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Resumo. 1. Introdução

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1. Graduanda de Fisioterapia do Trabalho – Lato Sensu- Manaus (AM) Brasil – 2016

2. Professora orientadora da Pós-Graduação Biocursos – Lato Sensu - Manaus (AM) Brasil – 2016 Dayana Priscila Maia Mejia

Pós-graduação em Fisioterapia do trabalho - Faserra

Resumo

As ferramentas manuais são presentes em diversos processos e desempenham um papel crucial no ambiente organizacional. A alta incidência de lesões e desconforto associado ao design incorreto de ferramentas manuais fez com que as empresas começassem a investir no enfoque ergonômico durante o processo de projeto destas ferramentas, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as contrações estáticas da musculatura e o estresse geral. Trata-se de uma revisão bibliográfica onde foram utilizados artigos e dissertações da área de ergonomia, design e engenharia de produção, para melhor compreensão dos parâmetros e implicações do design destes equipamentos. Os principais parâmetros a serem analisados são peso, formato, tamanho, textura e diâmetro da empunhadura, capacidade de absorção de vibração e choque, facilidade de adaptação e utilização da ferramenta, além de medidas antropométricas da população. Diversos estudiosos da área sugerem que deve se conhecer bem a estrutura, as necessidades e a biomecânica do trabalho a ser executado para que a ferramenta seja de todo adequada e segura.

Palavras-chave: Ergodesign, ferramentas manuais, design ergonômico, conforto.

1. Introdução

Para desempenhar muitas atividades da vida diária, a preensão é aliada à aplicação de força

muscular, permitindo a manipulação de objetos e a realização de tarefas cotidianas. O

dimensionamento incorreto da força, aliada com fatores de repetitividade, desvios extremos e frequentes do punho, concentração de pressão, vibração e design inadequado de ferramentas sobrecarregam os sistemas ósteo-musculares, aumentando risco de lesão1,2,3.

A perspectiva sobre as ferramentas manuais é constantemente mudada com o progresso técnico, as mudanças na organização do trabalho e as expectativas dos operadores. Objetivos de segurança, conforto, eficiência e redução de lesões e mesmo o estilo têm sido adicionados às considerações de melhora da eficiência no projeto da ferramenta1.

Dentro do enfoque ergonômico, as ferramentas e materiais são adaptados às características do trabalho e capacidades do trabalhador, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as contrações estáticas da musculatura e o estresse geral.

A fim de atender a essas novas exigências, o design ergonômico de ferramentas manuais tem se expandido.

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A mão é um órgão extremamente móvel, que pode coordenar uma variedade infinita de movimentos, é a parte do membro superior que permite contato tátil entre o indivíduo e o ambiente4.

2.1 Preensões e manejos

A preensão é a principal habilidade da mão humana. As preensões são controladas por dois grupos musculares concomitantemente: os músculos intrínsecos (localizados na própria mão, responsáveis pela maleabilidade e precisão) e os músculos extrínsecos (localizados no antebraço, responsáveis pela aplicação de forças e estabilidade do movimento). O funcionamento coordenado deste sistema muscular é essencial para o desempenho satisfatório da mão5.

A pega o manejo é uma forma de controle onde é empregado o polegar e a palma das mãos, para pegar, prender ou manipular objetos é viável o emprego de diferentes níveis de precisão, forca e velocidade (Figura 1)6.

A pega de força, ou cilíndrica refere-se a agarrar um objeto na palma da mão com o polegar enrolado em torno do objeto. Há utilização de maior força, menor velocidade e precisão, os dedos são responsáveis principalmente por agarrar e firmar o objeto ou ferramenta, enquanto as mãos e punhos realizam o movimento 6,7,8.9.

Para executar uma pega de força, o pulso deve assumir uma posição de desvio ulnar e extensão para alinhar o dedo indicador e o polegar com o eixo longitudinal do antebraço e da ferramenta7.

Uma pega de precisão, ou manejo fino refere-se à segurar um objeto entre o polegar e os dedos opostos, apresenta maior precisão e velocidade, porém aplica menos força. Para executar uma pega de precisão, o pulso é posicionado em ligeira extensão, e o polegar e os dedos são parcialmente flexionados e em oposição em torno do objeto (Figura 2), é realizada

Fonte: IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. Ed. rev. e ampl. - São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

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principalmente com as pontas dos dedos enquanto a palma das mãos e os punhos mantêm-se relativamente estáticos 6,7,9.

Napier classifica as preensões de precisão como lateral (Figura 3), palmar, pinça (Figura 4) e esférica. A pega em gancho não inclui o polegar. A pega em pinça lateral é a mais forte de

todas as de precisão 6,9.

Fonte: ATWOOD, C.; BAKER, N. Ergonomics and the management of musculoskeletal disorders, second edition, Elsevier, 2004.

Fonte: ATWOOD, C.; BAKER, N. Ergonomics and the management of musculoskeletal disorders, second edition, Elsevier, 2004.

Fonte: ATWOOD, C.; BAKER, N. Ergonomics and the management of musculoskeletal disorders, second edition, Elsevier, 2004.

Figura 2: Pega de precisão

Figura 3: Preensão lateral

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Kapandji10 ampliou a gama das preensões para: preensões puras (palmares, digitais e centradas), preensões com peso (auxiliadas pela gravidade) e preensões-ações (associadas a movimentos) (Figura 5).

Para que a preensão ocorra de maneira adequada, a mão deve se adaptar a diversos formatos, acomodando os objetos de manejo, portanto, o correto manejo ocorre com objetos aos quais as mãos possam se adequar11.

A localização e o tamanho dos objetos, ferramentas e equipamentos alteram a postura do punho e dos dedos, modificando a posição e comprimento da musculatura em relação às articulações dos membros superiores11.

2.2 Antropometria da mão

Antropometria refere-se ao estudo de dimensões humanas e tamanho do corpo. Dimensões humanas incluem a altura, comprimento e perímetros dos membros, bem como as capacidades físicas, tais como levantar, carregar e agarrar12,13.

A antropometria é fundamental para a ergonomia no sentido de se adaptar os postos de trabalho, equipamentos, ferramentas e equipamentos de proteção individual às dimensões do corpo dos trabalhadores7.

A antropometria pode ser considerada uma ciência interdisciplinar, a qual se refere principalmente às dimensões, composição e propriedade de massa corpórea14.

Neste sentido, o projeto da interface tecnológica, depende dos aspectos antropométricos para o dimensionamento da mesma, durante o processo de desenvolvimento dos produtos, ambientes e sistemas15.

Os principais preceitos antropométricos indicam que as diferenças ocorrem entre os indivíduos de diferentes origens, faixas etárias e gêneros, o que deveria ser considerado por designers, arquitetos e engenheiros. Homens e mulheres apresentam diferenças

Fonte: KAPANDJI, A. I. Fisiologia articular, volume 2: esquemas comentados da mecânica humana. Guanabara Koogan, 2000.

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antropométricas significativas, não apenas em dimensões absolutas, mas também nas proporções dos diversos segmentos corporais 6,15.

A tomada das medidas das mãos dos sujeitos é muito importante para a configuração de controles em máquinas e produtos de consumo. As medidas antropométricas das mãos, em centímetros, são obtidas através da medida do perímetro da mão, medida da largura da mão, medida do perímetro do punho e medida do perímetro de “pega” (anel formado entre polegar e indicador)16.

O uso de dados antropométricos pode ajudar na concepção adequada dos equipamentos para uma melhor eficiência e maior conforto humano17.

3. Ergodesign e usabilidade

A disseminação da ergonomia nas sociedades contemporâneas tem contribuído para um projeto de produto, que venham a ser mais seguros e confortáveis para a maioria de seus usuários. O ergodesign significa a fusão dos focos teóricos e práticos da ergonomia e do design, em busca de um produto centrado no usuário18.

O design e a ergonomia apresentam vários critérios de desenvolvimento de produtos em comum, como: forma, função, usabilidade, determinação de matéria-prima, normas técnicas, dimensionamento, manual de montagem e utilização, testes físicos e certificação. Todos têm o objetivo final de proporcionar o bem-estar do usuário na utilização do produto19.

Do ponto de vista ergonômico, os produtos não são considerados como objetos em si, mas apenas como meios para que o homem possa executar determinadas funções. Todos os produtos sejam eles grandes ou pequenos simples ou complexos, destinam-se a satisfazer certas necessidades humanas, entrando em contato com o homem, direta ou indiretamente. Para que esses produtos funcionem bem em suas interações com o usuário ou consumidores, eles devem possuir qualidade técnica, qualidade ergonômica e qualidade estética6.

A qualidade ergonômica de qualquer produto está diretamente ligada à usabilidade do produto, é sinônimo de qualidade de uso. Ambas levam em conta todos os aspectos psicofisiológicos, cognitivos e perceptivos, como facilidade de fabricação, montagem, manuseio e manutenção; boa adaptação antropométrica; índices de ruído, vibração e luminosidades adequados; eficientes dispositivos de informação, segurança e conforto no manuseio 6,20.

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A norma ISO 9241-11 define usabilidade como a “medida na qual um produto pode ser usado por usuários específicos, para alcançar objetivos específicos com eficácia, eficiência e satisfação, em um contexto de uso específico”21

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É a característica de um produto que denota qual grau de facilidade no uso e aprendizado. Sua importância se deve ao fato de ser uma característica de qualidade do produto, com abordagem ergonômica, objetivando um design de produtos acessíveis, satisfatórios, confiáveis e economicamente benéficos22. 23.

A usabilidade dos equipamentos, dispositivos e ferramentas manuais depende de inúmeros fatores, envolvendo com destaque a ergonomia, como medidora do trabalho ou atividade humana; os aspectos fisiológicos das mãos dos indivíduos e o próprio design – ou processo de projeto – especialmente quando considerado como elemento de qualidade do produto nestas relações24.

Um produto pode ser definido como ergonômico quando, em vários momentos da sua vida, idealização, realização, utilização, estimulação ou reciclagem, não provoca dano, mas gera condições do bem-estar psicofísico em todos aqueles que entram em contato com ele 19.

4. Metodologia

O trabalho desenvolvido seguiu os preceitos do estudo exploratório, por meio de uma pesquisa bibliográfica. Foram utilizados livros brasileiros e estrangeiros e artigos científicos sobre a temática foram acessados nas bases de dados Scielo, LILACS, MEDLINE, teses de mestrado e doutorado publicadas por universidades federais do Brasil e normas relacionadas ao assunto.

As palavras-chave procuradas durante a pesquisa forma: Ergodesign, ferramentas manuais, design ergonômico, conforto.

Por motivo de o assunto envolver tanto o design quanto a engenharia de produção, a maioria das bibliografias utilizadas são produções nessas duas áreas, com ênfase para a ergonomia dentro do tópico. Os estudos pioneiros sobre ergodesign começaram a ser produzidos nos anos 90, portanto na discussão foram utilizados artigos de 1998 a 2016, nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola para a construção do texto.

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5. Resultados e discussão

O projeto de muitos produtos é dependente das características físicas de seus usuários ou grupo de usuários, envolvendo aspectos como força, tamanho, peso, gênero e questões cognitivas25.

A seleção de ferramentas deve ser feita de acordo a especificidade do trabalho, considerando os aspectos ergonômicos. Ferramentas consideradas melhores para o trabalho são aquelas que minimizam o estresse físico produzindo pouca força nas mãos, que não são incômodas de segurar e manusear e minimizam vibração26.

O desenho das pegas influencia fortemente no funcionamento e manipulação dos objetos, sendo que as ferramentas de utilização por manejo fino devem apresentar circunferências menores em relação aquelas que são destinadas a utilização por manejo grosseiro. Quando em um mesmo objeto forem necessários os dois tipos de manejo, é adequado que se possa agarrar de diferentes maneiras6.

Em sua maioria, ferramentas que são equilibradas e dimensionadas para homens com maior massa muscular irão exigir mais força de usuários do sexo feminino com massa da mão menor. Por outro lado, ferramentas de precisão são equilibradas e concebidas para mãos menores, por isso podem causar tensão excessiva em homens com mãos de maior massa7. Projetar ferramentas manuais é uma tarefa complexa , uma vez que requer consideração não apenas da funcionalidade, qualidade, confiabilidade, e dimensões mas também as expectativas e apreensões de seus usuários e apreensões. Para integrar esses requisitos em processos de design de ferramentas são usados conceitos de qualidade funcional, que permite que os designers implementem a ergonomia logo no início do desenvolvimento do produto7.

O projeto ergonômico de ferramentas manuais pode atenuar os riscos à saúde e segurança dos trabalhadores, além disso, minimizar impactos negativos às empresas, como reduções da produtividade, aumento de custos, aumento no absenteísmo médico, comprometimento da capacidade produtiva, menor qualidade de vida do trabalhador, aposentadorias precoces e indenizações27.

O conforto apresenta relação direta com a produtividade, evidenciando assim a necessidade de considerá-lo no desenvolvimento de ferramentas manuais. Quando uma ferramenta provoca desconforto (como músculos doloridos e pressão sobre a mão), não se pode continuar a tarefa, sendo necessárias repetidas pausas, principalmente se a tarefa é realizada em alta velocidade, dessa forma, o sentimento de desconforto pode causar diminuição da produtividade28.

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O desconforto pode ser avaliado como um antecedente de lesões musculoesqueléticas. No uso de ferramentas manuais, o conforto está associado a conceitos positivos, como confiabilidade, segurança, facilidade de uso e satisfação, enquanto o desconforto está associado a conceitos negativos, como dor, pressão, dureza e irritação29.

Para minimizar estes problemas, Albano et al.30 sugere adaptar as ferramentas às características dos seres humanos, pois além de segurança esse tipo de ferramenta pode oferecer mais conforto e satisfação aos usuários.

Há uma relação definida entre o projeto das ferramentas manuais e os traumas cumulativos que elas provocam nas mãos e antebraços de seus usuários6. O uso de ferramentas manuais mal dimensionadas pode gerar diversos constrangimentos ao usuário, que incidem desde insatisfação e desconforto até patologias graves que acometem os membros superiores. Os problemas mais recorrentes estão relacionados à inadequação de dimensionamento, forma, peso, textura e estabilidade15.

Os elementos mais importantes do projeto de ferramenta no que diz respeito ao uso humano são o tamanho do punho, forma e textura, facilidade de operação, absorção de choque e peso31.

A qualidade ergonômica das ferramentas manuais pode ser avaliada pelo seu desempenho e esforço fisiológico do usuário com diferentes variáveis de projeto tais como a forma, espessura , comprimento, volume, qualidade da superfície e material dos cabos das ferramentas32.33.34.

O desenho das ferramentas manuais tem uma grande influência sobre a postura no trabalho, ângulo de flexão do punho, distribuição da pressão sobre a mão, carga muscular, fadiga e risco de lesões. Mudanças de alguns detalhes no desenho podem provocar efeitos enormes, considerando-se que certos tipos de profissionais usam a mesma ferramenta de forma contínua, durante meses e anos seguidos6.

Um produto deve atender a três aspectos: eficiência, que se refere à quantidade de esforço necessário para a realização de uma tarefa; eficácia, capacidade de finalização de uma tarefa; e satisfação, que se refere ao conforto do usuário ao utilizar um produto, e o quanto este produto é aceitável para que o usuário realize seus objetivos25.

Evitar o desconforto é um problema crucial no design e avaliação de ferramentas manuais, porém o conforto é raramente considerado na avaliação destas ferramentas35, 36. Alguns pontos podem ser considerados na avaliação levando em conta o conforto: funcionalidade, postura e musculatura, irritação e dor das mãos e dedos, irritação da superfície das mãos e características do cabo da ferramenta28.

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Em ferramentas manuais, especificamente, a forma e propriedades da superfície têm um importante efeito sobre a pressão produzida sobre a mão, sendo esta pressão positivamente relacionada com a percepção de desconforto37.

As principais variáveis a serem consideradas são resultados mecânicos (força, torque, aceleração); peso e centro de gravidade; forma e dimensões da pega; possibilidade de mudar o manejo e superfície de contato com as mãos37.

As características a serem consideradas na pega incluem: as diferentes formas de pega; os movimentos a serem transmitidos (força, velocidade, precisão); possibilidade de usar as duas mãos (para aumentar a força ou precisão); e se é adaptável aos canhotos. A concentração das tensões na mão pode ser reduzida, melhorando-se o desenho da pega, aumentando-se o diâmetro da pega, eliminando-se as superfícies angulosas ou "cantos

Para maior conforto de uso e menos tensão, o cabo da ferramenta deve estar orientado de modo que, durante o trabalho, a mão e o antebraço estejam alinhados. Uma vez que a forma da pega da ferramenta irá afetar a postura adotada ao utilizá-la. A forma da pega é um fator primário que pode ser utilizado para reduzir ou eliminar a fadiga do usuário38.

Kromer e Grandjean39 explicam a importância do design no desenvolvimento de empunhaduras. Pegas que não se ajustam adequadamente às mãos, ou não favorecem a biomecânica do trabalho manual, podem prejudicar o desempenho e ocasionar problemas ao operador.

O tipo de atividade influi na necessidade da ferramenta, atividades de precisão ou manejo fino são favorecidas por ferramentas de medidas menores que se encaixem nas mãos possibilitando a movimentação com os dedos; já para manejos mais grosseiros, podem-se empregar empunhaduras de maiores medidas, possibilitando a distribuição de pressão pelas mãos40.

O esforço é reduzido quando o movimento é exercido apenas pelos dedos e aumenta à medida que mais partes são necessárias, sendo, por exemplo, o emprego do conjunto dos dedos, pulsos, antebraços, braços e corpo, considerado de maior esforço. Para uso adequado e saudável das ferramentas manuais, deve-se projetar de modo que as circunferências e comprimentos acomodem confortavelmente as mãos, de acordo com o uso e movimentação do manejo e todas devem ter toque confortável40.

O uso de formas arredondadas e cilíndricas muito largas pode causar insegurança. O diâmetro ideal é na gama de 22-32 mm. É indicado também que a empunhadura suporte completamente o dedo, tendo no mínimo 27 milímetros de diâmetro (podendo ser usada com luvas)41.

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Recessos, como sulcos para os dedos não devem ser aplicados, pois pode haver grandes variações de antropometria dos dedos entre as diferentes populações. Em especial, pessoas com dedos grandes podem aplicar forças de compressão em excesso sobre as superfícies laterais dos dedos, que são áreas de nervos superficiais e veias. Além disto, arestas e cantos podem causar cortes, contusões ou escoriações, por isso deve-se procurar eliminar tais riscos empregando bordas arredondadas e cantos com o maior raio possível38.

Além das medidas corretas deve-se observar a textura entre a empunhadura e a superfície da mão do usuário. A textura permite um aumento na fricção entre a mão e equipamento, entretanto, em alguns casos a textura possibilita o acúmulo de sujeira, comprometendo o nível de higienização da atividade24.

A superfície e textura de um cabo de ferramenta afeta diretamente a transferência de força do trabalhador para a ferramenta. Um cabo deve permitir isolamento de calor, absorção de choque e distribuição da pressão e deve promover alguma fricção para fácil pega da ferramenta. A recomendação geral sugere que uma superfície adequada deve ser ligeiramente compressível, não condutiva e livre de saliências42.

Exposição crônica a ferramentas elétricas manuais com componentes vibrando em baixa frequência podem causar constrição do fluxo sanguíneo ou danificar a artéria digital dos dedos e da mão. Para reduzir os efeitos da vibração, as ferramentas manuais devem ser preenchidas ou cobertas por borracha, possuir componentes de vibração atenuada e ter sua exposição monitorada43.

Indivíduos apresentam precisão, velocidade e desempenho muscular elevados quando realizam tarefas utilizando a mão dominante, deve-se considerar que os canhotos constituem cerca de 10% da população6. Portanto, para o desenvolvimento de empunhaduras deve-se considerar o uso tanto com a mão direita quanto à esquerda, dando preferência a formas que permitam ambos os usos, de lados simétricos.

O centro de gravidade da ferramenta deve situar-se o mais próximo possível do centro da mão. Isso, além de permitir um melhor controle motor, reduz os momentos (no sentido da Física), e conseqüentemente, os esforços musculares e os gastos energéticos durante a sua operação6.

Em geral, ferramentas devem pesar o mínimo possível. Particularmente para tarefas de precisão, uma ferramenta mais leve vai requerer menos força para suportar que uma ferramenta pesada. Diretrizes afirmam que o peso de uma ferramenta não deve ser maior que 2,3 kg se a ferramenta for suportada pela mão ou for operada com distância do corpo, há ferramentas de precisão não devem pesar mais de 400 gramas42.

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O comprimento suficiente de uma ferramenta é necessária para distribuir a pressão das forças uniformemente em toda a mão e para evitar a pressão direta sobre o nervo mediano na palma da mão ou na base do polegar . Um cabo da ferramenta deve ser longo o suficiente para estender proximo à eminência tenar e permitir a liberdade de movimentos no punho9.

Um ferramenta curta pode lesionar não só a superfície dos nervos medial e ulnar, mas também a bainha tendínea, causando dedo em gatilho e neurite digital9.

Schoenardie44, ao pesquisar chaves de fenda concluiu que as características dessas ferramentas quanto à pega, empunhadura, manejo, acabamento e materiais devem ser definidos na concepção do projeto, levando em conta diferentes requisitos.

Teixeira et al.45 estudaram a Ergonomia no uso de estiletes em gráficas rápidas. O estudo utilizou o protocolo Rula para avaliar a postura durante o refile de cartões de visita. Segundo os autores, embora de forma geral os trabalhadores estejam satisfeitos com as ferramentas que utilizam, a atividade necessita de intervenções ergonômicas, pois oferece risco aos trabalhadores, sobretudo devido a altura da bancada de trabalho e posturas adotadas.

Garcia46 avaliou a ergonomia e usabilidade das facas utilizadas para o desconche de mexilhões em uma empresa de pescados, a fim de identificar características de design que necessitam de modificações e apresentou um protótipo funcional da ferramenta para testes de usabilidade (eficiência, eficácia e satisfação) sob condições reais de uso.

Em um estudo sobre martelos, Guilhon, David e Diniz47 descrevem a aplicação de princípios ergonômicos para a redução do esforço realizado pelo usuário no ato da quebra do caranguejo para a degustação da carne, e ainda a inclusão de maior nível de precisão de movimento. Albano et al30 avaliaram tatilmente quatro facas com cabos fabricados com diferentes tipos de materiais, os funcionários da cozinha do Restaurante Universitário da UFRGS avaliavam o conforto, a dureza, textura, maciez e firmeza. O resultado apontou que as facas de cabo emborrachado geraram maior conforto aos usuários.

Sala40 estudou o descascamento de raízes de mandioca, identificando os requisitos ergonômicos desejáveis para um projeto de ferramenta manual destinada à tarefa de descascamento de raízes de mandioca. A autora concluiu que a ferramenta de uso habitual possui características pouco desejáveis por não serem ergonômicas, seguras e nem higiênicas, além da área de circunferência, formato da pega, cantos agudos, área estreita na parte de cima da lâmina, área cortante próxima aos dedos, formato de pega que não acompanha as curvas das mãos. Além disso, ela apresentou na pesquisa uma proposta de ferramenta adequadamente ergonômica para a atividade.

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Fatores de estresse associados com operação de ferramentas manuais incluem posturas desajeitadas, esforços vigorosos, movimentos repetitivos, stress de contato e vibração. O objetivo quando se seleciona, instala e utiliza ferramentas manuais é minimizar a exposição do operador a qualquer fator de estresse físico26.

O design e material do cabo das facas de corte do frango foi o objeto de estudo de Tomazzoni48, que avaliou os efeitos na musculatura cervical através de eletromiografia sensitiva. A autora concluiu que o cabo emborrachado produziu menor impacto em musculatura cervical que o cabo de polipropileno, sendo uma alternativa melhor para a atividade.

6. Conclusão

A revisão da literatura permitiu concluir que o design inapropriado de ferramentas manuais é um dos grandes causadores de patologias ocupacionais de punho e mão, por isso, a abordagem ergonômica no momento do design da ferramenta é crucial para proporcionar conforto, segurança e usabilidade ao usuário.

Devem ser observadas variáveis como o peso, formato, tamanho, textura e diâmetro da empunhadura, capacidade de absorção de vibração e choque, facilidade de adaptação e utilização da ferramenta, além de medidas antropométricas da população. A maioria das ferramentas manuais e elétricas disponíveis no mercado é fabricada nos Estados Unidos e Europa, logo são levadas em conta no momento do design destas ferramentas as medidas antropométricas desta população que muito diferencia das medidas da população brasileira. Para que o ergodesign de ferramentas manuais seja efetivo, é importante que haja uma relação de base de medidas antropométricas brasileiras a serem consideradas juntamente com os demais parâmetros no momento da produção dessas ferramentas.

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Referências

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