• Nenhum resultado encontrado

PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS COMO ALTERNATIVAS AO MODELO HEGEMÔNICO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS COMO ALTERNATIVAS AO MODELO HEGEMÔNICO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS COMO ALTERNATIVAS AO MODELO HEGEMÔNICO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA

José Deomar de Souza Barros1 Maria de Fátima Pereira da Silva2

RESUMO - O presente trabalho consiste num estudo sobre algumas práticas ecológicas de

produção agrícola, pretende-se mostrar que estas práticas são alternativas viáveis para substituir progressivamente o modelo convencional baseado na revolução verde que tem se mostrado inadequado devido os inúmeros desequilíbrios ambiental provocado nos ecossistemas. Neste sentido, a utilização inadequada dos recursos naturais é um dos principais motivos da degradação ambiental, provocando assim desequilíbrios nos componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas. Diante desses efeitos negativos ocasionados pelo mau uso dos recursos naturais, surge a necessidade de reflexões concernentes à ética ecologica e sociocultural, nos levando a repensar os mecanismos de desenvolvimento rural, na ótica de uma sustentabilidade ambiental. Assim, as práticas agroecológicas de produção socialmente justa e adaptável, são propostas desafiadoras para produção de alimentos em harmonia agrícola caracterizam-se por serem ecologicamente correta, economicamente viável, do homem com o meio ambiente.

Palavras-chave: práticas ecológicas; modelo convencional; sustentabilidade ambiental. SUSTAINABLE AGRICULTURAL PRACTICES AS ALTERNATIVES TO THE

HEGEMONIC MODEL OF AGRICULTURAL PRODUCTION

ABSTRACT - This paper is a study on some ecological farming practices, we shall show that

these practices are viable alternatives to gradually replace the conventional model based on the green revolution that has proven inadequate because of the numerous environmental imbalance caused in ecosystems. In this sense, the misuse of natural resources is one of the main reasons for environmental degradation, thus causing imbalances in biotic and abiotic components of ecosystems. Given these negative effects caused by the misuse of natural resources comes the need for reflection concerning the ethical and socio-cultural ecology, leading us to rethink the mechanisms for rural development from the viewpoint of environmental sustainability. Thus the agro-ecological farming practices are characterized by being environmentally friendly, economically viable, socially just and adaptable. Proposals are challenging to produce food of man in harmony with the environment.

1 Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; Universidade Federal de Campina

Grande - UFCG. Especialista em Agroecologia; Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Especialista em Ensino de Química; Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestrando em Recursos Naturais; Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. E-mail: deomarbarros@gmail.com

2 Licenciada em Letras com Habilitação em Língua Inglesa e Vernácula; Universidade Federal de Campina

Grande - UFCG. Pós-graduanda em Gestão Publica Municipal; Universidade Federal da Paraíba - UFPB. E-mail: maryfatimapereira@gmail.com

(2)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

Key-words: ecological practices; conventional model; environmental sustainability.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tem sido desenvolvida e incentivada uma agricultura com base na conhecida “Revolução Verde”, concretizada pelas práticas da mecanização, irrigação e fertilização do solo, bem como o uso de agroquímicos no combate de pragas e doenças, intensificando assim a produção de alimentos (NEVES, et al., 2004).

A busca constante pelo aumento da produtividade e maximização de lucros tem sido a tônica na agricultura moderna de cunho convencional, ou seja, fundamentada nos preceitos da revolução verde que incentivou a utilização de agentes químicos nas plantas e no solo, reduziu consideravelmente a prática da agricultura orgânica, muito utilizada antes da década de 1950, esta fundamentou-se em termos genéricos, na idéia de que as plantas e o solo precisam se alimentar para assim produzirem em maior quantidade. Storch et al. (2003) citando Miyasaka e Nakamura (1989), destaca que o processo de tecnificação e industrialização da agricultura tiveram como ponto determinante o século XVIII, a partir da Revolução Industrial, relata que esta agricultura tem provocado impactos significativos nos setores ambientais, sociais e econômicos. Assis et al (1995) citando Hodges (1981) deixa explicito que parte dos problemas ligados à agricultura convencional resultou do próprio sistema de produção, mas outros são causados pela interação entre agricultura e os fatores políticos, econômicos, sociais e culturais.

Se, por um lado, houve ampliação da produção e desenvolvimento industrial de tratores, de fertilizantes, herbicidas e pesticidas em geral, por outro lado, houve aumento do desemprego do êxodo rural e da concentração de renda. Os reflexos dessa degradação vêm sendo notados no decorrer do tempo (EHLERS, 1999).

Os problemas advindos dos processos industriais da agricultura têm provocado o advento de diversos sistemas de exploração agrícola que não recorrem aos defensivos modernos. Segundo Jesus (1996) a agricultura orgânica surge como alternativa e resposta à agricultura de base urbana industrial, visto que esta proporciona a viabilidade da agricultura familiar, associando os aspectos do bem-estar social, a segurança alimentar e o desenvolvimento dos mercados locais.

A partir dos anos 80, surgem um grande número de Organizações não Governamentais (ONGs), preocupadas com as questões ambientais, tais como: o efeito estufa, a preservação de ecossistemas, a poluição dos mares e rios e o uso indiscriminado dos produtos químicos e também a geração de lixos domésticos e industriais. Estas passaram a atuar no desenvolvimento rural, tendo início os constantes movimentos de contestação da agricultura convencional. Produtores e consumidores têm se preocupado com a qualidade dos alimentos produzidos e consumidos, procurando desenvolver práticas mais limpas de produção e procurando alimentos mais saudáveis, gerando benefícios ambientais em termos de sustentabilidade. É mais do que um sistema de produção que exclui o emprego de fertilizantes químicos de alta solubilidade, agroquímicos e outros produtos obtidos por síntese, esta produção proporciona a sustentabilidade ambiental e social, práticas que maximizem o bem estar social e que busquem o equilíbrio a longo prazo.

(3)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

Nesse contexto, a produção de alimentos saudáveis, que utilizam tecnologia limpa como a agricultura orgânica, conquistou forte impulso em todos os continentes e movimentou o mercado internacional.

Nota-se, atualmente, que a população mundial vem construindo gradativamente uma consciência ecológica diante da fragilidade do modelo vigente, evidenciando assim, a necessidade da implantação de um desenvolvimento sustentável, que seja capaz de considerar como um todo os fatores econômicos, sociais, ecológicos (BRANDENBURG, 2005; DULLEY e MACHADO, 2009; GIORDANO, 1995).

Diante de todos os avanços concebidos pelo modelo convencional e das agressões provocadas na natureza que colocam em risco a sobrevivência dos seres vivos, os produtores dispõem de alternativas sustentáveis, com baixo investimento, as tendências baseadas na agricultura alternativa ganham força nesse novo modo de pensar e agir (ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007).

Modelo Convencional de produção agrícola

A agricultura baseada na ideologia da revolução verde procura contribuir com o aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo, caracterizando-se pela descoberta e aplicação de técnicas agropecuárias ou tratos modernos e eficientes no aumento da produção agrícola a curto prazo. A escolha de espécies estratégicas, a mecanização no campo, a aplicação de agroquímicos, combinado com avanços industriais abalizados em fontes de energia não renováveis, caracterizando-se pela geração de resíduos poluidores e subprodutos do consumismo, causando a extinção de espécies (ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007). Essa tendência agrícola apresenta uma visão de artificializarão do meio ambiente, controlando todos os fatores que influem na produção e na produtividade. Tem por objetivo a produção em massa, reproduzindo os modelos laboratoriais (BALSAN, 2006). Essa modernização consiste simplesmente na mecanização e aplicação de produtos químicos sintéticos na agricultura, fazendo com que os pequenos produtores aceitem sem questionamentos essa tecnologia (HOBBELINK, 1990).

“É o período marcado por geração de conhecimento tecnológico destinados à agropecuária do mundo inteiro e sistematizado em pacotes tecnológicos abrangendo a área da química, da mecânica e da biologia” (BELATO, 1993, apud ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007 p. 12).

Segundo Zamberlam e Froncheti (2007), o programa da revolução verde teve duas fases: a pioneira, de 1943 a 1965 com a grande expansão, de 1965 em diante. A primeira teve um caráter pioneiro e experimental, os projetos-piloto forma no México, nas Filipinas e no Brasil, além dos Estados Unidos, resultando em pacotes tecnológicos. Na segunda fase, com o objetivo de difundir os pacotes tecnológicos, ocorreu uma intervenção controlada no processo de produção agrícola, seja no controle dos insumos básicos de produção (sementes, equipamentos, adubos químicos e defensivos), na orientação técnica impostas aos agricultores e o credito direcionado.

A tecnologia para o setor agropecuário passou a ser dominada pelo saber, pela verdade, produtos da ciência desenvolvidos em laboratórios, manipulados por especialistas, cabendo ao produtor apenas executar as práticas originadas nesse universo, da maneira mais rigorosa possível (FASE, 1988). Assim,

[...]a raiz conceitual desse processo é a visão de uma necessária e crescente artificialização do meio ambiente, de modo a controlar todos os fatores que influem na produção. Assim, o objetivo básico do processo é a produção em escala, que reproduza os modelos de laboratório, controlando-se a matriz genética das plantas,

(4)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

o fornecimento de nutrientes, da água, de luz, de temperatura, as espécies correntes das pragas e das doenças (FASE, 1988, p. 9).

Contrario ao pensamento de sustentabilidade, a agricultura convencional vem provocando diversos desequilíbrios na natureza, como pode ser constatado no pensamento de Capra (1982, p.21-22),

[...] além da poluição atmosférica, nossa saúde está ameaçada pela água e pelos alimentos, uma e outros contaminados por uma grande variedade de produtos químicos. Conforme o meio ambiente é atingido pelos resíduos químicos jogados em diversas atividades, sejam elas na produção, industrialização, no comércio, nas rotinas domésticas e diárias, aumentam os problemas de saúde dos indivíduos. Com os avanços do processo de modernização da economia, ocorreu à industrialização da agricultura, isto é: a agricultura, enquanto setor produtivo se tornou uma atividade empresarial crescente, se transformou num mercado de máquinas e insumos modernos produzidos pela indústria (BRUM, 1988). Neste sentido,

Há uma tendência do grande capital de ver a terra não como um fator de produção, mas como suporte físico de intervenção artificializadas. Esse mesmo suporte é visto como problema, exatamente por não ser morto, asséptico, inerte e substituível por estruturas físicas à base de plásticos, resinas ou outro material do mesmo tipo (FASE, 1988, p. 9).

A tendência agrícola mais moderna é o modelo tecnológico baseado na biotecnologia e na engenharia genética, representando as maiores esperanças da sociedade e os mais confusos temores e desentendimentos, esses receios estão relacionados a preocupação com os organismos modificados geneticamente. Visto que, novas toxinas podem ser incorporadas aos alimentos, diminuindo a sua qualidade nutricional, genes resistentes podem atenuar o efeito de alguns antibióticos em humanos e animais, entre outros fatores negativos (ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007).

A agricultura brasileira partiu de um modelo tradicional passando por um modelo extensivo e posteriormente pelo modelo intensivo da chamada modernização dolorosa, caracterizando-se pela adoção de tecnologias produzidas pela indústria química, mecânica e biológica. Hoje, esse modelo intensivo avança para a biotecnologia, centrado em laboratórios que manipulam os transgênicos. Essas mudanças permitem a ampliação das discussões dando aos agricultores, consumidores e pesquisadores a oportunidade de buscarem alternativas sustentáveis como é o caso da agricultura orgânico/ecológica, lançando novos caminhos para a produção agrícola com a mínima intervenção na natureza. (ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007).

Segundo Zamberlam e Froncheti (2007) A seleção de espécies, a mecanização, a quimificação na agricultura, conjugadas com o avanço industrial baseado em fontes de energia poluentes, além dos subprodutos do consumismo desenfreado da humanidade detentora de riquezas, têm provocado a extinção crescente de espécies de animais e vegetais do planeta. Os avanços da agricultura convencional dentro do modelo da Revolução Verde trouxeram profundas seqüelas, como:

• Alto custo social, econômico e ambiental;

• Efeitos nocivos sobre a população por contaminação e envenenamento do solo, ar e água;

• Destruição do equilíbrio natural dos ecossistemas por erosão e morte dos solos e o desaparecimento dos inimigos naturais das pragas;

(5)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

• Eliminação, inibição ou redução sensível da flora microbiana do solo;

• Maior dependência e custos de produção pela perda de fertilidade do solo, da biodiversidade e pelo aumento da resistência das pragas, trazem consigo aumentos crescentes nas doses de fertilizantes, de pesticidas e grau de toxidade. Deste modo, isso ocasiona absorção desequilibrada de nutrientes, produzindo alimentos desnaturados;

• Queda de exportações; • Concentração de renda;

• Deterioração das condições sociais e de trabalho.

Transição de um Modelo Mecanicista para o Modelo de Produção Agrícola Sustentável

A transformação nas bases da agricultura, de um modelo mecanicista para o modelo sustentável, passa pela transformação da sociedade, assim não é uma simples substituição de agroquímicos por insumos ecológicos, essas mudanças precisam acontecer especialmente pelo fortalecimento da agricultura e implementação de políticas públicas voltadas para o fortalecimento dessa agricultura (MOREIRA e CARMO, 2004).

A humanidade nos últimos anos tem passado por uma crise de ecologia global, uma das causas desta crise é a agricultura industrializada que usa de forma insustentável os recursos naturais manejo industrializado dos recursos naturais que rompe as taxas de re-acomodação e reposição dos resíduos, produzindo um crescente incremento de entropia (GUZMÁN CASADO et al., 2000). Esse modelo de produção baseado no pensamento cientifico convencional, elegeu como progresso para o meio rural a homogeneização social e cultural, causando com isso, degradação do conhecimento popular local. Diante desse fato os camponeses reagiram de diferentes formas a essa tentativa de erosão da cultura, baseada pela lógica de mercado. A agricultura mecanizada foi substituindo as formas artesanais de cultivo e produção agrícola, vinculada à cultura de cada sociedade. As sociedades atingidas desenvolveram diferentes meios de resistência a esse processo de homogenização cultural, assim nasciam formas resistentes contra as agressões socioculturais, ou seja, respostas endógenas surgidas a partir da cultura de cada localidade.

Na década de 70 essa preocupação expandiu-se por países como Canadá, Japão, Nova Zelândia, Áustria e também no Brasil. Dentre os principais momentos no qual a preocupação ambiental esteve em evidencia, destaca-se: a reunião de Estocomo, em 1972; a criação da Comissão de Brundtland em 1983; o lançamento do relatório “Nosso Futuro Comum”, em 1987 e a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD – Rio 92. As alternativas agrícolas sustentáveis consolidaram a partir dessas conferências, que iniciou e difundiu os alicerces do desenvolvimento sustentável (CAVALCANTI, 1995).

Neste sentido, a Agroecologia oferece uma reflexão relevante para essa mudança de paradigma, pois compreende os sistemas produtivos como unidade, onde os ciclos minerais, as transformações energéticas, os processos biológicos e as relações socioeconômicas são investigados e analisados como um todo (ALTIERI, 2001). É a cultura desenvolvida a partir da visão do ecossistema (casa) em que se vive e se gera práticas agrícolas, não recebendo imposições (ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007). Esta Ciência apresenta uma série de princípios e metodologias que possibilita estudar, analisar e avaliar agroecossistemas, tendo como objetivo alcançar a sustentabilidade no meio rural. (CAPORAL e COSTABEBER, 2001). Através da conservação dos recursos naturais e da produtividade agrícola, causando o menor impacto possível ao meio ambiente, zoneamento agroecológico com o intuito de selecionar as potencialidades dos agroecossistemas, reduzir os insumos agrícolas externos e

(6)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

não renováveis, satisfazer as necessidades das gerações atuais e futuras (PEREIRA et al., 2006).

A Agroecologia não esta voltada apenas ao manejo dos recursos naturais, tem se constituído uma estratégia relevante para avaliação dos impactos sócio-ambientais e para instalação de programas sustentáveis no meio rural. Esta ciência possui uma série de princípios científicos e não é uma prática ou um sistema de produção. Com isso, a agricultura orgânica, biodinâmica, entre outras são conjuntos de práticas e tecnologias que possibilitam o emprego de alguns insumos e essas práticas apresentam necessariamente princípios agroecológicos (ALTIERI, 1995). A Agroecologia é uma ciência interdisplinar, agrupando os avanços científicos de diversos campos do conhecimento (GUZMÁN CASADO et al., 2000). Deste modo, esta ciência é definida como a aplicação dos princípios e conceitos da Ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis (GLIESSMAN, 2000). De acordo com Altieri (1989), a Agroecologia possibilita o estudo das atividades do meio agrícola sob um aspecto ecológico.

Como ferramenta do desenvolvimento sustentável a Agroecologia, constrói suas bases a partir das experiências da agricultura de cunho ecológico, na preparação de propostas coletivas capazes de enfrentar a lógica do atual modelo de produção agrícola, com o objetivo de substituí-lo por outro, comprometido com a sustentabilidade econômica, social e ambiental (LEFF, 2002).

Agricultura Orgânica

Em respostas as grandes transformações que ocorriam no mundo eclodiram diversas correntes ligadas a agricultura que sugeriam formas sustentáveis de produção agrícola, inicialmente a agricultura biodinâmica, na Alemanha e Áustria, na década de 1920. Na década posterior, a agricultura natural no Japão e a agricultura organo-biológica na suíça e Áustria, já nos anos de 1930 a 1940 surgiu a agricultura orgânica na Grã Bretanha e nos Estados Unidos (DAROLT, 2002). Segundo Freitas (2002) apud Mazzoleni e Nogueira (2006) essas quatros principais correntes da agricultura sustentável não parece se contradizer.

A Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica – IFOAM – afirma que o sistema orgânico é praticado em mais de cem países. Na União Européia, cerca de 80 mil propriedades são orgânicas, abrangendo uma área próxima a 2 milhões de hectares, o que perfaz 1,1% do total das propriedades e 1,4% da área agrícola cultivada. Nos EUA, aproximadamente 1% do mercado americano de alimentos é orgânico, o que movimentou em 1996 algo em torno de U$ 3,5 bilhões. Na América do Sul, o maior produtor é a Argentina; no Brasil estima-se que estejam sendo cultivados 100 mil hectares, em cerca de 5 mil unidades produtivas (DAROLT, 2001).

Segundo Silva at al (2005), em termos de consumo, a Europa é o maior mercado consumidor mundial, com movimento anual de US$ 6,2 bilhões, e é seguida pelos Estados Unidos (US$4,2 bilhões), superando os números de 1996 e pelo Japão (US$ 1,2 bilhões).

Em termos de mercado, 85% da produção orgânica brasileira é destinada ao mercado de exportação, principalmente para a Europa, Estados Unidos e Japão, ficando apenas 15% para o mercado interno. (DAROLT, 2002, p.47).

O agronegócio dos produtos orgânicos está em fase introdutória no Brasil, pois a sua produção se iniciou por volta de 1980. O potencial brasileiro para a agricultura orgânica são os agricultores familiares excluídos da agricultura química, essa modalidade pode contemplar, no mínimo, 70% dos agricultores brasileiros, aqueles que não possuem nenhuma força mecânica para realizarem suas atividades (FAO/INCRA, 2000).

(7)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

Segundo Pires et. al. (2002), a agricultura orgânica caracteriza-se pela restauração da fertilidade do solo por processos biológicos, eliminação de pragas e doenças pela fertilidade do solo, interação entre produção animal e vegetal.

Agricultura orgânica diferencia-se da agricultura convencional por ser socialmente justa, ecologicamente correta, e viável economicamente, procura promover a saúde dos seres humanos e o equilíbrio ambiental, preservar a biodiversidade, os ciclos e as atividades biológicas do solo. Enfatizando o uso de práticas de manejo excluindo a adoção de agroquímicos assim como outros materiais que realizam no solo funções estranhas às desempenhadas pelo ecossistema, procurando utilizar os recursos locais, obtendo assim a máxima reciclagem dos nutrientes.

A agricultura orgânica é um sistema não convencional de produção agrícola, de cultivo da terra, baseado em princípios agroecológicos, envolvendo a gestão dos recursos naturais, a conservação dos agroecossistemas, a produção agrícola, a comercialização dos produtos orgânicos, o processamento dos mesmos e os direitos sociais e econômicos dos produtores rurais. Assim sendo, comprometida com a saúde, a ética, a cidadania e a autonomia do ser humano, contribui com a preservação da vida humana e da natureza e procura utilizar formas sustentáveis e racionais que possam promover a sustentabilidade dos recursos naturais, utiliza técnicas tradicionais e modernas de produção ecológica (PENTEADO, 2003).

Esse modelo de produção é resultado de movimentos onde várias correntes estabeleceram formas diferentes de manejo do sistema solo/planta e das criações de animais. Na década de setenta foi sentida a necessidade de um fórum que se ocupasse da tarefa de harmonizar conceitos, estabelecer padrões básicos, resguardando a diversidade do movimento. Assim surgiu em 1972 a Federação Internacional do Movimento da Agricultura Orgânica (International Federation of the Organic Agriculture Movement, IFOAM) uma organização não governamental que hoje abriga 770 organizações, incluindo certificadoras, processadores, distribuidores e pesquisadores de 107 países.

“A agricultura orgânica faz parte de um movimento amplo de contestação e proposição a atual agricultura convencional, sendo um conjunto de movimentos alternativos” (JESUS, 1996 apud STORCH, 2003, p. 71).

Segundo Pires at. al (2002), a agricultura orgânica caracteriza-se pela restauração da fertilidade do solo por processos biológicos, eliminação de pragas e doenças, interação entre produção animal e vegetal. Conforme os autores supracitados a produção orgânica busca ofertar produtos saudáveis e de elevado valor nutritivo, isentos de qualquer tipo de contaminastes que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente. Fomenta a integração efetiva entre agricultor e consumidor final de produtos orgânicos e o incentivo à regionalização da sua produção para os mercados locais. É um sistema de produção que exclui o emprego de fertilizantes químicos de alta solubilidade, agroquímicos e outros produtos obtidos por síntese em seus mais diversos aspectos.

Ao contrário do que afirmam seus opositores, não é uma simples volta ao passado, mas as experiências daqueles que trabalham em ecossistemas tratando o solo como um elemento vital e não apenas como substrato, unida a conhecimentos científicos agronômicos e sociais.

A agricultura sustentável é o sistema de produção agrícola que atende à crescente demanda durante um futuro indefinido a custos econômicos, ambientais e sociais consistentes com o aumento da renda per capita. (PLUCKNETT e WINKELMANN, 1995).

Além da preservação do meio ambiente e da saúde humana, a agricultura orgânica pode contribuir no aumento da renda do produto pelo sistema de produção e pelo valor agregado das mercadorias, como o da segurança alimentar, e na geração de novos empregos

(8)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

(CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA COMÉRCIO DE

DESENVOLVIMENTO, 1966 apud PENTEADO, 2003).

Em virtude dessas questões a produção e o consumo dos produtos derivados da agricultura orgânica vêm aumentando nos últimos anos, inserindo-se na modalidade da agricultura familiar, e muitos fatores contribuem para o crescimento e aprimoramento da agricultura orgânica dentre eles pode-se citar a consolidação recente de políticas públicas voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar (AGUIAR, 1986)

De acordo com Junqueira e Luengo (2000), a produção e o consumo de produtos derivados da agricultura orgânica têm se caracterizado por ser uma parte diferenciada de mercado, no qual a segurança alimentar, a saúde familiar, a não utilização de agrotóxicos pelos produtores e a valorização do meio ambiente tem sido determinante na procura desses produtos por parte dos consumidores.

Isso é evidenciado na própria definição do termo orgânico, pois sinaliza que o produto é diferenciado, os bens são produzidos de acordo com as normas da produção orgânica, e são certificados por uma estrutura ou autoridade de certificação devidamente constituída (BORGUINI; MATTOS, 2002, apud SILVA et al 2005), e em sua produção se visa a não utilização de insumos e fertilizantes minerais solúveis. Visto que, os produtos orgânicos têm como uma das suas maiores propostas contribuir para o desenvolvimento sustentável, ou seja, conciliar o crescimento econômico com a preservação dos recursos naturais.

O aumento do consumo de produtos orgânicos no mercado interno segundo as principais certificadoras, no ano 2000 ficou na ordem de 50%, para um volume de 200 milhões de reais por ano; apesar de todo este desempenho, os hortifrutigrangeiros não exercem significativa participação neste mercado, sendo que as culturas de maior expressão são aquelas de exportação, e o café um exemplo típico desse fenômeno. Já, na União Européia, as taxas de crescimento são de 40 a 50% ao ano, pois o crescimento do consumo é atribuído a maior preocupação com a saúde familiar e também com o meio ambiente. O consumo de produtos da agricultura orgânica tem se caracterizado como um segmento diferenciado de mercado, no qual a segurança alimentar, aliado ao não uso de agrotóxicos é decisiva na opção de consumo (STORCH et al., 2003).

Visto que, na maioria dos países em desenvolvimento, a produção de alimentos é caracterizada por uma elevada participação de pequenos agricultores, proprietários ou arrendatários. Uma estratégia para a pequena produção agrícola que envolva técnicas ambientalmente positivas é pertinente com o contexto dos países em desenvolvimento. Proporciona o desenvolvimento regional, promovendo os sistemas locais do mercado de alimentos, não somente para acomodar as diferenças existentes na extensão das propriedades e na escala de produção, mas também por interferir em questões importantes, como o decréscimo da quantidade de propriedades agrícolas, a redução da oferta de emprego, o aumento da pobreza rural e da insegurança na qualidade da produção e na distribuição de alimentos (WAI & PANYAKUL 1998 apud PIRES et al 2002, p. 151).

“Entretanto, a agricultura orgânica, quando comparada com a agricultura convencional, representa apenas 1% de toda a agricultura mundial, fator que revela o espaço que existe para o desenvolvimento deste tipo de agricultura” (DAROLT, 2002, p.45).

Para se produzir produtos orgânicos, devem-se seguir as exigências da Instrução Normativa, n.7, que traz recomendações para a produção de produtos orgânicos vegetais e animais. Suas diretrizes, de modo geral dizem, segundo DAROLT (2002): à oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminação que ponha em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente; à preservação e a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, natural ou em transformação, em que se insere o sistema produtivo; à conservação das condições físicas, químicas e biológicas do

(9)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

solo, da água e do ar; e ao fomento da integração efetiva entre agricultor e consumidor final de produtos orgânicos, e ao incentivo à regionalização da produção desses produtos orgânicos para os mercados locais.

Existem muitos inibidores em relação ao aumento do consumo desses produtos, dentre eles pode-se citar: preço alto, pouca variedade e a falta de informação do consumidor, dessa forma, o consumo deve ser fomentado com estratégias que vise o maior conhecimento e estímulo pela sua compra. “[...] há indícios de que campanhas publicitárias divulgando os diversos aspectos da agricultura orgânica poderiam proporcionar incentivos adicionais ao consumo desses produtos” (BORGUINI e MATTOS 2002, apud SILVA et al 2005, p. 101).

“A conscientização da população a cerca dos malefícios à saúde causados pelo uso de agrotóxicos, difundida através dos meios de comunicação, tem colaborado para a difusão de prática agrícola conhecida como orgânica.” (MACHADO e CORAZZA, 2004, P.22)

Caracteriza-se como sistema de produção orgânica, a adoção de meios que otimizem o uso dos recursos naturais, sociais e econômicos, respeitando a diversidade cultural, proporcionando a auto-sustentação e a elevação dos benefícios sociais e a minimização da dependência das fontes de energias não-renováveis e a não utilização de agroquímicos e de organismos modificados geneticamente. Prioriza a conservação do meio ambiente e da saúde humana, assegurando transparência no processo de produção e de transformação (BRASIL, 1999).

O sistema de produção orgânica dispensa o uso de insumos sintéticos, adota prática de rotação de cultivos, reciclagem de resíduos orgânicos, adubos verdes, rochas minerais, manejo, controle biológico, além disso, procura manter a fertilidade do solo para atender as exigências nutricionais das plantas. É um sistema preocupado em produzir uma alimentação saudável com características e sabor originais, procurando atender as expectativas do consumidor, assim busca a qualidade de vida, evitando danos a saúde do produtor e do consumidor orgânico e do meio ambiente (PENTEADO, 2003).

Segundo Altieri (2001) os agricultores que adotam o cultivo orgânico procuram trabalhar com sistemas agrícolas complexos, caracterizado pela interação ecológica e sinergismo entre os componentes biológicos promovendo a fertilidade do solo, a produtividade e a proteção das culturas.

As transformações dos processos produtivos na agricultura têm passado por um processo desafiador na melhoria da produtividade e lucratividade da produção orgânica (FREITAS, 2002 apud MAZZOLENI, 2006).

A transição do cultivo convencional para o cultivo orgânico têm se dado paralelo à agricultura moderna, não provocando um abandono definitivo desse último modelo (BEZERRA e VEIGA, 2000).

A produção orgânica encontra-se ligada diretamente ao mercado justo, proporcionando a distribuição de renda e ganhos reais desde a produção até a comercialização. O comércio justo caracteriza-se por benefícios recíprocos e respeito mútuo. (GARCIA, 2000)

A análise do perfil dos produtores orgânicos revela que os pequenos produtores familiares ligados às associações e aos grupos de movimentos sociais totalizam 90% dos produtores, sendo que apenas 10% dos produtores estão ligados a empresas privadas (DAROLT, 2002).

A expansão do comércio e consumo de produtos da agricultura orgânica tem limitações, tanto em nível de cultivo como de canais de comercialização. Os aspectos de baixa qualidade visual, preços sobre valorizados em relação aos convencionais, aliado ao fato da irregularidade de sua oferta, são grandes empecilhos a este segmento de mercado (JUNQUEIRA & LUENGO, 2000).

(10)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

Para uma melhor valorização do seu produto faz-se necessário que os produtores da agricultura orgânica busquem a formalização de um sistema de certificação para a obtenção de um rótulo para o produto orgânico. O agricultor que possuir as condições de produção ao longo do ciclo de vida estabelecido por esse sistema de certificação terá acesso a nichos de mercados com mais elevados índices de remuneração de seu produto, sendo associado a um regime de vendas garantidas e à construção de uma imagem de qualidade com relação ao seu cliente.

Para isso faz-se necessário a adoção de Políticas bem planejadas que poderiam induzir o desenvolvimento desses agricultores marginalizados. O agricultor deve ser devidamente capacitado, conhecer os princípios da agricultura orgânica, os objetivos da visão da propriedade como um organismo, a integração da agricultura e da pecuária para fertilização do solo, a importância da biodiversidade, as práticas ecológicas de conservação e todos os outros conhecimentos para cultivar com eficiência técnica e econômica. (MAZZOLENI e NOGUEIRA, 2006).

Dessa forma, deve-se buscar cada vez mais a prática do desenvolvimento sustentável, atendendo as necessidades da geração atual sem prejudicar as gerações futuras e a agricultura orgânica pode ser um caminho a ser percorrido na busca da sobrevivência harmônica do ser humano com o seu planeta (MAZZOLENI e NOGUEIRA, 2006).

Agricultura Biodinâmica

Baseia-se no ciclo de nutrientes, nos minerais lentamente solúveis, na matéria orgânica e na ração produzida preferencialmente na propriedade, na rotação de cultura e controle térmico, no manejo adequado para controle de pragas e doenças, na integração vegetal-animal [...] (CARMO et al., 1989, p. 18).

A mais antiga de todas as correntes alternativas surgiu a partir de 1924 através dos trabalhos Rudolf Steiner, sintetizada no livro, Agricultura: um curso em oito palestras. Procede da abordagem espiritualista antroposófica, segundo esse modelo a agricultura sofre influência dos astros e de forças espirituais interagindo com plantas, animais e os homens. Caracteriza pelos preparados biodinâmicos sugeridos por Steiner, totalizando 9, visando o desenvolvimento de plantas estimulando seu crescimento e produção, manejando o estabelecimento rural como um ser vivo (NEVES, et al., 2004). Segundo Koepf et al. (1983) Esse modelo busca o equilíbrio e a harmonia entre os cinco elementos básicos: a terra, as plantas, os animais, as influências cósmicas e o homem. Prioriza a preservação e a conservação ambiental, para isso procura diversificar e integrar as atividades de produção vegetal, criação de animais e exploração vegetal (PASCHOAL, 1995).

Agricultura regenerativa

O sistema possibilita uma rápida recuperação de áreas degradáveis e de produção agrícola através de: poda intensiva de árvores que acelera a incorporação de biomassa ao solo; intensivo controle de sucessão vegetal; indução ao rejuvenescimento e intenso crescimento e vigor que a poda proporciona [..]” (JESUS, 1996, p. 50).

Liderada por Robert Rodale, é um ramo da agricultura orgânica, além de adotar os princípios dessa modalidade de agricultura destaca a independência do agricultor em relação aos recursos externos, priorizando a utilização dos recursos disponíveis na própria unidade de produção (JESUS, 1996).

(11)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

Agricultura biológica

“Se assenta no tripé fertilização, rotação cultural e trabalho do solo para conseguir alimentos mais completos, nutritivos e biologicamente equilibrados” (AUBERT, 1985, p. 314).

Surgiu na Suíça, na década de 30, foi desenvolvida pelo biologista e homem político Dr. Hans Müler, trabalhou na suíça com a temática da fertilidade do solo e microbiologia, originando assim a agricultura organo-biológica, passando a ser conhecida posteriormente como agricultura biológica, popularizando-se a partir dos trabalhos de Claude Aubert na França, cuja obra principal é L`Agriculture Biologique: porquoi et comment la pratiquer. Este modelo esteve inicialmente preocupado com a autonomia dos produtores e comercialização direta, com forte cunho ecológico. Por algum tempo as idéias de Hans Müler passou despercebida, mas o médico alemão Hans Rushas as retomou e sistematizou, concretizando as mesmas por volta dos anos 60 (PENTEADO, 2003). Prioriza o uso de fontes renováveis de energia e forma de manejos capazes de proporcionar a proteção ambiental. O destaque das práticas agrícolas recaem sobre o manejo, fertilização do solo e rotação de cultura. Seus simpatizantes adotam a incorporação de rochas moídas no solo e, especialmente, adubação orgânica, necessariamente de origem animal, o solo constitui a sede de intensa atividade biológica devendo-se fertiliza-lo com adubos orgânicos e minerais insolúveis estimulando a vida microbiana, excluindo assim qualquer tipo de adubo químico solúvel. Procura-se eliminar a monocultura através da diversificação agropecuária. O controle de praga deve basear-se no controle biológico e a organização familiar deve permanecer a célula-base (EHLERS, 1996).

Agricultura natural

Concentra os esforços produtivos na potencialidade da natureza. Assim utilizando-se corretamente as formas e a energia da natureza, é possível obter-se nas colheitas produtos suficientes sem a necessidade de uso de inseticidas, nem fertilizantes. Baseado no exemplo da natureza se cultiva a terra somente lhe acrescentando ervas e folhas caídas [...] Através da manifestação de forças vitais da natureza, é possível produzir sem o uso de qualquer adubação, ainda que animal. É no potencial da fertilidade da terra que está o cerne da produção natural (CARMO et al. 1989, p. 18). Essa tendência é uma das colunas da religião mesiânica formulada em 1935 por Mokiti Okada, tem como princípio a intervenção mínima do homem nos processos da natureza, potencializando os processos naturais, evitando as perdas energéticas e o respeito às leis impostas pela natureza. As práticas agrícolas mais utilizadas são: rotação de cultura, usos de adubos verdes, compostagem e cobertura morta sobre o solo (EHLERS, 1999). Segundo Neves (2004) a agricultura natural não faz uso de resíduos animal, utiliza produtos especiais destinados a fertilização do solo, esses produtos são chamados microorganismos eficazes (effective micoorganisms-EM) compondo um conjunto de fungos, bactérias e actinomicetos destinados a decomposição da matéria orgânica morta, sendo utilizados na compostagem e como inoculantes para plantas. Essa tendência tem em Masanobu Fukuoka seu principal defensor, em seu livro La revolution d`um seul brin de paille (1983), ele estabeleceu as bases de seu método.

(12)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

Esse termo significa um sistema integrado de espécies vegetais permanentes e animais úteis ao homem. Essa tendência foi implantada nos anos 70 por dois australianos: Davis Holmgren e Bill Mollison caracterizam-se por buscar a sustentabilidade e ligações entre os elementos, fazendo uso de métodos ecológicos e viáveis economicamente. Atendendo as necessidades básicas dos seres humanos com intervenção mínima no meio ambiente, assim, essa tendência trata os vegetais, animais, as construções, a infra-estrutura não como elementos isolados, mas como sendo todos parte de um grande sistema interligado. Todas essas atitudes têm por objetivo minimizar os impactos ambientais, assim, todos os resíduos e dejetos produzidos na unidade serão reutilizados ou tratados antes de serem lançados para fora da propriedade (PENTEADO, 2003).

Constitui uma visão holística da agricultura, com forte carga ética, buscando a integração entre a propriedade e o ecossistema, com um modelo de sucessão de cultivos na intenção de maximizar a produção, conservando os recursos naturais (ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de produzir alimentos para garantir a segurança alimentar da população mundial é um argumento defendido com freqüência para justificar a utilização do modelo convencional de produção agrícola. Sabe-se que este modelo encontra-se em crise, devido aos danos econômicos, sociais e ambientais, mas diante desse fato, faze-se necessário que os produtores adotem práticas menos agressivas a natureza atendendo as demandas por uma alimentação saudável. Para tanto, eles precisam ter acesso a essas tendências alternativas, visando o desenvolvimento de tecnologias local ou regionalmente adequadas, na ótica econômica, social e ambiental, tendo em vista o desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, R. C. Abrindo o Pacote Tecnológico; Estado e pesquisa agropecuária no

Brasil. São Paulo: Polis/CNPq, 1986. 156p.

ALTIERI, M. Agroecologia, a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2001 (Síntese Universitária, 54). ALTIERI, M. Agroecologia – As bases cientificas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro: PRA/FASE, 1989.

ASSIS, R. L. de; AREZZO, D. C.; ALMEIDA, D. L.; DE-PLLI H.. Consumo de Produtos da Agricultura Orgânica no Estado do Rio de Janeiro. Revista de Administração, v. 30, n. 1, p. 84-89, 1995.

AUBERT, C. Agricultura orgânica. Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa. Anais, Rio de Janeiro, 1985, p. 314.

BALSAN, R. Impactos Decorrentes da Modernização da Agricultura Brasileira.

CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

BEZERRA, M. C. L.; VEIGA, J. E. (Coord.). Agricultura Sustentável. Subsídios à

(13)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; e Consorcio Museu Emilio Goeldi, 2000.

BRANDENBURG, A. Ciências Sociais e Ambiente Rural: Principais Temas e Perspectivas Analíticas. Revista Ambiente e Sociedade, v. VIII, n. 1, p. 1-14, jan./jun., 2005.

BRASIL. Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa No 7.

Brasília: Diário Oficial da União, Seção 1. p. 11, 19/05/1999.

BRUM, A. J. Modernização da Agricultura – Trigo e soja. Petrópolis: vozes, 1988.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. AGROECOLOGIA E SUSTENTABILIDADE: Base Conceptual para uma nova Extensão Rural. Butucatu, Julho de 2001. Disponovel em: <

http://www.agroecologia.inf.br/biblioteca/PalestraCaporalCostabeber.pdf > Aceso em:

23/05/2010.

CAPRA, F. O ponto de mutação: a ciência, a sociedades e a cultura emergentes. São Paulo: Cultrix, 1982.

CARMO, M. S. Agricultura alternativa frente à agricultura química – Estrutura de custos e rentabilidade econômica para diversos atividades. Revista Arrozeiras. Porto Alegre, v. 42, n. 384, p. 13-32, mar./abr.,1989.

CAVALCANTI, C. Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, 1995.

DAROLT, M. R. Agricultura Orgânica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002. 250p. DAROLT, M. R. A SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA DE AGRICULTURA

ORGÃNICA: Um Estudo da Região Metropolitana de Curitiba. Publicado em

05/01/2001. Disponível em < http://www.planetaorganico.com.br/trabdarolt2.htm > Acesso em: 25/05/2010.

DULLEY, R. D.; CARMO, M. S. Viabilidade econômica do Sistema de Produção Alternativa. Revista de Economia Rural. Brasília, v. 25, n. 2, p. 225-250, 1987.

EHLERS, E. M. Agricultura sustentável: origens e perspectiva de um novo paradigma. São Paulo: Livros da terra, 1996.

EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectiva de um novo paradigma Guaíba: Agropecuária, 1999.

FAO/INCRA. Novo Retrato da Agricultura Familiar: o Brasil Redescoberto. Brasília, 2000.

FASE. Agricultura alternativa viabilizando a pequena produção. Revista Proposta, n.36, Rio de Janeiro, 1988.

(14)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

GARCIA, I. Produção Orgânica e mercado justo no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de

Agropecuária, ano I, n. 9, p. 42-43, 2000.

GIORDANO, S. R. Agricultura Sustentável: Novos Desafios para o Agribusiness. Revista de

Administração Pública, São Paulo, v. 30, p. 77-82, 1995.

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: Editora da universidade – UFRGS, 2000.

GUZMÁN CASADO, G.; GONZÁLES DE MOLINA, M.; SEVILLA GUZMÁN, E.

Introducción a la agorecologia como deserrollo reral sostentible. Madrid: Mundi-Prensa,

2000.

HOBBELINK, H. Biotecnologia – Muito além da revolução verde. Porto Alegre: AGE, 1990.

JUNQUEIRA, A. H.; LUENGO, R. F. A. Mercados diferenciados de hortaliças. Horticultura

Brasileira, Brasília-DF, v.18, n.2, p. 95-99, julho, 2000.

JESUS, E. L. Da agricultura alternativa à agroecologia: para além das disputas conceituais.

Agricultura sustentável. Jaguariúna, v.1, n. 2, p. 3-27, 1996.

LEFF, E. Agroecologia e saber ambiental. Agroecologia e Desenvolvimento Rural

Sustentável, v.3, n.1, jan / mar, 2002.

MACHADO, A. Q. T A Educação Ambiental Comunitarista e a Agroecologia Intervindo na Agricultura Familiar. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 22, p. 323-336, jan./jul., 2009.

MACHADO, F.; CORAZZA, R. Desafios tecnológicos, organizacionais e financeiros da agricultura orgânica no Brasil. Aportes, revista de la Facultad de Economia, BUAP, ano IX, n. 26, p. 21-40, mai./ago., 2004.

MAZZOLENI, E. M.; NOGUEIRA, J. M. Agricultura orgânica: Características Básicas do seu Produtor. RER, Rio de Janeiro, vol. 44, n. 02, p. 263-293, abr/jun, 2006.

MOREIRA, R. M.; CARMO, M. S. do. Agroecologia na Construção do Desenvolvimento Rural Sustentável. Agric. São Paulo, v.51, n. 2, p. 37-59, jul/dez, 2004.

NEVES, M. C. P. Agricultura Orgânica: uma estratégia para o desenvolvimento de

sistemas agrícolas sustentáveis. Rio de Janeiro: EDUR, 2004.

KOEPF, H. H.; PETERSON, B. D.; SCHAUMANN, W. Agricultura biodinâmica. São Paulo: Nobel, 1983.

PASCHOAL, A. Modelos sustentáveis de agricultura. Agricultura sustentável. Jaguaraúna, v. 2, n. 1, p. 11-16, 1995.

(15)

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551 www. inagrodf.com.br/revista

PEREIRA, L. C.; SILVEIRA, M. A. da; NETO, F. L. N. Agroecologia e Aptidão Agrícola

das Terras: as bases cientificas para uma agricultura sustentável. Jaguariúna: Embrapa Meio

Ambiente, 2006.

PIRES, A. C.; RABELO, R. R.; XAVIER, J. H. V. Uso Potencial da Análise do Ciclo de Vida (ACV) Associada aos Conceitos da Produção Orgânica Aplicados à Agricultura Familiar.

Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.19, n. 2, p.149-178, maio/ago, 2002.

PLUCKNETT, D. L.; WINKELMANN, D.L Technology for Sustainable

Agriculture.Scientific American, Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.19, n. 2, p.149-178, maio/ago. 2002.

SILVA, D. M.; CAMARA, M. R. G. da; DALMAS, J. C. Produtos Orgânicos: barreiras para a disseminação do consumo de produtos orgânicos no varejo de supermercados em Londrina-Pr. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 26, p. 95-104, set. 2005.

STORCH, G.; AZEVEDO, R. de; SILVA, F. F. da; BRIZOLA, R. M. de O.; VAZ, D. da S.; BEZERRA, A. J. A. Caracterização dos Consumidores de Produtos da Agricultura Orgânica na Região de Pelotas – RS. R. bras. Agrociência, v. 9, n. 1, p. 71-74, jan-mar, 2003.

ZAMBERLAM, J.; FRONCHETI, A. AGRICULTURA ECOLÒGICA Preservação do

Referências

Documentos relacionados

Este banho é apenas o banho introdutório para outros banhos ritualísticos, isto é, depois do banho de descarrego, faz-se necessário tomar um outro

Promovido pelo Sindifisco Nacio- nal em parceria com o Mosap (Mo- vimento Nacional de Aposentados e Pensionistas), o Encontro ocorreu no dia 20 de março, data em que também

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa O local escolhido como cenário para a pesquisa foi a Faculdade de Enfermagem Nova Esperança de Mossoró – FACENE/RN

Os elementos caracterizadores da obra são: a presença constante de componentes da tragédia clássica e o fatalismo, onde o destino acompanha todos os momentos das vidas das

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e

computacional FISAT II, calculados a partir da combinação dos parâmetros de mortalidade total (Z) e mortalidade natural (M), para Macrobrachium amazonicum capturados

Portanto, o objetivo central deste estudo é de chamar a atenção para uma reflexão a despeito da utilização de métodos quantitativos (regressão linear) como