos interesses dos proprietários de terras.

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- Última pergunta, como é que Malthus combatia uma redistribuição que aumentasse os salários a fim de aumentar a demanda agregada? Lendo o seu ensaio sobre o |Princípio da População, não se pode supor que ele teria argumentado que isso não traria benefício social algum, pois os aumentos da quantidade de trabalhadores, simplesmente, fariam com que eles voltassem ao nível de subsistência. Contudo, como vimos, sem sua teoria da superprodução, Malthus abandonou sua teoria de população, pelo menos no curto prazo.

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