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Órgão : Quarta Turma Cível Classe : APC - Apelação Cível Num. Processo : 2000 07 1 001218-6

Apelante(s) : ALIANÇA FACTORING FOMENTO COMERCIAL LTDA. Apelado(a)(s) : JOVONETE MARIA JOCA PATRIOTA

Relator Des. : SÉRGIO BITTENCOURT Revisor Des. : JOSÉ CRUZ MACEDO

E M E N T A

TÍTULO DE CRÉDITO – AUTONOMIA E ABSTRAÇÃO – INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS – PORTADOR DE BOA-FÉ – FACTORING.

São inoponíveis contra portadores de boa-fé, assim considerados os que se dedicam licitamente à atividade de factoring, as exceções de caráter pessoal, especialmente as que digam respeito à inexecução do contrato que deu origem ao cheque regularmente transferido.

No Direito Cambiário, a cessão dos títulos ocorre por simples tradição ou mediante endosso, bastando, para a validade deste último, a assinatura do endossante no verso da cártula, sendo, pois, desnecessária qualquer outra formalidade.

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da Quarta Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, SÉRGIO BITTENCOURT – Relator, JOSÉ CRUZ MACEDO – Revisor e MARIO MACHADO – Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador MARIO MACHADO em DAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 3 de fevereiro de 2003.

Desembargador MARIO MACHADO Presidente

Desembargador SÉRGIO BITTENCOURT Relator

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R E L A T Ó R I O

Cuida-se de ação ordinária com pedido de antecipação de tutela ajuizada por Jovonete Maria Joca Patriota em desfavor de Aliança Factoring Fomento Comercial Ltda e Taguá Cozinhas. Alega a autora ter efetuado uma compra no estabelecimento da segunda ré, no valor total de R$ 1.900,00, pago com cinco cheques de R$ 380,00 cada um. Noticia que não recebeu a mercadoria adquirida, tendo sido informada que citada empresa falira, e que as cártulas dadas em pagamento haviam sido repassadas à primeira ré. Promoveu, então, a sustação dos títulos, acrescentando que um deles foi levado a protesto, ocasião em que teve seu nome negativado em cadastros de inadimplentes. Pugna pela antecipação de tutela, com a determinação do cancelamento do protesto e exclusão do seu nome dos órgãos de proteção ao crédito. Pede, por fim, a anulação dos aludidos cheques e a condenação das rés ao pagamento de trinta salários mínimos pelos danos morais que diz ter sofrido.

O MM. Juiz a quo julgou procedente o pedido inicial para rescindir o negócio firmado entre a segunda ré e a autora e declarar nulas as cártulas por ela emitidas. Determinou o cancelamento do protesto do cheque nº 502 e das restrições em nome da requerente. Condenou as rés a lhe pagarem, solidariamente, a quantia de R$ 9.000,00, a título de danos morais. Condenou-as, ainda, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 20, § 3º, do CPC.

Irresignada, a primeira ré apelou (fls. 142/147), sustentando ser uma empresa de factoring, e que adquiriu regularmente os direitos creditícios do cheque, o qual foi depositado na data prevista. Diz que é terceira de boa-fé, sendo legítimo o protesto efetuado. Lembra que é desnecessário o consentimento da devedora para a validade da cessão de crédito, concluindo que permanece a obrigação da emitente em garantir o pagamento do título. Assevera, por fim, ser dispensável a notificação da devedora “em se tratando de cheques ao portador ou nominativos”. Pugna pela improcedência do pedido, inclusive com relação aos danos morais.

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Preparo regular à fl. 155.

Contra-razões da autora (fls. 159/163), pugnando pela manutenção da r. sentença singular.

É o relatório.

V O T O S

O Senhor Desembargador SÉRGIO BITTENCOURT – Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Pretende a apelante a reforma da r. sentença singular que julgou procedente o pedido contido na inicial, alegando ser uma empresa de factoring e que adquiriu, nessa qualidade, os direitos de crédito do cheque emitido pela recorrida. Esclarece não ter cometido ilegalidade alguma ao protestá-lo, lembrando ser portadora de boa-fé e pessoa estranha ao negócio realizado entre a autora e a segunda ré. Reafirma, ainda, não ser necessário, no caso em exame, a notificação da devedora.

Com razão a recorrente. Ao receber da segunda ré o cheque emitido pela apelada, passou a ser sua portadora legítima, podendo, conseqüentemente, reclamar da emitente o seu pagamento. Logo, transferido o cheque, tornou-se a apelante – que se dedica à atividade de factoring – credora da autora, sendo, pois, válida sua pretensão de receber da mesma o valor inserto no título.

É sabido que as exceções de caráter pessoal do emitente não podem ser opostas contra o portador de boa-fé, tendo em vista as características próprias dos títulos de crédito: autonomia, independência e abstração. Assim, para que não prevaleça tal regra, mister se faz que a parte interessada prove que a transferência se deu com o intuito de fraudar, ou que a adquirente do título tenha tido ciência das peculiaridades do negócio subjacente, de modo a ficar caracterizada a sua má fé.

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Não há nos autos, contudo, qualquer evidência de fraude entre a recorrente e a segunda ré, que lhe repassou o título, embora se possa inferir que tenha esta última agido de forma reprovável, ao não restituir o cheque à emitente no momento da rescisão do contrato, fato, entretanto, que não influi na nova relação jurídica estabelecida entre a devedora e a credora. Na realidade, o que se percebe é que a circulação da cártula se deu, como disse, em razão de contrato de factoring, prática hoje muito difundida no comércio varejista.

Desta forma, sem a prova da fraude ou do conhecimento da credora do desfazimento do negócio que deu origem ao cheque que lhe foi repassado, cumpre à emitente honrar o compromisso que através dele assumiu, voltando-se posteriormente, se quiser, contra quem lhe deu o prejuízo, ao deixar de cumprir o contrato de compra e venda e, mesmo assim, colocar em circulação o título que recebeu como pagamento do preço das mercadorias que não entregou.

Inconsistente, ainda, a alegada necessidade de notificação prévia da emitente do cheque para a validade do endosso, posto que constitui o mesmo obrigação autônoma, cuja existência independe daquela assumida pelo devedor principal. Acresça-se que a notificação de que trata o art. 1.069 do CCB diz respeito à cessão de crédito, e não à transmissão de crédito por meio de endosso, como nos autos. É sabido, outrossim, que no Direito Cambiário, a cessão dos títulos ocorre por simples tradição ou mediante endosso, bastando, para a validade deste último, a assinatura do endossante no verso da cártula, sendo, pois, desnecessária qualquer outra formalidade. No mais, o título representativo da dívida foi levado a protesto, o que, por si só, já seria suficiente para aos fins reclamados pela autora. Mesmo que fosse diferente, o protesto supriu referida notificação.

Sobre o tema, Washington de Barros Monteiro, in Curso de Direito Civil, 4º volume, Ed. Saraiva, 29ª edição, pg. 356 leciona que “Créditos existem cuja transferência dispensa a notificação, porquanto sua transferência obedece a forma especial. Tais são os títulos ao portador, que se

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transferem por simples tradição manual, ... , e os títulos à ordem, transferíveis por endosso”.

Confira-se, a propósito, jurisprudência do Eg. TJRS:

“AÇÃO ANULATÓRIA DE TÍTULO CUMULADA COM PEDIDO DE DANO MORAL E AÇÃO CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO. CHEQUE. ENDOSSO. Demonstrado o endosso do cheque, através da notificação do cartório de protestos cambiais, são inoponíveis perante o endossatário exceções de direito pessoal. Apelo improvido”. (APC nº 196247829, Rel. Des. MANUEL JOSÉ MARTINEZ LUCAS, 4ª Câmara Cível). “CHEQUE. ENDOSSO. NOTIFICAÇÃO DO EMITENTE. DESNECESSIDADE. O cheque, quando endossado, é transmitido ao endossatário, que recebe o direito literal e autônomo nele expresso. Para sua cobrança junto ao sacado não é necessária a cientificação do emitente. Discussão do negócio subjacente. Sem imputar a provar a má-fé do endossatário, não cabe ao emitente invocar as chamadas exceções pessoais que teria contra o endossador. Apelo improvido”. (APC nº 197203367, Rel. Des. NELSON ANTÔNIO MONTEIRO PACHECO, 6ª Câmara Cível).

“SUSTAÇÃO DE PROTESTOS. AÇÃO ANULATÓRIA DE TÍTULOS. Caso em que a tese da autora consistiu em apontar como vício a falta de sua notificação a respeito da transferência de promissórias por ela emitidas, para terceiro (réu), sem que fosse notificada nos termos do art. 1.069 do CC. Como se tratou de transferência por endosso, descabia exigir-se aquela providência. Confirmação da improcedência da ação. Apelos Improvidos”. (APC nº 70000951871, Rel. Des. LUIZ LÚCIO MERG, 10ª Câmara Cível).

Ante o exposto, dou provimento ao recurso da apelante, para julgar improcedente o pedido contido na inicial. Condeno a autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 200,00, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC.

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O Senhor Desembargador JOSÉ CRUZ MACEDO – Revisor

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Cuida-se de apelação interposta contra sentença que, nos autos de ação ordinária com pedido de antecipação de tutela, ajuizada por JOVONETE MARIA JOCA PATRIOTA em desfavor de ALIANÇA FACTORING FOMENTO COMERCIAL LTDA. e TAGUÁ COZINHAS, julgou procedente o pedido para rescindir o negócio firmado entre a autora e a segunda ré, declarando a nulidade dos cheques emitidos por ela (autora). Determinou o cancelamento do protesto do cheque nº 502 e das restrições constantes em nome da autora nos órgãos de proteção ao crédito. Condenou ainda as requeridas, solidariamente, ao pagamento do valor de R$9.000,00 (nove mil reais), a título de danos morais e ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.

A primeira ré apela, alegando ser uma empresa de factoring, e que adquiriu regularmente os direitos creditícios do cheque descontado. Aduz ser terceira de boa-fé, estranha ao negócio realizado entre a autora e a segunda ré. Requer a reforma da r. sentença de primeiro grau.

Compulsando os autos, tenho que merece guarida a argumentação da apelante.

O cheque, como título de crédito, regido pela Lei Uniforme de Genebra, adotada no Brasil pelo Decreto nº 57.663, de 24/01/66, submete-se aos princípios inerentes ao direito cambiário, dentre os quais o princípio da autonomia dos títulos de crédito, o qual reza que as obrigações representadas pelo mesmo título são independentes entre si.

Do princípio da autonomia pode-se extrair outros dois princípios: o da abstração e o da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé.

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Pelo que se depreende do princípio da abstração, quando o título está em circulação, este pode circular sem qualquer ligação com a causa a que lhe deu.

Já o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé garante-lhes a segurança na aquisição do título de crédito. De acordo com tal princípio, não se podem opor exceções pessoais ao possuidor de boa-fé, eis que este exercita direito próprio, que não pode ser restringido ou destruído em virtude das relações existentes entre os anteriores possuidores.

Assim leciona o professor RUBENS REQUIÃO em comentário ao princípio da inoponibilidade das exceções:

“É necessário que na circulação do título; aquele que o adquiriu, mas que não conheceu ou participou da relação fundamental ou da relação anterior que ao mesmo deu nascimento ou circulação, fique assegurado de que nenhuma surpresa lhe venha perturbar o seu direito de crédito por quem com ele não esteve em relação direta. O título deve, destarte, passar-lhe às mãos purificado de todas as questões fundadas em direito pessoal, que porventura os antecessores tivessem entre si, de forma a permanecer límpido e cristalino nas mãos do novo portador”. (“Curso de Direito Comercial”, 2º volume, editora Saraiva, 1993, pág. 296)

Tal princípio está consagrado, também, no artigo 25 da Lei nº 7.357, de 02 de setembro de 1985, a saber:

“Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.”

A propósito, registro entendimento deste egrégio Tribunal de Justiça acerca da questão ora analisada:

“TÍTULO DE CRÉDITO - AUTONOMIA E ABSTRAÇÃO - INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS - PORTADOR DE BOA-FÉ - FACTORING - PRESCRIÇÃO. SÃO INOPONÍVEIS CONTRA PORTADORES DE BOA-FÉ, ASSIM CONSIDERADOS OS QUE SE DEDICAM, LICITAMENTE, À ATIVIDADE DE FACTORING, AS EXCEÇÕES DE CARÁTER PESSOAL, ESPECIALMENTE AS QUE DIGAM RESPEITO À INEXECUÇÃO DO CONTRATO QUE DEU ORIGEM AO CHEQUE REGULARMENTE

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TRANSFERIDO. PRESCRITA A AÇÃO CAMBIAL, JUSTIFICA-SE O MANEJO DA AÇÃO MONITÓRIA PARA SE OBTER A EFICÁCIA EXECUTIVA DO TÍTULO, PERDIDA PELO DECURSO DO TEMPO.” (APC50.202/98 DF, 07/12/1998, 4ª Turma Cível, Relator Des. Mário Machado, 12/05/1999, pág.57).

No caso em tela, o negócio jurídico foi realizado entre a apelada JOVONETE e a empresa TAGUÁ COZINHAS, que, segundo consta da inicial, descumpriu o acordado, não entregando a mercadoria no prazo avençado.

Das provas carreadas aos autos pode-se inferir que o cheque foi regularmente transferido para a apelante – empresa de factoring – que não teve qualquer ligação com o negócio que deu causa à presente ação, ou mesmo com a ilicitude do negócio. Depreende-se, também, que o cheque já estava em circulação no momento da sustação.

Desse modo, conclui-se que a apelante é "terceiro de boa-fé", razão por que, de acordo com os princípios supracitados, não se podia exigir comportamento diverso, a não ser o de protestar os títulos que estavam em seu poder, eis que exercia direito próprio. Por essa razão, não procede a presente ação de indenização por danos morais em desfavor da empresa ALIANÇA FACTORING FOMENTO COMERCIAL LTDA.

À vista do exposto, dou provimento ao recurso da apelante, condenando a apelada JOVONETE MARIA JOCA PATRIOTA ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados no valor de R$ 200,00 (duzentos reais), com fulcro no art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil, mantendo indene a sentença quanto à segunda ré.

É como voto.

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO – Presidente e Vogal Com a Turma.

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D E C I S Ã O

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