Resenha
Resenha “Ciências Sociais: saberes coloniais e eurocêntricos”, de
“Ciências Sociais: saberes coloniais e eurocêntricos”, de
Edgardo Lander
Edgardo Lander
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Lander inicia seu texto a afirmar que uma posição critica verdadeiramente emancipatória requer
Lander inicia seu texto a afirmar que uma posição critica verdadeiramente emancipatória requer
que questionemos o estatuto de “objetividade” e “naturalidade” do conhecimento e sobretudo das
que questionemos o estatuto de “objetividade” e “naturalidade” do conhecimento e sobretudo das
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ci!ncincias as socsociaiiais s as as quaquais is tem tem sidsido o formformataatadadas s por por racracionionalialidaddades es cocolonloniaiiais"is"impemperiairiais s hojhojee
le#itimam o projeto neoliberal$
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%e#undo Lander o pensamento ocidental & fundamentado e al#umas separaç'es principais tais
%e#undo Lander o pensamento ocidental & fundamentado e al#umas separaç'es principais tais
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como( entre o homem e a nature)a e entre a ra)ão e o mundo$ * que & fundaentre a ra)ão e o mundo$ * que & fundamental compreendemental compreender &r &
que estas estruturas dicotómicas promovem a “descorpori)ação” e a “descontextuali)ação” do
que estas estruturas dicotómicas promovem a “descorpori)ação” e a “descontextuali)ação” do
conhecimento( porque a ra)ão não pertence ao mundo ou + nature)a o conhecimento racional &
conhecimento( porque a ra)ão não pertence ao mundo ou + nature)a o conhecimento racional &
tamb&m idealmente universal$
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poss,vel em função do lu#ar de enunciação privile#iado da lu#ar de enunciação privile#iado da -uropa o qual -uropa o qual por sua ve) por sua ve) conecta.seconecta.se
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ao seu poder imperial$ /esta forma a “universalidade” produ)ida & extremamente excludente$ 0morma a “universalidade” produ)ida & extremamente excludente$ 0m
bom exemplo & a filosofia da história de 1e#el que ao coloc
bom exemplo & a filosofia da história de 1e#el que ao colocar a -uropa enquanto “van#uaar a -uropa enquanto “van#uarda” darda” da
história “universal” priva outras parcelas do #lobo de qualquer forma de historicidade 2 o caso
história “universal” priva outras parcelas do #lobo de qualquer forma de historicidade 2 o caso
africano aqui & ainda mais estridente diria eu do que o da Am&rica Latina a qual ao receber o
africano aqui & ainda mais estridente diria eu do que o da Am&rica Latina a qual ao receber o
elemento branco tamb&m recebeu os ventos da 1istória como afirmariam teorias racialistas e
elemento branco tamb&m recebeu os ventos da 1istória como afirmariam teorias racialistas e
imperiais dos s&culos se#uintes$
imperiais dos s&culos se#uintes$
-m um se#undo momento Lander focar.se.3 na emer#!ncia das ci!ncias sociais nos pa,ses
-m um se#undo momento Lander focar.se.3 na emer#!ncia das ci!ncias sociais nos pa,ses
liberais industriais 45n#laterra 6rança Alemanha 5t3lias -0A7 nos s&culos 89555 e 858$ :ara
liberais industriais 45n#laterra 6rança Alemanha 5t3lias -0A7 nos s&culos 89555 e 858$ :ara
Lander as ci!ncias sociais estão completamente inte#radas em seu contexto histórico e sur#iram
Lander as ci!ncias sociais estão completamente inte#radas em seu contexto histórico e sur#iram
como uma forma de sustentação de um
como uma forma de sustentação de um dado modelo civili)atório tamb&m ancorado em disciplinadado modelo civili)atório tamb&m ancorado em disciplina
e normali)ação$ :or outro lado o autor afirma que o conhecimento social ao separar.se em
e normali)ação$ :or outro lado o autor afirma que o conhecimento social ao separar.se em
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difereerententes s camcampospos le#le#itimitimou ou sepseparaaraç'eç'es s exexististententes es na na socsociediedade ade em em #e#eral ral 2 2 desdesta ta formformaa
separaç'es epid&micas sustentam separação
/o exposto o autor conclui que os conhecimentos das ci!ncias sociais são eurocêntricos na
medida em que foram desenvolvidos com a finalidade de entender a realidade europeia mas uma ve) tornados universais foram tamb&m definidos como as únicas formas v3lidas de compreender. se a realidade em qualquer outro lu#ar$ /esta forma produ)iram a “naturali)ação” da experi!ncias europeia permitindo que se olhasse a outros contextos como “desviantes” em relação a uma “norma” da, a sua definição pela comparação ou ne#ativa( pre.moderno sub.desenvolvido$
:or fim Lander finali)a seu texto com uma proposta de alternativas latino.americanas ao pensamento euroc!ntrico europeu focando em noç'es de libertação pela praxis redefinição do
papel do intelectual puralidade epist&mica a questão da historicidade a resist!ncia etc$ ;amb&m são.nos apresentados tr!s autores espec,ficos como exemplos de trabalhos que tem se debruçado sobre quest'es importantes ao continente de perspectivas não euroc!ntricas( ;rouillot e seu trabalho sobre a retórica e a ima#inação historio#r3fica acerca do “silenciamento” da <evolução 1aitiana= -scobar sobre a noção de “desenvolvimento” enquanto um re#ime discursivo que visa le#itimar intervenç'es em )onas narradas como “sub.desenvolvidas”= e Coronil com a sua re. avaliação do papel da “nature)a” na história da economia pol,tica mundial$
:arece.me que o ponto de maior relev>ncia na teia narrativa estabelecida por Lander refere.se + questão primordial da posicionalidade do sujeito do conhecimento 4noção ali3s que as feministas
e os estudos da ci!ncia j3 haviam declarado nos anos ?@7$ %obretudo para as <elaç'es 5nternacionais o problema da “locali)ação” e da “corporificação” do saber & fundamental tal como tamb&m apontam as noç'es de #eo. corpo. e e#o.pol,tica do conhecimento desenvolvidas em extensão por autores como i#nolo /ussel aldonado.;orres Brosfo#uel etc$ -mbora muito se di#a sobre o contexto entre.#uerras de emer#!ncia das <5 pouco se discute sobre o facto da disciplina haver sido formulada por homens brancos a partir de um 5mp&rio #lobal 45n#laterra7 e depois ter se disseminado um pa,s de claras pretens'es imperiais 40%7$
A perspectivação temporal tra)ida por Lander evidencia por outro lado a import>ncia da 1istória em revelar relaç'es de poder #lobal que escondem estruturas de lon#a duração$ -ste ponto tamb&m & de fundamental import>ncia para as <5 uma disciplina que sofre intensamente tanto de “esquecimento” volunt3rio quanto de uma intensa i#nor>ncia de processos históricos$ Como est3 claro a 1istória das <5 tamb&m se embebe na problem3tica da posicionalidade do sujeito do conhecimento na medida em que transforma sem pudores a história militar e diplom3tica de -stados centrais em uma história das relaç'es #lobais 4não quero nem sequer entrar na questão do fetiche por histórias imperiais7$ Como tamb&m & óbvio para #rande parte do mundo o ;ratado de
;ordesilhas e outros documentos de “partilha do mundo” foram muito mais fundamentais em dar formato +s relaç'es internacionais em uma perspectiva historicamente profunda do que os Acordos de estf3lia cujos efeitos mantiveram.se por muito tempo confinados + -uropa$
:or outro lado parece.me que Lander esquece.se de dar a devida import>ncia aos efeitos tamb&m perniciosos de uma cr,tica desatenta ao -urocentrismo( a fixação e fetichi)ação da “mar#em”$ Dão
se trata portanto de uma defesa rom>ntica do lu#ar da Am&rica Latina enquanto “mar#em” capa) de desestabili)ar o saber euroc!ntrico$ E preciso perceber que a própria noção de “Am&rica Latina” & um conceito moderno colonial formulado nos interst,cios do 5mp&rio 2 assim tamb&m como as noç'es de “ind,#ena” de “mestiço” etc$ :ortanto o eurocentrismo tamb&m somos nós$ Desse sentido me parece que ao basear.se na dicotomia “-uropa” e o “<esto” para tecer sua
narrativa cr,tica Lander reprodu) um tipo de retórica similar +quela que ele tenta criticar$ Desse sentido me parece que uma cr,tica profunda deva centrar.se sobretudo na superação das dicotomias retirando.se o foco portanto da “fissura colonial” para dar tamb&m lu#ar aos “tr>nsitos” do 5mp&rio$
:arece.me que uma visão mais contundente &.nos oferecida pela cr,tica de Coronil apresentada ao final do arti#o$ * esforço teórico de Coronil poderia ser entendido enquanto uma “história revisionista” da economia pol,tica na medida em que ele descreve como tanto a “nature)a” quanto a “Am&rica Latina” não foram simplesmente “dominadas” pelo colonialismo europeu mas participaram activamente na economia.mundo mercantil 4s&culos 895.895557 que criaria os
excedentes necess3rios + expansão industrial europeia no s&culo 858$ E portanto importante ter em vistas que o poder e a centralidade europeias não são absolutos mas permeados de ambival!ncias instabilidades retrocessos e momentos de improvisação$ :or exemplo a economia mundo europeia ao contr3rio do que se pensa apenas atin#iu he#emonia #lobal tardiamente$ Fuando os portu#ueses e outros europeus che#aram ao *ceano Gndico no s&culo 895 encontraram uma economia.mundo din>mica e cosmopolita a qual eles inte#raram de forma absolutamente mar#inal 4de facto os europeus no Gndico seriam considerados b3rbaros at& meados do s&culo 8587$ -sse “de.centrar” a -uropa 2 ou provinciali)3.la nas palavras de ChaHrabartI 2 me parece & o elemento principal para permitir a emer#!ncia de outras narrativas cr,ticas$
/a mesma forma histórias e narrativas de colonialidade não foram 4e não são7 somente produ)idas na -uropa e pela -uropa 2 h3 inúmeros tr>nsitos relaç'es trans.versais e trans. históricas complexas e uma s&rie de “colonialismos do %ul” que & preciso ter em conta$ Como exemplo podemos di)er que at& começos do s&culo 858 a coloni)ação de An#ola foi condu)ida
por colonos portu#ueses radicados no Jrasil 4e que depois formariam a nação brasileira7$ /e facto An#ola era o maior mercado para a cachaça brasileira 4os portu#ueses depois aproveitaram um mercado consumidor de alcoólatras e passou a vender vinho7$ Com a independ!ncia do Jrasil em K? foram feitas propostas de anexar An#ola e Cabo 9erde ao emer#ente “5mp&rio” Jrasileiro um peri#o tão evidente que :ortu#al sentiu a necessidade impedir pela via do direito internacional a intervenção do Jrasil nas colónias africanas$
* meu ponto com estes exemplos aleatórios que poderiam ser outros & que a he#emonia europeia ou ocidental deve ser tomada com muito mais cuidado e como al#o muito mais fr3#il do que uma ima#em #enerali)ada de “dom,nio #lobal” su#ere$ :or outro lado nenhum suposto posicionamento subalterno ou posicionamento do %ul pode ser tomado inocentemente sob pena de
estarmos a reprodu)ir #enerali)aç'es e “universali)aç'es”$ -m espec,fico precisamos tomar as su#est'es de corporificação e posicionalidade do conhecimento mesmo a s&rio 2 não & suficiente falar do %ul pois este %ul não existe( só pode ser uma abstracção que corresponde + uma dada #eo.pol,tica social corporal e cultural$ Acredito que podemos usar o conceito utili)3.lo com determinados fins emancipatórios 2 sem nunca perder de vista a auto.cr,tica e problemati)ação$ /e facto como %antos e eneses j3 notaram este projecto pol,tico e acad&mico nunca poder3 ser unit3rio pois não existe apenas uma mas diversas “epistemolo#ias do %ul”$ ais precisamente devemos ter em conta os “tr>nsitos” e processos entrelaçados a partir dos quais diferentes )onas #eo.pol,ticas 2 a Am&rica a -uropa a Mfrica a Msia etc$ 2 se formaram e se puseram em contacto$ -m termos pr3ticos me parece que para entendermos em profundidade o que a posicionalidade do nosso conhecimento verdadeiramente si#nifica temos que nos deixar
contaminar por conhecimentos “outros”( tanto de outras disciplinas ou circuitos acad&micos quanto provenientes de outras )onas #eo.culturais$ :ois quando olhamos o estranho o estranho que h3 em nós fa) a sua emer#!ncia critica e os limites policiados de nossa identidade e de nosso conhecimento podem afinal ser desmascarados$