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ESTRESSE OCUPACIONAL: REPERCUSSÕES NA SAÚDE DO TRABALHADOR

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Academic year: 2021

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Raquele Tiana Kohler, Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, Brasil José Carlos Souza, Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, Brasil

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Resumo

O estresse relacionado ao trabalho causa prejuízos de milhões às empresas todos os anos, devido à falta do funcionário ou devido ao mau desempenho do mesmo. No ambiente de trabalho bem como em outros locais, as pessoas estão continuamente expostos a situações com diversos graus de estresse, o que exige adaptação contínua para manter o equilíbrio. Portanto, conhecer os principais sinais desse distúrbio favorece a ação rápida e eficaz para proteger esses trabalhadores e consequentemente a produtividade e a lucratividade da empresa. O objetivo deste estudo é analisar o estresse associado ao trabalho e suas

implicações na saúde do trabalhador, pois quando o trabalhador passa a ter relações muito desgastantes com o ambiente de trabalho, não atingindo parte de suas necessidades, sua saúde como um todo acaba sofrendo prejuízos. Trata-se de uma revisão de literatura na qual foram consultados livros e periódicos da Biblioteca da Universidade Católica Dom Bosco, e realizada a busca de artigos científicos nos bancos de dados da Bireme e Scielo, através das fontes Lilacs e Medline, totalizando oito trabalhos analisados. Verifica-se em relação à revisão dos artigos científicos a cerca do tema estresse e burnout feita neste estudo a presença de sintomas físicos e ou psicológicos na maioria dos trabalhadores pesquisados, portanto esses estudos e os dados relacionados à fase em que se encontram em relação ao estresse podem servir como indicativo para o burnout, ou vise e versa. Os mesmos resultados levam a refletir e procurar alternativas para gerenciar o estresse no ambiente de trabalho como forma de evitar a Síndrome de Burnout e outros agravos às saúdes física e mental dos trabalhadores. Palavras-chave: Estresse, Ambiente de trabalho, Saúde.

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Introdução

O contexto atual configura-se com amplas transformações no ambiente empresarial, o qual vem tornando-se cada vez mais competitivo. São inúmeras as mudanças nas relações de trabalho, na organização produtiva, na tecnologia e na cultura do país, o que impacta na vida das pessoas e faz com que as mesmas procurem mecanismos de adaptação frente à

diversidade de situações novas e desafiantes.

Produtividade e lucratividade são palavras constantes no século XXI, cada vez mais competitivo e sedento por resultados. Um indicador de como o mundo corporativo tem mudado é a constatação de que a média do número de horas que um casal americano dedica ao trabalho por ano aumentou em aproximadamente 700 horas nas últimas duas décadas (Murphy & Sauter, 2003). O excesso de trabalho pode trazer consequências tanto para vida familiar como profissional. Um trabalhador esgotado consequentemente diminui seu poder de raciocínio e concentração aumentando com isso as chances de envolvimento em um acidente de trabalho.

Encontrar um equilíbrio nos diversos aspectos da vida seria fundamental para uma boa qualidade de vida e atrelado a isso a gestão de qualidade de vida no trabalho vem ganhando espaço, pois constata-se que não basta mais investir somente em máquinas, é preciso investir em quem opera as máquinas, o capital humano. E é com uma visão sistêmica da gestão organizacional que as empresas que tem seu modelo baseado na excelência

acreditam que as pessoas que compõem a força de trabalho devem estar capacitadas e

satisfeitas, atuando em um ambiente propício à consolidação dessa cultura. Pessoas satisfeitas e felizes no trabalho são mais produtivas e tem menos riscos de desenvolverem disfunções e estresse ocupacional.

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das tarefas. As principais causas são o excesso de trabalho, a execução de tarefas sob pressão, a ausência de decisões no processo produtivo, as condições ambientais insatisfatórias, a interferência da empresa na vida particular, a falta de conhecimento no processo de avaliação de desempenho e promoção e a falta de interesse na atividade profissional desempenhada (Mendes, & Leite, 2008).

Como complemento, podem ser citadas as pesquisas realizadas pela American Management Association, onde as principais necessidades almejadas pelos indivíduos no trabalho são: recompensa material, progresso na carreira, reconhecimento, status, satisfação, percepção do desempenho, obtenção de tranquilidade doméstica, preservação da saúde e segurança no trabalho. Não atingindo parte de suas necessidades esses trabalhadores passam a ter relações muito desgastantes com o ambiente de trabalho e isso acaba refletindo na sua saúde como um todo.

O estresse ocupacional causa inúmeros prejuízos tanto pra o próprio trabalhador como para as empresas que são afetadas pela falta ou pelo mau desempenho dos seus funcionários. Bem como em outros locais, no trabalho os indivíduos estão continuamente expostos a situações com diversos graus de estresse, o que exige adaptação contínua para manter o equilíbrio.

O termo stress, como vem sendo utilizado, vem da física e a conotação que o mesmo possui na atualidade deve-se ao médico Hans Hugo Bruno Selye (1907-1982), que utilizou esse termo, em 1936, para denominar ao conjunto de reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de adaptação. Hans Selye, como é conhecido, deu o nome de Síndrome Geral de Adaptação ao conjunto de modificações não específicas que ocorrem no organismo diante de situações de estresse. A mesma consiste em três fases: Reação de Alarme, Fase de Resistência e Fase de Exaustão (Selye, 1965).

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interação do indivíduo, do agente estressor e da adaptação da pessoa em manter-se

equilibrada. Na fase de alarme, o indivíduo apresenta sintomas iniciais, que muitas vezes não identificam o estresse. Na fase de resistência, ao restabelecer o equilíbrio interno, o indivíduo se adapta à situação, e isso diminui ou causa o desaparecimento dos sintomas iniciais. Se o indivíduo utiliza toda a energia adaptativa nessa segunda fase, ele evolui para exaustão, que provoca o reaparecimento e agravamento dos sintomas (Mendes, & Leite, 2008).

Na fase de exaustão o organismo sofre de forma crônica com a necessidade de viver em um ritmo de contínua adaptação. Como consequência, aparecem sinais e sintomas de doenças como hipertensão, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral,

enxaqueca, distúrbios gástricos e intestinais, ansiedade e depressão (Mendes, & Leite, 2008). Em se tratando de estresse não se deve deixar de citar outro autor de imensa

contribuição na área que coloca que “Em tese, Estresse é a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um indivíduo que procura se adaptar e se ajustar às solicitações internas ou externas...” (Ballone, & Moura, 2008, p. 123).

No ambiente laboral, o estresse ocupacional pode ser enfrentado de duas formas: por meio do ajuste passivo ou do ajuste ativo. No ajuste ativo o indivíduo tenta enfrentar a situação na tentativa de reverte-la e sentir se novamente motivado, já no ajuste passivo, o indivíduo nada faz para melhorar, continua no trabalho apenas por questão de sobrevivência. Essa situação é a mais crítica e com maior predisposição para o aparecimento de doenças. Em conjunto com essa situação pode-se observar o presenteísmo, que acontece quando o

trabalhador mesmo com dificuldades continua indo ao trabalho, mas apenas de corpo presente, pois fica com o pensamento longe, alienado, sem motivação e com isso apresenta baixo desempenho profissional.

A avaliação do estresse ocupacional pode ser realizada pelo Inventário de Sintomas de Stress (ISS) proposto por Lipp e Guevara (1994). O questionário, validado pelas autoras, é

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capaz de detectar nos indivíduos um quadro sintomatológico do estresse, as fases do estresse e se a predominância dos sintomas está na área cognitiva ou somática. Os resultados

encontrados possibilitam um melhor controle das condições do trabalho e consequentemente uma melhor qualidade de vida nesse ambiente.

Lipp (2000), dentro de uma abordagem cognitivo-comportamental, define estresse como:

... uma reação psicofisiológica muito complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo fazer face a algo que ameace sua homeostase interna. Isto pode ocorrer quando a pessoa se confronta com uma situação que de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz. (p. 18).

Assim a autora coloca que o estresse nem sempre é ruim. Há segundo ela o “euestresse”, necessário para o bom desempenho da pessoa.

Método

Trata-se de uma revisão de literatura na qual foram consultados livros e periódicos da Biblioteca da Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, e realizada a busca de artigos científicos nos bancos de dados da Bireme e Scielo, através das fontes Lilacs e

Medline.

A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando às terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. As palavras-chave utilizadas na busca foram: Estresse, Estresse Ocupacional, Trabalho e Síndrome de Burnout.

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psicossomática do Estresse e a interação com o trabalho. Estudos que explicavam

manifestações do Estresse Ocupacional também foram utilizados como referência para este trabalho. Foram excluídos estudos que abordavam somente o Estresse sem a ligação com o trabalho. Assim foi realizada dentro da literatura especializada, em um total de oito trabalhos que correlacionava os critérios de inclusão, uma análise sobre o Estresse Ocupacional e suas implicações na vida do trabalhador.

Estresse Ocupacional

A natureza e a exigência do trabalho muitas vezes afeta o trabalhador não somente na esfera profissional, pois o ser humano é e reage como um todo complexo, único. O trabalho é para a maioria das pessoas, o local onde mais passam parte de suas vidas, portanto deve ser um lugar confortável, motivante e que assegure a integridade física e mental, ou seja,

assegure a saúde do trabalhador. Quando se fala em saúde no ambiente de trabalho fala-se em concordância com a definição da Organização Mundial da Saúde que coloca a mesma como “o completo bem estar biológico, psicológico e social e não apenas como ausência de doença” (Organização Mundial de Saúde, 1998).

No Brasil, estudos sistemáticos acerca da saúde do trabalhador e do estresse

ocupacional foram desenvolvidos em várias profissões e em diferentes contextos. A pesquisa desenvolvida por Cunha (2010) teve como objetivo investigar as condições de trabalho dos operadores de telemarketing em uma empresa privada da cidade de Uberlândia, MG, para identificar em que medida as formas de organização do trabalho, às quais esses trabalhadores estão submetidos, interferem em sua saúde, segundo seus próprios depoimentos. Foram entrevistados dez operadores de ambos os sexos, com mais de 18 anos e com no mínimo um ano de contratação. Nesse estudo Cunha relata que a intensificação do ritmo de trabalho, o rígido controle exercido aspectos mais amplos, e por isso, envolvendo questões de ordem

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física e psíquica apresentadas sobre os trabalhadores para o cumprimento de padrões pré-estabelecidos de atendimento dentro de um período de tempo reduzido e as condições físicas do ambiente de trabalho, como iluminação, ventilação e condições dos equipamentos que não atendem as normas ergonômicas acabam por influenciar na saúde desses trabalhadores desencadeando diversos sintomas de ordem física e psíquica.

Esses trabalhadores convivem diariamente com uma gama significativa de agentes estressores os quais de acordo com Limongi-França e Rodrigues (1999), são capazes de disparar em nosso organismo uma série imensa de reações via sistema nervoso, sistema endócrino e sistema imunológico, por meio da estimulação do hipotálamo e sistema límbico; essas importantes estruturas do sistema nervoso central estão intimamente relacionadas entre outras com a regulação das emoções.

O trabalho de operador de telemarketing tornou-se muito comum nos dias atuais e apesar de relativamente novo esse setor é um dos grandes empregadores da atualidade e se caracteriza por ritmo de trabalho acelerado, sem ou com poucas pausas para a recuperação do organismo, com a presença de movimentos repetitivos e manutenção de uma postura estática, em ambientes muitas vezes desprovidos das questões ergonômicas, com pressão constante e metas de produtividade desgastantes (Limongi-França & Rodrigues, 1999).

Afirmam as autoras, que apesar da tecnologia de ponta empregada nesse tipo de atividade, tal modernização tecnológica não contribuiu para a melhoria das condições de trabalho, e ironicamente sugere o seu oposto, ou seja, a precarização do trabalho à

reestruturação do modelo produtivo impetrada pelo capital acarretou repercussões funestas nas condições de trabalho e consequentemente na saúde dos trabalhadores. Em especial, os trabalhadores desse setor sofrem com a constante pressão por produtividade a que são submetidos.

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objetivo de identificar sintomas físicos e ou psicológicos do estresse nos profissionais de administração. Foram avaliados 47 profissionais da área através do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL, de 2000) e os resultados encontrados foram analisados de

acordo com os dados sociodemográficos. Os resultados apresentados no estudo de Costa são semelhantes com os de Cunha (2010), que avaliou operadores de telemarketing, também identificando a presença de sintomas físicos e ou psicológicos nesses trabalhadores. Segundo Costa (2006), a sintomatologia física e ou psicológica encontra-se presente na rotina

ocupacional dos administradores comprometendo-lhes a saúde e o desempenho profissional, pois os mesmos, com a rotina estressante de trabalho, possuem a saúde mais debilitada sendo assim mais suscetíveis ao aparecimento de doenças.

Em seu estudo sobre trabalhadores da construção civil Castro (2009) verificou a prevalência de estresse em cento e vinte e três trabalhadores de três canteiros de obras cujas ocupações incluíam: serventes, pedreiros, eletricistas, carpinteiros, mestres, encarregados, entre outros, e contatou que os sintomas de estresse que os trabalhadores da construção civil estão mais vulneráveis são os de ordem psicológica. Entretanto, os sintomas físicos parecem se agravar com a idade. Nessa pesquisa, também a partir do ISSL-2000, foi verificado que mais de 22% dos participantes apresentaram estresse e a maioria tendo a fase de resistência, onde o agente estressor mantém sua ação, como predominante, o que indica que a maioria das pessoas estressadas possui uma sensação de desgaste do organismo.

Na fase de resistência há um aumento do córtex da supra-renal, atrofia do timo, baço e todas as estruturas linfáticas, hemodiluição, aumento do número de glóbulos sanguíneos, diminuição do número de eosinófilos (célula sanguínea também relacionada com a defesa do organismo), ulcerações no aparelho digestivo, aumento da concentração de cloro na corrente sanguínea, além de sintomas como irritabilidade, insônia, mudanças no humor, como

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Outra profissão que tem sido bastante pesquisada a respeito do estresse ocupacional é a enfermagem, talvez pelas vivências de sofrimento de enfermeiros, no trabalho em unidade de terapia intensiva, a relação de cuidar de pacientes críticos, fazendo com que os mesmos levem muitas vezes os problemas para a casa e para a vida particular e também porque cada vez mais se fala a respeito da humanização na saúde e para que esta seja colocada em prática as pessoas que fazem parte desse meio precisam estar bem em seu aspecto biopsicossocial. Lorenz, Benatti e Sabino (2010), em estudo com enfermeiros de um hospital universitário de alta complexidade, utilizando como instrumento de avaliação o Maslach Burnout Inventory e o Inventário de Stresse em Enfermeiros, concluíram que existe importante vulnerabilidade dos enfermeiros para burnout, potencializada pela vivência de estresse no ambiente de trabalho hospitalar. Nesse estudo, desgaste emocional apresentou correlação com fatores intrínsecos ao trabalho de forte magnitude (0,65), com papéis estressores na carreira também de forte magnitude (0,57) e com relações interpessoais de magnitude moderada (0,50). Despersonalização apresentou correlação de magnitude moderada com papéis estressores na carreira (0,46) e com fatores intrínsecos ao trabalho (0,38) e correlação de fraca magnitude com relações interpessoais (0,27). Incompetência apresentou correlação inversa de fraca magnitude com papéis estressores na carreira (-0,29), fatores intrínsecos ao trabalho (-0,27) e relações interpessoais (-0,17). Nesse mesmo trabalho evidenciou-se que a carga e a

sobrecarga psíquica e cognitiva devem ser realçadas na avaliação da carga de trabalho, no ambiente do trabalho de instituições de saúde, o que representaria um salto de qualidade na investigação do risco do trabalho da enfermagem, especialmente em hospitais universitários.

Costa, Lima e Almeida (2003) avaliaram o estresse associado ao trabalho do

enfermeiro com o portador de transtorno mental inserido no contexto do hospital psiquiátrico. Trata-se de pesquisa quantitativa realizada em sete hospitais psiquiátricos da cidade de

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maioria do sexo feminino (92,9%). Os resultados mostram que 38% da amostra apresentaram estresse, e destes, 30,9% encontravam-se na fase de Resistência e apenas 7,1% na fase de Exaustão. Esse mesmo estudo evidenciou a ocorrência do estresse em um terço dos profissionais enfermeiros.

A próxima forma de trabalho a ser mencionada e que também vem sendo alvo de estudos sobre estresse é a docência. No passado, ser professor trazia à tona, segundo Codo e Vasques-Menezes (1999), uma identidade carregada de orgulho profissional. A profissão docente gozava de prestígio social e enchia de orgulho quem a ela pertencia. Segundo Paranhos (2002), dentro da compreensão de saúde no trabalho a mesma não deve se referir à mera ausência de doenças ou à subjetiva noção de bem-estar físico, mental e social, mas sim à efetivação de condições básicas de cidadania e, neste contexto, o docente pode lutar para modificar os fatores estressantes do ambiente do trabalho.

Oliveira (2009) objetivou investigar as manifestações de estresse, a percepção do próprio estresse e de fatores estressantes no trabalho, a ocorrência da Síndrome de Burnout e a satisfação sobre a qualidade de vida de docentes de universidades publicas. Participaram da pesquisa 91 professores dos cursos da área de saúde, a saber: Odontologia, Farmácia,

Medicina e Enfermagem, de uma instituição de ensino superior do estado do Amazonas, Brasil. Foram aplicados os seguintes instrumentos: ISSL-2000, Maslach Burnout Inventory, Escala de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde, versão abreviada, e um questionário sobre percepção do próprio estresse. Verificou-se que 75,8% dos participantes não apresentaram manifestações clínicas de estresse. Esses resultados encontrados em docentes universitários foram semelhantes aos achados por Costa et al. (2003) com

enfermeiros; Moniz e Araujo (2006) com voluntários de saúde; e Rossetti et al. (2008) com servidores públicos. Os trabalhadores apresentaram baixa Exaustão Emocional, baixa Despersonalização e alta Realização Pessoal, ou seja, de maneira geral, os docentes

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apresentaram baixos indicadores da Síndrome de Burnout. Em relação à Síndrome de Burnout, Maslach e Jackson (1986) afirmam que é um processo em que a Exaustão

Emocional é a dimensão precursora da síndrome, sendo seguida por Despersonalização e, por fim, pelo sentimento de diminuição da Realização Pessoal no trabalho. Estudos sobre a Síndrome de Burnout desenvolvidos com profissionais de saúde na Argentina por Gil-Monte e Marucco (2008) encontraram dados discordantes aos do presente estudo. Os autores

apontam para um alto risco dos profissionais desenvolverem a síndrome, tendo em vista a incidência de alta Exaustão Emocional, alta Despersonalização e baixa Realização Pessoal. Cabe ressaltar que aproximadamente um quarto dos docentes apresentou manifestações clínicas de estresse (24,2%), e alta exaustão emocional (28,6%). O Ministério da Saúde do Brasil (2001) indica que quando o diagnóstico de burnout é confirmado (CID-10, Z56.3 e Z56.6) este deve ser abordado como evento sentinela e indica uma investigação mais criteriosa da situação do trabalho.

Conclusão

O conceito de burnout é considerado um dos desdobramentos mais importantes do estresse profissional ou ocupacional, o que impõe sua apresentação em qualquer texto que se dispõe a falar sobre estresse relacionado ao trabalho (Limongi-França & Rodrigues, 1999). Seus precursores são Cristina Maslach, quem elaborou em 1978 o Maslach Burnout

Inventary, e Herbert J Freudenberger. Para esses autores o burnout seria a resposta emocional a situação de estresse crônico em função de relações intensas no ambiente de trabalho e da busca para alcançar uma grande realização que muitas vezes em função de diferentes obstáculos não é alcançada.

Em se tratando do estresse não se pode deixar de citar mais uma vez seu precursor, Hans Selye (1936), que definiu o estresse como sendo um conjunto de reações que ocorrem

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em um organismo quando está submetido a um esforço de adaptação.

Se burnout é uma resposta emocional a situação de estresse crônico, para que o trabalhador chegue a ser diagnosticado com burnout, então ele já deve ter passado pelas fases de estresse. Seu corpo já deve ter demonstrado reações e fases antes de chegar a um estado crônico e caracterização da Síndrome de Burnout.

Percebe-se em relação à revisão dos artigos científicos a cerca do tema estresse e burnout feita neste estudo, a presença de sintomas físicos e ou psicológicos na maioria dos

trabalhadores pesquisados, portanto esses estudos e os dados relacionados à fase em que se encontram em relação ao estresse podem servir como indicativo para o burnout, ou vise e versa. Os mesmos resultados nos levam a refletir e procurar alternativas para gerenciar o estresse no ambiente de trabalho como forma de evitar a Síndrome de Burnout e outros agravos às saúdes física e mental dos trabalhadores. A partir do momento que vários

resultados mostram quais os estressores mais presentes em cada profissão e como estão esses profissionais em relação a sua profissão, pode-se começar a pensar em caminhos para

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Referências

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