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Os Recursos Naturais na América
Latina e no Caribe:
Indo Além das Altas e Baixas?
FIESP, São Paulo
13 de setembro de 2010
Escritório do Economista Chefe América Latina e Caribe
Recursos Naturais: Bênção ou Maldição?
Riqueza em recursos naturais –
minerais ou agrícolas – poderiam ser vistos como uma bênção.
Não obstante, a visão da abundância em recursos naturais como uma “maldição” tem uma longa história, desde os
economistas clássicos, até outros bem mais recentes.
A história da América Latina, desde Potosi até a década perdida dos anos oitenta, está repleta de “ciclos de commodities” que acabaram mal.
Mas a “maldição dos recursos naturais” é
risco, não destino. Políticas adequadas
podem convertê-la em “benção”.
Importância dos recursos naturais para as
economias latino-americanas:
Seis fatos estilizados…
A região e a maioria dos países Latino-Americanos são exportadores
líquidos de commodities
4 93 97 15 7 3 13 0 20 40 60 80 100Share in LAC Population 2008 (%)
Share in LAC GDP 2008 (%)
Number of countries Net Commodity Exporters Countries Net Commodity Importers Countries
-40% -20% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140% Honduras Dom. Rep. Dominica Nicaragua Costa Rica GuatemalaPanama Brazil Uruguay Mexico Argentina Peru Colombia Trin. and Tob. ParaguayChile Ecuador Bolivia
Cumulative Change in Terms of Trade
2008q4 - 2009q4 2001q4 - 2008q2
Por volta de 93% da população da ALC, e 97% de sua atividade econômica, estão
em países que são exportadores líquidos de commodities…
Mas existe muita heterogeneidade, e muitas economias pequenas são importadoras. Por isso, os choques têm um impacto assimétrico entre países da
região
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Comparada aos exportadores mais ricos de commodities, a
abundância
na América Latina é relativamente modesta.
Fonte: World Bank Natural Capital Database (World Bank, 2006) e British Petroleum Statistical Yearbook 2009.
Crop land Pasture land Subsoil assets Timber resources Hydrocarbon reserves (barrels p.c) Natural Capital 0.8 1.1 0.7 1.4 1 0.9 4.1 1.6 3.3 6.3 5.5 LAC Developed 1.2
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Mas a
dependência
de recursos naturais é grande, devido à baixa
diversidade no produto e na receita fiscal.
Fonte: World Bank World Development Indicators, UN COMTRADE, autoridades locais, IMF e cálculos do Banco Mundial.
Comm Exports share Total Exports (%) Primary sector as share of GDP (%) HHI Index -Comm Exports Comm Revenues share on Total Fiscal Revenues (%) Comm Revenues share of GDP (%) Comm Exports share in GDP (%) 16.5 66.8 16.3 0.15 23.8 6.2 15.6 61.6 4.7 9.4 0.08 LAC Developed 4.7
O último boom dos preços de commodities foi amplo e duradouro
Teve o maior número decommodities afetadas…
… e o maior número de países beneficiados.
Para a América Latina, foi oboom mais duradouro desde
que estatísticas começaram a ser produzidas.
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Fonte: cálculos do Banco Mundial baseados em dados de preços de exportações de commodities de Cunha, Prada eSinnott (2009a, 2009b). Nota: o gráfico representa a proporção das 7 maiores economias de LAC. Top 16 commodities que sofreram um boom em seus preços para cada período de tempo. Altos e baixos nos preços dos commodities foram definidos seguindo o método de definição de ciclos de Bry-Brochan. O gráfico também mostra os intervalos de altos e baixos para o índice geral de commodities.
LAC-7 Economies: Share of Commodities Experiencing a Boom
0 20 40 60 80 100 Jan -62 M ay -64 S ep -66 Jan -69 M ay -71 S ep -73 Jan -76 M ay -78 S ep -80 Jan -83 M ay -85 S ep -87 Jan -90 M ay -92 S ep -94 Jan -97 M ay -99 S ep -01 Jan -04 M ay -06 S ep -08 sha re L A C c om m odi ti es i n boom %
LAC-7 commodity index in boom LAC-7 commodity index in bust
A estrutura das exportações das economias dos LAC-7 parece
estar voltando a se concentrar em commodities, mas o mesmo
não necessariamente acontece com o PIB.
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Fonte: cálculos do Banco Mundial baseados no UN COMTRADE e nos dados do World Bank World Development Indicators.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 Commodity export share Non-commodity export share
LAC-7 Economies: Primary Sector (in percent of GDP) LAC-7 Economies: Commodity and non-commodity
share of exports (current values, in percent)
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 in constant prices in current prices
No futuro, será que a América Latina se transformará em “celeiro e
mina” da China? Isso representa uma ameaça ou uma oportunidade?
9 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008
Output Co-Movement Between LAC and China
20 years rolling correlation of the Real GDP Growth
Argentina Brazil Chile
Colombia Mexico Panama
Peru
Fonte: cálculos do Banco Mundial baseados em dodos de autoridades locais. Nota: cores sólidas representam correlação significante em um intervalo de confiança de 10%.
A importância cada vez maior da China: o aumento dos
efeitos diretos e indiretos
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Fonte: Cáculos do Banco Mundial usando dados do UN COMTRADE-WITS.
Nota: o gráfico apresenta a porcentagem dos três maiores parceiros comerciais durante os anos 60, 90 e 2000..
47.0 10.0 6.8 43.9 8.3 6.6 36.9 9.8 4.8 0 10 20 30 40 50
USA UK Canada USA Japan Germany USA China Japan
1962 China 0.2% 1990 China 0.8% 2008 China 9.8
Top 3 commodity export destinations for LAC (% of total commodity exports)
A China substituiu, em importância, mercados tradicionais de exportação de commodities Latino Americanos.
Efeitos indiretos: a China foi um fator importante para o aumento substancial da demanda mundial por – e do preço das - commodities.
A hipótese da “maldição dos recursos naturais”:
Mecanismos e evidência
A hipótese da maldição não pode ser ignorada… pensadores e
intelectuais importantes acreditaram nela!
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“Daqui a dez, daqui a vinte anos, você verá: o petróleo traz a ruina… Petróleo é o
excremento do demônio. (início dos anos 70) – Juan
Pablo Pérez, Ministro de Emergia Venezuelano e
fundador da OPEP “Nem hoje, nem em épocas passadas,
as nações que tinham o melhor clima e o melhor solo foram as mais
ricas ou mais fortes; ao contrário, foram as mais pobres” (1848) – John
Stuart Mill
“Petróleo é uma maldição. Gás natural,
cobre e diamantes também fazem mal para a saúde de um país” (2009) – Moisés Naím, Editor chefe da
Foreign Policy “Projetos de mineração… dentre
todos aqueles que o legislador poderia escolher, querendo aumentar o capital de sua nação,
são aqueles aos quais daria
menor incentivo” (1776) –Adam
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Source: Estimativas do Banco Mundial baseadas em dados do Banco Mundial para o PIB per capita de 2008 (em US$ constantes de 2000) e para a abundância de recursos naturais em 2000. Nota: a abundância de recursos naturais é medida pelo total de capital natural per capita.
ARG BOL BRA CHL COL CRI DOM ECU GTM GUY HND HTI JAM MEX NIC PER PRY SLV TTO URY VEN 6 7 8 9 10 11 12 5 6 7 8 9 10 11 Lo g to ta l n at ur al c ap it al p er c ap it a
Log GDP per capita, 2008
Mas a correlação entre o capital natural e a renda per
capita é positiva… Será que a maldição existe mesmo?
Os mecanismos econômicos da “maldição” dos recursos
naturais
Quatro preocupações válidas…
Baixa “conectividade” do setor primário: “a síndrome dos enclaves”.
“Doença Holandesa”: valorização da moeda inibe a produção de outros
bens transáveis.
Armadilha institutional/política: rendas econômicas e sua captura.
Sustentabilidade social e ambiental
A volatilidade dos preços destes recursos exacerba os riscos associados às
quatro preocupações.
E uma aparentemente espúria…
Os testes econométricos mais recentes encontram pouca evidência para a
hipótese de deterioração permanente dos termos de troca (hipótese de
Prebisch-Singer) .
Síndrome dos Enclaves e Doença Holandesa:
a especialização em commodities
inibe
o crescimento?
Algumas evidências apontam para o sim:
Enclave da produção em muitos países no passado, com baixo progresso
tecnológico e pouca geração de empregos
Alguns setores podem não ter potencial para externalidades positivas de
tecnologia, engenharia, e criatividade (Hausman, Rodrik).
Mas…
Evidência econométrica mais sofisticada contradiz resultados iniciais de um
efeito-maldição (endogeneidade da variável dependência)
Muitos países de alta renda se desenvolveram explorando seus recursos
naturais.
Alguns setores de commodities têm alto crescimento da produtividade com
inovação.
Em resumo:
O risco da maldição – armadilhas de baixo crescimento –
existe. Mas ela pode ser evitada com políticas adequadas.
O estudo de caso dos metais ilustra o potencial do setor de
commodities
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LAC metal market share along the value chain (in percent)
0 2 4 6 8 10 12
Worked Share Worked Quality Unwrought Share Unwrought Quality Ore Share Ore Quality
Muito potencial para “upgrading”: alto grau de comércio
intra-indústria implica em diferenciação de produtos.
Porcentagem da ALC no comércio mundial aumentou ao longo do tempo, devido tanto à melhoria da qualidade intra-produto como da melhoria inter-produto.
A produção de metais com alto
valor agregado – produtos de metal trabalhado – aumentou oito vezes na América Latina desde
Armadilha institucional ou de economia política?
A existência de grandes
rendas
econômicas, passíveis de captura,
reorienta esforços e recursos
produtivos para o “rent-seeking”.
Baixo controle social pode levar a um gasto público ineficiente.
• Exemplo importante na América Latina: subsídios de energia = 2% do PIB
Possível armadilha institucional:
enclaves
têm baixa demanda por
instituições melhores
Mas a experiência mostra que as
mudanças institucionais são
possíveis
17 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Suriname Venezuela Ecuador Bolivia Argentina Guyana Colombia Nicaragua Paraguay Trinidad & Tobago Mexico Guatemala Costa RicaEnergy subsidies as a share of GDP, 2005
(in percent)
Duas dimensões institucionais nas quais a América Latina parece sofrer
menos da maldição dos recursos naturais do que outras regiões
Não há efeito sistemático reduzindo a democracia
Mas há retrocessos recentes na qualidade da democracia, em alguns
países produtores de hidrocarbonetos.
Não há tendência para um aumento em conflitos volentos nos
estados ricos em recursos
Parecem existir menos movimentos separatistas, provavelmente
porque esses já foram resolvidos durante a longa história de
independência da maioria dos países Latino Americanos
As instituições em muitos países da América Latina estão cada
vez mais sólidas.
Mas uma maior decentralização pode gerar novos desafios.
Sustentabilidade Social e Ambiental
Bens de propriedade comum, suscetíveis à “tragédia das
áreas comums”.
Super-exploração; sub-investimento
Falhas de coordenação
Riscos específicos de alta poluição:
Vazamentos de petróleo, etc
.
Mineradora La Oroya em Junin, no Perú, onde emissões e perdas já tiveram impactos sérios de saúdes estão agora sendo corrigidos
A volatilidade no mercado de commodities amplifica
outros problemas
•
Alta volatilidade dos
preços
•
Instabilidade no produto
•
Instabilidade no emprego
•
Instabilidade na renda das
famílias
•
Instabilidade fiscal
•
Dificulta as decisões de
investimento de todos os
agentes
20Fonte: Cálculos do Banco Mundial baseados em dados do World Bank World Development Indicators e do IMF International Financial Statistics. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Ar ge nt in a Co lo m bi a Ch ile Ec uad or M ex ico Per u Tr i. & To b. Ven ez uel a Bo liv ia
Standard deviation of annual percentage change
Natural resource revenues Non-natural resource revenues
-40 -20 0 20 40 60 80 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 Annual changes in Real Price Indexes
Gerenciando a abundância em recursos naturais e
a volatilidade do preço das commodities…
P
oupança, Seguros e Boas Instituições
Poupança de longo prazo
para converter capital natural
em outras formas de capital…
A riqueeza natural é um tipo de
capital. Fazê-la render implica
investir parte de sua renda em
outras formas de capital.
Infelizmente, a poupança está
negativamente correlacioanda
com
rendas ecônomicas de
recursos naturais
Taxa de desconto social é alta, dadas
as pressões do desenvolvimento
Dificuldades na organização de ação
coletiva em um horizonte inter-temporal
A
maneira
de poupar importa:
lembrar da “doença holandesa”.
22 BRA PER NIC ARG COL ECU MEX TTO DOM BOL HND GTM VEN CHL -4 0 -2 0 0 20 40 A d ju ste d ne t sa vi n g ( % of G N I) 0 20 40 60 80 100
A volatilidade de curto prazo requer estratégias adicionais
Auto-proteção
: redução da volatilidade da renda através de
diversificação.
• A diversificação do setor de bens transáveis através de poupança e investimento gradual dos retornos.
– Exige evitar a “doença holandesa”...
• Esta diversificação pode ocorrer dentro ou for a do setor de recursos naturais.
• Diversificar também as fontes de receita fiscal.
• Amortecer o impacto adverso nos mais pobres através de transferências.
Seguro financeiro: hedge contra a volatilidade dos preços.
• O mercado para hedges e seguros é incompleto, especialmente para o longo-prazo… mas existem algumas experiências de sucesso no
hedging de curto-prazo (México, Panamá).
Auto-seguro para suavizar o gasto fiscal e ter efeito
contra-cíclico
Muitos fundos de estabilização falharam porque é muito difícil
resistir às pressões políticas de gastar indevidamente durante o
boom…
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A experiência chilena mostra
que a poupança dos lucros
excessivos durante o “boom”,
para uso durante períodos
recessivos, tem retornos tanto
econômicos quanto políticos.
3040 50 60 70 80 90 Fe b/ 06 Apr /0 6 Ju n/ 06 Au g/ 06 Oc t/ 06 De c/ 06 Fe b/ 07 Apr /0 7 Ju n/ 07 Au g/ 07 Oc t/ 07 De c/ 07 Fe b/ 08 Apr /0 8 Ju n/ 08 Au g/ 08 Oc t/ 08 De c/ 08 Fe b/ 09 Apr /0 9 Ju n/ 09 Au g/ 09 Oc t/ 09 De c/ 09
Chile Ecuador Bolivia Venezuela
Lehman Brothers
Cuidando dos problemas ambientais e sociais de maneira
preventiva
Reduza o impacto
ambiental:
Não subsidie a destruição ambiental!
Tire vantagem de soluções via
mercado (permissões de comércio, PES)
Use avaliações ambientais
estratégicas
Construa capacidade nos governos locais e na sociedade para ajudar a fazer cumprir os regulamentos
ambientais
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Reduza o impacto social:
Conceda os títulos de terra com antecedência para grandesprojetos
Eduque os moradores para evitar expectativas não-realistas.
Fortaleça a capacidade local para negociações
Promova a transparência (EITI)Conclusões
A América Latina continua tendo uma vantagem comparativa
na exploração de recursos naturais.
O aproveitamento desta vantagem implica alguns riscos – que
podem e devem ser gerenciados – mas não necessariamente
uma “maldição”.
O gerenciamento dos riscos deve implicar:
Diversificação econômica em vários setores
Instituições sólidas para evitar captura das rendas
Poupança de longo prazo, com vistas a:
• Investir em outras formas de capital
• Evitar a valorização excessiva da moeda
• Suavizar a volatilidade vinda dos preços
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