A escrita de textos de resultados de pesquisa escolar:
cópias ou registros de compreensão ativa?
Ao tentarem organizar, em um texto escrito, o que aprenderam em pesquisas escolares, muitas vezes os alunos encontram enormes dificuldades, já que, em geral, não são orientados, em geral, sobre o que seja resumir, sintetizar um assunto pesquisado e, ao mesmo tempo, colocar no papel sua posição e o aprendizado resultante da pesquisa. Por conta dessas dificuldades, os textos produzidos a partir de pesquisas, em geral, ficam sendo cópias de trechos dos textos lidos pelos alunos, pedaços de textos copiados e colados uns aos outros sem a
compreensão de que é preciso organizar novamente o pensamento depois que se estuda alguma coisa, para ser possível a escrita de um texto pessoal.
Professores, alunos e pais que já passaram por essa experiência sabem como ela ocorre: se os alunos são pequenos e ainda não sabem usar o computador ou recorrer a uma máquina de xerox, copiam à mão trechos de enciclopédia ou outros livros. Às vezes, outras pessoas que
não os alunos buscam as informações e eles copiam. Quando ficam mais independentes, em vez do procedimento da cópia manuscrita, muitos alunos passam a ir até alguma biblioteca para tirar xerox de páginas de livro e talvez fazer um resumo delas para apresentar ao professor. Já no início da adolescência os alunos muitas vezes recorrem, para fazer um "trabalho de pesquisa", à Internet e procuram as informações que
precisam, recortam, copiam e colam com muito mais facilidade. Afinal, a tecnologia da informação é uma das que avança mais rapidamente e a Internet está aí, oferecendo informações aos montes. Infelizmente, o que se vê, a todo o momento, é que muitas vezes os trabalhos escolares com essas informações não são resultado de pesquisa, mas colagens de informações mal compreendidas, amontoadas em textos que parecem ser colchas de retalhos, cheias de buracos.
Pesquisar de verdade, porém, é muito diferente disso e é muito importante para o desenvolvimento do conhecimento do qual todos precisamos. Isto é, é muito importante, desde que a pesquisa seja feita de acordo com certos princípios, que tenha objetivo e finalidades definidas e não seja uma coleta feita de modo apressado, como cópia mecânica de informações. Para pesquisar, os alunos não podem
somente fazer cópias dos conhecimentos que alguém já construiu, não podem apenas reproduzir, como uma máquina de xérox, o pensamento alheio. Eles têm que ter pensamento autônomo, construir seu próprio conhecimento sobre aquilo que pesquisam e compartilhar esse
conhecimento fazendo uma comunicação, oral ou escrita, dos resultados obtidos. Se eles usarem o pensamento autônomo ao pesquisar e
escrever textos para comunicar os resultados de sua pesquisa,
certamente será possível atribuir uma autoria, a dos próprios alunos, ao texto que escreveram. Respeitadas as condições de produção, o texto resultante será um diálogo seu com os autores que escreveram antes dos alunos sobre o assunto, mas será um texto novo, com autoria marcada, escrito a partir do ponto de vista do aluno sobre o que leu. Então, além das vozes desses autores com os quais o aluno conversou, certamente o leitor também ouvirá o aluno que escreveu, comunicando um
conhecimento construído de modo significativo.
Todas as crianças possuem capacidade de aprender com autonomia. É só observá-las, por exemplo, quando tentam descobrir como funciona
um novo aparelho que desejam utilizar. Nesses momentos as crianças procedem de modo autônomo, desenvolvendo estratégias para obter conhecimento. Por serem atividades organizadas de modo autônomo, podemos afirmar que as crianças, nesses momentos, desenvolvem capacidades que se assemelham, de alguma forma, àquelas usadas por pesquisadores. Essas capacidades foram mobilizadas porque eles tinham um problema real e concreto, desejavam usar o aparelho, precisavam compreender como ele funciona e, para chegar onde queriam,
levantaram várias questões sobre diferentes possibilidades de fazer o aparelho funcionar.
Os alunos, para descobrirem essas respostas, usaram alguns
procedimentos práticos, como ligar e desligar o aparelho várias vezes, por exemplo. Embora os procedimentos que eles fazem (e que nós também fazemos) para responder às questões que aparecem quando nos deparamos com uma nova situação cotidiana sejam resultados de pensamento autônomo e de procedimentos de pesquisa informal, eles não podem ser classificados como procedimentos científicos, nem as questões que deram origem a eles podem ser classificadas como escolar. Segundo o dicionário Houaiss, a palavra "pesquisa" originou-se da
palavra latina perquirère, que quer dizer buscar com cuidado, procurar por toda parte; informar-se, inquirir, perguntar; indagar
profundamente, aprofundar.
A atividade de pesquisar, como estamos considerando até agora, e também levando em conta o que diz o Houaiss, pode ser compreendida como a busca autônoma da aprendizagem para a construção e
reconstrução coletiva e individual dos conhecimentos, sejam aqueles conhecimentos mais próximos e imediatos, sejam aqueles mais amplos e gerais. Dizendo de outra maneira, pesquisa é qualquer investigação ou indagação minuciosa, ou um conjunto de atividades que têm por finalidade a descoberta de novos conhecimentos, seja no domínio do cotidiano, seja no domínio científico, literário, artístico, etc. Assim, podemos chamar de pesquisa qualquer atividade que exija investigação planejada e minuciosa, feita com método.
As atividades de pesquisa, compreendidas como um conjunto de atividades sistematizadas, orientadas para a busca de um determinado conhecimento, através do emprego de uma metodologia de busca, são indispensáveis para a construção da autonomia de quem aprende.
Quem tem autonomia para aprender pode renovar e ampliar
continuamente seu campo de conhecimentos por iniciativa própria, sem que ninguém o obrigue. Precisou aprender alguma coisa que o interessa ou que é necessária para a resolução de alguma situação de vida, a pessoa autônoma sabe procurar o conhecimento necessário sozinha. Mas, em geral, a pessoa que tem autonomia para aprender não busca conhecimentos só porque precisa, busca também porque gosta de conhecer.
As pessoas com pensamento autônomo são capazes de colocar-se - quando querem dizer alguma coisa a alguém - num ponto de vista pessoal sobre o assunto, mesmo que esse assunto seja muito comum, discutido a toda hora, como o resultado de um jogo de futebol ou o último capítulo da novela. São capazes também de estabelecer diálogos enriquecedores com outras pessoas, de partilhar o que sabem e de ouvir verdadeiramente o que os outros dizem. Quando dizem alguma coisa a alguém sobre um determinado tema, as pessoas cujo pensamento é autônomo não "falam como papagaios", mas tornam-se autoras do que dizem, seja quando escrevem, seja quando falam, porque o que dizem faz sentido para quem ouve.
Para finalizar este texto, podemos refletir sobre uma ideia que João Wanderlei Geraldi coloca em seu livro Portos de Passagem:
"No processo de compreensão ativa e responsiva, a presença da fala do outro deflagra uma espécie de "inevitabilidade de busca de sentido": esta busca, por seu turno, deflagra que quem
compreende se oriente para a enunciação do outro." (GERALDI, J. W. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991) Geraldi, nesse trecho, diz que quando compreendemos ativamente a enunciação de outra pessoa, isto é, o que a outra pessoa diz, é porque nós, inevitavelmente, procuramos um sentido no que ela diz.
Compreender, para ele, é encontrar sentido no que se lê e no que se ouve. Se eu não procurar sentido no que ouço ou leio, agirei como um robô quando estou ouvindo ou lendo; se eu procurar sentido, agirei de modo responsável, isto é, poderei assumir responsabilidade pessoal pelo que ouço ou leio e também falar com responsabilidade para os que me ouvem e leem o que eu escrevo. Procedendo dessa maneira, estarei
respondendo verdadeiramente quando dialogo com pessoas no cotidiano, ou quando dialogo com os textos que leio. Essa atitude responsiva é fundamental para a superação da produção de
textos/colagens de trechos de diversos outros textos lidos (e muitas vezes mal compreendidos).
Se desejarmos que nossos alunos compreendam a importância do pensamento autônomo na construção de conhecimentos a partir de uma pesquisa, e que entendam que o diálogo que construímos para a comunicação dos resultados de pesquisa deve obedecer às condições particulares que todo o gênero textual assume quando é escrito, precisamos prepará-los de forma cuidadosa e responsável quando os orientarmos para esse tipo de atividade.
Em primeiro lugar, precisamos ajudá-los a preparar pequenos projetos de pesquisa, a partir de situações reais e próximas que
despertem sua curiosidade; em segundo lugar, precisamos orientá-los para que escrevam os resultados de pesquisa sabendo sobre o que vão escrever, para quem escreverão, onde publicarão seus textos.
Precisamos, ainda, proporcionarmos condições facilitadoras da reflexão sobre seu texto, ajudando-o a verificar se ele expressa com clareza o que o aluno quer dizer, se ele causará impacto no leitor, se o texto vai convencê-lo de que o ponto de vista do aluno sobre aquilo que
pesquisou é importante, se as reflexões que faz no texto ou as explicações que constrói são envolventes e agradáveis. Em suma, o leitor precisa ser seduzido pelas ideias dos alunos e convencido da validade delas para interessar-se pelo que ele escreve.
Tudo muito diferente dos procedimentos habituais, você concorda?
Heloisa Amaral