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Toxicomania: um sintoma social da contemporaneidade

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

CÁSSIA CASSOL

TOXICOMANIA: UM SINTOMA SOCIAL DA CONTEMPORANEIDADE

SANTA ROSA

2013

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CÁSSIA CASSOL

TOXICOMANIA: UM SINTOMA SOCIAL DA CONTEMPORANEIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial ao curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio

Grande do Sul – UNIJUI, para obtenção

do título de psicólogo.

Departamento de Humanidades e

Educação – DHE.

Orientador: Daniel Ruwer

Santa Rosa

2013

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CÁSSIA CASSOL

TOXICOMANIA: UM SINTOMA SOCIAL DA CONTEMPORANEIDADE

BANCA EXAMINADORA

_________________________ Me. DANIEL RUWER

_______________________________ Ma. KÊNIA SPOLTI FREIRE

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DEDICATÓRIA

Este trabalho de pesquisa é dedicado à meu pai, Antônio, que possibilitou minha entrada na vida acadêmica e que com sua dedicação e trabalho me proporcionou a realização deste sonho, onde por vezes fez de meu sonho o seu. A ele toda minha gratidão e carinho.

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AGRADECIMENTOS:

A minha família e amigos, em especial ao meu pai, minha mãe, meus irmãos e ao meu namorado, que sempre me deram apoio e me encorajaram a buscar os meus objetivos.

Aos colegas de graduação que fizeram parte de todas as etapas da minha formação.

A todos os professores do curso de Psicologia, que com seus preciosos ensinamentos contribuíram para que este momento se realizasse.

Em especial ao orientador, Daniel Ruwer, pelos valiosos e imprescindíveis esclarecimentos, que com suas orientações possibilitou o êxito de minha pesquisa.

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Aqui ninguém vai pro céu

Então me deixa tocar você mais uma vez Me perder assim parece uma boa opção agora Sentir a pele queimar e me derreter com seus sussurros

Vou jogando tudo pra fora. A palavra, a verdade, a pressa

Procurando em você o descanso para meus males

A cura para os meus pesadelos

Continuo caminhando e carregando comigo Desejo, ciúme, saudade

E você, que me cura e me vicia nesse mal Sem se quer perceber.

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-TOXICOMANIA: UM SINTOMA SOCIAL DA CONTEMPORANEIDADE

CÁSSIA CASSOL

ORIENTADOR: DANIEL RUWER

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta uma pesquisa bibliográfica acerca do tema toxicomania. Tem como referencial teórico a psicanálise para debater a temática proposta, articulando a toxicomania como um sintoma social contemporâneo. Entende que a cultura afeta diretamente nossas vivências. Discute o que é sintoma social e como ele se produz discursivamente no sujeito como toxicomania. O trabalho concebe que a toxicomania se organiza pelo discurso da contemporaneidade, uma vez que o capitalismo altera todas as relações socais do sujeito e configura a todo o momento um sintoma, possibilitando-lhe, através dela, uma maneira de gozo Outro.

Palavras-chave: toxicomania; sintoma social; contemporaneidade; gozo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 08

1 SINTOMA SOCIAL E A CONTEMPORANEIDADE ... 10

2 TOXICOMANIA ... 22

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 31

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia é delimitado pela linha teórica psicanalítica e propõe a abordagem do tema toxicomania como um sintoma social. Para tanto, utiliza-se de uma metodologia qualitativa, realizando uma análise textual, temática e interpretativa do tema proposto. Apresenta exposições acerca da toxicomania, como sendo produzida pelo discurso da contemporaneidade. Essa produção só é possível pela configuração atual do mundo contemporâneo, onde o capitalismo impera, e impõe aos sujeitos o consumo como possibilidade de existência, gerando assim sintomas sociais.

Inicialmente, nas observações do primeiro capítulo - Sintoma social e a contemporaneidade - aborda-se, de uma forma mais ampla, o significado da palavra sintoma, situa-se sobre ele um olhar a partir de uma breve exposição da constituição do sujeito, das regras e leis que são constitutivas de todos os sujeitos, sendo aquelas necessárias para que estes constituam sua estrutura. Elabora-se, também, uma análise do sintoma para a medicina e, a partir de então, do seu significado para a psicanálise. Para esta, o sintoma é trabalhado como uma verdade do sujeito, algo que não poderia ser aceito em sua forma original e que tem acesso à vida do sujeito de forma sintomática, caracterizando-o como um novo modo de gozo.

O primeiro capítulo traz, ainda, a constatação levantada por Freud (1930), na qual a civilização é apontada como causa do mal-estar, estando este inerente a toda constituição psíquica. Apresenta-se o que é e como se constitui o sintoma social e, também, as principais características do mundo em que estamos inseridos, em que se sobressai, como traço organizador de toda a sociedade, o capitalismo. É justamente a partir dessa característica que é possível pensar na toxicomania como um discurso dominante da época atual.

O segundo capítulo - Toxicomania - aponta a presença, na história da humanidade, pela busca por substâncias químicas e a chegada ao que hoje se pode chamar de toxicomania, não a delimitando simplesmente a uma dependência química. São apresentadas neste capítulo questões que não permitem que o toxicômano seja pensado como produto estritamente relacionado à parte orgânica do indivíduo.

Sustenta-se também a teoria de Melman (1992), que afirma a toxicomania como um sintoma social decorrente do discurso da atualidade, no qual, segundo o

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autor, o objeto que o toxicômano encontra com o seu ato de intoxicar-se é, para ele, um equivalente do objeto a. Na sequência, o capítulo aborda especificamente o gozo do toxicômano, momento em que este sujeito se encontra em uma relação direta com o objeto de gozo, sem necessitar de mediadores para que isso ocorra.

Ainda no segundo capítulo, a toxicomania é abordada como uma grande inimiga dos vínculos sociais, pois coloca em risco o social, sendo pensada como uma maneira de o sujeito não precisar de mais ninguém, apenas do seu tóxico para satisfazer-se e, assim, desvincula-se do outro. É caracterizada como um sintoma social por ser considerada como uma forma privada de gozar, quando passa a existir uma exclusão do outro para o sujeito. A droga é entendida como um remédio ao mal-estar que constitui todos os sujeitos e que possibilita uma baixa de tensões até o ideal buscado, que é o da morte.

Pensa-se a toxicomania como um discurso da contemporaneidade, por estar vinculada diretamente à demanda de consumo da sociedade capitalista em que o sujeito responde ao discurso do capitalismo pelo consumo de tóxico, pois nesse sistema o toxicômano consome e é consumido. A partir disso, o capítulo é concluído com críticas ao capitalismo e à configuração do discurso atual da contemporaneidade.

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1 SINTOMA SOCIAL E A CONTEMPORANEIDADE

Neste capítulo, apresenta-se o que é sintoma, caracterizando também como se constitui um sintoma social, partindo de uma explanação sobre o caminho percorrido pelo sujeito, que hoje denominamos de contemporâneo, e de como se chegou a este momento da história. Caracteriza-se a sociedade em que vivemos. Que tempo é esse, em que cultura estamos situados e o que esta cultura vem produzindo no sujeito, enquanto sintomas sociais na atualidade.

O primeiro capítulo é utilizado como um aporte para o debate que será desenvolvido no decorrer deste trabalho sobre a toxicomania, tema central desta pesquisa. Será apresentado o conceito de sintoma social, justamente porque buscamos justificar, no decorrer de nosso estudo, que a toxicomania configura-se como tal, respondendo ao discurso que se configurou na contemporaneidade.

Todo sujeito é inscrito em um discurso após seu nascimento, o discurso da cultura no qual está inserido. O sujeito, ao nascer, depara-se com um mundo já formado, um mundo que já existia e já estava em funcionamento muito antes do seu nascimento, um mundo com regras e leis que são impostas a todos pelo social, pela sociedade e pela cultura em que cada um vive.

O primeiro grupo social constituído de regras e leis, em que o sujeito irá ser inserido após seu nascimento, será o seu grupo familiar, seu pai e sua mãe, não necessariamente os biológicos, mas sim quem vier a ocupar essas posições na vida desse sujeito. Esses serão os primeiros responsáveis por lhe apresentarem o mundo e por inseri-lo na cultura da qual fazem parte.

Faz-se indispensável que, para a constituição psíquica do que acaba de nascer, exista um agente da função materna, e um agente da função paterna, não estando essas funções ligadas aos progenitores biológicos do sujeito. Essas funções são indispensáveis para a organização psíquica desse ser que se encontra em constituição.

Para que o sujeito entre na vida social, o seu gozo1 é limitado, regulado

pelo complexo de castração2. É esse o preço a pagar pela entrada no social e é a

1

Gozo: conceito central na teoria lacaniana, considerado estruturante de toda a economia psíquica do sujeito, é o que transgride o princípio do prazer, estando em seu mais além. Portanto, relaciona-se com a repetição e com a satisfação da pulsão de morte.

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Para Freud, conjunto das consequências subjetivas, principalmente inconscientes determinadas pela ameaça de castração, no homem, e na ausência de pênis na mulher. Para Lacan,

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função paterna a responsável por essa castração, pela introjeção da lei, tendo função reguladora do psiquismo. Através dessa limitação e regulamentação, o sujeito não poderá ter tudo, não poderá alcançar uma satisfação plena de todos os seus desejos, “não poderás gozar de tudo e sobre tudo”.

A partir dessas limitações, da imposição da lei, é que o sujeito recalca experiências edípicas originárias, as quais sua consciência não suportaria e é desses recalcamentos que surgem os sintomas.

A palavra sintoma tem origem do Latim e do Grego, como symptoma, tendo como significado “acontecimento, possibilidade, o que cai junto com algo mais”. Para a medicina, sintoma é considerado uma manifestação, um sinalizador de uma doença ou síndrome, é um sinal de alerta, de que algo não está bem, está fora do lugar.

Segundo a literatura médica, sintoma é qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não consistir-se em um indício de doença. É a queixa relatada pelo paciente, mas que só ele consegue perceber. Na medicina, é dotado de sentido e compete ao médico essa significação.

Porém, a descrição de sintoma de que aqui se pretende ocupar é aquela utilizada pela psicanálise, na qual o sintoma também é dotado de sentido, mas não se refere a algo detectado fisicamente no organismo. O sentido do sintoma que se vai utilizar no presente trabalho refere-se àquele situado e criado no inconsciente do sujeito e que só pode ser compreendido e aprendido dentro da história de cada sujeito. Segundo Lacan:

Por natureza, o sintoma não é como o acting out, que pede a interpretação, pois – esquecemos isso em demasia – o que a análise descobre sobre o sintoma é que ele não é um apelo ao Outro, não é aquilo que mostra ao Outro. O sintoma, por natureza, é gozo, (...) gozo encoberto (...), ele se basta. (LACAN, 2005, p.140).

Na perspectiva freudiana as manifestações sintomáticas, assim como os

chistes, sonhos3 e atos falhos4, são manifestações do recalcado. Para Freud o

sintoma é o retorno do recalcado.

conjunto dessas mesmas consequências, enquanto determinadas pela submissão do sujeito ao significante. (CHEMAMA, 1995 p.30).

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Formação do inconsciente; rébus cuja estrutura de linguagem permite a decifração e o reconhecimento, pelo sujeito de seu desejo. (CHEMAMA, 1995, p.204).

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Encontramos em Roudinesco a seguinte descrição para recalque:

[...] O recalque designa o processo que visa a manter no inconsciente todas as ideias e representações ligadas às pulsões e cuja realização, produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo, transformando-se em fonte de desprazer. Freud considera que o recalque é constitutivo do núcleo original do inconsciente. (ROUDINESCO, 1998, p.647).

Durante o processo de recalcamento, algo sempre irá escapar do inconsciente, deixará rastros, algo que em sua forma original não seria aceito pela consciência e retornará a ela sob a forma de sintoma, sendo assim, aceito pela consciência sem causar mal-estar ao sujeito.

Segundo Freud (1917) os sintomas têm sentidos e se relacionam com as experiências do paciente, tendo sempre conexão com a vida e encontra-se em um estado de quem os produz. Todo sintoma é um ajuste entre um desejo e sua realização.

Assim sendo, todo sintoma, por mais incoerente que possa parecer, tem um sentido a ser revelado pela interpretação que se faz da história do paciente, do relato que o sujeito mesmo faz de suas recordações, sensações e até mesmo da descrição de seu sintoma. Ele é uma formação substitutiva, um caminho para que a libido possa se manifestar livremente, sem que novamente sofra a ação do recalcamento.

Freud aponta o sintoma como a realização de uma fantasia de cunho sexual, representando em parte, ou em sua totalidade, a sexualidade do sujeito, pois sempre é dotado de sentido. Mesmo que seja um sentido inconsciente, ele traz consigo uma mensagem sobre o sujeito, ainda que este nada saiba sobre isto. O sintoma é consequência de um processo de recalcamento, é algo que quer ser dito e não encontra outra maneira de manifestar-se, tornando-se assim uma maneira de o recalcado poder se expressar, se manifestar.

O sintoma é um desejo recalcado que deve ser acolhido e decifrado, pois possui uma mensagem a ser decodificada partindo da experiência analítica, assim, pode ter uma significação a partir de uma interpretação em análise. O sintoma sempre diz uma verdade, traz uma mensagem de verdade. O que se revela com o

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Ato pelo qual um sujeito substitui, sem querer, um projeto ou uma intenção a que visa deliberadamente, por uma ação ou conduta totalmente imprevistas. (CHEMAMA, 1995, p.18).

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sintoma não é a verdade sobre a doença, mas a verdade sobre o sujeito, pois ele é constituinte do sujeito e do eu, sempre dizendo da verdade do sujeito.

Na neurose, o sintoma irá sempre se referir à dimensão Edípica. Uma fala escondida, sempre à espera de ser descoberta, decifrada. Uma formação metafórica de onde é permitida uma satisfação sexual que, anteriormente, no momento da constituição psíquica, foi obrigada a ser deixada de lado em nome do laço social, em nome da entrada do sujeito na cultura.

Conforme Lacan (2005), assim como o inconsciente, o sintoma também é estruturado como linguagem, pois fala sobre o sujeito e sempre há uma satisfação de desejos, mesmo que essa satisfação ocorra ao contrário, “às avessas”. Para ele, o homem é marcado, é perturbado por tudo aquilo a que se chama sintoma, na medida em que o sintoma é aquilo que o liga aos seus desejos.

Uma definição que pode ser usada para sintoma na psicanálise e neste contexto encaixa-se perfeitamente é:

Sintoma é a implicação inconsciente do sujeito e, portanto, é signo da operação de recalque pela qual o sujeito se constitui em sua unicidade. O sintoma é mensagem cifrada de gozo. Portanto, além de metáfora do conflito psíquico do sujeito, e por isso mesmo, o sintoma é modalidade singular pela qual o neurótico goza. (QUINET, 1999 p.203).

Seria justamente o sintoma que permitiria, de forma particular, a inscrição do sujeito no social, no discurso, pois é da ordem de um novo modo de gozo. As leis da linguagem, da língua, causam ao mesmo tempo o mal-estar e o sintoma.

O social seria justamente aquilo que os sujeitos têm em comum, o mal-estar, a dor inerente à constituição humana, que tornasse constituinte do sujeito, assim como Freud (1930) nos revela em seu texto: O mal-estar na civilização, a cultura e a civilização são causas de mal-estar no sujeito. É a partir de limites impostos pela cultura que o sujeito entra no social. Esses limites impostos seriam justamente o motivo de sua insatisfação permanente, a causa desse mal-estar. Esse seria o preço que o sujeito tem que pagar por se civilizar, por entrar no social, sendo justamente por esses limites impostos pela civilização que o ser humano torna-se sujeito.

O mal-estar seria proveniente da ausência de um objeto que supostamente satisfaria em sua totalidade o desejo, pois esse objeto que causa plena satisfação está para sempre perdido e sua satisfação será sempre parcial, marcada pela parcialidade. O vazio e a falta podem ser vistos como constituintes da subjetividade

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humana. Freud aponta como três as fontes de sofrimento com as quais o sujeito se depara durante a vida: o corpo condenado à falência, o mundo externo e o relacionamento entre os homens.

À medida que o social se altera, alteram-se as relações do sujeito com o mundo e alteram-se os sintomas. É o social que responde aos laços do sujeito com o outro. O social seria justamente um laço entre o sujeito e o outro.

A sociedade mudou rapidamente nas últimas décadas, e os sintomas também não são mais os mesmos de outrora, pois variam de acordo com o discurso vigente em cada época e repercutem diretamente na forma de subjetivação e na configuração de sintomas sociais. Como Calligaris assinala:

[...] O sintoma é sempre social. Nesta afirmação, aliás, nenhum sociologismo: pois o que chamamos de individual, a singularidade é sempre o efeito de uma rede discursiva, que é a rede mesma do coletivo. (CALLIGARIS, 1991, p.12).

O sintoma vem dizer sobre uma verdade, estando submetido e provocado pelo discurso dominante em uma determinada época e que se organiza a partir da relação com a linguagem, assim como Melman descreve:

Não basta que um grande número de indivíduos em uma comunidade seja atingido por algo para que isso se transforme em um sintoma social. [...] Mas pode-se falar de sintoma social a partir do momento em que a toxicomania é de certo modo inscrita, mesmo que seja nas entrelinhas, de forma não articulada como tal, no discurso dominante de uma sociedade em uma dada época. (MELMAN, 1992, p.66).

As estruturas discursivas determinam as formas de funcionamento do laço social e do curso da história, na qual o sujeito se encontra por vezes alienado. É a partir dessa articulação do discurso que vão surgir os sintomas sociais. O discurso, segundo Chemama (1995), é uma forma de estruturação da linguagem que organiza a comunicação e a relação dos sujeitos com os significantes e com o objeto, que regula e determina as formas do vínculo social do sujeito.

Segundo Jerusalinsky (1994), outra forma de caracterizar o sintoma social é considerando-o como uma tentativa de simbolizar o real, pois a linguagem não consegue recobrir de forma adequada o sintoma social. É uma forma de metáfora sobre uma verdade a cercada civilização, uma vez que o sintoma não é individual, o social é o sintoma.

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Analisando os sintomas sociais de determinada época, pode-se chegar às características da cultura e do social na época em questão e ao discurso vigente em determinada cultura.

Toda fala, assim como todo sintoma, sempre será remetida a um outro, sempre possui um endereçamento. Nas últimas décadas, segundo Kehl (2002), os discursos predominantes a respeito do que a vida deve ser, têm se empobrecido cada vez mais, à medida que se apoiam cada vez menos nas razões filosóficas e cada vez mais nas razões do mercado, já que as razões de mercado são facilmente substituídas e alteram-se com facilidade.

Segundo Freud (1920 - 1923) em Psicologia das massas e análise do eu, nos surpreendemos quando percebemos que o outro está sempre falando em nós, o sintoma social está sempre dizendo o que somos, do meio em que vivemos e em que cultura estamos inseridos.

Nesta lógica, busca-se entender as características da atualidade deve-se então observar os sintomas predominantes da época em que estamos situados. A partir dos sintomas da contemporaneidade, é possível analisar a configuração social da época atual, pois todo sintoma caracteriza uma época, e descreve a que está sendo vivida.

O sintoma social seria a disfunção, sinal de uma doença no social e, por trás dele, estaria uma verdade escondida sobre o momento atual da sociedade. Cada época oferece tipos de gozos que são toleráveis socialmente, estando os sintomas atuais condicionados ao discurso do mercado capitalista. Esse exige hoje que os sujeitos se submetam às necessidades do consumo. Pensando assim, neste mercado, os sujeitos são consumidores de objetos e, automaticamente, também objetos de consumo. Como já foi abordado anteriormente, se o sintoma diz da verdade do sujeito, o sintoma social diz sobre a verdade da época em que se vive.

A partir dessa afirmação, faz-se necessário então que seja abordado que tempo é esse em que estamos situados e, para entender os sintomas predominantes da contemporaneidade, é imprescindível que seja feita uma análise da configuração social do nosso tempo, do que a atualidade produz em nós

enquanto sujeitos, tornando necessário entender o que é essa tal

contemporaneidade, esse mundo capitalista, como ele surge e tudo o que trouxe consigo seus efeitos e suas consequências no social e no sujeito. Para isso será abordada, mesmo que de forma resumida, a história de como se chegou à

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contemporaneidade, para que se faça possível entender como ela se organizou e as consequências que as organizações sociais e as alterações trouxeram à sociedade em que vivemos.

Vários fatos marcaram a história da civilização para que se chegasse aos tempos atuais, mas podem-se citar como fatos mais marcantes a primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, o processo de urbanização, a era industrial, e o surgimento de uma nova camada social denominada Burguesia.

Anterior à nova classe denominada Burguesia, a elite da sociedade era formada pelos nobres chamados de sangue azul: reis, príncipes, condes, duques, e descendentes da família real, que possuíam ‘‘algum’’ título de nobreza. Mas após várias transformações e a falência de muitos dos ‘‘nobres’’, apenas o título lhes restou e a sociedade passou a ter como pessoas importantes e de posses os burgueses, pessoas que começaram a sua história trocando e vendendo mercadorias, proprietários dos meios de produção que com isso acumularam grandes riquezas. Nessa nova configuração do topo da elite social, quem passa a ser importante na cultura é quem possui posses, dinheiro, acúmulo de capital e não mais títulos de nobreza e sobrenome. A partir deste fato, ocorrem novas configurações em todo o cenário social.

Após o fim da escravidão, a industrialização chega ao nosso país, o número de imigrantes europeus cresce nas zonas rurais para o cultivo das plantações e nas zonas urbanas para a mão de obra operária.

Assim, a mão de obra passa a ser comercializada e trocada por dinheiro. É no estado chamado moderno que ocorre a exploração da força de trabalho e a urbanização, criada pelos trabalhadores industriais. Com essa urbanização, muitos dos homens passam a não viver mais do cultivo do campo, não provêm mais o alimento para o seu sustento e começam a surgir novas necessidades, impulsionando os interesses capitalistas.

O surgimento dessas novas necessidades faz com que um número muito grande de produtos passe a fazer parte do dia-a-dia, não apenas para suprir às exigências básicas dos trabalhadores (alimentação, moradia, vestuário), mas para impulsionar novas expectativas de compra e, com isso, maior produção, mais venda e mais capital aos grandes industriários.

Desse modo, inventando novos objetos de consumo, começa o que hoje podemos chamar de capitalismo, venda de serviço, de trabalho, de produtos, uma

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era onde tudo pode ser comercializado e vendido, tendo como único valor o valor de capital.

A sociedade capitalista se fundamenta na exploração e na alienação de quase toda a humanidade. Esse modelo de sociedade vem se reproduzindo durante séculos, e essa reprodução se dá cotidiana e permanentemente, produzindo nos sujeitos, através do seu trabalho o seu poder de aquisição, onde a partir do pagamento pelos seus serviços prestados gera uma sensação de satisfação e poder. Essas sensações de satisfação e poder lhes são dados a partir do seu poder de compra.

Para Freud (1978) a satisfação das necessidades humanas só pode ser realizada através do controle sobre a natureza humana e este controle, no mundo capitalista, se realiza por intermédio do trabalho. Isso faz com que quase toda uma civilização realize uma coerção ao trabalho e à repressão dos instintos.

O termo capitalismo não designa apenas um modo de produção com fins exclusivamente lucrativos, de acúmulo de capital, mas se desenvolve também nas relações da cultura, no cotidiano do social atualmente, gerando assim sinais de que algo no social está em contra mão, em contradição, pois a racionalidade do capitalismo gera a irracionalidade nos indivíduos, isto é, a dinâmica do capitalismo faz com que o indivíduo busque sua autodestruição. A sociedade capitalista também se caracteriza como a exploração de uma classe sobre a outra, onde a classe de mais posse é ao mesmo tempo a de mais valor, não somente valor monetário, mas, pessoal também.

Existe uma falsa percepção da realidade que faz com que os indivíduos se refugiem num mundo imaginário, gerando relações artificiais e um número cada vez maior de “novas” doenças. Os problemas psíquicos recebem os nomes da moda, segundo a classificação dos especialistas. Esses, em muitas ocasiões, são produtores e reprodutores do mercado consumidor, pois até mesmo os “doentes” são um alto nicho de consumidores de remédios e de terapias rápidas. A mídia, juntamente com esses “especialistas” vendem curas quase que imediatas com técnicas cada vez mais inovadoras e que prometem a cura do mal-estar com apenas uma pílula, em algumas ocasiões como um passe de mágica.

O descontentamento, a insatisfação e o cansaço, tanto físico quanto psíquico, assolam os sujeitos da sociedade contemporânea, condenados ao

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trabalho, ao lazer e ao mundo generalizado da alienação, da burocratização e da comercialização das relações sociais.

Assim, a sociedade capitalista está organizada pelas relações de consumo.

A sociedade de consumo se caracteriza por ser organizada predominantemente pelas relações de consumo e valores associados, condicionando a produção de bens e serviços. O consumidor, elevado ao status de cidadão de direito, através da recente elaboração dos direitos do consumidor, tem como ideal de vida preponderante sua potência de consumo. O sucesso social e a felicidade pessoal são identificados pelo nível de consumo que um indivíduo tem. O somos o que temos é elevado à condição de ideal social, o hedonismo materialismo, a qualquer preço, triunfa. Se não temos, não somos. O potencial de consumo determina o grau de inclusão social ou de exclusão social, de sucesso ou de insucesso, de felicidade ou de infelicidade. (BETTS, 2004, p.67).

A sociedade contemporânea é regida pelas relações de consumo, decorrentes do capitalismo. Sendo assim, impõe aos sujeitos uma cultura de consumismo desenfreado e inconsequente como única possibilidade de existência. Esta obriga o sujeito a trabalhar cada vez mais para poder acumular capital e faz crer que quanto mais capital acumulado mais valor ele possui. Nessa relação de sujeito e acúmulo, acumula-se não apenas capital, mas objetos. O importante é acumular e quanto mais, melhor, mais valorizado é o sujeito, mesmo que este não saiba para quê, ou qual o motivo de trabalhar cada vez mais e acumular cada vez mais.

Existe nesta sociedade uma busca, entre os indivíduos, por status, prestigio e poder. Essa competição está ligada intimamente ao capitalismo que cria um processo de mercado e burocratização até mesmo nas relações sociais e pessoais, pois tudo passa a ser medido pelo seu valor de troca. As próprias pessoas são medidas pelo que possuem e não pelo que são. Nesta lógica o consumismo desenfreado é impulsionado e motivado cada vez mais na seguinte lógica: ter mais para ser mais, pode mais quem tem mais.

Vive-se na era da instantaneidade, onde não são apenas as comidas que são instantâneas, que podem ser feitas em minutos, mas todas as relações que envolvem o ser humano também vêm se configurando com essa característica. Tudo possui prazo de validade, que é cada vez mais curto. Uma sociedade instantânea, na qual as pessoas se encantam com os shoppings, têm no ato de comprar uma terapia, sentem-se fascinadas pelos automóveis cada vez mais modernos e tecnológicos cujo lançamento do ano passado já foi superado no ano seguinte. Com

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essa troca rápida de produtos, lançamentos cada vez mais superiores que os do ano anterior, quem não consegue acompanhar o acúmulo de bens, sente-se infeliz e se frustra por não acompanhar a lógica do capitalismo.

Para Freud (1930), apesar de o homem ter evoluído muito em termos tecnológicos e científicos, ele pouco ganhou nas relações com o social. E é isso que podemos observar cotidianamente, pois apesar de, na época presente, estar a um clique de milhares de pessoas nas redes sociais, ter inúmeros contatos na agenda do celular, poder se comunicar de uma forma tão rápida nunca vista antes, o ser humano não ganhou em termos de satisfação, de cura do seu mal-estar.

Pelo contrário, como Kehl (2002) também aponta que nunca se vivenciou uma época com tão pouco sentido, nunca as pessoas se sentiram tão sós e tão distantes umas das outras. A cada dia uma nova forma de se comunicar com milhares de pessoas é inventada, é vendida e consumida por milhares na busca de um contato mais próximo com o outro. Existem milhares de formas de comunicação instantânea, seja por mensagens, telefonemas, redes sociais com milhares de ‘’amigos’’ online, nunca as pessoas estiveram tão próximas, a uma tecla uma das outras e ao mesmo tempo tão isoladas do mundo.

A mídia também tem contribuído e reforçado esses padrões de comportamento, associando alguns produtos ao ideário de felicidade e realização, utilizando-se de propagandas cada vez mais criativas para incentivar o consumo de novos produtos como necessidade de felicidade. Com anúncios tão criativos tem-se a esperança e a certeza de que ao adquirir tal bem, a felicidade tão propagada e esperada chegará. Não é raro ver em comerciais frases do tipo: ‘‘compre a casa dos seus sonhos e seja feliz’’, ‘‘tenha a máquina, o carro mais completo da atualidade e complete-se’’, ‘‘adquira tal produto e solucione todos os seus problemas’’ e é nessa lógica, nessa introjeção diária e constante, que a sociedade se organiza cada vez mais em torno de bens de consumo.

Na sociedade contemporânea não há tolerância para nenhum tipo de frustração, pois a busca do prazer imediato, impulsionado pelo consumismo, não permite espaço para a falta.

Assim, todas as dores devem ser rapidamente tamponadas, suas vontades rapidamente supridas, o homem moderno não possui espaço na sua vida para a falta e para as dores. Acredita-se que, com a eliminação dos sintomas, se eliminará

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também a angústia de viver e todas as suas faltas serão solucionadas. Segundo Kehl:

O homem contemporâneo quer ser despojado não apenas da angústia de viver, mas também da responsabilidade de arcar com ela; quer delegar à competência médica e às intervenções químicas a questão fundamental dos destinos das pulsões; quer enfim eliminar a inquietação que o habita em vez de indagar o seu sentido. Mas não percebe que é por isso mesmo que a vida lhe parece cada vez mais vazia mais insignificante (KEHL, 2002, p.8).

Assim como o citado por Kehl (2002), o homem contemporâneo não é mais responsável por suas ações ou sentimentos, não se possibilita sentir nenhum sentimento de dor e angústia, não quer saber o motivo real para seu sofrimento, busca apenas que este seja cessado, independente de qual a causa de sua insatisfação. O buscado na contemporaneidade é a satisfação que não remete a nada além da obtenção do objeto, do acúmulo que cria uma ilusão de que o desejo pode ser satisfeito, sem saber que o objeto de desejo é algo que foi perdido para sempre, e faz com que o sujeito busque uma incansável repetição da busca de objetos que tragam a satisfação, satisfação que nunca encontra sua plenitude, será sempre parcial e, à medida que um bem idealizado como fonte de satisfação plena for adquirido, logo outro o substituirá, seguindo sempre nessa lógica e assim sucessivamente.

A partir da constituição da sociedade contemporânea capitalista, é possível questionar-se quanto ao desenvolvimento de sujeitos saudáveis a partir das definições desta lógica discursiva, da forma como a sociedade está configurada; se as exigências do social sobre os indivíduos e o modo de relação entre eles possibilita que o sujeito possa fazer escolhas para sua vida sem influência direta do capitalismo.

O que se analisa, com base no sujeito definido por Kehl (2002), é que este é tomado pelo discurso capitalista contemporâneo, sem possuir outras escolhas ou possibilidades para sua existência, pois ao fazer parte do social, faz parte automaticamente dos discursos da atualidade.

Esses discursos no mundo contemporâneo estão intimamente ligados aos sintomas sociais, produzidos por essa organização da sociedade, a qual se vincula ao objeto da mesma maneira que faz vinculo com o outro, confundindo em muitos momentos o que é o sujeito e o que é objeto. No mundo atual chegou-se ao extremo

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de se usar as pessoas e amar as coisas, os objetos. Objetos esses que criam a falsa sensação de que o desejo pode ser suprido, sem perceber que a plena satisfação é inacessível a todos os sujeitos.

Nesta perspectiva, na era contemporânea, um sintoma social que se articula como expressão maior dos processos sociais produzidos pelo sujeito moderno é a toxicomania. Esta se caracteriza pela busca que visa responder ao discurso que se faz dominante na atualidade e remete a todo o momento ao pedido de completude, de gozo e de satisfação plena que os sujeitos contemporâneos acreditam poder ter acesso a partir do consumo dos mais diversos bens e, dentre eles, o consumo de drogas.

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2 TOXICOMANIA

“Dizer não é preciso. Desejar não é preciso. Gozar é preciso”. (Fernando Pessoa)

A palavra toxicomania deriva de duas palavras gregas: toxikon (veneno) e mania (loucura). Em sua tradução literal significaria, então, uma loucura por veneno. Nesse contexto se pode definir a toxicomania como sendo a mania de consumir substâncias químicas e tóxicas.

O termo toxicomania indica, de forma simplificada, a relação de um sujeito com a droga, alguém que encontrou uma forma de satisfazer-se pelo uso de substâncias tóxicas, mas não simplesmente um sujeito que se utiliza de substâncias químicas, a toxicomania vai além da utilização de um tóxico.

Se a toxicomania fosse estritamente uma questão produzida na dimensão orgânica, química, bastaria um processo de desintoxicação para, assim, o sujeito livrar-se de sua dependência. Todavia, não é somente pelos seus efeitos químicos que a toxicomania se configura, ela constitui-se por aquilo que o discurso nos impõe.

A partir da leitura de Melman (1992), pensam-se a toxicomania não apenas como uma dependência química, ligada resumidamente às relações dos neurônios e receptores sinápticos, mas como algo que surge da relação do sujeito com a linguagem. A linguagem é o que inscreve o sujeito na cultura e é a partir dessa inscrição que existe o toxicômano. A referência discursiva que circula na contemporaneidade o torna preso nesse discurso. Por isso, se faz de total importância caracterizar que discurso é esse que produz este sintoma social.

Historicamente o uso de substâncias tóxicas faz parte da cultura dos povos pelo mundo de diferentes formas, em diferentes contextos culturais e com diferentes funções, estando ligado ao desejo humano de buscar maneiras de alterar o estado de consciência, associado muitas vezes ao intuito de “modificar” a realidade vivida. Existem relatos da busca dos sujeitos pelas substâncias tóxicas que por vezes se confundem com relatos da própria história da humanidade.

A partir desta afirmação de que historicamente o homem tem buscado formas de alterar seus sentidos pela busca de substâncias químicas, pode-se afirmar que a toxicomania é hoje um sintoma da sociedade contemporânea. Surge,

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neste contexto, o questionamento: o que faz com que a toxicomania esteja hoje articulada com os discursos da atualidade, com que seja um discurso na atualidade?

Como mencionado, o uso de drogas sempre esteve presente na humanidade. É difícil pensar a história do ser humano sem a busca e o uso de alguma substância química que viesse a alterar o funcionamento do organismo. No entanto, a diferença do uso de drogas em outras épocas para a forma de consumo atual é de que na antiguidade os povos buscavam minimizar com elas o efeito das dores orgânicas. As drogas eram usadas em rituais religiosos, outros igualmente se utilizavam delas em rituais de purificação ou para o encontro com deuses. Essa modalidade de uso não se configurava como toxicomania, pois a busca pela substância não era feita com o intuito de encontrar um gozo, um saber sobre como se obter acesso ao gozo que foi negado a todos. É possível considerar que, atualmente, o toxicômano tem acesso de forma indiscriminada com o seu consumo do tóxico.

Sabe-se que hoje a relação com o objeto droga é outra. Ela se apresenta

como outra ordem de objeto (objeto a5), o sujeito encontra-se em relação direta com

o gozo sem mediadores. Todos os objetos que o sujeito vier a ter como objetos de gozo, passam pelo primeiro objeto de satisfação que pode ser o primeiro contato com o corpo materno, o primeiro momento de inscrição de um gozo, que teve de ser abandonado em nome do social. Esse objeto primordial, segundo Melman (1992), é

o Outro6 e é essa perda do objeto que também liga o sujeito ao outro. Com a

toxicomania, o toxicômano pretende chegar à completude, ao encontro com o objeto perdido, não como equivalência do objeto fálico, mas como o próprio objeto perdido. Conforme Melman:

Não podemos pensar a toxicomania senão como uma tentativa de assegurar este gozo do Outro – o luto sendo aqui objetivo – apreender o Outro, e na falta de conseguir aprendê-lo, aprender apenas esta parte que resta do objeto a. Dê uma certa forma, se me permitem esta imagem é uma tentativa de gozar de seus próprio excremento. (MELMAN, 1992, p.70).

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Termo introduzido por Lacan, em 1960, para designar o objeto desejado pelo sujeito e que se furta a ele a ponto de ser não representável, ou de se tornar um “resto” não simbolizável, aparece apenas como uma “falha-a-ser”, a concepção lacaniana do objeto (pequeno) a, como “causa do desejo que se furta ao sujeito”.(ROUDINESCO, 1998 p. 551).

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Segundo Chemama (1993, p. 156) não refere-se a um semelhante, a uma pessoa física e sim a uma instância que dá conta de uma dimensão simbólica, podendo também o Outro ser compreendido como linguagem.

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O toxicômano possui um gozo quase que autístico, que não passa pelo outro. Com a toxicomania ele não necessita de uma mediação com o outro. Na relação é somente ele e a sua droga, e é essa substância que produz um gozo em que existe uma fala sem freio. Mas não é o sujeito que produz essa fala, é a toxicomania que fala por ele. Seria como um desaparecimento, mesmo que momentâneo, do sujeito, uma eliminação breve, que seria buscada por ele.

Com a toxicomania se consegue chegar a um estado onde se anula o sujeito durante o uso que se faz do tóxico. Essa relação com o tóxico constitui-se como uma ruptura do laço social. No entanto, essa afirmação é paradoxal, pois a toxicomania é criada pelo social. Ao mesmo tempo em que toxicômano existe pelo sintoma social, produz esse sintoma para suprir o mal-estar inerente à condição de

existir, com o seu gozo em sua relação dual, sujeito – tóxico afasta-se do social.

Assim, a toxicomania faz com que o sujeito rompa com os laços sociais.

Para Marconi (2009), o termo toxicômano designa o sujeito que se anula em prol do saber de um gozo e define a si mesmo nesta relação que mantém com o gozo. Para o toxicômano, o social passa simplesmente a inexistir em sua relação com o tóxico.

Todavia, a toxicomania constitui-se como sintoma social, sendo um modo particular pelo qual o sujeito encontra uma forma privada de gozar.

Conforme Jerusalinsky (1994), o sintoma social é um gozo sem nome, um gozo Outro, um gozo eu, uma silenciosa negociação com o objeto que, no caso do toxicômano, é o tóxico. Seria um gozo direto, sem mediação e sem uma interdição, tendo em vista que o sujeito toxicômano não precisa de um terceiro para gozar com o uso de substância química. Ele só precisa da droga, é uma relação de dualidade, nada além da droga se faz necessário para que o toxicômano venha a gozar com o seu ato toxicômano.

Pode-se refletir que, da mesma maneira que um sujeito neurótico passa toda sua vida à procura no objeto a, o primeiro objeto “coisa” que provocou nele, quando ainda bebê, a sua primeira experiência de gozo, o toxicômano encontra em sua busca, na sua relação com o tóxico, o equivalente ao objeto a. Em todas as suas vivências posteriores com a droga, sempre irá buscar o primeiro encontro. Suas vivências posteriores com o tóxico o remeterão ao primeiro prazer que seu primeiro contato com o tóxico proporcionou.

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Segundo Melman (1992), a droga se apresenta como saída para o mal-estar, como solução para esse mal-estar que paira sobre toda a humanidade e que é constituinte do mesmo. É com ela que se pode chegar ao gozo pleno, pode-se gozar de si mesmo. Freud (1930) já afirmava que a droga é como um remédio para o mal-estar inerente à constituição humana, e que esse mal-mal-estar se reporta à insatisfação fundamental de que o social e a cultura nos lembram a todo o momento que somos seres faltantes. Dessa forma, compreende-se a toxicomania como um meio de remediar esse mal-estar civilizatório.

Pode-se definir o uso de drogas como sendo uma tentativa de suspensão da existência frente à dor de existir. A intoxicação seria uma forma de suportar o mal-estar necessário imposto ao ser humano que vive em uma determinada civilização. Melman (1992), refere que a droga pode baixar as tensões psíquicas até o ideal buscado, que é o da morte, do que podemos inferir que o toxicômano goza da sua própria morte.

Se a droga assegura ao toxicômano, enquanto isso funciona, um estado de prazer [...] se a droga, então, é suscetível de baixar as tensões psíquicas até este ponto ideal buscado, quer dizer, o da morte, então o toxicômano drogado goza de sua própria morte; vai ao fim que é o gozo de seu próprio excremento. (MELMAN, 1992, p.74).

O excesso de gozo não regularizado pelo Nome do Pai e motivado pela sociedade de consumo, incentiva os sintomas dessa sociedade contemporânea, dando, contudo, origem a novas formas de mal-estar. Pensa-se a toxicomania como um sintoma social que atua por estar vinculada à demanda direta de consumo da sociedade capitalista na qual estamos inseridos. O sujeito passa a responde ao discurso do capitalismo com seu consumo abusivo de tóxicos, fazendo, assim, parte deste discurso sintomático e ganhando, com o uso da toxicomania também o status de consumidor.

Tendo o sujeito toxicômano um consumo abusivo, e cada vez mais voraz, pode-se pensar aqui no vínculo de objeto que o toxicômano constituiu e no modo com que busca o seu encontro, isto é, como goza.

Através da leitura de Melman (1992), chega-se ao questionamento de qual é a lógica que está por traz do ato do toxicômano, este afirma que o que coloca em movimento a busca e o gozo do toxicômano é surpreendentemente o fato de este deixar-se abster, ficar exposto à vulnerabilidade da abstinência tão facilmente.

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Acredita-se que há uma determinação inconsciente desta lógica. Toda vez que entra em uma crise de abstinência, o toxicômano pode gozar duplamente. Diz-se duplamente porque o sujeito goza no momento de falta, por Diz-ser detentor do saber de onde está o objeto que poderia satisfazê-lo plenamente e, também, goza com a satisfação de encontrar o objeto do seu gozo. Referente ao explanado acima Melman escreve:

Se para o toxicômano, o principio do prazer é assegurado por sua droga, o que faz gozo para ele é justamente - como foi observado em várias exposições - o momento de falta, gozo atroz [...] Por que não se organizar com um bom congelador se, se tem uma voracidade dessas? E por que bem ao contrário parece se expor de forma tão paradoxal, parecem se expor tão facilmente a se encontrar em estado de falta. (MELMAN, 1992, p. 74, 75.).

Comparando com um neurótico, que não seja toxicômano, pode-se observar que, enquanto o sujeito neurótico pensa saber qual o objeto que o irá completar, mas constantemente entra em dúvida ou contradição quanto a isso e toda vez que possui este objeto, muda de figura, e assim irá passar por toda a sua vida, de objeto em objeto, sem conseguir chegar àquele que o remeta ao gozo do primeiro objeto de satisfação, o toxicômano sabe onde está o objeto do seu gozo e sabe como ter acesso a ele, tem acesso a este objeto da maneira que quiser e quando o quiser.

Pode-se pensar que, no início desta relação, quem consome o tóxico é o sujeito, mas que com o passar dela, quem acaba sendo consumido é o sujeito, pois este deixa de existir a partir de certo momento. É somente a toxicomania que existe, não existe mais um sujeito, existe um toxicômano que se anula em prol de um gozo sem limites, produzido pelo encontro com o objeto de fato. Melman afirma:

Pela experiência toxicomaníaca, somos conduzidos a esta evidência de que o objeto para nós autêntico do gozo, não o representado, mas o verdadeiro, o real é este. (MELMAN, 1994, p. 70).

Isso talvez explique o motivo pelo qual a toxicomania seja discutida cada vez com mais frequência e importância, e venha sendo tratada com uma seriedade cada vez maior pela sociedade, sendo debatida como um grande problema na contemporaneidade, não somente no Brasil, mas em nível mundial. À medida que o sujeito toxicômano não precisa mais se vincular ao social e exclui o social do seu gozo. Sua relação com o tóxico é avesso ao laço social, não necessitando de nada

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além do seu tóxico para chegar ao lugar desejado. A partir dessa relação de exclusão que o toxicômano faz do social, corre sérios riscos, podendo estar ameaçado e sendo, a partir deste fato, ameaçador para os vínculos sociais.

Recentemente em um artigo publicado no Jornal Zero Hora (2013), o autor descreve os toxicômanos comparando-os com zumbis:

A civilização mecânica e burocrática, onde o pensar não tem vez e consumir é a meta, nos faz zumbis. Embora pareça na contramão de qualquer organização social, a toxicomania na sua forma mais acentuada nos deixa zumbis. Drogados são seres para os quais o mundo se esvaziou de sentido, afinal, só se interessam pelo seu objeto, sua substância mortífera. Ou alguém tem dúvida que as cracolândias não são habitadas por zumbis? O zumbi expressa tanto a obsessão nociva da droga como a anorexia do desejo, essa apatia tão comum, mas que corriqueiramente se confunde com depressão. Zumbi rima com apocalipse, geralmente ele aparece em cenários distópicos. O mundo zumbi é inóspito. Mais por sorte do que por mérito, apenas uma família e amigos se salvam, o resto é inimigo. O olhar político nesses casos beira o simplório: nosso mundo não tem conserto nem esperança, só resta seguir vivendo numa pequena comunidade que se cuida e evitando todos os outros, já que o mundo é, de fato, muito perigoso. (CORSO, 2013, p.8).

Neste contexto, Melman (1992) afirma que, na atualidade, é necessário um sujeito com suas estruturas muito bem definidas para não deixar seduzir-se pelo discurso da sociedade contemporânea, não ser dominado por esse discurso e para não entrar neste estado de zumbi proposto por Corso (2013). Nem mesmo um sujeito que seja obrigado ao uso de substâncias tóxicas irá se tornar um toxicômano, pois não é o uso forçado que fará com que o sujeito o seja. Para isso, é necessário que ocorra nele a inscrição do discurso que está dominante em nossa época e que nos remete a um gozo pleno a partir das toxicomanias.

Melman discorre a respeito de uma mutação cultural à medida que em que isto não é um problema individual, mas social.

Sua propagação não depende somente da inclinação, do gosto ou da “fraqueza psíquica’’ de um sujeito, mas também das incitações que podem ser exercidas pelo meio. E na medida em que a toxicomania não é mais apenas um problema singular, mas também um fenômeno social... O que viria a ilustrar em nosso seio seria o que poderíamos chamar de uma

mutação cultural, isto é haveria mutantes entre nós. Pessoas que neste

caso privilegiam de um gozo original e isto sem levar em conta a preservação da vida. (MELMAN, 1992, p.102).

Percebe-se que existe uma grande fala contra as drogas, contra os traficantes, mas o que não se nota é que ao falar sobre toxicomania não se está

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apenas falando da droga que é vendida ilegalmente, pois a toxicomania vai além desta que somente os pontos de tráficos vendem. A toxicomania, no contexto que aqui é abordado, é mais ampla e está também relacionada aos remédios vendidos em farmácias e drogarias. Esse segundo nome é inclusive muito sugestivo ao que vem a ser explanado. As toxicomanias são um mercado muito amplo e, da mesma maneira que alguém se intoxica com a droga vendida pelo traficante, também se intoxica pelos medicamentos controlados, antidepressivos e calmantes cada vez mais vendidos e adorados mundo afora.

Sabe-se que com o medicamento em alguns casos pode-se tamponar os pedidos da alma (referência à mente, psique) apenas com algumas pílulas mágicas. Tamponar os problemas e dores da existência humana e não ser considerado um dependente químico para a sociedade, não ser considerado um problema para o social, para a mesma sociedade que estimula através de seus meios de

comunicação de massa que se compre de tudo, a qualquer preço, em “n” parcelas.

Sociedade em que a cada dia se inventa um novo medicamento, ou um novo produto como ideal se satisfação, que surge e que nos é vendido como objeto, produto que nos remete à completude.

Estes fatos nos fazem pensar qual seria a fina linha que separaria o uso de drogas vendidas pelos traficantes, das vendidas em drogarias. Sabendo que a principal e predominante característica da sociedade em que vivemos é o capitalismo, as duas movimentam mercados magníficos de venda, com valores de lucros altíssimos que afetam direta ou indiretamente vários setores da economia em toda a sociedade.

Da mesma maneira que ocorre com a droga a qual inicialmente é usada para se chegar ao lugar desejado, alcançar o gozo pleno, mas a partir de certo nível de consumo o toxicômano alega usar a sua dose apenas para conseguir ficar normal, com os usuários de remédios também acontece o mesmo, ele apenas usa o medicamento para conseguir ficar normal, pois sem ele, alega não conseguir mais viver na sua normalidade.

É no real das reações bioquímicas inseridas num contexto de linguagem sígnica que a contemporaneidade procura tornar suportável o crescente mal-estar de viver. Antidepressivos e ansiolíticos tornaram-se duas das drogas mais receitadas (e auto-medicadas) no mundo, de forma generalizada, por um grande número de médicos das mais variadas especialidades, não importando para nada quais sejam os motivos dos

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sintomas da depressão ou da ansiedade. Os motivos do sofrimento do sujeito estão fora de consideração. A solução é a mesma, no máximo variando a dosagem ou a fórmula da droga, prescrita segundo a bioquímica de cada organismo. (BETTS, 2004, p.67).

Essa crescente busca pela indústria farmacêutica se dá da mesma maneira como na busca pela indústria do tráfico, impulsionada pelo modo como se enfrenta e se trata a vida e o mal-estar na civilização. A solução para os mais diversos problemas parece ser encontrada nessa busca pelas adições de drogas, sendo elas ilegais ou não.

Vive-se em um mundo no qual o sujeito possui um espaço cada vez menor, e sua preocupação com ele e com seu bem estar é muito pequena, quase nula. O que ocorre é uma aparente ‘‘preocupação’’ com o bem estar do sujeito, mas isso nada mais é do que uma forma de criar necessidades de consumo e, com isso, mais vendas. O que se esconde atrás disso tudo é um comércio altamente lucrativo.

Percebe-se que não há uma preocupação em saber o que o sujeito sente e de onde tudo isso se gerou. O problema central está na busca de algo muito mais rápido e lucrativo para todo o mercado, inclusive o farmacológico. Tamponar a dor da existência humana, no caso, com a prescrição de medicamentos ou a busca pela droga de sua preferência, faz com que o sujeito se medique, não em função de ocupar-se com sua saúde, mas para lidar com o sofrimento que é constitutivo da civilização.

O Brasil tem certamente o maior número de farmácias por habitante e quilômetro quadrado no mundo. O apelo ao consumo é cotidiano nos meios de comunicação. Basta prestar atenção no marketing veiculado: Tome isso ou aquilo. Persistindo os sintomas, procure um médico. Ou seja, primeiro se auto-medique, se a propaganda não acertar o diagnóstico e o medicamento consumido não resolver, então procure o

médico. Vivemos numa cultura hipocondríaca, afeita à auto

medicação.(BETTS, 2004, p.74).

Melman faz uma associação, no mínimo interessante, quanto às farmácias que trabalham 24 horas. Elas precisam ficar abertas para suprir a angústia de todas as lojas fecharem a partir de certo horário e também para sanar a busca pela droga, “onde a droga é, sem dúvida, a melhor maneira de se desembaraçar, de apaziguar o que concerne a dor de existir” (1992, p.84).

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Segundo Betts (2004), é evidente que essa sociedade de consumo induz à adição de drogas e essa indução faz da toxicomania um sintoma social maníaco, pois o potencial de consumo determina o grau de inclusão ou de exclusão social. Por isso se torna cada vez mais real a afirmação de que somos o que consumimos, ou, neste sentido das toxicomanias, para ser é necessário que se consuma e que se adicione um tóxico à realidade, à vida.

Nesta lógica, a famosa frase de Willian Shakespeare ‘‘ser ou não ser, eis a questão’’ sendo alterada para: “ter ou não ser”, resume em poucas palavras a sociedade de consumo na qual estamos situados. Sem ter acesso ao objeto de consumo, o sujeito não é visto como alguém. Altera-se assim, também a famosa frase de Descartes para “possuo, logo existo” ou “uso, logo existo”. Resumidamente, essas frases alteradas caracterizam perfeitamente a contemporaneidade e seu sintoma toxicomaníaco.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização do presente estudo possibilitou perceber que as mudanças culturais e econômicas afetam diretamente os sujeitos contemporâneos e, na medida em que as configurações sociais se alteram, mudam também os sintomas sociais da época. Nesta perspectiva, foi de suma importância a retomada histórica da sociedade e da origem do uso de substâncias tóxicas pelo ser humano, tornando possível uma reflexão a partir dos dados pesquisados.

O resgate da história pela busca e pelo uso de sustâncias para alterar os sentidos do homem confundiu-se, por vezes, com a própria história da civilização. Mesmo que o relato da busca por substâncias tóxicas seja algo tão antigo, ao longo deste trabalho, pode-se perceber que a toxicomania passou a ser identificada a partir do advento contemporâneo do capitalismo, apontado como marco inicial no século XIX com a Revolução Industrial, que funda a configuração do que vai se elaborar como capitalismo tardio. Nesse contexto, o uso de drogas passou a ter expressivo consumo e as toxicomanias passaram a ser objetos de consumo, possuindo, como os demais produtos do mercado valor de venda e troca.

Pode-se compreender a busca pela toxicomania como um meio encontrado pelo sujeito para buscar a sua completude, preencher o vazio, o mal-estar constitutivo característico de todos os sujeitos. Uma maneira de tentar tamponar a falta, regulamentada pela castração, pela cultura e pelo social.

A toxicomania está diretamente ligada ao sintoma capitalista que nos remete a todo o momento que consumir é traço central da existência e que só é possível suportar a existência a partir de um consumo desenfreado.

Tanto Freud, quanto Lacan, cada um a seu modo, mesmo sem terem se detido a escrever exclusivamente sobre a relação do sujeito com o tóxico, discorreram em alguns de seus trabalhos muito sabiamente sobre a busca do sujeito pela toxicomania e, como foi apontado nesse estudo, com o consumo abusivo o sujeito encontra um estado de completude anulando todos os seus vínculos. Existe uma relação exclusivamente dual, sem espaço para nenhum terceiro, é um gozo sem limites chegando a interromper momentaneamente a própria existência, um modo que o sujeito encontra de lidar com a falta e ter acesso ao gozo que outrora lhe fora limitado.

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Compreendeu-se, a partir da pesquisa, que a toxicomania compromete o que há de mais precioso na cultura: os laços sociais. O toxicômano não necessita de nada além de seu tóxico. Encontra-se nessa afirmação a razão da relevante preocupação com os efeitos da toxicomania e a consequente busca por alternativas de tratamento.

É possível também afirmar que a hipótese de que a toxicomania é um sintoma social se confirma a partir do presente estudo. Isso pode ser percebido se esta afecção for compreendida a partir de todas as mudanças ocorridas no social que configuram o discurso contemporâneo.

Ao finalizar, ficam algumas questões para pesquisa e que podem ser levantadas futuramente. Entre elas: existe, ainda, a possibilidade de uma nova configuração discursiva que não remeta o sujeito contemporâneo ao sintoma da toxicomania? A questão levantada somente poderá ser respondida com futuras pesquisas. No momento, permanece a afirmação de que a toxicomania faz parte do discurso dominante da sociedade contemporânea, estando posta como um sintoma social.

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