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Projeto de Resolução nº 880 / XIV / 2.ª TENDO EM CONTA A PANDEMIA DE COVID-19

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Academic year: 2021

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DEPUTADO ÚNICO

Projeto de Resolução nº 880 / XIV / 2.ª

MEDIDAS DE COMBATE AOS PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL TENDO EM CONTA A PANDEMIA DE COVID-19

A pandemia provocada pela disseminação do SARS-CoV-2 afetou o dia-a-dia de milhares de milhões de pessoas por todo o mundo, causando impactos incalculáveis a nível social, económico e de saúde pública – a saúde mental não passou imune à devastação provocada pela COVID-19 e pelas medidas utilizadas para o seu combate.

Portugal foi um dos países mais tardiamente afetados pelos primeiros casos do novo coronavírus na Europa Ocidental, mas viu-se sujeito a medidas similares no que toca a confinamentos domiciliários, indução da obrigatoriedade do teletrabalho e aulas não-presenciais, suspensão de atividades lúdicas, culturais e desportivas e uma brutal disrupção na dinâmica socioeconómica no que concerne ao mercado de trabalho.

A incerteza decorrente da instabilidade laboral causada pela profunda crise económica, a alteração súbita de rotinas quotidianas e o sentido de alerta constante induzido pela evolução inicial da pandemia sem conhecimento suficiente para tranquilizar a população geral criou um meio fértil para o surgimento e descompensação de doenças do foro mental em todos os estratos socioeconómicos e etários, agravando o já desolador cenário que colocava (antes da pandemia) Portugal como 2º país da Europa com maior taxas de incidência e prevalência anuais de doenças do foro psiquiátrico.

Uma metanálise recente1 nos Estados Unidos da América, publicada na revista Lancet,

mostrou que os recuperados da infeção por Covid-19 apresentavam níveis significativamente superiores aos da população geral no que toca a sintomas e patologias psiquiátricas, insónias e maior risco de demência a curto e possivelmente médio-longo prazo. O risco de ser diagnosticado com sintomas e/ou perturbações do foro da saúde mental duplicou na população afetada em relação ao da população saudável.

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Tal como em outras situações traumáticas de vária ordem (catástrofes naturais, guerras, pandemias), os infetados pela infeção provocada pelo SARS-CoV-2 apresentam níveis muito elevados de sintomas e perturbações do espectro da ansiedade (principalmente stress agudo e perturbação pós-traumática), do humor (e.g. depressão) e ideação suicida, havendo uma correlação com a maior duração do internamento e gravidade do episódio – com enfoque nos doentes ventilados e internados em Unidades de Cuidados Intensivos por longos períodos de tempo.

Todos os doentes atuais e recuperados carecem de acompanhamento precoce, e acesso rápido e desburocratizado a cuidados de saúde mental, dirigidos à gestão dos sintomas psiquiátricos decorrentes do evento traumático e das incapacidades físicas que decorrem do longo período de recuperação após alta hospitalar.

Desde os primeiros casos de infeção por SARS-CoV-2, em março de 2020, foram aplicadas medidas agressivas de confinamento domiciliário e isolamento social a indivíduos não-infetados, causando uma disrupção brusca dos padrões quotidianos. Um pouco por todo o mundo foram desenvolvidos estudos para análise dos impactos na saúde mental, apresentando resultados desconcertantes, mas não surpreendentes, no contexto de epidemia/pandemia (como evidenciado após o surto de Ébola na África Ocidental2, a fase

inicial da pandemia HIV/SIDA nos anos 70/80 ou a gripe aviária de 2009).

Um estudo do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) em junho de 20203apontava

níveis autorreferenciados de sintomas do espectro da ansiedade em cerca de 31% dos inquiridos, 13% de início ou agravamento de consumo de substâncias psicotrópicas e 11% com ideação suicida de vários graus – Portugal tem níveis basais de prevalência perturbação do espectro da ansiedade a rondar os 20-25%, pelo que se podem esperar elevação muito acima do nível detetado pelo CDC. Outro estudo da Boston University School of Public Health4

aponta para a duplicação dos casos de patologia do espectro da depressão mais que acima

2M. Abdulaziz, L. Taiwo Lateef Sheikh, P. Gabriele. Mental health in emergency response: lessons from Ebola. Lancet. 2015.

DOI:https://doi.org/10.1016/S2215-0366(15)00451-4

3Czeisler MÉ , Lane RI, Petrosky E, et al. Mental Health, Substance Use, and Suicidal Ideation During the COVID-19 Pandemic — United States, June 24–

30, 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2020;69:1049–1057. DOI: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.mm6932a1

4Ettman CK, Abdalla SM, Cohen GH, Sampson L, Vivier PM, Galea S. Prevalence of Depression Symptoms in US Adults Before and During the COVID-19

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do dobro dos níveis médios dos 3 anos anteriores, assim como uma triplicação dos sintomas do espectro da ansiedade por um levantamento feito pela John Hopkins University5.

Não restam dúvidas do impacto indireto de pandemia em toda a sociedade, mas o efeito parece ser maior em determinados grupos sociais, como as crianças, adolescentes e jovens adultos, estratos económicos baixos, com outras condições de saúde pré-existentes e com maior tempo de exposição a meios de comunicação social6. As crianças, adolescentes e jovens

adultos serão os que viverão maiores consequências das medidas tomadas para o combate à disseminação comunitária do SARS-Cov2, devido ao afastamento do meio escolar presencial, essencial no seu desenvolvimento, à disrupção dos círculos sociais de relações interpessoais de várias ordens e à limitação de experiências, bem como à incerteza de futuro quanto a inserção social e laboral7.

Assim, tendo em consideração o acima exposto, ao abrigo da alínea b) do número 1 do artigo 4.º do Regimento da Assembleia da República, o Deputado único abaixo assinado da Iniciativa Liberal apresenta o seguinte Projeto de Resolução:

RESOLUÇÃO

Ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, a Assembleia da República delibera recomendar ao Governo que:

1. Realize um estudo epidemiológico de base populacional para levantamento da 1ª manifestação ou agravamento de patologia psiquiátrica pré-existente em doentes infetados pelo SARS-CoV2, e acompanhamento de médio-longo curso;

2. Realize um estudo epidemiológico de base populacional para levantamento da 1ª manifestação ou agravamento de patologia psiquiátrica pré-existente em contactos e familiares de doentes afetados pela COVID-19;

3. Proceda à referenciação automática de doentes com infeção confirmada pelo SARS-Cov2 a linhas de apoio e acompanhamento, constituídas por profissionais da

5McGinty EE, Presskreischer R, Han H, Barry CL. Psychological Distress and Loneliness Reported by US Adults in 2018 and April

2020. JAMA. 2020;324(1):93–94. doi:10.1001/jama.2020.9740

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psicologia clínica, psiquiatria e estudantes dos respetivos cursos da formação pré-graduada, nomeadamente no contexto da já existente linha associada à Saúde 24. 4. Crie, expanda e reforce linhas nas redes sociais e linhas telefónicas de apoio à saúde

mental com equipas que incluam psicólogos clínicos, estudantes de psicologia e outros cursos da área da Saúde com formação prévia dirigida e técnicos de assistência social, servindo como uma linha paralela à Saúde 24 para casos específicos aos impactos da pandemia e medidas reativas na saúde mental, infetados ou não por SARS-Cov2. Recomenda-se a criação de linhas complementares em associação com IPSSs, associações de apoio à saúde mental, Universidades e politécnicos – por forma a não sobrecarregar a linha Saúde 24, particularmente em situações de marcada procura e permitindo acompanhamento descentralizado por ligação direta a prestadores de cuidados na comunidade

5. Proceda à referenciação automática de doentes com infeção confirmada pelo SARS-CoV-2 sujeitos a internamentos prolongados, doença particularmente grave ou sujeitos a procedimentos invasivos (sob critérios clínicos a definir em norma própria pela Direção-Geral de Saúde) a consulta de avaliação por equipa multidisciplinar em saúde mental, a ocorrer em sede de Cuidados de Saúde Primários ou em ambiente hospitalar;

6. Garanta formação adicional a profissionais de saúde, particularmente aos dos Cuidados de Saúde Primários, sobre as principais sequelas neurológicas e psiquiátricas da infeção por SARS-CoV-2, de forma a maximizar a qualidade do acompanhamento de longo curso e a deteção precoce de sinais de alarme.

7. Crie equipas de contacto com a Segurança Social e IEFP, I.P. para acompanhamento de proximidade a cidadãos que sofreram algum tipo de instabilidade laboral no decurso do impacto económico das medidas de combate à Covid-19, de forma a proceder ao rastreio sistemático, identificação precoce e encaminhamento de tantos quantos apresentem sintomatologia grave do foro mental, particularmente ideação suicida;

8. Estabeleça estratégias de combate ao burnout em profissionais de saúde, nomeadamente através de vigilância epidemiológica próxima, criação de linhas de apoio diretas e flexibilização compensatória de horário no período pós-pandemia, associado à oferta de apoio em psicologia clínica e outras políticas de compensação de exaustão física e mental;

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9. Proceda à expansão de equipas de proximidade nos Cuidados de Saúde Primários, Hospitais Pediátricos e estabelecimentos de ensino de todos os níveis para deteção precoce, intervenção e referenciação de casos inaugurais de sintomas psiquiátricos; Recomenda-se um levantamento das necessidades esperadas em cada unidade, procedendo as ARSs respetivas à solicitação de recursos humanos e financeiros para operacionalizar a constituição das equipas supra, formação específica e eventual contratação de profissionais e/ou contratualização com a oferta existe nos setores privado e social

10. Realize uma campanha nacional de sensibilização e prevenção para os problemas de Saúde Mental, particularmente direcionada ao contexto da pandemia de COVID-19; 11. Atualize o Programa Nacional para a Saúde Mental, com novos objetivos, metas e

medidas, tendo em conta a pandemia de COVID-19.

Palácio de São Bento, 25 de Janeiro de 2021

O Deputado João Cotrim Figueiredo

Referências

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