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Uma história de educação feminina: a formação docente das mulheres no Brasil no século XX

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

ALINE MORAES

|UMA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO FEMININA: A FORMAÇÃO DOCENTE DAS MULHERES NO BRASIL NO SÉCULO XX

Ijuí 2016

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ALINE MORAES

UMA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO FEMININA: A FORMAÇÃO DOCENTE DAS MULHERES NO BRASIL NO SÉCULO XX

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de História, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio grande Do Sul-UNIJUÍ, como requisito parcial a obtenção do título em Licenciatura em História.

Orientador: Prof. Doutor Ivo Canabarro

Ijuí 2016

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Aline Moraes

UMA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO FEMININA: A FORMAÇÃO DOCENTE DAS MULHERES NO BRASIL NO SÉCULO XX.

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado a Universidade Regionaldo Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a

obtenção do título de Licenciada em História.

Aprovado em: ____ de _______ de _____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Nome do professor - instituição

__________________________________________ Nome do professor - instituição

__________________________________________ Nome do professor - instituição (orientador)

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A Deus, que me guiou em minhas escolhas dando-me forças para persistir nessa caminhada, a minha família, pela paciência, pelo incentivo e pela força e principalmente pelo carinho e apoio. Valeu a pena a distância, o sofrimento, as noites em claro. Essa conquista é nossa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial aos meus mestres que me proporcionaram o conhecimento e o exemplo para seguir na profissão.

Aos meus pais, primeiramente por terem me dado a vida, pelo amor incondicional, apoio e ajuda constante.

O meu marido, Luciano, e a minha filha, Gabriéli, que apesar de todas as dificuldades, distância e a ausência sempre estiveram comigo me apoiando e auxiliando quando necessário, sendo eles o combustível para continuar.

A professora Nair que contribuiu imensamente para a realização desse trabalho.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha caminhada, o meu muito obrigado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 6

1 A EDUCAÇÃO FEMININA ... 8

1.1 A mulher do século XIX ... 9

2 MULHER E EDUCAÇÃO ... 14

2.1 Um pouco de História de Feliz ... 15

2.2 Histórico da educação de Feliz ... 17

3 MULHERES, EDUCAÇÃO E MAGISTÉRIO ... 19

3.1 A formação ... 20

3.2 A caminhada profissional ... 24

4. A PAIXÃO PELO ENSINAR ... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 35

APÊNDICE A – PROFESSORA NAIR NA SUA INFÂNCIA ... 36

APÊNDICE B – PROFESSORA NAIR E SUA IRMÃ ... 37

APÊNDICE C –ENCONTRO DA TURMA DO CURSO NORMAL APÓS 50 ANOS DA FORMATURA ... 38

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INTRODUÇÃO

A história da mulher sempre foi deixada em segundo plano por séculos. Tida como um ser invisível, submissa à autoridade dos pais e do marido, incapaz de tomar decisões, a mulher era preparada apenas para o cuidado do lar e dos filhos. Diante disso, as mulheres viram no estudo e instrução uma das maneiras de poderem se tornar independentes, agregando forças para lutar por direitos negados pela sociedade durante anos. A conquista do direito de requentar escolas normais e se formar professoras ampliou a possibilidade de reconhecimento e de respeito numa sociedade dominada por homens, sendo que o papel de lecionar também era destinado a eles. As mulheres, aos poucos, foram conquistando esse espaço, tornando a atividade docente predominantemente feminina.

O presente trabalho visa resgatar e conhecer a história da mulher brasileira no que diz respeito a sua educação, sua exclusão no acesso a instrução e participação do processo educacional, tendo como base as vivências de uma professora do século XX. Para Silva (1987, p.76) “a História da Mulher ainda é encarada como ‘coisa de feminista’ ou como simples curiosidade fútil num leque de disciplinas que se propõe transmitir o essencial do saber histórico”.

Nesta perspectiva, faz-se necessário ampliar as pesquisas referentes a esse tema, pois as mulheres obtiveram muitas conquistas significativas ao longo das últimas décadas. Para a realização deste trabalho, serão utilizadas leituras para embasamento teórico e articulações sobre o tema, apresentando-se também a história de vida de uma professora. Acerca disso, descreve-se, através de uma entrevista, a sua trajetória, dificuldades encontradas para poder lecionar, investigando ainda se sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher. Junto a isso, busca-se relatar as dificuldades da profissão percebidas pela professora e as alegrias da mesma, aumentando, assim, a sua paixão pelo ensinar. Desse modo, utilizar-se-á a história oral, bem como fontes de pesquisa acerca do tema.

A história de vida da entrevistada, assemelha-se com a históra de luta de Bertha Lutz,uma das pioneiras na luta dos movimentos feministas no Brasil, pois ambas lutaram para garantir a sua presença no meio social e na profissão que escolheram, venceram barreiras e preconceitos, as duas são visionárias, pensando

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sempre a frente de seu tempo, e viram na educação a oportunidade de vencer e crescer profissionalmente e de buscar reconhecimento.

No capítulo 1 será feita uma breve análise sobre a educação da mulher no Brasil, os percalços encontrados por elas no decorrer da história para poderem ser instruídas. Também irá trazer um recorte da mulher do século XIX, suas lutas e conquistas em prol de uma “liberdade” e a inserção no mercado de trabalho, tanto nas fábricas como em sala de aula, através do magistério, curso esse que ampliou possibilidades e reconhecimento social.

O capítulo 2 discute a questão da mulher e a educação, buscando fazer uma reflexão sobre o processo de feminização do magistério e a importância dessa conquista em prol das mulheres. Neste capítulo realiza-se, ainda, um retrato da cidade de Feliz e uma breve análise da história da educação nessa cidade.

No capítulo 3 será feita a análise da entrevista, tendo como enfoque principal o tema Mulher e Educação, as conquistas e adversidades encontradas por uma mulher de família humilde para poder estudar e se tornar professora na metade do século XX. Além disso, será retratado o seu processo de formação, a caminhada profissional e a discriminação por ser mulher.

No capítulo 4, será retratada a Paixão pelo Ensinar, tendo como base o relato da professora Nair, sua trajetória de vida e de trabalho docente. Enfatiza-se a alegria e o amor que a mesma tem pela educação e por toda a sua trajetória de vida.

Encerro esse trabalho com as minhas considerações acerca do tema, além dos anexos e coletados durante a realização da pesquisa.

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1- A EDUCAÇÃO FEMININA

Desde o início da colonização, a educação formal destinava-se apenas aos meninos e, mesmo esses, nem sempre recebiam os cuidados de um mestre (SILVA, 2010,p.131).

A partir dessa análise, pode-se afirmar que a educação no Brasil não era direito de todos, onde a grande maioria da população era excluída do processo ensino aprendizagem. Desde a colonização de nosso país a educação era destinada apenas para poucos estudantes. Segundo Padre Anchieta (apud SILVA, 2010, p. 131), “os estudantes eram poucos, e sabiam pouco”. Com a reforma pombalina começou-se a ensinar a partir de mestres régios, meninos de classes mais abastadas.

A vinda dos portugueses à colônia trouxe arraigada consigo, modelos de educação e dominação patriarcal em que as mulheres eram dominadas pelos homens, o que levou a mulher a se recolher no ambiente doméstico. Portanto, não necessitava ter boa formação, bastava saber gerenciar uma casa, bordar, costurar, aprender as primeiras letras e a contar para, assim, poder ser uma boa dona de casa. No Brasil colonial, o analfabetismo feminino era vigente, a grande maioria das mulheres era incapaz de ler, contar, enfim, apenas gerenciavam o lar e obedeciam a seus pais e maridos. Então, para poder começar instruir as meninas, essas eram mandadas aos conventos, muitas vezes fora do país, para poder ter alguma educação, regrada e de reclusão regulada pelas normas religiosas. Claro que a demanda foi muito grande, moças sem vocação para a religião estavam ingressando na ordem religiosa, o que foi visto com preocupação pela sociedade machista da época, que via a figura da mulher apenas como um ser sem inteligência, submissa, gerou uma certa inquietação, pois pensavam que todas as mulheres virariam freira. Neste viés, o rei D. João V determinou, a partir de um alvará, em 1732, que toda a menina deveria passar por um teste vocacional antes de ingressar definitivamente na vida religiosa (SILVA, 2010).

A fim de amenizar o analfabetismo na colônia, foram criados internatos e conventos onde as recolhidas aprendiam a ler, escrever, fazer contas básicas, coser e bordar, além de explicar seus pensamentos de forma concisa e breve, pois para a

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época, a mulher não deveria falar muito e dar suas opiniões. Conforme Silva (2010, p.134), “os papéis femininos eram claramente definidos: elas têm uma casapara governar, marido que fazer feliz, e filhos que educar na virtude”. Enfim, as mulheres deveriam ter características que as tornassem desejáveis como boa esposa. Assim, as meninas, para serem educadas de maneira adequada, saíam da casa dos pais para serem educadas pelo recolhimento. O Estatuto do Recolhimento ( SILVA, 2010) adequava os papéis femininos para que as moças pudessem viver em sociedade, limitando-as a aprender somente o que achavam pertinente para a época; as meninas aprendiam, então, a ler, escrever, contar, além de costurar e bordar, pois só isso bastaria para gerenciar um lar feliz.

Essa mudança de pensamento se intensificou com a chegada da família real e de educadoras estrangeiras no país, por volta de 1808. Com a procura de preceptoras, de preferência seguidoras da religião católica, para ensinar as crianças de famílias tradicionais. Assim, aos poucos a mulher começou a ganhar certa instrução, e com o surgimento de novos colégios, surgiu também a necessidade de formar professoras qualificadas para ensinar as meninas.

1.1 A mulher do século XIX

A educação da mulher no século XIX começou timidamente com colégios mistos e foi gradativamente ganhando forças, influenciada pelas mudanças sociais e econômicas que ocorriam na época, o que contribuiu com a modernização das cidades. Com esse avanço, surge a necessidade de uma educação voltada também para as mulheres. Claro que essas mudanças não afetariam todas, as mulheres das classes populares deveriam continuar a se dedicar ao lar, educar seus filhos e cuidar de seus maridos; outro fator importante era a Igreja na sociedade, pois a formação cristã era fundamental para a educação da mulher, símbolo de pureza. Segundo Hahner (2003), no final do século XIX, algumas mulheres não queriam apenas respeito e tratamento favorável dentro da família, nem mesmo só direito à educação de base e universitária; elas já reivindicavam liberdade para o desenvolvimento completo de todas as suas potencialidades, dentro e fora do lar.

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Com a expansão da indústria brasileira, houve oferta de empregos nas indústrias, onde homens, mulheres e também crianças ocuparam essas vagas, trabalhando em lugares perigosos, insalubres com carga horária pesada e salário baixo, mas que auxiliava no sustento das famílias. Muitas mulheres saiam de casa para ocupar vagas em trabalhos quase desumanos, sofrendo abusos e ganhando muito menos que os homens. Seguindo essa lógica, Hahner (2003, p. 239) destaca:

Muitos líderes de sindicatos pregavam que as mulheres deveriam restringir-se à esfera doméstica, entretanto, em face da necessidade econômica e financeira, admitiam que as circunstâncias forçavam a mulher a entrar no mercado de trabalho onde eram miseravelmente exploradas.

Percebe-se que a saída das mulheres do lar deu-se também de forma forçada por um lado, pois com os maridos ganhando salário reduzido, as mulheres de baixa renda viam-se obrigadas a ajudar no sustento da casa, trabalhando como empregadas domésticas, costureiras, lavadeiras e em indústrias têxteis. Muitos repudiavam a ideia da mulher trabalhar fora, pois isso destruiria a família tradicional, onde as crianças cresceriam sem a constante vigilância e carinho materno, deixando, assim, de serem mães dedicadas e esposas presentes e amorosas. Sendo assim, a última década do século XIX aponta para a necessidade de educação para a mulher, atrelada com a modernização das cidades. No entanto, sua educação ainda continuava articulada com seu destino maternal, como esta explícita na lei de instrução pública do Brasil de 1827, como cita HAHNER:

As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto são elas que dão a primeira educação aos seus filhos. São elas que fazem os bons e maus homens; são as origens das grandes desordens, como dos grandes bens; os homens moldam sua conduta aos sentimentos dela (HAHNER, 2003, p. 76).

Neste contexto, para que ocorresse a inserção da mulher na educação era necessária a criação de escolas para formação de meninas, e formação de professores, pois havia um desleixo com a educação desde o início do império no Brasil. Em 1827, os legisladores determinaram a criação de escolas de primeiras letras, as chamadas pedagogias nos lugares mais populosos do país. Mas, infelizmente, essa realidade estava longe de ser alcançada, pois poucos no Império sabiam ler, escrever e fazer contas básicas, pois a educação era oferecida a poucos cidadãos. Apesar de criação de escolas para ambos os sexos, as moças deveriam

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estudar em classes separadas, em turnos opostos ou mesmo em escolas diferentes. A procura pelo curso normal aumentou, pois muitos acreditavam que as mulheres eram dotadas com capacidades de socialização com as crianças, considerando seu lado materno, sendo muitas vezes uma extensão do casamento. Quando os deputados regulamentaram o ensino das pedagogias, aliás, único curso ao qual moças teriam acesso, afirmavam que algumas seriam nomeadas mestras do estabelecimento, para tanto deveriam demonstrar prudência, honestidade, integridade, mas com certeza as mulheres iriam ter salário mais baixo do que os homens. Entende-se claramente que isso foi uma boa jogada política, pois, ao ampliar a participação feminina no magistério, as mulheres teriam o salário inferior ao dos homens, sendo possível expandir o ensino, gastando menos com professores.

Aém das mulheres, os pobres, a população de origem africana e indígena, também foram excluídas do processo de escolarização. “A educação das crianças negras se dava na violência do trabalho e nas formas de luta pela sobrevivência” (DEL PRIORI, 2007, p. 445), deixando uma marca negativa na nossa história, reforçando os traços da sociedade escravocrata e machista da época.

Com a Proclamação da Independência, houve a necessidade de construir uma imagem de um país mais moderno e aberto a mudanças, principalmente na área da educação. Nas últimas décadas do século XIX, com a modernização da sociedade, surge a necessidade de uma educação voltada para a mulher, sempre vinculada com as normas cristãs que regiam a sociedade. O objetivo da criação das escolas normais era formar professoras e professores que viessem atender a um esperado aumento da demanda escolar, mas percebeu-se que a grande maioria de formandos na área era de mulheres. Os homens, que sempre foram a maioria em sala de aula, estavam abandonando as mesmas em virtude da industrialização, indo em busca de novas oportunidades mais rentáveis, dando início, assim, a feminização do magistério. Fato esse que gerou crítica e certa resistência por parte de muitos, que ainda viam a figura da mulher como ser inferior, com cérebro pouco desenvolvido, incapaz de instruir as crianças. Outros, porém, mais abertos às mudanças, enfatizavam que a mulher teria, por instinto natural, um jeito próprio de lidar com crianças, pelo fato de trazerem consigo o instinto materno, por serem mais pacientes, afetivas e minuciosas no trato com crianças, deixando-as aptas para ocupar, então, o cargo antes ocupado por homens (DEL PRIORE, 2007).

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Embora a mulher estivesse ganhando espaço na sociedade, lutando por condições de trabalho e aceitação numa sociedade que valorizasse seu conhecimento intelectual, sendo reconhecida como capaz de pensar e de agir, muito ainda deveria ser feito. À medida que barreiras foram sendo quebradas com melhorias no campo feminino e com algumas conquistas, graças à instrução que receberam as mulheres ao ingressar nos cursos normais, algumas mulheres por necessidade e outras, porém, por ambicionarem reconhecimento social, conseguiram romper esse paradigma de fragilidade e incapacidade, mostrando que seriam capazes de trabalhar e serem mulheres ao mesmo tempo, sem deixarem de lado sua feminilidade e graciosidade.

Diante desses fatos, evidencia-se uma mudança de comportamento, pois antes somente as moças solteiras saíam de casa para lecionar. Assim, as mulheres casadas conseguiram ingressar no ambiente de trabalho, podendo alternar o cuidado com a casa e educação dos filhos em um turno e no outro lecionar. Claro, o salário era baixo, bem inferior ao dos homens, pois a eles cabia o sustento da casa e deveriam honrar essa tradição e sua masculinidade.

Dizia-se, ainda, que o magistério era próprio para mulheres porque era um trabalho de “um só turno”, o que permitia que elas atendessem suas “obrigações domésticas” no outro período. Tal característica constituía em mais um argumento para justificar o salário reduzido-supostamente um salário complementar (DEL PRIORE, 2007, p. 453).

Observa-se, com isso, que apesar da mulher ter conquistado o direito de trabalhar, ainda sofria com a cultura machista e dominadora da sociedade, que enfatizava que a mulher nasceu para tomar conta do lar. Mas, aos poucos, essa visão foi mudando, graças aos grupos feministas e a alguns pensadores que apoiavam a causa, que lutavam para que a mulher fosse realmente vista como um ser completo, e não como invisível perante a sociedade.

A autoridade moral que as mulheres exerciam dentro de casa era o sustentáculo da sociedade e se fortalecia “na medida” em que o lar passava a adquirir um conjunto de papéis de ordem social, política, religiosa e emocional, mais amplos que tiveram até então (DEL PRIORE, 2007, p.454).

Nesta perspectiva, o papel da mulher era essencial para que a família tivesse boa saúde e os filhos boa educação, ampliando o seu campo de atuação ainda mais, caso ela saísse para trabalhar fora. A busca pela independência feminina se

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intensificou a partir do momento que elas conquistaram o direito ao voto na década de 30, dando a elas a oportunidade de participar de decisões políticas que afetariam a vida em sociedade. De fato, essa conquista foi de extrema importância para as mulheres, mas nada se compara a possibilidade de ter acesso à educação e de serem instruídas, podendo, assim, ingressar no mercado de trabalho. De acordo com Almeida (2000, p. 6),

As mulheres viam no acesso ao letramento e ao conhecimento o caminho mais direto para a liberação feminina das limitações a que estavam sujeitas, considerando que a educação e a instrução promoveriam avanços significativos na existência feminina.

Percebe-se que a luta das mulheres para ter direito ao acesso a educação se deu de forma lenta , vencendo preconceitos e buscando na educaçâo uma fuga de sua condição de vida de submissão e desrespeito, conseguindo adquirir conhecimento para assim, poder vir a desempenhar uma profissão digna e de pretígio social, pois ser professora era vista com respeito na época que contribuiu para a conquista da independência feminina.

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2 MULHER E EDUCAÇÃO

Analisando a conjuntura da história da mulher no decorrer dos tempos, pode-se afirmar que as mulheres, por muitos anos, passaram despercebidas, pode-sendo silenciadas, oprimidas, tendo seus direitos básicos negados, inseridas em uma sociedade patriarcal. Mas com o avanço no âmbito educacional, a mulher conseguiu sair da reclusão para adentrar no meio social e conquistar direitos antes inexistentes, podendo ser citado o número crescente de mulheres adentrando em cursos superiores. No início do século XX, através dos movimentos, as feministas lutavam para que a educação se igualasse a oferecida aos homens, além da busca pelo direito de exercer uma profissão. Com isso, muitas puderam estudar em escolas normais, mas sempre com o discurso de que a mulher poderia desempenhar esse papel seguindo as bases sociais, conforme cita Almeida (1998, p. 32): “o magistério, por suas especificidades, foi uma das maiores oportunidades com a qual contou o sexo feminino. Era aceitável que as mulheres desempenhassem um trabalho, desde que este significasse cuidar de alguém”.

A criação das escolas normais no Brasil visava formar professores, de ambos os sexos, para atender a demanda escolar. Mas, o que se percebeu foi o crescente egresso dos homens e o aumento das mulheres no curso normal, como por exemplo, no estado do Rio Grande do Sul, constatou-se presença feminina maior que a masculina, em meados de 1874(PRIORE,2007). Pode-se dizer que, neste caso, com presença maciça de imigrantes, novos rumos sociais se desencadearam, como abertura de comércio, jornais, bem como na lida com a lavoura, o que colaborou com esse processo de feminização do magistério, que apesar de parecer natural, não foi fácil.

A fragilidade feminina, constituída pelo discurso religioso, médico, jurídico e educacional é também constituinte de uma proteção e tutela. A professora terá que ser produzida, então, em meio a aparentes paradoxos, já que ela deve ser, ao mesmo tempo, dirigida e dirigente, profissional e mãe espiritual, disciplinada e disciplinadora (DEL PRIORE, 2007, p. 454).

Conforme Del Priore (2007), a mulher deveria ser moldada de acordo com a visão da sociedade. Para isso, era preciso orientá-la para não fugir ao padrão

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exigido na época. Para tanto, as escolas normais se adaptaram para receber essa demanda feminina. Logo, com certa rigidez, a formação de professoras se faz pela organização e ocupação de seu tempo, com permissões e também proibições do que pode ser feito e sobre os lugares que podem ser frequentados. A educação ministrada às futuras professoras era centrada na religião, sendo que muitas estudantes e, mais especificamente no caso particular trazido neste trabalho, ou seja, a professora entrevistada, só conseguiu ingressar neste meio, por vínculo da instituição religiosa em forma de Internato e, posteriormente, conseguiu lecionar em comunidades luteranas da região. Segundo ela, somente duas famílias de sua localidade, prosseguiram com os estudos das filhas, mandando-as para o internato, sendo que os meninos tinham mais oportunidades de poder estudar, e muitos iam para seminários para, assim, se aperfeiçoar ainda mais. Ela relata também a grande dificuldade de sua mãe, uma grande e admirável mulher, em ajudá-los com deveres de casa, pois falava e escrevia somente em alemão, mas sempre a incentivou a buscar novas oportunidades, principalmente na área da educação.

2.1 Um pouco de História de Feliz

Aqui pretendo relatar um pouco da história da cidade de Feliz, onde a professor Nair reside e onde lecionou por quase toda sua trajetória escolar. Feliz, terra de alegria e da qualidade de vida, assim ela é conhecida na região do Vale do Caí. Segundo o senso de 2013, realizado pelo IBGE, estima-se que há 12.992 habitantes, Feliz ainda preserva as características de cidade pequena, do interior, e mantém vivas as tradições dos alemães que colonizaram a região. Em 22 de dezembro de 1888, a então Picada Feliz, foi elevada a condição de vila, a Vila Feliz, somente em 17 de fevereiro de 1959, foi decretada a emancipação política do município com o nome de Feliz. Sua economia concentra-se principalmente na agricultura familiar e na produção rural (PREFEITURA MUNICIPAL DE FELIZ, Acesso em 26-05-2016).

A origem do nome, segundo pesquisas, está relacionada a um fato histórico, esse consta no “Kozeritz Kalender", de 1962: “em 1850, uma comitiva sob o comando do engenheiro Afonso Mabilde foi incumbida de abrir um caminho através

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da mata dos pinhais e o Campo dos Bugres (Caxias do Sul) aos campos de criação de gado de Vacaria” (ASSMAN, 2009, p. 26). Este grupo atravessou com uma canoa o rio das Antas, usando uma embarcação com ligação com os já ocupados campos de Vacaria, donde obtinham os mantimentos necessários. Uma enchente, no entanto, teria arrastado a canoa e o grupo de homens se viu obrigado a retornar ao sul. Depois de ficarem muitos dias errantes pelo mato, sofrendo toda sorte de privações e perigos, finalmente teriam encontrado a casa de um colono e saudado este encontro com a exclamação: Oh Feliz! Em lembrança deste fato, a nova picada recebeu o nome de Feliz (ASSMAN, 2009).

Feliz é uma cidade alegre, o que está explícito no nome, de clima agradável e ótima qualidade de vida, chegando a ser eleita, em 1998, a primeira colocada no ranking dos municípios brasileiros com maior Índice de Desenvolvimento Humano, ficando conhecida nacionalmente como a “Cidade de Melhor Qualidade de Vida do Brasil”, além de se destacar como município com o menor índice de analfabetismo no país, sendo que esse último prêmio foi alcançado quando a professora Nair estava à frente da Secretaria de Educação da cidade.(PREFEITURA MUNICIPAL DE FELIZ). Além disso, a cidade ficou conhecida por quase erradicar o analfabetismo, sendo que apenas 0,95% da população adulta não sabem ler e escrever. Segundo informações da secretaria Municipal de Educação, Nair teve grande influência, pois auxiliou o município a conquistar esse título. Em 1997, ela cria o Centro Municipal de educação de Jovens e adultos, que no ano de 2000 passa a fazer parte da Escola municipal Alfredo Spier, agregando as classes de aceleração. Para muitos a professora Nair sempre foi uma visionária, uma guerreira que sempre batalhou em prol da educação e de um mundo mais igualitário (PREFEITURA MUNICIPAL DE FELIZ, [ACESSO EM 26-05-2016]).

Feliz é considerada a 11º cidade mais igualitária do Brasil, e hoje abriga pessoas de várias partes do Estado, que veem a oportunidade de crescimento devido à região possuir grandes empresas e possibilidade de emprego, além da qualidade de vida que a cidade proporciona (PREFEITURA MUNICIPAL DE FELIZ, acesso em 06/06/2016]).

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2.2 Histórico da educação de Feliz

Um aspecto relevante é que, desde os primeiros anos de colonização, a educação foi prioridade para o povo da região, mas devido às dificuldades encontradas, viviam em união na comunidade preservando a cultura e a religiosidade desse povo. Em meados de 1846 a 1850, a Picada Feliz recebe as primeiras escolas chamadas de Pftharschule1, começando, assim, a alfabetização dos imigrantes. Na época, não havia professores e o ensino ficava a cargo da pessoa mais letrada e sábia da comunidade. A situação do professor era precária, com salário muito baixo, enfrentava dificuldades para se manter. Outro problema para manter uma boa educação era a frequência dos alunos, que em épocas de plantio e colheita, deixavam de frequentar a escola para auxiliar as famílias, sendo que muitos não regressavam para a sala de aula (ASSMAN, 2000).

Nessas escolas, todo o conhecimento era transmitido em alemão. Pode-se dizer que devido a isso muitos tiveram problemas linguísticos, tendo muita dificuldade em aprender o português, problema que perdura até os dias atuais, uma vez que pessoas mais idosas encontram dificuldade em entender a língua portuguesa. Aos poucos, escolas foram sendo criadas para atender a demanda, sendo que em 1850, Feliz contava com duas escolas paroquiais, e também algumas comunidades do interior começaram a ter suas escolas com professor da própria comunidade. Em 1863, houve a implantação de escolas católicas nas capelas do interior. Com as modificações sociais, novos imigrantes alemães, com maior formação, vieram para a região, impulsionando, assim, a educação na cidade. Aos poucos, foram sendo implantadas escolas do governo, surgindo, assim, os grupos escolares nos centros maiores e escolas rurais nas comunidades do interior. Muito se fez pela educação desde então, tanto que, em 2002, Feliz ficou entre os dez municípios do país com menor índice de analfabetismo e, atualmente, conta com duas escolas estaduais, sendo uma de ensino médio com habilitação para o magistério, além de seis escolas municipais, sendo que a Escola Alfredo Spier, no

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Pftharschule, segundo pesquisa com a comunidade alemã, quer dizer escola pequena, escola comunitária, sendo esta administrada pela pessoa mais letrada da comunidade.

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turno da noite, implantou o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (NUMEJA), o que contribui para manter o índice de pessoas alfabetizadas da cidade e da região (ASSMAN, 2000).

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3 MULHERES, EDUCAÇÃO E MAGISTÉRIO

Como já mencionado anteriormente, irei utilizar como referência uma mulher educadora, que auxiliou na história do município de Feliz e da região, atuando na defesa de uma educação inclusiva e transformadora. Utilizarei como principal recurso a narrativa de vida da professora Nair... Segundo Almeida (1998, p. 52), “pode-se definir um narrador como o sujeito histórico que está rememorando o passado e o interlocutor, por sua vez, é o sujeito histórico vivendo num tempo presente".(...) “Se a educação modifica a mulher, assim como todos os seres humanos, a mulher também modifica a educação escolarizada, enquanto sua principal veiculadora” (ALMEIDA, 1998, p. 21).

Diante dessa perspectiva, pode-se afirmar a importância do papel da mulher no magistério e também na vida em sociedade. Cabe ressaltar que foi através do magistério que as mulheres puderam ingressar no mercado de trabalho, onde a sala de aula passou a ser um ambiente digno, que auxiliou as mulheres a conciliar profissão com as tarefas do lar. Para tanto, ser mulher ia muito além do que a sociedade pregava. A professora Nair explica o que é ser mulher para ela:

Ser mulher, na redundância ser mulher, ser mulher com todas as suas atribuições biológicas no sentido da reprodução como no sentido afetivo, emocional, no sentido de abraçar, abrigar a sua cria, no caso pensando sempre no sentido, abraçar, cuidar dos seus filhos e como seres humanos a mulher extrapola essa função biológica, ela precisa dar o suporte emocional e espiritual para o seu filho, para sua família, então a mulher, nesse sentido, ela tem o papel muito importante na sociedade e no início da vida, nem muito tempo atrás à mulher só resumia sua atividade para o lar, e ultimamente a mulher teve que olhar para fora do lar, porque só cuidar da família, educar os filhos não dava mais a subsistência do lar, então também precisava que ir a luta para poder manter a subsistência de sua família e isso fez com que a mulher tivesse as tais jornadas dupla de trabalho (Professora Nair).

Vislumbrando, assim, com o magistério, a oportunidade de sair do confinamento do lar, ajudando no sustento da casa e conquistando independência. Na esteira das ideias de Almeida (1998), pode-se perceber esse contexto:

Entre as mulheres e educação, o que sempre se esculpiu nas vidas femininas foi um entrelaçamento de destinos incorporando sujeitos históricos aspirando por um lugar próprio no tecido social e uma profissão

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que se adaptou perfeitamente àquilo que elas desejavam, aliando ao desempenho de um trabalho remunerado as aspirações humanas e afetivas que sempre lhes foram definidas pela sociedade (ALMEIDA, 1998, p. 26).

Neste sentido, o magistério veio auxiliar as lutas femininas por emancipação e reconhecimento, pois como professoras, assumiam um lugar de prestígio na sociedade, Hahner (2003) explica sobre a importância de instruir as mulheres, em cujas mãos repousava o “destino da humanidade”. Seguindo esse raciocínio, caberia à mãe instruir seus filhos, para que se tornem adultos responsáveis e honestos.

3.1 A formação

Como educadora então, a entrevistada se refere o porquê se tornou professora. Segundo ela, não foi ao acaso, foi uma oportunidade, uma visão diante do tempo e da oportunidade que seus pais tiveram. Na década de 50, surgiu a oportunidade para sua irmã mais velha estudar, visto que, trabalhando no interior, como pequenos agricultores, não era nada comum “filha mulher” sair para estudar, o que era mais comum na época era os filhos homens ir pra um seminário, conseguindo, assim, ter um nível mais elevado de estudos e, se tivesse vocação para a vida religiosa, continuaria no seminário. Por outro lado, as mulheres não; elas tinham o poder de escolher estudar, e as que conseguiram prosseguir com os estudos, tinham que ir para São Leopoldo, no entanto, a professora Nair residia com sua família no interior de São Sebastião do Caí, hoje São Vendelino, ela relembre que aprenas duas famílias na época deram continuidade aso estudos das filhas. Ela ficou em um internato, onde permanecia para poder estudar, e relata fatos com emoção, dizendo que poder ter se tornado educadora foi graças ao esforço de seus pais, pois eles acreditaram que poderiam dar uma boa educação e instrução, fato esse que fez muita diferença em sua vida.

Cabe ressaltar que a sua turma de Magistério era mista, tanto homens e mulheres frequentavam a mesma turma, demonstrando, assim, uma abertura para as moças poderem estudar. Naquele tempo, ela estudou na Escola Normal Evangélica, de 1961 a 1965, hoje essa escola é conhecida como Instituto e Educação de Ivoti, sendo essa uma escola que sempre falou e prezou a formação e

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a educação, além de passar os principais valores e atitudes como educador, não apenas como professor, mas como aquele mestre que se coloca diante dos alunos como ser integral. Segundo ela, foi isso que a tornou uma professora que durante meio século labutou em uma sala de aula e ainda não estava saturada, que teria continuado sua trajetória se não fossem os problemas de saúde.

Turma do Curso Normal

Nesta perspectiva, pode-se constatar que as lutas feministas, principalmente da década de 60 e 70, bem como as lutas anteriores, deram maiores oportunidades às mulheres, que passaram a ocupar lugar de reconhecimento e de respeito na sociedade. Por outro lado, a mulher ainda era tida como do lar, mesmo que muitas já tivessem conseguido quebrar esse mito, onde o casamento era a única opção, e passaram a tomar outros rumos na sociedade, lutando por liberdade e direitos igualitários. Vale ressaltar que, na década de 60, muitas transformações ocorreram em nossa sociedade, uma delas foi à promulgação da 1ª Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei nº 4.024/61, que previa uma educação voltada ao desenvolvimento do país, buscando formar, então, mão de obra preparada para os avanços industriais da época. Além disso, houve também as disputas sociais e políticas da época, como o golpe militar de 64, que passou a vigiar e a controlar o ato de educar, implantando o medo dentro das instituições, principalmente as universitárias, com invasões, perseguições e prisão de professores e alunos que contrariavam o regime. A professora Nair, relata que para ela não sentiu essa “pressão” e que, no tempo da ditadura, nunca foi questionada sobre partido político a que pertencia, relatando que fez sua ficha corrida para poder lecionar, mas anos depois, ao ir a Secretaria de Educação, em plena democracia, foi questionada sobre filiação a partido político contrário ao que estava na administração, o que lhe gerou nela certa indignação e incômodo na época, pois em plena democracia dos anos de 1990, após toda a luta para a abertura política de nosso país, ela foi questionada sobre seu partido político, como forma de controle e manipulação lembrando muito a

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época da ditadura militar. Cabe ressaltar que em pleno regime, a professora Nair nunca foi questionada sobre filiação a algum partido.

Entre 1964 e 1969, houve um grande crescimento econômico no país, mudanças na área da educação foram necessárias, como por exemplo, a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com o objetivo de formar futuros trabalhadores para a indústria, buscando, assim, atender às necessidades capitalistas. Já no que diz respeito à formação de professores – o ginásio para moças – atraía pessoas de classes mais abastadas, ou com o apoio de instituições religiosas, sendo assim um reduto, quase em sua totalidade, feminino.

Então, poder estudar, ir além do ensino primário era um privilégio que não podia ser desperdiçado. Cabe ressaltar a importância que a Igreja Luterana possuía nas comunidades alemãs, pois ela incentivava os estudos, sem fazer distinção de gênero ou classe social. Para a professora Nair, o papel da Igreja Luterana foi de fundamental importância, ela relata que:

(...) se não tivesse sido pela religião, a participação na comunidade religiosa luterana e pela força que o pastor da comunidade deu para que minha irmã mais velha pudesse estudar, a vida teria sido totalmente diferente, porque se naquele tempo tinha que ser igual pra todos na família, então se minha irmã mais velha pode estudar eu também poderia ir. Eu acredito que isso foi uma coisa decisiva, foi muito importante para que pudéssemos estudar. Meu pai sempre tinha essa ideia, ele era muito observador, mas sem a ajuda da Igreja acho eu não teríamos essa oportunidade (Professora Nair).

Ao falar de sua caminhada de formação profissional, demonstrando enorme emoção e carinho por tudo que lhe foi proporcionado, a professora Nair relembra as dificuldades encontradas para poder estudar. No início de sua trajetória escolar, nas séries iniciais, fala que a distância era sua maior inimiga, pois tinham que caminhar em torno de cinco quilômetros para chegar até a escola, que era multisseriada. A professora afirma que valeu a pena, pois aprender sempre foi um privilégio para ela. Relata, ainda, que uma das maiores dificuldades que ela enfrentou foi ter que voltar a estudar:

Eu tive dificuldade sim, uma das maiores foi que eu tinha que continuar a estudar para poder continuar trabalhando, apesar da minha boa vontade, com as novas exigências para poder lecionar, tive que fazer o segundo grau como supletivo naquele tempo e depois fui para a faculdade. Surgiu naquela época, em 75, cursos de licenciatura curta, principalmente para suprir necessidades de atender as turmas de quinto a oitavo ano das escolas, na época eu já tinha começado a estudar na Unisinos, mas como surgiu o

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curso de férias eu fui fazer esse por ser mais rápido e depois retornei a Unisinos. Foi bastante trabalhoso, todos os dias íamos, estudávamos durante o período de férias, a distância para poder estudar complicava um pouco, fiz o curso na PUC em Porto Alegre, ia em janeiro, fevereiro e junho. Isso foi a maior dificuldade que tive, um período que exigiu muita persistência e dedicação. No entanto, minha família sempre me apoiou, principalmente meu marido sempre me deu força para continuar crescendo profissionalmente. Por outro lado, os familiares dele não viam isso com bons olhos, uma mulher sair para estudar fora, e mesmo com o passar dos anos essa resistência continuou, não acharam merecido o meu reconhecimento junto à sociedade Felizense (Professora Nair).

Ao falar do apoio da sua família, Nair relata com grande emoção o esforço de seus pais para proporcionar melhores oportunidades de crescimento para seus filhos, bem como o apoio incondicional de seu marido, que não mediu esforços para apoiá-la. Mas, por outro lado, os familiares dele nunca aceitaram que uma “mulher” tivesse mais conhecimento e reconhecimento do que um homem, sofrendo, assim, com a não aceitação e a discriminação por ser mulher, pois, culturalmente e socialmente, em muitas famílias tradicionais e mais rigorosas, lugar de menina é em casa, auxiliando nas tarefas domésticas, aprendendo, assim, como ministrar um lar. Esse raciocínio nos remete a Almeida (1998, p. 31), que diz:

Ao longo da história, a educação e a profissionalização feminina têm sido sempre relegadas a um plano secundário. Muitas vezes também são objeto de distorções do ponto de vista dos homens e até das próprias mulheres que, por força das imposições culturais, assimilam valores masculinos e aceitam a ser confinadas à reprodução biológica e às esferas privadas sem questionar esses papéis. Isso implica o estabelecimento de relações de poder entre os sexos que passam, também, questão do saber, dado que o conhecimento e poder estão necessariamente interligados. Manter o dominado longe do saber foi e continua sendo uma estratégia eficiente no controle e na manutenção de mecanismos de dominação.

E, para encerrar, a professora Nair reforça o seu amor e dedicação pela profissão, apesar das adversidades sofridas:

Claro que enfrentei dificuldades, mas eu nunca me senti desiludida com o magistério porque eu sempre acreditei na educação, não podemos ter um pensamento simplista que a educação resolva tudo, mas já é o primeiro passo, não adianta eu querer plantar se eu não preparo a terra, não vou colher nada se não semeio (Professora Nair).

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Família Seibert. Acervo pessoal

3.2 A caminhada profissional

A entrevistada começou a trabalhar logo após sua saída do Internato, sendo designada pela Comunidade Luterana a dar aula em uma escola de Lajeado, em 1965. Na época, ela tinha apenas 17 anos, sendo que ao chegar à cidade, por ser menor de idade, não pode assinar o contrato com a prefeitura, assim, para poder lecionar, a própria comunidade assumiu suas despesas até a sua maioridade. Ali, ela atuou como professora unidocente em quatro séries e, para além disso, para contribuir com a comunidade, ela dava catequese nos finais de semana. Segundo ela, foi um momento difícil, mas muito rico em experiências e aprendizados. Após, retornou para sua cidade natal, lecionando, assim, na região. Em 1976, a professora Nair assumiu na Prefeitura, durante um ano, era ainda Grande Feliz, sendo encarregada da merenda escolar. Naquele tempo era tudo centralizado, tudo vinha para as escolas municipais e estaduais e tudo tinha que ser distribuído e feito as pastinhas, “essa era minha tarefa, minha primeira passagem na Prefeitura”, relembra ela. Naquele ano, ela assumiu o trabalho de supervisão das escolas:

Eu achei que eu ia cair, desmaiar e não acordar mais, porque eu não tinha, em primeiro lugar, preparo, eu tinha recém terminado o segundo grau e começado a faculdade, porque naquele ano nós começamos um curso de férias em Porto Alegre que, naquele tempo, era chamado PREMEN, daí que eu fiz Matemática e Ciências, fiz três anos de faculdade de férias, durante o ano letivo tu tinha trabalho a distância e nas férias a gente tinha aula. Mas tudo bem, consegui me virar, na faculdade e no novo cargo (Professora Nair).

Em 77, ela conseguiu um contrato pelo estado, começando a trabalhar com as turmas de quinta a oitava, com matemática e ciências. Depois, quando terminou essa faculdade, em 1978/79, pode entrar no plano de carreira. Em 83, foi para a prefeitura, como supervisora municipal, trabalhou quatro anos. Depois, na próxima

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administração ficou como secretaria de educação durante duas gestões e, em 2000, ela retornou para a escola. Neste meio tempo, se aposentou de sua primeira nomeação, assumiu uma segunda nomeação e continua até hoje. Desde 1997/98 como secretaria de educação, ela regulamenta o ensino fundamental na cidade com a criação da escola Alfredo Spier, que depois passa a agregar o Centro Municipal de Jovens e Adultos, como uma classe de aceleração, hoje atual NUMEJA. Começa a participar, em 2002, do Conselho Municipal de Educação, atuando como presidente do Conselho Municipal até 2005, contribuindo muito para o engrandecimento da educação Felizense, onde sempre incentivava a formação continuada de professores, além de discutir muito sobre questões referentes à avaliação dos alunos, planos de estudos globalizados.

U.H., uma professora que trabalhou com a Dona Nair quando esta era secretaria de educação da cidade, fala de sua dedicação dentro da educação, sendo uma pessoa muito consciente, sempre pensando no futuro, incentivando os professores da rede municipal a ir além, com uma visão mais adiantada de mundo, “hoje escutamos muitas coisas ‘novas’, mas há trinta anos já fazíamos com a Dona Nair, como por exemplo, o turno integral que hoje temos, há vinte anos atrás ou mais, Feliz tinha esse turno integral, depois caiu e agora retornou como se fosse novidade”. Segundo seu relato, ela caminhou muitos anos com a professora Nair e afirma que muitas coisas foram começadas por ela, como a Municipalização da Educação, aspecto no qual Feliz foi o primeiro município do Rio Grande do Sul,(PREFEITURA MUNICIPAL DE FELIZ) e foi com dona Nair à frente da secretaria, que lutou por isso, “foi difícil no começo, pois não sabíamos como funcionava, como se fazia”. U. H., continuando seu relato, relembra também a abertura do supletivo que, na época, deu trabalho para organizar, mas com o incentivo da D. Nair, que sempre dizia que dava para fazer, que seria importante trazer de volta as pessoas que não tiveram a chance em tempo hábil para poder aprender. Tais questões foram importantes, pois ajudaram Feliz a se tornar o município mais alfabetizado do Brasil. Nair também deu o pontapé inicial para trazer para a cidade uma escola técnica, no caso, hoje o nosso Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), com cursos técnicos, de licenciatura, engenharia e mestrado. A professora U.H. enfatiza que para ela a dona Nair é uma pessoa com muito conhecimento, está sempre à frente de nosso tempo, uma pessoa empenhada e

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apaixonada pelo ato de ensinar. Termina seu depoimento dizendo: “ela é muito show!”.

Ao ser questionada sobre possíveis atos discriminatórios por ser mulher, a professora Nair fala com certa emoção da importância da religião em sua trajetória:

Eu não posso dizer isso, porque já naquele tempo, na década de 60, começou o trabalho de universalização da matrícula, então, até essa época só tinha 40% dos alunos com acesso à escola. Na colônia alemã, eles construíam a escola e tinha o seu professor. Quem era o professor? Era aquele que melhor sabia, as comunidades luteranas tinham a escola, seu professor e dentro da escola funcionava a igreja. Já nas comunidades italianas, a igreja, e dentro da igreja, funcionava a escola, então, veja a importância que a cultura alemã naquela época deu para a escola, sendo que primeiro vinha escola e lá dentro era o lugar de celebrar a religiosidade, enquanto que o católico italiano fazia primeiro sua igreja e daí depois funcionava a escola, então essa é uma diferença entre as duas culturas e talvez, por essa razão, não se tinha esta discriminação, a igreja luterana não fazia essa discriminação. O meu pai quando ia à aula, na década de 20, ele já tinha professoras naquela comunidade, tinha professoras mulheres. Com a universalização, as escolas particulares se tornaram muito pesadas e o poder público começou a assumir a educação nas escolas comunitárias, e foi nesse período, em que no RS, com o Governador Brizola, foram construídas inúmeras brizoletas, para que todas as crianças tivessem acesso à escola. Naquela época, foram criadas dezesseis escolas municipais, na grande Feliz, onde nós hoje temos uma brizoleta bem conservada, é a escola da Picada Cará, que fechou esse ano (Professora Nair).

E continua falando sobre discriminação:

Essa discriminação que muitos falam eu não senti. Minha mãe tinha o sonho de ser professora e não pode realizar o seu sonho pela dificuldade em continuar os estudos, por morar muito longe, então ela se sentiu realizada na minha tarefa, na minha atividade profissional. Eu nunca senti desrespeito por parte dos alunos, ou de pais, mesmo sendo jovem e mulher. Comecei a lecionar em 65, na cidade de Lajeado, onde, naquela época, as comunidades luteranas mantinham a prerrogativa de indicar o professor que eles queriam, mesmo a escola sendo municipal, a escola normal luterana era ligada às comunidades e formava professoras especialmente para trabalhar nessas comunidades pequenas. Quando me formei, com 17 anos, eu fui designada em convênio com a igreja e a escola, fui trabalhar em Lajeado. Após, consegui contrato pelo estado e fui trabalhar em São Vendelino, em um grupo escolar com um quinto ano, tendo 36 alunos, sendo que dois alunos eram mais velhos do que eu e sempre fui muito respeitada, claro que enfrentei dificuldades, mas eu nunca me senti desiludida com o magistério porque eu sempre acreditei na educação, não podemos ter um pensamento simplista que a educação resolva tudo, mas já é o primeiro passo, não adianta eu querer plantar se eu não preparo a terra, não vou colher nada se não semeio (Professora Nair).

Mas, por outro lado, E. K., uma colega da professora Nair que trabalhou anos ao seu lado, tanto acompanhando ela na Secretaria de Educação como na Escola

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Jacob Milton Bennemann, diz, com certa tristeza, que quando a dona Nair estava no auge todos a reconheciam, principalmente os políticos, mas quando ela voltou para a escola, para a sala de aula, sendo que ela não era mais útil ali, eles se esqueceram dela, houve uma exclusão, e isso doeu para ela.

Por ela ser mulher, muitos não a aceitavam, eles necessitavam de seu trabalho para a mídia, segue dizendo, mas na hora de valorizar a professora Nair, não, pois fisicamente e visualmente ela não é aquela mulher bonita, havendo um preconceito nesse sentido, porque ela era muito mais inteligente que eles, ela enxergava muito mais adiante que eles, mas eles viam ela assim, era útil, pode nos servir. Ser mulher e mais inteligente ainda não é aceitável, a mulher não pode ser mais inteligente do que os homens, e poucas mulheres no meu ponto de vista tem o conhecimento e a inteligência que a professora Nair tem (E. K.)

Em relação à feminização do magistério, ela acredita que há anos atrás isso foi bom, pois levou as mulheres a ter autonomia e certa valorização, mas, por outro lado, fala da dificuldade de atualmente os homens ingressarem no curso normal, pois a sociedade totalmente preconceituosa não vê com bons olhos meninos em sala de aula com crianças pequenas. Houve claramente uma inversão de valores, pois antes o magistério era dominado pelos homens, hoje ele sofre com resistência, muitas vezes da própria família e preconceito da sociedade em geral. Isso corrobora o pensamento de Almeida (1998, p. 66), que afirma: “Qualquer profissão, assim como a sociedade na qual está inserida, passa por processos e transformação ao longo dos anos e é influenciada pelas estruturas econômicas, culturais e políticas”.

Segundo Almeida (1998), com a evolução da sociedade os conceitos acerca das profissões mudam, o que reflete bem hoje a atuação de professoras nas salas de aula, onde os homens perderam a vez, e, para voltar a ocupar esse espaço, sofrem certo preconceito ao ingressar nos cursos normais ou de Pedagogia, levando muitos a cursar Licenciaturas nas demais disciplinas, como matemática, por exemplo, que não leve ao contato com crianças pequenas. A entrevistada fala que com a feminização do magistério muito se via ainda a prerrogativa do cuidado, lembrando, assim, a figura materna. Segundo a professora Nair:

A questão de cuidadora ainda persiste nas EMEIS, quando as creches faziam parte da ação social, em 96, com a nova LDB as coisas começaram a mudar, mas ainda se tem essa concepção do cuidado, onde o foco era cuidar. A mulher é dotada de dons como a paciência e o amor materno, e isso influenciou sim muitas vezes na escolha da profissão, ora por fuga de sua realidade ora por querer ensinar, uma pessoa que sempre me inspirou

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foi minha mãe. Eu sempre fui muito curiosa, e a Esther Grossi sempre me influenciou, pois ela acreditava em todos os alunos, assim como eu. Cabe a nós encontrar o jeito de chegar até o aluno, todos têm condições de aprender alguma coisa.

Aqui se percebe que, muitas vezes, a vocação de ensinar não era tão importante, pois a única saída para as mulheres ainda era o magistério, a fuga de uma vida de submissão e uma oportunidade de crescimento profissional e pessoal. Então, ser professora era uma profissão de prestígio, respeito e reconhecimento perante a sociedade.

As alegrias que a profissão lhe ofereceu também foram muitas, saber que se está realizando um bom trabalho e deixando marcas positivas nas pessoas faz muita diferença. Saber que várias gerações da mesma família passaram por seus ensinamentos a deixava muito orgulhosa. Ela relata:

Eu tive muitas alegrias e muito reconhecimento também, mas acho que satisfação que eu pude experimentar foi o reconhecimento do município por me declarar como cidadão pelos trabalhos prestados e, juntamente nesse trabalho, está inserido que Feliz foi declarada a cidade de melhor qualidade de vida em 1998, sendo que esse ano eu fui secretaria de educação. Os dados que oportunizaram Feliz a ter esse índice e desenvolvimento humano de 1992, ano que eu também fui secretária de educação, então eu me sinto duplamente honrada nesse sentido, que Feliz teve reconhecimento brasileiro quando dos cinco indicadores que dão a parte de desenvolvimento humano, três são da educação, mais que 50% é tirado da educação. Foi no meu tempo que, pela primeira vez, Feliz foi declarado o município com o analfabetismo erradicado, foi um dos primeiros municípios que compôs um sistema de educação, sendo várias coisas que conseguimos fazer que me proporcionaram muito prazer e alegria, então eu me sinto realizada porque isso representa pra mim o trabalho que realizei na Feliz como um todo, eu não conseguia separar as escolas estaduais e municipais, se tinha algo a ser agregado para melhorar a educação assim se fazia. Quando me chamaram em 2010 pra essa homenagem, minha mãe ainda vivia, ela ao entender o que isso significava ficou muito feliz, fez referência a meu pai, pois ele dizia que tinha dado estudo pra nós e isso nunca chegava, nós sempre íamos em frente, tínhamos que nos especializar para sermos bons profissionais e as coisas mudam (Professora Nair).

Ao relembrar da homenagem que a Prefeitura realizou, a professora Nair se emociona, e fala com orgulho do que fez pela educação da cidade de Feliz. Pode-se dizer que muitas mulheres foram homenageadas com a figura dela, pessoas que fizeram parte de sua trajetória, tanto no trabalho como na família, pessoas que a apoiaram em momentos difíceis estavam presentes com ela nesse momento. Claro que isso gerou desconforto em algumas pessoas, como no caso de alguns familiares que se recusaram a prestigiar a solenidade. Mas nada atrapalha a alegria sentida e,

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assim, a professora Nair guarda com orgulho e muito carinho a lembrança esse momento.

Figura 1: Homenagem prestada no dia 31-05-2010

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4. A PAIXÃO PELO ENSINAR

Ao ser questionada sobre sua vocação, a professora Nair escreveu a próprio punho, o seguinte relato:

Fui professora durante 50 anos. Comecei em agosto de 1965 e parei em dezembro de 2015.Durante esses 50 anos, além de ensinar, exerci várias atividades relacionadas a ação docente, como diretora de escola,supervisora, coordenadora de curso e supervisora da rede municipal e secretaria municipal de educação, por duas gestões.

No exercício dessas funções, sempre afirmei que o melhor lugar na escola é a sala de aula, o trabalho direo com o aluno traz frutos e recompensas muito gratificantes (SEIBERT, 2015/2016).

Nesta linha de pensamento, com a inserção da mulher na sala de aula, sendo a profissão escolhida por amor, vencendo preconceitos e lutando por direitos, Almeida destaca:

Se por um lado educar e ensinar é uma profissão, por outro lado, não há melhor meio de ensino e aprendizagem do que aquele que é exercido de um ser humano para outro, isso também é um ato de amor. E indo mais além, gostar desse trabalho, acreditar na educação e nela investir como indivíduo também se configura como um ato de paixão, a paixão pelo possível [...]. Talvez resida aí a extrema ambigüidade do ato de ensinar e da presença das mulheres no magistério (1998, p. 76).

A professora Nair segue seu relato:

Até a década de 80, meu trabalho docente era mais intuitivo,desempenhava a ação de ensinar do melhor jeito que podia, pois os recursos eram muito escassos. Era gratificante preparar os alunos parao Exame de Admissão ao Ginásio, que era o vestibular da década de 1960/1970. Em 1971 com a chegada da Lei 5692/71 o Sistema de Ensino foi reordenado, juntando o primário e o Ginásio para constituir o Ensino Fundamental de 8 séries, distribuído em duas etapas: curicular por atividades e curricular por área. Esta lei fortaleceu a ideia do aprender a fazer para preparar a mão de obra sem a construção dos saberes básicos. Esta lei vigorou até dezembro de 1996 quando foi aprovado a lei 9394 que reorganizava mais uma vez a educação. Durante a década de 1960/1970 e início de 1980 pouco se refletia sobre os princípios que reagiam a ação pedagógica na época. O professor ensinava os conteúdos propostos pelo sistemade ensino, os recursos eram escassos mas as crianças aprendiam.

Sempre busquei fazer o melhor pormeus alunos, e me alegrava quando os olhos das crianças brilhavam por terem aprendido saberes, transformando-os em conhecimento. Com as ideias de Ester Grtransformando-ossi, que diziam que todtransformando-os tem condições de aprender, desde que fosse resopeitado o seu ritmo, desencadeou em mim a vontade de estudar mais e aperfeiçoar-me para contribuir com meu saber, tornando os professores da rede municipal mais

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cientes da função de ensinar. Então eu estudava a teoria para melhorar a prática .

Vivenciei muitas experiências gratificantes neste períodoe foi um crescimento pessoal muito significativo. Já em 2000, dediquei meu trabalho no Colégio Prof. Jacob Milton Bennemann com o curso nomal, claro que em plena virada do século as coisas mudaram, as meninas agora podem frequentar a escola(risos). Como professores sempre somos e seremos semeadores, mas temos o compromisso de semear a “boa” semente...pois ela dá frutos que também precisam ser bons, estamos trabalhando com seres humanos. A lei da vida afirma que sempre colhemos o que semeamos, por isso sempre procurei dar o melhor de mim, e fui reconhecida por isso (SEIBERT, 2015/2016).

Neste viés, ressaltando sobre a profissão professor, Almeida nos diz que:

Se por um lado, é mal remunerada e pouco reconhecida pelo poder público, por outro lado é detentora de um determinado prestígio resultante da questão cultural, que aloca os professores e professoras como os principais agentes de sua divulgação (ALMEIDA, 1998, p. 206).

Analisando essa conjuntura, percebe-se que a figura do professor tinha um papel de reconhecimento e prestígio, ser professor era um orgulho e todos o respeitavam. Claro que, com o passar das décadas, os valores foram mudando, a sociedade capitalista cada vez mais preocupada com o ter, onde todos nós estamos correndo contra o tempo,em busca de certo status social e de felicidade. Mas, ainda assim, o papel do professor é de fundamental importância, que vai além do ensinar conteúdos, tendo que desempenhar um papel de amigo, mãe, psicólogo, enfim, ajudar esses jovens a se tornar pessoas mais críticas, autônomas a serem sujeitos melhores. Não podemos esquecer das dificuldades que a educação enfrenta, os baixos salários, os preconceitos referentes a classe ainda perduram, mas por outro lado, o reconhecimento da sociedade e dos alunos ainda fazem a diferença. A professora Nair continua a falar sobre o seu amor pela educação:

A paixão de ensinar nasceu comigo. Acredito que foi um dos talentos concedidos pelo Altíssimo e procurei servir a sociedade com aquilo que melhor sabia fazer: ensinar, despertar a curiosidade, mediar a aprendizagem, observar e verificar se o aluno realmente aprendeu. Do meu legado profissional não tenho muitas fotos, mas tem-se muitas experiências e vivências compartilhadas e resultados que confirmam o acerto da minha ação de professor e mestre, por exemplo, tive o prazer de ser professora de três gerações de uma mesma família. Hoje, com 68 anos de idade, dos quais dediquei 50 anos a educação, sinto que cumpri meu dever e estou muito feliz pelo trabalho realizado, pois nunca poupei esforços para fazer bem feito o trabalho de ensinar. As marcas da minha presença estão presentes em muitas escolas, na secretaria de educação e em muitos cadernos de alunos. Contribui com pensamento, ações e palavras para tornar a sociedade um pouco melhor. Olho pra traz com nostalgia e sinto-me abençoada e grata pela profissão que escolhi (Professora Nair).

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Nair Seibert Melita

Aqui pode-se citar Hegel, que nos diz: “nada de grande se faz sem paixão” (PENSADOR, [2016]), pois sem amor, dedicação não se pode almejar grandes resultados. No caso da entrevistada, professora Nair, a paixão pelo magistério a fez buscar sempre mais: mais dedicação, mais conhecimento, mais envolvimento com o processo ensino-aprendizagem, tendo na escolha de sua profissão uma realização pessoal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Começo minha reflexão com uma frase da célebre Bertha Lutz, “faça da educação um prazer” (apud LÔBO, 2010, p. 11). Ela é uma feminista que lutou por igualdade de gênero e é conhecida como uma das líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras, buscando assegurar às mulheres direitos básicos, respeito e reconhecimento social. Analisando a conjuntura da vida da professora Nair e todas as suas conquistas, dá pra se dizer que tudo o que ela fez foi com amor e encontrou na educação a felicidadeque tantos almejam.

Seguindo essa linha de pensamento, Bertha Lutz (apud LÔBO, 2010) ainda nos diz que: “Recusar à mulher a igualdade de direitos em virtude do sexo é denegar justiça à metade da população”. As mulheres foram oprimidas durante séculos, tendo seus direitos usurpados em muitos casos, tendo sua voz calada em prol de uma sociedade dominada pela opinião masculina, devendo a mulher ser submissa aos seus pais e ao seu marido. Com o avanço tecnológico e as lutas feministas em todo o mundo impulsionou-se a acenssão da mulher no mundo do trabalho, e a abertura da educação para as meninas contribuiu muito para esse processo. Com a feminização do magistério, as mulheres foram conquistarando respeito frente à sociedade patriarcal, conseguindo articular trabalho com os afazeres domésticos dando ênfase as lutas e conquistas feministas. “Para as mulheres, educar-se e instruir-se, mais do que nunca, era uma forma de quebrar grilhões domésticos e de sair para o espaço público, adequando-se às normas sociais e às exigências da vida pessoal” (ALMEIDA, 2000, p. 9).

Na esteira das ideias de Almeida (2009), pode-se dizer que para vencer as amarras sociais a única maneira encontrada pelas mulheres seria a instrução, pois por longo tempo elas se mantiveram praticamente analfabetas. A permissão legal de acesso geral a educação, sem restrições deu-se de forma concisa com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1971, que dava acesso ao ensino secundário nas instituições públicas.

Conclui-se que o processo de feminização do magistério abriu portas para quem não podia frequentar a escola, e que as instituições religiosas auxiliaram e

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muito nessa escolha, dando ferramentas e o suporte para as moças poderem estudar em colégios religiosos, contribuindo para que as meninas, no caso, a Dona Nair, pudessem sonhar com uma profissão de respeito na época, sem abrir mão do papel de mulher, dona de casa e mãe, pois se via no magistério uma extensão da maternidade. Pode-se afirmar que com a inserção das mulheres em sala de aula, os homens, antes tidos como detentores desse setor, foram perdendo campo de atuação, sendo que o magistério se tornou uma profissão essencialmente feminina. Todavia, aos poucos eles vêm retornando para o trabalho docente, sendo que muitas vezes, no contexto atual, quem sofre com preconceitos é a classe masculina.

Então, para poder entender o contexto atual, faz-se necessário conhecer a história da educação, no caso em especial, pelos olhos de uma professora, que vivenciou esse processo, sendo que conseguiu conquistar o que tanto buscou, ajudou na construção histórica da educação de sua cidade, estando sempre à frente de sua época para, assim, tornar o ensino de qualidade. Espero que como futura professora possa realizar trabalhos tão grandiosos como o da Dona Nair e que ela seja exemplo para muitos que desejam seguir na difícil tarefa de ensinar e educar.

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REFERÊNCIAS

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Memórias da Educação no Brasil, Vol. I: Séculos XVI-XVIII. 4. ed. Petrópolis, RJ:

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APÊNDICE C– ENCONTRO DA TURMA DO CURSO NORMAL APÓS 50 ANOS DA FORMATURA

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