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UFPB PRG X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

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Academic year: 2021

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ESTUDO DA ADEQUAÇÃO DAS TRANSFUSÕES DE HEMOCOMPONENTES E  HEMODERIVADOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO LAURO WANDERLEY  Amanda Raphaella de Medeiros Lima (1) , Ivanna Beserra Santos (2) , Bianca Coutinho Pina Ferreira (2) ,  Gustavo Ribeiro Coutinho Dália (2) , Caroline Amorim Pontes de Oliveira (2) , Diego Targino Rodrigues Maul 

de Andrade (2) , Flávia Cristina Pimenta (4) Alexandre Magno Pimentel de Oliveira (3) ,  Centro de Ciências da Saúde/Departamento de Medicina Interna/MONITORIA 

RESUMO 

Introdução:  Com  o  passar  do  tempo,  houve  várias  alterações  de  consensos  quanto  à  necessidade de transfundir o paciente. A decisão de transfundir o paciente deve  ser baseada  em  diversos  fatores  clínicos  como idade,  velocidade de  instalação  da  anemia,  história  natural  da  doença  em  questão,  volume  intravascular  e  presença  de  fatores fisiológicos  que  afetem  a  função cardiopulmonar e circulação. A  realização desse procedimento de forma não criteriosa  expõe o receptor a sérias complicações como a aquisição de doenças transmissíveis, reações  transfusionais  (hemolíticas  ou  não)  que  podem  ser  graves,  sensibilização  imunológica,  falha  terapêutica, aumento no custo do tratamento e ansiedade gerada no paciente e nos familiares  envolvidos  Objetivos:  Avaliar  o  nível  de  correção  das  transfusões  realizadas  no  HULW,  identificar  as  causas  mais  freqüentes  de  equívoco  transfusional,  localizar  os  setores  onde  o  percentual  de  equívoco  transfusional  seja  mais  elevado,  investigar  a  associação  de  possíveis  efeitos  deletérios  nos  pacientes,  analisar  ocasionais  falhas  nos  sistemas  de  solicitação  de  sangue  e  componentes,  e  estabelecer  um  programa  de  educação  continuada  voltado  para  o  corpo  clínico  do  HULW,  visando  uma  maior  precisão  técnica  na  indicação  transfusional.  Metodologia: Coleta e análise dos dados, pelos monitores de hematologia, presentes na ficha  de  solicitação  do  produto  hemoterápico  e  prontuário  do  paciente  transfundido  para,  posteriormente, estabelecer uma estratégia no sentido de atualização sobre o assunto, dando  prioridade  aos  setores  onde  as  falhas,  porventura  encontradas,  foram  mais  numerosas,  bem  como  programar  uma  política  de  educação  continuada  no  HULW  e  melhor  abordagem  do  assunto na  disciplina durante a graduação. Resultados: Foram levantadas 817 tranfusões, de  288  pacientes,  sendo  148  mulheres  (51,4%)  e  140  homens  (48,6%).  O  produto  transfusional  mais utilizado foi o concentrando de hemácias (49,3%), seguido pelo plasma fresco congelado  (PFC),  com  24,9%,  e  concentrado  de  plaquetas  (CP)  com  22,6%;  o  protromplex/kascadil  representou  3,1%  das  transfusões,  o  crioprecipitado,  0,1%  do  conjunto  e  sangue  total  (ST)  0,1%.  Cerca  de  34,8%  das  transfusões  foram  consideradas  incorretas,  de  acordo  com  os  preceitos  hemoterápicos  e  estas  incorreções  foi  mais  observada  na  clínica  médica.  Porém  observou­se  reação  transfusional  na  clínica  médica,  pediatria,  UTI  pediátrica  e  divisão  de 

infectologia. Conclusão: O estabelecimento do perfil de transfusão no HULW visa estabelecer 

critérios  claros  e  concisos  sobre  o  uso  de  hemoderivados,  evitando  que  os  pacientes  sejam  expostos  desnecessariamente  aos  riscos  inerentes  às  transfusões.  Do  ponto  de  vista  educacional,  alunos  da  graduação  do  curso  de  medicina  e  residentes  instalados  no  HULW  poderão receber conceitos corretos e adequados quanto ao ato transfusional. 

Palavras chave: Transfusão, Hemocomponentes, Correção. 

INTRODUÇÃO 

As  condutas  transfusionais  em  bases  técnicas  tiveram  início  em  1900  após  a  descoberta  dos  grupos  sanguíneos  ABO,  por  Karl  Landsteiner,  seguida  pela  detecção  do 

fenótipo AB por Decastelo e Sturli 1 .  Inicialmente, as transfusões ocorreram de forma tímida e 

experimental, porém foram progressivamente incorporadas à prática médica e aceleradas pelo  surgimento  da  primeira  e,  posteriormente,  da  segunda  guerra  mundial,  quando  houve 

colaborações de Loutit e Mollison que resultaram no desenvolvimento da solução ACD 2,3 . 

A  partir  de  então,  observou­se  uma  melhoria  destas  atividades  propelidas  pelo  desenvolvimento  da  tecnologia  de  estocagem  e  preservação  de  sangue,  conhecimento  da  fisiologia  enzimática  eritrocitária  e  implantação  de  serviços  especializados  em  sangue,  assim  como,  pelo  aumento  do  volume  das  necessidades  tranfusionais  decorrente  de  fatores  como 

violência urbana, cirurgias cada vez mais invasivas e de maior duração 4 . Paralelamente, houve  __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________  (1)  Monitor(a) Bolsista(a); (2)  Monitor(a) Voluntário(a) (3)  Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a).

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um  crescimento  da  indústria  de  equipamentos  médicos  na  área  de  hemoterapia,  com  surgimento  de  aparelhos  de  aférese,  extratores  de  plasma,  bolsas  plásticas  fechadas  para  coleta  de  sangue,  tecnologia  de  separação  de  hemocomponentes  e  preparação  de  hemoconcentrados.  Além  disso,  houve  um  aumento  nos  conhecimentos  da  imunologia,  implementando  a  compreensão  das  inúmeras  possibilidades  e  mecanismos  envolvidos  com  o  ato transfusional 5 . 

Durante  as  décadas  de  40  e  50,  as  transfusões  eram  prescritas  por  médicos  generalistas, que acreditavam serem mínimos os riscos inerentes às mesmas. Porém, ainda no  mesmo  período,  foi  sugerida  uma  postura  mais  cuidadosa  com  relação  às  condutas  transfusionais, mas os médicos continuaram a  usá­las com pouca reflexão  sobre  os possíveis  riscos ao paciente 6 . 

As principais mudanças no sistema hemoterápico brasileiro não ocorreram apenas por  intervenção  dos  especialistas,  nem  por  influência  direta  do  governo,  e  sim  por  causas  aleatórias  como,  por  exemplo,  o  advento  da  Síndrome  de  Imunodeficiência  Adquirida  (AIDS),  que ,em 1981, foi reconhecida pelo Centro de Controle de Doenças nos Estados Unidos como  entidade  nosológica.  Posteriormente,  foi  estabelecido  que  as  transfusões  de  sangue,  componentes  e  derivados  poderiam  ser  considerados  fontes  de  transmissão  desta  afecção.  Nos  anos  80,  no  Brasil,  cerca  de  2%  dos  casos  de  AIDS  eram  transmitidos  por  transfusão  e  mais  de  50%  dos  hemofílicos  apresentavam­se  infectados  pelo  vírus  HIV.  O  aparecimento  desta  doença  introduziu  novos  procedimentos,  tais  como:  necessidade  de  realização  de  controle clínico e sorológico rigoroso e abrangente de todos os doadores, política de educação  social sobre a importância da doação  de sangue, incentivo à auto­transfusão e a disciplina do  uso  do  sangue,  de  seus  componentes  e  derivados  através  de  judiciosa  avaliação  do  trinômio  riscos/benefícios/custos 7 . 

A  decisão  de  transfundir  o  paciente  deve  ser  baseada  em  diversos  fatores  clínicos,  como  idade,  velocidade  de  instalação  da  anemia,  história  natural  da  doença  em  questão,  volume intravascular e presença de fatores fisiológicos que afetem a função cardiopulmonar e  circulação 2,6 . 

A  realização  desse  procedimento  de  forma  não  criteriosa  expõe  o  receptor  a  sérias  complicações,  como  a  aquisição  de  doenças  transmissíveis,  reações  transfusionais  (hemolíticas  ou  não)  que  podem  ser  graves,  sensibilização  imunológica,DEVH,  falha  terapêutica, aumento no custo do tratamento e ansiedade gerada no paciente e nos familiares  envolvidos.  Acrescente­se,  ainda,  o  desperdício  de  um  material  nobre,  advindo  de  um 

generoso ato de doação, e o elevado custo na adequação do mesmo para fins terapêuticos 7 . 

Embora  haja  recomendações  dos  especialistas  no  que  concerne  a  uma  nova  abordagem  sobre indicações transfusionais, os médicos pouco têm modificado suas condutas  práticas,  o  que  levou  a  um  consenso  quanto  à  necessidade  de  implantação  de  um  programa 

educacional  de monitoramento permanente desta atividade terapêutica 6 .  Toda  questão pode 

ser  sintetizada  no  raciocínio  de  Mollison  ao  afirmar  que  “sempre  que  seja  possível  que  a 

anemia responda a outras formas de tratamento, a transfusão deve ser evitada” 3 .  OBJETIVOS  Ø  Avaliar o nível de correção das transfusões realizadas no HULW;  Ø  Definir o percentual de incorreções das transfusões realizadas;  Ø  Identificar as causas mais freqüentes de equívoco transfusional;  Ø  Localizar os setores onde o percentual de equívoco transfusional seja mais elevado;  Ø  Investigar a associação de possíveis efeitos deletérios nos pacientes;  Ø  Analisar possíveis falhas nos sistemas de solicitação de sangue e componentes;  Ø  Estabelecer  um  programa  de  educação  continuada  voltado  para  o  corpo  clínico  do 

HULW, visando uma maior precisão técnica na indicação transfusional. 

MATERIAL E MÉTODOS 

As  transfusões  sanguíneas  realizadas  nos  pacientes  internados  no  Hospital  Universitário  Lauro  Wanderley  (HULW)  foram  analisadas  durante  o  período  compreendido  entre setembro de 2006 a março de 2007.

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Diariamente,  foi  realizada,  pelos  monitores  de  hematologia,  a  coleta  dos  dados  contidos na ficha de solicitação do componente hemoterápico nas últimas 24 horas, seguindo o  movimento do serviço de transfusão do hospital. 

Em  seguida,  coletaram­se  informações  contidas  nos  prontuários  dos  pacientes  transfundidos,  visando  uma  análise  crítica  das  transfusões,  sob  enfoque  hemoterápico,  de  acordo com normas técnicas da literatura especializada. 

Nestas  abordagens, procurou­se  realizar um retrato das possíveis falhas referentes a  todas as etapas do processo envolvendo a transfusão no referido hospital. 

De  posse  desses  dados,  pode­se  realizar  um  diagnóstico  preciso  das  condições  hemoterápicas  do  referido  hospital  e,  então,  estabelecer  uma  estratégia  no  sentido  de  atualização  sobre  o  assunto  em  pauta,  dando  prioridade  aos  setores  onde  as  falhas,  porventura  encontradas,  tenham  sido  mais  numerosas,  bem  como  programar  uma  política  de  educação continuada e melhor abordagem do assunto na disciplina durante a graduação.  RESULTADOS  Foram avaliadas 591 fichas de solicitação onde  estavam  discriminados a presença de:  identificação legível do paciente, enfermaria, leito, prontuário, dados clínicos e/ou laboratoriais,  quantidade do produto, assinatura, CRM e carimbo do médico solicitante.  A figura 1 demonstra  as informações referentes aos pacientes transfundidos.  90,4  9,6  85,1  14,9  76,5  23,5  40,1  59,9  0  10  20  30  40  50  60  70  80  90  100 

Ident.  Enf.  Leito  Pront. 

Sim  Não 

Figura 1. Dados r elacionados aos pacientes, contidos nas f ichas de solicitação de  hemocomponentes, em  porcentagem 

Com relação aos dados do médico solicitante do produto hemoterápico, observou­se a  presença de assinatura em 96,3% das fichas, CRM em 90,7% e carimbo em apenas 85,1%. 

Foram  levantadas,  neste  período,  um  total  de  817  transfusões,  abrangendo  um  universo  de  288  pacientes,  desconsiderando  possíveis  transferências  de  um  mesmo  doente  para  setores  diferentes  do  hospital.  A  distribuição  por  sexo  mostrou  certa  eqüiparidade:  148  mulheres  (51,4%)  para  140  homens  (48,6%).  O  produto  transfusional  mais  utilizado  foi  o  concentrando  de  hemácias  (CH),  com  49,3%  do  total,  seguido  pelo  plasma  fresco  congelado  (PFC),  com  24,9%,  e  concentrado  de  plaquetas  (CP)  com  22,6%;  o  protromplex/kascadil  representou 3,1% das transfusões, o crioprecipitado, 0,1% do conjunto e ST 0,1%. (figura 3).

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%  49,3  24,9  0,12  3,1  22,6  0,12  CH  PFC  Crioprec  Protomp/Kasc  CP  ST 

Figura 3. Distribuição das hem otransfusões no HULW quanto ao pr oduto hem oterápico.  No que se refere às indicações transfusionais, o percentual de correções foi de 65,2%  (533 transfusões), com base na literatura atualizada. O restante, 34,8% (284) das transfusões,  foi  considerado  incoerente.  Os  segmentos  do  HULW  onde  esse  percentual  foi  mais  elevado  foram  a  Divisão  de  Doenças  Infecto­Contagiosas (DIC),  com  65%  de falhas  na  utilização  dos  produtos  hemoterápicos,  e  a  UTI  neonatal,  com  58%.  Com  relação  ao  detalhamento  desses  equívocos, constatou­se que a natureza dos mesmos era variada, destacando­se ausência de  dados clínicos e/ou laboratoriais  que justificassem a transfusão, quantidade incorreta, produto  incorreto, uso de CH em pacientes com cifra de hemoglobina maior que 7g/dl, sem história de  sangramento e sem quadro clínico de hipóxia tissular; uso de PFC como expansor plasmático  ou  em  pacientes  sem  déficit  dos  fatores  de  coagulação  documentado,  utilização  de  CP,  de  maneira  profilática,  em  pacientes  com  déficit  laboratorial,  mas  sem  história  de  sangramento.  Quanto  à  justificativa,  57%  das  transfusões  apresentaram  dados  clínicos  e  laboratoriais  condizentes, 11% só possuíam dados clínicos, 10% apenas laboratoriais, e em 22% dos casos  não houve parâmetros que legitimassem o ato transfusional. 

No  CTI  do  HULW,  foram  realizadas  234  transfusões  em  84  pacientes,  sendo  34  do  sexo  feminino  (40,5%)  e  50  do  sexo  masculino  (59,5%).  Neste  setor,  os  produtos  hemoterápicos  utilizados  nas  transfusões  foram:  concentrado  de  hemácias  (48,3%),  plasma  fresco congelado (36,3%), concentrado de plaquetas (12%) e protromplex/kascadil  (3,4%). De  acordo com a análise hemoterápica, 152 (65%) transfusões foram consideradas corretas, e 82  (35%),  incorretas,  como  ilustrado  na  tabela  1.  Registrou­se  que  48,3%  apresentavam  dados  clínicos  e  laboratoriais,  11,5%,  dados  clínicos,  15,8%,  laboratoriais  e  24,4%  não  tinham  subsídios nem clínicos nem laboratoriais para justificar a hemotransfusão. 

Tabela 1  – Distribuição dos produtos  hem oterápicos adm inistrados a pacientes do CTI  do HULW  quanto à correção hematológica 

Produto  Correta  %  Incorreta  %  TOTAL 

CH  88  77,9  25  22,1  113 

CP  17  60,7  11  39,3  28 

PFC  42  49,4  43  50,6  85 

Protromplex/Kascadil  5  62,5  3  37,5  8 

TOTAL  152  65  82  35  234 

Na  UTI  pediátrica,  foram  realizadas  68  transfusões  em  33  pacientes,  sendo  66,2%  corretas  e  33,8%,  incorretas.  Na  UTI  neonatal  houve  17  transfusões  em  11  pacientes;  constatou­se  que  41,2%  das  transfusões  foram  corretas  e  58,8%,  incorretas.  Foram  observadas  reações  transfusionais  na  UTI  pediátrica em  cerca  de  2,94%  dos  procedimentos,  sendo 50% destas de reação febril não­hemolítica e o restante de reação urticariforme.

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Dos  44  pacientes  transfundidos  na  clínica  médica  do  HULW,  18  foram  do  sexo  masculino  (40,9%)  e  26  do  sexo  feminino  (59,1%),  sendo  um  total  de  351  transfusões.  Os  produtos  hemoterápicos  selecionados  para  as  mesmas  foram:  concentrado  de  hemácias  (41,3%),  plasma  fresco  congelado  (15,9%),  concentrado  de  plaquetas  (38,1%)  e  protromplex/kascadil (4,5%). De acordo com a correção transfusional, 236 (67,2%) transfusões  foram  consideradas  corretas,  e  115  (32,8%)  incorretas,  como  detalhado  na  tabela  2.  Ficou  documentado  que  62,1%  apresentavam  dados  clínicos  e  laboratoriais;  9,1%,  dados  clínicos;  6,2%,  laboratoriais  e  22,5%  não  tinham  nem  dados  clínicos  nem  laboratoriais  que  pudessem  indicar  a  necessidade  de  hemotransfusão.  No  referido  setor,  constataram­se  cinco  reações  transfusionais, o que corresponde a 1,4% do total das transfusões desta clínica. No que tange  às  reações,  pode­se  ainda  inferir  que  4(80%)  delas  manifestaram­se  como  picos  febris  e  apenas  1 (20%) como reação urticariforme, seguida de mal estar. 

Tabela  2  –  Distribuição  dos  produtos  hemoterápicos  administrados  a  pacientes  da  clínica médica do HULW quanto à correção hematológica 

Produto  Correta  %  Incorreta  %  TOTAL 

CH  117  80,7  28  19,3  145 

CP  88  65,7  46  34,3  134 

PFC  26  46,5  30  53,5  56 

Protromplex/Kascadil  5  31,3  11  68,7  16 

TOTAL  236  67,2  115  32,8  351 

Nas  demais  clínicas,  consideraram­se  corretas  80,4%  das  transfusões  na  pediatria,  60,7% na clínica cirúrgica, 52,9% no SPA, 35% na DIC e 76,9% na obstetrícia. 

Quanto  a  presença  de  reações  transfusionais,  constataram­se  4  (9,75%)  na  pediatria,  caracterizadas  por  reação  febril  não­hemolítica  (RFNH);  3  (15%)  na  divisão  de  infectologia,  onde  em  2  reações  observou­se  RFNH  e  na  outra  reação  urticariforme.  Nos  outros  setores,  não foi documentada reação ao hemocomponente recebido pelo paciente. 

CONCLUSÃO 

O  emprego  de  hemoderivados  não  está  isento  de  riscos;  estima­se  que  nos  Estados  Unidos da América (EUA) sejam realizadas cerca de 22 milhões de transfusões sangüíneas por  ano,  com  uma  taxa  de  complicações  clínicas  de  grau  variável  que  chega  a  20%.  Além  da  esfera  da  saúde,  o  procedimento  também  envolve  implicações  administrativas,  logísticas  e  econômicas 8 . 

A  existência  da  ficha  de  solicitação  de  hemocomponentes  é  uma  grande  aliada  na  avaliação dos critérios médicos e localização de cada paciente no sítio hospitalar. No HULW as  taxas  de  definição  de  identificação  legível foram  de  90,4%,  enquanto  as  de  enfermaria foram  85,1%,  já  as  de  leito  foram  74,5%;  evitando,  assim,  que  indivíduos  sem  indicação  recebam  produtos que seriam destinados a pacientes com real necessidade. 

Desde 1990, tem havido um descenso  global no consumo de hemoderivados; a maior  queda  foi  no  consumo  de  PFC  (59%)  e  CP  (21%).  O  sangue  total  (ST)  foi  praticamente 

substituído pelo CH, sendo usado apenas na indisponibilidade de produtos mais adequados 4 . 

Na  nossa  avaliação  encontramos  uma  solicitação  de  ST,  mostrando  a  concordância  dos  solicitantes com a tendência atual. 

A taxa de incorreção  foi de 34,8%,  assemelhando­se ao estudo realizado por Leistner  et  al,  que  verificou  uma  taxa  de  40%.  É  possível  que  essa  taxa  corresponda  ao  perfil  das 

transfusões dos componentes de sangue realizadas em países do hemisfério sul 5 . 

As transfusões incorretas de CH foram realizadas principalmente para regularização de  níveis  laboratoriais  de  hemoglobina  em  pacientes  sem  quadro  clínico  de  hipóxia  tissular  e,  muitas vezes, em pacientes com cifra de hemoglobina entre 7 e 10g/dl, sem história prévia de  sangramento.

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As transfusões incorretas de PFC se deram principalmente na intenção de usá­lo como  expansor  plasmático  ou  para  reposição  protéica,  especialmente  em  substituição  a  albumina.  Porém,  existem  produtos  mais  seguros,  que  não  oferecem  riscos  de  transmissão  de  doenças 

ou  reação  alérgica  aos  receptores,  como  albumina,  colóides  e  cristalóides 9 .  Cogitou­se, 

durante  a  avaliação  das  fichas  de  prontuários,  a  boa  intenção  dos  médicos  ao  prescrever  o  PFC, pois, muitas vezes, em se tratando de um serviço público, soluções de albumina humana,  por exemplo, nem sempre estão disponíveis para aplicação. 

Em  estudo  realizado  na  Espanha,  concluiu­se  que  as  causas  mais  freqüentes  de  uso  incorreto de hemoderivados foram: uso de concentrado de hemácias em pacientes com anemia  crônica  ou  com  cifra  de  hemoglobina  entre  7  e  10  g/dl  sem  dados  de  hipóxia  tissular  respondendo  por  80,6%  das  solicitações  consideradas  inadequadas;  uso  de  PFC  como  tratamento de diátese hemorrágica sem documentação  de déficit fatorial, como foi constatado  também no presente estudo. Referentes às plaquetas, a causa mais freqüente de inadequação 

foi seu uso de maneira profilática com  cifras superiores a 20000/mm 3 sem fatores de risco de 

sangramento  4 .  Goodnough  et  al  estudaram  a  variabilidade  da  prática  transfusional  e 

reconheceram  que  as  variações  das  indicações  de  plasma  e  plaquetas  entre  instituições  foi 

determinada em parte pelo uso profilático destes componentes 10 . 

Vale a pena chamar a atenção para o risco do uso único de parâmetros laboratoriais,  com  a  finalidade  de  considerar  uma  transfusão  como  adequada  ou  não.  Pelo  contrário,  pensamos  que  a  situação  clínica  do  paciente  deve  guiar  a  prática  transfusional.  No  HULW,  apenas  57,04%  das  práticas  transfusionais  foram  nortedas  por  parâmetros  clínicos  e  laboratoriais. 

O estabelecimento do perfil de transfusão no HULW visa estabelecer critérios claros e  concisos  sobre  o  uso  de  hemoderivados,  evitando  que  os  pacientes  sejam  expostos  desnecessariamente  aos  riscos  inerentes  às  transfusões.  Do  ponto  de  vista  educacional,  alunos  da graduação do  curso  de medicina e residentes do HULW poderão receber conceitos  corretos e adequados quanto ao ato transfusional. 

Esta realidade hemoterápica assume dimensões de maior relevância pela possibilidade  da  transfusão,  usada  incorretamente,  resultar  na  ausência  do  componente  sanguíneo  para  o  paciente  realmente  necessitado,  haja  vista  que  vivemos  em  um  país  com  extrema  discriminação sócio­econômica e sem uma política efetiva de educação da população sobre a  importância da doação autônoma, voluntária e benévola de sangue. 

REFERÊNCIAS 

1  ­  Marletta  J.  Hemoterapia  e  Imunoterapia.  Ediciones  científicos­técnicas  americanas.  Buenos Aires, 1981. 

2 ­ Genetet B, Mannoni P. La transfusion. Editora Flammarion. Paris, 1978. 

3 – Mollison PL. Blood transfusión in clinical medicine. Editora Blackwell. Londres, 1974.  4 – Gala JMG, Vicente PR, Del Castilo TB, Revuelta EM, Buelga JRC, Luengo JR, Pabón MV.  Adecuacion  de  la  transfusión  de  hemoderivados  e  criterios  previamente  estabelecidos.  Sangre 41 (1); 19­23, 1996. 

5 – Leistner AL, Costa KFB, Lima CSP. Estudos das transfusões de sangue realizadas no  Hospital e Maternidade Celso Pierrô da PUCCAMP. Rev de Ciências Médicas PUCCAMP 3  (3); 89­93, set­dez,1994. 

6 –  Hébert  PC,  Schwetzer  I,  Calder  L,  Blajchman  M, Giulivi.  Review  of  the  clinical practice  literature on allogeneic red blood cell transfusion. Can Med Assoc J. June 1, 156 (11suppl),  1997. 

7 – Junqueira PC, Rosenblit J, Hamerschlak N. História da hemoterapia no Brasil. Rev Bras  Hematol. Hemoter. 2005; 27(3): 201­207. 

8  –  Ferreira  JS  et  al. Transfusão  de  concentrado  de  hemácias  em  Unidade  de  Terapia 

Intensiva. Rev. bras. hematol. hemoter. 2005;27(3):179­182 

9 – Razouk FH, Reiche EMV. Caracterização, produção e indicação clínica dos principais 

hemocomponentes. Rev. bras. hematol. hemoter. 2004;26(2):126­134 

10  –  Goodnough  LT,  Johnston  MFM,  Toy  PTCY.  The  variability  of  transfusion  practice  in  coronary artery bypass surgery. JAMA, vol 265, n 1, January, 1991.

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