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PRÁTICA DOCENTE EM FORMAÇÃO E MAL-ESTAR: A VOZ DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

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Academic year: 2020

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Prática docente em formação e

mal-estar: a voz do estágio supervisionado

Lucas Veras de Andrade1;

Maria Escolástica de Moura Santos2; Isana Cristina dos Santos Lima3;

1 Secretaria Municipal de Educação de Teresina - Piauí; E-mail: email@hotmail.com; 2 Universidade Federal do Piauí - UFPI; E-mail: email@hotmail.com;

3 Mestrado em Educação, Universidade Federal do Piauí - UFPI; E-mail: email@hotmail.com;

RESUMO

O estudo investiga o fenômeno do mal-estar docente no âmbito do Estágio Supervisio-nado. Objetivou-se analisar as situações desencadeantes, bem como a percepção e os sentimentos desenvolvidos por um grupo de estudantes de Licenciatura em Pedagogia, vivenciados em uma escola da rede municipal de Teresina (PI). Neste propósito, a coleta de dados se deu juntamente com sete estagiários, sendo aplicado um questionário com questões abertas, analisadas a partir da técnica de análise de conteúdo. Os resultados demonstram que a prática dos estagiários no lócus de análise é desenvolvida mediante condições de mal-estar, apontando como indicadores mais evidentes a: indisciplina e au-sência da instituição familiar no acompanhamento dos escolares. Em virtude dos aspectos expostos, as repercussões na escolha profissional dos estudantes em formação fragilizam a identificação destes com a profissão docente, a ponto de boa parte dos interlocutores do estudo manifestar desinteresse em permanecer e ter a docência como a futura profissão, mesmo concluindo o curso.

Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Mal-estar Docente. Concepções de Estagiários.

Prática Docente.

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Teaching practice in training and malting:

the voice of the supervised stage

ABSTRACT

The study investigates the phenomenon of teacher malaise within the Supervised Internship. The objective was to analyze the situations triggered, as well as the feelings developed by a group of undergraduate students in Pedagogy, lived in the school of the municipal network of Teresina (PI). In this context, the data collection was joined to seven trainees, being applied in a file with open questions, analyzed from the technique of content analysis. The results show that the analysis of the results is not the locus of analysis as being a state of malaise, evidencing the the most evident disciplines: an indiscipline and the absence of the family information in the accompaniment of the students. In view of the problems presented, such as the repercussion on the choice of students in training, the weakening of the communication of the same to the teaching profession, the point of a good part of the study participants, disinterested manifestation and teaching as a future profession, even completing the course.

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1 INTRODUÇÃO:

DESVELANDO NOSSAS

MOTIVAÇÕES PARA

INVESTIGAÇÃO

No final do ano de 2011, foi possibilitado por meio de aprovação em concurso para professor das séries iniciais do Ensino Fun-damental, a um dos autores deste estudo, um contato mais próximo com o universo escolar, e com isso, um olhar mais aprofun-dado e crítico diante da complexa realidade enfrentada por professores, estagiários e o sistema educacional público municipal de Teresina como um todo. Nesta conjuntura, observa-se desde então, uma gama de recla-mações e sentimentos negativos diante da atividade docente, demonstrados princi-palmente pelos estagiários, o que motivou a realização do estudo ora apresentado. Entendemos que o estágio deve ser um mo-mento singular na vida do acadêmico, no qual ele desenvolve grandes expectativas e sentimentos, já que é nessa fase que o mes-mo estará diretamente na práxis da profis-são escolhida para o exercício profissional futuro. No entanto, sendo desenvolvido em condições desfavoráveis, pode desen-cadear no indivíduo que o exerce repercus-sões que o faça repensar sua escolha e, nos casos mais graves, ao abandono da profis-são ainda em seu percurso de formação. Considerando o contexto acima mencio-nado, compreendemos que a docência nas séries iniciais é a que mais acarreta desgaste psicológico, emocional e físico nos professo-res. Em função de uma maior dependência dos discentes e principalmente das

deman-das trazideman-das por eles ao nosso conhecimen-to, como por exemplo: alcoolismo dos pais, trabalho infantil, violência física e sexual, entre outros aspectos, quando pensamos na maioria das vezes em escolas da periferia e do ensino público, foco desta investigação. A preocupação é inevitável. Desse modo, nosso estudo está baseado no seguinte pro-blema: Quais as repercussões do mal-estar docente no âmbito do estágio para estu-dantes em processo de formação?.

Para contemplarmos a problemática acima descrita, temos como objetivo geral: Analisar o mal-estar docente sob a percepção de estu-dantes em processo de formação no âmbito da prática docente estagiária. Temos ainda como objetivos específicos: demonstrar a per-cepção dos estudantes sobre a ocorrência do fenômeno em discussão; evidenciar indicado-res de mal-estar docente no contexto de está-gio dos analisados; e revelar os sentimentos desenvolvidos pelos estudantes e suas conse-quências para o futuro profissional.

O interesse pelo desenvolvimento de estu-dos relacionaestu-dos à temática aqui refletida, parte de debates acadêmicos, no qual se percebe um discurso coletivo da categoria docente de incômodo no seu ser/estar e fazer docência. Principalmente da vivên-cia de um dos autores com estudantes de licenciatura, em especial, de Pedagogia. Estes, no percurso de formação, afirmam vivenciarem e realizarem suas práticas me-diante situações complexas, desgastantes e desenvolvida na maioria das vezes em es-paços laborais que reduzem a qualidade do trabalho por motivos diversos, como:

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carização do trabalho e desvalorização so-cial da profissão.

Dessa forma, na busca por refletir o proble-ma de pesquisa evidenciado no presente trabalho e de alcançar os objetivos propos-tos, estruturamos nossa investigação em se-ções. Sendo a primeira a introdução, onde apresentamos os objetivos da pesquisa, bem como nossa motivação para o desen-volvimento do estudo. Na seção seguinte, explanamos sobre o método de pesquisa, descrevendo o tipo de pesquisa, o contexto e sujeitos do estudo, os instrumentos ado-tados e ao fim, os procedimentos utilizados para a análise dos dados.

Na terceira, explanamos uma breve contex-tualização sobre o fenômeno do mal-estar docente, tendo por base principalmente os conceitos de Esteve (1999). Este teórico é ba-silar na discussão da temática e seus concei-tos corroboram para o entendimento tanto dos fatores, como das consequências deste fenômeno para categoria docente. No quar-to tópico, discutimos os resultados das análi-ses realizadas. E por fim, as considerações fi-nais, que retomam os principais achados da pesquisa e tecemos algumas considerações. Nesse sentido, o estudo se torna relevante uma vez que poucas são as pesquisas que enfocam o contexto do estágio supervisio-nado em situação de mal-estar. Assim, bus-camos com o mesmo, uma reflexão e apro-fundamento das discussões do fenômeno em questão, do seu impacto na educação e na vida profissional de quem exerce a ativi-dade docente. Seja em caráter efetivo ou no âmbito do estágio, fase entendida, como o

primeiro contato do estudante com o futu-ro ambiente de trabalho.

2 DELINEAMENTO

METODOLÓGICO: O

PERCURSO SEGUIDO

O estudo realizado é de natureza qualitati-va, sendo caracterizado, conforme Richard-son (2008, p.90), “como uma tentativa de uma compreensão detalhada dos significa-dos e características situacionais apresen-tadas pelos respondentes”. Sendo do tipo estudo de caso, por permitir identificar os aspectos que determinam ou contribuem para a ocorrência do fenômeno do estudo. Apresenta nuances quantitativas apenas para demonstrar o número de vezes em que cada resposta se repete e o percentual que cada uma representa nas categorias e sub-categorias existentes em nossa investigação. A pesquisa teve como participantes 7 (sete) estudantes de Pedagogia que estavam de-senvolvendo estágio extra e curricular em uma escola de educação fundamental de 1° a 5° ano, da rede municipal de Teresina (PI), localizada na zona leste da referida cidade. O critério que justifica a escolha do espaço como lócus de pesquisa, é o fato de um dos pesquisadores está desenvolvendo neste, atividades pedagógicas em exercício efe-tivo, pelo fácil acesso à instituição e pela contribuição voluntária dos estagiários. E por fim, por este pesquisador perceber, a partir de reclamações, que os estagiários es-tão desenvolvendo suas práticas pedagógi-cas sob sentimentos de mal-estar docente. O instrumento de coleta de dados utilizado

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foi o questionário. Ele traduz os objetivos da pesquisa em perguntas claras e objetivas (RICHARDSON, 2008). Utilizamos ques-tões abertas por permitir ao respondente liberdade ao responder, usando linguagem própria e emitir opiniões.

Para a análise dos dados seguimos a téc-nica de Análise de Conteúdo. De acordo com Chizzotti (2003, p. 98), esse método específico é importante para analisar os dados de pesquisa qualitativa porque tem por objetivo “compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteú-do manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”. O uso dessa técnica foi importante para a pesquisa porque nos permitiu analisar não apenas o que foi res-pondido textualmente pelos participantes. Mas, também, os aspectos implícitos resul-tantes das questões feitas, possibilitando com isso, interpretar o que significam as mensagens oral e escrita em um discurso, conforme nos orienta Bardin (2002).

3 MAL-ESTAR DOCENTE: O

QUE DIZEM OS TEÓRICOS

A terminologia mal-estar não é recente. Esta foi utilizada pela primeira vez em 1930 por Sigmund Freud. Segundo Rodrigues (2009), ele a utilizou para descrever a relação do mal-estar na civilização e o sofrimento dos indivíduos. Para Freud, o ser humano mo-via-se a partir de uma pulsão que no percur-so da sua constituição sócio/histórica era minimizada pela cultura e como resultante havia o aparecimento da frustração. Ro-drigues (2009, p.37) “afirma que a relação

com que o sujeito lida com esse sentimen-to é vista como a motivação primária de insatisfação humana”. Ainda discorre que essa relação de conflito pode desencadear o surgimento de sintomas psicossomáticos e vários sofrimentos. E que em algumas pro-fissões inviabilizam a prática, citando o ato de ensinar (FREUD, 1996).

Na contemporaneidade, a obra de Freud passa por constantes releituras e o autor que mais se destaca é Baumann (1998). Para ele, o mal-estar é marcado pelo sentimento de efemeridade e mudanças e/ou relações instáveis. Em seu paradigma traz um novo olhar sobre os escritos de Freud. Enquanto que em Freud, o indivíduo é ressentido pela cultura em função das renúncias diante de escolhas, para Baumann, o indivíduo viven-cia uma situação diferenviven-ciada, uma vez que o sentimento apresentado pelo mesmo é de liberdade, mesmo que neste sentimento es-teja inserido angústias “diante das incerte-zas e do novo” (RODRIGUES, 2009, p. 37). Na literatura pedagógica a grande referên-cia sobre a temática é Esteve (1999), que em seus estudos, o conceitua como os sen-timentos de caráter negativo e permanen-te que afligem a personalidade docenpermanen-te, resultante das condições laborais, sociais e psicológicas em que se desenvolve a mes-ma. Já para Marchesi (2008), o mal-estar docente é uma estafa profissional que afeta o trabalho, as relações pessoais e o sentido de sua atividade. Para o autor, a origem des-se fenômeno está situada na personalidade dos professores e na maneira como eles

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frentam seu trabalho diante das condições sociais e educacionais.

Andrade (2012) em relação ao fenômeno, afirma que o mesmo torna comunicável as dificuldades em que os docentes se depa-ram no exercício profissional. E que cada vez mais se tornam presentes nas institui-ções de ensino. O mesmo é decorrente do aumento das exigências demandadas pela globalização, que desencadeou no contex-to educacional transformações significati-vas, tanto na estruturação como também no valor social atribuído a atividade docen-te e da própria educação.

Dessa forma, vários são os estudos que de-monstram as fontes deste fenômeno, como Aranda (2007); Rodrigues (2009); Andrade (2011; 2012) dentre outros. Todos os au-tores citados basearam-se nos preceitos de Esteve. Segundo este, os indicadores desen-cadeantes deste fenômeno podem ser clas-sificados mediante dois enfoques, sendo es-tes, fatores principais e fatores contextuais. Os primeiros influenciam diretamente no desenvolvimento do mal-estar, pois estão associados à ação docente, gerando na clas-se clas-sentimentos de tensão, desajuste. Já os contextuais, repercutem sobre a forma de comportamento do docente, bem como no seu contexto de atuação.

As consequências do mal-estar docente po-dem ser apresentadas de diversas formas. Esteve (1999) elenca o absenteísmo traba-lhista que pode ser entendido quando o profissional se ausenta do espaço laboral sem um motivo aparente consolidado e o abandono da profissão. Na perspectiva de

Andrade (2012) as consequências repercu-tem principalmente sobre a saúde mental e física do educador, o que também pode ser percebido na pesquisa de Rodrigues (2009). Nesta, a pesquisadora analisou os fatores relacionados ao contexto pedagógico que implicam no trabalho e na saúde dos pro-fessores. E concluiu a prevalência das doen-ças psiquiátricas como sendo as diagnosti-cadas com maior frequência. É importante ressaltar que as reações frente ao fenômeno do mal-estar docente não ocorrem de forma padronizada. Conforme Lima (2013, p. 86):

O incômodo presente no professor ao desempenhar sua função ocorre por vários fatores, por isso as indefi-nições são presentes. Há de se pen-sar também que enquanto alguns professores se sentem incomodados com determinadas situações, outros são indiferentes. Nem todos os pro-fessores desenvolvem mal-estar pelo mesmo motivo.

A citação nos permite inferir que depende de como o indivíduo reage e ao sentido que é dado diante da situação vivenciada para o desenvolvimento do mal-estar. Os docen-tes também se utilizam de diversas manei-ras como forma de defesa, que vão desde esquemas de inibição até o absenteísmo como já mencionado.

Com base no exposto, a profissão docente se configura na contemporaneidade como uma atividade de alto risco para saúde men-tal e física dos professores. Assim, o estudo do fenômeno em pauta na categoria aqui apresentada, se torna relevante na medida

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em que se observa ausência de estudos em indivíduos ainda em fase de formação, con-siderando a temática, como algo específico do professor já formado ou em serviço efe-tivo. A seguir apresentaremos nos discursos de nossos pesquisados, como se configura o fenômeno em estudo no âmbito do estágio supervisionado na escola em análise.

4 ANÁLISE E RESULTADOS

DA INVESTIGAÇÃO: A

VOZ DO ESTÁGIO

Apresentamos neste tópico os dados coleta-dos, a fim de analisar as respostas dos estagi-ários, buscando compreender as concepções dos mesmos sobre a temática pesquisada. A análise está organizada em três categorias: situações preditoras de mal-estar docente no âmbito do estágio; fontes de mal-estar docente no âmbito do estágio; e por último, sentimentos revelados pelos estagiários ao frequentar o ambiente escolar e exercer a prática docente, que se detalharão a seguir.

Situações preditoras de mal-estar docente no âmbito do estágio

Para elucidarmos esta categoria, partimos do seguinte questionamento: Acreditas já ter sentido o que é denominado pela lite-ratura pedagógica de mal-estar docente? Em qual situação? Com a proposição

aci-ma, todos os participantes se manifestaram de forma positiva e com base nos discursos proferidos, fez-se necessário uma subcate-gorização, já que o contexto situacional muda em função das diversas colocações trazidas por eles.

Dessa forma, as respostas nos conferem vá-rias situações que nos possibilitam a infe-rência do sentimento de mal-estar. Assim, com base em seus discursos agrupamos as respostas em cinco subcategorias denomi-nadas de: a Imagem do professor,

Aumen-to das exigências em relação ao professor, Aumento das contradições no exercício da docência, Contexto ligado ao déficit de aprendizagem dos alunos. E por fim,

te-mos Contexto de sala de aula.

A primeira subcategoria é compreendida a partir dos estudos de Esteve (1999). Ele a caracteriza quando o docente adota uma postura flutuante em sua prática e em sua autovalorização. As duas seguintes estão embasadas nas ideias de Rodrigues (2009). Para ele o “aumento das exigências em

relação ao professor” implica

diretamen-te sobre a ação docendiretamen-te, requerendo desdiretamen-te mais responsabilidades as quais o sobre-carregam e “aumento das contradições no

exercício da docência”, no qual o professor

é confrontado pela necessidade de exercer funções ambíguas. O autor exemplifica essa situação a partir da “incompatibilidade da exigência de integração social e o desenvol-vimento da autonomia do aluno”. (RODRI-GUES, 2009, NÃO PAGINADO).

As duas últimas subcategorias serão esclare-cidas a partir do nosso entendimento, uma vez que não encontramos teóricos que as discutissem. Desse modo, entendemos o “contexto ligado ao déficit de

aprendiza-gem dos alunos” aquele que não se

confi-gura como satisfatório em relação à aprendi-zagem discente, segundo os objetivos que o

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docente propõe para o ano letivo. E

“contex-to de sala de aula” que se caracteriza como

situações no âmbito de sala de aula que pro-piciam sentimentos de embaraço e que fo-gem do controle do professor em relação a atitudes dos alunos, tanto em relação aluno/ professor como também aluno/aluno.

Uma vez explicitado em que consiste cada subcategoria, demonstraremos a seguir, me-diante os discursos analisados, cada uma e o percentual que os mesmos representam no universo das subcategorias estabelecidas no estudo. Assim, a primeira subcategoria será apresentada mediante o discurso do participante que representa 14% do total dos discursos. Desse modo, temos:

Sim. O fator que me deixa mais es-tressada são as situações em que o professor dá o máximo de si mesmo, mas infelizmente não tem resultado no seu trabalho. (Estagiário 7).

O esforço em dissonância com os resulta-dos não alcançaresulta-dos são para o Estagiário 7, os aspectos que desencadeiam mal-es-tar. Podemos inferir que essa situação pode estar ligada ao excesso de expectativas ge-radas na ação docente, que como demons-trado, muitas vezes podem divergir com os objetivos alcançados. Nesse contexto, ain-da podemos inferir a predisposição deste respondente ao que Andrade (2012) discute sobre a síndrome de burnout, que é con-ceituada como uma tensão emocional que desenvolve um estresse crônico desenca-deado por condições de trabalho, físicas e psicológicas desgastantes. Esta inferência é percebida com base na frustração

observa-da no discurso, onde percebemos que as ex-pectativas almejadas não são alcançadas. E a síndrome é mais propícia de ser devolvida em indivíduos nessas condições. A subcate-goria denominada de aumento das exigên-cias em relação ao professor é contemplada por 29% dos respondentes, e assim temos:

Sim. No momento em que percebi que a tarefa do professor é árdua e cansativa. (Estagiário 2).

Sim. Sinto que, como professores, temos uma grande responsabilida-de em nossas mãos, ou seja, formar cidadãos conscientes e isso é um trabalho muito árduo, o mal-estar é quase inevitável. (Estagiário 4).

Os discursos acima concordam na medi-da em que apresentam o caráter árduo do processo educacional, sendo seu percurso caracterizado como cansativo e de grande responsabilidade. Nesse sentido, para o

es-tagiário 4 o mal-estar é inevitável.

Não podemos inferir pelo discurso do

Es-tagiário 2, aspectos que caracterizem o

momento da sua percepção sobre a prática docente como uma atividade árdua e can-sativa. Contudo, o Estagiário 4, ao citar os aspectos como: a responsabilidade dos pro-fessores na formação dos cidadãos e mais que tudo, formar cidadãos conscientes, jus-tifica sua afirmativa em denotar a atividade docente como uma profissão propícia ao desenvolvimento do mal-estar.

Os estagiários ao mencionarem a docência como árdua nos faz compreender que seja algo de natureza complexa. Nesse sentido, Rodrigues (2009) afirma que o professor, ao

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desenvolver um trabalho de assistência in-terpessoal, bem como de dedicação na for-mação dos indivíduos, ficam vulneráveis aos denominados riscos psicossociais no trabalho, acarretando-lhe muito desgaste, principalmente no que se refere à saúde do docente. Já a subcategoria aumento das

con-tradições no exercício da docência se

evi-dencia com 14% dos discursos, nela temos:

Sim. Na falta de apoio dos familiares dos alunos, os mesmos são sempre ausentes no acompanhamento de seus filhos. (Estagiário 1).

O Estagiário 1, destaca a falta de apoio fa-miliar no contexto escolar. Infere-se que a ausência dos pais no acompanhamento es-colar dos discentes, compromete o desem-penho do aluno, uma vez que somente o acompanhamento do mesmo pelo profes-sor na responsabilidade de educar, não ga-rante o sucesso da aprendizagem do aluno. Infere-se ainda, que esta ausência faz com que o docente traga para si a responsabili-dade da educação de seus alunos de forma holística, o que gera nele sentimentos de mal-estar quando não obtêm êxito.

Em relação a isso, Esteve (1999) afirma que estamos numa época em que se cobra cada vez mais da escola e principalmente do professor, que ambos cumpram papéis que tradicionalmente é de competência de ou-tras instituições sociais, como por exemplo: a família. Nessa contradição de valores, acreditamos ser desleal culpar a categoria docente por qualquer fracasso, como per-cebemos em algumas pesquisas, onde o do-cente é responsabilizado quase que

exclu-sivamente pelos resultados não alcançados na educação.

Ainda com relação a isso, Lima (2013, p. 88) ressalta que “o professor se sente frus-trado e esgotado pela acumulação de exi-gências sobre ele”. Para a autora, em alguns casos essa situação motiva-o a abandonar a profissão. No que se refere à subcatego-ria contexto ligado ao déficit de

aprendi-zagem dos alunos, identificamos 29% das

respostas. Dessa forma, nela obtivemos os seguintes discursos:

Sim. Quando não consegui alcançar a meta que me foi dada pelo projeto com a qual trabalho, me sinto frus-trada e apavorada. (Estagiário 3). Sim. Senti quando percebo que nem todos conseguiram aprender o que lhe foi ensinado ou aplicado em sala de aula (o conteúdo em si). (Estagiário 5).

Aqui dois aspectos são mencionados como desencadeantes do fenômeno em estudo. Temos o trabalho orientado a partir de metas a serem cumpridas e a insatisfação docente frente a não internalização por parte dos discentes acerca dos conteúdos. Aqui entendemos que um é consequência do outro, já que a aprendizagem aferida a partir de metas é prejudicial ao ensino, ao educando, ao professor e às próprias metas, funcionando como efeito dominó. Já que muitas vezes o professor é obrigado a inte-grar um programa de ensino, com tempo determinado a cada conteúdo e por limite temporal muitos conteúdos são aligeirados, quando ministrados. A consequência são lacunas na aprendizagem discente e baixos

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índices nas notas das avaliações, sobretudo externas, a citar a Prova Brasil.

Inferimos ainda, que as metas e a equi-dade do ensino conteudista nem sempre é eficiente quando o universo dos alunos se evidencia de formas distintas. Ou seja, cada aluno apresenta uma forma singular de aprender e cada um traz consigo capital cultural elaborado a partir de sua vivência social. Não é a maneira mais apropriada pa-dronizar aquilo que o alunado deve apren-der e principalmente o tempo em que deve acontecer. Seria ideal que se considerasse os conhecimentos prévios do aluno no processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, deve haver uma adequação, assegu-rar um trabalho correspondente ao nível de cada aluno, o que na maioria das vezes não acontece. Isso nos faz ponderar sobre o mal-estar no aluno, quando percebemos o desajuste do sistema educacional perante ele. Por fim, temos a subcategoria que des-creve o contexto de sala de aula. Ela com-preende 14% dos discursos. Assim temos:

Sim. Uma situação foi quando hou-ve um descontrole, uma agitação por parte de alguns alunos, então eu me senti incapaz de por uma ordem sobre aqueles alunos e agi de forma errada. (Estagiário 6).

Para esta subcategoria analisada, o mal-es-tar é oriundo de situações de descontrole, agitação dos alunos. A situação descrita pode ser representada pelo termo indisci-plina. Esse aspecto compromete seriamente a atividade docente, já que ele afeta a rela-ção professor/aluno. E essa relarela-ção quando

conflituosa pode causar no professor mal--estar, como podemos observar nos estu-dos de Aranda (2007). A indisciplina ainda a nosso ver, compromete a aprendizagem dos alunos, bem como sua socialização, além de desenvolver nos professores es-tresse, frustração e nos casos mais graves o desejo de abandono da profissão. Aspectos esses, considerados por Esteve (1999), con-sequências do fenômeno do nosso estudo. Os sentimentos aqui evidenciados corrobo-ram para a incidência do mal-estar docente no contexto da escola analisada e na práti-ca destes futuros professores. Como forma de embasar ainda mais estes sentimentos e a análise, apresentaremos a seguir as fontes que na percepção de nossos analisados con-firmam o desenvolvimento do mal-estar no contexto do estudo. Lembrando que essas fontes permitem o desencadeamento de tensões e sentimentos de negatividade do professor no âmbito do seu trabalho.

Indicadores de mal-estar docente no âmbito do estágio

Várias são as pesquisas que enfocam os fa-tores desencadeadores de mal-estar na prá-tica pedagógica de educadores. Destas te-mos, Blase (1982), Esteve (1999), Rodrigues (2009), Costa (2010), Andrade (2011; 2012) entre outras. Blase (1982) assinala os indi-cadores de mal-estar no professorado a par-tir de fatores primários e secundários, re-ferindo-se aos primeiros como os aspectos que incidem na ação direta do docente no contexto de sala de aula e os secundários os que se referem ao contexto ambiental da práxis destes profissionais. Os conceitos

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abordados por Blase (1982) são basilares as teorias da contemporaneidade a respeito do fenômeno em questão, como observado em nossas leituras das pesquisas dos auto-res supracitados.

Esteve (1999), Rodrigues (2009) e os de-mais convergem com os conceitos de Bla-se (1982) na medida em que teorizam as fontes geradoras de mal-estar na atividade docente sob a perspectiva de dois enfo-ques: 1) sobre os recursos necessários para a efetivação da atividade docente e 2) sobre o contexto do exercício desta prática. Por exemplo, Esteve (1999) em seus estudos di-vidiu esses enfoques em fatores de primeira ordem e os de segunda ordem, ampliando os conceitos de Blase (1982).

Na visão do autor os fatores de primeira or-dem são os fatores concretos e relativos à ação docente. Aqueles que recaem diretamente na prática do professor, gerando tensões associa-das a sentimentos negativos. Ele exemplifica esses fatores a partir da ausência de recursos materiais e condições de trabalho, violência nas instituições escolares, esgotamento do-cente e a acumulação de exigências sobre o professor, entre outros aspectos.

Acrescentamos ainda nesse contexto, a formação dos professores como também causadora deste fenômeno. Devido à dispa-ridade ou descompasso de ritmos entre as transformações sociais e o processo de for-mação. Pois como afirma Cordeiro (2007, p. 51), “o processo de formação dos profes-sores opera com prazos mais longos e com ritmo bastante lento, tanto em relação à formação inicial, nas escolas de preparação

de docentes, quanto em relação à formação continuada”. Já os fatores de segunda or-dem, os que estão ligados ao contexto em que se pratica a docência, Andrade (2011; 2012, p. 75) diz:

Os fatores de ordem contextual di-zem respeito a fatores que podem desencadear nos professores senti-mentos negativos e de tensão com relação à sua prática cotidiana. Os fatores principais são aqueles que interferem na prática direta do do-cente como, por exemplo, as condi-ções de trabalho, ou seja, o contexto em que se exerce a docência.

Encontramos divergências no autor com re-lação a Esteve (1999) quanto à caracteriza-ção dos fatores que indicam mal-estar na ca-tegoria docente. Para Andrade os fatores que desenvolvem sentimentos negativos são os contextuais e evidencia os fatores principais como aqueles que incidem diretamente so-bre a ação do professor. Entretanto, os auto-res concordam a auto-respeito dos fatoauto-res princi-pais, no sentido de estarem eles, associados à concretude do desempenho docente. Não estando este ligado a subjetividade, como pode ser observado na citação, quando o autor conceitua os fatores contextuais.

Acreditamos que independente de qual seja, são problemas cuja solução não estão ao alcance, nem depende do desejo dos professores. Estão além de suas possibilida-des por serem de caráter estrutural. Nesse contexto das fontes desencadeadoras de mal-estar docente, partimos do seguinte questionamento para nossos pesquisados:

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mal-140

-estar docente no desenvolvimento do seu estágio? A partir dessa provocação, vários

foram os fatores evidenciados nos discursos. Os mesmos pelas semelhanças foram agrupa-dos e dispostos em duas subcategorias, que mediante arcabouço teórico de Esteve (1999) e com base em suas ideias por demonstrar a nosso ver uma base teórica mais consistente, nomeamos de Fatores Principais e Fatores Contextuais.

Dessa forma, uma vez explicitado em que consiste cada fator e, por conseguinte cada subcategoria, demonstraremos a seguir os discursos proferidos por nossos analisados que foram organizados em suas respectivas subcategorias. Por antemão, como forma de sim-plificar os dados coletados e propiciar um melhor entendimento, evidenciaremos por meio do quadro 1, o número de vezes em que cada resposta se repete e o percentual que cada subcategoria representa.

QUADRO 1: As fontes geradoras de mal-estar docente no contexto analisado.

Fatores Principais Nº de vezes Fatores Contextuais Nº de vezes

A supervisão do estágio 1

Desinteresse dos alunos 2 Indisciplina 2 Ausência dos pais no

acompanhamento escolar 3

Percentual 25% Percentual 75%

Fonte: Dados coletados no desenvolvimento da pesquisa.

Podemos inferir que a dimensão dada às fontes de mal-estar no contexto escolar analisa-do é subjetivo a cada estagiário, uma vez que cada um demonstrou os fatores com base na sua vivência laboral pessoal. Entretanto, devemos frisar que os aspectos subjetivos são produzidos a partir da realidade objetiva ao qual cada indivíduo está inserido, por isso as experiências pessoais são determinantes. Ainda com relação aos indicadores de mal-estar evidenciados, podemos observar que o aspecto “família”, na visão da maioria dos partici-pantes, é o que se configura como o maior indicador.

Os fatores de mal-estar evidenciados nos discursos vão ao encontro dos resultados da pesquisa de Andrade (2012), onde o autor também evidenciou a indisciplina e o aspecto familiar como os indicadores mais evidentes como fator de mal-estar na docência. Com relação a esses aspectos, Esteve (1999, p.33) os inclui no que ele chama de “modificação do apoio no contexto social”. Com relação à indisciplina, na concepção do autor, os pais há alguns anos atrás se esforçavam para ensinar os filhos o sentido da disciplina e de-monstravam o apoio pessoalmente diante do menor conflito.

Contrapondo-se ao que vemos atualmente, são frequentes as queixas dos professores no sentido da despreocupação dos pais ou responsáveis diante das crianças. Percebemos prin-cipalmente no âmbito da escola pública, que os adultos responsáveis despreocupam-se

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em imbuir em suas crianças valores mí-nimos, por crerem que cabe ao professor exclusivamente esta função, julgando às vezes o docente pela má educação dos alu-nos. Encontramos respaldo para essa afir-mação nos estudos de Esteve (1999, p.33) nos quais afirma, por exemplo, que os pais estão dispostos “a culpar os professores, co-locando ao lado da criança, como o último álibi de que no final das contas, se o filho é um mal educado a culpa é do professor que não soube educá-lo”.

Com relação à ausência de estímulo e a fal-ta de atenção do alunado, sem dúvida estes podem ser vistos como um indicador de mal-estar docente, uma vez que são rele-vantes para a aprendizagem e, por conse-guinte, para obtenção dos objetivos que o docente espera atingir como resultado do seu trabalho. No geral, esta categoria nos possibilitou apreender os fatores causado-res de mal-estar no grupo em análise. Des-ses, podemos dizer mediante as análises e conforme os enfoques de Esteve (1999) que 25% dos fatores proferidos pelos pesquisa-dos estão no grupo pesquisa-dos Fatores Principais e 75% estão nos Fatores Contextuais.

Sentimentos revelados pelos estagiários ao frequentar o ambiente escolar e exercer a prática docente

Em um momento que é basilar na forma-ção profissional, o estágio de prática docen-te como pudemos observar pelo discurso de nossos respondentes, foi desenvolvido pela interpretação de mal-estar. Nesta perspec-tiva, nada melhor que apresentar os sen-timentos que foram produzidos e as

con-sequências destes para o prosseguimento da carreira por nossos pesquisados. Assim, partimos com o seguinte questionamento:

Como você definiria o estágio desenvol-vido e as consequências dele para sua ati-vidade profissional no futuro? Todos os

participantes da pesquisa relacionaram o estágio com sentimentos de negatividade, que a nosso ver comprometem a eficácia da atividade. Embora as respostas tenham se estabelecido no mesmo direcionamento, o complemento das mesmas fez com que houvesse a necessidade de subcategorizar-mos os discursos emitidos. Desse modo, agrupamos os discursos em três subcate-gorias: Interesse em continuar na

profis-são docente; Dúvidas quanto ao prosse-guimento na profissão docente e, por fim, Não querer continuar exercendo a profis-são docente.

Entendemos como interesse em

continu-ar na profissão docente, o desejo do

estu-dante e/ou profissionais já formados em permanecer exercendo a atividade de pro-fessor, mesmo com os entraves e desafios inerentes à profissão. Por dúvidas quanto

ao prosseguimento na profissão docente, a

ponderação de quem exerce essa atividade mediante o questionamento para consigo mesmo: Será que estou na profissão corre-ta? Por fim, não querer continuar

exercen-do a profissão exercen-docente, consideramos a

op-ção do indivíduo que exclui do seu campo profissional a possibilidade do exercício da docência mesmo com formação para tal. Assim, a primeira subcategoria descrita é

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representada por 28% dos discursos, nela obtivemos as seguintes respostas:

Passei por muita dificuldade, princi-palmente com relação à disciplina dos alunos. Ainda tenho a intenção de continuar na profissão. (Estagiário 1). [...] foi complicado, eu posso ca-racterizar como um impacto. No campo acadêmico estamos sempre debatendo e estudando grandes pensadores com um pensamento de uma pedagogia libertadora, porém a realidade é um desafio maior ainda. Pretendo continuar na profissão, sei que como professor vou enfrentar muitos desafios. (Estagiário 4).

O Estagiário 1, apresenta as dificuldades vivenciadas por ele, principalmente no que diz respeito à indisciplina dos alunos. Já com relação ao Estagiário 4 seu sentimento é de impacto e chama atenção para o pro-cesso de formação do educador. Podemos inferir pelo discurso do Estagiário 1, que a indisciplina foi um dos principais desa-fios vivenciados por ele. Seu discurso vai ao encontro do que Miranda e Fecchio (2004) discutem em seus estudos, onde os mesmos apresentam a indisciplina como um desafio que deve ser resolvido pelo sistema educa-cional. Entendemos com o discurso do

Es-tagiário 4, a fragilidade da formação dos

educadores na contemporaneidade, onde teoria e prática às vezes parecem divergir e rumar em sentidos opostos. E como conse-quência desencadeia o que o respondente chama de “impacto”.

A categoria definida como dúvidas quanto

ao prosseguimento na profissão docente,

também é contemplada com 28% dos dis-cursos, dessa forma temos:

De natureza complexa, porém dis-posta a aprender mais e mais. Des-crevo as consequências do estágio como satisfatória, mas ao mesmo tempo preocupante. (estagiário 3). Estou desenvolvendo o estágio em uma região carente e por isso, temos que lidar com essas situações com-plicadas. Para ser sincera em relação à profissão ainda tenho muitas dúvi-das. (estagiário 5).

Não podemos inferir explicitamente no dis-curso do Estagiário 3, a dúvida evidenciada nas palavras no Estagiário 5, sobre a ideia de prosseguir no desempenho da ativida-de ativida-de professor. Entretanto, o responativida-dente ao nos apresentar a contradição “satisfeita, mas ao mesmo tempo preocupante” nos faz acreditar na dúvida com relação ao que se é discutido na subcategoria em questão. Por fim, temos a subcategoria não querer

continuar exercendo a profissão docente.

Esta é a categoria com o maior número de discursos, a mesma é contemplada por 44% dos respondentes:

Me senti frustrada com a realida-de[...]. Em momento algum imaginei que a teoria tão bonita que tem a Pe-dagogia, não se conseguia aplicar na prática. Pretendo exercer a profissão, na falta de opção. (Estagiário 2). O sentimento foi de insegurança. Com relação à profissão docente não quero exercer, mas quero trabalhar na educação em outro cargo que seja fora de sala de aula. (Estagiário 6).

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Um pouco apreensivo. Afinal quem está de fora, quando entra, estranha. Pretendo trabalhar em escola, mas em cargos administrativos. (Estagiário 7).

Os discursos aqui reproduzidos asseme-lham-se com os adjetivos negativos expos-tos pelos interlocutores e apresentados ao longo do texto. No entanto, existe o desejo explícito de permanência na educação, no entanto, fora do contexto da sala de aula, como podemos observar na maioria dos dis-cursos. Sobre a relação entre teoria e prática pontuada pelo Estagiário 2, podemos afir-mar que as transformações ocorrem no con-texto político, econômico, social e cultural em ritmo acelerado e isso causa impacto na escola e, por extensão, no trabalho do pro-fessor. Transformações como surgimento de novas tecnologias no processo de ensino e de aprendizagem, o desenvolvimento de novas fontes de informações alternativas às escolas, nova configuração familiar dos alu-nos e o aumento de exigências em relação ao professor contribuem para que ele de-senvolva sentimentos negativos a respeito de suas expectativas sobre a profissão, o que pode impactar negativamente na constitui-ção da identidade docente.

Com relação ao não querer continuar exer-cendo a atividade docente como profis-são, os discursos evidenciados colocam em pauta o que Esteve (1999) e outros autores discutem que é a redução do interesse de pessoas em querer ter a atividade docente como profissão. A seguir, apresentaremos nossa percepção acerca do que foi discu-tido, bem como sugestões para a gestão

educacional do ambiente laboral analisa-do, para que se possa pensar em estratégias para minimizar os efeitos do fenômeno em questão nos professores que lá se encon-tram vinculados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo possibilitou o entendimento das situações, bem como dos possíveis agentes desencadeadores dos sentimentos de mal--estar nos professores em processo de for-mação. A pesquisa serve, ainda, de alerta às autoridades educacionais e à sociedade em geral, pois é necessário compreender que mudanças precisam ser implementadas. É urgente (re)pensar e implementar políti-cas públipolíti-cas no sentido de tentar reverter a problemática que há tempos vem sendo discutida, que é o desinteresse dos indiví-duos em relação ao exercício da docência, devido às condições em que a mesma se apresenta na atualidade.

As situações de indisciplina dos alunos, as-sim como a ausência da instituição familiar no acompanhamento escolar dos discentes apresentadas no estudo como preditoras de mal-estar na docência, fazem com que pen-semos as mesmas como principais focos de mal-estar nos analisados e que com base ne-las, estratégias sejam criadas no intuito de su-perar os desafios apresentados nos discursos. Como sugestão à gestão educacional do contexto analisado, apresentamos com re-lação à indisciplina, a ideia de núcleos de estudos na qual a mesma poderia oportuni-zar aos docentes momentos no horário de

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trabalho, o debate acerca das principais difi-culdades enfrentadas. Isso possibilitaria aos docentes reflexões, discussões em conjunto, permitindo a elaboração de estratégias ou o conhecimento e aplicação de estratégias já usadas por outro colega, como forma de mi-nimizar os efeitos da indisciplina ou qual-quer outra temática que surja e seja enten-dida pelos mesmos como barreiras para o desenvolvimento de suas práticas docentes. Com relação à instituição família e sua res-ponsabilidade ao acompanhamento escolar dos alunos, sugerimos que a gestão busque parcerias com Centros de Referência Espe-cializada em Assistência Social e Conselho Tutelar, com os quais, por meio de seus pro-fissionais, poderá disponibilizar oficinas, palestras, grupos focais ou qualquer outra atividade com temáticas que possibilitem a participação ativa dos pais ou responsáveis. Os dados coletados ainda nos permitem compreender que o fenômeno aqui em de-bate não é inerente apenas à categoria em exercício efetivo. O estudo revela que já está presente desde o período de formação inicial, em especial nas atividades de está-gio supervisionado, sendo a maior conse-quência neste processo o desinteresse em permanecer e ter a atividade docente como futura área de atuação.

Nossa compreensão converge com os es-tudos de Esteve (1999), quando o mesmo afirma que as consequências mais notáveis deste fenômeno é o abandono da profissão docente e/ou absenteísmo trabalhista. Não constatamos pelos dados, mas entendemos que outro fator esteja relacionado ao

mal-es-tar de nossos pesquisados, que é a questão da própria formação acadêmica, da dificul-dade das universidificul-dades direcionarem conte-údos e práticas ao contexto real da escola. Ressaltamos que o objetivo do estudo não é evidenciar os aspectos negativos da ati-vidade docente. Pois, como afirma Lipp (2002), a docência é uma atividade louvá-vel, merecedora de respeito e consideração pela nobre função social de quem a exerce. Nem tampouco culpabilizar indivíduos sin-gulares ou apontar situações isoladas como responsáveis pelo processo de adoecimento docente. Mas, demonstrar que o mal-estar na docência é um problema que toda uma categoria de profissionais está envolta e, por isso, merece ser analisado e consideran-do toda sua amplitude.

Nosso estudo finda com várias inquietudes, que vão desde os elementos que a pesquisa evidenciou, até o processo de formação dos atores aqui analisados, passando por ques-tões de cunho estrutural referente à própria sociedade que, diante de uma crise de pro-porções internacionais, afeta os indivíduos em todas as dimensões.

No entanto, o que ocorre é que nos limi-tamos a procurar culpados e heróis. As famílias apostam na escola; a gestão das escolas coagidas pelos sistemas de avalia-ção externa, impostos pelas agências de financiamento internacionais, pressionam os professores; estes, não tendo a quem re-correr, culpam os alunos por seu desinteres-se e as famílias por não acompanharem a educação dos filhos, sem ao menos se ques-tionarem se os pais estão em condição de

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fazer esse acompanhamento. Enfim, todos imersos em um processo que busca resolver questões verdadeiramente complexas con-siderando apenas elementos superficiais, de caráter imediato, sem analisar as questões de ordem estrutural.

Deixamos de considerar que o indivíduo, no contexto atual, está imerso em um dos mais intensos processos de submissão à ló-gica perversa desta sociedade, que reduz o ser humano a coisas, em geral de pouco va-lor. Esta sociedade exige do indivíduo que ele seja feliz, que tenha sucesso profissional, que seja sempre jovem, sempre bonito e ma-gro, e que consiga atender às exigências de consumo do mercado. A escola, que disputa a atenção das crianças e jovens com as novas tecnologias, continua repetindo o discurso da formação para o trabalho, ou melhor, para o emprego, embora tenhamos

aproxi-madamente 14 milhões de desempregados, muitos, inclusive, com qualificação. Ou seja, a crise da escola é a crise da sociedade. Nesta sociedade, o indivíduo é chamado a dar resposta aos mais diversos problemas, ao tem-po em que é convencido de que apenas dele dependem as soluções. O discurso neoliberal da meritocracia, que culpa os indivíduos por seu sucesso ou fracasso, sem uma análise mais profunda dos problemas postos, arrasta o in-divíduo para um mar de culpas, cujo resulta-do é a autocobrança e o aresulta-doecimento.

Essas são questões que, pelo limite de tempo e espaço, não poderão ser tratadas de forma mais detida, entretanto, reafirmamos nossa pretensão de retomarmos essa discussão em outras oportunidades, uma vez que se tor-nou para nós um desafio dar continuidade e aprofundamento ao debate posto.

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Referências

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