APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº 539.858-0/6 – SÃO CARLOS Apelantes: Instituto Nacional do Seguro Social
Milton Franco de Godoy (Recurso Adesivo) Apelados: Idem
ACIDENTE DO TRABALHO. A falta da comunicação do acidente do trabalho (CAT) ao INSS não inviabiliza a ação acidentária. O problema, de caráter administrativo, deve encontrar solução entre o INSS e a empresa. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. Suficiente a prova da ocorrência do acidente, da incapacidade total e permanente e do nexo causal. Correto o enquadramento legal verificado pela r. sentença com a concessão das prestações por acidente do trabalho.
TUTELA ANTECIPADA. A antecipação da tutela na fase recursal de Ação de Prestações por Acidente do Trabalho é írrita. Incertos mas possíveis Recursos Constitucionais do INSS não têm o condão de impedir a execução provisória do julgado, via autos suplementares.
Não se afigura presente a necessidade da anulação do processo porque, manifestando-se sobre todos os atos e termos e firmando parecer, a Digna Procuradoria de Justiça supriu a falha “da intervenção”, notadamente porque nenhum ato do procedimento recebeu argüição de nulidade.
Voto nº 3.198 Visto.
MILTON FRANCO DE GODOY ingressou com Ação de Prestações por Acidente do Trabalho contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, qualificação e caracteres das partes nos autos, alegando que em razão de acidente durante a realização de seu trabalho perdeu a visão total do olho direito.
Encartados os laudos firmados pelo Perito Judicial e pelo Assistente Técnico da Autarquia, e vencida a instrução, houve entrega da prestação jurisdicional, sendo o INSS condenando aos pagamentos de auxílio doença acidentário entre 21.09.95 a 19.03.97, e aposentadoria por invalidez acidentária a partir de 20.03.97, abono anual, juros de mora, despesas processuais e honorários de Advogado fixados em 15% sobre as parcelas vencidas até a sentença.
Recorreu o INSS. Aduz em preliminar a falta da Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT. No mérito, persegue a reforma da sentença porque o Requerente não faz jus ao benefício pleiteado.
MILTON FRANCO DE GODOY contrariou as razões e apresentou Recurso Adesivo, pedindo a “... tutela antecipada do benefício previdenciário, determinado a implantação de sua aposentadoria por tempo de serviço ...” (Folha 174). O INSS apresentou contra-razões.
A PROMOTORIA DE JUSTIÇA manifestou-se pela não intervenção do Ministério Público no processo, e a PROCURADORIA DE JUSTIÇA, discordando e afirmando parecer contrário sobre a intervenção do Ministério Público, opinou pelo improvimento dos recursos.
É o relatório, adotado no mais o da r. sentença.
A falta da Comunicação de Acidente do Trabalho - CAT
não tem relevância. O princípio do livre acesso ao Judiciário1 torna-a
dispensável, além de ser obrigação do empregador e simples faculdade do trabalhador. O problema, de caráter administrativo, deve encontrar solução entre o INSS e a empresa.
Sobre a intervenção do Ministério Público o entendimento adotado pela Digna Procuradoria de Justiça está correto.
No caso de custos legis as hipóteses estão delineadas nos incisos I a III, do artigo 82.
Nos dois primeiros incisos a intervenção decorre pela atividade vinculada, mas no último o legislador conferiu à Instituição poder discricionário.
Ao dizer que haverá a intervenção obrigatória do Ministério Público em todas as demais causas em que há interesse
público, consignou o termo: evidenciado pela natureza da lide ou
qualidade da parte.
Pode-se definir interesse público como aquele que está adstrito a todos os fatos, ou a todas as coisas que propiciem benefícios comuns, ou para proveito geral, ou que se imponham por uma necessidade de ordem coletiva.
A jurisprudência já firmou que interesse público do art. 82, inc. III, do cód. de Proc. Civil é, em última análise, o interesse indisponível, que não é o caso de simples cobrança de imposto estadual.
O não entendimento à obrigatoriedade implica em nulidade, conforme se vê dos arts. 84 e 246, páragrafo único, do Cód. de Proc. Civil.
Essas disposições são aplicáveis às ações de prestações por acidente do trabalho, sob pena de nulidade, nos termos do art. 129, inc. II, e parágrafo único, da Lei nº 8.213, de 1991, c.c. art. 170, inc. II, e parágrafo único, do Dec. nº 357, de 1991, atualmente art. 154, inc. II, e parágrafo único do Dec. nº 2.172, de 1997, c.c. arts. 84, 246 e parágrafo único, do Cód. de Proc. Civil.2
Não se afigura presente a necessidade da anulação do processo porque, manifestando-se sobre todos os atos e termos e
firmando parecer, a Digna Procuradoria de Justiça supriu a falha “da intervenção”, notadamente porque nenhum ato do procedimento recebeu argüição de nulidade.
MILTON FRANCO DE GODOY alegou que foi vítima de acidente no final do mês de dezembro de 1994, quando “... estava fazendo madeiramento, na rebatida do martelo, um prego espirrou atingindo o olho direito, perfurando a sua retina, vindo a perder totalmente a visão ...”(Folha 03).
Embora de modo confuso, ratificou essa declaração em depoimento pessoal (Folha 141), no que foi corroborado pelas testemunhas:
... soube por intermédio da mulher de Milton que ele sofreu um acidente porque enquanto trabalhava com um martelo um prego escapou e atingiu seu olho ...3.
... Enquanto lidava com o martelo, um prego se desprendeu e atingiu seu olho ...4 .
... Soube por intermédio de Milton que ele foi atingido no olho por uma farpa de madeira enquanto trabalhava como carpinteiro ...5 .
O laudo pericial e os esclarecimentos são escassos de melhores elementos, mas permitem concluir pela incapacidade funcional e sua extensão:
... O A. tem capacidade laborativa muito comprometida em consequência de sua acuidade visual, sendo quase nula sua capacidade para exercer qualquer outra atividade ... (Folha 97).
A incapacidade que impede o Segurado de exercer suas atividades profissionais pode decorrer de acidente do trabalho típico, ou de doença profissional ou do trabalho. Pode ser incapacidade física ou material. Para a concessão da aposentadoria por invalidez acidentária será
2- Irineu Antonio Pedrotti, Acidentes do Trabalho, Ed. Leud, 1998, pág 526. 3 - Arthur Ferraz de Barros, folha 121.
4 - Florindo Buzinari, folha 122.
preciso comprovar a incapacidade fisica total, a impossibilidade de reabilitação para o exercício do trabalho e o nexo etiológico ou causal.
A aposentadoria por invalidez será devida ao acidentado que, estando ou não em gozo de auxílio doença, for considerado incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, ou seja, quando a perícia médica concluir pela existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho.
Entende-se total a incapacidade laborativa quando, em razão de acidente, perde o trabalhador a visão de um olho, estando já a outra visão comprometida, e isso porque a avaliação deve ser feita quanto à totalidade das suas condições físicas. Assim, a visão monocular enseja a concessão da aposentadoria por invalidez acidentária6.
Suficiente a prova da ocorrência do acidente, da incapacidade total e permanente e do nexo causal. Correto o enquadramento legal verificado pela r. sentença com a concessão das prestações por acidente do trabalho.
O Requerente pretende a “... tutela antecipada do benefício previdenciário, determinado a implantação de sua aposentadoria por tempo de serviço ...” (Folha 174).
Verifica-se que somente na fase recursal surgiu a pretensão. Para viabilização da antecipação da tutela a alternatividade dos requisitos conforme elenco dos incs. I e II, do art. 273, do Cód. de Proc. Civil, deve vir cumulada com o previsto no caput. E o § 2º do mesmo dispositivo diz que não será concedida a tutela antecipada se houver possibilidade de irreversão do provimento.
6 - II TAC/SP - Ap. s/ Rev. 431.060 - 8ª Câm. - Rel. Juiz MILTON GORDO - J. 18.5.95. No mesmo sentido: Ap. s/ Rev. 444.986 - 6ª Câm. - Rel. Juiz PAULO HUNGRIA - J. 30.1.96; Ap. s/ Rev. 460.913 - 11ª Câm. - Rel. Juiz JOSÉ MALERBI - J. 26.8.96; Ap. s/ Rev. 468.369 - 8ª Câm. - Rel. Juiz ORLANDO PISTORESI - J. 31.10.96.
Exige-se que a prova inequívoca da verossimilhança da alegação esteja associada ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Mesmo que demonstrados esses requisitos o perigo de perpetuação do provimento não deve estar presente.
Inútil o que pede o Requerente. A fronteira objetiva de eventual antecipação da tutela, nesta fase, coincide em extensão com a da prestação definitiva.
Os recursos do INSS contra sentenças de procedência em Ação de Prestações por Acidente do Trabalho, em face da M.P. nº 1.523/96, que alterou o art. 130, da Lei nº 8.213/91, passaram a ser disciplinados pela regra geral do art. 520, primeira parte, do Cód. de Proc. Civil, que conferindo-lhes duplo efeito obsta a execução provisória.
Em face ao decidido na ADIN 675-4, pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, suspendendo parcialmente a vigência do artigo 130 da Lei 8.213/91, o recurso de apelo do INSS deve ser recebido em seu duplo efeito, impedindo a execução provisória da sentença. Agravo retido provido7.
O mesmo não ocorre daqui para a frente. Incertos mas possíveis Recursos Constitucionais do INSS não têm o condão de impedir a execução provisória do julgado, via autos suplementares.
Em face ao exposto, rejeita-se a preliminar e nega-se provimento aos recursos.
IRINEU PEDROTTI Relator
