ACUSAÇÃO DO CASO “LTCM” DE MYRON SCHOLES
Eric Kempers (8563114)
Piracicaba
2018
1. Introdução
O Long Term Capital Management (LTCM) foi um fundo de investimento baseado em uma fórmula quantitativa que, a partir do preço de ações, período de contrato, taxa de juros, risco e volatilidade, encontrava investimentos rentáveis com operações de arbitragem. O investimento era feito em cima de diferenças de preços em mercados distintos principalmente, e sempre ganhando pouco por investimento, porém, a realização de um número muito alto de operações, fazia com que a rentabilidade do investimento fosse muito igualmente elevada.
O fundo nasceu do trabalho do corretor de títulos John Meriwether. Inicialmente Meriwether trabalhou para a corretora Salomon Brothers em Wall Street. No grupo ele montou uma equipe de jovens gênios da matemática que atuaram como seus
assistentes na sua carreira. Após um incidente escandaloso em que ele assessorava um corretor que foi pego manipulando obrigações do tesouro, Meriwether foi desligado do grupo e começou o LTCM em 1997, incorporando Myron Scholes, Robert Merton – ganhadores do prêmio Nobel de economia em 1997 - e o Ex Vice Presidente do Banco Central dos EUA (FED) David W. Mullins Jr.
A eficiência do método de análise perdurou de 1993 a 1998, quando o fundo detinha US$5 bilhões em ativos, controlava outros US$100 bilhões e administrava posições valendo mais de US$1 trilhão. O grupo também havia emprestado, em 1998, mais de US$120 bilhões. Somados, a empresa detinha cerca de 5% do total do mercado mundial de renda fixa.
A questão do caso é que o método de análise idealizava o mercado, e aos seus
agentes, quanto a sua racionalidade e eficácia, contando que todo preço gerado seria correto. Quando a normalidade da economia foi rompida pelo calote de títulos russos em 1998, o LTCM acreditou que o mercado se autorregularia de maneira natural. Porém, a ganância dos investidores não era contabilizada no método. A falha causaria uma crise financeira mundial devido as perdas massivas que os credores teriam, mas uma intervenção, polêmica até os dias de hoje, segundo Lowestein (Ex repórter do “Wall Street Journal”), evitou que isso ocorresse.
O chefe do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA, se reuniu com os maiores investidores da bolsa de Nova York e injetou capital suficiente no LTCM que permitiu que este, fosse liquidado apenas em 2000 e evitou uma crise generalizada do setor financeiro.
2. Desenvolvimento do Caso
O caso da LTCM partiu de uma formulação que buscava padronizar algo que
historicamente foge dos padrões. A economia foi analisada de maneira estatística pelo modelo do grupo, porém, ela é tendenciosa. De maneira simplificada, em um jogo de “cara ou coroa”, em que uma moeda vira “cara” três vezes consecutivas, a mesma tem, estatisticamente, a mesma tendência de dar cara na quarta tentativa (50%), mas, por sua vez, uma economia que sofre três choques negativos não segue o mesmo padrão. Isso ocorre porque o próprio temor de que haja uma quarta queda faz com que o mesmo ocorra, confirmando a afirmação de que o mercado é tendencioso.
A própria crise financeira mundial de 2008 foi originada por falhas de modelos matemáticos, desta vez, ainda acompanhados de maior uso de tecnologia. O modelo agrupou hipotecas de alto risco em papéis financeiros. Desta forma o risco individual de inadimplência era diluído no agrupamento dos mesmos, pois a probabilidade de que o número de contratos não honrados fosse um valor considerável, era muito baixa. Porém, a crença no mercado ideal novamente fez com que o modelo falhasse. A crise de crédito fez com que a inadimplência se tornasse mais do que considerável, e o endividamento dos próprios investidores que aplicavam o modelo, não pudesse ser honrado.
Esta crise apenas caracteriza o mais atual capítulo da ineficiência de modelos
matemáticos que se dizem capazes de analisar a economia por si só. Antes do caso da LTCM houve ainda a “segunda feira negra” em que a economia americana despencou 23% em um só dia, devido ao chamado “seguro de carteira”.
O ponto chave de tudo isso é entender como mentes tão brilhantes permitiram que a situação chegasse neste ponto. É até compreensível aceitar que os gestores que acompanhavam Myron Scholes nas decisões, optassem por seguir o modelo que vinha
atendendo as expectativas a tantos anos e com rendimento fantásticos. Mas por outro lado, desde de sua origem, o modelo havia sido designado para um mercado estável. A administração de uma empresa, principalmente quando esta pertence a uma escala mundial, não pode permitir que as decisões sejam tomadas invariavelmente de acordo com um modelo criado para atender um mercado ideal. Não apenas grandes Bancos de todo o mundo e Corretoras poderosas foram afetadas mas muitas pessoas comuns que haviam colocado seus fundos de pensão no fundo de investimento se tornaram vítimas da liquidação da empresa.
A chamada “fé inabalável” nos conceitos de mercado eficaz e racional já havia demonstrado ser perigosa, mas a inocência administrativa da empresa a levou a cometer o mesmo erro. Mesmo com a percepção da instabilidade do mercado com a crise russa, Robert Merton e Myron Scholes mantiveram os rumos do Grupo balizado no modelo quantitativo e ignoraram os fatores humanos, afetando milhões de pessoas ao redor do mundo.
Segundo Scott Patterson do “Wall Street Journal”, "Ao colocarem de lado a possibilidade de movimentos abruptos do mercado, eles eram capazes de fazer apostas maiores e usar mais alavancagem. O que pode ser muito lucrativo por um tempo - até o mercado alcançá-los."
Ainda, a alavancagem consiste no uso de recursos de terceiros para maximizar os efeitos da variação do lucro operacional. Quanto maior o grau de alavancagem
financeira maior é o endividamento da empresa e maior é o seu risco financeiro. Assim seu uso exige muita responsabilidade administrativa.
3. Referências bibliográficas
INVESTOPEDIA. Long-Term Capital Management (LTCM). Disponível em:
https://www.investopedia.com/terms/l/longtermcapital.asp. Acesso em: 03 jul. 2018.
EQUIPE INFOMONEY. Personagens do Mercado: Merton e Scholes, o Nobel por trás da queda do LTCM. Disponível em:
https://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/1590048/personagens-mercado-merton-scholes-nobel-por-tras-queda-ltcm. Acesso em: 03 jul. 2018.
ESTADÃO. Gênios matemáticos erram as contas em Wall Street. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/noticias/geral,genios-matematicos-erram-as-contas-em-wall-street,511037. Acesso em: 03 jul. 2018
BUSINESS INSIDER. The Epic Story Of How A 'Genius' Hedge Fund Almost Caused A Global Financial Meltdown. Disponível em: http://www.businessinsider.com/the-fall-of-long-term-capital-management-2014-7. Acesso 03 jul. 2018.
FOLHA DE S. PAULO. Norte-americano conta como fundo de investimento que gerenciava US$ 4,67 bi em ativos quebrou em 98. Disponível em: