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PROCON MICROECONOMIA - Prof. Rodrigo Pereira

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Academic year: 2021

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PROCON – MICROECONOMIA - Prof. Rodrigo Pereira

I

Introdução

A teoria econômica é um instrumental extremamente útil para o entendimento de uma série questões do mundo moderno. Neste curso estudaremos o comportamento de consumidores, firmas e governo. Veremos quais são os incentivos, possibilidades e restrições de cada um desses agentes, e como cada um deles exerce algum tipo de alocação de recursos da forma que lhe é mais conveniente. Estaremos trabalhando com o que se conhece como Microeconomia, ou seja, o campo da economia que estuda o comportamento individual dos agentes, e como esse comportamento determina como eles interagem. Estudaremos também as relações agregadas da economia, a produção agregada, inflação, juros, e a ação do governo via políticas fiscais e monetárias. Esse é o campo da economia conhecido como Macroeconomia.

A primeira pergunta que se apresenta é a seguinte: “o que é economia?” Existem várias definições, mas a mais utilizada pelo economista é que economia é o estudo da alocação de recursos escassos. Vivemos em uma sociedade inserida em um mundo com recursos escassos e com demandas ilimitadas: todos gostariam de possuir residências, casas de campo e de praia, barcos, aviões particulares, automóveis de passeio e esportivos, etc. Infelizmente, não existem recursos naturais nem tecnologia para produzir todos os bens e serviços demandados pelos consumidores. Portanto, é necessário estabelecer critérios para decidir que bens e serviços serão produzidos, em que quantidades serão produzidos e quanto desses bens ou serviços caberá a cada consumidor. É esse mecanismo de alocar os recursos escassos aos consumidores que compõe o cerne da ciência econômica.

Para determinar a alocação ótima dos recursos, a economia precisa estudar o comportamento dos agentes no ambiente econômico. Existem dois tipos de agentes econômicos: consumidores e firmas. Alguns economistas destacam também um terceiro tipo de agente: o governo. Tomaremos a posição um tanto ou quanto ingênua de considerar que o governo está sempre buscando o bem comum, procurando obter o máximo de bem-estar para a coletividade.

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Os consumidores manifestam suas ações na economia por intermédio de suas demandas, isto é, da quantidade de cada bem que deseja comprar. Eles manifestam suas demandas ao buscar obter a satisfação máxima a partir de sua riqueza e dos preços dos bens e serviços disponíveis para consumo. As firmas manifestam suas ações na economia por intermédio de sua demanda por insumos ou fatores de produção e por sua oferta de bens e serviços produzidos. Elas manifestam essas demandas e oferta procurando maximizar seu lucro a partir da tecnologia de que dispõem para produzir o bem ofertado e dos preços dos insumos que compõem o bem ofertado. Essas ofertas e demandas são representadas no mercado. As quantidades demandadas e ofertadas por cada agente dependem, portanto, dos preços dos bens e insumos. O mercado funciona cotando preços e verificando as quantidades ofertadas e demandadas a cada preço. Quando a quantidade ofertada iguala a quantidade demandada, dizemos que o mercado está em equilíbrio. Existem vários mercados na economia, pelo menos um para cada bem ou serviço.

A análise econômica pode ser classificada como positiva ou normativa. A análise de economia positiva descreve o comportamento dos agentes e os resultados da interação entre os comportamentos dos agentes. A análise de economia normativa estuda como os resultados deveriam ser e o que fazer para obtê-los. Por exemplo, um modelo de economia positiva constata que existe monopólio em setores de infra-estrutura. A economia normativa estuda como este monopólio atinge a sociedade e o que pode ser feito para corrigi-lo. Um outro exemplo pode ser dado com o salário-mínimo. A análise positiva pode constatar que a existência de salário-mínimo aumenta o desemprego. Uma análise normativa pode recomendar a elevação do salário mínimo.

Algumas idéias são primordiais no raciocínio econômico e seu claro entendimento facilita a compreensão de diversos modelos econômicos aplicados à regulação. Vamos apresentá-las a seguir.

II

Princípios Básicos de Economia

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A palavra tradeoff significa uma situação em que para se obter alguma coisa deve-se sacrificar outra. Por exemplo, um casal tem diversos programas para fazer no domingo: ir ao cinema, ao teatro, visitar amigos etc. A escolha de um programa implica na não realização de outros. Os economistas cunharam a frase “não existe almoço grátis” para ilustrar a profundidade dos tradeoffs. Muitas vezes alguém nos convida para um almoço gratuito, mas, na verdade, não é: sacrifica-se pelo menos tempo para ir ao almoço, mas outros sacrifícios podem estar implícitos, como, por exemplo, a perda da oportunidade de almoçar com outras pessoas. Se o almoço “grátis” é oferecido por alguém que quer obter algo do convidado, então, pode-se até medir mais facilmente o verdadeiro custo do almoço “grátis”. Outro exemplo é quando a família precisa decidir entre reformar o apartamento ou comprar um carro novo.

As firmas estão, também, sempre se defrontando com tradeoffs. Uma situação clara de tradeoffs é quando uma firma tem recursos e necessita decidir se investe em aperfeiçoamento da linha de produtos atuais ou no desenvolvimento de uma nova linha de produtos.

Alguns tradeoffs são bastante importantes por envolverem toda a economia: O

tradeoff entre “canhões e manteiga” e o tradeoff entre eficiência e eqüidade.

O tradeoff entre canhões e manteiga é uma metáfora sobre a escolha que a sociedade tem que fazer sobre quanto investir em segurança e quanto investir na produção de alimentos. Quanto mais investir em segurança, menos se tem para investir na produção de alimentos e vice-versa.

O tradeoff entre eqüidade e eficiência ocorre porque geralmente, para a sociedade obter eqüidade, deve sacrificar a eficiência e, se for escolhida a eficiência, geralmente terá que sacrificar a eqüidade. Por exemplo, se todos ganharem a mesma remuneração, independentemente do cargo e dedicação ao trabalho, pouquíssimas pessoas irão querer ocupar os cargos de maior responsabilidade ou se dedicarão com afinco às suas tarefas. O resultado é a queda de produção, ocorrendo grande perda de eficiência. Por outro lado, para se gerar eficiência, deve-se remunerar muito bem as pessoas altamente produtivas e

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remuneração pode levar à excessiva desigualdade social, e o governo pode tentar diminuir essa desigualdade por meio de impostos. Um exemplo concreto é o imposto de renda progressivo. O imposto de renda aumenta com a renda, assim, quem ganha pouco, perde pouco da sua renda, e quem ganha muito, perde parte maior de sua renda para a sociedade. O resultado é uma maior eqüidade social, mas a redução no incentivo à pessoa produtiva pode acarretar a perda de eficiência. Outro exemplo se dá quando a sociedade introduz o seguro-desemprego. O seguro-desemprego reduz a desigualdade de renda entre o empregado e o desempregado, porém, reduz a pressa com que o desempregado busca emprego, causando perda de eficiência.

Um outro tipo de tradeoff vem ganhando proeminência nos tempos atuais. Para reduzir a poluição, há necessidade de leis que elevem os custos das firmas poluidoras. Com isto, seus produtos ficam mais caros e menos bens são produzidos. Certamente, é muito importante preservar o meio ambiente, mas tanto a preservação quanto a utilização dele para melhorar a condição de vida é um tradeoff bastante difícil. A utilização do combustível fóssil para gerar combustível atinge, de alguma forma, o meio ambiente, mas, preservá-lo intacto no subsolo, degradaria em muito a qualidade de vida da sociedade. Todavia, o uso indiscriminado e sem controle ambiental pode também deteriorar seriamente a qualidade de vida da sociedade.

Princípio 2: O custo de alguma coisa é o que se sacrifica para obtê-la

Quando se toma uma decisão econômica, geralmente se paga alguma coisa. Um indivíduo, ao vender uma casa, paga em bens, entregando a casa, já o indivíduo que compra a casa, paga em dinheiro. Qual o custo de comprar a casa? O valor pago? Esta é uma primeira aproximação, mas o custo pode incluir o tempo da negociação, a perda de renda que o valor pago pela casa poderia render em aplicações alternativas, etc.

Podemos argumentar que o custo do apartamento é muito próximo do valor pago por ele e este valor serve muito bem como primeira aproximação do custo da casa. Mas, em algumas decisões econômicas, o custo do bem pode ser muito diferente do valor pago. Por exemplo, qual o custo de se fazer uma graduação? O custo da mensalidade é apenas um deles, talvez pequeno, pois a faculdade pode ser gratuita. Mas o sacrifício de não poder

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trabalhar ou trabalhar em horário reduzido gera grande perda de renda corrente, e este custo pode ser bastante elevado.

O verdadeiro custo de algum bem ou serviço é o valor da melhor alternativa de uso dos recursos utilizados para comprar o bem. No exemplo do curso superior, o custo de uma universidade pública gratuita, que só oferece cursos diurnos e com horário disperso ao longo do dia, pode ser muito maior que o custo de uma universidade privada noturna, mesmo com mensalidade alta. Este custo econômico é chamado de custo de oportunidade.

Princípio 3: Pessoas e firmas racionais pensam na margem

As decisões econômicas geralmente envolvem pequenos incrementos no plano de ação. Esses pequenos incrementos são chamados de marginais pelos economistas. Por exemplo, para decidir o quanto um indivíduo investe em educação, ele pensa primeiro nos benefícios e custos da educação primária. Se os benefícios dessa educação forem maiores que seus custos, ele fará o primário (neste caso, a decisão pode ser dos responsáveis e não do indivíduo propriamente dito, mas o raciocínio é o mesmo). Uma vez tendo decidido fazer o primário, o indivíduo pensa se os benefícios são maiores que os custos do ensino médio. E o indivíduo vai aplicando este raciocínio até chegar ao ponto em que o benefício marginal da educação fica igual ou menor que o custo marginal da educação.

Para as firmas, o raciocínio na margem também é bastante útil na tomada de decisão econômica. O quanto produzir geralmente é decidido com a resposta a este tipo de raciocínio. Uma firma vai produzir até o ponto em que o acréscimo de receita pela venda do último bem produzido (benefício para a firma) for maior que o custo marginal de produzi-lo (perda para a firma).

Princípio 4: Pessoas e firmas respondem a incentivos

As pessoas e firmas tomam decisões dependendo dos custos e benefícios destas decisões. Assim, se houver alteração nestes custos e benefícios, as decisões se modificam. Portanto, podem ser colocados incentivos na economia para induzir as pessoas ou firmas a tomarem certas decisões. Por exemplo, se o preço do combustível aumentar, os

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Para quem trabalha com políticas públicas, o reconhecimento de que os agentes econômicos (pessoas e firmas) respondem a incentivos é de grande importância na determinação da política correta. Os Estados Unidos, nos anos 20, se interessaram em reprimir o consumo de bebidas alcoólicas, onde um dos objetivos era diminuir a criminalidade, pois esta vinha acompanhada do uso abusivo da bebida. Todavia, os agentes econômicos responderam a esta repressão via aumento da produção e distribuição ilegal de bebida e, com o incremento da renda das atividades ilegais (agora com o novo mercado de bebidas alcoólicas compondo o grupo destas atividades ilegais), veio o aumento do crime organizado, mais perigoso que os crimes gerados pelo excesso de consumo de álcool. O resultado líquido para a sociedade da redução de um grande número de pequenos crimes provocados por bêbados e o aumento dos crimes violentos provocados pelo aumento do crime organizado não é fácil de ser determinado. Mas sabemos que os Estados Unidos rapidamente desistiram de proibir o consumo de bebidas alcoólicas.

Princípio 5: Os mercados geralmente fazem um bom trabalho de alocação econômica

Ao longo do século XX, pudemos assistir ao nascimento e morte do sistema socialista de organização econômica, um sistema planificado, com decisões centralizadas sobre produção e distribuição. Ao mesmo tempo, assistimos ao crescimento cada vez mais pujante do sistema de economia de mercado, baseado em decisões descentralizadas que utiliza o mercado para trocas entre os agentes econômicos.

Duas razões preponderam a favor do mercado como mecanismo de alocação de recursos. A primeira é que, numa economia centralizada, o planejador central precisa conhecer todas as preferências dos consumidores e as tecnologias das firmas para decidir o que e quanto produzir. Já numa economia de mercado competitiva, cada consumidor precisa conhecer apenas suas preferências e os preços dos bens e serviços. Por sua vez, cada firma precisa saber a tecnologia e os preços dos insumos utilizados no processo de produção, bem como o preço dos bens e serviços que ela produz − esses preços são dados pelo mercado. Portanto, existe uma economia fantástica de informação ao utilizar o mecanismo de mercado e decisões descentralizadas para alocar recursos escassos.

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A segunda razão é que, como os consumidores desejam pagar o menor preço possível pelos bens e serviços, eles compram apenas das empresas que podem ofertar mais barato – que são as que podem oferecer produtos e serviços a preços inferiores por terem tecnologia mais avançada ou pagar menos pelos seus insumos. Por outro lado, como as empresas querem vender pelo preço mais caro, elas venderão para os consumidores dispostos a pagar mais pelo bem ou serviço – que são aqueles que atribuem o maior valor ao bem. Assim, na economia de mercado, os bens são produzidos pelos produtores mais eficientes e são consumidos pelos consumidores que atribuem o maior valor ao bem. Essa é a famosa “mão invisível” de Adam Smith, que dizia que cada agente, agindo de maneira egoísta e visando apenas ao seu próprio bem, num mercado competitivo, acaba por gerar o bem comum, com os muitos compradores e vendedores fazendo o papel da mão invisível.

Princípio 6: O governo pode, algumas vezes, melhorar a alocação do mercado Para que o resultado descrito no princípio anterior ocorra, são necessárias algumas condições: ausência de externalidades, ausência de poder de mercado, entre outras. Quando estas condições não são válidas, dizemos que existe falha de mercado.

Uma externalidade ocorre quando a decisão de um agente afeta as preferências de outros consumidores ou tecnologias de outras firmas. Poluição é um exemplo de externalidade. Quando o vizinho quer ouvir musica alta até tarde da noite e você deseja dormir cedo por ter um compromisso na manhã do dia seguinte, o mercado não funciona bem. É preciso a ação do estado, por meio de normas jurídicas e a ação da polícia, para garantir a alocação do direito ao silêncio de maneira correta. Outro exemplo é quando uma grande fábrica polui o rio que a comunidade utiliza para a geração de água potável. Neste caso, há necessidade de regulação ambiental para garantir um alto nível de bem-estar para a comunidade.

Poder de mercado ocorre, geralmente, quando existe um ou poucos produtores de um determinado bem. Isto é muito comum nos mercados de água encanada e esgotamento sanitário, eletricidade, transportes, telefonia, e outros serviços de infra-estrutura. Deixados livremente, as firmas operadoras nestes mercados elevariam demasiadamente seus preços,

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muito além do ótimo social. A presença do estado, através da regulação de preços, pode melhorar a alocação desses bens e serviços para a sociedade.

III Fundamentos da demanda

III.1

A demanda individual

A utilidade, ou grau de satisfação de um consumidor, pode ser representada pelo montante que ele está disposto a pagar para consumir certa quantidade de certo bem. Exemplifiquemos com a demanda por água potável.

É comum supor que a utilidade de consumos adicionais seja decrescente. Isto é, a utilidade proporcionada pelo consumo da primeira unidade é maior que a utilidade proporcionada pelo consumo da segunda unidade, que é maior que a utilidade proporcionada pelo consumo da terceira unidade e assim sucessivamente.

Figura 1

litros R$/lt

12

Este princípio, que postula que a utilidade é decrescente com o consumo de um mesmo bem ou serviço, é conhecido como o princípio da utilidade marginal decrescente (ou também lei de retornos marginais decrescentes).

A utilidade total é a soma das utilidades marginais dos bens consumidos. No gráfico 1, a utilidade total é a soma das áreas dos retângulos associados às quantidades consumidas. Se o consumidor consumir 5 unidades, a utilidade total de seu consumo será a área hachurada da figura 1.

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Os consumidores compram unidades do bem em questão até que a utilidade proporcionada pelo último bem, expressa em termos monetários, seja igual ao preço do produto. Isto porque a utilidade proporcionada pelo consumo de mais de uma unidade do bem proporcionaria menos utilidade em termos monetários que o valor pago pelo bem.

Figura 2

litros 12

a este preço só consome 2 litros

6

a este preço consome 6 litros

0

quando a água é grátis consome o quanto quiser R$/lt

Por exemplo, na figura 2, se o preço do litro de água for R$12,00, o consumidor comprará apenas 2 litros. Se o preço do litro de água cair para R$6,00, o consumidor comprará 6 litros. Se o preço do litro cair para zero, o consumidor consumirá até se saciar.

Quando um bem ou serviço tem preço zero, dizemos que este bem não é escasso, pois os consumidores podem consumir esse bem o quanto desejarem. Este é o caso, por enquanto, do ar.

A relação entre o preço e a quantidade consumida de um bem ou serviço por um consumidor é chamada de função demanda do consumidor. A função demanda nos permite

entender o que ocorre quando um usuário da rede pública de água é tarifado por tarifa fixa, independente da quantidade consumida (por exemplo, quando não tem hidrômetro). Neste caso, o preço da água é efetivamente zero e o consumidor consumirá o máximo de água.

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Como foi dito anteriormente, o consumidor comprará quantidades do bem ou serviço até que o valor monetário da utilidade marginal do bem ou serviço seja igual ao seu preço. Figura 3 12 $/lt litros 6 6 custo de produzir 6 litros excedente líquido do consumidor

Em nosso exemplo, se o preço do litro da água for R$6,00, o consumidor comprará 6 litros. Sua utilidade total será a soma das áreas hachuradas. Todavia, sua despesa total será 6 x 6 = 36, que está representada na figura 8 pela área hachurada inferior.

Qual a relação da lei de retornos marginais decrescentes e a curva de demanda? A demanda de um bem qualquer depende não só das preferências, mas também dos preços relativos de todos os outros bens, da renda dos consumidores, e de diversos outros fatores como clima, localidade, aspectos culturais, etc. Os consumidores maximizam sua utilidade total escolhendo quais bens consumir, sujeitos a suas restrições orçamentárias.

A curva de demanda de cada bem pode ser derivada da maximização de utilidade, para cada consumidor. A lei de retornos decrescentes implica que um comprador irá adquirir menos de um bem se seu preço relativo subir e mais se o preço relativo cair. Ou seja, a curva de demanda de um indivíduo obedece à lei da demanda, que diz que o aumento do preço de um bem leva a uma redução no consumo deste bem pelo consumidor, tudo mais mantido constante.

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III.2

O Excedente do Consumidor

A diferença entre a utilidade total obtida pelo consumo e o valor pago pelas unidades consumidas é chamado de excedente do consumidor. Este excedente está representado na figura 3 pela área hachurada superior. O excedente representa o ganho que o consumidor realiza ao comprar o bem ou, falando de outra forma, trocando o bem por dinheiro.

O excedente do consumidor é então a diferença entre a quantidade máxima que um consumidor estaria disposto a pagar por um bem e a quantia realmente paga. A curva de demanda mostra a quantia que os consumidores comprarão do bem a vários preços diferentes. A curva também revela o valor que os compradores dão a unidades adicionais do bem. O equilíbrio do mercado é atingido quando o preço do bem é igual à utilidade marginal da última unidade demandada. Isto significa que todas as unidades infra-marginais (anteriores à última unidade sendo consumida) geram utilidade marginal acima do preço pago por aquela unidade. A somatória deste excedente para todas as unidades demandadas é o excedente do consumidor, que mede, portanto os ganhos recebidos pelos compradores por fazer trocas neste mercado.

É muitas vezes conveniente representar o consumo de quantidades do bem ou serviço como uma variável contínua. Isto é equivalente a supor que o consumidor pode comprar, por exemplo, 2,32 de um bem. A conveniência é podermos representar a curva de demanda por uma função matemática e podermos calcular a utilidade marginal, a utilidade total, bem como o excedente do consumidor, a partir do conhecimento dessa função matemática que representa a demanda. Isto é particularmente útil quando queremos estimar a curva de demanda de um bem. A Figura 4 apresenta um exemplo de uma curva de demanda suave.

Suponhamos que o preço do litro de água seja p. Então o consumidor comprará q

unidades. A área do triângulo ApB mostrada na Figura 4 é o excedente do consumidor, a

área do retângulo 0pBq é o valor pago pelas unidades consumidas, já a soma das áreas do

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Figura 4 litros R$/lt p 0 q B A Excedente do consumidor

Valor pago pelas unidades consumidas

III.3

A demanda agregada

O preço do mercado de um bem não é determinado apenas pela curva de demanda de um consumidor, mas pela curva de demanda do mercado. Esta última pode ser obtida pela soma horizontal das curvas de demandas de todos os indivíduos que participam desse mercado (a figura 5 ilustra o caso de dois consumidores). Como todas as curvas individuais obedecem à lei da demanda, a demanda do mercado também o fará. A curva de demanda de um bem relaciona então a quantidade total consumida de um dado bem com o preço desse mesmo bem.

Figura 5

A lei da demanda diz que a função de demanda individual é negativamente inclinada com relação ao preço do bem. Como a demanda de mercado é dada pela soma de todas as demandas individuais, e cada uma delas satisfaz a lei da demanda, a demanda de mercado também satisfaz a lei da demanda.

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III.4

Fatores que influenciam a demanda

A demanda do mercado, tanto individual como agregada, depende de vários fatores. O principal deles é o preço do bem ou serviço em questão. A demanda por viagem interestadual rodoviária depende do preço do transporte rodoviário interestadual. Com relação ao preço do bem, como já vimos, existe a famosa Lei da demanda: todas as outras variáveis permanecendo constantes, quando o preço sobe, a quantidade demandada cai; quando o preço cai, a quantidade demandada sobe. Esta lei é “quase sempre” válida.

Em economia existe um conceito para representar “todas as outras variáveis permanecendo constantes” chamado de cláusula ceteris paribus. Assim, a Lei da demanda corretamente dita é: ceteris paribus, quando o preço sobe, a quantidade demandada cai;

quando o preço cai, a quantidade demandada sobe. A relação entre o preço do bem e a quantidade demandada é chamada de função demanda.

Mas muitos outros fatores afetam a demanda: a riqueza dos consumidores, o preço de bens substitutos, o preço de bens complementares e o número de consumidores, as expectativas sobre o futuro, as preferências, as variáveis ambientais etc.

Um bem B é dito substituto do bem A se, quando o preço do bem A sobe, a demanda pelo bem B aumenta. Exemplos de bens substitutos são: manteiga e margarina, carne de 1ª e carne de 2ª, fogão a gás e fogão elétrico etc. Um bem C é dito complementar do bem A, se quando o preço do bem A sobe, a demanda pelo bem B se reduz. Exemplos de bens complementares são café e açúcar, automóvel e combustível.

Quando se estuda o que acontece com a quantidade demandada ao variar o preço do bem, está se fazendo um movimento na curva de demanda, como ilustra a figura 6 a seguir:

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Figura 6

$/lt

p

0

q litros

Mudança de preço gera mudança ao longo da demanda

Quando se altera uma ou mais das outras variáveis que influenciam a demanda, que não seja o próprio preço do bem, diz-se que ocorre um deslocamento da curva de demanda, como ilustra a figura 7.

Figura 7 litros R$/lt p 0 q

Mudança nos outros fatores geram deslocamento da curva de demanda

Enquanto podemos dizer que a quantidade demandada cai quando o preço do bem aumenta, não é possível chegar à mesma conclusão com relação à renda. Quando a demanda sobe em função de um aumento da renda (ou seja, quando a renda sobe, a demanda do bem também sobe), diz-se que o bem é bem normal. Quando a demanda cai porque aumenta a renda, diz-se que o bem é um bem inferior. Quando a demanda pelo

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bem aumenta mais que proporcionalmente ao aumento de renda, diz-se que o bem é um bem de luxo.

O efeito das expectativas sobre a curva de demanda é mais sutil. Se existe expectativa de um aumento muito forte no preço da passagem de ônibus interestadual no futuro próximo, pode ocorrer um aumento da demanda por viagens interestaduais rodoviárias no período corrente, o que gera um deslocamento para cima da curva de demanda. Por outro lado, se a expectativa é de queda nos preços das passagens de ônibus devido a uma diminuição recente no preço das passagens aéreas, então pode ocorrer um deslocamento para baixo da curva de demanda por viagens interestaduais rodoviárias.

Variáveis ambientais têm impacto importante sobre a demanda de energia elétrica e água encanada. Se ocorrer uma elevação da temperatura, haverá um aumento no uso de aparelhos de ar condicionados, gerando um aumento na demanda por energia elétrica. Do mesmo modo, uma elevação na temperatura pode induzir as pessoas a tomarem banho com mais freqüência, provocando um aumento na demanda por água encanada.

III.5

Uma aplicação

Suponha que, numa certa cidade, o custo de servir água encanada é de p por

unidade, que representa o custo para se produzir o serviço. A esse preço, os consumidores gostariam de comprar q unidades. Todavia, existe racionamento do serviço de água 1

encanada, fazendo com que a quantidade de água consumida seja q0. Se a água encanada

for gratuita, a quantidade demandada é 2

q . Estes valores estão expressos na figura 8.

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R$/lt custo social de produzir um litro de água

q0 q1 q2

perda social por racionamento p 0 litros perda social por falta de medição

O racionamento gera uma perda de excedente do consumidor igual à área do triângulo à esquerda. Se o custo da sociedade para produzir água encanada é p, então essa

perda de excedente do consumidor é uma perda social, pois os consumidores perdem e nenhum outro agente econômico ganha. Esta perda social ocorre porque a utilidade da água não consumida era maior que o custo de produzi-la.

Por outro lado, se o consumo da água não é medido, cobrando-se um valor fixo pelo consumo de qualquer quantidade e uma vez que o indivíduo tenha pagado esse valor fixo, o preço da unidade de água encanada é zero. Assim, o consumidor usará água até que a utilidade marginal da água seja zero. Como o custo marginal social de produção da água é

p, a sociedade gastará, por cada unidade vendida acima de q , mais do que a utilidade por 1

ela gerada. Nesse caso ocorre perda social pelo uso excessivo de água.

III.6

Elasticidade de demanda

O conceito de elasticidade de demanda é um dos conceitos mais utilizados pelos economistas. Ele fornece ao analista uma medição da sensibilidade da demanda com relação a alterações nos fatores que a influenciam. Com esse conceito podemos dizer não apenas se a demanda aumenta ou se reduz como, também, o quanto ela aumenta ou se reduz.

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O conceito de elasticidade mais importante relacionado à curva de demanda é o de elasticidade-preço da demanda (representado usualmente por εp). Esta elasticidade mede

como a quantidade demandada responde a uma mudança no preço do bem. Lembrem-se que a curva de demanda mostra como a quantidade demandada varia com o preço, tudo mais constante. Porém medir variações absolutas na quantidade consumida causadas por variações absolutas no preço pode levar a inferências incompletas ou vazias de sentido. Por exemplo, suponha que um aumento de R$1 no preço de um bem leva a uma queda na quantidade consumida de uma tonelada métrica. Isto é uma resposta grande ou pequena? Não há como saber a não ser que saibamos o preço e a quantidade iniciais. Se o preço inicial era R$1, então o aumento de R$1 representa um aumento de 100% no preço. Se o preço inicial era R$100, então o aumento representa 1%. O mesmo vale para a quantidade. A elasticidade é uma medida que reconhece e leva em conta mudanças relativas de quantidade e preço. A elasticidade é calculada como a mudança percentual na quantidade dividida pela mudança percentual no preço.

Quando a elasticidade é menor que 1, diz-se que a demanda é inelástica; quando é maior que 1, diz-se que a demanda é elástica; e quando é igual a 1, diz-se que a demanda tem elasticidade unitária. Dizer que um bem tem demanda elástica significa dizer que se o preço desse bem aumentar (ou diminuir) em 10%, a demanda do bem diminui (aumenta) mais de 10%. Ou seja, a elasticidade-preço da demanda de um bem mede a sensibilidade da quantidade demandada a mudanças no preço. Note também que a demanda pode ser elástica para certas faixas de preço e inelástica para outras faixas de preço. Um exemplo de um bem inelástico é o sal (elasticidade ≈ 0,10) e de um bem elástico são tomates frescos (elasticidade ≈ 4,6). A figura 9 ilustra graficamente demandas elástica e inelástica.

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demanda inelástica 1 p ε < preço quantidade demanda elástica 1 p ε >

A elasticidade da demanda por um bem é influenciada por diversos fatores:

Existência de produtos substitutos próximos: se o bem tiver produtos substitutos próximos,

que apresentem propriedades semelhantes para os consumidores, a elasticidade-preço da demanda será mais elevada. Por exemplo, coca-cola e pepsi-cola são produtos similares. Se os preços desses dois produtos forem muito diferentes, isto é, partindo de preços iguais ou muito próximos, se a coca-cola (ou a pepsi-cola) elevar seu preço, ela sofrerá grande redução na demanda por coca-cola (supondo que a pepsi-cola não altere seu preço). Por outro lado, se uma delas reduzir o preço, a que tiver tomado tal decisão terá grande aumento na quantidade demandada por seus produtos. Portanto, nesse caso a curva de demanda é extremamente sensível ao preço.

Necessidade do bem: se o bem for necessário, então sua demanda será pouco elástica, como

é o caso, por exemplo, das demandas por eletricidade, telefonia, água encanada e outros bens e serviços de infra-estrutura. Se o bem for de luxo (jantar fora, viagem aérea de primeira classe), a demanda é provavelmente elástica.

Amplitude da definição de mercado: quanto mais restritamente o mercado é definido, maior

a elasticidade-preço da demanda. Por exemplo, a demanda por bebidas alcoólicas é menos elástica que a demanda por bebidas não alcoólicas, que por sua vez é menos elástica que a demanda por refrigerantes, que por sua vez é menos elástica que a demanda por coca-cola.

Horizonte no tempo: se o tempo é pequeno para o consumidor ajustar sua demanda, a elasticidade é baixa. Mas se o tempo de ajuste for longo, uma elevação no preço pode levar

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os consumidores a pesquisar os preços de produtos substitutos até encontrar algum mais barato, o que, por sua vez, reduzirá sua demanda, elevando a elasticidade preço da demanda.

Além da elasticidade preço de demanda, existem outras elasticidades associadas a diferentes fatores que influenciam a demanda. As mais usadas são as associadas à riqueza e ao preço de produtos substitutos ou complementares. A elasticidade da demanda com relação ao preço de um produto substituto ou complementar é chamada de elasticidade de substituição e sua fórmula é semelhante à da elasticidade preço da demanda, somente interpretando o preço como sendo o preço do produto substituto ou complementar.

Quando a elasticidade-renda da demanda é menor que zero, o bem é bem inferior, pois um aumento na renda dos consumidores leva a uma redução na quantidade consumida. Quando a elasticidade renda da demanda é positiva, o bem é bem normal, pois a quantidade demandada aumenta com a renda. Dentre os bens normais, existem os bens básicos (como, por exemplo, serviços de saneamento), onde a demanda aumenta com a renda, mas aumenta numa proporção menor que a da renda e existem os bens de luxo (jantar em restaurantes chiques, automóveis importados), onde a demanda aumenta numa proporção maior que a do aumento da renda. A figura 10 ilustra esses casos.

Figura 10 quantidade preço bens de luxo bens inferiores 0<εW <1 0 W ε < 1 W ε > bens básicos

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IV

Oferta

Agora veremos o outro lado do mercado, o comportamento dos vendedores de bens. Inicialmente vejamos quais os fatores que afetam a oferta de um bem.

Preço: Quando o preço do bem é alto, sua venda é lucrativa, e portanto a quantidade ofertada será grande. Se o preço é baixo, sua venda é pouco lucrativa, e portanto a quantidade ofertada será pequena. O vendedor alocará seus recursos (tempo, insumos, etc) em alguma outra atividade mais lucrativa. Temos então o que se conhece como a lei da oferta.

Lei da oferta: ceteris paribus, quando o preço de um bem aumenta, sua quantidade oferecida também aumenta.

Preço dos insumos: Quando o preço dos insumos aumenta, a produção torna-se menos lucrativa, e a quantidade oferecida diminui. Portanto há uma relação negativa entre os preços dos insumos e a oferta do bem.

Tecnologia: Melhoramentos tecnológicos tornam a produção mais lucrativa, e portanto fazem aumentar a oferta.

Preço dos outros bens: Se algum outro bem da economia tem um forte aumento de preço, sua produção torna-se vantajosa, de modo que o produtor de um bem pode se sentir estimulado a diminuir sua oferta e usar seus recursos disponíveis na produção do bem que ficou mais caro.

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IV.1 Oferta Individual e Oferta Agregada

Da mesma forma que a demanda agregada é a soma das demandas individuais dos consumidores que compõem o mercado, a oferta agregada é também a soma das ofertas individuais. Ou seja, para se obter a curva de oferta agregada, fazemos a soma horizontal das curvas de oferta individuais.

Movimentos da Curva de Oferta e ao longo da Curva de Oferta.

Quando o preço do bem se altera, ceteris paribus, e o produtor responde alterando a oferta, temos um movimento ao longo da curva de oferta. Por outro lado, quando qualquer um dos determinantes da oferta, exceto o preço do bem, se altera, a curva de oferta se desloca. Temos então um movimento da curva de oferta.

Por exemplo, um choque tecnológico positivo, que torne a produção do bem mais eficiente desloca a curva de oferta para a direita e para baixo. Um aumento no preço dos insumos, por outro lado, vai deslocar a curva de oferta para cima e para a esquerda.

IV.2

A Elasticidade da Oferta

A elasticidade-preço da oferta mede o quanto a quantidade ofertada responde às alterações no preço. A elasticidade-preço da oferta depende da habilidade dos vendedores de alterar a quantidade ofertada do bem. Por exemplo, a oferta de lotes no Lago Sul em Brasília é limitada, existem poucos lotes ainda vazios. Então, é praticamente impossível aumentar a oferta de lotes. A oferta responde muito pouco a variações de preço, e portanto tende a ser bastante inelástica. Já a oferta de livros, por exemplo, tende a ser bem mais

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variando a quantidade ofertada. Em geral, a oferta é mais elástica no longo-prazo do que no curto-prazo, porque as empresas têm mais tempo para aumentar a produção em resposta a preços melhores.

Formalmente, a elasticidade-preço da oferta corresponde à razão entre a variação percentual da quantidade oferecida e a variação percentual do preço:

P P Q Q o o p ∆ ∆ = ε

Suponha então que quando o preço do café sobe de R$3 para R$3,30, os produtores aumentam a produção mensal de 10 milhões de sacas para 11,5 milhões de sacas. A elasticidade da oferta será:

Var. % dos preços: ∆ =(3,30−3)/3=0,1

P P

, ou 10%

Var % da quant. Ofertada: ∆ o =(11,5−10)/10=0,15 o Q Q , ou 15% Então: 1,5 10 15 = = p

ε . Como a elasticidade preço é maior do que um , dizemos que a oferta é elástica, ou seja, a quantidade ofertada variou mais do que proporcionalmente à variação no preço. Se a elasticidade fosse menor do que a unidade, diríamos que a oferta é inelástica. Se fosse igual à unidade, diríamos que a elasticidade é unitária. Os gráficos abaixo mostram diversos tipos de elasticidade-preço da oferta. Temos no primeiro gráfico uma oferta perfeitamente inelástica onde εp =0. No segundo gráfico temos uma oferta inelástica, com a elasticidade-preço menor que um. No terceiro uma oferta elástica (εp >1), e no quarto gráfico temos uma oferta perfeitamente elástica, onde a elasticidade-preço da oferta tende a infinito.

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V Equilíbrio de Mercado

Quando desenhamos as curvas de oferta e demanda num mesmo gráfico, elas se cruzam em um ponto. Esse ponto é chamado de equilíbrio de mercado, e define um preço de equilíbrio, e uma quantidade de equilíbrio. Trata-se de um equilíbrio porque ao preço especificado, a quantidade demandada pelos consumidores coincide com a quantidade ofertada pelos produtores.

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Vejamos o que aconteceria numa situação em que o preço de mercado se encontra acima do preço de equilíbrio. Teríamos nesse caso um excesso de oferta. Ao preço dado, há uma quantidade muito maior do bem sendo disponibilizada para venda pelos produtores do que a quantidade que os consumidores estariam dispostos a pagar. Então os produtos começam a encalhar nas prateleiras das lojas, e os produtores/vendedores são obrigados a baixar o preço. Mas até que ponto os preços caem? Eles cairão até que não exista mais excesso de oferta, e que portanto as quantidades ofertadas e demandadas coincidam.

O que então aconteceria numa situação em que o preço de mercado se encontra abaixo do preço de equilíbrio? Nesse caso, há um excesso de demanda. O preço está tão baixo que os consumidores querem comprar uma quantidade do bem muito maior do que a quantidade que os produtores estão dispostos a ofertar. Então faltam produtos nas prateleiras das lojas, e os produtores percebem a oportunidade de aumentar os preços. Os preços vão subir até o ponto em que as quantidades ofertadas e demandadas coincidam.

Os agentes respondem a incentivos. Portanto, quando mudam os parâmetros que vendedores e compradores estão tomando para tomar a decisão do que é melhor para si, muda também o equilíbrio. Por exemplo, suponhamos que por uma casualidade a temperatura aumente bastante por um período prolongado. Então, ceteris paribus, as pessoas vão demandar uma quantidade maior de sorvetes para cada preço do sorvete. O resultado final será um deslocamento para a direita e para cima da curva de demanda por sorvetes, gerando um preço e uma quantidade de equilíbrio maiores, conforme mostra a figura abaixo. Poderíamos também pensar uma situação em que por uma casualidade qualquer (por exemplo, clima ruim para a colheita de cana-de-açúcar), eleve o preço do

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açúcar, que é um dos principais insumos na produção de sorvetes. Então produzir sorvetes torna-se uma atividade menos lucrativa, e muitos produtores deixam o mercado. A curva de oferta desloca-se para a esquerda e para cima, resultando em um preço mais alto para o sorvete, e uma quantidade menor produzida e vendida no mercado. As figuras abaixo ilustram essas duas situações.

Os dois exemplos acima mostram a capacidade do mercado de ajustar a alocação dos recursos. Em qualquer sistema econômico os recursos escassos têm que ser alocados entre usos que competem entre si. Oferta e demanda determinam conjuntamente os preços dos diferentes bens e serviços da economia. Os preços, por sua vez, são sinais que orientam a alocação dos recursos.

VI

A Escolha do Consumidor

O consumidor busca maximizar sua satisfação (bem-estar, utilidade), que é derivada do consumo dos bens e serviços disponíveis nos mercados. Obviamente, todo consumidor tem recursos (renda) limitados. Dados os preços dos bens e serviços, o consumidor escolhe comprar aqueles que atendem melhor às suas necessidades, e portanto o tornarão mais satisfeito.

Em geral todos nós gostaríamos de aumentar a quantidade e/ou qualidade dos bens que consumimos. Gostaríamos de morar num apartamento maior, de ter um carro melhor,

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O motivo pelo qual a maioria de nós não compramos esses bens é que nossa despesa está limitada pelo nossa renda. Para simplificar a análise, vamos supor que temos apenas dois bens na economia: pizza e Pepsi. Suponha um consumidor com renda mensal de $1000. Suponha também que a pizza custe $10, e a Pepsi custe $2 a unidade. O consumidor tem acesso a diversas combinações diferentes de consumo de pizza e Pepsi. As várias combinações de bens que o consumidor pode comprar são representadas pela sua restrição orçamentária. O gráfico abaixo representa a situação.

Se o consumidor quiser gastar todo seu dinheiro em pizza, ele terá acesso a 100 pizzas, e zero Pepsis. Se ele quiser gastar tudo em Pepsi, comprará 500 Pepsis, e zero pizzas. A reta orçamentária desenhada no gráfico mostra as possíveis combinações de pizza e Pepsi que sua renda lhe permite comprar. A inclinação da reta ( = -5), corresponde à razão de preços dos dois bens (preço relativo), ou seja, 10 / 2. Ela mostra o custo de oportunidade do consumo adicional de uma unidade de um bem, em termos das unidades do outro bem que dever ser sacrificadas.

As preferências do consumidor são representadas por meio de curvas de indiferença (CI). Uma curva de indiferença mostra as diferentes combinações de bens que tornam o consumidor igualmente feliz. A figura abaixo mostra duas das infinitas curvas de

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indiferença de um consumidor. Em geral elas têm esse formato convexo em relação à origem.

A curva I1 no gráfico é uma curva de indiferença. O consumidor é indiferente entre

o consumo de quaisquer pontos nessa curva. Então, o consumidor é indiferente entre consumir as cestas de bens A, B ou C. Mas veja que a cesta D encontra-se em uma curva de indiferença superior, I2. D contém mais pizzas e mais Pepsis do que A. Então, D é

preferível a A. A cesta C possui mais Pepsi e menos Pizza do que D. Mas como o consumidor é indiferente entre A e C, e prefere D a A, então ele necessariamente deve preferir D a C. A inclinação das CI’s mede a taxa à qual o consumidor está disposto a trocar o consumo de um bem pelo de outro. Essa inclinação chama-se taxa marginal de substituição. A taxa mede o quanto o consumidor exige de Pepsi para sacrificar uma unidade de pizza e manter-se indiferente. A taxa marginal de substituição não é constante ao longo da CI. Repare que quanto mais unidades de Pizza ele tiver, mais saturado de pizza vai estar, e menor será a quantidade de Pepsi que ele exigirá para trocar por pizza.

O consumidor vai buscar as curvas de indiferença mais elevadas, pois essas têm maiores quantidades dos bens, e portanto são preferidas. Além disso, as CI’s têm inclinação negativa, são convexas em relação aos eixos, e não se cruzam.

Para determinar a escolha ótima do consumidor, vamos reunir seus dois elementos fundamentais: sua restrição orçamentária, e suas preferências. O consumidor deseja obter a

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consumidor vai buscar a curva de indiferença mais distante da origem que lhe seja factível. Mas quais as cestas de bens são factíveis para o consumidor? Ele pode apenas comprar aquelas que estão dentro de sua restrição orçamentária, ou seja, dentro do triângulo formado pelos eixos X e Y, e sua reta orçamentária. Então , ele vai buscar a CI mais alta, que ainda esteja dentro desse triângulo. Essa curva em geral vai tangenciar a reta de restrição orçamentária, conforme mostra a figura abaixo.

Então, o ponto ótimo é representado pelo ponto onde a CI mais alta possível toca a restrição orçamentária. O consumidor gostaria de consumir uma cesta como A, atingindo a CI I3. Porém ela não é uma cesta factível para a sua renda e os níveis de preço. Uma cesta como B, por exemplo, é factível ao consumidor, mas não é ótima porque ele pode melhorar sua satisfação atingindo uma curva de indiferença mais alta. Um fato importante a ser notado é que no ponto ótimo a inclinação da CI é igual à inclinação da restrição orçamentária. Ou seja, a taxa à qual o consumidor está disposto a trocar um bem pelo outro é igual à taxa de mercado (razão de preços). Vale notar que a escolha ótima do consumidor varia com sua renda, e com mudanças nos preços. Um aumento de renda provoca um deslocamento paralelo da restrição orçamentária para cima. Um aumento no preço da pizza, faz a restrição orçamentária rotar para dentro a partir do ponto onde a restrição toca o eixo vertical.

Referências

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