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Performance esportiva na infância e adolescência: talento motor ou maturidade acelerada?

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Academic year: 2021

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Performance esportiva na infância e

adolescência: talento motor ou

maturidade acelerada?

Elder Paulo Pazzelli Francelino

Especialista em Fisiologia do Exercício - FMU

Coordenador do curso de Educação Física do Centro Universitário Anhanguera - Unidade Leme e-mail: elder.francelino@unianhanguera.edu.br

Rodrigo da Costa Vicente

Especialista em Treinamento Esportivo - UNICAMP

Professor do Centro Universitário Anhanguera - Unidade Leme e-mail: rodrigo_atleti@yahoo.com.br

Resumo

A puberdade é marcada por alterações das características sexuais secundárias trazendo como conseqüência mudanças bruscas em relação ao crescimento em altura, peso e também na performance motora, em virtude do aumento da força muscular que acompanha o processo de crescimento, desenvolvimento e maturação. A relação entre a maturação e a performance motora mostra-se determinante no período de crescimento, identificando-se que a idade cronológica não é um bom parâmetro para determinar qual o nível de maturação dos indivíduos. Estudos apontam a necessidade de classificar os indivíduos de acordo com a idade biológica, pois existe diferença na velocidade de crescimento, onde os indivíduos podem apresentar uma maturação acelerada, normal ou retardada. Aqueles que apresentam maturação acelerada levam grande vantagem no rendimento desportivo em relação aos de maturação normal ou retardada, por isso classificar um indivíduo como talento motor antes de cessar o processo de maturação pode ser um grande equívoco. O objetivo desta revisão é a orientação dos profissionais que atuam na formação de atletas de alta performance para acompanharem o processo de crescimento e determinar uma carga de treinamento mais adequada levando em consideração o desenvolvimento biológico e não a idade cronológica dos indivíduos.

Palavras-chave: puberdade, maturação, crescimento, idade biológica, talento motor.

Introdução

No período compreendido entre a infância e adolescência são observados excelentes resultados desportivos em garotos e garotas, mas uma análise sem maiores cuidados pode gerar grandes equívocos quanto a classificação do indivíduo como talento motor para o desporto.

A diferença no desenvolvimento entre indivíduos de mesma idade cronológica, em respeito ao crescimento somático e biológico é grande na adolescência. A maturação não tem relação direta com a idade cronológica, sendo importante identificar em que nível de desenvolvimento biológico o indivíduo se encontra (VITORI e ARCELLI, 1995).

Pesquisas de Blinkie (1989) citado por Cometti e Albertti (2002) e Malina (1994), tem mostrado que a medida da altura é um bom indicador de maturação, pois com essa medida pode-se identificar o pico de velocidade de crescimento ou pico de velocidade em altura (PVA). Após o PVA, ocorre uma mudança no perfil dos hormônios circulantes, favorecendo o desenvolvimento da força muscular e consequentemente da performance esportiva, sendo este um período sensível para o desenvolvimento da força muscular também por treinamento (ROGOL, 1994).

Métodos

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uma seleção de autores que abordam a temática da maturação e sua relação com a performance esportiva.

Revisão de literatura

Puberdade, crescimento e maturação

Puberdade é o conjunto de transformações psicofísicas ligadas à maturação sexual que traduzem a passagem progressiva da infância para a adolescência (CUNHA, 1982). Ela é caracterizada pelo contínuo desenvolvimento das características sexuais secundárias e um abrupto crescimento linear (ROGOL, 1994).

Segundo Gallahue e Ozumun (2003), a puberdade é caracterizada por um aumento acelerado tanto no peso quanto na altura.

Para Blinkie (1989),citado por Cometti e Alberti (2002) a puberdade dura cerca de 3 anos. Para o autor, a média de anos correspondentes para a puberdade são de: 12,7 a 15,6 anos para os meninos e 10,1 a 12,6 para as meninas.

A fase anterior à puberdade é classificada como pré puberdade e a posterior como pós puberdade.

Essas idades expressam a média em que ocorre a puberdade na população, mas os indivíduos apresentam diferenças na velocidade de crescimento, podendo este evento ocorrer antes ou depois da média da população (COMETTI e ALBERTI, 2002). Os fatores genéticos e ambientais influenciam o aparecimento da puberdade.

Para Rogol (1994), o perfil dos hormônios circulantes determina o início da puberdade influenciando o desenvolvimento das características sexuais secundárias, resultado da produção de andrógenos pelas adrenais em ambos os sexos. Nos meninos a testosterona produzida pelos testículos e nas meninas o estrogênio produzido nos ovários.

O crescimento vigoroso neste período, ocorre em virtude de um elevado nível de hormônios esteróides circulantes e também mediado indiretamente pelo hormônio do crescimento e pelo fator insulínico de crescimento (ROGOL, 1994).

A velocidade de crescimento em altura é uma das características marcantes da puberdade; vários autores apontam que existe uma fase da puberdade em que ocorre a maior velocidade de crescimento em altura em um determinado espaço de tempo, fase definida como pico de velocidade em altura o PVA. O PVA é um indicador de maturação somática (MALINA

1994).

Para Cometi e Alberti (2002), o ano do pico de velocidade em altura localiza-se no meio do período da puberdade. Como é mostrado na tabela 1., o PVA acontece geralmente aos 14 anos para os meninos e a tabela 2 mostra o mesmo ocorre aos 12 anos para as meninas.

Na tabela 3, Malina (1994), apresenta dados de estudos realizados com garotos ativos e inativos que constatam a afirmação de Cometti e Alberti (2002), para os garotos.

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Como pode ser observado na tabela 3, o pico de velocidade da altura para os garotos tanto ativos como não ativos ocorreu por volta dos 14 anos.

Apesar do PVA para meninos ocorrer por volta dos 14 anos, alguns podem apresentar o PVA mais cedo que a média da população e outros um pouco mais tarde, ou seja, a idade cronológica não está de acordo com a idade biológica para alguns indivíduos.

Na tabela 4. Mirvald et al (2002), apresenta uma comparação da idade do PVA entre três estudos.

Estes estudos além de apresentar a média de idade do PVA e o desvio padrão, também divulga o menor e o maior valor encontrado para o pico de velocidade da altura, para meninos e meninas.

Os dados dos estudos apresentados na tabela 4., mostram uma grande diferença entre o valor máximo e mínimo em que ocorre o PVA. O menor valor encontrado para os meninos foi de 11.1 anos em Saskatchewan Pediatric Boné Mireral Accrual Study, (BMAS), e o maior valor, 16.5 em Saskatchewan Growth and Development (SGDS), uma diferença de 5,4 anos.

O valor mínimo para meninas foi de 10,3 em Saskatchewan Pediatric Boné Mireral Accrual Study (BMAS) e o valor máximo 14,6 em Leuven Longitudinal Twin Study (LLTS), uma diferença de 4,3 anos.

O conhecimento desses dados é importante para técnicos, professores e pais, pois aponta que o desenvolvimento biológico nem sempre está de acordo com a idade cronológica, alguns apresentam o início da maturação mais cedo enquanto outros levam mais tempo (VITORI e ARCELLI 1995).

Como o desporto classifica os jovens em categorias por idade cronológica, é evidente que aqueles que apresentam maturação acelerada tendem a apresentar resultados desportivos melhores do que os jovens de desenvolvimento normal ou lento, pois o desempenho físico é de vital importância na maioria dos desportos.

No entanto pode ocorrer uma estagnação precoce do desenvolvimento do desempenho no indivíduo de maturação acelerada e aquele com maturação lenta, pode

continuar a desenvolver-se por mais tempo.

Quando ambos atingem o estado maduro ou adulto, o indivíduo que apresenta maturação lenta pode até superar os resultados esportivos do indivíduo de maturação acelerada.

Malina (1994), classifica os indivíduos com maturação acelerado como maturadores rápido, e aqueles que demoram para se desenvolverem são classificados como maturadores lento.

Discussão e resultados Maturidade e performance motora

“Em alguns jovens a idade cronológica não está em sintonia com a idade biológica, isto é, que corresponde ao desenvolvimento físico e neuroendrócrino, podendo estar com o desenvol-vimento retardado ou acelerado” (VITORI e

ARCELLI 1995).

Em alguns esportes, os atletas que apresentam maturação avançada, podem ter vantagem em relação aos que estão no estágio normal ou retardado de maturação.

Malina (1984), apresentou uma pesquisa com 37 nadadores de 8 a 18 anos de idade, onde os 7 melhores nadadores estavam avançados em desenvolvimento genital e de pelos pubianos. Em outra amostra de 10 nadadores com idade de 16.7 anos e desvio padrão de 1 ano, nos Jogos Olímpicos de Montreal, os nadadores estavam avançados em maturação esquelética, 0.93%. Mas nem sempre os atletas que são destaques na adolescência conseguem manter o alto nível de performance na idade adulta.

Vitori e Arcelli (1995) apresentaram a média de dados coletados em testes motores realizados por meninos e meninas com idade entre 12 e 13 anos, que foram destaque na modalidade Atletismo na Itália como parâmetro de referência para outros técnicos, mas alertam que a referência serve apenas para meninos e meninas com maturação precoce, pois a comparação com os indivíduos que apresentam maturação normal ou atrasada é um equívoco.

Os autores também chamam a atenção para o fato de que muitos que obtiveram resultados dentro dos parâmetros da idade de 12 e 13 anos, não conseguem

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manter o desempenho dentro dos parâmetros para 16 e 17 anos.

Neste momento é observado um grande desenvolvimento físico dos que maturam mais tarde e a tendência é o alcance e a superação dos resultados desportivos daqueles que maturam precocemente.

O desempenho motor em indivíduos que se encontram na puberdade é aumentado em ambos os sexos. Embora os meninos apresentem a puberdade um pouco mais tarde que as meninas, seu desempenho tende a ser maior e continua a aumentar durante mais tempo.

A principal razão para a performance motora na puberdade ser melhorada é o aumento da força muscular (MAIA, 1999 citado por BARBANTI, 2002).

O aumento da força muscular guarda uma relação com PVA segundo vários autores. (BEUNEN et al., 1992; NICOLETT, 1999; MAIA, 2002; COMETTI e ALBERTTI, 2002).

Na tabela 5, Beunen et al. (1992) realizaram uma pesquisa com garotos ativos e não ativos para observar a influência da atividade física na maturação e performance motora, por meio de pico de velocidade em altura, peso e força.

Valores de centímetros ano no PVA; valores de Kg/ano no pico de velocidade em peso, (PVP), e valores da força em Kg, no pico de velocidade em força, (PVF).

Em relação a influência da atividade física na maturação, Beunen et al. (1992) concluem que na população geral de garotos adolescentes, o crescimento e a maturação não são influenciados pelo nível de atividade física. Existe influência positiva nos componentes do desempenho físico, especialmente potência aeróbia, resistência muscular e corrida de velocidade.

Por meio dos dados colhidos na pesquisa de Beunen et al. (1992), observados na tabela 5., é observado que o pico de velocidade em peso e força aconteceu sempre posteriormente ao pico de velocidade

em altura.

Esses dados confirmam a afirmação de alguns autores de que os maiores incrementos de força ocorrem após o PVA.

Para Maia (1999) citado por Barbanti (2002) a força apresenta seu maior incremento aproximadamente 1 ano após o PVA.

Nicoletti (1999) apresentou estudos de Beunen et all (1988) e Malina (1989) que classificaram o aumento de diferentes manifestações da força, onde em meninos o pico de velocidade de crescimento da força explosiva aconteceu 6 meses após o PVA, e o pico de força de membros superiores 6 a 14 meses após o PVA.

O pico de aumento da massa muscular dos membros superiores ocorreu de 3 a 5 meses após o PVA, ou seja o pico da massa muscular precede o aumento da força muscular.

Este fato sugere uma troca qualitativa do tecido muscular dos garotos e que o progresso da puberdade força uma maturação neuromuscular, considerando o aparato muscular voluntário.

Blinkie (1989) citado por Cometti e Alberti (2002) também apontam aumento da força após o PVA por gênero.

No sexo masculino a força desenvolve-se em maior proporção um ano depois do PVA, no entanto, no sexo feminino foi observado maior incremento da força 6 meses após o PVA.

Apesar dos dados apresentados por diferentes autores diferirem em relação ao tempo em que ocorre o maior incremento da força muscular, todos apontam com referência o PVA, sendo este evento um bom instrumento para observar o desenvolvimento dos adolescentes. Após o PVA existe uma enorme diferença no potencial físico entre os sexos.

As pesquisas mostram que as meninas aumentam um pouco a performance após o PVA, e depois apresentam manutenção até a idade adulta, enquanto nos meninos é observado um aumento crescente da performance até os 18 anos.

O grande desenvolvimento de força após o PVA está relacionado com o desenvolvimento hormonal. O aumento da testosterona sérica marca a diferença da evolução da força entre meninos e meninas, como mostra a pesquisa de Montoye e Lamphiear (1977), e Wintrer (1978), citado por Cometti e Alberti (2002). As pesquisas são apresentadas na figura 1 e figura 2.

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Weinech (1999), apresentou dados do aumento da testosterona sérica na puberdade.

Em meninas o aumento atingiu 10 a 50ng/100; em meninos 15 a 300 ng/100, segundo o autor esse é o principal fator para o aumento da massa muscular e força e a grande diferença da performance entre os sexos.

Conclusões

O estudo realizado demonstrou que os jovens apresentam diferenças na idade biológica em relação idade cronológica.

É muito importante acompanhar o nível de maturação de cada indivíduo, pois o processo de maturação favorece a performance esportiva.

Durante a maturação ocorre um grande aumento

da força muscular em decorrência da mudança do perfil hormonal, sendo este um período sensível de desenvolvimento da força muscular.

Essas informações são importantes para técnicos desportivos que devem estar atentos ao grau de maturação dos atletas, para não cometerem erros quando observam seus resultados desportivos ou de testes motores.

Classificar como talento esportivo aqueles que apresentem resultados superiores ao de outros de mesma idade cronológica pode ser um equívoco.

Conforme já mencionado nesta revisão os indivíduos de maturação lenta ou normal podem igualar e até superar os indivíduos de maturação rápida quando atingem a idade adulta, onde o processo de maturação já está encerrado.

Com este conhecimento espera-se que os técnicos desportivos elaborem programas de treinamento organizando grupos de treinamento levando em consideração seu desenvolvimento biológico.

Referências Bibliográficas

BEUNEN.G.P: et al. Physical activity and growth, maturation and performance: a longitudinal study. Medicine and Scienci in Sports and Exercise. 24(5): 576-585,1992.

CUNHA.A.G. Dicionário etimológico nova fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1982. COMETTI, G; ALBERTI, G. L’allenamento dela forza nei giovani. Atleticastudi. 33(1.2): 9-28, 2002.

GALLAHUE, D. L; OZUMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2003.

MAIA, J. A. R. Desenvolvimento da força muscular em crianças e jovens – uma nota breve em torno de sua expressão e interpretação. 13, (pp. 217-240). BARBANTI, V. J: AMADIO, A. C: BENTO, J. O: MARQUES, A. T. Esporte e atividade física: interpretação entre rendimento e saúde. Barueri: Manole, 2002. MALINA, R, M. Biological maturity status of young athletes. In Malina, R. M. (Ed). Young athletes: biological, phychological, and educational perspectives. (pp. 121-140). Champaign, Illinois: Human Kinetics, 1984.

MALINA, R, M. Physical activity and training: effects on stature and the adolescent growth spurt. Medicine and Science in Sport and Exercise. 26(6): 759-766, 1994. MIRWALD, R. L: et al. An assessment of maturity fron anthropometric measurements . Medicine and Science in Sport and Exercise. 34( 4): 689-694, 2002.

NICOLETTI, I. Sviluppo físico e sport. Atleticastudi, 1(99): 3-11, 1999.

ROGOL, A, D. Growth at puberty: interaction of androgens and growth hormone. Medicine and Science

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in Sport and Exercise. 26(6): 767-770, 1994.

VITTORI, C; ARCELLI, E. Avviamento alle gare di corsa. Atleticastudi, 2, 175-182, 1995.

WEINECK, J. Treinamento ideal. São Paulo: Manole, 1999.

Recebido em 01 de outubro de 2007 e aprovado em 01 de novembro de 2007.

Referências

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