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Em defesa do povo indígena Kaingang: greve de fome pela justiça e paz

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Academic year: 2021

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Em D efesa do Povo Indígena Kaingang

G re v e de Fome pela Justiça e Paz

FriedricH G ierus

A á re a d o T oldo C h im b a n g u e a b ra n g e as terras e n tre os rios IRANI e LAMBEDOR, situados no m u n ic íp io d e Chapecó-SC, num to­ ta l de 1.885 ha.

O T oldo C h im b a n g u e sem pre fo i h a b ita d o por ín d io s K ain­ g a n g . Ele fe z p a rte de um a re g iã o m a io r e n tre os rios Iguaçú e U ru­ g u a i, o n d e h a b ita v a m , de a co rd o com o Censo B ra s ile iro de 1890, m ais de q u a tro m il índios K a in g a n g .

Im p o rta saber qu e o te rritó rio a c im a , num to ta l de 3.060.000 ha, estava num litíg io q u e Brasil e A rg e n tin a h e rd a ra m de Portu­ g a l e Espanha. Em 1885, o p re s id e n te dos Estados U nidos, G ro ve r C le v e la n d , e s c o lh id o co m o á rb itro para a q u e stã o desse litíg io , dá sua sentença fa v o rá v e l a o Brasil. O a rg u m e n to d e c is iv o da d e fe sa b ra s ile ira era o fa to d e q u e estas terras e ra m h a b ita d a s por índios K a in g a n g , n a q u e la é p o c a re c o n h e cid o s co m o ín d io s b ra sile iro s.

N ão o bstante à a firm a ç ã o c o m p ro v a d a do S erviço de Prote­ ção a o In d io (SPI), em 1945, qu e no T oldo C h im b a n g u e (n a q u e la é p o c a se c h a m a v a T oldo Ira n i) existem " ín d io s qu e necessitam de assistência d ire ta ” , a Empresa C o lo n iz a d o ra Luce, Rosa & C ia. Ltda. d o Rio G ra n d e d o Sul, ve n d e u terras d o T oldo com a c o n d iç ã o de " q u e fic a ria a c a rg o dos c o m p ra d o re s interessarem -se p e la re tira ­ d a dos intrusos (o b v ia m e n te os ín d io s !) h o je existentes na g le b a de terras v e n d id a s ".

A té os anos o ite n ta , quase todas as terras do T oldo C h im ­ b a n g u e fo ra m ve n d id a s, re s p e c tiv a m e n te in v a d id a s por posseiros, de m a n e ira q u e s o b ra ra m a p e n a s 120 ha para os índios. Em 1981 se in te n s ific a ra m as a m e a ça s e agressões físicas por parte dos co­ lonos q u e visa ra m a e x p u ls ã o d e fin itiv a dos índios de suas terras. A to m a d a das te rra s in d íg e n a s e a v io lê n c ia contra o povo K a in g a n g a c o n te c e ra m nã o o bstante à presença da FUNAI, que p ro m e te ra "p ro v id ê n c ia s im e d ia ta s de g a ra n tia da u tiliz a ç ã o da te rra e n q u a n to p e rd u ra r o processo a d m in is tra tiv o da F U N A I".

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S a lie n ta m o s q u e a v e n d a , in va sã o e to m a d a do T oldo C h im b a n g u e o co rre u a p e sa r da lei q u e GARANTE AOS INDIOS A POSSE DE SUAS TERRAS já na C o n stitu içã o de 1934, q u e reza no a r­ tig o 129: "S e rá re sp e ita d a a posse de terras de silvíco la s q u e n e lla s se a chem p e rm a n e n te m e n te lo ca liza d o s, se n d o -lh e s, no e n ta n to , v e d a d o a lie n á - la s ." E na C o n stitu içã o de 1967, a in d a h o je e m v i­ g o r, consta: " A r tig o 198: As terras h a b ita d a s pelos silvíco la s são in a lie n á v e is nos term os q u e a lei fe d e ra l d e te rm in a r, a eles c a b e n ­ d o a sua posse p e rm a n e n te e fic a n d o re c o n h e c id o o seu d ire ito ao u su fru to e xc lu s iv o das riq u e za s n a tu ra is e d e todas as u tilid a d e s n e la s existentes. § 10 fic a m d e c la ra d a s a n u lid a d e e a e x tin ç ã o dos e fe ito s ju ríd ico s d e q u a lq u e r n a tu re za q u e te n h a m por o b je tiv o o d o m ín io , a posse ou a o cu p a çã o d e terras h a b ita d a s pelos silv íc o ­ la s ."

A p a rtir de m a io de 1982 os K a in g a n g re s o lv e ra m , em re u n iã o , as­ sum ir, com o a p o io d o CIM I, a titu d e s legais p a ra d e fe n d e r suas ter­ ras e interesses q u e c u lm in a ra m com um a v ia g e m à B rasília, ond e a d e le g a ç ã o dos índios, no in íc io d e d e z e m b ro de 1984, co n se g u iu e n tre g a r a q u e stã o aos cu id a d o s dos três m inistros (MIRAD, M IN - TER, JUSTIÇA) c o m p e te n te s para re s o lv e r este tip o d e re iv in d ic a ­ ção.

S om ente em m arço de 1985 os índios re c e b e ra m , a g o ra p e ­ la N o va R ep ú b lica , g a ra n tia s p a ra a so lu çã o de seus p ro b le m a s. N o e n ta n to , a so lu çã o n ã o ve io . A té a g o sto p.p. o g o v e rn o d e u 6 vezes g a ra n tia s , p ro m e te n d o im e d ia ta s in ic ia tiv a s p a ra d e v o lv e r p a rte das terras do Toldo C h im b a n g u e aos índios e para reassentar os co lo n o s, mas sem pre se ach o u um a descu lp a p a ra nã o re so lve r n a d a . Isto levou o m issio n á rio da Igreja C a tó lica (CIM I) W ilm a r D 'A n g e lis (que no d ia 16 de o u tu b ro de 1984 fo i a lv o de e m bosca­ da e de in c o n tá v e is disparos de arm as de fo g o , sendo qu e o ve ícu ­ lo, no q u a l v ia ja ra m a lé m d o m issio n á rio , sua esposa, um filh o e um a e n fe rm e ira , re ce b e u 8 im pactos de p ro jé te is ), no in íc io de se­ te m b ro , à g re ve de fo m e . Com a prom essa d o m in is tro N elson Ri­ b e iro , in te rm e d ia d o po r Dom Luciano M e n d e s, de q u e d ia 16 p ró ­ x im o seria re s o lv id a d e fin itiv a m e n te a q u e stã o d o T oldo C h im b a n ­ gu e , a g re v e d e fo m e fo i suspensa.

Dia 12 d e se te m b ro re a lizo u -se um c u lto e c u m ê n ic o na ca­ te d ra l de F lo ria n ó p o lis com a presença e p a rtic ip a ç ã o m a rc a n te de índios K a in g a n g d o T oldo C h im b a n g u e . A lé m do bispo a u x ilia r de F lo ria n ó p o lis e padres p a rtic ip o u ta m b é m o Pastor W illia m S chisler

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d a Ig re ja M e to d is ta . Eu ta m b é m re ce b i um co n v ite para p a rtic ip a r. N a q u a lid a d e d e re p re s e n ta n te d o C onselho de M issão e n tre ín­ dios d a IECLB assum i neste cu lto a a lo cu çã o . Baseado em Jo 16.33 " N o m u n d o passais por a fliç õ e s , mas te n d e bom â n im o , eu ve n ci o m u n d o " , d irig i um a m e n sa g e m d e c o n fo rto e s o lid a rie d a d e à co­ m u n id a d e presente. P artindo d o s o frim e n to dos ín d io s e colonos, m o stre i q u e a fo m e por justiça te m sua c o rre la ç ã o com a cruz de C risto e sua v itó ria na ressurreição. Porém , esta v itó ria d e Cristo n ã o suspende nosso e n g a ja m e n to , nossa açã o , nem nos p e rm ite fic a r na a c o m o d a ç ã o . A o c o n trá rio , e la nos e m p u rra para assum ir­ mos a luta d e s ig u a l, a luta de Davi com sua c o n fia n ç a em Deus contra G o lia s e seu p o te n c ia l té cn ico e a rm a m e n tis ta . Esta luta tem as características do s o frim e n to na cruz, mas e la é a lim e n ta d a pela e sp e ra n ça q u e v is lu m b ra a n o va v id a . E nquan to C risto so fre u a so­ lid ã o e o desespe ro da d e rro ta "D e u s m eu, Deus m eu, p o rq u e me d e s a m p a ra s te ? ", os seus se g u id o re s tem a boa nova de sua v itó ria e a prom essa de sua presença "to d o s os d ia s ".

A o fo rm u la r estes pe n sa m e n to s no c u lto , se firm o u m eu d e ­ sejo de p a rtic ip a r da g re v e d e fo m e p la n e ja d a , caso o g o v e rn o n ã o atendesse, d ia 16 de se te m b ro , por d e fin itiv o , a re iv in d ic a ç ã o dos ín d io s d o T o ld o C h im b a n g u e . Senti q u e m in h a m ensa g e m de c o n fo rto n ã o p o d ia re strin g ir-se à p a la v ra . Senti q u e a m ensagem tin h a de e n carnar-se. A o v o lta r deste c u lto e c u m ê n ic o , sabia q u e o m eu lu g a r seria a o la d o dos ín d io s e d e m a is irm ãos na g re v e de fo m e .

Dia 13, na c o n fe rê n c ia pastoral d o D istrito Eclesiástico de B lu m e n a u , c o m u n iq u e i aos colegas m in h a p retensão . N ão houve n e n h u m a o b je ç ã o ou m a io r discussão em to rn o do assunto. A ta r­ de d o m esm o d ia m e ju n te i a um a com issão de índios, padres e in- d ig e n is ta s em F lo ria n ó p o lis para p e d ir a o g o v e rn a d o r que e le se em penha sse a fa v o r de um a so lu çã o d e fin itiv a do c o n flito no T ol­ d o C h im b a n g u e . Os nossos p e d id o s não e n c o n tra ra m a s e n s ib ilid a ­ de a lm e ja d a . T am pouco o a n ú n c io da g re v e de fo m e d e 14 pes­ soas m u d o u a lg o . A re u n iã o in te rm in is te ria l, com a presença do g o v e rn a d o r E spirid iã o A m im e d o p re fe ito de C hapecó , d ia 16 de se te m b ro , não d e u re s u lta d o n e n h u m . H ouve a p e n a s m ais um a prom essa de q u e o assunto seria d e fin itiv a m e n te tra ta d o d ia 23 de s e te m b ro p ró x im o v in d o u ro .

D iante desta m a n o b ra de a d ia r a solução, os g revistas d e ­ c la ra ra m d ia 17 d e s e te m b ro :

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1 - q u e já são in ú m e ro s os e p isó d io s em q u e o G o v e rn o p ro m e ­ teu aos K a in g a n g o a te n d im e n to à sua re iv in d ic a ç ã o , sem h o n ra r tal com p ro m isso , tantas vezes re p e tid o : três ocasiões antes de 15 de m arço e outras seis após essa d a ta (22 d e m a r­ ço ; 30 de m a io ; 14 de ju n h o ; 17 de ju lh o ; 2 3 /2 4 de agosto e 10 de s e te m b ro );

2 - qu e , no ú ltim o e p is ó d io , os m inistros do In te rio r e da R eform a e D e s e n v o lv im e n to A g rá rio assum iram , d ia n te d e Dom Lucia- n o M endes de A lm e id a , S e cre tá rio G e ra l da CNBB, o c o m p ro ­ misso de re so lve r d e fin itiv a m e n te a questão , nesta segund a- fe ir a , 16 d e se te m b ro , d e s c u m p rin d o a p a la v ra e m p e n h a d a ; 3 - qu e em 30 de m a io o G ru p o de T ra b a lh o In te rm in is te ria l (De­ cre to n° 8 8 .1 1 8 /8 3 ) re co n h e ce u o T oldo C h im b a n g u e com o á re a de o cu p a çã o in d íg e n a (art. 198 da C o n stitu içã o F ederal), mas nesse 16 de se te m b ro a trib u iu a o P re fe ito d e C hapecó p o d e r de n e g o c ia ç ã o sobre estas terras;

4 - qu e as leis v ig e n te s no País e a co n sciê n cia in te rn a c io n a l nã o a d m ite m sofism as sobre os d ire ito s assegurados aos índios.

D iante d e nova re u n iã o co n vo ca d a pelos três m inistros para 23 de se te m b ro , e x ig im o s :

1 - a d e v o lu ç ã o c o m p le ta da te rra im e m o ria l dos ín d io s do Toldo C h im b a n g u e (1.885 ha);

2 - o re a sse n ta m e n to c o n d ig n o dos co lo n o s em á re a q u e lhes se­ ja p ro d u tiv a e a c e itá v e l.

Para a consecução destas duas m etas, na d a ta de h o je , a p a rtir das 21:00 h, nós a b a ixo -a ssin a d o s, e n tra m o s em g re ve de fo m e : três ín d io s a fa v o r dos d ire ito s dos co lo n o s; os d e m a is nã o ín d io s a fa ­ vor dos d ire ito s dos K a in g a n g d o T oldo C h im b a n g u e ...

In icie i o je ju m no m esm o d ia . E xp liq u e i m in h a a titu d e aos líderes da m in h a p a ró q u ia qu e c o m p re e n d e ra m m in h a d e cisã o e p ro m e te ra m a p o io e intercessão. O Pastor D istrital, Bruno G ott- w a ld , assum iu a su b stitu içã o nos cultos previstos para o d o m in g o se g u in te e e x p lic o u às m in h a s co m u n id a d e s o p ro c e d im e n to do seu pastor. Este a p o io fo i m u ito im p o rta n te p o rq u e p e rm itiu a m i­ nha a u sê n cia da p a ró q u ia com o d e v id o re sp a ld o .

A n te s de v ia ja r a F lo ria n ó p o lis , c o m u n iq u e i a m in h a p a rtic i­ p a çã o da g re v e a o Pastor R egiona l M e in ra d Piske, a o P residente

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d o C o n se lh o de M issão e n tre Indios, à S ecretaria de M issão e, não p o r fim , a o Pastor P residente da IBCLB, Dr. B ra ke m e ie r. De toda li­ d e ra n ç a co n ta cta d a n ã o h o u ve n in g u é m q u e desaconselhasse o m e u e n v o lv im e n to nesta g re ve . N o e n ta n to , fo ra m le va n ta d a s p e r­ guntas: V a le a p e n a s a c rific a r saúde e até a v id a p o r um a causa q u e p o litic a m e n te já é d e te rm in a d a ? Será q u e é a titu d e cristã, se a lg u é m , d e um a fo rm a p re m e d ita d a , arrisca sua v id a n um a g re ve d e fo m e com p ra zo in d e te rm in a d o ? A g re v e de fo m e nã o seria um a to irre sp o n sá ve l em re la ç ã o à esposa e aos filh o s ? Foram , de fa ­ to, esgotad os todos os m eios para o b te r justiça para os índios? A g re v e nã o se v o lta co n tra colonos, m e m b ro s da nossa Ig re ja , qu e , com a d e v o lu ç ã o d o T oldo C h im b a n g u e aos índios, seriam os in ju s­ tiçados? C abe a um a le m ã o m eter-se n u m a g re ve q u e o e n v o lv e ne ce ssa ria m e n te na p o lític a in te rn a d o Brasil?

Todas estas p e rg u n ta s, q u e em p a rte fo ra m le v a n ta d a s pos­ te rio rm e n te e n tre colegas, e ra m v á lid a s. R efleti a re sp e ito , in c lu s i­ ve e p rin c ip a lm e n te com a m in h a esposa e filh o s . Porém , nã o obs­ ta n te às questões le va n ta d a s, c h e g a m o s à co n clu sã o q u e a s o lid a ­ rie d a d e e o a m o r pelos ín d io s tin h a de se e n c a rn a r, nesta hora e na fo rm a d e g re v e de fo m e , com todas as co n se q ü ê n cia s possí­ veis. Foi esta m in h a d isposição , q u a n d o m e ju n te i aos d e m a is g re ­ vistas na Sede R eg io n a l da CNBB em F lo ria n ó p o lis .

São poucos os m o m e n to s da vid a o n d e se sente, de um a m a n e ira to d a e s p e cia l, o p o d e r do Espírito Santo q u e c a p a cita a fé p a ra "tra n s p o rta r m o n te s " e su p e ra r b a rre ira s a p a re n te m e n te in ­ vencíveis. S e n ti-m e c a rre g a d o po r este p o d e r e a p re n d i " la n ç a r to ­ das as... a n s ie d a d e s sobre ELE" (1 Pedro 5.7).

A d ú v id a , se um cristão p ode ou nã o s a c rific a r sua v id a por a m o r à justiça para índios e /o u co lo n o s, não causou em m im , em m o m e n to a lg u m , um a in ce rte za . P o ste rio rm e n te ch e g u e i a saber q u e esta p e rg u n ta o cupou a C o n fe rê n c ia dos S ecretários da IECLB, na re u n iã o d ia 19 de se te m b ro , e a C o n fe rê n c ia N a c io n a l de Igre­ jas Cristãs (CONIC), na re u n iã o d ia 23 de se te m b ro . Esta q uestão ta m b é m fo i le v a n ta d a na c a rta -c irc u la r do Pastor Presidente Dr. B ra k e m e ie r, de 30 de s e te m b ro , na q u a l nossa g re v e de fo m e fo i in te rp re ta d a co m o je ju m com prazo lim ita d o . Esta in te rp re ta ç ã o , p o ré m , não c o rre sp o n d e u à nossa in te n çã o . Pessoalm ente estava c o n v e n c id o e c o n tin u o com esta co n v ic ç ã o de q u e a nossa fé no C risto c ru c ific a d o e ressurreto in clu i a p o s s ib ilid a d e d o s a c rifício da v id a po r a m o r a o p ró x im o . N ão é isto qu e Jesus quis d iz e r em João

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15.13: " N in g u é m te m m a io r a m o r d o q u e este: d e d a r a lg u é m a p ró p ria v id a e m fa v o r dos seus a m ig o s "? O u co m o d e v e r-s e -ia in ­ te rp re ta r a c o lo c a ç ã o do a p ó s to lo Paulo. "E u m esm o d e s e ja v a ser a n á te m a , s e p a ra d o de Cristo, po r a m o r de m eus irm ãos, meus c o m p a trio ta s s e g u n d o a c a rn e " (Rm 9.3)? A m orte na cruz d o p ró ­ p rio C risto é a c o n se q ü ê n cia de um c o m p o rta m e n to é tic o q u e o N o v o Testam ento in te rp re ta c o m o o b e d iê n c ia ! A cruz n ã o fo i um a o p ç ã o por a m o r aos irm ãos? A in d a m ais, a m o rte de cruz é, po r as­ sim d iz e r, s a c rifício de v id a p re m e d ita d o no p la n o s a lv ífic o de Deus: "D e s d e esse te m p o , co m e ço u Jesus C risto a m ostrar a seus d iscíp u lo s q u e lhe era necessário s e g u ir... e s o fre r m u ita s cousas,., ser m o rto ... (M t 16.21). O sim a o Cristo c ru c ific a d o in c lu i a conse­ q ü ê n c ia , ta m b é m , d e um a g re v e d e fo m e com o o b je tiv o d e o b te r justiça para irm ãos e s p o lia d o s e o p rim id o s , co m o no caso dos c o lo ­ nos, índios e posseiros no T oldo C h im b a n g u e q u e fo ra m jogado s uns contra os outros em n o m e de um a p o lític a d e s e n v o lv im e n tis ta e interesses a n ti-re fo rm a a g rá ria .

A p e rg u n ta , se ju sta m e n te um pastor da A le m a n h a tin h a de m eter-se n u m a q u e stã o tã o p o litiz a d a , ta m b é m não m e a tra p a lh a ­ va. N ã o a g i co m o a le m ã o . A g i co m o cristão. E s o lid a rie d a d e cristã não co n h e ce fro n te ira s nem se im p re ssio n a com atos d is c rim in a tó ­ rios. A p o s s ib ilid a d e de ser e x p u ls o d o País ta m b é m fo i p in ta d a . M as, co m o e stra n g e iro s, q u e o p ta ra m para tra b a lh a r ju n to a um a Ig re ja irm ã , de q u a lq u e r je ito , som os p e re g rin o s e n tre dois m u n ­ dos. N ão há m ais p á tria no s e n tid o g e o g rá fic o . Para m im " a c o n te ­ c e " p á tria lá o n d e a g e n te é a c e ito e v iv ê n c ia a c o m u n h ã o de ir­ mãos. D urante os dias de g re v e tive esta p á tria n u m a g a ra g e m ao la d o dos três índios, padres, re lig io s a s e o pastor m etodista. Lá acam p a m o s, c o m p a rtilh a n d o a fé , a espe ra n ça e o s o frim e n to da fo m e .

Todos os dias com eçam os com um a re fle x ã o b íb lic a com cantos e orações. A lé m dos tra b a lh o s com a fo rm u la ç ã o de m ensa­ gens, de e n tre vista s com a im p re n sa e a TV, tiv e m o s horas para d e p o im e n to s pessoais, o n d e a g e n te se co n h e ce u p essoalm en te. S entim os um a c o m u n h ã o tã o p ro fu n d a q u e nad a p o d ia a b a la r o nosso e sp írito de e sperança e de luta. A fo m e a p e n a s e n fra q u e c e u o nosso corpo. H ouve a m e a ça s a n ô n im a s (a esposa de um dos g re ­ vistas rece b e u um te le fo n e m a q u e seu m a rid o já te ria s o frid o um a p a ra d a c a rd ía c a ) e te n ta tiv a de fa z e r da nossa g re v e um v e íc u lo de interesses p a rtid á rio s . TV e im p re n sa , em p a rte tro u x e ra m

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notí-cias d isto rcid a s sobre as nossas intençõe s e se m e a ra m d ú v id a s so­ bre as justas re iv in d ic a ç õ e s dos índios.

A lim e n ta m o s o e s p írito de esperança e fo rtific a m o s a nossa c o m u n h ã o p e la p a la v ra de Deus. N o c entro das nossas re fle x õ e s es­ ta v a a justiça de Deus "B u s c a i em p rim e iro lu g a r o R eino de Deus e a sua ju s tiç a !" M t 6.33) e a e sp e ra n ça " S a n tific a i a C risto em vossos corações, e sta n d o se m p re p re p a ra d o s para re sp o n d e r a to d o a q u e le q u e vos p e d ir razão da esp e ra n ça q u e há em vós! 1. Pedro 3.14). Sob estes d o is aspectos fo ra m m e d ita d o s ta m b é m os textos Isaías 41.8-20 e A p o c 21.1-5: A visão de um m u n d o da justiça e da paz, o b ra d e Deus cria d o r. P rocuram os a c h a r o nosso p a p e l neste m u n d o de Deus q u e já co m e ço u com Jesus C risto e a in d a está em nossa fre n te . In te rp re ta m o s a nossa vid a co m o in s tru m e n to nas m ãos d o Deus d e a m o r e de justiça, in stru m e n to s no s o frim e n to a c a m in h o da n o va v id a em Cristo. (2. Co 6.3-10 e Fp 2.1 -11).

N o sé tim o d ia da nossa jo rn a d a sentim os a necessidade de term os c o m u n h ã o na Santa C eia. Todos os in te g ra n te s da g re ve , e n tre m e n te s em n ú m e ro de 16, p a rtic ip a ra m da C eia do S enhor. O ato litú rg ic o com a d is trib u iç ã o dos dois e le m e n to s fo ra m m in is ­ trados pelos pastores e o pa d re . Foi um m o m e n to d e g ra n d e e m o ­ ção. S e n tim o -n o s um em Cristo.

Nas horas d e d e v o ç ã o , à n o ite , tiv e m o s sem pre a visita de m e m b ro s da Ig re ja C a tó lica e M e to d is ta , na m a io ria jovens e da p o p u la ç ã o h u m ild e da p e rife ria . Esta c o m u n h ã o no canto, na o ra ­ çã o e em m a n ife sta çõ e s e sp o n tâ n e a s de te s te m u n h o da fé , nos d e u um a fo rç a tã o g ra n d e q u e nã o há co m o descre ve r o s e n tim e n ­ to d e firm e z a e g ra tid ã o .

Com g ra n d e e x p e c ta tiv a espe ra m o s o re s u lta d o da re u n iã o dos m inistros d ia 23 de setem bro. N a tu ra lm e n te fic a m o s d e c e p ­ cio n a d o s com o re su lta d o de q u e os índios iam re ce b e r a pena s 912 ha. N o e n ta n to , p e rc e b e n d o a re a ç ã o p o s itiv a dos índios e, te n d o re c e b id o a prom essa d e q u e os co lo n o s e se m -te rra ia m ser reas- sentados e d ig n a m e n te in d e n iz a d o s resolvem os, após dois d ia s de re fle x ã o , suspend er a g re v e n o 8 o d ia .

O m o tiv o p rin c ip a l era o fa to de q u e o g o v e rn o se c o m p ro ­ m e te ra ju n to à lid e ra n ç a da CNBB, em B rasília, de e m p e n h a r-s e p e la assinatura d o d e c re to p re s id e n c ia l e im e d ia ta e x e c u ç ã o do m esm o. H ouve q u e m ple ite a sse p e la c o n tin u id a d e da g re v e até q u e o p re s id e n te tivesse a ssinado o d e cre to . M as o com p ro m isso

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assum ido em p ú b lic o p e lo g o v e rn o e a p u b lic a ç ã o deste c o m p ro ­ misso p e lo s m eios d e c o m u n ic a ç ã o fiz e ra m com q u e n ã o tivésse­ mos m otivos fu n d a m e n ta d o s q u e justificassem a c o n tin u id a d e da greve. Nós ía m o s p e rd e r o a p o io d o p ú b lic o qu e , um a vez in fo r­ m a d o da d e cisã o g o v e rn a m e n ta l, c o n s id e ra ra a q u e stã o po r re so l­ vid a .

Assim c e le b ra m o s o nosso ú ltim o cu lto . C ada um a v a lio u a c a m in h a d a fe ita a p a rtir d o seu p o n to de vista e com base em um a m e n sa g e m b íb lic a . H ouve consenso qu e a luta por justiça e o e m ­ p e n h o p e lo s d ire ito s h um anos d o o p rim id o e d is c rim in a d o , num e n g a ja m e n to pessoal som ente será a u tê n tic o o n d e se p ro cu ra a honra de Deus e não o m é rito h u m a n o . Por isto, te rm in a n d o a nos­ sa g re ve , oram os o sa lm o 146: 'A le lu ia ! Louva ó m in h a a lm a ao S e n h o r". A liá s , esta o ra çã o se to rn o u para m im um a fo n te de con­ fo rto . Esta o ra ç ã o a ju d o u -m e a v e r as coisas com as d e v id a s p ro ­ porções. Toda nossa v id a re ce b e seu s e n tid o na m e d id a em que e la está sendo le va d a em honra e lo u v o r a Deus, o S enhor do u n i­ verso. Por isto, o s a lm o ta m b é m e xo rta : " N ã o c o n fie is nos g o v e r­ n a n te s ... h om ens em q u e m não há s a lv a ç ã o ..." e a firm a "D e u s fa z justiça aos o p rim id o s ... lib e rta os e n c a rc e ra d o s ... a m a os justos e re in a para s e m p re ".

A v a lia n d o , n um a re tro sp e ctiva , o e n v o lv im e n to d a IECLB na ques­ tã o to d a , registram os coisas a g ra d á v e is , mas ta m b é m om issões la ­ m entáveis.

Já antes d e ser in ic ia d a a g re ve , o C onselho de M issão e n tre Indios e a p re s id ê n c ia da IECLB se m a n ife s ta ra ju n to às a u to rid a d e s co m ­ petente s, re iv in d ic a n d o um a so lu çã o d e fin itiv a , justa e im e d ia ta do c o n flito no T oldo C h im b a n g u e . Em contatos pessoais com m e m ­ bros d a m in h a p a ró q u ia e pastores d o m eu d istrito e cle siá stico re ­ cebi a p o io , se bem qu e lim ita d o . D urante a g re ve , o Pastor R egio­ nal M e in ra d Piske, nos a p o io u com sua v isita a o lo ca l da g re ve , te n d o conosco um m o m e n to de d iá lo g o e oração. Fiquei g ra to pe­ la visita d o e stu d a n te de te o lo g ia R eine Lebtag q u e , em n o m e do m o v im e n to Justiça e N ã o -V io lê n c ia d e São L e o p o ld o e d o CADES d a F aculdade de T e o lo g ia , passou um d ia conosco em je ju m . H ou­ ve m a n ife sta çõ e s de a p o io po r escrito, em te le g ra m a s e /o u po r te­ le fo n e p o r p a rte das Regiões Eclesiásticas II, III e IV, dos Distritos eclesiásticos Y u cu m ã , U ru g u a i e d o C o n se lh o D istrital d e B lu m e ­

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n a u ; das N ovas Á re a s d e C o lo n iz a ç ã o ^ “ ,) de seis pastores de co­ m u n id a d e , d o Jo rn a l E vangélico , das S ecretarias de C o m u n ic a ç ã o e de M issão, d o p re s id e n te do C o n se lh o de M issão e n tre in d io s, Sr. S ig h a rt H e rm a n y q u e s e g u id a m e n te se in fo rm o u po r te le fo n e so­ b re o a n d a m e n to d a g re v e ; de um g ru p o de e s ta g iá rio s e seus p ro ­ fessores P. H a ra ld M a ls c h itz k y e P. Edson Streck, de um m e m b ro da C o m u n id a d e E va n g é lica de C u ritib a e de um a senhora de J o in v il­ le. A g ra d e c id o re g istre i a c irc u la r qu e o P. Jo ã o A rtu r M ü lle r da S ilva fo rm u lo u e m n o m e do C O M IN , a p o ia d o p e la C o n fe rê n c ia de S ecretários d a IECLB, p a ra in fo rm a r às p a ró q u ia s e os pastores da IECLB sobre to d o o e p is ó d io , p e d in d o in clu sive a p o io para a causa. F iquei se n s ib ilis a d o p e lo interesse q u e o Pastor P residente, Dr. Bra- k e m e ie r, d e m o n stro u p e la causa, m a n d a n d o um a carta pessoal com a in te n ç ã o d e a p o ia r a g e n te e d a r o rie n ta ç ã o p o im ê n ic a . A c a rta -c irc u la r d e 30 d e s e te m b ro p a ra todas as p a ró q u ia s e p a sto ­ res ta m b é m nã o d e ix o u d ú v id a sobre o p o s ic io n a m e n to d o Pastor P residente em re la ç ã o a o c o n flito em T oldo C h im b a n g u e e a o nos­ so m o v im e n to g revista.

Da Ig re ja E va n g é lica da A le m a n h a e da N o ru e g a re c e b e ­ mos te le g ra m a s de a p o io e a ju d a fin a n c e ira para a causa d o Toldo C h im b a n g u e de m ais qu e 60 pessoas, pastores, e n tid a d e s ecle siá s­ ticas, le ig o s e p o lítico s e n g a ja d o s . Dezenas d e pessoas c o n firm a ­ ram a rem essa d e te le g ra m a s a o p re s id e n te Sarney, in c lu sive do b ispo da Ig re ja E va n g é lica Luterana da B a vie ra , com o p e d id o de s o lu c io n a r o c o n flito e m T oldo C h im b a n g u e . Fiquei e n tu sia sm a d o p e lo e m p e n h o d o Pastor M a rtin Backhouse, q u e já tra b a lh o u e n tre os K a in g a n g e m T oldo G u a rita e o Pastor U lrich Fischer, o secretá­ rio para assuntos da A m é ric a Latina na Ig re ja de B aviera. Todas es­ tas m a n ife sta çõ e s de a p o io d e ra m -n o s fo rç a e fiz e ra m -n o s se n tir q u e nossa luta nã o era a pena s a dos grevistas.

Por o u tro la d o , in fe liz m e n te h o u ve om issões, desinteresse e até h o s tilid a d e s q u e d e ix a ra m a g e n te triste. A base da IECLB, co­ m u n id a d e s e pastores, p ra tic a m e n te nã o se m a n ife s to u . N e n h u m p re s b ité rio de u seu a p o io à causa! Das c o m u n id a d e s m ais p ró x i­ mas d o m o v im e n to — F lo ria n ó p o lis e a rre d o re s — nem pastores, nem le ig o s te le fo n a ra m ou re a liz a ra m um a visita se q u e r para, no m ín im o , se in fo rm a r in loco dos m otivos desta g re v e e o que está­ vam os o b je tiv a n d o .

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O a p a re lh o b u ro c rá tic o da nossa Ig re ja tra b a lh a m u ito d e ­ vagar. C o m u n iq u e i te rç a -fe ira à S ecre ta ria G e ra l sobre o in íc io da g re v e e da g ra v id a d e da situ a çã o e rece b i a in fo rm a ç ã o qu e a C o n fe rê n c ia d e S ecretários iria re u n ir-s e q u in ta -fe ira p a ra tra ta r do assunto da g re v e e d o c o n flito no T oldo C h im b a n g u e . Com isto se p e rd e u te m p o v a lio s o p a ra um processo d e co n scie n tiza çã o e in­ fo rm a ç ã o . Em F lo ria n ó p o lis fo rm u la m o s , d ia 19 de se te m b ro , um a c a rta -c irc u la r e a re m e te m o s p o r te le x as Igrejas e n v o lv id a s no m o ­ v im e n to com o p e d id o de re p ro d u z i-la , o q u a n to a n te s possível, p a ra d is trib u iç ã o nas p a ró q u ia s e le itu ra nos cultos. A S ecretaria G e ra l, p a re ce , q u e nem to m o u c o n h e c im e n to d o c o n te ú d o da m esm a. Senão, a p re s id ê n c ia da IECLB não te ria fa la d o em " je ju m com prazo lim ita d o " .

A carta dos g revistas fo i fo rm u la d a pelos re p re se n ta n te s das três Igrejas e te ve o s e g u in te teor:

" A le g ra i-v o s com os q u e se a le g ra m , ch o ra i com os q u e c h o ra m " ... (Rm 12.15) C o n fo rm e a a m p la d iv u lg a ç ã o q u e se te m d a d o p e lo s jo r­ nais e TVs, sobre o c o n flito e n tre ín d io s d o T oldo C h im b a n g u e , co­ lonos posseiros e s e m -te rra estão em d isp u ta por 1.885 ha p e r­ tencente s aos índios K a in g a n g p e lo d ire ito im e m o ria l.

O c o n flito le v o u a um a c irra m e n to de a m bas as partes p e la m o ro s id a d e da so lu çã o d o g o v e rn o . A N o va R epú b lica qu e in s p ira ­ va m u ita s esperanças, p e la 6 a vez, desde 15 de m a rço d o c o rre n te , p ro te lo u a tã o e s p e ra d a solução.

Nós, 14 re p re se n ta n te s das Igrejas: Ig re ja C a tó lic a R om ana, Ig re ja E vangélica d e C onfissão Luterana, Ig re ja M e to d is ta , índios, in d ig e n is ta s e e n tid a d e s , s e n tin d o as a n g ú stia s de a m b a s as p a r­ tes, d e c id im o s c o lo c a r as nossas vidas, n u m a a titu d e " n ã o v io le n ­ t a " de g re v e d e fo m e para qu e a justiça seja fe ita im e d ia ta m e n te . Pedim os a s o lid a rie d a d e d a sua c o m u n id a d e e m n o m e de Cristo, através, d e o ra çã o , grupos d e je ju m , m a n ife sta çõ e s p ú b li­ cas e e n v io d e m ensagens às a u to rid a d e s co m p e te n te s, a p e la n d o para q u e os c o lo n o s sejam reassentados e d e v id a m e n te in d e n iz a ­ dos, e os ín d io s possam v iv e r e m paz na te rra q u e lhes p e rte n ce , s a lv a n d o assim , o p ró p rio de um p o v o q u e a q u in h e n to s anos está lu ta n d o p e la sua so b re v iv ê n c ia .

S audam o -vo s com as p a la vra s d o a p ó s to lo Paulo: "L e v a i os fa rd o s uns dos outros e assim c u m p rire is a le i d e C ris to " (Gl 6.2).

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S ubscrevem o-n os fra te rn a lm e n te (seguem as assinaturas de todos os grevistas).

Este te x to fo i a m p la m e n te d iv u lg a d o nas Igrejas C a tó lic a e M e to d is ta e, em resposta hou ve em diversas cid a d e s d o País m a n i­ fe stações p ú b lic a s em a p o io à causa do T oldo C h im b a n g u e . A IECLB, em suas bases (c o m u n id a d e s e pastores) p ra tic a m e n te s ile n ­ ciou. Isto m ostra q u e a nossa Ig re ja n ã o está p re p a ra d a p a ra um e n g a ja m e n to c o m o o s o lic ita d o na c ircu la r.

Q u e ro a c re d ita r qu e estam os num processo de a p re n d iz a ­ ge m . A d m ito ta m b é m qu e em nosso m e io existe um a g ra n d e d e fi­ c iê n c ia de in fo rm a ç õ e s sobre a v e rd a d e ira situ a çã o dos índios. M as este fa to nã o nos p e m ite fic a rm o s em c im a d o m uro. Q uem q u e r se in fo rm a r te ve e tem p o s s ib ilid a d e s. A c a rta -c irc u la r do P.J.A. M ü lle r da S ilva n ã o d e ix o u d ú v id a s sobre os a c o n te c im e n ­ tos. P e rg u n to -m e a p e n a s q u a n to s pastores se d e ra m o tra b a lh o de le v a r esta carta para d e n tro da c o m u n id a d e !? A p e n a s um le ig o e n ­ g a ja d o e a irm ã d o P. R oberto Zw etsch se m a n ife s ta ra m . E, d e n tre os 400 pastores q u e tra b a lh a m nas c o m u n id a d e s da IECLB, a pena s seis se n tira m a necessida de de se m a n ife s ta r por te le fo n e e /o u por escrito. Esta d e s p ro p o rç ã o assusta.

Pesquisei um p o u co para saber das razões d a in o p e râ n c ia . A q u i só a lg u m a s ; "F a lta de in fo rm a ç ã o ” — " o m o v im e n to era da Ig re ja C a tó lic a " — " c o m e xtre m ista s não posso id e n tific a r-m e " — " a p a rtic ip a ç ã o de um pastor d a IECLB num m o v im e n to gre vista n ã o ju s tific a q u a lq u e r a p o io ; a fin a l, a o p çã o e ra p a rtic u la r d e le " — " h á tantos c o n flito s no País, p o r q u e a p o ia r ju sta m e n te este que fa v o re c e a p e n a s poucas fa m ília s in d íg e n a s " — " n ã o a p o ia m o s um a causa q u e p re ju d ic a co lo n o s, m em b ro s da nossa Ig re ja ".

Será q u e estas razões n ã o e sp e lh a m a a titu d e do Pôncio Pi­ la tos q u e lavou suas m ãos em sin a l de sua " in o c ê n c ia " ? O m o v i­ m e n to em a p o io aos K a in g a n g no T oldo C h im b a n g u e p a rtia dos d i­ re ito s im e m o ria is dos ín d io s e visava um justo e a c e itá v e l reassen- ta m e n to dos co lo n o s (que fo ra m e n g a n a d o s a o re c e b e re m títulos sobre terras n ã o a lie n á v e is !) O o b je tiv o era justiça para am bas as partes. E, já q u e os ín d io s desde 1500 são vítim a s da e s p o lia ç ã o e na a tu a lid a d e c o n tin u a m sendo a m e a ça d o s de m o rte , não há co­ m o ju s tific a r ta n ta p a ssivid a d e p o r p a rte d a IECLB, e s p e c ia lm e n te das bases!

A p a rtic ip a ç ã o de um pastor da Ig re ja M e to d is ta e da IECLB deste m o v im e n to a co n te ce u , ta m b é m p a ra te ste m u n h a r q u e a

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de-fesa dos fracos e o p rim id o s nã o é a p e n a s a ta re fa da Ig re ja C a tó li­ ca, mas sim é o im p e ra tiv o d o S enhor da Ig re ja u n iv e rs a l q u e se id e n tific a com os p e q u e n o s (M t 16.24-251). P ortanto, nã o há com o fic a r no m u ro !

Talvez eu e steja e rra d o , mas co n sid e ro a in d ife re n ç a à q u e stã o in d íg e n a não um a m era co n se q ü ê n cia da d e s in fo rm a ç ã o . Para m im se esconde p o r trás um a d e s c o n fia n ç a contra um a fé e n ­ g a ja d a . O m e d o de d e n u n c ia r injustiças e a rrisca r um a postura p ro fé tic a é um a h e ra n ça d o lu te ra n is m o dos séculos XVIII e XIX.

D urante a g re v e senti ta m b é m q u e a p rio rid a d e d o C onse­ lh o D iretor, no qu e d iz re s p e ito à q u e stã o in d íg e n a , não fo i assum i­ d a , pois, de o u tra fo rm a , o nosso m o v im e n to te ria re c e b id o um a p o io d ife re n te !

O e n g a ja m e n to e a id e n tific a ç ã o pessoal d o Pastor Presi­ d e n te , Dr. B ra ke m e ie r, com a causa in d íg e n a , em sua c irc u la r de 30 de se te m b ro , nos de u , n ã o o bstante às om issões e fa lh a s o c o rri­ das, um c ré d ito m u ito g ra n d e p a ra c o n tin u a rm o s na c a m in h a d a a té a g o ra tra ça d a . Ele fo rm u la : "O s povos in d íg e n a s estão sob a séria a m e a ç a de e x tin ç ã o p e la a g re s s iv id a d e de nossa sociedad e, q u e m ais e m ais lhes re strin g e o espaço físico e c u ltu ra l in d is p e n ­ sável para a sua s o b re v iv ê n c ia . In d e p e n d e n te m e n te da p e rg u n ta p e lo q u e s ig n ific a m issão e n tre ín d io s, é ce rto q u e , co m o c o m u n i­ d a d e cristã, tem os o com p ro m isso d e c o la b o ra r para g a ra n tir o es­ pa ço de v id a desta m in o ria a m e a ç a d a . C risto m o rre u ta m b é m p e ­ los índios. Sua g ra ça q u e n ã o p e rg u n ta po r m éritos ou d ig n id a d e é v á lid a ta m b é m para os ín d io s, e lhes atesta a q u a lid a d e de c ria tu ­ ras a m a d a s p o r Deus. Eis p o rq u e a c o m u n id a d e cristã nã o p o d e c o n fo rm a r-s e com o e s te rm ín io le n to , p ro p o s ita l ou não, de q u e os índios se to rn a m v ítim a s ."

Somos g ra to s p o r este a p o io re c e b id o e e sp e ra m o s q u e a l­ g u é m , a q u i ou lá, m o tiv a d o p e lo m o v im e n to da g re v e de fo m e te ­ nh a sido se n s ib ilis a d o para assu m ir um a a titu d e a u to c rític a , à luz do E vangelh o, e para um e n g a ja m e n to pessoal p e la justiça e a paz de to d o p o vo s o frid o no Brasil.

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