ACÓRDÃO
EMBARGOS À EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL (CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO), O contrato de abertura de credita, ainda que acompanhado do extrato de movimentação bancária, não é título executivo (Súmula 233 do STJ). Pedido de conversão do processo de execução em processo monrtòrío, em razão da supervenlência de mencionada súmula. Possibilidade, em homenagem aos princípios da celeridade, economia processual e instrumentalidade das formas. Agravo retido provido. Sentença anulada. Apelações prejudicadas.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO N° 1.161.416-3, da Comarca de Sorocaba, sendo apelantes e respectivamente apelados BANCO ITAÚ e COMERCIAL FREITAS E FREITAS VEÍCULOS LTDA.
ACORDAM, em Vigésima Segunda Câmara "A" de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, por votação unânime, dar provimento ao agravo retido. Prejudicados os recursos.
Trata-se de apelações interpostas contra a r. sentença de f. 283/286 que, em sede de embargos à execução opostos pelos embargantes Comercial Freitas & Freitas Veículos Ltda. e Márcio Francisco da Silva Freitas, os julgou parcialmente procedentes, para o fim de "declarar improcedente a execução" (sic), por ausência de título executivo líquido, certo e exigível, e rejeitar o pedido de condenação do banco embargado nas penas preyisláTrto art. 1.531 do Código Civil de 1916. / / 1
O banco credor reclama, em preliminar de razões recursais, seja acolhido o agravo retido interposto contra a r. decisão interlocutória de f. 262/263, de sorte a ser determinada a conversão do processo executivo em monitório, alegando que somente apôs a propositura da execução forçada baseada em contrato de abertura de crédito é que se consolidou entendimento no sentido de tal documento não ser considerado título executivo (Súmula 233 do STJ). Cogita, em apelação, nutidade do decisório alegando violação ao princípio da correlação entre o pedido e a sentença (f. 301/307).
Os devedores, por seu turno, objetivando a reforma da r, sentença, buscam seja o banco credor condenado na penalidade preconizada no art. 1.531 do Diploma Civil de 1916, bem como a indenizar os danos decorrentes de anulação de escritura pública de confissão de dívida e dação em pagamento, devendo, ainda, ser responsabilizado pelo pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios (f. 309/319).
Recursos recebidos, processados e respondidos. É o relatório.
Inicialmente, cumpre seja apreciado o agravo retido reiterado e fundamentado em preliminar de apelação pelo banco credor.
Procedem as razões deduzidas no agravo retido.
Na época em que o banco ajuizou execução forçada (11/10/1996), pendia polêmica perante os tribunais a respeito de o contrato de abertura de crédito (cheque especial), acompanhado dos respectivos extratos de movimentação, ser ou não reputado título executivo extrajudicial.
O Colendo Superior Tribunal de Justiça, apesar de ter vacilado quanto ao entendimento da questão, acabou por sedimentar interpretação no sentido de referidos documentos não consubstanciarem título executivo extrajudicial, o que impulsionou a edição da Súmula 233 (publicada
Apelação n° 1.161.416-3 - Sorocaba - VOTO 1611 - Crístina/Carina
no D J . de 08/02/200, p. 264): O contrato de abertura de crédito, ainda que
acompanhado de extrato da conta-corrente, não é titulo executivo.
O banco credor, atento a tal realidade, logo requereu a
conversão do processo executivo em monitórío, o que se deu mediante petição
protocolizada em 30/03/2000 nos autos dos embargos (f. 236/238), pleito que restou indeferido pelo magistrado singular (f. 262/263), rendendo ensejo à interposiçâo de agravo retido (f. 265/266), cuja apreciação foi devidamente exposta e reiterada em preliminar das presentes razões de apelação.
Quer-se dizer, com isso, que não se pode imputar falta de interesse processual ao banco credor, por inadequação da via judicial eleita, haja vista que no momento de aforamento da execução forçada pairara dúvida objetiva sobre o seu cabimento ou descabimento, pois grassavam posições divergentes na doutrina e nos pretórios.
E, no instante em que restou assentada interpretação desfavorável ao caminho processual escolhido, o banco de imediato pugnou pela conversão do demanda executiva em monitoria, medida que merece acolhimento nesta sede, respeitada a posição adotada pelo julgador singular.
Conspiraria contra a celeridade e a economia processual, princípios inerentes à tão decantada efetividade da tutela jurisdicional (art. 5o,
XXXV, CF), atualmente ostentadores de envergadura constitucional, mercê da Emenda 45/2004, que introduziu o inciso LXXVIII ao art. 5o, rejeitar-se a
pretendida conversão do processo executivo em monitório, o que representaria um verdadeiro desserviço às partes, aos advogados, aos juizes e aos servidores da justiça, além de se desprezar o princípio da instrumental idade das formas.
Revela-se, ademais, conveniente obviar-se a necessidade de instauração de nova relação processual, em tela de processo autônomo, cujo objeto já é de sabença inequívoca dos litigantes, porquanto idêntica a relação jurídica substancial que seria levada a juízo.
Apelação n° 1.161.416-3 - Sorocaba - VOTO 1611 - Cristina/Carina
Nada, pois, justifica que o banco credor tenha de providenciar o desentranhamento de documentos do processo de execução e dos embargos em apreço e, em seguida, ajuizar demanda monitoria.
O processo monitório e o processo executivo guardam convergências hábeis a permitir a conversão desejada.
As causas de pedir próxima e remota (existência de um contrato e seu inadimplemento), assim como o pedido (pagamento), são comuns a ambas as tutelas, modificando-se apenas o mecanismo procedimental capaz de propiciar a satisfação da obrigação e a efetiva entrega do bem da vida ao credor.
Nesta esteira, aliás, são dignas de endosso as lições doutrinárias e jurísprudenciais bem lembradas pelo banco apetante em suas razões recursais (f. 304/305).
Assim sendo, a conversão ora praticada não encontra vedação no art. 264, do Diploma Processual, inexistindo violação princípio da estabilização objetiva da demanda, em razão de não ocorrer modificação de causa de pedir ou de pedido.
É valioso observar, por fim, o relevante fato de que a demanda executiva se arrasta por quase dez anos, parecendo prudente e aconselhável, à luz do sistema processual, que se tome em consideração e prestígio o longo período de atividade jurisdicional operado, especialmente a instrução realizada e a prova pericial produzida.
Destarte, em homenagem aos princípios da instrumentalidade, da celeridade e da economia processual, e considerada a ausência de qualquer prejuízo aos devedores, a r. sentença proferida nos embargos à execução há de ser anulada, viabilizando-se a conversão do processo executivo em monitório.
Ante o exposto, dá-se provimento ao agravo retido, anulando-se a sentença prolatada nos embargos à execução.
Baixados os autos à vara de origem, o processo de execução seguirá como monitório, tendo por valor inicial aquele pretendido pelo banco credor na inicial executiva, sem prejuízo de eventual aproveitamento da perícia técnica contábil produzida na instrução dos embargos à execução. Os devedores deverão ser intimados na pessoa de seu advogado, iniciando-se o prazo legal para oferecimento de resposta ou realização de pagamento (arts. 1.102-Be1.102-C, CPC).
Em decorrência da anulação da r. sentença, fica prejudicado o exame dos termos que fundamentam a apelação do banco credor, bem como a apreciação do recurso interposto pelos devedores.
Presidiu o julgamento o Desembargador ROBERTO BEDAQUE e dele participaram os Desembargadores DIMAS RUBENS FONSECA (Revisor) e DAÍSE FAJARDO NOGUEIRA JACOT.
