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Direitos autorais e as licenças públicas no espaço virtual

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

SEAN JARCZEWSKI

DIREITOS AUTORAIS E AS LICENÇAS PÚBLICAS NO ESPAÇO VIRTUAL

SANTA ROSA (RS) 2012

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SEAN JARCZEWSKI

DIREITOS AUTORAIS E AS LICENÇAS PÚBLICAS NO ESPAÇO VIRTUAL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DECJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Fernanda Serrer Scherer

Santa Rosa, RS 2012

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À minha esposa Rafaela Furtado Jarczewski que me incentivou, motivou e não mediu esforços para que esse dia

chegasse. Obrigado por tudo,

principalmente por suportar com paciência

minha ausência nesse período da

graduação. Dedico a você essa conquista, em sinal de gratidão.

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Agradeço primeiramente a Deus por mais essa conquista.

Agradeço, da mesma forma, à professora Fernanda Serrer Scherer que me guiou neste trabalho de forma incansável.

Agradeço ainda aos meus familiares que me apoiaram.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso trata do tema “Direitos autorais e as licenças públicas no espaço virtual” e tem como objeto principal demonstrar a importância da proteção dos direitos autorais no âmbito da internet, na medida em que essa proteção sirva para resguardar o criador da obra e ao mesmo tempo promover a evolução cultural e científica da sociedade. Para tanto realizou-se pesquisa bibliográfica, com base na qual conclui-se que se faz necessária uma atualização na ordenamento jurídico vigente de modo a se mostrar mais atuante e objetivo no que diz respeito as questões pertinentes ao assunto.

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ABSTRACT

This course conclusion work deals with the theme "Copyright and licenses public in virtual space" and has as its main object demonstrate the importance of copyright protection in the internet, in that this protection serves to protect the creator of the work while promoting cultural and scientific evolution of society. For both literature search was conducted, based on which it is concluded that an update is needed on the legal system in force in order to be more active and goal regarding issues pertinent to the subject.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 07

1 A LEI DE DIREITOS AUTORAIS ... 08

1.1 Antecedentes históricos ... 08

1.2 Direito Autoral no Brasil ... 10

1.3 Natureza Jurídica ... 15

1.4 Função econômica-social dos direitos autorais ... 17

2 DIREITOS AUTORAIS NO ÂMBITO VIRTUAL ... 21

2.1 Criação de Novas Tecnologias ... 21

2.2 A Expansão da Internet ... 23

2.3 Relativização dos Direitos Autorais ... 25

2.4 O uso das Obras Alheias no Espaço Virtual ... 27

2.5 Uma Nova Sistemática dos Direitos Autorais: Copyleft, Creative Commons e Licenças Públicas ... 31

CONCLUSÃO ... 36

REFERÊNCIAS ... 38

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso visa demonstrar um tema de conhecimento de toda a geração que usa a internet e que tem sido amplamente discutido no meio jurídico que é o do Direito Autoral no âmbito da internet, mais especificamente no que diz respeito aos contratos de direitos atuais e as licenças públicas no espaço virtual. Trata-se de um direito complexo, com discussões doutrinárias sobre sua natureza jurídica e sua base jurídica se dá na Lei 9.610 de 19 de junho de 1998.

Neste contexto, tem-se o interesse de explorar o referido estudo monográfico em 2 capítulos. O primeiro capítulo faz uma abordagem sobre os antecedentes históricos e o início da normatização sobre os direitos autorais através de um paralelo entre os interesses comerciais e a necessidade da segurança jurídica para os autores. Trata também o referido capítulo, sobre a questão do direito autoral no Brasil e suas evoluções com o passar do ano. Por fim, analisa-se a natureza jurídica dos direitos autorais expondo as visões dos principais doutrinadores e a função econômica-social dos direitos autorais.

O segundo capítulo traz uma visão sobre a criação de novas tecnologias e a relação com os direitos autorais, a expansão da internet, a relativização dos direitos autorais e também a regulamentação dos direitos autorais no espaço virtual.

Em consequência disso, o desenvolvimento do trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica que trata do Direito Autoral na Internet, por meio da leitura de obras dirigidas ao assunto, além de artigos de revistas jurídicas que tratam do assunto abordado.

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1 A LEI DE DIREITOS AUTORAIS

Neste capítulo será feita uma exposição dos fatos históricos dos direitos autorais no mundo e em seguida o caminho percorrido no Brasil até os dias atuais.

1.1 Antecedentes históricos

É com o surgimento da prensa de tipos móveis de Gutemberg, no início do século XV, que a escrita revoluciona a forma de se comunicar atingindo níveis mundiais. Através da facilidade da reprodução das ideias, aliado aos comerciantes de obras que viram na nova atividade uma possibilidade de aumento do seu capital, os direitos autorais ganham força. A partir daí começaram a surgir os problemas dos direitos autorais, sua proteção e remuneração de seus autores. (VARELLA, 1996, p. 186).

Devido aos tratados assinados entre os Estados Nacionais, a legislação referente aos direitos autorais é praticamente igual. Os principais acordos realizados pelos Estados são a Convenção para a Proteção de Obras Literárias e Artísticas, assinada em Berna no ano de 1886 e revista em 1948, que ficou conhecida como a Convenção de Berna, e a Convenção Universal sobre Direitos do Autor, assinada em Genebra em 1952, conhecida como Convenção de Genebra.

Importante referir que a Convenção de Berna tem sido a base da criação e melhoria das leis nacionais, inclusive a brasileira. Essa Convenção, que foi redigida no ano de 1886, conferiu aos autores a exclusividade para autorizar a reprodução de suas obras como bem escolhessem.

No que se refere a proteção jurídica dos direitos autorais o movimento francês teve importância decisiva. Era necessário naquela época um instrumento para proteger o desenvolvimento cultural e tecnológico. Não é possível pensarmos na segurança jurídica para as empresas pesquisadoras de tecnologia sem antes propiciar, através de regras claras e diretas, uma normatividade jurídica.

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Também nesse sentido, a Revolução Industrial foi marcante quanto a perspectiva da regulamentação do direito de propriedade.

Destruídas as corporações de ofício, para que empregados e empregadores pudessem pactuar diretamente os seus cardos trabalhistas e fixar as condições de trabalho sem qualquer interferência exterior, surgiu a locação de serviços. Foi a primeira forma jurídica de relação trabalhista. Consistia no respeito total à liberdade volitiva do trabalhador e do empregador que se obrigavam, um a prestar serviços e o outro a pagar salários, porém sem outras implicações maiores quanto às circunstâncias em que isso se dava. O estado não interferia. Havia, portanto, plena autonomia da locação de serviços na ordem econômica, jurídica e social. Como num corpo solto no espaço, sujeito às suas próprias determinações [...].

Coube à Revolução Francesa colocar a relação jurídica entre empregado e empregador na categoria de locação de serviços, com o princípio da liberdade contratual e a supressão das corporações de ofício. (NASCIMENTO, 1976, p 275).

Avançando no recorte histórico, na contemporaneidade vivemos a Revolução Tecnológica. Nesse prisma é latente a falta de leis que possibilitem o equilíbrio entre o princípio da liberdade à informação, promoção das formas de expressão cultural e a repartição das obras intelectuais entre usuários da web frente a manutenção da proteção à propriedade e à privacidade.

Vivemos em um novo contexto e se faz necessário novas fórmulas para a resolução desses conflitos. Neste sentido, Demócrito Ramos Reinaldo Filho (2005, p. 2) expressa que:

O desenvolvimento da Internet e demais meios de comunicação, influindo tão profundamente em nossas vidas, não desencadeou apenas uma revolução tecnológica, mas trouxe também a seu lado uma revolução jurídica. De fato, não se poderia pretender que o Direito ficasse indiferente a esse magnífico fenômeno humano. A todo impacto nas relações humanas corresponde igual reação do Direito. O avanço das tecnologias da informação na verdade está provocando o obsoletismo de muitos institutos jurídicos e a necessidade de reformulação em tantos outros. A necessidade de ajustamento dos sistemas jurídicos nacionais para enfrentar a realidade do mundo on-line é hoje o grande desafio para o Direto.

É dever do Direito alcançar o equilíbrio para solucionar conflitos em uma sociedade. Essa atuação deve representar a vontade social, mediando as relações e equilibrando os conflitos existentes entres leis e princípios.

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Por definição, o Direito deve ser uma expressão da vontade social e, assim, a legislação deve apenas assimilar os valores positivos que a sociedade estima e vive. O Direito não é, portanto, uma fórmula mágica capaz de transformar a natureza humana. Se o homem em sociedade não está propenso a acatar os valores fundamentais do bem comum, de vivê-los em suas ações, o Direito será inócuo, impotente para realizar sua missão. (NADER, 2002, p. 16-17).

Pimenta e Pimenta Filho (2007, p. 73) esclarecem sobre a questão do dever social que o homem tem a partir de sua condição de ser social, o que implica em contribuição tanto “moral, físico, intelectual de modo que propicie a evolução de todos da sociedade.”

Dessa forma é necessária uma reflexão sobre os mecanismos de proteção utilizados para as obras intelectuais e o seu alcance e eficácia nos dias atuais. Manoel Joaquim Pereira dos Santos (2005, p. 43-44) manifesta-se, afirmando que:

O desenvolvimento das técnicas e meios de comunicação ao longo do século XX, sobretudo com o surgimento da tecnologia da informação e da Internet, trouxe alguns dos mais difíceis desafios para o Direito Autoral. O processo de reprodução da obra intelectual tornou-se extremamente fácil, rápido e eficiente, permitindo a geração de cópias que em nada se distinguem do chamado ‘original’. Além disso, a circulação das criações intelectuais pode ser feita atualmente a custo insignificante, sem limitação de fronteiras e praticamente sem barreiras técnicas.

É devido a essa revolução tecnológica e de acesso à internet que o foco da discussão sobre os direitos autorais passou da reprodução para a utilização da obra.

1.2 Direito Autoral no Brasil

Através do Decreto 34.954 de 10 de janeiro de 1954, o Brasil se tornou signatário da Convenção de Berna e pelo Decreto 76.905, de 24 de dezembro de 1975, se tornou signatário da Convenção de Genebra. Devido a época em que o Brasil se tornou signatário, não há qualquer menção referente a utilização e reprodução de obras na web.

O Brasil possui uma posição de proteção às obras intelectuais, dificultando sua circulação na web e tornando ilegal várias práticas no universo digital. Devido a

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essa posição, se faz necessário uma repaginação na atual legislação brasileira. Conforme esclarece Kaminski (2002, p. 122):

A lei ideal de direitos autorais deve balancear os interesses da propriedade intelectual dos autores, editores e detentores de direitos autorais com os anseios da sociedade pelo livre intercâmbio de ideias. Evoca a disseminação do conhecimento, enquanto garante uma proteção adequada para os trabalhos criativos e investimentos econômicos.

Antonio Chaves (apud BRANCO JUNIOR, 2007, p. 19), acerca da história dos direitos autorais no Brasil, afirma que seu início se dá com a Lei de 11 de agosto de 1827, com a regulamentação para os livros que os professores de Direito produzissem. Os professores tiveram o direito de exclusividade sobre sua obra por 10 anos.

Porém a normatização dos direitos autorais no Brasil teve sua maior inserção através do Código Criminal de 1830. Por sua vez, o Código Penal de 1890 definiu penas e prazos dos direitos autorais sobre leis, decretos e quaisquer atos dos poderes da Nação. Importante salientar que tanto no Código Criminal de 1830 quanto no Código Penal de 1890 o prazo garantido ao autor da obra era o de toda sua vida, mais 10 anos após sua morte, com a transmissibilidade destes direitos aos herdeiros do autor. (CHAVES apud BRANCO JUNIOR, 2007).

Faltava ainda a disposição na Constituição Federal da Nação. A previsão legal ocorreu na Constituição Federal de 1981, no artigo 72, parágrafo 26 que dispunha: “Aos autores de obras literárias e artísticas é garantido o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou por qualquer outro processo mecânico”.

A Constituição Federal manteve o prazo de proteção dos direitos autorais do Código Penal. Todas as próximas Constituições mantiveram dispositivos de proteção aos direitos autorais, excetuando-se a Constituição de 1937. Importante salientar que as alterações mais importantes ocorreram apenas com a Constituição Federal de 1988. (CHAVES apud BRANCO JUNIOR, 2007).

A Lei 496/1898 buscou proteger os direitos autorais. Foi a primeira lei brasileira que tratou do tema de uma forma aprofundada. Dentre outras normas,

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estipulou o prazo de cinquenta anos após o primeiro de janeiro do ano da publicação para a proteção dos direitos autorais. Essa lei ficou conhecida como a Lei Medeiros e Albuquerque. Outro importante avanço que essa lei trouxe foi a limitação aos direitos autorais em seu artigo 22, no qual se trata da contrafacção, afirmando que a reprodução de passagens ou pequenas partes de obras já publicadas, seja na íntegra ou em pequenos escritos no corpo de uma obra maior, além de mencionar a questão da reprodução impressa de notícias ou artigos extraídos de outros materiais impressos, ou ainda de discursos pronunciados em locais públicos, sendo que para que se possa fazer tal publicação é imprescindível que se mencione a fonte de onde foi extraído tal material.

Nos incisos do artigo 22, verifica-se ainda a menção sobre a reprodução em livros ou jornais de partes de obras que tenham um fim crítico ou polêmico, assim como de obras figurativas, mesmo daquelas que se encontram em ruas ou praças, ou ainda retratos ou bustos encomendados por particulares.

Na evolução dos direitos autorais no Brasil, se faz necessário citar a Lei 2.577 de 17 de janeiro de 1912 que outorgou às obras publicadas fora do país as mesmas proteções das publicadas no Brasil. O Código Civil de 1916 (CC/16) por sua vez, substituiu os dispositivos da Lei Medeiros e Albuquerque. O CC/16 teve como base a referida lei e os artigos 649/673 trataram do tema sob o título de “Propriedade literária, científica e artística”.

O artigo 649 do CC/16 dispôs sobre o direito exclusivo do autor na reprodução das obras pelo período de sua vida, mais sessenta anos a contar da data da sua morte. Importante salientar que esse direito se estendia a herdeiros e cessionários. O artigo 666 trouxe em seu texto as limitações aos direitos do autor, afirmando situações específicas em que não se considera ofensa aos direitos do autor, como a reprodução de passagens ou trechos de obras já publicadas e a inserção, ainda integral, de pequenas composições alheias no corpo de obra maior, contanto que esta apresente caráter científico, ou seja compilação destinada a fim literário, didático, ou religioso, indicando-se, porém, a origem, de onde se tomarem os excetos, bem como o nome dos autores, ou ainda, a reprodução, em diários ou periódicos, de noticias e artigos em caráter literário ou científico, publicados em

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outros diários, ou periódicos, mencionando-se os nomes dos autores e os dos periódicos, ou jornais, de onde forem transcritos; bem como a reprodução em diários e periódicos de discursos de qualquer natureza, mesmo que tenham sido pronunciados em público. Além de outras situações, como a cópia feita a mão, por exemplo.

Em 1973 foi publicada a Lei 5.988/73 que alterou o entendimento do artigo 673 do CC/16 quanto a sua ambiguidade. A referida lei acrescentou em seu art. 17, a possibilidade de registro da obra por parte do autor.

Art. 17. Para segurança de seus direitos, o autor da obra intelectual poderá registrá-Ia, conforme sua natureza, na Biblioteca Nacional, na Escola de Música, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Instituto Nacional do Cinema, ou no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

§ 1º Se a obra for de natureza que comporte registro em mais de um desses órgãos, deverá ser registrada naquele com que tiver maior afinidade.

§ 2º O Poder Executivo, mediante Decreto, poderá, a qualquer tempo, reorganizar os serviços de registro, conferindo a outros Órgãos as atribuições a que se refere este artigo.

§ 3º Não se enquadrando a obra nas entidades nomeadas neste artigo, o registro poderá ser feito no Conselho Nacional de Direito Autoral.

Novamente houve alteração quanto ao prazo legal para resguardo dos direitos autorais. (CHAVES apud BRANCO JUNIOR, 2007). A Lei 5.988/73 alterou esse prazo para o tempo de vida do criador da obra mais a vida dos sucessores, se filhos, pais ou cônjuge, ou 60 anos no caso dos outros sucessores. Esse texto está registrado no artigo 42, parágrafos 1° e 2°.

Art. 42. Os direitos patrimoniais do autor perduram por toda sua vida. § 1º Os filhos, os pais, ou o cônjuge gozarão vitalíciamente dos direitos patrimoniais do autor que se lhes forem transmitidos por sucessão mortos causa.

§ 2º Os demais sucessores do autor gozarão dos direitos patrimoniais que este lhes transmitir pelo período de sessenta anos, a contar de 1º de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento.

A lei de 1973 foi substituída pela Lei 9.610 de 1998, que juntamente à Lei 9.609 de 1998 (programas de computador) apresentam as principais normas de direitos autorais atualmente vigentes.

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Dentre as modificações relevantes inseridas na Lei 9.610/98, pode-se mencionar as graves restrições feitas ao sistema de limitações, sob o ponto de vista do usuário (art. 46); a modificação do prazo de proteção para a vida do autor, acrescida de setenta anos aos sucessores (art. 41), e setenta anos após a fixação para direitos conexos (art. 96); proteção a bases de dados (arts. 87); e disposições referentes à violação de TPM’s1

e sistemas de DRM2 (art. 107), no que fica evidente o espírito maximalista da lei de 1998.

Carlos Alberto Bittar (apud VARELLA, 1996, p. 189) menciona que o início do interesse, no meio jurídico, pela informática no Brasil, deu-se com a invasão da microeletrônica em 1980. Neste ano, construiu-se o primeiro computador brasileiro. A partir de então, começaram-se a desenvolver mecanismos administrativos e jurídicos hábeis para o desenvolvimento do setor.

Em 2007, através de uma cartilha desenvolvida pelo MinC (Ministério da Cultura) inicia-se um processo de revisão da legislação pertinente aos direitos autorais. Já em 2009 iniciou-se uma fase de proposições para alterações na Lei dos Direitos Autorais, no intuito de ampliar as limitações do direito autoral, garantindo acesso de toda a sociedade às obras protegidas.

Essa Cartilha inicialmente apresenta conceitos do que vem a ser o direito autoral, a quem este se destina, e principalmente o que protege. Destacando que “a importância do Direito Autoral é garantir aos criadores condições de viver de suas próprias criações”. (CARTILHA, 2007, s.p.). Assegurando aos criadores o devido reconhecimento pela sociedade em função da sua importante contribuição para o crescimento do patrimônio cultural.

A cartilha expressa sobre a imensa gama protetiva que o direito autoral envolve, salientando ainda os limites a que está sujeito, mencionando que as limitações neste caso “visam atender o interesse público e garantir o acesso mais amplo à cultura e à educação sem prejudicar os legítimos interesses dos autores das obras intelectuais” (CARTILHA, 2007, s.p.). Informando que destes limites o

1 TPM = technical protection measures (CHAVES apud BRANCO JUNIOR, 2007). 2 DRM = digital rights management (CHAVES apud BRANCO JUNIOR, 2007).

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mais óbvio está relacionado com o prazo de proteção, findo o qual as obras caem em domínio público, a partir de quando podem ser utilizadas por qualquer indivíduo livremente.

1.3 Natureza Jurídica

O Direito de autor, conforme expressa Bittar (1992, p. 20) “é o ramo do direito privado que rege as relações jurídicas resultantes da criação e utilização econômica de obras intelectuais estéticas e compreendidas nas artes, ciências e literatura.” Este direito rege as relações que nascem a partir da criação da obra, sejam elas de ordem pessoal, como os direitos de nominação, integridade e paternidade da obra, ou de ordem patrimonial, como o processo de representação e reprodução dentre outros.

Esse direito é inerente ao homem e é expresso desde o início da obra, através da sua criação até o direito de não demonstrar ao público sua obra ou decidir tirá-la de circulação.

Em se tratando dos aspectos pertinentes à natureza jurídica do direito do autor, Beviláqua (apud CHAVES, 1987, p. 9) considera três correntes com diferentes opiniões:

a) não passaria de uma forma particular pela qual se manifesta a personalidade;

b) não haveria no caso, propriamente, um direito, mas um simples privilégio concedido para o incremento das artes, das ciências e das letras;

c) modalidade especial de propriedade. (CHAVES apud BRANCO JUNIOR, 2007, p. 27).

Conforme o entendimento de Chaves (1987), estas diretrizes doutrinárias podem, ainda, serem fracionadas nas seguintes situações.

A primeira possibilidade é a da visão do direito do autor como um direito coletivo. Entende-se que a obra protegida deveria ser da sociedade como um todo, e como esta não dispõe de mecanismos eficientes para fazer valer esse direito, caberia ao Estado torná-lo efetivo. “O autor é como abelha que alcança, mas

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transforma completamente tudo o que colhe; mel é bem o produto da abelha, como a forma que ele criou é bem o produto do autor.” (CHAVES, 1987, p. 10).

É também um direito real de propriedade. Ocorre que a teoria contraria os princípios de propriedade, já que o direito moral preserva ao autor a perpetuidade e a permanência de prerrogativas mesmo após cessada a fruição econômica, ou seja, o direito de conservar a matriz de seu pensamento e de sua obra, direito que não pode ser alienado e é inatacável como inerente à própria personalidade. “A obra seria um bem móvel e seu autor seria titular de um direito real sobre aquela.” (NETTO apud BRANCO JUNIOR, 2007, p. 27).

É um direito “sui generis”. “Reconhece ao autor um direito absoluto sobre sua sui generis obra, de natureza real, existindo – paralelamente – o direito de personalidade, independente, que consiste na relação jurídica de natureza pessoal entre o autor e a obra.” (BRANCO JUNIOR, 2007, p. 27).

Segundo Chaves (1987), é a doutrina predominante, incorporada na lei italiana de 1941 e que, lentamente inspira a maioria das legislações. O direito de autor é composto de dois elementos fundamentais diverso, sendo o direito moral a proteção da obra e da personalidade do autor nela refletida, e o direito patrimonial o monopólio de utilização econômica temporária, limitado e relativo, pertencente ao plano dos direitos reais.

Branco Junior (2007) esclarece que os direitos de autor não se ligam nem à categoria dos direitos reais, dos quais se revestem apenas os direitos patrimoniais, nem à dos direitos pessoais, onde se hospedam os direitos de personalidade. E o autor cita Bittar (2001, p. 11) que entende que pelo mesmo motivo que se dividem nos dois ramos do direito, mas que por sua própria natureza e finalidade estão ligados em um conjunto inseparável, os direitos autorais não podem ser incluídos nesta ou naquela categoria, mas constituem nova modalidade de direito privado.

O referido autor entende que os direitos autorais possuem um caráter intelectual e que devido suas especificidades merecem sim uma atenção especial no ordenamento vigente.

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Dessa forma, nota-se que o Brasil contempla autonomia ao direito do autor que, de acordo com Bittar (2001, p. 10) “existe lei própria, com normas específicas sobre a disciplina, que escapam ao direito comum”.

Assim, é possível afirmar que o direito do autor possui prerrogativas morais e patrimoniais. É devido a essa questão que é possível definir que se trata de uma singularidade do direito privado, é um direito sui generis, especial ou autônomo, desfruta de teoria própria que o separa dos demais ramos do direito privado, enquadrando-se na categoria dos direitos intelectuais.

1.4 Função econômica-social dos direitos autorais

O direito autoral apresenta manifestações distintas pois trata de bens culturais e está intimamente ligado à propriedade intelectual. Nota-se que o direito autoral se manifesta no aspecto moral e também no patrimonial, onde vê-se a questão financeira.

Branco Junior (2007) menciona que a Constituição de 1988 prevê em seu artigo 5º, incisos XXII e XXIII, a garantia ao direito de propriedade, sendo que esta deve atender a sua função social. Já no artigo 170, estabelece que a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem a finalidade de garantir a todos existência digna, de acordo com os ditames da justiça social, observados certos princípios, dentre estes a função social da propriedade.

Para Pinto (2009) a função social da propriedade intelectual deve ser cumprida. Sabe-se que o direito autoral deve ser respeitado conforme versa a Constituição Federal, mas existem limites para todos os princípios constitucionais, quando este afete o maior de todos os princípios: o da dignidade da pessoa humana. Um ser social que não teve acesso aos meios educacionais nunca será um cidadão por completo, estará sempre à margem da sociedade, tendo sua dignidade humana suprimida. Deve-se analisar a função social do direito autoral, que, mesmo protegido pelo ordenamento jurídico, deve cumprir um papel social para o desenvolvimento intelectual de todos os cidadãos.

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Há fundamento legal no nosso ordenamento jurídico vigente que nos possibilita uma visão com uma melhor fruição dos direitos do autor ligados aos interesses do Estado. É no artigo 215 da Constituição Federal de 1988 que contemplamos esse viés social dos direitos autorais. No referido artigo, a CF garantiu o acesso as obras culturais , demonstrando assim o interesse do Estado no desenvolvimento intelectual da sociedade. Justifica-se tal entendimento a partir da constatação de que o próprio Estado, enquanto ente dotado de personalidade jurídica existe para prover a estruturação da sociedade e o bem comum dos sujeitos nele inseridos, advindo daí a função social a ele inerente (VITALIS, 2006).

Vivemos tempos em que o acesso ao conhecimento e possibilidade de adquirir novas informações são de suma importância para o crescimento da sociedade. Difícil falarmos em evolução da nação, se não assegurarmos o mínimo de condições de acesso as obras intelectuais. O direito autoral não é algo fechado em si mesmo, pelo contrário, atinge uma população carente de informação e conhecimento por isso se questiona a outorga exclusiva sobre a obra. Neste sentido, Pires e Tolotti (2008), esclarecem que é verdade que não há como negar ao autor a tutela sobre o bem de sua criação; entretanto, essa proteção deve estar em harmonia com os direitos da sociedade, e isto, em outras palavras, significa dizer que da mesma forma que ocorre com a propriedade material, o direito de autor também deve cumprir sua função social.

[...] o direito autoral também está sujeito às limitações constitucionalmente impostas em favor do bem comum – função social da propriedade de que fala o art. 5°, XXIII, da Carta de 1988. Note-se, uma vez mais, neste contexto, que a proteção autoral, como propugna boa parte da doutrina, não se esgota na noção de propriedade, em particular pela presença dos direitos de personalidade ou direitos morais em geral. (BARBOSA, 2003, p. 11).

Dessa forma, se faz importante a proteção as obras intelectuais para que o autor consiga receber sua recompensa pela sua criação , porém esta proteção não deve servir de atrapalho à propagação do conhecimento e da cultura

Com isso, há de se reconhecer a finalidade sociocultural e educativa na existência de limitações ao direito autoral. Entretanto, a legislação brasileira, por meio do artigo 46 da Lei 9.610/98, enumera de forma taxativa estas limitações e

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exceções aos direitos autorais, quando o mais adequado do ponto de vista da função social do direito de autor seria que houvesse um rol aberto de limitações, regido por princípios gerais de direito. (PIRES; TOLOTTI, 2008).

Conforme Pires e Tolotti (2008), o caráter restritivo das limitações estabelecidas pela legislação brasileira, observa-se traços de uma concepção individualista adotada pelo legislador ordinário na defesa do direito do criador da obra; o que obviamente opõe-se ao princípio da função social do direito de autor, pois esta clausura à letra da lei impacta negativamente no acesso à informação, à cultura e à educação.

Nos dias de hoje, informação e conhecimento são bens de imensurável valor, indispensáveis para o desenvolvimento da sociedade, de modo que o princípio constitucional da função social não deve se conter às limitações previstas na Lei 9.610/98, que são insuficientes para atender as finalidades sociais da utilização da propriedade intelectual. (PIRES; TOLOTTI, 2008).

Neste sentido, Barbosa (2003, p. 12) menciona que :

O estatuto constitucional dos direitos autorais tem outra vertente além da propriedade – o da liberdade de informação. E isso se dá de forma dupla: existem a tensão entre o direito à informação de terceiros e exclusividade legal do titular da obra e a tensão entre a propriedade e o direito que tem um outro autor (ou qualquer um do povo) de se expressar de maneira compatível com sua própria liberdade.

A propriedade intelectual, mesmo sendo necessária, não pode coibir, sem razão e desproporcionalmente, o acesso à informação por parte de toda a sociedade e o direito de expressão de cada um. De forma que entende-se que o direito autoral e seus benefícios patrimoniais e morais são um direito do desenvolvedor. Mas por outro lado, em função da existência dos direitos e garantias fundamentais e dos princípios constitucionais, acredita-se que deva ser considerado o direito à educação em nome do princípio da dignidade humana, direito fundamental tanto quanto o direito da propriedade. (PINTO, 2009).

A função social da propriedade não deve ser apenas a letra fria de um artigo na Constituição Federal, mas sim, uma busca real para equilibrar as necessidades

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sociais, possibilitando condições dignas e gerando bem-estar capaz de fazer com que todos possam desenvolver suas potencialidades.

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2 DIREITOS AUTORAIS NO ÂMBITO VIRTUAL

Neste capítulo serão abordados aspectos do direito autoral voltados ao âmbito virtual, considerando os avanços tecnológicos, assim como as possibilidades que a internet apresenta, em termos de compartilhamento de obras, e informações.

Isso porque com a universalização da internet, o acesso à informação tornou-se mais dinâmico, eficiente, objetivo e potencialmente veloz, uma vez que o compartilhamento da mesma se dá, hoje, de maneira imediata e intuitiva. Decorrente deste avanço, a relação entre direito e tecnologia tornou-se mais sólida, visto que essa rápida mudança gera consequente transformação no plano jurídico.

2.1 Criação de Novas Tecnologias

Vivemos em um tempo em que os avanços tecnológicos têm acontecido de uma forma muito rápida. Essa nova era nos trouxe novas tecnologias capazes de produzir, distribuir e transformar a informação tornando-a popular podendo ser acessada até dos locais mais remotos.

Devido a esse avanço, é necessário fazer algumas reflexões sobre a posição normativa vigente em nosso país, bem como na forma da produção e circulação das informações em meio a tantas redes sociais, microblogs e tantas outras ferramentas virtuais.

Neste panorama é possível notar que há um embate entre os interesses do autor sobre a sua obra e o interesse da sociedade em utilizar e multiplicar a informação contida na obra, o que não deixa de ser um desenvolvimento cultural. Há a necessidade de equilibrar as relações entre o autor e as ferramentas tecnológicas.

Atualmente, inúmeras são as ferramentas que possibilitam uma relação mais pessoal do autor com o consumidor final de sua obra. Se nos tempos passados havia uma dificuldade enorme para a promoção de uma obra artística, literária ou científica, nos dias atuais bastam apenas alguns segundos para que a obra seja vista por milhões de pessoas por todo planeta através das redes sociais e outros

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locais na web. Não há como negar que essa nova forma de relacionamento só é possível devido ao avanço tecnológico.

Outra novidade possível graças a tecnologia são as novas possibilidades de negócios que facilitaram a propagação das obras. Até pouco tempo atrás, o único modelo de negócio utilizado para circular e difundir uma obra com direito autoral era a compra e venda.

Ao autor interessa que sua obra se difunda o máximo possível, pois sua valorização está intimamente ligada a sua circulação. Logo, quanto mais circular um determinado produto, consequentemente maior serão os ganhos para o titular de direitos autorais. Dessa forma, é possível afirmar que a inovação que visa facilitar a difusão das ideias do autor fortalece seus direitos.

Isso nos leva a uma reflexão sobre as normas do Direito Autoral. A lei que vige na nossa nação é oriunda do século XIX e parece não ser suficiente no amparo dos direitos autorais frente a inúmeras novas tecnologias. É sabido que a realidade social daquele tempo em pouco se parece com a dos dias atuais. Vivemos em um tempo da instantaneidade, onde as notícias de todo o planeta podem ser vistas através de um simples “click”.

Foi em função da explosão da Internet que a problemática da proteção aos Direitos Autorais ganhou nova força, já que, segundo trata Nigri (2006, p. 4):

A Internet é hoje um emaranhado de redes espalhadas pelo mundo que possibilita uma enorme capacidade de troca de informações, além de proporcionar a união, ou a reunião de sons, imagens, movimento, texto, vídeo e interatividade entre as diversas mídias, todas convergindo para um só objetivo, qual seja, o de fornecer informações e conteúdo de ótima qualidade e a custos muito razoáveis aos seus usuários.

Assim, se faz indispensável a busca pela harmonização entre o direito do autor e as novas ferramentas tecnológicas, para que não haja uma limitação na geração e difusão do conhecimento e da cultura, bens esses de suma importância para a sociedade.

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2.2 A Expansão da Internet

O nascimento da Internet está intimamente ligado a história do pós 2° Guerra Mundial, mais precisamente a Guerra Fria. Os Estados Unidos da América necessitavam de uma comunicação rápida e segura entre suas bases para que suas informações não caíssem nas mãos dos inimigos. É nesse cenário que surge a ARPANET que mais tarde transformou-se na Internet que utilizamos. Denis Borges Barbosa e Nélida Jessen (2005, p. 156) comentam a respeito dos primeiros anos de existência da internet:

De seu início militar, a rede migrou para um sistema de intercomunicação de interesse da pesquisa científica, permitindo acesso a grandes computadores por todos os participantes de seu sistema. Na época, como agora, uma rede local de uma universidade se ligava muitas vezes por linha telefônica dedicada, mas também pela comum, a outras redes de outras universidades na mesma região ou não, e o acesso à informação se dava por qualquer dos caminhos da teia. Assim, uma mensagem entre duas cidades contíguas pode circular por regiões distantes, até mesmo pelo outro lado do mundo, em questões de segundos. Mesmo partes de mensagens, que são separadas em pequenos pacotes, podem circular por caminhos diversos, sendo reunidas no destino, conforme haja congestionamento nas rotas do fluxo.

A partir da rede original (ARPANET) outras redes similares, como a bitnet, usenet e outras, acabaram por unirem-se entre elas, sendo que esta pluralidade e autonomia resultou na condição de que não haja um dono ou administrador da internet. Sendo que milhares de operadores mantêm suas redes de modo elementar de forma independente, mantendo entre si somente protocolos comuns de comunicação e informação, no entanto não há uma central de armazenamento de informações, ou um ponto de controle, ou ainda um canal de comunicação específico para a internet.

No Brasil a exploração comercial da Internet teve seu início em 1994 através da Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações S.A.) para expandir a rede para que uma boa parte do país tivesse acesso a conexão. A extensão que a rede possui nos dias de hoje é de conhecimento de todos. Prosseguem os autores:

A Internet não é um local físico: como uma rede gigante que conecta grupos inumeráveis de computadores interligados, é uma rede de redes, constituindo um lugar virtual sem fronteiras físicas nem correlação com o

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espaço geográfico. Seu tamanho varia a cada momento, e enquanto em 1980 ele compunha-se de 300 computadores, nove anos depois tinha 90.000; em 1993, um milhão; em 1996, 9.400.000; em 1999 estima-se que duzentos milhões de pessoas venham a ter acesso à rede. (BARBOSA; JESSEN, 2005, p. 155-156).

A rede mundial de computadores é um dos maiores símbolos da globalização. Conseguiu derrubar as barreiras e possibilitou a unificação do meio de comunicação entre as diferentes nações e línguas. Devido a essa propagação da rede surgiu um termo que utilizamos muito no dia-a-dia que é – sociedade da informação. Dessa forma se posiciona sobre a questão José de Oliveira Ascensão (2004, p. 22-23):

Concentremo-nos agora na sociedade da informação, que tem como instrumento nuclear a Internet. Esta última foi objeto de profunda e rápida metamorfose: nascida militar, passou a rede científica desinteressada, depois a meio de comunicação de massas, para se tornar hoje sobretudo veículo comercial. Nessa evolução, a informação, que seria o seu conteúdo, vai mudando de natureza.

Abrangendo deste modo, qualquer conteúdo de comunicação, permitindo que o saber se transforme em mercadoria, e o conhecimento livre se transforme em bem apropriável. Os direitos intelectuais, neste universo atual, cada vez mais são objeto de direitos de exclusividade, já que por sua vez, cada vez mais estão sendo dissociados dos aspectos pessoais e passando a serem considerados meros atributos patrimoniais, posições de vantagem na vida econômica.

A mercantilização geral do direito intelectual é um fato. E uma manifestação flagrante está no fato de a entidade que é hoje decisiva na disciplina dos direitos intelectuais não ser nem a Unesco nem a OMPI, mas a Organização Mundial do Comércio e isso, tanto no que se refere ao direito de autor e ao direito da informática, quanto aos direitos.

Verifica-se que a evolução da internet criou uma nova figura de sociedade, a sociedade da informação, pela importância atribuída à esse componente, o qual revela-se um critério muito importante no desenvolvimento econômico dos países. Assim, o avanço da tecnologia cria uma expansão da proteção jurídica pelo direito autoral, ou seja, esse direito deve se adaptar conforme esse avanço, e, com isso, aumentar sue nível de incidência para que uma norma não se torne letra morta, mas sim que seja efetiva e cumpra sua finalidade, que é de proteção dos direitos do autor.

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2.3 Relativização dos Direitos Autorais

O decreto n° 75.6999 de maio de 1975 promulgou a Convenção de Berna. A referida Convenção visa proteger as obras literárias e artísticas tendo sido assinada em 1886 e revista em Paris em 1971. Esta Convenção buscou através de seu texto unir as nações para proteger os direitos autorais e definir quais obras deveriam receber essa proteção, assim como formas de registro e sanções para o descumprimento das regras.

O artigo 1° da Convenção de Berna é claro na demonstração do desejo de proteção dessa lei: Artigo 1° “Os países que se aplica a presente Convenção constituem-se em União para a proteção dos direitos dos autores sobre as suas obras literárias e artísticas”.

Já o parágrafo 4°, artigo 2° informa sobre a proteção das obras independente do país em que circular: “As obras acima designadas gozam de proteção em todos os países signatários. A proteção exerce-se em benefício dos autores e dos seus herdeiros e legítimos representantes”.

Por fim, o artigo 4° versa sobre a segurança jurídica para a publicação da obra independente de ser o país de origem ou não do autor. Segundo o dispositivo legal:

Artigo 4° Os autores pertencentes a qualquer dos países da união gozam , nos outros países, excetuado o de origem da obra, quanto as suas obras, quer não publicadas, quer publicadas pela primeira vez num país da união dos direitos que as leis respectivas atualmente ou concederão de futuro aos nacionais, assim como dos direitos especialmente conferidos pela Convenção.

Nota-se dessa forma, que desde o século XIX buscava-se através de mecanismos uma maior segurança para os autores/criadores. Bem antes do surgimento da internet tinha-se essa preocupação. Como citado acima, a Convenção de Berna possibilitou direitos aos autores de uma forma unificada através dos países membros. O artigo 7° da Lei 9.610, por sua vez, definiu de forma exemplificativa quais obras seriam protegidas, determinado que são obras

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intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro.

Com base no artigo 7°, caput da Lei de Direitos Autorais nota-se que o legislador procurou demonstrar a necessidade da exteriorização da obra para sua proteção e também minimizou o formalismo na forma de expressão da obra. Esta poderia ser expressa através de letras, sermões, músicas, desenhos.

Dessa forma, nota-se que as ideias por si só não gozam de proteção autoral se não tiverem sido expressadas de alguma forma. É pressuposto a exteriorização da ideia, juntamente com outros requisitos, para que a obra tenha de fato a proteção que trata a Lei 9.610.

Quanto ao meio em que a obra é expressa não tem tanta importância. Flexibilizou-se a expressão da obra para que a arte e a cultura pudessem se desenvolver não estando vinculadas a uma pequena forma de expressão da criação.

Há alguns requisitos para a proteção de uma obra no contexto da Lei de Direitos Autorais. De acordo com a doutrina deve pertencer ao domínio das artes, ciências ou letras de acordo com o enunciado do inciso I do artigo 7°. Outro requisito se refere a originalidade da ideia. Essa originalidade não se refere a uma descoberta nunca antes registrada, mas sim a necessidade de algo que diferencie a obra do autor com a dos demais. Não se busca com esse requisito mensurar o valor ou mérito da ideia, mas sim sua diferença frente a outros autores e inovadores. A exteriorização, como visto acima, é um dos requisitos essenciais que a doutrina reconhece como necessário. Outro requisito refere-se ao período de proteção fixado em lei. É necessário que a ideia esteja amparada pelo período legal de proteção. (LEI 9.610/1998).

Estando a obra de acordo com esses requisitos, a obra alcançará o status de protegida. Não precisa essa obra estar entre os 13 incisos do artigo 7° da Lei de Direitos Autorais pois os doutrinadores entendem que esse artigo trás um rol

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exemplificativo, podendo assim , existir outras formas de manifestação das ideias. (LEI 9.610/1998).

Porém é necessário olharmos para o artigo 8° da Lei de Direitos Autorais pois enumera aquilo que não será protegido. Segundo o conteúdo da norma:

Artigo 8° Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei:

I – as ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais;

II- os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios;

III- os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas instruções;

IV- os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais;

V- as informações de uso comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas;

VI – os nomes e títulos isolados;

VII – o aproveitamento industrial ou comercial das ideias contidas nas obras.

Sabe-se que a internet não é um lugar físico. Na verdade, muito mais preciso é dizer-se que a internet é um meio pelo qual podem ser tornadas disponíveis obras intelectuais em formato digital. Por isso mesmo que as regras vigentes no mundo real devem ser aplicáveis também às obras tornadas disponíveis na internet. Sendo assim, entendemos que tais obras devem se sujeitar aos princípios e regras adotados pela LDA e receberão proteção na medida em que preencham os requisitos legais.

2.4 O uso das Obras Alheias no Espaço Virtual

Delimitada a proteção dos direitos autorais através da previsão no art. 7° da LDA a disposição da obra na web depende de uma prévia autorização do detentor dos direitos, nos termos do art. 29, IX, da LDA.

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:

I - a reprodução parcial ou integral; II - a edição;

III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações; IV - a tradução para qualquer idioma;

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VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra;

VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário;

VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante:

a) representação, recitação ou declamação; b) execução musical;

c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos; d) radiodifusão sonora ou televisiva;

e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de freqüência coletiva;

f) sonorização ambiental;

g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado; h) emprego de satélites artificiais;

i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados; j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;

IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;

X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.

Assim, no espaço virtual indaga-se quais os meios possíveis para disponibilizar a obra ao público. A internet nos dias atuais tem seu conceito intimamente ligado ao conceito de website. De acordo com Manoel Joaquim Pereira dos Santos (2002, p. 5) é possível definir o website da seguinte forma:

expressão de um conjunto de documentos e elementos digitais (scripts, bancos de dados associados, hiperlinks) que compõem o espaço virtual através do qual indivíduos e entidades disponibilizam informações, ofertam bens e serviços e se comunicam com o público em geral na Internet. Esses documentos digitais contêm textos, ilustrações, sons e imagens fixas ou animadas que são acessadas pelo usuário da rede com base na técnica da interatividade.

Douglas Yamashita (2001, p. 24-25) distingue quatro aspectos de um website: o site-físico (consistente na instalação dos equipamentos onde se armazenam as páginas e todos os elementos digitais que as compõem, tratando-se especificamente do servidor que o hospeda); o site-lógico (que inclui o conjunto de elementos digitais, tais como arquivos de imagens, sons, animações e até mesmo a própria página codificada); o site-virtual (correspondente à representação visual-gráfica das páginas que constituem o website resultante do conjunto de redação, imagens etc., e que é o que realmente se enxerga como resultado do site lógico); e o site-mídia (que se

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relaciona com o conjunto de características mercadológicas do site virtual, tratando-se principalmente da eficiência do website para alavancar vendas).

Referente ao site-virtual, que é nosso objetivo de estudo e sua ligação com o site-lógico, o autor menciona o que segue:

Como representação visual-gráfica das páginas codificadas, o site virtual resulta da harmoniosa mescla de redação, imagens, diagramação, hiperlinks e navegação, que juntos constituem o conteúdo do site. É o que realmente enxergamos como resultado do site lógico, que, por sua vez, não enxergamos.

Contudo, nem sempre o proprietário do site lógico e o proprietário das partes do conteúdo do site (textos, imagens, etc.) são a mesma pessoa. Neste caso, parece-nos igualmente pacífico que tais elementos do site virtual permanecem devidamente protegidos pela Lei nº 9.610/98, a Lei de Direitos Autorais, na condição de obras intelectuais autônomas, especialmente quando consistem em textos de obras literárias, artísticas ou científicas (art. 7º, I), composições musicais (art. 7º, V), obras audiovisuais, sonorizadas ou não (art. 7º, VI), obras fotográficas (art. 7º, VII) ou obras de desenho (art. 7º, VII). (YAMASHITA, 2001, p. 29).

No nascimento da internet, os websites eram formados por pouco conteúdo, sendo algumas páginas apenas. Porém com a evolução da tecnologia a interatividade tomou conta das páginas virtuais.

A intensidade da evolução foi marcada pela interatividade com que o usuário da internet pode manipular as informações disponíveis na web. Antigamente as páginas na web eram de alguns poucos, hoje em dia é comum a qualquer pessoa possuir uma página pessoal em alguma rede social onde pode postar vídeos, músicas, textos de sua autoria ou não, filmes, entre outras obras.

Como vimos, a LDA prevê que o armazenamento, a reprodução e a utilização de obra intelectual disponível na web, constitui uma modalidade de uso da obra, e devido a isso são reservados os direitos ao titular da obra.

É sabido que mesmo com a proteção as obras intelectuais, inúmeras são usadas em todo o mundo, por usuários da web. Atualmente a facilidade em possuir um website é enorme. Basta ter um computador ligado a internet e o mínimo de conhecimento para ter uma página virtual podendo desta forma interagir com

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páginas alheias. As páginas pessoais mais usadas atualmente são os blogs, fotologs e páginas de relacionamento como o facebook.

É possível afirmar que os blogs são diários virtuais. O paradoxo é que se tratam de uma exposição pública. Os diários comuns tinham a característica da privacidade, do resguardo. Já o diário virtual tem essa disponibilidade de acesso a todos que possuem conexão com a web. Seu surgimento se deu no ano de 1997, porém foi em 1999 que se tornou popular devido ao site blogger.com disponibilizar essa ferramenta aos internautas. Seu maior uso se deu até hoje na propagação de ideias de cunho político, jornalístico ou meramente informações pessoais. (http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/205/206).

Os fotologs por sua vez possuem a característica de parecer com um álbum de fotografias. O titular da conta se interessa mais em postar e compartilhar fotos do que textos. Suas funções se assemelham as dos blogs e possuem o mesmo

mecanismo de interação e compartilhamento de informações.

(http://www.slideshare.net/atilavelo/a-histria-das-mdias-sociais-atila-velo).

Outra forma de comunicação via web são as mensagens eletrônicas conhecidas popularmente como e-mails. Esse tipo de comunicação diminuiu em grande escala as cartas físicas. A velocidade e o custo quase a zero são os maiores fatores para a popularização desse meio de comunicação.

Outra possibilidade de uso de obras protegidas que se tornou muito popular através da interatividade foi o site de relacionamento social Facebook. O Facebook foi criado em 2004 por jovens universitários de Harvard. O intuito dos jovens era proporcionar aos acadêmicos daquela Universidade uma rede social com a possibilidade de expressar suas opiniões sobre os eventos do campus, convidar alguém para sair, enfim, interagir com seus amigos em tempo real, 24 horas por dia e todos os dias da semana. (http://www.slideshare.net/atilavelo/a-histria-das-mdias-sociais-atila-velo).

Atualmente o Facebook é a rede social que mais cresce no mundo e seu fundador, Mark Zuckerberg, tornou-se o bilionário mais jovem da história. O site está

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entre os 10 mais acessados do mundo, possuindo mais de 900 milhões de membros ativos. (http://www.slideshare.net/atilavelo/a-histria-das-mdias-sociais-atila-velo).

Diante da facilidade de criação e manutenção é normal que um site de relacionamento possibilite a violação de direitos autorais, realizados por particulares no âmbito da internet. Na prática, as violações acabam nem repercutindo. Na maioria das vezes o autor se quer sabe que teve seu direito violado. Por esse motivo, e também pela dificuldade da prova, devido a facilidade em deletar as mensagens postadas ou compartilhadas, é que a maioria dessas violações não chegam a ser processadas.

2.5 Uma Nova Sistemática dos Direitos Autorais: Copyleft, Creative Commons e Licenças Públicas

Devido a falta de normatização é importante a busca por ferramentas que dêem segurança aos que utilizam as obras de terceiros. Importante salientar que no Brasil as liberdades e restrições estão apenas no campo dos direitos patrimoniais. Dessa forma se faz possível a aplicação do copyleft, creative commons e licenças públicas.

Na década de 80 houve uma grande movimento que buscava compartilhar de forma livre softwares criados pelas ideias da coletividade. O movimento levou o nome de software livre. É nesse contexto que surge o copyleft. Sérgio Amadeu (2012, s.p.) comenta os motivos do nascimento do software livre:

Foi a partir da indignação ativa de um então integrante do MIT, Richard Stallman, contra a proibição de se acessar o código fonte de um software, certamente desenvolvido a partir do conhecimento acumulado de tantos outros programadores, que em 1985 foi criada a Free Software Foundation. O movimento de software livre começou pequeno. Reunia e distribuía programas e ferramentas livres,com o código-fonte aberto. Assim, todas as pessoas poderiam ter acesso não só aos programas mas também aos códigos em que foram escritos. A ideia era produzir um sistema operacional livre que tivesse a lógica do sistema Unix que era proprietário, ou seja, pertencia a uma empresa. Por isso, os vários esforços de programação eran reunidos em torno do nome GNU( Gnu Is Not Unix). (http://www.softwarelivre.gov.br/artigos/artigo_02/)

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Buscando evitar que esse desenvolvimento fosse apropriado indevidamente e patenteado por algum empreendedor oportunista, e posteriormente bloqueasse o desenvolvimento compartilhado, a Free Software Foundation inventou a Licença Pública Geral (GPL) em inglês, conhecida como copyleft, que surgiu em contraposição ao copyright. A copyleft garante que os esforços coletivos não serão considerados propriedade de alguém especificamente, sendo que o GPL se aplica em todos os sentidos que os direitos autorais abrangem, como: livros, imagens, músicas e softwares.

Com a difusão da Internet, o movimento software livre ganhou o mundo e logrou produzir um sistema operacional livre, completo e multifuncional, o GNU/LINUX. Em 1992, o finlandês Linus Torvald conseguiu compilar todos os programas e ferramentas do movimento GNU em um kernel, um núcleo central o que viabilizou o sistema operacional. Torvald denominou este seu esforço de Linux, ou seja “Linus for Unix ”. (http://www.softwarelivre.gov.br/artigos/artigo_02/)

Toda revolução e inovação dessa época se deu não pelo compartilhamento livre dos softwares, mas sim pelo fato de manter o código-fonte aberto. Essa atitude foi um avanço sem precedentes para a época. Qualquer pessoa poderia alterar e inovar no software com bem lhe interessava. É devido a essa inovação e necessidades de novas normatizações, que foram desenvolvidas as licenças públicas. Essas licenças consistem na GPL e LGPL do GNU, isto é, General Public License e a Lesser General Public License adotadas para o licenciamento de software livre, mas com a diferença de serem estruturadas a partir dos preceitos do Creative Commons.(http://www.pacc.ufrj.br/a-historia-do-creative-commons/).

O Creative Commons foi criado para possibilitar a criação de novas obras através do aumento de obras disponíveis ao público. Faz-se esse aumento de obras através de licenças públicas. Esse mecanismo possibilita que o autor disponha de alguns de seus direitos, mas continue tendo a administração de sua obra. A sociedade poderá utilizar a sua obra, dentro dos parâmetros das licenças para difundir o conhecimento. (http://www.pacc.ufrj.br/a-historia-do-creative-commons/ )

Trata-se de uma relativização das relações entre autor e consumidor da obra. Parece ser algo que diminua o poder do autor sobre sua obra, porém o que

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realmente acontece é um olhar jurídico para uma relação autor-consumidor. O Creative Commons visa disseminar as obras dos mais diversos tipos.

O Creative Commons busca efetivar a vontade de disseminação dos trabalhos dos mais diversos tipos de artistas, criadores e detentores de direitos. Por esse motivo, um determinado autor pode optar por licenciar seu trabalho sob uma licença específica, que atenda melhor a seus interesses, podendo escolher entre as diversas opções existentes.

De fato, as licenças do Creative Commons podem ser utilizadas para quaisquer obras, tais como música, filme, texto, foto, blog, banco de dados, compilação, software ou qualquer obra passível de proteção pelo direito autoral.

Conforme mencionado por Branco Junior (2007) essas licenças são:

Atribuição: Quando a obra é licenciada nos termos desta licença, significa que o autor autoriza a livre cópia, distribuição e utilização da obra. Observa-se que, assim , contorna-se o problema dos disposto no art. 46, II da LDA, referente à cópia integral da obra, já que há autorização expressa do autor no sentido de se permitir cópia integral da obra.

Além disso, autoriza-se também a elaboração de obras derivadas, eliminando-se a necessidade de licença nos termos do art. 29 da LDA. O autor exige, no entanto, que a obra seja sempre atribuída ao autor original, fazendo-se em conformidade com os direitos morais de autor, dentre os quais se incluiu de paternidade.

Não a obras derivativas: Nos termos desta licença , o autor autoriza a livre cópia , distribuição e utilização da obra, também de modo a se evitar a proibição constante do art. 46, II da LDA. Diferentemente da licença anterior, entretanto, o autor não autoriza o uso de sua obra para a elaboração de obras derivadas. Por isso, a obra licenciada não poderá ser alterada ou reeditada sem a autorização expressa do autor. É esta licença, portanto, menos ampla do que a anterior, já que o autor não autoriza modificações de sua obra.

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Vedados Usos Comerciais: Pelos termos desta licença, o autor autoriza a livre cópia, distribuição e utilização da obra, no que se assemelha à primeira licença analisada. Por outro lado, o autor proíbe o uso da obra com fins comerciais. Dessa forma, as pessoas que tenham tido acesso à obra poderão utilizá-la, nesse particular, apenas com consonância com o já disposto na LDA, que tem por parâmetro o uso de obras sem qualquer intenção de lucro. Permite-se, outrossim, a cópia privada para si e sua distribuição a terceiros, bem como o uso da obra original na elaboração de obras derivadas.

Compartilhamento pela mesma licença: Esta talvez seja a licença que mais amplamente impõe o espírito do Creative commons. Pelos seus termos, o autor autoriza a cópia, distribuição e utilização da obra, como ocorre nos casos das licenças “atribuição” e “vedados os usos comerciais”. No entanto, o autor impõe a condição de que, caso a obra seja utilizada para a criação de obras derivadas, como, por exemplo, texto adaptado em filme, a obra derivada será necessariamente compartilhada pela mesma licença. Ou seja, uma obra licenciada pela modalidade “compartilhamento pela mesma licença” só pode ser utilizada em outras obras se essas outras obras também forem licenciadas sob a licença Creative Commons.

Recombinação (Sampling): Por esta licença, o autor pode ou não autorizar a livre cópia, distribuição e utilização da obra. De qualquer forma, autoriza sempre a utilização parcial ou recombinação de boa-fé da obra por meio do emprego de técnicas como “sampleamento”, “mesclagem”, “colagem” ou qualquer outra técnica artística, desde que haja transformação significativa do original, levando à criação de uma nova obra.

A distribuição das obras derivadas fica automaticamente autorizada para o autor que recriou a obra do autor original.

CC-GPL e CC-LGPL: Assim como a licença anterior, estas duas licenças tiveram origem no Brasil, sendo destinadas ao licenciamento de software. As licenças foram desenvolvidas para atender necessidades específicas do governo brasileiro no que tange ao incentivo à adoção do software livre no país. Essas licenças consistem nas tradicionais GPL e LGPL do GNU, isto é, a General Public

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License e a Lesser General Public License, internacionalmente adotadas para o licenciamento de software livre, mas com a diferença de serem estruturadas a partir dos preceitos do Creative Commons.

De modo a atender os interesses dos autores, as licenças Creative Commons podem ser utilizadas em conjunto umas com as outras. Sendo assim, é possível que um autor licencie sua obra com as licenças “não a obras derivativas” e “vedados usos comerciais” simultaneamente.

As licenças públicas possuem natureza jurídica de contratos atípicos de acordo com o artigo 425 CC, sendo classificados como contratos unilaterias, e recai sobre essas licenças todos os princípios dos contratos atípicos como a boa-fé objetiva, o equilíbrio econômico e o respeito à sua função social, in verbis: “Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.”

É notório também que as licenças se submetem às regras da LDA. Apenas as faculdades livres e licenciadas pelo detentor dos direitos autorais poderão ser aproveitadas por terceiros nos termos da licença.

Dessa forma, afirma-se que as licenças públicas não são um a fuga as leis mas sim uma forma legal para não incorrer em ato ilícito por falta de autorização do detentos dos direitos autorais. A LDA possui sua eficácia mesmo em meio ao Creative Commons. O que ocorre porém é a possibilidade de utilização da obra alheia dentro das autorizações previamente concedidas.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho de conclusão de curso abordou o direito autoral no Brasil, a criação de novas tecnologias e a relação com os direitos autorais, a expansão da internet, a relativização dos direitos autorais e também a regulamentação dos direitos autorais no espaço virtual. Com a referida expansão da internet o uso dos computadores, notebooks, tablets e smartphones tem sido cada vez mais frequentes, independente do segmento social. Impossível pensar na ausência do direito num panorama como este, pois foi devido a expansão da internet que se intensificou a violação das obras resguardadas pelo direito autoral.

Considerando os aspectos que permeiam o Direito Autoral no âmbito da internet, principalmente no que se refere aos contratos de direitos atuais e as licenças públicas no espaço virtual, constatou-se que trata-se de um direito complexo, com inúmeras discussões doutrinárias sobre sua natureza jurídica e sua base jurídica, a qual se dá na Lei 9.610 de 19 de junho de 1998.

Verificou-se que, no âmbito nacional, evoluímos muito no resguardo aos direitos autorais destinado àqueles que produzem e criam suas obras sem esquecermos da função social dos direitos autorias pois é latente a necessidade de desenvolvimento da sociedade através das criações culturais e científicas, apesar disso, se verifica que muito ainda precisa ser realizado, sobretudo no que diz respeito na execução rápida das leis que já existem, bem como na realização de um trabalho mais eficaz e ágil dos meios legais no sentido de que os processos que se referem aos direitos autorais, bem como os demais processos legais, não se percam no marasmo da lentidão, a qual atualmente tem ocorrido com muita frequência.

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Perante o que foi discorrido no trabalho, percebe-se que o registro da obra se trata de uma faculdade constante no artigo 19 da LDA, porém para resguardo e preservação da criação, deve-se fazer o registro pois evidencia as possibilidades de publicação e/ou reprodução. Poderá assim, ingressar perante o Poder Judiciário o detentor do direito autoral para pleitear indenizações caso sua obra seja utilizada sem sua prévia autorização. Dessa forma, toda obra intelectual veiculada em qualquer meio, inclusive a internet, goza da proteção legal, apesar disso, verifica-se que mesmo tendo proteção legal, com leis que condizem com as necessidades, o que de fato ocorre ainda está longe de ser o ideal, pois se verificam violações a estas leis no dia-a-dia, nos mais variados ramos de criação intelectual.

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