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A família e a preservação da propriedade na Babilónia recente

Autor(es):

Santos, António Ramos dos

Publicado por:

Instituto Oriental da Universidade de Lisboa

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24374

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CADMO

Revista do Instituto Oriental

Universidade de Lisboa

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A F A M IL IA E A PRESERVAÇÃO

DA PRO PRIEDADE NA B A B IL Ó N IA R EC ENTE

Por ANTÓNIO RAMOS DOS SANTOS

Assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Instituto Oriental)

Résumé

Contre la menace que fait peser la loi des partages successoraux se développent plusieurs stratégies: endogamie, gestion en indivision, achats renouvelés par réinvestissement des bénéfices dégagés par les propriétés existantes.

Dans ce contexte la dote représentait une façon de accroître le patri­ moine familiale dans la Babylonie Récente.

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Os dados

Quando entramos em contacto com as questões relativas à proprie- dade familiar privada, logo se nos põe a problemática da manutenção dos bens no seio de urna dada familia.

Se por via do direito sucessório a propriedade tendia a ser fragmen- tada, como a preservavam as principais famílias? Quais as relações entre elas nesse sentido?

A propriedade, enquanto tal, existe sempre que hajam pessoas e bens. A questão é saber como ao longo dos tempos ela foi representada. No contexto documental familiar, os contratos matrimoniais desempe- nham um papel relevante porquanto eles são uma forma particular de aumentar 0 património.

O dote neobabilónico - nudunnû - desempenhava um papel essencial a esse nível. Ele era a riqueza material dada pela família da mulher ao seu marido ou sogro devido ao seu casamento.

Em cada matrimónio existiam verdadeiras negociações, envolvendo diferentes aspectos de transferência de riqueza levada a título pessoal pela noiva para a sua nova família.(1) Por vezes, a própria esposa ou a sua família, desejavam transformar 0 dote no que respeitava à espécie do património.(2) Ou seja, convertendo-se um dote constituído por prata, joalharia e escravos num campo. Aliás, a propriedade fundiária e os escravos eram as únicas formas de propriedade em que 0 dote original era convertido, sendo, por sua vez, a prata 0 bem mais convertido.(3)

O dote desempenhava um importante papel na Babilónia do primeiro milénio, aparecendo em quase todos os contratos matrimoniais desse período. A cláusula de dote nas escrituras de casamento do período

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ANTONIO RAMOS DOS SANTOS

neobabilónico recente possuía os dois elementos tradicionais - o inven- tário e a doação do dote ao casal - e adicionava alguns novos elementos após o referido inventário. Como refere K. Abraham “ ...it also summa-

rizes the content of the preceding long and detailed dowry list, and record the receipt of the dowry by the groom (mahir) and in some cases also his

quittance (etir)."w

O acádico possui um termo (bêlu) que se aproxima do conceito de pro- prietário, mas sem possuir um que corresponda ao de propriedade.(5) Esse termo designa um sujeito, “aquele que”, e explicita-nos apenas a relação de um indivíduo com uma coisa. Em linguagem jurídica, expressões como

bêl ilki ou bêl qaSti explicitam mais quem possui o beneficio do que o con- ceito de senhor do mesmo, neste caso do “feudo". Em ambos os casos, o que se expressa é mais 0 concessionário e não quem concede. Por ou- tras palavras, bêlu expressa não a posse total, mas a relação genérica e directa entre um dado sujeito e um objecto. No Código de Hammurapi,

0 termo corresponde geralmente a “proprietário”, como nos parágrafos 62-63(®): um possuidor, um simples detentor que é visado enquanto “senhor da casa” .

Existiam em Babilónia indivíduos que detinham a faculdade de dispor de um bem, e que se poderiam denominar de proprietários. As designa- ções eram, contudo, vagas, tanto no que se refere à relação e como à situação jurídica. Na prática, existiam pessoas que tinham a faculdade de dispor exclusivamente da coisa. Um desses “proprietários” podia consti- tuí-la em caução, colocá-la para alugar ou nomear alguém para a admi- nistrar.(7)

A situação do credor penhorista é-nos fornecida pela palavra maàkan “garantia real“; a terra era a caução ou a maSkan do credor.

A distinção entre 0 direito real e 0 direito pessoal existia, se assim 0

quisermos, mas ela era imperfeita porquanto se encontrava no seu estado nascente. Era da categoria de “direito pessoal“, que se separa a primeira do conjunto do património.

Quem detinha algo podia aliená-lo, cedê-lo a um penhorista ou a um arrendatário, mas não tinha a consciência de ceder um direito sobre a coisa. No espírito do babilónio, a caução devia aparecer como uma alienação condicional, 0 arrendamento como uma alienação temporária. Os Babilónios não distinguiam os elementos constitutivos no conceito unitário, apenas vislumbravam modalidades práticas diversas. A natureza do domínio permanece a mesma.

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A FAMILIA E A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILÓNIA RECENTE

No direito neobabilónico, a regra geral era a do estabelecimento da garantia no momento da aquisição, embora as garantias tivessem um carácter oculto, e por isso não eram suficientemente explícitas. O deve- dor não podia alienar 0 seu bem, seguindo-se a complementarização da lei contratual pelo costume. Também no caso de um bem alugado se verificava a impossibilidade de alienação. Não há conhecimento de que um bem se encontrasse, no dia da sua venda, nas mãos de um locatário.

Em resumo, os Babilónicos não faziam uma distinção clara entre pro- priedade e posse, e apesar de na prática 0 facto ser ultrapassado, no plano teórico nunca se atingiu a distinção rigorosa. Ficamos, pois, ao nível do que poderemos designar por proto-categorias, longe das categorias jurídicas que representam os elementos constitutivos da pro- priedade tal como a definiram os Romanos.(®)

Aliás, a definição conceptual por parte dos historiadores contém um erro que se repete em vários autores a saber, a insuficiência de distinção entre “posse” e “propriedade”.(9)

A posse é um simples facto, que existe sem restrições por parte das instituções sociais ou jurídicas e que denota um poder sobre um dado objecto; é o poder exercido num preciso momento por uma ou várias pessoas, indistintamente de outras. A noção de posse pressupõe a existência de um objecto vivo e de um objecto material. A lei não se preo- cupa com a posse, enquanto tal, mas sim, com as relações entre indiví- duos, em função do seu poder sobre os objectos. E, como nos diz Dia- konoff “The right of possession is the right of the person in question to demand of any other person to abstain from assuming power over the particular material object.”(10) Quanto á propriedade, ela é uma relação entre pessoas e, do ponto de vista económico, ela é a essência da pos- sibilidade de 0 proprietário impedir 0 acesso de um não-proprietário ao objecto de propriedade.

Por sua vez, a posse é um simples facto económico, por oposição à propriedade, que é uma relação socioeconómica entre vários interve- nientes. A propriedade, quando é fixada pelo direito escrito ou consue- tudinário, torna-se “direito de propriedade”. É a lei que determina a oposição entre 0 direito de propriedade e 0 direito de posse.(11) Em ter- mos históricos, a propriedade pode ainda aparecer como uma categoria socíopsicológica ou ideológica. Neste sentido ela será a atitude do pro- prietário para com 0 objecto de propriedade enquanto qualquer coisa de seu.(12)

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ANTÓNIO RAMOS DOS SANTOS

A propriedade e 0 de direito de propriedade não coincidem do ponto de vista legal, pois um proprietário não necessita de impedir todo 0 não- -proprietário de possuir, usar ou dispor do objecto da propriedade. Pode, por exemplo, ceder, temporariamente, 0 direito de posse e usufruto a um arrendatário ou a qualquer outro locatário. Tudo faz parte dos direitos legais do proprietário.(13)

A propriedade é uma relação social entre pessoas, e não uma situa- ção momentânea. Todavia, devemos ter em atenção que ao longo dos tempos 0 sentido do conceito tem variado, conforme as sociedades.(14)

O próprio Diakonoff acaba por reduzir 0 conceito a algumas palavras: ”Here I use the term property in its continental sense, namely, as the right, in one’s own interest and of one’s own free will, to prevent else from possessing, using,or disposing of the object of property.”(15)

Voltando à família, temos dados esclarecedores para muitos grupos sociais da Babilónia Recente, como por exemplo, os notáveis urbanos.(16) Em algumas cidades da região babilónica, certas famílias construíram fortunas consideráveis através da prática de negócios, sobretudo agríco- las(17), de empréstimo, de administração dos bens da Coroa e dos gran- des templos locais. Podemos identificar uma família de “empresários”, nesta cidade, através do arquivo de Itti-áamaè-balãtu e do seu filho Arad- -áamaè. Os textos documentam a existência de actividade comercial, chegando mesmo um deles (o texto YNER 1,5), a relacionar um dos participantes, Itti-ensi-Nabú, através de seu pai, com a família Egibi.(18)

Num arquivo pode designar-se por “família” um grupo de pessoas que se reclama de um antepassado comum, que está mencionado depois do nome do seu pai. A constituição de vários grupos familiares deseen- dentes de um antepassado único identificado pelo nome ou por um título é característico da época neobabilónica, onde os grupos se individua- lizaram em linha directa, como é o caso da Família Ea-llûta-bâni. Embora outros descendentes possam pertencer a diferentes ramos do grupo, estão relacionados com 0 principal, através de meios pouco nítidos de graduação de prímogenitura.(19)

Este grupo familiar bastante coeso participou em actividades análo- gas às dos Egibi ou dos Muraëû. As actividades descritas no seu arquivo ligam-se à gestão do património familiar nas suas mais diversas compo- nentes.

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A FAMILIA E A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILÓNIA RECENTE

A família Epeá-ili

Existe um lote coerente de textos económicos que dizem respeito a um “ramo” conhecido da família Epeè-ili, datados da época aqueménida e conhecidos pela designação de “Textos Neobabilónicos de Estras-burgo”.(20) ë

Desde logo é de realçar que se encontra no reinado de Nabuco- donosor II um tal Nabû-êtir-napSâti descendente de llûta-ibni que foi

ãâkin témi de Borsippa e que pode ter pertencido à família Epeá-ili,

sendo 0 seu nome retomado na geração seguinte. Assim como um filho de Nabû-êtir-napSâti, de seu nome Lâbâêi-Marduk, citado como escriba no sexto ano de Cambises. No entanto, para F. Joannès, estes pecam por falta de detalhes, e devem, por isso, ser ignorados.

A sede da família foi a cidade de Babilónia, porquanto aí foram redigi- dos os contratos jurídicos e foram exercidas as prebendas. Mas a família possuía também terras no exterior, nas cidades de Tâbanu e Dânitu. A primeira é referida como um tâmirtu<21) próximo de Borsippa. No que respeita a uma outra menção, 0 canal de Madânu, situava-se perto da Porta de Uraè e das comportas do canal de Borsippa, um pouco fora de Babilónia. As possessões imobiliárias desta família alinhavam-se sob um eixo Babilónia-Borsippa, podendo a sede original ser Borsippa, de acor- do com o texto VS V,6.(22>

Os arquivos fornecem uma imagem patrimonial tripartida, a saber: bens imóveis, as prebendas e os créditos.

Em 548 a.C., sob 0 reinado de Nabónido, Marduk-zêr-ibni procedeu a uma partilha do seu património imobiliário, tendo registado uma rea- tribuição de terras a favor de sua nora, de sua filha e de sua esposa.

Juridicamente, 0 chefe de família fixava livremente 0 montante do dote (nudunnCi) que dava à filha, em função dos bens de que dispunha, e a renda da viúva (êeriktu) sob a parte restante dos bens, colocando a renda fora das pretensões possíveis da sua nora. Parece que o pai de família tinha uma possibilidade de gestão do seu património condiciona- da ao facto de não poder utilizar tão livremente os bens lotados.

O esquema de compensação repete-se para um lote de terra situado em Tâbahu. Este foi oferecido a Tabaltutu, em substituição não só do que fora tomado para a sua filha Kabtaia, mas também do que fora doado à sua esposa.

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ANTÓNIO RAMOS DOS SANTOS

Quanto às prebendas, Múrânu possuía uma com o seu irmão Buliu- tâ/Itti-Nabû-balâtu, onde se requeria um serviço no templo de Ninurta em Babilónia. Ele é também citado no texto n° 13 como 0 único proprietário da prebenda a qual, segundo VS IV, 89 pertencia já a Nabú-êtir-napèâti, e que consistia em oferendas de carne de carneiro perante a estátua de Bêl, do templo de Ninurta, nos dias 2,8,11 do mês de Nisan.

Existem registos do fornecimento pelo proprietário da prebenda das entregas regulares (Kurum6.há) às quais estava adstrito pela sua função (textos 3 e 13).

Os períodos vão de 17 a 24 meses e trata-se de uma regularização ou porque 0 templo fornecera as oferendas voluntariamente, apurando as contas depois de algum tempo, ou porque Mûrânu e 0 seu irmão as negli- genciaram. De qualquer forma resulta a impressão de que 0 prebendado desempenhava um papel menor em relação ao serviço de culto, onde intervém apenas de maneira indirecta.

A famíla de Bêl-ittanu

Os textos da familia de Bêl-ittanu(23) - conhecidos como textos de Bít Pâniya - dizem respeito a um pomar localizado perto de Kutha, e são do século V a. C. O tâmirtu era designado por Bít Pâniya. Possuía três quintos de um Kur de área ( 4/5 de um hectare) e constituía um dote de uma mulher chamada Amat-áerda, esposa de Bêl-ittanu, filho de Bêl- -ahhê-iddin. O pomar estava, alegadamente, situado num canal denomi- nado Larú, ladeado a norte e a este por uma propriedade pertencente a Bêl-ahhê-iddín, filho de Nabû-apla-iddin; a sul pela propriedade de um babilónico, denominado Bêl-uáallim, e a oeste pela margem do canal.

Os proprietários do pomar, Bêl-ittanu e a sua mulher Amat-Serüa, entregaram-no a um arrendatário em 470 a.C. Este, por contrato, paga- va uma renda estipulada a partir da colheita e estimada em dezasseis gur de tâmaras, cerca de 2400 litros.(24)

Cerca de nove anos passados, 0 mesmo Bêl-ittanu e a sua esposa estavam eles próprios obrigados por via de uma promissória a pagar oitenta siclos de prata. E colocaram 0 mesmo pomar como penhor de uma divída. Mas a esposa aparece agora com 0 nome de Re’indu, filha de Bêl-uballit, tendo 0 contrato sido elaborado com 0 concurso da sogra deste último, de seu nome Etertum. O casal não perdeu 0 pomar

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penho-A Fpenho-AMILIpenho-A E penho-A PRESERVpenho-AÇÃO Dpenho-A PROPRIEDpenho-ADE Npenho-A Bpenho-ABILÓNIpenho-A RECENTE

rado, tendo-o vendido dois anos depois, peio preço de três minas e um terço de prata.

Os compradores, outro Bêl-ittannu, filho de Puhhuru (ou Mupahhir) de acordo com Stolper(25), e Bêl-iksur, filho de Nabú-êtir-napSãti, colocaram

0 pomar para arrendar nas condições usuais. Três anos após a compra 0 arrendatário contratou pagar uma taxa de vinte gur de tâmaras, cerca de 3 000 litros.

Permanece um mistério 0 facto de se darem dois nomes à esposa, referindo-se à mesma mulher. Tratar-se-ia de uma alcunha ou de um segundo nome, como nos surgem em documentos legais babilónicos tardios, referenciando homens? Matthew Stolper aceita: “But this seems a counsel of desesperation with the unpleasant implication that the iden- tities of the many other Neo-Babylonian women named Re’indu may be simirlarly cloaked. It is much more likely that the names belonged to successive wives of Bêl-ittannu.”(26)

Se tomarmos em conta esta explicação, pode-se concluir que 0

marido detinha 0 controlo sobre 0 dote de Amat-áeraa, após 0 seu falec- imento ou 0 seu simples desaparecimento. Quando ele e a sua nova esposa Re’indu ofereceram a propriedade como penhor, foi necessário obter a concordância da família de Amat-Serua. Esta foi expressa através da presença de Êtertu, a mãe da primeira esposa. Quanto ao motivo pelo qual a segunda esposa é citada nos documentos BM 54091 e BM 54065, tudo nos leva a concluir que esta detinha direitos de propriedade. Pode- -se conjecturar que Amat-áerua e Re’in-du eram irmãs, ou pelo menos meias-irmãs, e partilhavam ou detinham sucessivos direitos sobre 0

pomar que formava parte dos seus dotes. Se a tal nos permitirmos, então, poder-se-á dizer que as condições sociais e económicas levavam a casamentos “endogâmicos”. Melhor dizendo, 0 dote e 0 inerente patri- mónio eram combinados sobre a direcção da família dos maridos, e pretendia-se que existisse um herdeiro masculino que assegurasse a sucessão das propriedades associadas que foram criadas através do que poderíamos designar de “inter-casamentos”.(27) Se, de facto, a segunda esposa de Bêl-ittanu foi uma irmã da sua primeira mulher, 0 seu novo casamento seguiu uma prática de há muito estabelecida entre as famílias abastadas neobabilónicas, que talvez tenha adquirido a força do consue* tudinário.

Se Bêl-ittannu casou novamente para manter 0 controlo do patri- mónio do dote e consolidar a propriedade familiar, o pequeno pomar de

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ANTÓNIO RAMOS DOS SANTOS

Bít Paniya não era essencial, e foi, eventualmente, vendido por ele a Re’indu.

Já Francis Joannès colocava, em relação aos descendentes de Ea-ilûta-bani, lli-bâni e Nanâahuhu, a problemática da endogamia. Em geral, a sociedade neobabilónica pendia para a monogamia, mas parale- lamente existia 0 fenómeno endogâmico.<28>

A história familiar reconstituída através dos registos contratuais apon- ta-nos a existência de um fenómeno que consiste numa série de “re- -casamentos”, efectuados por uma das gerações entre 551-522 a.C., sob

0 reinado de Nabónido e no início dos reinados de Ciro e de Cambises. Numa só geração, três em quatro dos membros masculinos casaram duas vezes, e duas em quatro das mulheres da família também 0 fize- ram.<29>

Cada um dos casos invocados foi acompanhado de transferência de bens, quer pela constituição de um dote quando se outorgava 0 contrato, ou quando 0 marido criava a “renda da viúva”, a favor da sua esposa.

Neste fenómeno está presente a necessidade da descendência masculina, no caso de esta não ter sido assegurada pelo primeiro casa- mento, e seguramente, um imperativo económico explicitado através das transferências de propriedade realizadas através dos dotes. Neste contexto, a mulher com a qual alguém se casava era um agente impor- tante de crescimento da propriedade familiar. E, contrariamente ao que se possa pensar, os contratos de venda de terra diziam respeito, nessa época, a pequenas porções de terreno. Nos três ramos familiares cita- dos deve referir-se que a maioria das compras de terra foram realizadas pelas primeiras três gerações. Os actos seguintes dizem respeito a par- tilhas sucessivas. Eram as mulheres quem trazia 0 essencial da terra suplementar, devendo existir a regra para os homens, de não só se casarem, como de não deixarem repartir fora do círculo familiar a terra adquirida através dos dotes. Existia, então, uma clara necessidade de guardar os dotes, talvez de acordo a obediência a regras de solidarie- dade familiar que restringiam a autonomia do ramo feminino, apesar da relativa independência económica demonstrada pelas mulheres nestes documentos.

Poder-se-á considerar a existência de um conceito de propriedade colectiva? A fortuna familiar era alvo dos direitos individuais dos mem- bros da família e a forma da sua preservação sería a prática endogâmi- ca atrás referida. Aliás, está explicitada a prática em alguns contratos,

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A FAMILIA E A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILÓNIA RECENTE

mesmo em épocas, ligeiramente, posteriores, como AO 17611 referente à venda de um ò/f qaéti em Satir.(30)

Tinha-se de assegurar a independência da família nuclear, e tal era efectuado, por exemplo, através das rendas das viúvas. Um fenómeno de gestão indivisa das terras que para Joannès “l’on pourrait appeler une gestion indivise des époux ou des épouses”(31). A estrutura familiar alar- gada aparece, como sendo de importância fulcral no caso dos notáveis citadinos da época neobabilónica.(32)

Muèezib-Bêl, personagem central dos arquivos da família Ea-ilûta- bâni, este ao casar com a cunhada assumiu 0 papel de chefe de família, anteriormente ocupado pelo seu irmão Nabu-êreê, morto prematura- mente. A sua nova mulher delegou-lhe a gestão dos bens do dote, per- mitindo-lhe salvaguardar, simultaneamente, a totalidade da herança de seu pai, a qual permanecia indivisa nas suas mãos, e a posse dos bens entrados pelo casamento na família Ea-ilúta-bâni.

A vida de Mu§ezib-Bêl, tal como pode ser reconstituída, ilustra a complexidade dos laços que uniam os membros da família: as unidades formadas pelas famílias nucleares são superadas pelo grupo familiar sob a autoridade de um chefe de família único que geria 0 património e decidia mais ou menos as alianças matrimoniais.(33)

Existia, no entanto, um equilíbrio entre os interesses comunitários e os individuais, através de uma riqueza minima de ordem pessoal que era assegurada. Como refere Francis Joannès “...cette structure familiale communautaire, nécessaire pour la conservation d’un patrimoine viable, voit ses contraignants tempérés par la possibilité offerte aux divers mem- bres da le famillie d’assurer à leur épouse ou à leurs enfants un minimum de biens en propriété personelle.”(34)

A complexidade dos laços familiares, visível no caso de MuSezib-Bel, culmina na geração da família lli-bani que lhe é contemporânea.

Hubbubusítu esposa deste tinha dois irmãos - Nâdin e Siriktu - tendo

0 primeiro desposado cerca de 551 a. C. Nubtaia, filha de um parente afastado da família lli-bâni. Mas esta morreu pouco depois, porquanto um segundo contrato de casamento, datado de 550 a.C., nos relata que Nâdin tornara-se a casar com a irmã desta, de seu nome Kabtaia. Desta feita, recebeu de novo do seu sogro, um segundo dote que, adicionado ao primeiro, perfazia agora uma terra de mais de dois hectares.(35)

Todavia, dez anos mais tarde, cerca de 540 a. C., Nâdin desapare- ceu, por sua vez. Do mesmo modo que Muêezib-Bêl desposara a viúva

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ANTONIO RAMOS DOS SANTOS

do seu irmão primogénito, o irmão de Nádin, Siriktu, desposou a sua cunhada Kabtaia, e encontrou-se à cabeça de um património para admi- nistrar constituído pelos bens paternais e dos dotes acumulados das duas mulheres sucessivas de Nâdin. Ele administrou os seus bens até 521 a.C., e como Nâdin apenas teve, dos seus dois casamentos, duas fi- lhas, Amti-Sutiti e Amti-Nanaia, foi ao filho de áiriktu, Bêl-uballit, que recaiu 0 cargo de chefe da família lli-bâni, e a administração dos bens.(36) A regra da gestão única dos bens pelo chefe de família, opõe-se, de facto, aos casos particulares em que certas esposas possuíam 0 direito de gerir elas próprias uma parte mais ou menos importante do seu dote.

Algum reconhecimento de dívida dos arquivos demonstram que algu- mas mulheres dispunham de um pecúlio pessoal que investiam sob a forma de empréstimos a juros.

Mas 0 importante é salientar que 0 objectivo de cada geração era 0

guardar as terras integralmente ameaçadas pelas partilhas sucessivas, tornando-as indivisas ou resgatando, progressivamente, as parcelas adja- centes. O que não excluí a participação familiar noutras actividades, como os empréstimos ou a compra de escravos, só que essas activi- dades são irrelevantes para a nossa temática.(37) O chefe da família devia conciliar as diversas áreas, tendo em conta que a terra era um capital de valor seguro, e portanto fulcral.

A par desta gestão tradicional, que pressupunha a mobilização dos capitais disponíveis e implicava, por isso, a solidariedade do grupo fami- liar, os membros da família pocuravam, ainda, a participação nas activi- dades dos grandes organismos, os verdadeiros “motores económicos” da Babilónia do seu tempo.

Conclusão

É através dos contratos de casamento que mais sobressaí a acumu- lação de património. Antes de aflorarmos alguns, tidos como exemplares, importa definir algumas questões.(38)

Quais seriam os propósitos sociais e legais dos contratos de casa- mento? É uma questão difícil de responder, porquanto estes têm pontos bastante heterogéneos, não existe unidade formal e sobrevaloriza-se de uma transacção associada - 0 dote.(39)

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A FAMILIA E A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILÓNIA RECENTE

Antes do período neobabilóníco, especificamente do reinado de Na- bónido, não se encontra nos contratos matrimoniais a cláusula do dote - o que significa que esta foi incorporada aos referidos contratos somente por essa altura. Pode-se ainda assumir que os acordos matrimoniais reduzidos à forma escrita eram, predominantemente, de origem social urbana.

Um casamento exigiria, sempre, um acordo escrito? Não há qualquer evidência que aponte 0 facto como óbvio. Não existem, por exemplo, contratos matrimoniais para as filhas e noivas da proeminente família de Itti-Marduk-balatu, descendente de Egibi; no entanto, esses matrimónios deram lugar a uma troca considerável de riqueza. Provavelmente, e dado que podemos encontrar outro tipo de documentação, nesta família não haveria 0 costume de reduzir a escrito tais acordos. Mas, a outro nível social, no final da escala, as noivas de familias de menores rendimentos não beneficiavam, aquando dos seus casamentos, de um acordo formal escrito.

Quanto à importância do dote nestes contratos, a primeira nota repor- ta-se à própria terminologia. A legenda do selo do agente do noivo tam- bém representa os componentes do dote.<4°) Para Martha Roth “Another indication of the importance of the dowry is the frequency with which a dowry clause appears in these agreements. Dowry clauses are lacking in only nine of the forty-five agreements. Yet three of these nine agreements without dowry clauses do consider other property tr a n s fe r s .”(41)

Em suma, a transmissão de riqueza é a mais frequente e, provavel- mente, a mais importante questão nos documentos denominados de contratos matrimoniais. Normalmente, a conclusão dos contratos era oral, e com certeza face a testemunhas e acompanhadas de rituais, que no entanto se desconhecem.(42)

Ao atentarmos em alguns dos documentos, logo se destacam TBER 93/94, CT 49165 e CT 49193, respectivamente as escrituras números 34,38 e 40 no citado estudo de M. Roth.(43> O documento TBER men- donado é diferente dos restantes, porquanto inclui a prata que 0 noivo pagou, previamente ao irmão da noiva, porque coloca como um ponto do dote a denominada Sukuttu Sa sinnigti, a “joalharia feminina". E final- mente, porque faz 0 sumário do conteúdo do dote. Para Kathleen Abraham a expressão “female jewelry” é idêntica á que aparece nos documentos gregos provenientes do Egipto. Mesmo as inovações regis- tadas nos outros documentos - CT 49 65 e CT 49 93 - como a valiação

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ANTÓNIO RAMOS DOS SANTOS

do dote e os registos do recebimento deste por parte do noivo, têm algo a ver com a tradição aramaica.

Um estudo do formulário das cláusulas do dote neobabilónico reforça a teoria segundo a qual se deram alterações nas formulações legais da época mais recente, por exemplo, a fórmula de venda nos documentos selêucidas.

Para cada particularidade ocorrem paralelismos com as escrituras de casamento do Egipto, quer em demótico, aramaico ou grego. Tais factos levantam sérias dúvidas quanto aos antecedentes babilónicos destes contratos matrimoniais. Provavelmente, sofreram uma grande influência não babilónica.(44)

Os seis contratos formulados no denominado estilo objectivo - tran- sacção na terceira pessoa - testemunham 0 acto do matrimónio nas linhas da sua abertura. Mas a declaração varia, pois dois deles - ambos provenientes de Borsippa - simplesmente testemunham que 0 marido “tomou” a esposa, ao usar 0 verbo ahazu, e omitindo os termos “esposa” e “casamento”. O agente da esposa(45) ao contratar o seu matrimónio não é mencionado na declaração de abertura. Nos quatro restantes textos - pelos menos três dos quais são de Babilónia - a declaração de aber- tura menciona o agente da noiva, como parte activa, 0 qual “deu” (na-

danu) a mulher em “casamento” (ana a& uti) ao marido.

Os restantes contratos matrimoniais, todos documentos do tipo sub- jectivo - ou seja, em forma de diálogo (Zwiegesprächsurkunde) - regis- tam o casamento ao reescreverem o pedido oral efectuado pelo noivo ou pelo seu pai, à noiva ou ao agente desta, e 0 acordo inerente a esse pedido.

A cláusula contratual mais frequente nos contratos matrimoniais é a que se relaciona com 0 dote (nudunnû) - propriedades matrimoniais doadas pelo agente da noiva, ou por ela própria, ao noivo, ao seu agente ou ainda ao pai deste.

Os dotes listados nos contratos são compostos por uma combinação de bens, incluindo prata, joalharia, propriedade fundiária, escravos, mobi- liário e utensílios domésticos. As cláusulas do dote estipulam que este foi dado ou prometido pelo agente da noiva, ou por esta ao marido.(46)

Quando uma filha casa e 0 seu pai lhe concede um dote, em última instância, este serve para permitir que 0 primeiro garanta a propriedade aos netos através da sua filha. Ou seja, “the dowry often served as a daugther’s effective share of her patrimony in lieu of an outright (and

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A FAMILIA E A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILONIA RECENTE

unencumbered) inheritance. With the transfer of the dowry, the obligations of the father’s estate to her ended. When a son married, however, his ties to his paternal estate were not necessarily severed.”(47)

Muitos homens não casavam senão após a morte dos seus pais, quando podiam tomar posse das suas heranças. Os casamentos realiza- dos por noivos com os pais ainda vivos diferiam dos restantes, porquan- to os pais recebiam os dotes das suas noras. As duas maiores fontes de independência financeira do novo casal - 0 dote da noiva e a herança do noivo - não estavam, assim, disponíveis, e 0 casal permanecia económi- ca, social e legalmente, dependente do pai do noivo. Contudo, existe algu- ma evidência que durante parte das negociações pré-matrimoniais entre os pais dos nubentes, 0 pai do marido poderia efectuar um acordo pre-

-mortem a favor do seu filho. Tal acordo, conjuntamente com o dote da noiva, incapacitava a independência doméstica do casal. Pois, embora por contrato existisse 0 comprometimento de fornecer algumas proprie- dades ao casal, fica por se saber qual 0 posicionamento legal do acto, a sua qualidade - simples oferta ou cláusula associada ao matrimónio? Antecipação da herança do noivo? De posse imediata ou somente após a morte do pai deste?

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ANTONIO RAMOS DOS SANTOS Abreviaturas Ass. Bab. BM CT Cyr. Dar. Evetts Ner JCS L NBC Nbk. Nbn. OECT RA Strassmaier TBER TuM VAS/VS YNER 1 Y O S

-Tabuinhas das colecções do Ashmolean Museum, Oxford. Tabuinhas das colecções do British Museum, Londres.

Textos Cuneiformes das Babylonian Tablets do British Museum.

Strassmaier,Johann N., Inschriften von Cyrus, König von Babylon (538-

-529 v. Chr.). Babylonische Texte, VII, Leipzig: Pfeiffer, 1890.

Strassmaier, Johann N., Inschriften von Darius, König von Babylon (521-

-485 v. Chr.). Babylonische Texte, X־XII. Leipzig: Pfeiffer, 1890. Evetts,Basil T.A., Inscriptions o f the Reigns Evil-Merodach (B.C. 562-559),

Neriglissar (B.C. 559-555), e Laborosoarchod (B.C. 555). Leipzig: Pfeifferl 892 (Tabuinhas de Neriglissar).

Journal of Cuneiform Studies.

Tabuinhas das colecções do Istanbul Arkeoloji Miizeleri.

Tabuinhas das colecções da Yale University Library, Babylonian Collection.

Strassmaier, Johann N. ,Inschriften von Nabuchodonosor, König von Baby-

Ion (604-561 v.Chr.).Babylonische Texte, V-VI. Leipzig: Pfeiffer, 1889. Strassmaier, Johann N., Inschriften von Nabonidus, König von Babylon

(555-538 v. Chr.). Babylonische Texte, l-IV. Leipzig: Pfieffer: 1889. Oxford Editions of Cuneiform Texts.

Revue d’assyriologie et d’archéologie orientale.

Liverpool Strassmaier, Johann N., “ Die babylonischen Inscriften im Muse- um zu Liverpool nebst anderen aus der Zeit von Nebukadnezzar bis Darius”. In Actes du 6e Congrès International des Orientalistes, II, Section Sémitique (1),1885, pp.569-624, placas 1-176.

Durand,Jean-Marie, Textes babyloniens d ’époque récente, Études Assy- riologiques, Recherche sur les Civilisations 6. Paris: Éditions A. D. P. F.,1981.

Texte und Materialen der Frau Professor Hilprecht Collection of Babylonian Antiquities im Eigentum der Universität Jena.

Vorderasiatische Schriftdenkmäler der Königlichen Museen zu Berlin. Weisberg, David B., Guild Structure and Political Allegiance in Early

Achaemenid Mesopotamia, New Haven/London,1967. Yale Oriental Series, Babylonian Texts.

Notas

(1) Martha T. ROTH, “ The material composition of the Neo-Babylonian Dowry” , em AfO, XXXVI- -XXXVII, 1989-90,.p. 1.

(2) Ibid., p. 11.

(3) O n occasion, when a husband or his father wishes to utilize the dowry silver, or has already done so, he may be compelled to substitute some other commodity of comparable value for the silver.These dowry ’conversions’ are known both from documents that record the conversion itself and from secondary documents that make reference to such a conversion having, taken place in the past. “ (Ver Ibid., p. 5).

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A FAMILIAE A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILONIA RECENTE

(4) Kathleen ABRAHAM, “The dowry clause in marriage documents from the first millennium B.C.E.” em La Circulation des biens, des personnes et des idées dans le Proche-Orient ancien, Paris, Édi- tions Recherche sur les Civilisations, 1992, p. 311.

(5) Para Cardascia “Il faut prendre garde que, non seulement la propriété n’a pas de nom akkadien, mais même que le mot bêlu que l’on donne communément aujourd’hui comme équivalent de ‘ pro- priétaire n’implique pas, ne contient pas, même en puissance, autant qu’on pourrait le croire, le con- cept de propriété. Bêlu signifie ‘maître‘, ‘seigneur‘. (Ver Guillaume CARDASCIA, “Le concept baby- Ionien de la propriété” , em RIDA, V I,1959, p. 22).

(6) Cf. André FINET, Le Code de Hammurapi, Paris, Les Éditions Du Cerf, 1983, p. 65.

(7) “ Dira-t-on pour autant que les Babyloniens distinguent les notions de propriété, de possession, de détention?

Sur le plan théorique,non,car les termes abstraits correspondant font défault, de même que man- quent les termes de possesseur et détenteur.

Dans la pratique, puisque ces situations existent, il faut introduire dans les actes leurs divers titu- laires par des mots ou des locutions apropriés.” (Ver Guillaume CARDASCIA, op. cit., p. 24).

W lbid., p. 31.

(9) Assim: I. M. DIAKONOFF, “The structure of near eastern society before the middle of the 2nd mil- lennium B.C.” in Oikumene, 3, Budapeste, Akadémie Kiadó, 1982, p.8: “This error consists in an insufficient distinction between ’possession’ and ’property’ which are regarded simply as two degrees of ’ownership’, the latter being synonymous with property, while ’possession’ is understood as a sort of second rate ownership.”

0 ° ) Ibid., p. 9. (11)Cf. Ibid., p. 11.

(12) “Property and the right of property do not coincide with the real manifestation of the possibility which is inherent in property. Thus, from the legal point of view, a proprietor does not need to with- hold every non-proprietor from possessing, using and disposing of the object of property.” (Ver Ibid., p. 12).

(13) “ The proprietor has ceded his competence, but not transferred it entirely.” (Ver Ibid.).

(14) “ Contrariwise, the possessior, once he is deprived of his possession, is possessor no longer, because possession, as a fact, is only a momentary situation and not a relations between persons. The extent of the right of property has changed during the history of mankind; thus, the ju s disponendi or the ju s utendi fruendi (or ju s utendi et abutendi) can in a greater or lesser degree be curtailed by thr rulling class and the sovereign state.“ (Ver Ibid., p. 13).

(15) Cf. I. M. DIAKONOFF, “Slave-Labour vs. Non-Slave LabounThe Problem of Definition“ , A0F, 68, 1987, p. 2.

(16) “En règle générale, les archives qui se transmettent de génération sont celles qui permettaient de justifier d’un droit de propriété ou qui apportaient une modification dans la composition de la famille: mariage, adoption, donations diverses.” (Ver Francis JOANNÈS ־־” Les archives d’une famille des notables babyloniens du VIIe au Ve avant Jésus--Christ”, em Journal des Savants, 1984, p. 146). (17)V . Ibid., p. 135.

(18) Cf. Paul-Alain BEAULIEU, “Neo-Babylonian Larsa: A Preliminary Study” , em Orientalia, 60/2, 1991, pp. 61-63.

(19) Cf. Francis JOANNÈS - Archives de Borsippa. La Famille Ea-llûta-Bâni, Genève, Librairie Droz, 1989, p. 27.

(20)

ANTONIO RAMOS DOS SANTOS

A maioria dos vários textos referidos ao longo deste nosso pequeno trabalho provêm da colecção do Museu Britânico, sendo em grande número provenientes de Babilónia e do reinado de Nabónido. Embora os documentos de Borsippa sejam,também, em número considerável e as épocas referen- ciadas entrem pelos períodos aqueménida e, mesmo, selêucida.

(2°) Francis JOANNÈS, “Textes Néo-Babyloniens de Strasbourg”, em Revue d ’Assyriologie, 2/ 1980, pp. 145-170.

(21) Terreno cultivado dependente de uma povoação e/ou de um canal de irrigação.

Cf. Francis JOANNÈS, Textes Économiques de la Babylonie Récente, Éditions Recherche sur les Civilisations, Paris, 1982, pp. 118-120.

(22) Cf. Ibid., p. 158.

(23) As famílias babilónicas e os seus respectivos negócios acumulavam depósitos legais nos seus arquivos, os quais aumentavam, assim, ao longo de décadas. Só assim era possível a manipulação da propriedade individual, pois geralmente após a venda 0 registo desaparecia.

(24) Cf. Matthew W. STOLPER, “A Property in Bit Paniya”, em Revue d ’Assyriologie, 1, 1991, p. 50. (25)Cf. Ibid., p. 50.

(26) Ibid.

(27) “These aims caused widowers from one family to matty their deceased wives’sisters or nieces and caused widowers born into another family to marry their deceased husband’s brothers. "Ibid., p.51. (28) Jonas C. GREENFIELD, “Some Neo-Babylonian Women”, em La Femme dans le Proche-Orient

Antique, Paris, Recherche sur les Civilisations, 1987, p.75.

(29) v e r Francis JOANNÈS,” Un cas de remariage d’époque néo-baylonienne”, em La femme dans le

Proche-Orient Antique, Paris, Éditions Recherche sur les Civilisations, 1987, pp.91-96.

(3°) Cf. Francis JOANNÈS, Textes Économiques de la Babylonie Récente, pp.94-96 (AO 17 611 = =TBER Pl. 43-44).

(31) Francis JOANNÈS, “Un cas de remariage...״, p. 96.

(32) "... le phénomène que l’on voit jouer ici, de mariage et de remariage endogamique, de même que l’orientation du choix des remariages, montrent la part importante prise par la structure de la famille élargie dans la vie des notables citadins de l’époque néo-babylonienne; en témoignent aussi le mode de gestion des terres qui sont souvent en communauté indivise, et les relations de parenté qui, par ces mariages multiples, sont certainment vite devenues assez complexes.” (Ver Ibid., p. 95). (33) Cf. Francis JOANNÈS, “ Les archives d’une famille de notables...” p. 138.

(34) Ibid. (35) Ibid., p. 139.

(36) “ Il semble que Shiriktu ait en l’occurrence obéi surtout à des considérations économiques telles que le maintien de l’héritage dans la mouvance familiale et la simplification de la gestion du patri־ moine” (Ver Ibid., p. 140).

(37) Cf. Ibid., pp. 142-143.

(38) Para 0 efeito utilizamos aqui uma obra fundamental: Martha T. ROTH, Babylonian Agreements

7th-3rd Centuries B.C., AOAT,222, Neukirchen-Vluyn, Neukirchener Verlag,1989

(39) “Dowry played an important role in Babylonia of the first millennium B.C.E.It is rcorded in almost every marriage document from this period.” (Ver Kathleen ABRAHAM, em «The dowry clause...» p. 311).

(21)

A FAMILIA E A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILÓNIA RECENTE

(40) Cf. Martha ROTH, Babylonian Agreements..., p. 27. (41)/ö/cf., p. 28.

(42) “As an orally contracted act with culturally assumed rights and obligations, marriage itself need not be committed to writing in every instance. (...) The reasons for committing these agreements to writing may have been unique for each document.” (Ver Ibid.).

(43) V. Kathleen ABRAHAM, “The dowry clause...” p. 319. (44) Cf. ibid., pp. 315-316.

(45) “Two marriage agreements, No.34 and No.35, include a marriage prestation presented by the husband to the wife’s agent, designated by the term biblu.

(...) It is therefore possible that the biblu prestation is not a Babylonian tradition, but derives from Egyptian or Persian practice. (Ver Martha T. ROTH, Babylonian marriage agreements...., p. 11). (46) "... the dowry is possibly the most important feature of the entire marriage transaction and almost certainly provides a major rationale for committing the marriage agreement to writing.“ (Ver Ibid., p. 8). (47) Ibid., p. 9.

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ANTONIO RAMOS DOS SANTOS

Lista dos bens do dote nos contratos m atrim oniais

N°. Documento Lugar Reinado/Ano Data

(a.C.) Bens do dote

1 BM 54 158 Dilbat Kandalanu, 13 635 propriedade fundiária 2 BM 50149 Sippar Sîn-èar-tékun, 2 ca.625-23 prata

3 VAS 63 Babilonia Nabopolassar, 2 624 propriedade fundiária 4 Nbk. 101 Babilonia Nabucodonosor !!, 13 692 prata

5 BM 61 176/67 388 Sippar Nabucodonosor !!, 13 584 prata 6 Strassmaier L iverpool Opis Nabucodonosor !!, 13 564 prata 7 Evetts Ner. 13 Babilonia Neriglissar 559 sem referência 8 VAS 6 61 Babilonia Nabónido, 0 556 prata

9 TuM 2-31 Borsippa Nabónido, 6 550 propriedade fundiária, utensílios 10 VAS 6 95 Borsippa Nabónido (x) 555-39 propriedade fundiária 11 RA2 5 81 N0.23 Nerab Nabónido (?), (x) 555-39 sem referência 12 Nbn. 243 Babilonia Nabónido, 6 549 prata, escravas, uten-

sílios 13 BM 70 235 Sippar Nabónido, 8 548 sem referência 14 OECT10 110 Uhudu Nabónido, 11 544 sem referência 15 BM 61 434(+) Babilonia Nabónido, 12 543 propriedade fundiária,

escravos, utensílios 16 BM 61 984 (s-d.) Nabónido, 13 543/2 escravas?

17 YOS6 188 Alu-sä-Lane Nabónido, 14 542 prata

18 Nbn. 990 Babilonia Nabónido, 16 540 propriedade fundiária, escrava, utensílios 19 Cyr 183 Sippar Ciro II, 4 535/4 prata, utensílios 20 OECT 10 130 Larsa Cambises II, 6 523 prata

21 Ass. Bab. A. 129 Borsippa Cambises II, (x+)2 527/22 propriedade fundiária

11 BM 82 609 Borsippa Dario 1,1 520 propriedade fundiária, utensílios 23 Dar. 301 Babilonia Dario 1,11 511 prata, utensílios 24 a NBC8 410 Borsippa Dario 1,18 503 prata, utensílios 24 b TuM 2-3 2 Borsippa Dario I, 28 493 propriedade fundiária,

prata, utensílios 25 L 1 634 Borsippa Dario I, 35 486 prata, utensílios 26 BM 65 149/68 921 Sippar(RN), 5 prata, utensílios 27 OECT 10 313 (S.I., s.d.) prata, propriedade

fundiária 28 BM 50 106 (s i, s.d.) prata, utensílios 29 BM 83 249 (S.I., s.d.) prata, utensílios 30 BM 66 005 Sippar?, s. d. sem referência 31 BM 76202 (s. I., s. d.) sem referência 32 BM 82597 Kutha, (x) Artaxerxes (Ι,ΙΙ ou III), (x) 464-338 propriedade fundiária,

prata, vestuário, escravo, utensílios 33 BM 76 029 s.l. Artaxerxes (I ou II), 32 433-373 prata, vestuário, uten-

sílios

34 TBER 93f. Susa, s. d. prata, joalharia, tecidos, utensílios

(23)

A FAMILIA E A PRESERVAÇÃO DA PROPRIEDADE NA BABILÓNIA RECENTE

N°. Documento Lugar Reinado/Ano Data

(a.C.) Bens do dote

I 36 OECT9 73 Kfe Alexandre, (x), (x) 330 sem referência 37 BM 84 127+ Borsippa Seleuco I, 8 E.S. 304 prata

38 CT 49165 Babilónia Antioco (x), (x) E.S. 281 prata, vestuário, uten- sílios

39 CT 49 167 Babilónia Antioco (x), (x) E.S. 281 prata, vestuário. 40 CT 49 193 Babilónia Antioco (x), (x) E.S. 281 prata, ouro, vestuário,

cobre, utensílios. 41 VAS 6 227 is. I.) Antioco III, 95 E.S. 217/16 sem referência. 42 BM 76 968/76 972 Borsippa Antioco III, 108 E.S. 203 vestuário, prata, uten-

sílios. 43 JCS (Hursagkalam- ma ?, s. d.) prata, escravos, ve s- tuário, propriedade fundiária. 44 BM 101 408 Sippar, s.d. sem referência. Legenda

s. d. sem data de execução preservada ou indicada

s. I. sem local de execução preservado ou indicado

N. R. nome real

(x) signo indecifrável

Fonte

Martha T. ROTH, Babylonian Agreem ents 7th-3rd Centuries B. C., AOAT, 222, Neukirchen-Vluyn, Neukirchener Verlag, 1989.

Referências

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