Peça de Ruth Salles
Esta peça começa com os padres Nunes e Manuel da Nóbrega subindo de São Vicente para o planalto, guiados por André, filho de João Ramalho. Fala da atividade de cada um e também dos indígenas, terminando com a fundação de São Paulo. Uma das músicas consta da outra peça “Em Nossa Terra”. No fim, pode ser cantado o hino “Pelo Sinal da Cruz”, de F. de Chiara,
com letra em tupi de José da Anchieta. Consta do livro 3 da coleção Teatro na Escola. Lei
a as orientações pedagógicas.
Sugerida para crianças de 10 anos.
Personagens: Coro
Índios
Padre Manuel da Nóbrega, superior dos jesuítas Padre Leonardo Nunes, o primeiro a subir a serra. João Ramalho, Guarda-mor do Campo de Piratininga. André Ramalho, seu filho.
Bartira, mulher de João Ramalho e filha de Tibiriçá. Tibiriçá e Caiubi, caciques.
Padre Manuel Chaves, que ia buscar velas rasgadas das caravelas em São Vicente, para fazer roupas.
Irmão José de Anchieta, que aprendeu a fazer sapatos e foi poeta e professor. Padre Mateus Nogueira, que trabalhava de ferreiro.
Padre Diogo Jácome, que trabalhava de marceneiro.
Padre Aspicuelta Navarro, que aprendeu depressa o tupi e escrevia nessa língua, pois sendo de origem basca, encontrou semelhanças entre a língua basca e o tupi, o que aconteceu também com Anchieta, neto de bascos. CORO (enquanto Nóbrega e Nunes andam como se estivessem conversando): – O padre Manuel da Nóbrega,
superior dos jesuítas que vieram para o Brasil, conversa com o padre Nunes, que foi o primeiro padre a sair de São Vicente subindo a pé serra acima até chegar ao planalto, alcançando o Campo alto de Piratininga.
Padre Nóbrega, velhinho, quer ir no mesmo caminho.
Vem então o moço André, (André sai do Coro e se inclina diante dos dois)
que é filho de João Ramalho e guia os dois nos atalhos de serra acima.
PADRE NÓBREGA (anda apoiado num bordão): – Que serra é essa que nunca se acaba?
PADRE NUNES: – Paranapiacaba. PADRE NÓBREGA:
– E há boas terras lá no alto dela? PADRE NUNES:
– Uma terra tão bela...
Chama-se Campo de Piratininga, onde sempre respinga
uma garoa de manhã bem cedo. E, no denso arvoredo,
cantam alegres muitos passarinhos, quando voam dos ninhos.
PADRE NÓBREGA:
– Pois eu também quero subir a serra e chegar a essa terra.
Lá um colégio podemos fundar, para nele ensinar.
Toda criança que ali for chegando, iremos educando.
(Os três começam a subida. Vão inclinados, para dar a impressão da ladeira.)
CORO (canta enquanto os três sobem; se o texto for apenas falado, o tamanho curto dos versos é para dar a idéia do fôlego curto e dos passos lentos):
“Quem sobe a serra vai devagar, às vezes tendo de engatinhar; agarra o mato assim na mão, firma joelhos e pés no chão. Os animais podem cair. Demoram mais para subir. O mato é sempre bastante alto
e sobe, sobe para o planalto.”
ANDRÉ RAMALHO (tendo os três chegado, aponta para um homem): – Padre Nunes, padre Nóbrega,
o homem que ali se vê é meu pai à sua espera, é João Ramalho, o senhor do vale do Tietê.
JOÃO RAMALHO (já destacado do Coro): – Eu sou Guarda-mor do Campo,
conheço o chão onde piso. Vou ajudar os senhores
em tudo que for preciso. (aponta uma mulher que também se aproxima) Bartira, minha mulher,
tem cuidado deste chão. BARTIRA:
– Preparei roças plantadas que bons frutos sempre dão. JOÃO RAMALHO:
– Construam a sua vila entre os rios que aí estão: entre o Anhangabaú e o Tamanduateí.
Dois índios com suas tribos
vão protegê-los ali: (aponta para eles) cacique Tibiriçá
e cacique Caiubi.
(Destacam-se do Coro outros jesuítas de um lado e outros índios de outro.) PADRE NÓBREGA (como se falasse para o público):
– Muitos, muitos vêm chegando, uns aos outros se ajudando, ensinando, aprendendo,
todos juntos convivendo. (cumprimentando Anchieta e Manuel Chaves): – É o Irmão José de Anchieta!
– Olá, Padre Manuel Chaves! PADRE MANUEL CHAVES: – Olá! Eu trouxe estas velas. São velas muito rasgadas que os marinheiros me dão.
Com elas todos terão boa roupa agasalhada. ÍNDIO 1:
– Se quiserem roupa preta, eu tiro tinta da planta que vou buscar lá no mato. ÍNDIO 2:
– Da planta caraguatá, eu vou ensinar os brancos a fazer um bom sapato.
IRMÃO JOSÉ DE ANCHIETA: – E eu vou ser o sapateiro.
Vou ser também professor. (dirigindo-se a Aspicuelta Navarro) E você, Aspicuelta?
PADRE ASPICUELTA NAVARRO: – Para os índios desta terra,
vou escrever em tupi a história da Criação, que está no texto sagrado. Pois com a língua que falam eu já estou acostumado. PADRE DIOGO JÁCOME: – E você, Mateus Nogueira, pode ser nosso ferreiro.
PADRE MATEUS NOGUEIRA (concordando e batendo nas costas do outro): – De muito boa vontade!
E então você, Diogo Jácome, que sabe talhar madeira,
faça as contas dos rosários. (dirigindo-se a Aspicuelta Navarro): ÍNDIO 3:
– Vamos trazer alimento, ou da roça ou da caçada.
PADRE MANUEL DA NÓBREGA: – Pois façamos um colégio,
que nos sirva de morada! IRMÃO JOSÉ DE ANCHIETA: – Em cabana pequenina
todos nós vamos caber. Num lugar menor ainda Jesus Cristo quis nascer.
CORO (canta com todos, enquanto a construção é simulada): “Façamos, amigos, de caniço e barro, uma barraquinha para nós morarmos. Seja a medida de seu comprimento só quatorze pés; de largura, dez. Mais do que escola, nossa barraquinha seja enfermaria, despensa e cozinha. Seja refeitório, seja dormitório, tudo do tamanho de uma barraquinha.” CORO (fala, com todos):
– A cama é rede. A porta é esteira. A mesa é folha de bananeira. Nosso alimento é muito farto: peixe, mandioca, milho e abóbora, carne de corça ou de lagarto. PADRES:
– E assim ergueu-se este Colégio... JOÃO RAMALHO, ANDRÉ, BARTIRA: – Mas, em que dia foi isto?
PADRES:
– No dia em que Paulo de Tarso tornou-se apóstolo de Cristo. ÍNDIOS:
– E assim ao Colégio e à vila tão linda foi dado este nome:
São Paulo do Campo de Piratininga! CORO (enquanto se prepara a missa): – Vai o padre Paiva
a missa rezar. É o Irmão Anchieta quem vai ajudar. O altar é de varas, a cruz é singela. No meio da mata, que missa tão bela! TODOS (cantam):
“Santa Curuçá, raangaba recê, orê pycy rõiepê. Tupã orê iar, orê amotareymbára çuí. Tuba taýra. Espírito Santo rêra pupê.
Amém, amém.”