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NORBERT ELIAS E LEV VIGOTSKI: APROXIMAÇÃO E DISTANCIAMENTO

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Academic year: 2021

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NORBERT ELIAS E LEV VIGOTSKI: APROXIMAÇÃO E DISTANCIAMENTO

Albert Stuart Rafael P. da Silva Historiador formado pela Universidade Metodista de Piracicaba –UNIMEP Mestrando em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da UNIMEP

arstuart2000@yahoo.com.br

Bolsista CNPq.

Resumo:

Propomos com a apresentação deste texto relacionar de maneira sucinta o trabalho de Norbert Elias1, em especial o conceito de “processo civilizador”, com as idéias desenvolvidas por Lev Vigotski2, considerando sua abordagem histórico-cultural. Faremos isso através de duas questões: a primeira permitindo uma aproximação entre o pensamento desses dois autores no que diz respeito à especificidade da condição humana; a segunda apontando para um distanciamento entre Elias e Vigotski no que se refere à caracterização do desenvolvimento psíquico humano.

Abstract

The purpose of this presentation is to relate in a brief way Norbert Elias’ work, especially the “Pacifier Process” concept, with the ideas developed by Lev Vigotski, considering his cultural-historic handling. We are doing it in two ways: the first one allowing an approach among the thoughts of these authors related to the human condition specificity; the second putting forward the distance among Elias and Vigotski related to the human-psycho development characterization.

Palavras-chave/key Words:Processo Civilizador; Abordagem Histórico-Cultural; Psicologia Humana.

INTRODUÇÃO.

Evocar o pensamento de Norbert Elias e Lev Vigotski requer, seja qual for o leitor, uma profundidade compatível com as idéias por eles afirmadas, o que infelizmente não será possível alcançar somente com a leitura deste texto, haja vista o expediente ser restrito para o atendimento desse intento. Portanto, procuramos aqui relacionar de maneira sucinta o trabalho de Norbert Elias, em especial o conceito de “processo civilizador”, com as idéias desenvolvidas por Lev Vigotski, considerando sua abordagem histórico-cultural, seguindo, dessa maneira, a proposta de outros artigos acadêmicos, em especial os de Algel

1

Nos referimos aqui aos seguintes trabalhos: ELIAS, Norbert. Die Höfische Gesellschaft. 1969. [A sociedade de corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1987.]; ELIAS, Norbert. Über den Prozess der Zivilisation, 1939. [O processo civilizador, 2 vols., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994-5].

2

Dedico especial atenção ao trabalho: VIGOTSKI, Lev. “Gênesis de las funciones psíquicas superiores” in: Problemas del desarrollo de la psique. Obras escogidas. Vol 3. Madri: Visor, 1995.

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Pino3 e Maria Cecília Rafael de Góes4, publicados em edições passadas neste mesmo Simpósio, expondo temas comuns entre Elias e Vigotski.

Não podemos deixar de anunciar o fato de que Elias e Vigotski, mesmo sendo autores contemporâneos, com produções dentro de uma mesma faixa de tempo histórico5, tiveram atuações em ramos distintos do saber, sem contar as concepções teóricas também diferentes que ostentavam. Por isso, evitaremos o perigoso jogo de comparações restringindo nossa escrita a apenas duas questões: a primeira permitindo uma aproximação entre o pensamento desses dois autores no que diz respeito à especificidade da condição humana; a segunda apontando para um distanciamento entre Elias e Vigotski no que se refere à caracterização do desenvolvimento psíquico humano. Vejamos a primeira:

UMA APROXIMAÇÃO: A ESPECIFICIDADE DA CONDIÇÃO HUMANA.

Um aspecto de aproximação entre os trabalhos de Vigotski e de Elias diz respeito ao tratamento que dão à condição humana como sendo resultado da ação do próprio homem. Tanto Elias quanto Vigotski minimizam a idéia de condições inatas de comportamento ou abortam qualquer explicação do tipo metafísico para os aspectos humanos. Vejamos como isso aparece em Norbert Elias:

Para Norbert Elias cada prática humana deve ser compreendida como estando numa rede de inter-relações com outros elementos da cultura humana que se afetam reciprocamente. Tal idéia rompe com o pressuposto de que é a natureza biológica ou as determinações de cunho metafísico que dão sentido ao homem ou às suas coisas. Para Elias o homem é um ser peculiar em vista de outras espécies porque está sendo construído a cada instante por ele próprio, não havendo nada que seja passível de estranheza na sua constituição. Temos a partir do pensamento de Elias a afirmação de que aquilo que dá condição humana ao homem deva ser encontrado na própria história do homem, mais precisamente nas configurações que estabelece com seus pares, ou seja, no âmbito social. Sendo assim, o estudo da psique humana (psicogênese) não pode ser compreendido se não estiver relacionado aos estudos da sociedade (sociogênese). É, portanto, no campo da história social humana que os gestos e as atitudes humanas ganham sentido, ganham integibilidade.

Ao propor o estudo da psicogênese interligado ao estudo da sociogênese Elias é erroneamente associado à tradição behaviorista de que o comportamental humano é apenas uma resposta aos estímulos do mundo sensível. Elias procura justamente afastar-se dessa noção de que no universo formado pelo homem dois planos distintos, porém inseparáveis,

3

PINO, Angel. “Cultura e Processo Civilizador: um confronto de idéias de N. Elias e Lev. Vigotski”, artigo apresentado no IX Simpósio Internacional Processo civilizador, realizado na cidade de Ponta Grossa – PR, 2005.

4

GOES, Maria Cecília Rafael de. “Lev Vygotski e Norbert Elias: notas sobre suas proposições a respeito de linguagem e conhecimento.” artigo apresentado no IX Simpósio Internacional Processo civilizador, realizado na cidade de Ponta Grossa – PR, 2005.

5

A produção de Vigotski se fixa nas décadas de 20 e 30 do século XX, sobretudo no campo da psicologia enquanto que a de Norbert Elias percorre as décadas de 1930 a 1990 do mesmo século, privilegiando o campo da sociologia e da história.

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se efetivam: o plano do indivíduo e o plano da sociedade, sendo o primeiro reflexo do segundo. Seu pensamento compreende que a formação da personalidade de um indivíduo e as estruturas da sociedade traçam inter-relações indissociáveis e evolutivas:

“Pode-se dizer com absoluta certeza que a relação entre o que é denominado conceitualmente de "indivíduo” e de “sociedade” permanecerá incompreensível enquanto esses conceitos forem usados como se representassem dois corpos separados, e mesmo corpos habitualmente em repouso, que só entram em contato um com o outro depois, por assim dizer6.”

Partindo desse pressuposto de reciprocidade entre psicogênese e sociogênese Elias toma como objeto de estudo as posições e as relações de interdependências que um indivíduo ou um grupo social mantém num dado momento histórico como sendo primordiais para a caracterização das suas identidades. Esse tratamento permite pensar os objetos culturais para além dos vocábulos, dos conteúdos, das formas pensadas em termos universais que formatam o objeto sem considerar as contingências históricas que permitem a sua emergência no campo cultural. A passagem abaixo atribuída a Paul Veyne é lapidar em demonstrar o propósito de Elias:

“neste mundo, não se joga xadrez com figuras eternas, o rei, o bispo: as figuras são aquilo que delas fazem as configurações sucessivas do tabuleiro.7”

Assim como uma peça de um jogo de xadrez adquire valor variável conforme sua posição no tabuleiro e de acordo com suas interdependências em relação às outras peças, a maneira de pensar e de agir de um individuo também se vê atreladas à posição social que esse indivíduo ocupa e à rede de interdependências que com ele estabelecem ligações. Foi a luz desse princípio que Norbert Elias caracterizou a vida na sociedade de corte como sendo pautada pela etiqueta e pelo prestígio. Os motivos que levavam os cortesãos a se submeterem à regra da etiqueta e à corte dizem respeito às pressões que esses nobres sofriam em decorrência das suas posições e interdependências no plano social:

“A pressão essencial não tinha por origem o exercício de funções de poder, porque a nobreza francesa estava em larga medida afastada de todas as funções políticas desse gênero. Também não eram motivos financeiros porque, sob este aspecto, havia saídas melhores que a corte. O que estimulava, em primeiro lugar, os cortesãos, era a necessidade de se distinguirem da nobreza rural menosprezada, da nobreza de toga e do povo, de salvaguardar e aumentar um prestígio conquistado em árduas batalhas.8”

Os trabalhos de Elias, via de regra, apontam para elementos factuais que comprovam que determinadas mudanças no âmbito emocional ou psicológico das pessoas

6

ELIAS, Norbert. Über den Prozess der Zivilisation, 1939. [O processo civilizador, volume 1, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 221 ].

7

VEYNE, Paul. “Foucault révolutinne l’historie” in: Comment on écrit l’historie suivi de Foucault révolutionne l’historie, Paris: Seuil, 1978, p. 236. citado por CHARTIER. Roger. op.cit. p. 65 8

ELIAS, Norbert. Die Höfische Gesellschaft. 1969. [A sociedade de corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1987. p .76]

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estão comprometidas com uma linha evolutiva somente perceptível quando analisadas dentro de uma grande faixa do tempo histórico também chamada de tempo de longa duração. Através da análise de uma série de questões por muito tempo rotuladas de indignas de nota pelo historiador, como por exemplo, o estudo da etiqueta, Elias constatou que o homem ocidental nem sempre manifestava da mesma maneira o seu modo de comportar-se. A identificação dessa alteração comportamental e a trajetória evolutiva em que ela se encaixa só foi possível de ser estudada utilizando-se do conceito de “processo civilizador”. O conceito de processo civilizador e a maneira como ele age sobre o indivíduo será caracterizado no próximo tópico Um distanciamento: “mediação social” e “processo civilizador”. Por ora alertamos que a idéia de processo civilizador deve ser pensada como algo construído pelo homem e que afeta o próprio ser do homem. Refuta-se qualquer teoria que apresenta o processo civilizatório como algo oriundo da natureza ou de algo que não reconhece a ação humana na sua constituição. Passamos à diante a identificar no pensamento de Lev Vigotski a idéia de que o caráter humano do indivíduo deve ser procurado no âmbito sócio-cultural, ou seja, a partir das condições concretas da história social dos homens.

Temos a partir do pensamento de Lev Vigotski a compreensão de que a atividade social ligada ao trabalho e o surgimento da linguagem são fatores fundamentais para a constituição da atividade consciente humana. Assim como Elias Vigotski acreditava que o comportamento humano não poderia ser explicado através de concepções metafísicas. Porém, ao contrário de Elias que manifestava em suas obras uma afinidade com a sociologia praticada por Max Weber, Vigotski adere às concepções marxistas - em muito devido à circunstância revolucionária do ambiente em que seu pensamento veio a emergir – a revolução Russa de 1917.

No entender de Vigotski tudo aquilo que tornaria o homem diferenciado em relação às outras espécies animais teria uma explicação a partir do entendimento da atividade que o homem exerce sobre o meio ambiente para dele extrair suas necessidades. A busca pela satisfação das necessidades primordiais como, por exemplo, comer, beber, abrigar-se, vestir-se, fez com que esse homem produzisse os meios de sua existência e, indiretamente, a sua própria vida material, as suas representações e as suas idéias. O surgimento da linguagem, tão fundamental para a formação da atividade psíquica humana como veremos a diante, é um dos aspectos originados dessa atividade social pela busca do saciamento das necessidades vitais. Progressivamente, aponta Vigotski, esse tipo de linguagem deixou de ser exclusivamente voltada para o atendimento da experiência imediata passando a se constituir num sistema de códigos suficientemente capaz de promover o conhecimento humano e solucionar problemas postos para além da experiência sensorial. Assim, no âmbito da história da espécie animal e humana temos a linguagem funcionando de diferentes maneiras. Enquanto a linguagem natural dos animais está comprometida com o estado ou com a condição imediata vivenciada pelo animal, no homem a linguagem passa a caracterizar os fenômenos a partir naquilo que ele possui de peculiar ou naquilo que permite inseri-lo numa rede de generalizações e categorias.

A linguagem verbal é privilegiada por Vigotski dentre uma série de outras manifestações semióticas humanas. Ela pode ser compreendida como sendo uma das ferramentas psicológicas mais influentes na vida humana graças ao seu duplo caráter: de estar voltada para a orientação do outro (comunicação) e para o próprio indivíduo que a utiliza (regulação do comportamento). Sobre este segundo aspecto a linguagem aparece

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agindo no plano da imaginação, da criação, da regulação da psique humana, daí a pertinência em querer relacionar os processos psicológicos humanos com os aspectos culturais e históricos oriundos da atividade social. Eis a abordagem vigotskiana: a atividade consciente humana como fruto do agir humano, que por sua vez se insere nas condições de vida concreta, com seus aspectos sociais, culturais, forjadas pelo próprio homem.

Para que a atividade consciente humana fosse consumada a partir da atividade social do trabalho um outro fator se coloca como fundamental na abordagem histórico cultural de Vigotski: o da mediação social. Tendo em vista a diferenciação que estabelecemos com o conceito de “processo civilizador” de Norbert Elias, a caracterização do conceito de mediação será exposta no tópico a seguir.

UM DISTANCIAMENTO: “MEDIAÇÃO SOCIAL” E “PROCESSO CIVILIZADOR”

Um dentre os vários aspectos de discordância entre o pensamento de Vigotski em relação ao de Elias está no entendimento sobre como se dá o processo de constituição da atividade psíquica humana a partir da relação entre indivíduo e meio social.

Para Vigotski, por exemplo, a atividade psicológica humana é determinada pelo trabalho do homem com o domínio de instrumentos de mediação semiótica. A atividade psicológica é, portanto, um produto da participação do sujeito em situações culturais específicas e se caracteriza pela constante mutação, graças à interiorização de instrumentos culturais externos, ou seja, existentes no meio social, porém codificados em uma linguagem semiótica:

“O externo se identifica com o social, daí que a interiorização se refere sempre á reorganização interior de uma operação psicológica posta em jogo no meio social e, portanto, ligada à linha cultural de desenvolvimento.9”

Ao falarmos do conceito de interiorização, conforme preconiza Vigotsky, devemos abolir a idéia de “cópia” dos elementos que compõem o universo cultural do homem. Tal conceito nos remete a uma série de mecanismos e processos psicológicos que permitem o domínio progressivo dos instrumentos culturais e a regulação do comportamento, que por fim formam os Processos Psicológicos Superiores – PPS tipicamente humanos. Isso significa dizer que a natureza dos PPS não se configura a partir da acumulação de instrumentos culturais externos ao indivíduo.10 Antes da internalização os instrumentos são codificados em signos (a linguagem verbal é uma dentre vários signos possíveis) e esses signos reconfiguram a atividade psicológica do indivíduo. Trata-se de um movimento de mão dupla entre sujeito e cultura, onde o domínio do primeiro em relação ao segundo leva a transformação do primeiro.

9

BAQUERO, Ricardo. “Idéias centrais da teoria sócio-histórica”. In: Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p.34

10

Na tradição Behaviorista, por exemplo, o comportamental é tido como resposta aos estímulos do mundo sensível e se altera qualitativamente conforme o repertório adquiro pelo indivíduo.

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É possível afirmar que Vigotski atribui ao signo a função de ferramenta psicológica quando, no plano externo (vida social), ele se torna um meio de comunicação ou meio de influência (conexão psíquica) em relação aos demais indivíduos. A noção de ferramenta psicológica também pode ser associada ao signo quando no plano interno (intrapessoal). Nesse caso, cabe ao signo a responsabilidade de conversão das conexões iniciais do cérebro em relações psicológicas mais complexas. O signo assume, portanto, a função comunicativa e produtora de efeitos no meio social bem como de regulação do próprio comportamento individual. Isso consiste em dizer que o signo é um meio de comunicação que age tanto na formação das funções psíquicas de caráter social quanto nas conexões psíquicas de cunho particular de um indivíduo.

O que ocorre na verdade nesses dois planos é o que Vigotski denomina de internalização da cultura por meio de mediações semióticas. O desenvolvimento humano se daria a partir da internalização daquilo que o próprio homem criou (cultura- signos) através da sua atividade social humana. Sem esse processo de internalização não haveria a possibilidade do homem deixar o plano natural para inserir-se no plano cultural.

Já em Norbert Elias existe a compreensão de que o homem constrói lentamente a

sua própria condição de humano através de um “processo civilizador” proveniente do mundo externo-social. Segundo Roger Chartier a teoria sociológica de Norbert Elias sobre o processo civilizador poderia ser assim descrita:

“o processo de civilização consiste, antes de mais, na interiorização individual das proibições que, anteriormente, eram impostas do exterior, numa transformação da economia psíquica que fortalece os mecanismos do autocontrole exercido sobre as pulsões e emoções e que faz passar do condicionamento social ao auto-condicionamento.11”

Chartier expressa aí a teoria elisiana de que o comportamento humano, através de um condicionamento ou de um adestramento, evolui em nome da civilização. O indivíduo se vê obrigado a inserir-se num processo civilizador que já está em curso desde há muitos séculos e que somente é perceptível se colocado na análise do tempo de longa duração. Quanto maior for o grau de civilidade de um grupo social maior será a pressão sobre o indivíduo para a contenção dos seus instintos, das suas paixões.

Portanto, para que um indivíduo possa chegar ao patamar civilizatório da sociedade em que vive, conquistado ao longo da história, ele deverá passar por um processo no âmbito individual, porém de cunho social, de mudança da sua estrutura psíquica. A sociedade, segundo Elias, exige que o indivíduo controle ou oculte as suas paixões, os seus sentimentos, em nome daquilo que é tido como civilizado. Tal exigência ocorre em escala progressiva na história de vida de um indivíduo, cabendo à família (pai e mãe) nos primeiros anos de vida a tarefa de propagar os hábitos socialmente exigidos. O processo civilizador passa a ser o responsável por promover o distanciamento do adulto em relação à criança, no que diz respeito ao comportamento e a estrutura psíquica.

“A constelação socialmente modelada de hábitos e impulsos dos pais dá origem à outra, semelhante, no filho. Elas podem operar ou na mesma

11

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difel, 1988. p.110.

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direção ou em outra inteiramente diferente da desejada ou esperada pelos pais com base em seu próprio condicionamento12.”

Para Elias a relação entre pais e filhos evidencia que os hábitos, palavras e condutas manifestadas pelos pais são lentamente modelados na vida da criança. Essa tarefa de condicionamento não segue necessariamente um planejamento que se torna mais adequado para cada tipo de criança. Às vezes ela acontece de maneira não intencional como se obedecesse a um movimento automático. Aliás, é necessário apresentar que a atividade psíquica humana afetada pelo condicionamento social passa a ser incorporada pelo indivíduo como “um superego estritamente regulado13” O indivíduo sofre de tal maneira as pressões da civilização, dividindo a estrutura psíquica entre aquilo que remete à esfera do privado e à esfera pública, que se torna um hábito. O controle das proibições ao se transformar em hábito leva o indivíduo a se autocontrolar mesmo quando se encontra em um ambiente privado. Eis aí a interdependência observada por Elias entre a estrutura social e a estrutura psíquica fundamental para a constituição do pensamento humano. Referências bibliográficas:

BAQUERO, Ricardo. “Idéias centrais da teoria sócio-histórica”. In: Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difel, 1988.

ELIAS, Norbert. Die Höfische Gesellschaft. 1969. [A sociedade de corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1987.

_____________. Über den Prozess der Zivilisation, 1939. [O processo civilizador, volume 1, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

GOES, Maria Cecília Rafael de. “Lev Vygotski e Norbert Elias: notas sobre suas proposições a respeito de linguagem e conhecimento.” artigo apresentado no IX Simpósio Internacional Processo civilizador, realizado na cidade de Ponta Grossa – PR, 2005.

PINO, Angel. “Cultura e Processo Civilizador: um confronto de idéias de N. Elias e Lev. Vigotski”, artigo apresentado no IX Simpósio Internacional Processo civilizador, realizado na cidade de Ponta Grossa – PR, 2005.

VIGOTSKI, Lev. “Gênesis de las funciones psíquicas superiores” in: Problemas del desarrollo de la psique. Obras escogidas. Vol 3. Madri: Visor, 1995

12

ELIAS, Norbert. Über den Prozess der Zivilisation, 1939. [O processo civilizador, volume 1, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 188 ].

13

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Endereço do Autor:

Rua Tamandaré nº 85, Bairro Nova América, Piracicaba-SP, CEP: 13.417-778. Fone: 19 – 3411.3121 / arstuart2000@yahoo.com.br

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