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Acidente de trajeto e a reforma trabalhista sob a ótica previdenciária

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ACIDENTE DE TRAJETO E A REFORMA TRABALHISTA SOB A OTICA PREVIDENCIÁRIA1

Juliana Martini Cembranel2

Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi³ Resumo

O acidente de trajeto é aquele infortúnio que ocorre no percurso residência-trabalho-residência, podendo ser a pé, carro, ônibus ou qualquer outro meio de locomoção. Com a reforma trabalhista e a exclusão da hora in itinere, houve uma interpretação diferente. No entanto ótica previdenciária continua a de que o acidente de percurso é equiparado ao acidente de trabalho, gerando os mesmos benefícios previdenciários e trabalhistas. Diante desta situação faz-se uma análise do tema nas situações em que se presentam no cotidiano das relações de emprego.

Palavras–chave: acidente de trabalho. Acidente de percurso. Reforma trabalhista. Benefício previdenciário.

Abstract

The road accident is that misfortune which occurs on the residence-work-residence route, it can be on foot, by car, by bus or any other mean of locomotion. Due to the labor reform and the exclusion of the hour in itinere, there was a different interpretation. However the social security view continues being that a road accident is equivalent to a work accident, generating the same social security and labor benefits. In light of this circumstance an analysis is made, referred to the situations presented in daily work relations.

Key-words: Work accident. Road accident. Labor reform. Social Security benefit. 1 Introdução

O presente trabalho descreve o acidente de trajeto e a sua interpretação após a reforma trabalhista, promovida Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017 associado a um olhar previdenciário. A interpretação do acidente de percurso como acidente de trabalho gerará consequências diversas do acidente de qualquer natureza, por isso a importância de diferenciar o tipo de acidente e compreender qual a influência da reforma trabalhista neste ponto.

1 Trabalho de conclusão de Curso de Especialização em Dir. do Trabalho, Processo do Trabalho e Previdenciário

2 Acadêmica do Curso de Especialização em Dir. do Trabalho, Processo do Trabalho e Previdenciário

juliana.martini@unijui.edu.br

³Professora Orientadora Mestre em Direito pela Universidade de Caxias do Sul - UCS. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, pelo Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina / CESUSC. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de Passo Fundo - UPF. Advogada. Docente de Ensino Superior com experiência na área de Direito: Direito do Trabalho e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário. Atualmente é docente do Curso de Direito na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, nos campus de Ijuí, Santa Rosa e Três Passos e na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI- Campus de Santo Ângelo, RS. E-mail: nelcimeneguzzi@hotmail.com

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O tema escolhido foi motivado por ser um assunto que gera dúvidas no dia a dia dos profissionais que atuam no setor de Recursos Humanos. Também por abranger o Direito do Trabalho e Direito Previdenciário que são objeto do curso de especialização.

Os benefícios trabalhistas e previdenciários devidos após acidentes muitas vezes são ignorados pelas pessoas, sendo de suma importância compreendê-los e diferenciá-los, para poder melhor orientar o acidentado no sentido de quais os encaminhamentos necessários, bem como os direcionamentos da empresa no caso de acidentes, para que esta não incorra em penalidades trabalhistas.

Este artigo inicia com a definição de acidente de trajeto, passando pelo esclarecimento acerca das horas in itinere e a interpretação com a reforma trabalhista. Também descreve os encaminhamentos devidos pelo trabalhador e pela empresa após acidente, a responsabilidade da empresa, os benefícios previdenciários acidentários e por último a ação regressiva do INSS.

2 O ACIDENTE DE TRAJETO

Acidente de trajeto ou de percurso, no geral, é o acidente que ocorre no deslocamento da residência para o trabalho ou do trabalho para a residência do empregado. Ou seja, é o acidente que ocorre quando o trabalhador faz seu percurso usual de casa para o trabalho ou do trabalho para casa com qualquer meio de transporte: a pé, carro, motocicleta, bicicleta, ônibus... sejam os meios de transporte fornecidos ou não pelo empregador. Este acidente pode ser de trânsito ou, por exemplo, em decorrência de um assalto quando o trabalhador está a caminho da empresa ou no retorno a residência.

De acordo com Monteiro e Bertagni (2016, p. 49 - 50)

A Lei n. 8213/91, no art. 21, enumera algumas situações que também caracterizam acidente do trabalho. São os chamados acidentes do trabalho por equiparação, porque se relacionam apenas indiretamente com a atividade. [...]

Das demais hipóteses previstas no art. 21 merece especial atenção o chamado acidente in itinere, ou de trajeto. Este verifica-se no percurso da residência para o local de trabalho, ou deste para aquela. Pouco importa o meio de locomoção, inclusive veículo do próprio segurado, desde que seja meio seguro e usual.

Segundo Martins (2015) parar no supermercado, padaria, farmácia para pequenas compras na ida ou retorno ao trabalho ainda pode ocorrer o acidente de trajeto. Para não ter relação com o trabalho essas pequenas interrupções no percurso devem descaracterizar que a pessoa fez o caminho residência trabalho ou trabalho residência.

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O acidente de percurso foi equiparado ao acidente de trabalho de forma consolidada na legislação trabalhista e previdenciária, porém voltou-se a discussão após a reforma trabalhista com a exclusão da hora in itinire e a interpretação do tempo a disposição do empregador.

EMENTA ACIDENTE DE TRAJETO. ESTABILIDADE ACIDENTÁRIA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. Evidenciado que o reclamante sofreu acidente de trajeto, que é aquele ocorrido no percurso casa-trabalho e trabalho-casa, equiparável ao de trabalho apenas para fins previdenciários, estando preenchidos os requisitos do artigo 118 da Lei nº 8.213/91, faz jus à estabilidade provisória ali prevista. No entanto, não se aplica o nexo causal indireto para fins de responsabilidade civil, razão pela qual, não evidenciada a sua culpa no infortúnio, a reclamada não tem o dever de indenizar os danos morais daí resultantes. Recurso parcialmente provido. (TRT da 4ª Região, 1ª Turma, 0020986-14.2017.5.04.0334 RO, em 18/10/2018, Desembargadora Rosane Serafini Casa Nova)

A Lei n. 13.467/2017 excluiu o parágrafo 3º do artigo 58 da CLT que previa como tempo a disposição do empregador o período despendido para a locomoção do trabalhador até o local do trabalho e vice-versa, quando o local para a realização do trabalho era considerado de difícil acesso ou não servido por transporte público, tendo o empregador fornecido o transporte, este tempo era remunerado como hora in itinere. O entendimento era de que se ocorresse durante este percurso um acidente, este também seria acidente de trabalho para efeitos trabalhistas e previdenciários.

Com a alteração na CLT muitos entendem que não se equipara mais acidente de trajeto a acidente de trabalho. Este entendimento é equivocado pois a lei previdenciária não distingue o acidente ocorrido no percurso residência-trabalho-residência com ou sem transporte fornecido pela empresa, se o empregado recebia ou não hora in itinere. Simplesmente a Lei 8.213/91 equipara o acidente de trajeto ao acidente de trabalho. E ainda, por mais que na CLT foi excluída as horas in itinere, a Súmula 90 do TST não foi revogada, prevendo estas horas como tempo de serviço.

Para Cassar e Borges (2017, p. 28) as Súmulas 90, 320 e 429 do TST deverão ser revogadas, atendendo o que diz a reforma trabalhista, descrevem os autores

O tempo gasto pelo empregado com o percurso casa-trabalho e trabalho-casa foi considerado como tempo a disposição e, assim, como tempo de serviço. Portanto, foi alterada a redação do § 2º do art. 58 da CLT para adotar a posição oposta da anterior e, com isso, devem ser canceladas as Súmulas 90 e 320 do TST. Além disso, o § 2º do art. 58 da CLT excluiu da jornada de trabalho o tempo despendido pelo empregado desde a sua residência até a “efetiva ocupação do posto de trabalho”. Logo, o tempo gasto pelo trabalhador do portão da empresa até o local de trabalho não será mais contado “revogando” o entendimento da Súmula 429 do TST.

Para que o acidente de trajeto seja equiparado ao acidente de trabalho independe do tipo de locomoção, ou tipo de acidente porque, mesmo este tempo não sendo horário de

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trabalho, a vinculação ao acidente de trabalho está pelo fato da pessoa fazer o caminho da residência para o trabalho e do trabalho para a residência, no início e no fim do expediente ou no seu intervalo.

Martins (2015, p. 434-435) é mais abrangente ainda e cita outros exemplos de acidente de trajeto

Não se exige que o trabalhador preste direta e imediatamente o serviço na ida e volta ao trabalho. A exigência decorre da existência de contrato de trabalho. Se, embora suspenso o contrato de trabalho, o empregado comparece ao empregador para cuidar de assuntos atinentes ao pacto laboral, como entrega de documentos exigidos pelo empregador, considera-se acidente de trajeto se a empregada vai até sua residência buscar esses documentos exigidos pela empresa. [...] Há também acidente de trabalho quando o empregado volta do evento esportivo para sua residência, tendo participado de jogo pelo empregador (JTACSP 110/395), que se considera como acidente de trajeto.

A importância da equiparação do acidente de trajeto ao acidente de trabalho ocorre quanto aos direitos trabalhistas e previdenciários ao trabalhador. O acidentado do trabalho, se afastando do emprego por mais de quinze dias, terá direito ao auxílio-doença acidentário pelo INSS, que é mais vantajoso que o auxílio doença comum. E enquanto estiver afastado do trabalho ainda terá seu FGTS (Fundo de Garantia e Tempo de Serviço) recolhido pelo empregador e por fim terá a garantia do emprego de um ano quando retornar ao trabalho.

Também é importante a distinção dos dois benefícios, pois quando o acidente de trajeto é equiparado ao do trabalho deverá ser registrada a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho).

No site do INSS encontramos a descrição do que é CAT e os casos em que ela deve ser emitida. Descreve o site:

A Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) é um documento emitido para reconhecer tanto um acidente de trabalho ou de trajeto bem como uma doença ocupacional.

Acidente de trabalho ou de trajeto: é o acidente ocorrido no exercício da atividade profissional a serviço da empresa ou no deslocamento residência / trabalho / residência, e que provoque lesão corporal ou perturbação funcional que cause a perda ou redução – permanente ou temporária – da capacidade para o trabalho ou, em último caso, a morte; (INSS, 2018).

O INSS, portanto, também equipara o acidente de trajeto ao acidente de trabalho e impõe o registro da CAT nos dois casos.

A emissão da CAT deverá ser feita pela empresa, de forma on-line através do site do INSS até o dia útil seguinte ao acidente e no caso de morte de imediato. A não emissão da CAT pela empresa importa em multa que varia do limite mínimo ao limite máximo do salário contribuição, previsto no artigo 22 da Lei n. 8.213/91.

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Com a entrada em vigor do eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas) a fiscalização quanto aos acidentes de trabalho será maior, pois o envio posterior de informações gerará autuações pelo órgão fiscalizatório responsável.

3 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS ACIDENTÁRIOS

Os benefícios previdenciários em decorrência de acidentes são: auxílio-doença, auxílio-doença acidentário, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez, reabilitação profissional e pensão por morte. Por se tratarem de benefícios em decorrência de acidentes não há carência, ou seja, número mínimo de contribuições previdenciárias para os segurados.

3.1 Auxílio-doença e auxílio-doença acidentário

O auxílio-doença e o auxílio-doença acidentário será devido ao segurado após o décimo sexto dia do afastamento, os quinze primeiros dias serão pagos pela empresa com a apresentação do atestado médico. O incapacitado ao trabalho deverá fazer perícia médica para a comprovação da incapacidade e passará a receber o benefício previdenciário com data determinada pela perícia para cessação da incapacidade, o benefício pode ser prorrogado ou terminar antecipadamente com a alta médica ou morte do segurado.

O valor do benefício como regra geral equivalerá a oitenta por cento da média dos meses de maior contribuição a partir de 29 de novembro de 1999 (data da publicação da Lei 9.876/99), este valor será o salário benefício. A partir deste cálculo se aplica o parágrafo 10 do artigo 29 da Lei 8.213/91, que foi acrescido pela Lei 13.135/2015 que prevê que o auxílio-doença não poderá ser maior que a média dos doze últimos salários contribuição, não havendo doze a média simples dos últimos salários contribuição. Por fim se aplica o percentual de noventa e um por cento do salário benefício conforme artigo 61 da Lei 8.213/91.

3.2 Auxílio-acidente

Conforme artigo 86 e parágrafos da Lei 8.213/91 o auxílio-acidente é um benefício indenizatório concedido após acidentes de qualquer natureza que deixam sequelas que reduzem a capacidade do beneficiário ao trabalho que exercia, comprovadas através de perícia médica do INSS. Por ser de natureza indenizatória ele é devido após a cessação do auxílio-doença ou auxílio-auxílio-doença acidentário, ou seja, após o retorno ao trabalho.

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O valor do benefício do auxílio acidente será de cinquenta por cento do salário de benefício.

O auxílio-acidente será cessado com o fim da sequela que o gerou, com a aposentadoria ou morte do segurado.

3.3 Aposentadoria por invalidez

A aposentadoria por invalidez será devida com a incapacidade insusceptível a reabilitação para o exercício do trabalho. O benefício é previsto nos artigos 42 ao 47 da Lei 8.213/91. Assim como o auxílio-doença acidentário será concedido após quinze dias de afastamento do trabalho, os quinze primeiros dias serão pagos pela empresa. Também poderá ser concedida a aposentadoria por invalidez após o auxílio-doença, sempre concedida e prorrogada depois da perícia médica.

O valor da aposentadoria por invalidez será cem por cento o salário de benefício e terá um acréscimo de vinte e cinco por cento se o segurado necessitar da assistência permanente de outra pessoa.

A cessação do benefício ocorre com o retorno voluntário ao trabalho ou com a recuperação da capacidade ao trabalho. Porém se a recuperação da capacidade for parcial ou total para outra atividade ou ocorrer dentro de cinco anos da data de início da aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença que a antecede sem interrupção será devido o benefício integral por seis meses, benefício com redução de cinquenta por cento nos seis meses seguintes e redução de setenta e cinco por cento por mais seis meses.

3.4 Reabilitação Profissional

Reabilitação profissional ou habilitação profissional prevista nos artigos 89 a 93 da Lei 8.213/91, regulamentada pelo Decreto 3.048/99, nos artigos 136 ao 141 é devida aos segurados incapacitados parcial ou totalmente para (re) educação e (re) adaptação ao trabalho. É através de fornecimento de próteses, órteses e demais meios que auxiliem ou atenuem a incapacidade ao trabalho ou reabilitem o segurado a uma nova atividade através de cursos profissionalizantes em entidades conveniadas ou Centro de Reabilitação Profissional do INSS.

A reabilitação profissional é prescrita pelo perito médico do INSS na perícia dos benefícios por incapacidade. A reabilitação ocorre conjuntamente enquanto o segurado recebe

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o auxílio-doença, auxílio-doença acidentário ou aposentadoria por invalidez e é obrigatória, sob pena de suspensão do benefício, conforme artigo 101 da Lei 8.213/91.

EMENTA. PREVIDENCIÁRIO.AUXÍLIO-DOENÇA/APOSENTADORIA POR INVALIDEZ, RECUSA DO SEGURADO EM PARTICIPAR DO PROGRAMA

DE REABILITAÇÃO PROFISSIONAL. ESCORREITO O ATO

ADMINISTRATIVO QUE SUSPENDEU O BENEFÍCIO.

A recusa do segurado em aderir ao programa de reabilitação profissional é motivo legítimo (art. 101 da Lei 8.213/91), oportunizada a ampla defesa, para a suspensão do benefício por incapacidade. (TRF4, Quinta turma, apelação Civil, Processo n. 5007359-78.2016.4.04.999. 23/10/2018)

Na prática a reabilitação é bem mais complicada de ocorrer, pois os CRPs na crítica de Monteiro e Bertagni (2016, p. 88) estão falidos e não atendem o seu fim

A bem da verdade, os CRPs, com honrosas exceções, estão há muito falidos. Uma das finalidades precípuas da reabilitação profissional é a inserção novamente do segurado acidentado no mercado de trabalho, e de preferência na mesma empresa. Mas a realidade é outra. Se há um dispositivo da Lei 8.213/91 descumprido pela quase totalidade das empresas neste país é o art. 93, que as obriga a manter em seus quadros segurados reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência dentro dos percentuais ali previstos. Se falta emprego até para os hígidos, imagine-se para os “doentes” ou meio hígidos...

Nos casos de reabilitação em cursos de profissionalização, é emitido pelo INSS certificado de capacitação e conclusão do curso. É através dessa documentação que a pessoa pode concorrer a vagas de emprego para reabilitados, definidas no artigo 93 da Lei 8.213/91.

3.4 Pensão por morte

A pensão por morte do segurado em decorrência de acidente é benefício previdenciário pago aos dependentes do segurado a partir da data do falecimento ou do requerimento, se requerido após noventa dias da data do óbito. A previsão legal são os artigos 74 ao 79 da Lei 8.213/91.

São considerados dependentes o cônjuge, companheiro (a), filhos ou equiparados menores de 21 anos ou inválidos, ou com deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave, irmãos menores de 21 anos ou inválidos ou com deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave e por último os pais se estes forem dependentes economicamente e ainda o ex-cônjuge ou companheiro (a) que receba pensão alimentícia.

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Não há carência por ser em virtude de acidente e não há o limite de quatro meses se o casamento ou união estável foi menos de dois anos antes da morte do segurado (a) e não segue a tabela por idades do cônjuge ou companheiro (a) dependente.

O valor do benefício será de cem por cento o salário benefício e é dividido em cotas iguais entre os dependentes e perdura a dependência ou morte do último dependente. Assim se por exemplo o cônjuge e o filho do segurado recebem a pensão cinquenta por cento cada um, o filho completa vinte e dois anos, o cônjuge passa a receber cem por cento o valor da pensão até a sua morte.

4 RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR E RESPONSBILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil prevista no Código Civil no artigo 927 que diz: “Aquele que, por ato ilícito (arts.186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002). No âmbito trabalhista este artigo é interpretado conjuntamente com os incisos XXII “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”, XXVIII “seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”, do artigo 7º “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social” (BRASIL, 1988) da Constituição Federal e artigo 157 “Cabe as empresas:”, inciso I “cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;” e II “Instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto ás precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais” (BRASIL, 1943); da CLT.

Isso quer dizer que no caso de acidente de trabalho há responsabilidade civil do empregador, pois há dolo ou culpa, cabendo indenização. Mas, nos casos de acidente de trajeto, não ocorre a mesma responsabilidade, pois não há dolo ou culpa do empregador no percurso residência-trabalho-residência feito pelo empregado. Este entendimento é majoritário a partir da reforma trabalhista que deixa claro que o tempo despendido até o local do trabalho e do local do trabalho para casa não é tempo a disposição do empregador.

Também encontramos este entendimento na jurisprudência do TRT 4ª Região.

EMENTA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, MATERIAL E ESTÉTICO DECORRENTE DE ACIDENTE DE PERCURSO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. Acidente de trajeto que se equipara a acidente de trabalho apenas para efeitos previdenciários. Hipótese dos autos em que a reclamada não concorreu para o acidente ocorrido com o reclamante, restando indevidas as indenizações postuladas. (TRT da 4ª Região, 9ª Turma, 0020876-25.2015.5.04.0030 RO, em 27/02/2018, Desembargadora Lucia Ehrenbrink)

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INSTRUMENTADORA CIRÚRGICA. ATROPELAMENTO AO ATRAVESSAR RUA DIRIGINDO-SE AO LOCAL DE TRABALHO. ACIDENTE DE TRAJETO. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. Salvo se evidenciada culpa ou dolo no infortúnio, o acidente de trajeto não gera o dever de o empregador indenizar os danos do trabalhador ocorridos fora do local de trabalho. (TRT da 4ª Região, 4ª Turma, 0020165-18.2017.5.04.0202 RO, em 21/09/2018, Desembargador George Achutti)

Sendo assim entendemos que não há responsabilidade civil do empregador nos casos de acidente de percurso, portanto não caberá indenização de danos morais, estéticos e materiais neste sentido. A responsabilidade do empregador é no que tange o atendimento do médico do trabalho, emissão da CAT, encaminhamento ao INSS após o décimo quinto dia de atestado e encaminhamento do seguro, quando a empresa fornece.

5 AÇÃO REGRESSIVA

Ação regressiva é a ação do INSS para cobrar os valores que pagou ao beneficiário do auxílio doença acidentário ao empregador responsável pelo acidente de trabalho. A previsão legal é o artigo 120 da Lei 8213/91 “Nos casos de negligência quanto as normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicados para proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis”. (BRASIL, 1991) A ação regressiva é proposta na Justiça Federal.

EMENTA: AÇÃO REGRESSIVA. INSS. ACIDENTE DO TRABALHO. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. PRESCRIÇÃO. ART. 120 DA LEI 8.213/91. CONSTITUCIONALIDADE. SAT. CULPA DO EMPREGADOR DEMONSTRADA. A competência para processar e julgar a ação regressiva ajuizada pelo INSS contra o empregador visando a ressarcimento de gastos com o pagamento de benefício previdenciário em decorrência de acidente do trabalho é da Justiça Federal. A jurisprudência deste Tribunal Regional Federal e do Superior Tribunal de Justiça assentou o entendimento de que, em se tratando de pedido de ressarcimento de valores pagos pelo INSS a título de benefício previdenciário por incapacidade fundado no artigo 120 da Lei 8.213/91, quanto à prescrição, é aplicável, pelo princípio da simetria, o disposto no artigo 1º do Decreto nº 20.910/32 (prescrição quinquenal). A Corte Especial do TRF 4ª Região, em sede de Arguição de Inconstitucionalidade, declarou constitucional o art. 120 da Lei n.º 8.213/91, em face das disposições do art. 7º, XXVIII, art. 154, I, e art. 195, § 4º, todos da Constituição Federal/88. O fato de a empresa contribuir para o Seguro de Acidente do Trabalho - SAT não exclui sua responsabilidade em caso de acidente decorrente por sua culpa. Tendo sido comprovado que a ré agiu culposamente em relação ao acidente, procede o pedido formulado pelo INSS. Consoante prescreve o artigo 120 da Lei nº 8.213/91, "nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis". As provas produzidas no curso do processo lograram evidenciar que a ré empregadora agiu de forma negligente no cumprimento das normas de proteção ao trabalho, bem como que houve nexo de causalidade entre as eventuais irregularidades e o acidente ocorrido com o segurado. (TRF4, AC 5005469-14.2015.4.04.7001, QUARTA TURMA,

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Relatora VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos autos em 13/12/2018)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REGRESSIVA,

RESSARCIMENTO DE VALORES. PREVIDÊNCIA SOCIAL. ÔNUS DA PROVA. CULPA DO EMPREGADOR. PRESUNÇÃO RELATIVA. EFICÁCIA DE PROVA PRÉ CONSTITUÍDA. FATO NEGATIVO. 1. Em se tratando de ação regressiva por acidente do trabalho, cabe ao Instituto Nacional do Seguro Social provar a ocorrência do evento lesivo que vitimou o segurado e o nexo causal entre esse fato e a conduta (omissiva ou comissiva) do empregador, e a este, o cumprimento de todas as normas de segurança, com a diligência necessária para eliminar ou reduzir os riscos do trabalho, pois é quem dispõe dos elementos necessários para corroborar tal defesa. 2. A distribuição do ônus probatório é a regra, não havendo se falar em "inversão de tal ônus" (teoria dinâmica) ou presunção relativa de culpa do empregador. (TRF4, AG 5023922-06.2018.4.04.0000, QUARTA TURMA, Relatora VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos autos em 06/12/2018)

A ação regressiva é clara nos casos de acidente de trabalho típico, já no acidente de trajeto não há a responsabilidade do empregador, não cabendo a ação. Portanto a ação regressiva do INSS contra a empresa não será devida nos casos de acidente de percurso.

CONCLUSÃO

O acidente de trajeto, apesar das atualizações ocorridas na CLT com a Reforma Trabalhista, continua sendo equiparado ao acidente de trabalho, independente da hora in etinere. O trabalhador que, sofrer este infortúnio terá aos direitos trabalhistas assegurados.

Intercorrendo um acidente de percurso, deverá ser emitida a CAT pela empresa logo em seguida ao acidente. O acidentado após quinze dias de atestado deverá ser encaminhado para perícia do INSS para o recebimento do auxílio – doença acidentário, e demais benefícios previdenciários. A empresa, enquanto o empregado está em benefício previdenciário, continua recolhendo o Fundo de Garantia e Tempo de Serviço. Quando retornar ao trabalho este empregado terá a garantia do emprego por um ano.

Por fim não caberá a ação de indenização contra a empresa pois a empresa não tem responsabilidade civil nos acidentes de trajeto e nem a ação regressiva do INSS contra a empresa.

O acidente de trajeto vai além do direito trabalhista, alcançando o direito previdenciário que ainda não sofreu uma reforma. Portanto a melhor interpretação quanto ao acidente de trajeto é da equiparação ao acidente de trabalho típico, sem é claro as indenizações de responsabilidade civil das empresas. Mas a reforma trabalhista ainda é recente podendo ainda ocorrer cancelamentos de súmulas e ou interpretações conforme a

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reforma. Porém a Reforma Previdenciária é Proposta de Emenda Constitucional, PEC 6/2019 e ainda poderemos ter alterações nos cálculos e regras para concessão dos benefícios.

REFERÊNCIAS

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