PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC – SP
Karina Alves Biasoli Stanich
O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA:
Representações sociais de professores do 5.º ano
do Ensino Fundamental
Mestrado em Educação: Psicologia da Educação
São Paulo
2013
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC – SP
Karina Alves Biasoli Stanich
O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA:
Representações sociais de professores do 5.º ano
do Ensino Fundamental
Mestrado em Educação: Psicologia da Educação
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção
do título de MESTRE em Educação:
Psicologia da Educação, sob a orientação da
Profa. Dra. Clarilza Prado de Sousa.
São Paulo
2013
BANCA EXAMINADORA
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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta dissertação, por processos de fotocopiadora ou eletrônicos.
São Paulo, ____ de agosto de 2013.
Dedico este trabalho a todas as pessoas que, por meio dos seus
olhares, me ajudaram a SER no mundo.
Aos meus pais (Terezinha e Reinaldo), que da forma mais genuína
geraram o SER. E por meio dos seus exemplos, afetos e respeito me
lançaram na jornada de SER.
Às minhas irmãs (Kelli e Keila), meus cunhados (Eduardo e Felipe) e
minha sobrinha (Isadora), que com suas chegadas abriram novas
possibilidades de SER, mais afetuoso, mais solidário e mais alegre.
Ao meu marido (Cleber), que a partir do encontro e por meio do seu
companheirismo possibilitou o SER do compromisso, do cuidado e do
cultivo.
Ao meu filho (Theo) que, com sua chegada, trouxe consigo a
possibilidade do SER que ama de forma arrebatadora e
incondicional.
Aos meus queridos professores, colegas da Educação e alunos
(de toda a vida), que foram fontes riquíssimas de inspiração
para o SER da reflexão.
Aos meus padrinhos (Clélia e Miguel) e aos meus avós (Albertina,
Hermínio, Idalina e Raul), que ensinaram o SER da ternura.
A
GRADECIMENTOS
À querida orientadora Profa. Dra. Clarilza Prado de Sousa, que com sua
generosidade e competência tornou possível o enfrentamento dos desafios propostos na
elaboração deste trabalho, os meus mais sinceros agradecimentos!
À Profa. Dra. Bernardete Angelina Gatti, da Fundação Carlos Chagas, por ter
aceitado participar da banca examinadora desta pesquisa, desde a qualificação e por suas ricas
contribuições.
Ao Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud, por ter aceitado participar da banca
examinadora desta pesquisa desde a qualificação, agradeço, imensamente, todos os seus
ensinamentos, suporte e por suas discussões teóricas.
Às Professoras Doutoras, Claudia Leme Ferreira Davis, Laurinda Ramalho de
Almeida, Maria Regina Maluf e Mitsuko Aparecida Makino Antunes, do programa Educação:
Psicologia da Educação da PUC-SP, pelos valiosos ensinamentos.
Aos amigos e colegas, da disciplina de projeto “DIFICULDADES
RECORRENTES DE ALUNOS DE 4.ª SÉRIE/5.ºANO EM MATEMÁTICA”, Antonio
Vanderlei Tavares, Ivo Ribeiro de Sá, Leila Yuri Sugahara, Maria Conceição Rocha, Simone
de Oliveira Andrade Silva, Solange Maria dos Santos e Tarciso Joaquim de Oliveira, pelo
acolhimento carinhoso e, sobretudo, pelo trabalho desenvolvido coletivamente, sem o qual
este estudo não teria sido possível.
Aos amigos e colegas do mestrado, por compartilharem suas experiências e pelo
acolhimento, principalmente à Eliana Cristina Zanette Cipriano, Gabriel Veiga Castellani,
Joseane Terto de Souza, Karin Gerlach Dietz, Sylvia Bachiegga Rodrigues Pereira, Margarete
Borsi Jarussi, Camila Ramos Franco de Souza, Igor Enkim. Em especial aos queridos Renan
de Almeida Sargiani e Mirian Hasegawa, por me escutarem diversas vezes falando sobre os
diferentes temas que gostaria de desenvolver e todas as descobertas que aconteceram nessa
trajetória.
Subjetividade – Educação (CIERS-ed), pela generosidade na oferta de materiais, seminários e
demais momentos de reflexão, possibilitados por seus pesquisadores, sobretudo Lúcia Pintor
Santiso Villas Bôas e Adelina de Oliveira Novaes. Às queridas Andréa Ponzetto Batista,
Euricilda de Souza Prado Del Bel Belluz, Angela Helena Rodrigues Leite, Juliana Arouca,
Ana Maria Gasquer Vicentin e aos queridos Adriano Moro e Thiago Prado Del Bel Belluz,
pela alegria e encorajamento durante a trajetória. À Maria Luzinnete Batista de Oliveira,
capaz de espantar qualquer cansaço com o seu cafezinho.
Aos Professores Doutores Carlos Luiz Gonçalves e Vera de Faria Caruso Ronca,
pelo acompanhamento cuidadoso e exigente desde a graduação. E às amigas da graduação,
Andréa Famelli, Letícia Panczel, Rosineide Barbosa Xavier, pela amizade, carinho e “torcida”
que ultrapassaram as barreiras do tempo e da distância.
Às queridas colegas da Educação com as quais tive a oportunidade de trabalhar no
Colégio Nossa Senhora da Misericórdia, no Colégio Aplicação, no Colégio Pentágono –
Alphaville, na Escola Vera Cruz e no Colégio Rainha da Paz. Sobretudo, às queridas Iria
Helena Bertolin, Maria Tereza Estrabon Falabella, Marina Pecci Gimenez, Clélia Cortez,
Angélica Kubric, Denise Desiderá, Irmã Maria Francisca Gralato, Denise Cordeiro e Juliana
Gonçalves, pela agradável e intensa parceria ao longo da minha trajetória profissional.
Aos meus pais, Terezinha Alves Biasoli e Reinaldo Biasoli, pelo acolhimento e
presença nos momentos mais difíceis e pela alegria compartilhada a cada conquista, agradeço
eternamente!
Às minhas irmãs, Kelli Alves Biasoli e Keila Alves Biasoli um superbeijo, de
meninas superpoderosas!!!
Aos meus sogros, aos meus cunhados e à minha sobrinha Isadora, pelo carinho e
alegria que ajudaram a consolar meu marido e meu filho, nos momentos em que precisei estar
ausente.
Aos meus “amores da paixão”, Cleber Lopes Stanich e Theo Biasoli Stanich, um
agradecimento mais do que especial, pelo amor, carinho, apoio e compreensão incondicionais.
Aos meus padrinhos, Clélia Alves Simon e Miguel Simon, in memorian, pela
doçura de sempre.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por
possibilitar que tudo isso se tornasse realidade, com o apoio financeiro.
R
ESUMO
STANICH, Karina Alves Biasoli. O processo de ensino e aprendizagem da geometria:
representações sociais de professores do 5.º ano do ensino fundamental. 2013. 215f. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
Este trabalho é parte de um projeto mais amplo, Dificuldades recorrentes de
alunos do 5.º do Ensino Fundamental em Matemática
, desenvolvido nos anos de 2011 e 2012.
O presente estudo abrangeu vinte e quatro professores do 5.º ano do Ensino Fundamental, de
dezoito unidades escolares do Estado de São Paulo/Brasil, com o objetivo de compreender o
modo como esse grupo identificava e representava as dificuldades dos seus alunos,
relacionadas aos conteúdos da Geometria. Desenvolvido por meio de entrevistas
semiestruturadas realizadas junto aos professores, bem como da análise dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (1998), contou com o aporte teórico da Teoria das Representações
Sociais. Os resultados evidenciaram uma rede de significados, historicamente construídos,
sintetizados nos seguintes contextos: ausência de um repertório mínimo de conhecimento
construído, por esse grupo, sobre os conceitos e conteúdos geométricos; categorização
negativa da Geometria, considerada abstrata e imprópria para ser ensinada; presença de um
ensino essencialmente prático; deslocamento do objetivo do ensino da Geometria, reduzido à
sua aplicação prática, em detrimento da possibilidade de desenvolvimento da capacidade de
representar e operar teoricamente sobre o cotidiano. Desse modo, a abstração da Geometria
deixa de ser uma característica ou meta a ser atingida para constituir-se como um emblema
negativo, que justifica todas as ações voltadas para um ensino essencialmente prático.
A
BSTRACT
STANICH, Karina Alves Biasoli. The Geometry teaching and learning process: teachers’
social representations of the 5th grade in Elementary School. 2013. 215f. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
This study is a part of a larger Project called Recurring Difficulties of the 5th
grade Mathematics learners in elementary school which was developed during 2011 and 2012.
The present study has brought together teachers of eighteen schools units from São
Paulo/Brazil with the intent to understand the manner on how these teachers had identified
and represented the difficulties of their students regarding the Geometry knowledge by using
interviews with the groups of teachers as well as analyzing national curriculum documents
with the support of the Social Representations Theory framework. The outcomes have shown
a network of meanings, historically built and summarized in the following contexts: the
absence of a minimum knowledge repertoire built by this group around geometry concepts
and contents; negative categorization of geometry being considered abstract and inappropriate
to be taught; presence of an essentially practical teaching; displacement of the goal in
geometry teaching reduced to its practical application against the possibility of developing the
capacity to represent and theoretically operate on daily life basis. The abstraction of geometry
ceases to be a characteristic or a goal to be achieved by constituting itself as a negative
emblem which justifies all actions for an essentially practical teaching.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 15
Capítulo 1 –
REFERENCIAL TEÓRICO ... 37
1.1 A Teoria das Representações Sociais ... 37
1.2 A historicidade do objeto representacional ... 42
1.2.1 A Geometria e seu ensino, no Brasil ... 46
1.2.2 Espaço e Forma: uma análise sobre os documentos oficiais – Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) e Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997) ... 52
Capítulo 2 –
METODOLOGIA ... 62
2.1 Perfil dos entrevistados ... 64
2.2 Percurso metodológico ... 68
Capítulo 3 –
DIFICULDADES RECORRENTES DOS ALUNOS DO 5.º ANO EM
GEOMETRIA: O QUE DIZEM SEUS PROFESSORES? ... 70
3.1 Identificação das dificuldades dos alunos em Geometria ... 70
3.2 Descrição e análise das dificuldades dos alunos e das estratégias utilizadas pelos
professores para saná-las ... 74
3.2.1 Apresentação e análise dos dados coletados – Dificuldades dos alunos e
estratégias didáticas apontadas pelos professores à luz do PISA (2003/2012);
do modelo van Hiele, do conjunto de habilidades proposto por Hoffer (1981);
e do conceito de estratégia proposto por Roldão (2010) ... 75
3.2.2 Apresentação e análise dos dados coletados – Dificuldades dos alunos e
estratégias didáticas apontadas pelos professores à luz das orientações
curriculares nacionais (PCN, 1997; RECNEI, 1998) ... 91
3.3 O papel do professor do 5.º ano no ensino dos conteúdos geométricos ... 101
CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSIÇÕES ... 112
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 118
SUMÁRIO DE GRÁFICOS,
TABELAS E QUADROS
Gráficos
Gráfico 1 – Distribuição dos respondentes quanto ao posicionamento das escolas em que
atuam, em relação aos resultados das avaliações em larga escala ... 65
Gráfico 2 – Distribuição dos respondentes em relação ao tempo de magistério... 65
Gráfico 3 – Distribuição dos respondentes em relação ao curso de formação superior ... 66
Gráfico 4 – Distribuição dos respondentes em relação ao local administrativo de
formação superior ... 66
Gráfico 5 – Distribuição dos respondentes quanto a ter cursado ou não o Magistério/curso
normal ... 66
Gráfico 6 – Distribuição dos respondentes quanto a ter cursado ou não especialização ... 67
Gráfico 7 – Distribuição dos respondentes quanto à formação do pai ... 67
Gráfico 8 – Distribuição dos respondentes quanto à formação da mãe ... 67
Tabelas
Tabela 1 – Representações sociais ... 20
Tabela 2 – Representações sociais. Matemática ... 20
Tabela 3 – Representações sociais. Matemática. Ensino ... 21
Tabela 5 – Representações sociais. Ensino. Geometria. Ensino Fundamental. Séries
iniciais ... 22
Tabela 6 – Formação de professores. Matemática. Geometria. Ensino Fundamental ... 22
Tabela 7 – Quantidade de respondentes que reconhecem ou não reconhecem a
dificuldade dos alunos em relação aos descritores do campo geométrico ... 71
Tabela 8 – Quantidade de respondentes que localizam a dificuldade dos alunos em
relação aos descritores do campo geométrico ... 72
Tabela 9 – Dificuldades dos alunos (Descritor 1) em relação aos níveis de
desenvolvimento do pensamento geométrico do modelo van Hiele e dos
níveis de competência apresentados pelo PISA 2003/2012 ... 75
Tabela 10 – Dificuldades dos alunos (Descritor 2) em relação aos níveis de
desenvolvimento do pensamento geométrico do modelo VAN Hiele e dos
níveis de competência apresentados pelo PISA 2003/2012 ... 76
Tabela 11 – Organização dos níveis de desenvolvimento do pensamento geométrico na
proposta curricular australiana ... 78
Quadros
Quadro 1 – Descritores com índice de acerto inferior a 50% ... 63
Quadro 2 – Descritores do campo geométrico com índice de acerto inferior a 50% ... 64
Quadro 3 – Atividades utilizadas pelos professores com o objetivo de sanar as
dificuldades dos alunos, em relação ao Descritor 1 ... 80
Quadro 4 – Atividades utilizadas pelos professores com o objetivo de sanar as
Quadro 5 – Parâmetros Curriculares Nacionais – critérios de avaliação para os conteúdos
geométricos, por ciclo ... 92
Quadro 6 – Dificuldade dos alunos, razões atribuídas às dificuldades e estratégias
INTRODUÇÃO
Como estudante dos anos iniciais do Ensino Fundamental, na década de 1980,
vivenciei um período de total abandono e superficialidade no ensino da Geometria. Para a
minha tristeza, invariavelmente, aos conteúdos de Geometria e àqueles materiais tão coloridos
eram dedicadas as páginas finais dos livros didáticos, que, por sua vez, só eram utilizadas nos
últimos dias de aula do ano letivo.
Com exceção dos anos finais do Ensino Fundamental, já na década de 1990, em
que o “Desenho Geométrico” era disciplina obrigatória ministrada pelo saudoso Professor
Bombarda, não tive mais nenhum contato com tais conteúdos até o momento em que assumi a
minha primeira turma de alunos, do 1.º ano do Ensino Fundamental, na ocasião já como
professora polivalente. Tal experiência marcou-me profundamente, pois eu mesma não tinha
clareza do que poderia ou não ser trabalhado com aquela faixa etária, desconhecia os
objetivos de tal trabalho e, portanto, nem sempre conseguia selecionar estratégias adequadas
para desenvolver tais conteúdos.
Nesse cenário marcado por tantas incertezas, observava o modo como as
professoras mais experientes organizavam suas aulas e a partir da observação passei a
perceber que o final do ano letivo era mesmo o que restava à Geometria.
No entanto, por meio dos estudos realizados por Sousa et al. (2012), com o
propósito de compreender o modo como os professores do 5.º ano do Ensino Fundamental
identificavam e representavam as dificuldades de seus alunos em relação à matemática, tive a
oportunidade de aprofundar algumas reflexões sobre o trabalho desenvolvido com os
conteúdos da matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ao mesmo tempo,
revisitava minhas próprias lembranças sobre a sala de aula, tanto como estudante quanto
como professora que um dia fui, e as relações estabelecidas com os conteúdos da matemática
que, ao longo dessa trajetória, em algumas situações eram caracterizadas pela incerteza e pela
falta de clareza sobre o caminho que deveria seguir.
Tive também a oportunidade de dar os primeiros passos que me levariam ao
desenvolvimento do estudo que se apresenta. Participando coletivamente das diferentes etapas
que compõem uma pesquisa acadêmica, pude compreender que as avaliações em larga escala,
quando adequadamente discutidas com os professores, podem possibilitar o desenvolvimento
de espaços de reflexão e melhoria das práticas.
Partindo da análise dos relatórios dos resultados das avaliações em larga escala
realizadas nos anos de 2003, 2005 e 2008
1(SOUSA et al., 2012), foi possível localizar oito
descritores de Matemática que apresentavam um índice de acerto inferior a 50% em duas ou
mais avaliações, e que por essa razão foram identificados como “dificuldades recorrentes dos
alunos do 5.º ano em Matemática” (Anexo 1).
Dentre os descritores identificados como “dificuldades recorrentes”, dois estavam
situados no campo geométrico: 1. Identificar semelhanças e diferenças entre figuras
tridimensionais, distinguindo pirâmides de prismas, fazendo contagem do número de vértices,
arestas ou faces nos poliedros (com índice de acerto inferior a 50% nos anos de 2003 e 2008);
2. Identificar características de figuras bidimensionais como o tipo de contorno que as
delimita (com índice de acerto inferior a 50% nos anos de 2003, 2005 e 2008); sinalizando
que as dificuldades dos alunos observadas ao longo de seis anos estavam longe de ser
superadas.
Com o objetivo de melhor compreender como os professores desses alunos
identificavam e representavam tais dificuldades, foram selecionados e entrevistados 24
professores, de 18 escolas situadas em diferentes regiões do Estado de São Paulo.
No primeiro momento foi solicitado aos professores que apontassem livremente
quais as dificuldades dos seus alunos em Matemática. Como resposta, analisada com o auxílio
do programa Analyse Lexicale par Contexte d’um Ensemble de Segments de Texto (Alceste),
restou constatado que, ao contrário dos resultados apontados nas avaliações em larga escala,
os professores reconheciam apenas, como dificuldades dos seus alunos, os conteúdos que
envolviam o trabalho com frações e números decimais (SOUSA et al., 2012).
Dentre os vinte e quatro professores entrevistados nenhum deles apontou os
descritores de ensino e aprendizagem do campo geométrico como uma dificuldade, embora os
resultados das avaliações em larga escala indicassem problemas ao longo de seis anos.
Desse modo, o desejo de desenvolver um trabalho a respeito dos elementos que
compõem as representações sociais dos professores do 5.º ano do Ensino Fundamental sobre a
Geometria e os problemas de aprendizagem dos alunos surgiu a partir do encontro entre as
vivências que tive como aluna e depois como professora dos anos iniciais do Ensino
Fundamental e os estudos desenvolvidos no Programa de Pós-Graduação – Psicologia da
Educação – PUC/SP.
Nesse sentido, o recorte realizado para o presente estudo tomou como objeto de
investigação os elementos que compõem as representações sociais do grupo de professores
sobre a Geometria e as relações que poderiam ser estabelecidas entre essas representações e as
dificuldades dos seus alunos.
Por meio da transcrição do conteúdo das entrevistas realizadas com o grupo
participante, foi possível identificar que em relação aos descritores do campo geométrico as
falas dos professores estavam centradas em três aspectos: dificuldades dos alunos; razões das
dificuldades apontadas e atividades utilizadas que visavam minimizar tais dificuldades
(Anexos 3 e 4).
Portanto, a escolha do objeto se deu em razão da possibilidade de aprofundamento
de diferentes pontos de vista que compreendiam: o desenvolvimento de um saber espontâneo
a partir da transformação de um saber científico; as condições históricas que favoreceram a
categorização e a representação da Geometria pelo grupo participante, bem como a presença
de uma carga afetiva que parecia favorecer a emergência de processos de simbolização e de
condutas reativas significantes.
A problemática que definiu este estudo refere-se, portanto, à busca por uma
melhor compreensão acerca dos elementos que compõem as representações sociais que os
professores do 5.º ano do Ensino Fundamental possuíam sobre a Geometria, e de que modo
tais representações poderiam justificar os problemas de aprendizagem dos alunos, observados
nos resultados das avaliações em larga escala realizadas ao longo de seis anos. Voltou-se,
portanto, para a análise das relações estabelecidas entre o objeto, os sujeitos e os contextos
socioculturais, as condutas delas decorrentes e suas implicações no processo de ensino e
aprendizagem dos conteúdos geométricos. Tal tarefa mostrou-se bastante complexa em razão
da dificuldade de encontrar, na literatura existente, trabalhos que tivessem como foco o ensino
da Geometria nos anos iniciais do Ensino Fundamental e as representações sociais dos
professores, dessa etapa da escolarização, sobre a Geometria.
Conforme o levantamento bibliográfico inicialmente realizado, verificou-se um
reduzido número de livros publicados sobre o tema no Brasil. Dentre as obras localizadas, em
sua maioria apresentavam um caráter prescritivo que não atendia aos objetivos deste trabalho,
justamente por não comportarem um detalhamento acerca das relações que deveriam ser
estabelecidas entre os conteúdos e os conceitos geométricos, os objetivos do seu ensino, a
historicidade própria do objeto, as atividades propostas e a aprendizagem dos alunos.
Desse modo, tornou-se necessário verificar junto às universidades o que já fora
pesquisado sobre o tema e o modo como as relações estabelecidas entre os professores
(sujeitos), o objeto (Geometria e seu ensino) e os contextos socioculturais (políticas públicas
de educação e formação) foram explorados.
A partir do portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Capes (www.capes.gov.br), que reúne dissertações e teses dos programas de
pós-graduação credenciados, foi realizado um novo levantamento, cujo recorte foi o período
compreendido entre 2000 e 2012.
O recorte inferior, 2000, foi escolhido em razão da recente publicação dos
Parâmetros Curriculares Nacionais e do Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil, nos anos de 1997/1998, que incluíram o trabalho com os conteúdos do campo
geométrico, ali denominados sob o título “Espaço e Forma”. Portanto, o espaço de dois anos
após a publicação dos referidos materiais poderia representar um período propício para o
surgimento de novas práticas, constituindo-se como objeto de interesse por parte dos
pesquisadores da área da Educação e demais áreas afins.
O recorte superior em 2012 foi determinado com o objetivo de identificar possíveis
estudos que tivessem por objeto de investigação a avaliação do impacto, positivo ou negativo, das
propostas curriculares já mencionadas (PCNs e RECNEI) no processo de ensino e na aprendizagem
dos conteúdos geométricos, tendo em vista o amplo processo de difusão de tais documentos que
passaram a orientar não apenas os cursos de formação inicial e continuada dos professores da
Educação Básica, mas também toda a produção do material didático.
Considerando que as crenças e visões dos professores sobre determinada
disciplina e ou conteúdo podem impactar positiva ou negativamente o desempenho dos
alunos, a opção teórica e metodológica adotada para o presente estudo visava justamente
captar os elementos que sustentavam e orientavam a prática desses professores e que ao
mesmo tempo justificavam as dificuldades dos alunos apontadas pelas avaliações em larga
escala analisadas por Sousa et al. (2012).
Desse modo, buscou-se também localizar quantos trabalhos teriam sido
desenvolvidos sob o aporte teórico das Representações Sociais, sendo utilizadas as seguintes
palavras-chave para o referido levantamento:
– Representações Sociais.
– Representações Sociais. Matemática.
– Representações Sociais. Matemática. Ensino.
– Representações Sociais. Matemática. Ensino. Geometria.
– Representações Sociais. Ensino. Geometria. Ensino Fundamental. Séries
iniciais.
Embora o número de pesquisas desenvolvidas sob o aporte teórico das
Representações Sociais tenha crescido ao longo dos 12 anos pesquisados, totalizando 12.372
teses/dissertações entre os anos de 2000 a 2012, apenas 151 diziam respeito à matemática, e
dentre estas somente 90 abordavam questões do ensino da Matemática. Dentre as pesquisas
realizadas na área da Matemática, apenas seis teses/dissertações concerniam à Geometria, e
nenhum estudo foi localizado acerca da Geometria nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
conforme se depreende das Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5.
Tabela 1 – Representações sociais
Ano Mestrado Doutorado Total de teses e dissertações 2000 372 114 486 2001 397 128 525 2002 530 155 685 2003 582 177 759 2004 600 179 779 2005 694 226 920 2006 739 184 923 2007 786 257 1043 2008 920 251 1171 2009 933 257 1190 2010 939 283 1222 2011 1024 307 1331 2012 984 354 1338 TOTAL 9500 2872 12372
Fonte: dados organizados pela autora.
Tabela 2 – Representações sociais. Matemática
Ano Mestrado Doutorado Total de teses e dissertações 2000 5 2 7 2001 3 0 3 2002 6 1 7 2003 7 3 10 2004 10 1 11 2005 9 1 10 2006 8 4 12 2007 12 2 14 2008 10 6 16 2009 11 3 14 2010 9 3 12 2011 13 1 14 2012 15 6 21 TOTAL 118 33 151
Tabela 3 – Representações sociais. Matemática. Ensino
Ano Mestrado Doutorado Total de teses e dissertações 2000 2 0 2 2001 2 0 2 2002 5 1 6 2003 4 2 6 2004 8 1 9 2005 6 0 6 2006 3 1 4 2007 7 2 9 2008 5 5 10 2009 6 1 7 2010 7 1 8 2011 7 1 8 2012 10 3 13 TOTAL 72 18 90
Fonte: dados organizados pela autora.
Tabela 4 – Representações sociais. Matemática. Ensino. Geometria
Ano Mestrado Doutorado Total de teses e dissertações 2000 0 0 0 2001 1 0 1 2002 0 0 0 2003 0 0 0 2004 2 0 2 2005 0 0 0 2006 0 0 0 2007 0 0 0 2008 1 0 1 2009 0 0 0 2010 2 0 2 2011 0 0 0 2012 0 0 0 TOTAL 6 0 6
Tabela 5 – Representações sociais. Ensino. Geometria. Ensino Fundamental.
Séries iniciais
Ano Mestrado Doutorado Total de teses e dissertações 2000 0 0 0 2001 0 0 0 2002 0 0 0 2003 0 0 0 2004 0 0 0 2005 0 0 0 2006 0 0 0 2007 0 0 0 2008 0 0 0 2009 0 0 0 2010 0 0 0 2011 0 0 0 2012 0 0 0 TOTAL 0 0 0
Fonte: dados organizados pela autora.
Tendo em vista a temática do presente estudo e o fato de que nenhuma das
teses/dissertações encontradas dizia respeito às representações sociais dos professores do 5.º
ano do Ensino Fundamental, sobre a Geometria e seu ensino, nova busca foi realizada a partir
das seguintes palavras-chave: Formação de professores. Matemática. Geometria. Ensino
Fundamental
, conforme Tabela 6:
Tabela 6 – Formação de professores. Matemática. Geometria. Ensino Fundamental
Ano Mestrado Doutorado Total de teses e
dissertações 2000 3 1 4 2001 2 0 2 2002 2 1 3 2003 1 2 3 2004 4 0 4 2005 3 1 4 2006 1 2 3 2007 4 3 7 2008 3 0 3 2009 3 1 4 2010 5 1 6 2011 7 1 8 2012 2 1 3 TOTAL 40 14 54