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CAPÍTULO DÉCIMO QUARTO À BUSCA DE UM PROJECTO PESSOAL E PROFISSIONAL III

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Academic year: 2021

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III

º

CICLO: 11

º -

12

º

ANO DE ESCOLARIDADE

0. Premissa

A fase final da adolescência coincide com o IIIº Ciclo do Ensino Secundário ou seja 11º – 12º Ano de escolaridade. É um período em que os alunos adolescentes já deveriam ter algumas ideias claras e distintas sobre o que fazer ou realizar na vida futura do ponto de vista vocacional e profissional. Antes, é uma fase em que devem empenhar-se para responder à profunda interrogação interior: Para onde vou? Ser orientado, saber o que fazer e o que ser na vida é sinal que manifesta uma certa maturidade de pessoa adulta. É nesta perspectiva que pensamos apresentar um quadro operativo e didáctico que vai de acordo com as suas expecta-tivas, aspirações e seus desejos. Por isso, tudo o que pretendemos propor neste capítulo tem a ver, essencialmente, com a “ busca de um projecto de vida profissional”, como realização existencial do indivíduo e que o permite inserir-se na sociedade de forma activa e participati-va.

Embora saibamos que muitas das propostas que serão reflectidas não encontrarão a sua repercussão efectiva, a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” tentará des-pertar nos alunos o maior interesse pessoal em relação a actividades que exigem profissionali-zação e as que são consideradas tradicionalmente de nível inferior para quem tem um nível de formação académica. Entretanto, sabe-se que, segundo o Sistema Educativo, um dos objecti-vos principais da escola secundária é orientar o aluno para a vida activa, ou seja, para a sua inserção social mediante um emprego ou prestação de um serviço social. Sabe-se, porém, que esse objectivo fundamental, no acto prático, acontece bem pouco no sentido de que muitos dos alunos que terminam o Ensino Secundário não estão tecnicamente preparados para assu-mir uma profissão nem psicologicamente se sentem capacitados para exercer as actividades tradicionais. Daí a necessidade de consciencializar os alunos sobre a importância do trabalho na vida do homem e para o desenvolvimento da sociedade. Por isso, é necessária uma forma-ção pessoal capaz de levar os alunos a encarar o trabalho como uma necessidade

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indispensá-vel à vida humana e que merece uma atenção especial independentemente do tipo de forma-ção académica que o indivíduo possua. Neste sentido, cabe à escola consciencializar os alunos sobre a importância das actividades tradicionais, despertar neles os talentos pessoais para se especializarem nas pequenas empresas profissionais conforme as necessidades e exigências do País.

A orientação dos alunos para a formação profissional na escola secundária implica valorizar as actividades sócio-culturais condizentes com a sensibilidade e imaginação da juventude, mostrando não somente os aspectos lúdicos, mas também ajudando-os a com-preender que se trata de acções que merecem ser profissionalizadas como formas de realiza-ção pessoal e social. Portanto, a valorizarealiza-ção da música, dança e desporto não contribui somen-te para o despertar de insomen-teresses nos alunos, mas demonstra igualmensomen-te a qualidade profissio-nal e cultural que essas modalidades têm para a vida dos cidadãos. Pode-se dizer ainda que a busca de um projecto de vida profissional não fecha o indivíduo apenas numa dimensão mate-rial do mundo, antes, é uma formação que deve acompanhar o aluno adolescente no processo de participação activa na sociedade do ponto de vista político e religioso. É importante que a escola apresente os pontos essenciais no seu plano curricular, que permitam uma maior com-preensão do sentido e significado do engajamento social, político e religioso. Trata-se de uma boa forma de aprender como ser cidadão e crente religioso activo na sociedade e na comuni-dade religiosa.

A orientação dos alunos nesta fase mira, também, a uma componente na qual deve culminar toda a sua vida afectiva e sexual, isto é, a constituição de um núcleo familiar. Cabe à escola secundária apresentar aos alunos o valor da família como instituição que contribui para a maturidade do indivíduo em todas as dimensões da sua personalidade, de forma harmoniosa e equilibrada. A formação dos alunos para a família é o melhor contributo que a escola dá aos alunos e a sociedade em geral. Para isso é preciso que haja no seio da escola interesse perso-nalizado no acompanhamento e orientação psico-pedagógica para um verdadeiro discernimen-to vocacional do indivíduo.

Partindo destas e outras considerações, debruçar-nos-emos sobre alguns pontos essenciais, apresentando as linhas que mais caracterizam a necessidade da formação e orienta-ção profissional, sócio-cultural, política e religiosa dos alunos, assim como a sua orientaorienta-ção para a constituição da família e a orientação psico-pedagógica, a fim de poderem realizar o seu projecto de vida do ponto de vista pessoal, profissional, moral e social.

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1. A orientação para formação profissional dos alunos

O plano curricular do Ensino Secundário cabo-verdiano, quer no que se refere a Via Geral quer na Via Técnica, tem o objectivo de capacitar o aluno para um conhecimento de base e para uma ulterior especialização a nível de estudos superiores e de exercitação prática e profissional. Portanto, o aluno que termina a escola secundária não se encontra, tecnicamente, preparado para entrar no mundo de emprego ou de serviço que exige especialização e expe-riência prática. Já foi focalizado anteriormente que é preciso que o Sistema Educativo reveja o plano curricular para dar mais atenção ao desenvolvimento das habilidade, aptidões, compe-tências dos alunos através de uma formação profissional para que eles se sintam qualificados e aptos a exercerem qualquer serviço ao terminar o estudo secundário. Embora não caiba à disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” identificar as áreas de formação profis-sional, pensamos que é oportuno apresentar algumas indicações sobre a utilidade desse tipo de formação operacional de modo que o aluno possa enveredar pela via que mais facilmente condiz com as suas aptidões. Isso demonstra a necessidade de fazer convergir a formação e a educação do aluno numa perspectiva que garanta a integração da sua personalidade e a sua inserção na vida activa.

No decorrer da formação académica dos alunos, é importante que se faça uma refle-xão aprofundada sobre a importância da formação profissional com o intuito de despertar e potenciar os seus talentos e demonstrar que a especialização na área profissional é indispensá-vel quer para a realização pessoal quer para o desenvolvimento da sociedade. Além da impor-tância do ensino profissional, os alunos devem ser orientados na compreensão do valor do trabalho como expressão de realização pessoal, assim como, o serviço que se faz a nível do voluntariado, que merece maturidade, conhecimento e competência moral e espiritual. Sempre na área de formação profissional, cabe à disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” consciencializar os alunos sobre a importância das actividades tradicionais que exi-gem, actualmente, um maior conhecimento e profissionalização. Portanto, a orientação para a formação profissional dos alunos enquadra-se numa dimensão mais ampla do saber e da expe-riência é uma simples manipulação de coisas ou um “saber fazer” de tipo instrumental ou mecânica.

1.1 A formação profissional no Ensino Secundário

As reais necessidades da sociedade actual implicam que o Sistema do Ensino Secun-dário elabore um novo “modelo formativo” e o apresente à nova geração, especialmente aos

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estudantes adolescentes para que possam reflectir com determinação sobre as suas potenciali-dades e aptidões com perspectivas, interesses e motivações, para que possa optar por uma das vias que correspondem às exigências da sociedade e, ao mesmo tempo, se sintam realizados pessoal e profissionalmente. Neste sentido, pode-se dizer que a formação profissional repre-senta um princípio pedagógico capaz de responder às exigências de um pleno desenvolvimen-to da pessoa humana, conforme o acesso específico fundamentado na experiência real e na reflexão em ordem a uma praxis que permite intervir no processo de construção de identidade pessoal1. Para podermos fundamentar essa ideia recorremos aos resultados do estudo feito nas escolas secundárias de Cabo Verde.

De facto, pela forma como os alunos avaliaram os aspectos formativos da escola secundária de Cabo Verde, é fácil perceber que há uma necessidade de orientação e incentivo na área profissional para que eles possam integrar-se na sociedade através de um emprego que é condição básica para perspectivar um projecto de vida no futuro. Conforme os resultados, a média (M) das variáveis gira à volta do “Suficiente” (cf. Tab. 29), e com uma prevalência da preparação dos alunos para estudos superiores (M.3.52). Isso demonstra claramente que os alunos precisam de uma formação que lhes a possibilidade de encontrar um trabalho que, também, lhes garanta a estabilidade na sua convivência social.

Tab. 29: A avaliação dos aspectos formativos da Escola Secundária em Cabo Verde (em % - em M: média ponderada: mínima frequência = 1.00 e máxima = 5.00)*2

1 2 3 4 5

Orientação profissional Fraquí

ssimo Insufi ciente Sufici ente Bom Muito Bom MP

Formação em vista de uma profissão 8,8 18,9 32,1 24,2 12,1 3.12 Valorização das próprias capacidades 7,6 11,1 33,2 27,7 15,0 3.33 Possibilidade de encontrar um trabalho 13,5 20,4 28,6 20,7 13,4 3.00 Preparação para prosseguir os estudos 7,0 8,5 29,3 33,1 20,5 3.52

Partindo dos dados estatísticos, nota-se a necessidade de haver uma proposta efectiva para a revisão do sistema do Ensino Secundário. A nível de propostas achamos que o Ensino Secundário de Cabo Verde, após o Iº Ciclo (Tronco Comum), deve ser equacionado de modo que possa permitir aos alunos prosseguir os seus estudos e entrar no mundo do trabalho mediante a especialização numa área específica. Na área da “formação profissional” a

1

G. MALIZIA, I sistemi di istruzione e di formazione profissionale in Europa. Un quadro sintetico di riferimento, in “Rassegna Cnos” Anno XXI, 3(2005), pp. 19-24, p. 21.

2 * Média ponderada: os valores da M. em escala: 1 = Fraquíssimo; 2 = Insuficiente; 3 = Suficiente; 4 = Bom; 5

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ção dos alunos deve contemplar alguns aspectos que estão na linha das suas expectativas dos mesmos alunos, das empresas e da sociedade. Pensamos que, além do Ensino Secundário e de uma formação de base comum que abranja todos os alunos e permita um conhecimento bási-co, o Sistema Educativo deve contemplar em pé de igualdade a instrução e a formação profis-sional que no entender de G. Malizia3, é preciso ter presente os seguintes objectivos:

– Apostar num ensino sistemático de experiência do desenvolvimento pessoal,

cultu-ral e social, e que não deve ser entendido, apenas, do ponto de vista económico.

– Fazer com que todos os sistemas devem ser abertos e flexíveis colocando o

edu-cando no centro de interesse dando-lhe os conhecimentos e as competências condizentes aos

trabalhos específicos, de modo que seja apto a integrar-se na vida social e no ambiente do trabalho.

– Focalizar sobre a cultura da aprendizagem, partilhada entre as pessoas, as empre-sas, os diversos sectores de economia e o Estado, e capaz de tornar os educandos autónomos e tecnicamente preparados a prosseguirem a própria formação.

– Proporcionar uma formação capaz de criar nos educandos atitudes positivas para

inovação, e de dar conhecimentos e competências para o desempenho das tarefas para a

mudança sócio-cultural do país.

– Estabelecer princípios e valores que garantem uma transição equilibrada entre o

sistema educativo e o sistema produtivo, capaz de proporcionar uma efectiva colaboração

entre as escolas, centros de formação profissional, empresas.

Estes e outros objectivos que poderão, eventualmente, ser acrescentados mostram a importância que a formação profissional deve ocupar na vida dos alunos adolescentes que são interpelados a desafiar uma sociedade cada vez mais exigente, competitiva e apostada na cul-tura do “saber fazer” como algo de prático e concreto para a satisfação das necessidades bási-ca da população. A implementação desse tipo de formação profissional exige a formação específica dos professores, a elaboração de um plano curricular, de estratégias e de metodolo-gia. Trata-se de uma proposta operativa que exige do Estado e dos sectores sociais e privados (empresas, hotelarias, instituições religiosas, associações comerciais etc.) um estudo aprofun-dado capaz de alargar o leque de conhecimentos que abrange várias áreas de formação: cons-trução civil e arquitectura; economia e comércio; agro-pecuário e pesca; hidráulica e electrifi-cação; telecomunicações e informática; recepção e culinária.

3

Idem., p. 20. As características que foram tomadas do artigo, do autor, G. Malizia, reflectem, também, a neces-sidade de perspectivar o sistema educativo cabo-verdiano que é muito próximo do sistema educativo português, sobretudo, numa sociedade que se está a transformar-se progressivamente e cada vez mais aberto à Europa e aos Estado Unidos da América.

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Como se pode constatar há um conjunto de actividades profissionalizadas que exi-gem dos alunos uma formação geral e específica. É importante que o Sistema Educativo cabo-verdiano, através dos seus subsistemas, convença a nova geração de que o “Ensino Profissio-nal” não se baseia apenas num tipo de formação manual e tradicional, mas exige um conhe-cimento teórico e prático (ciência e experiência) tendo em consideração a evolução das novas tecnologias e as exigências que a sociedade impõe. Portanto, além de um enquadramento especializado para a implementação do Ensino Profissional equiparado ao sistema do Ensino Secundário, pensamos ser oportuno apresentar algumas ideias para que a disciplina de “For-mação Moral, Profissional e Social” comece a despertar nos alunos interesses e motivações sobre a importância dum ensino profissional capaz de facilitar os alunos a prosseguirem os seus estudos e a sua inserção no ambiente do trabalho.

1.1.1 A formação profissional é potenciar as competências

A finalidade que a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” pretende no seu plano formativo não é tanto a de oferecer aptidões, competências e habilidades aos alunos, mas sim potenciá-las com as indicações educativas e pedagógicas. Antes, através da forma-ção, cada um estará em condições de descobrir as suas próprias potencialidades interiores tornando-se capaz de se encaminhar para as áreas de estudo superior e profissional que mais se identificam com a sua inclinação vocacional. Os resultados do inquérito indicam que, actualmente, as escolas secundárias não conseguem responder satisfatoriamente às exigências dos alunos. De facto, a média ponderada gira à volta do “Suficiente” (cf. Tab. 30), e um pou-co mais acima de suficiente. (M.3.74).

Tab. 30: A avaliação da medida em que a escola secundária responde às exigências dos alunos (em % - em M: média ponderada: mínima frequência = 1.00 e máxima = 5.00)*4

1 2 3 4 5

Exigências para orientação profissional

Fraquís-simo Insufi -ciente Sufici-ente Bom Muito Bom M.p.

Apoio a superar dificuldades na aprendizagem 7,8 16,5 32,4 24,4 16,8 3.26

Aquisição de uma profissão 7,7 22,4 24,6 24,9 17,3 3.22

Possibilidade de prosseguir os estudos 6,0 6,2 20,4 34,2 26,8 3.74 Desenvolvimento do sentido crítico 12,0 29,5 27,4 20,2 6,3 2.78 Formação ao empenhamento social 8,2 12,5 40,6 24,2 10,7 3.17

4 * Média ponderada: os valores da M. em escala: 1 = Fraquíssimo; 2 = Insuficiente; 3 = Suficiente; 4 = Bom; 5

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Os dados indicados mostram, claramente, que há necessidade de um incentivo que aposte mais na formação pessoal dos alunos com o objectivo de despertar neles as suas apti-dões e habilidades para que se sintam apoiados e motivados no percurso formativo e, sobretu-do, em vista de uma profissão (M.3.22), desenvolvimento do sentido crítico (M.2.78) e de formação ao empenhamento social (M.3.17).

Embora todas as disciplinas tenham como finalidades a orientação profissional dos alunos despertando neles as competências, aptidões, habilidades e reflectividade, cabe à disci-plina de “Formação Moral, Profissional e Social” realçar os aspectos importantes que vão ao encontro das exigências dos alunos. No acto educativo, é importante que o professor da refe-rida disciplina desperte e potencie as competências e as aptidões, tendo mais em consideração as qualidades cognitivas, afectivas, sociais e morais e as motivações dos alunos do que os conteúdos que lhes querem transmitir. E na perspectiva de L. Milani5, o professor deve poten-ciar as competências e as aptidões dos alunos adolescentes fazendo leva sobre as seguintes acções:

– suscitar interesse, alimentar motivações, apoiar os alunos; fornecer conhecimentos e sabe-res de base;

– dispor de materiais e instrumentos para a actuação, verificação, avaliação, autoavaliação; – sugerir pistas de trabalho e reflexões pessoais;

– fazer uso de técnicas e metodologias que permitem o desenvolvimento de autoformação; – deixar que os alunos se interroguem a partir do contexto e daquilo que conseguem produzir como sugestões, solicitações, novidades;

– favorecer conceitualização das experiências formativas e a reconstrução lógica da praxis que tende a individualizar os critérios que orientam à acção.

Não se trata de acções unidireccionais, do professor para o aluno, antes pelo contrá-rio, nota-se que há uma certa dinâmica dando-lhe a possibilidade de interagir e confrontar com o professor e com a classe na qual se encontra integrado. Para que os alunos possam, neste processo formativo, desenvolver as suas competências e aptidões é necessário que se sintam activos, flexíveis e abertos a colaborar e aprender novas habilidades que os podem facilitar no desenvolvimento de uma profissão. Daí a necessidade de incentivar nos alunos o “desenvolvimento do espírito crítico” que na sua avaliação é “Insuficiente” (M.2.78). É a par-tir da disponibilidade e predisposição de base dos alunos, que o professor poderá orientá-los à compreensão da sua formação profissional prosseguindo alguns aspectos fundamentais, sem,

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todavia, esquecer a «formação da identidade pessoal, isto é, do seu ser interior e relacional e capacidade de visão dos valores»6 morais, estéticos e religiosos. Portanto, a formação profis-sional como forma de potenciar competências, aptidões, habilidades e reflectividade deve induzir o aluno a estar em condições:

– de saber: ter a capacidade de análise, reflexão, espírito crítico, criatividade e pensamento divergente, problem solving, a capacidade de elaborar conhecimentos, saber aprender, a capacidade de reconhecer os problemas e de encontrar soluções;

– de saber fazer: que significa pensar de modo estratégico, ser eficaz em relação à finalidade, adaptar-se às circunstâncias, entesourar experiência e estratégias positivas e eficazes;

– de saber ser: isto é, possuir um bom nível de auto-estima e de auto-eficácia; saber simpati-zar; ser colaborador, saber avaliar, conhecer os erros, aprender dos próprios erros; saber aprender com o grupo; ser flexível7.

Neste sentido, o aluno estará em condições de desenvolver qualquer acção que exija dele competência, habilidade e reflectividade. É sobre estes factores que o professor deve insistir, partilhando com os alunos os seus próprios conhecimentos, competências e habilida-des, para que eles possam compreender o sentido e o significado de uma determinada profis-são que desenvolverá futuramente. De facto, o aluno adolescente em formação deverá enten-der que a profissão é, antes de tudo, um modo de ser e de estar na sociedade e, em segundo lugar, é um meio que o permite sobreviver e realizar outras aspirações mais profundas do seu ser.

1.1.2 A profissão como realização pessoal e social

A formação profissional no Ensino Secundário, além do despertar das competências, aptidões, habilidades e reflectividade sobre as próprias acções formativas, deve ajudar o aluno a compreender as finalidades e os objectivos de uma profissão que poderá desempenhar na sua vida futura. Não basta ter competência e habilidade no exercício de uma determinada pro-fissão, é preciso ter outros requisitos pessoais, morais e conhecer efectivamente as reais necessidades da sociedade e do ambiente, e perceber até que ponto uma referida profissão contribui para a plena realização pessoal. Então, cabe à disciplina de “Formação Moral, Pro-fissional e Social” orientar o aluno na reflexão sobre a importância da profissão como

6 Cf. C. NANNI, Formazione professionale e evangelizzazione: un difícile binómio, in “Rassegna Cnos”, Anno

XIX, n. 1 (2003), pp. 11-23, p.14.

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ção pessoal e social, para que ele possa optar por uma determinada profissão, sabendo de antemão que se trata de um projecto através do qual se realiza e presta um serviço ao desen-volvimento da sociedade, independentemente de qualquer remuneração que é, também, um justo benefício para a sua sobrevivência. É bom que o aluno saiba que a profissão é um servi-ço que o indivíduo oferece à sociedade; que cada profissão possui um património de saberes, de métodos e de técnicas que fazem parte da identidade do sujeito profissional; que a profis-são goza de um reconhecimento por parte da colectividade que lhe confere um valor social; por fim, que a profissão exige uma organização de auto-governação que vigie e controle a qualidade de prestação atribuída pelos seus membros8.

Para que o indivíduo possa sentir-se apto a exercer uma profissão após ter tido termi-nado o Ensino Secundário, é necessário, certamente, uma formação geral e específica. Isso implica que o Sistema Educativo contemple, no plano curricular, e paralelamente ao Ensino Secundário, alguns objectivos em concordância com as outras disciplinas, permitindo assim que o aluno escolha uma determinada profissão. Por isso, o ensino dinâmico e orgânico, na linha de D. Nicoli9, deve oferecer algumas direcções:

a) favorecer o acesso à cultura e o sucesso formativo a todos os estudantes adolescentes, especialmente, aos que têm mais dificuldade;

b) delinear um modelo formativo de instrução e formação profissional em pé de igualdade com as escolas secundárias, apostando na cultura do trabalho e na didáctica activa, interdisciplinar e com tarefas reais;

c) criar um entendimento metodológico e organizativo entre organismos formativos;

d) vitalizar a praxis de modo a desenvolver o sistema (orientação, gestão de créditos, certifi-cação).

São propostas que implicam uma reestruturação equacionada do Ensino Secundário para que os alunos possam ter uma concepção positiva de que a escola os prepara para a inserção na vida social. Também, a criação de um novo sistema virado a formação geral e profissional e a consciencialização de que cada aluno deve desempenhar funções segundo as suas aptidões e competências, não conforme os modelos que a sociedade apresenta, é uma forma correcta de apresentar a escola ligada à vida real do indivíduo e da sociedade. Apesar dessa intencionalidade, nem sempre a escola secundária consegue responder às reais

8 L. RONDA, La professione intesa come collettività morale, in F. C. PREVER et. ali. (Ed.), La responsabilità dell’educatore professionale. Etica e prassi del lavoro socio-educativo, Roma, Carocci, 2003, pp. 129-142,

p. 131.

9 D. NICOLI, Un sistema di istruzione e formazione professionale di impronta europeia, in “Rassegna Cnos”,

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tivas profissionais dos alunos. Além disso, nesta nova conjuntura social, é difícil atingir um nível elevado de profissionalidade. Por isso, N. Zanni10 propõe um modelo de aspiração que exige:

– capacidade e orientação para solucionar problemas, aquisição de conhecimentos e capa-cidades inerentes ao ciclo produtivo;

– capacidade de integrar de modo autónomo a própria actividade com a dos outros, em fun-ção das específicas exigências técnico-operativas da situafun-ção na qual se opera;

– atenção não somente virada para a mansão, para a tarefa específica que a pessoa é chama-da desempenhar, mas também, para aquilo que ela faz em relação aos outros, visto no seu significado funcional;

– capacidade de propor soluções alternativas na resolução de problemas reais; – capacidade de colaboração num contexto pluralístico.

São critérios que a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” deve ter presente na orientação dos alunos de modo que eles possam ter uma visão mais ampla e objectiva do seu contexto sócio-cultural, que lhes permitirá enfrentar as dificuldades no cam-po laboral e profissional com sentido real e criativo.

A profissão é um serviço social que cada ser humano deve exercer publicamente na sociedade segundo as suas aptidões (vocacionais e profissionais). Embora tenhamos que apre-sentar mais à frente algumas orientações sobre o trabalho, pensamos que seria oportuno que os alunos tivessem, desde agora, algumas ideias sobre um grande número de profissões. De facto, na pergunta nº 84 do Questionário (cf. Anexo) sobre o que fazer ou qual é o projecto de vida para o futuro, os alunos indicaram um grande número de profissões que lhes poderão proporcionar um emprego na vida social. Na base da quantidade de serviços que os indivíduos podem exercer livremente, e para o conhecimento dos alunos, J. Höffner11 distingue quatro grupos de profissão:

a) O homem espiritualmente activo serve o santo (sacerdotes, religiosos), o verdadeiro (Estudiosos, pesquisadores), o bem (educadores, professores), o belo (artistas). Porém, o indivíduo pode exercer mais de uma profissão.

b) O homem de ajuda social está ao serviço da saúde física e psíquica da humanidade (médi-cos, enfermeiros, assistentes, tutores).

10 N. ZANNI, Professionalità e orientamento, in L. Macario et ali., in L. MACARIO et ali., Orientare educando. Riflessione per genitori, educatori, insegnanti, Roma, Las, 1989, pp. 47-67, p. 65.

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c) O homem de ordem social opera profissionalmente no campo da política, no governo, na administração pública e administração da justiça, no exército na polícia etc.

d) O homem económico põe a disposição os bens materiais de que as pessoas necessitam. No campo de economia pode-se distinguir três sectores:

– o sector primário: produção originária ligada à agricultura e ao minério;

– o sector secundário: produção artesanal e industrial com uso de meios mecânicos, racio-nais e automáticos;

– o sector terciário de serviços: refere-se à planificação, projecção, comercialização dos bens materiais produzidos pelo sector primário e secundário.

Os aspectos realçados sobre as profissões servem de orientação profissional para que os alunos tenham ideias objectivas do contexto para o qual poderão endereçar as suas inclina-ções pessoais. Todavia, o quadro de referência de profissão dos pais dos alunos inqueridos apresenta alguns aspectos que merecem ser tidos em consideração para se compreender as suas razões e motivações na busca de uma profissão. No processo educativo acontece que o professor poderá observar que, às vezes, os alunos se identificam com a profissão dos pais e, outras vezes, rejeitam-na. Por isso, é necessário que haja uma orientação profissional de modo que o aluno não caia no conformismo ou na rejeição. E é fundamental que o professor tenha um quadro de referência sobre o nível de profissão dos pais dos alunos. Conforme os resulta-dos do inquérito efectuado nas escolas secundárias, verificamos que, de facto, 43,4% resulta-dos pais desempenham profissões de nível baixo (pescadores, agricultores, domésticos, frente de alta intensidade de mão de obra); 27,1% de nível médio (negociantes, professores de escalão infe-rior, enfermeiros e funcionários de escalão inferior); 22,9% de nível alto (Funcionários da administração pública de escalão superior, professores de escalão superior, empresários e médicos) (cf. Cap. VII, Fig. 10). Como se pode verificar, há profissões para as quais facilmen-te os alunos se senfacilmen-tem atraídos e que dão uma posição de prestígio na sociedade e há outras que os atraem menos ou quase nada.

É a partir deste quadro de referência, onde a maioria dos pais se ocupa de actividades humildes, que emerge a necessidade de uma orientação dos alunos para uma nova concepção do trabalho. Trata-se de uma orientação que os deve levar a sentirem-se sujeitos activos na construção e realização do próprio projecto pessoal e profissional independentemente do nível da profissão. A importância de uma profissão não depende somente do nível elevado de ins-trução académica, mas também da maneira como o indivíduo se sente realizado e valorizado pela sociedade não tanto por aquilo que faz, mas por aquilo que é e que se exprime no seu modo de operar ou de trabalhar.

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1.2 Educar o aluno para o trabalho e o voluntariado

Os elementos que foram caracterizados à volta da orientação profissional deixam entrever a necessidade de se implementar nos liceus cabo-verdianos uma nova consciência sobre a utilidade da escola na vida dos alunos e da sociedade em geral. De facto, uma escola que não está em condições de responder às exigências reais e concretas dos alunos e da socie-dade em geral, torna-se fonte de desmotivação e frustração e com baixo nível de rendimento no que tange à aprendizagem e à assimilação dos conteúdos didácticos. Para se prevenir o colapso na educação e formação dos alunos, é preciso apostar seriamente nos elementos que devem fomentar a consciência de que a escola é um espaço propedêutico para a inserção da vida real dos alunos na sociedade. Se por um lado é preciso que haja motivações intrínsecas para um estudo profícuo, doutro lado, pensamos que um bom resultado depende, também sobretudo, dos objectivos e das finalidades que os alunos do Ensino Secundário preconizam para si mesmos, ou seja, para a sua realização pessoal.

Embora caiba a todas as disciplinas o papel de orientar os alunos para a vida futura, a disciplina de “Formação Moral, Profissional” deverá sensibilizá-los mediante experiências concretas do voluntariado e do trabalho. Antes de qualquer experiência no terreno ou extra-escolar, é aconselhável que cada disciplina habitue os alunos a planificar o seu plano de traba-lho individual e no grupo, a participar na gestão e funcionamento da escola. Nesta mesma linha, é aconselhável que a escola crie internamente um conjunto de actividades pró-sociais, capazes de alimentar nos alunos o gosto, o entusiasmo e o interesse pelo trabalho, enquanto factor que exprime e atira a atenção para o seu futuro engajamento na vida social.

A orientação dos alunos para a profissão e trabalho é, essencialmente, expressão de um acto educativo. É a partir deste princípio que a escola deve contribuir para demonstrar que não se trata somente de meios de subsistência, mas também instrumentos de auto-afirmação, de reconhecimento social, de independência em relação aos outros (familiares) e, ao mesmo tempo, é expressão de um serviço em prol dos outros. Portanto, o aluno que se encontra na terceira fase da adolescência deve ter a consciência de que a profissão e o trabalho represen-tam um modo específico da sua personalidade na actuação da maturidade pessoal, isto é, da segurança e da identidade que se desenvolve através do papel social definido e produtivo12. Portanto, ajudar o aluno a descobrir o sentido e o significado do trabalho e do serviço de voluntariado implica ajudá-lo a encontrar sentido da sua vida quotidiana através do desenvol-vimento da consciência da sua capacidade de assumir a responsabilidade e as consequências

12 Cf. L. MACARIO, La scelta di vita e la professione, in N. GALLI (Ed.), Vogliamo educare i nostri figli, Milano,

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das suas acções, enquanto, expressões do seu modo de ser, pensar e agir. Além destas consi-derações, podemos apresentar alguns pontos operativos que permitem aos alunos orientarem-se para o exercício do trabalho e do voluntariado.

1.2.2 A formação do aluno para o trabalho

A apresentação de algumas linhas de orientação sobre a formação dos alunos para o trabalho tem como objectivo a conciliação entre os dois aspectos, porque, muitas vezes, cons-ciente ou inconscons-cientemente o modelo sócio-educativo e formativo contribuiu para a separa-ção entre a educasepara-ção intelectual e a educasepara-ção manual. Do ponto de vista sócio-cultural, na sociedade cabo-verdiana, o trabalho manual foi sempre reservado para as pessoas que não têm um nível de escolaridade secundária ou superior. Por isso, certas actividades tradicionais não tiveram grande desenvolvimento do ponto de vista económico e profissional. São constata-ções que induzem a escola e seus agentes a repensarem a formação profissional dos seus alu-no, colocando a tónica sobre o tema da importância do trabalho, porque a eliminação de certas posições e preconceitos exige educação e formação de base. Educar os alunos para o trabalho não implica levá-los a exercer materialmente um determinado serviço manual ou intelectual, mas despertar neles o sentido e o significado do trabalho na vida da pessoa humana e a neces-sidade da formação para o desempenho de um trabalho que, ao mesmo tempo, exige uma formação profissional específica.

Embora a maioria dos alunos do Ensino secundário seja totalmente dependente dos pais, os resultados estatísticos mostram que somente 6,2% dos alunos andam a trabalhar (cf. Cap. X, Fig. 35). E as razões que estão por detrás disso são de natureza pessoal e económica. Assim, muitos pensam que trabalhando estarão mais aptos para construir o seu futuro (31%), ao passo que outro, trabalham para ajudar a família a suportar as despesas (29,6%), conforme os dados indicados no capítulo X, Tab. 49. Além das razões que os alunos apresentam e que os motivam a trabalhar, seria conveniente que o professor partisse dos significados que os alunos atribuem ao seu modo de trabalhar. A educação para o trabalho não depende somente daquilo que se quer ensinar objectivamente, mas da percepção e da experiência empírica e racional ou intencional que o aluno tem sobre o trabalho. Precisamente, porque a razão de fundo é sensibilizar a todos no sentido de interiorizarem o trabalho como um valor, conforme foi já foi explicitado na II Parte deste estudo e que agora tentaremos enquadra numa dimensão eminentemente pedagógica e didáctica. Conforme os resultados, o trabalho tem um significa-do ético-relacional, económico e um incómosignifica-do pessoal (cf. Tab. 31).

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Tab. 31: Os alunos atribuem o significado ao trabalho

(em % - em M: média ponderada: máxima frequência = 1.00 e mínima = 3.00)*13

1 2 3

Significado

Muito Pouco Nada MP

Ter responsabilidade 71,8 11,3 0,0 1.14

Dá satisfação 33,8 36,6 11,3 1.72

Ético-relacional

Encontrar os amigos 9,9 42,3 28,2 2.23

Ajudar minha família 70,4 15,5 1.4 1.21

Independência e autonomia económica 33,8 36,6 12,7 175

Económico

Aprender uma profissão 52,1 21,1 8,5 1.47

Preocupação 31,0 29,6 22,5 1.90

Incómodo pessoal Cansaço 23,9 39,4 22,5 1.98

Tendo em consideração algumas ideias básicas do autor, J. Höffner 14, o quadro de referência que apresentamos pode deixar alguns pontos de orientação sobre o significado do trabalho humano para a formação profissional dos alunos.

a) A dimensão ético-relacional: na perspectiva dos alunos do Ensino Secundário o trabalho é visto como algo que dá muito responsabilidade (M.1.14) e satisfação (M.1.72) às pessoas que exercem uma determinada função para o seu bem pessoal, familiar e social. Cabe à escola cultivar nos alunos o verdadeiro sentido e significado do trabalho na sua vida exis-tencial, para que saibam compreendê-lo como factor de coesão social e não como meio de divisão, de dominação e exploração do homem pelo homem. Neste sentido é importante que o aluno aprenda que o trabalho humano comporta algumas características de base:

– O trabalho como uma necessidade: é fundamental para a sobrevivência e o cresci-mento integral da personalidade de cada indivíduo. E do ponto de vista educativo o aluno deve perceber-se como um ser pobre, nu, inseguro nos seus instintos e essencialmente orien-tado para acção como forma de sobreviver. Portanto, a conservação de si mesmo, da própria espécie e da sua vida cultural depende essencialmente do seu trabalho intelectual, manual, social, religioso.

– O trabalho como auto-desenvolvimento do homem: no que toca ao aspecto relacio-nal, embora seja pouco relevante, os alunos acham que através do trabalho o indivíduo rela-ciona-se com os outros e cria laços de amizade (M.2.23). Além desta componente, o aluno deve encarar o trabalho não como algo que se faz ou um simples fazer, mas como uma sua

13 * Média ponderada: os valores da M em escala: 1 = Muito; 2 = Pouco; 3 = Nada 14 Cf. J. HÖFFNER, La dottrina sociale cristiana…, pp. 119-125.

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auto-expansão. De facto, o indivíduo desenvolve-se intelectual, psico-físico e culturalmente através do seu trabalho. Com o seu trabalho o homem desenvolve-se e torna-se si mesmo, antes, «torna-se mais homem»15. Cabe à escola ajudar os alunos a consciencializarem das suas faculdades de conhecer, querer e operar de forma criativa no seu ambiente social e cultural.

b) A dimensão económica do trabalho: os alunos atribuíram ao trabalho um signifi-cado eminentemente económico. Daí a necessidade de dignificar o trabalho do ponto de vista salarial para que os alunos possam encarar o trabalho como um meio que, de facto, resolve a precariedade e a indigência económica de muitas famílias na sociedade. Não basta apresentar uma especulação filosófica e moral dizendo que o trabalho intelectual e manual devem ser considerados inseparáveis, mas é preciso que os alunos vejam a equidade remunerativa entre um e outro como forma de incentivá-los a aprender uma profissão, sabendo que lhes dão garantia de sobrevivência. Além destas considerações, o aluno deve perceber que o trabalho, contribui também para transformar, renovar e melhorar as situações humanas e sociais. É nes-te sentido que o aluno deve considerar alguns aspectos fundamentais do trabalho como uma intervenção humana no mundo para a sua perfeição e para o bem da família humana:

– O trabalho como transformação e domínio do mundo: o homem possui um domí-nio natural de conhecer e de tirar benefício das coisas presentes no universo. A formação dos alunos neste sentido implica a apresentação duma imagem positiva do universo, o que exige invenção e criação de meios para tirar algo de bom para a sua sobrevivência. Faz-se uso da natureza para a sobrevivência e não para a exaltação orgulhosa da sabedoria humana. A inci-dência da acção humana na natureza é justa na medida em que ajuda a pessoa a libertar-se de tudo aquilo que de uma forma ou de outra a torna escrava das coisas e da própria sociedade. É neste sentido que se deve apostar na formação de uma nova mentalidade de que o trabalho manual e o trabalho intelectual, cultural e religioso contribuem inseparavelmente para a sobrevivência da humanidade: quem está no escritório (emprego) e quem está no campo (tra-balho) contribuem em pé de igualdade para o desenvolvimento e sobrevivência da população. Cabe à formação profissional dos alunos lutar contra os preconceitos a que o trabalho manual está sujeito entre os que não têm o nível de escolaridade (antigamente pertencia aos escravos e trabalho intelectual era para os letrados).

– É importante que os alunos encarem o trabalho como um meio significativo para o

sustento da família (M.1.21). Além de outros factores que contribuem apara diminuição

quan-titativa de núcleos familiares na sociedade cabo-verdiana, pode-se dizer que a falta de um trabalho seguro e estável tem a sua quota-parte nesse retrocesso. A orientação dos alunos para

15 GIOVANNI PAOLO II, Laborem exercens. n. 9, in “Enchiridion delle Encicliche” Vol. 8, Bologna, Edb,

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o trabalho não significa simplesmente despertar neles atitudes positivas, mas sensibilizar o Estado e a sociedade em geral para que criem condições favoráveis para que, através de um trabalho estável e bem remunerado, o indivíduo possa pensar no seu projecto de vida familiar. Por isso, é natural que os alunos concebam o trabalho como forma de se sentirem independen-tes e autónomos economicamente (M.1.75) para poderem realizar as suas aspirações e desejos primários e secundários.

– Os alunos do Ensino Secundário encaram também o trabalho como um meio de

aprender uma profissão (M.1.47). De facto, eles têm a consciência de que para ser

profissio-nal não basta ter um título de estudo (saber) é preciso que saiba exercer uma profissão especí-fica (saber fazer). Portanto, a profissão social faz do «trabalho um instrumento concreto, com o qual, cada um contribui para o bem-estar da comunidade»16. Neste sentido, os alunos deve-riam ser orientados a compreender o trabalho não como um mero esforço físico, mas uma forma de consolidar o seu próprio conhecimento.

c) Educar para a superação dos incómodos do trabalho: há uma visão pouca positiva do trabalho por parte dos alunos, que deve ser ultrapassada através da educação e formação e não através da especulação ideológica e espiritualista. É normal que haja uma percentagem relativa de alunos que percebem o trabalho com algo que causa preocupação (M.1.90) e

can-saço (M.1.98). A partir destas constatações verificamos alguns outros significados de fundo:

– O trabalho como purificação: certo é que qualquer trabalho, material ou espiritual, comporta fadiga, cansaço e sofrimento. O fruto do trabalho do homem exprime todo o seu esforço físico, intelectual, sentimental e, por conseguinte, exprime a bondade do seu pensar e do seu agir. O homem sacrifica-se pelo trabalho para o seu bem e para o desenvolvimento da sociedade e do mundo. Portanto, o trabalho comporta um sacrifício pessoal e social, desde que não seja por imposição, exploração e escravatura, visto que contribui para ajudar o homem e a sociedade a se liberarem da indigência e precariedade. É importante que o aluno compreenda que o cansaço do trabalho não é uma maldição, mas uma expiação, no sentido de que exprime a própria condição humana que deve labutar, através do trabalho, para vencer os sentimentos que levam à passividade, indolência e preguiça. A concepção do trabalho como expiação leva o aluno a ter consciência de que é importante ser colaborador um do outro para o alívio dos males, das frustrações e dos sentimentos negativos mediante cooperação laboriosa e activa. Assim o trabalho torna-se ocasião de partilha, de coesão humana e social e não motivo de desagregação e divisão entre os homens.

– A dimensão transcendental do trabalho: o aluno deve ser orientado a compreender que o trabalho não fecha o homem numa dimensão activista do saber fazer e de produzir bens.

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O homem colabora com o Criador de todas as coisas para o aperfeiçoamento da natureza. Através do trabalho o homem anuncia o futuro de um novo mundo, enquanto exaltação do poder divino e misterioso implícito nas actividades humanas. O homem é criado não só para dominar, utilizar e inventar coisas, mas para transcender a materialidade das suas acções e do mundo para um Bem Supremo que é o Senhor de tudo e todos.

Ainda nesta perspectiva de formação para o trabalho, é preciso que o Ensino Secun-dário acompanhe as exigências e as necessidades do tempo actual, para poder apresentar um programa curricular capaz de facilitar e preparar os alunos para um novo embate laboral. Nos resultados estatísticos, constatamos algumas competências em que a escola secundária deverá insistir para que os alunos tenham bom conhecimento e sejam habilitados a desempenhar quaisquer actividades sociais. Os dados apontam para três grupos de competências: domínio das línguas oficiais e estrangeiras; computorização; habilidades pessoais e relacionais (cf. Tab. 32).

Tab. 32: Os alunos apontam as competências exigidas para poder encontrar um trabalho (em %)

Competências Total

Escrever e falar o português correctamente 61,8

Domínio das línguas Escrever e falar - segunda língua estrangeira 42,4

Saber utilizar os programas do computador 38,7

Computorização Saber navegar na Internet 23,3

Capacidades comunicativas e relacionais 26,8 Ser flexível às mudanças e à aprendizagem 22,2

Saber trabalhar em grupo 23,6

Disponibilidade à autoformação 17,6

Habilidades Relacionais

Ter o sentido do dever 12,4

Portanto, na educação dos alunos para o trabalho, a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” vai instar com os alunos na assimilação destes aspectos para o desen-volvimento das suas competências. Então podemos apresentar as seguintes considerações:

a) O domínio das línguas oficiais e estrangeiras: para competir com o mundo do tra-balho, é preciso que o aluno não se limite a aprender as noções elementares das línguas estrangeiras (Francês, Inglês, Espanhol, Italiano), mas que saiba dominá-las em termos de escrita e conversação. Além da língua oficial, o Português (61,8%), os alunos acham que a aprendizagem (escrever e falar) de uma segunda língua (42,4%) constitui um instrumento indispensável para poder encontrar um emprego ligado a negócios, hotelaria, companhias e empresas internacionais.

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b) A prática de computorização: na era da informatização tecnológica todos os servi-ços tendem a ser informatizados. Daí a necessidade de aprender o uso do computador e da exploração do Internet. Uma percentagem dos alunos está consciente de que a competitivida-de para o emprego exige competitivida-de todos um maior esforço e conhecimento da informática. Isso demonstra que as actividades humanas estão assumindo cada vez mais uma conotação no pla-no de globalização económica e cultural, exigindo mudança de mentalidade e uma maior con-corrência na produção e na comercialização dos produtos.

c) As habilidades relacionais: embora essas competências não sejam apresentadas como relevantes, a formação profissional dos alunos não pode negligenciar um conjunto de características que são fundamentais no desempenho das actividades laborais: capacidade comunicativa e relacional; flexibilidade mental e predisposição para a aprendizagem; coope-ração no trabalho de grupo; formação permanente e autoformação; responsabilidade e sentido do dever. São componentes que tornam o individuo não um simples técnico, mas também humano no seu modo de trabalhar.

Após estas linhas de orientação dos alunos para o trabalho, achamos conveniente realçar alguns aspectos importantes sobre as actividades humanas que, tradicionalmente, são consideradas de nível secundário. É preciso que a formação profissional valorize as activida-des manuais para que os alunos tenham uma imagem positiva e ganhem gosto e entusiasmo por uma formação nessa direcção, quer para o seu bem quer para o bem da sociedade.

1.2.1 Orientar o aluno para o voluntariado

Antes de apresentarmos algumas orientações sobre o trabalho, vamos evidenciar alguns aspectos sobre o serviço do voluntariado na sociedade, com a finalidade de orientar os alunos para essa tão nobre tarefa que espelha o desenvolvimento da sua capacidade de doar-se aos outros e, ao mesmo tempo, de perceber o valor das suas próprias actividades como expressão do seu modo de ser pessoa com os outros e para os outros. Embora 43,7% da popu-lação estudantil apontem para o voluntariado como um comportamento apreciável, somente 11,2% dos alunos se dedicam a actividades de voluntariado durante o seu tempo livre (cf. Cap. IX, Tab. 44a e Tab. 29a). São dados que revelam, por um lado, uma predisposição dos adolescentes e, por outro, a necessidade de orientá-los para um desempenho efectivo desse serviço na sociedade cabo-verdiana.

Cabe à disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” traçar as estratégias, os métodos de acção e os sectores de intervenção para que os alunos possam entender que o

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voluntariado não é um simples fazer algo para os outros, mas um estar com os outros coope-rando de modo que o voluntário e o beneficiado se sintam realizados como pessoas que vão à busca de melhorar a própria situação de vida pessoal e social. Não há dúvida que no contexto social cabo-verdiano os fenómenos de marginalização (crianças abandonadas, idosos solitá-rios, doentes e deficientes), de pobreza económica e cultural (indigências individuais e fami-liares) são bastante visíveis e exigem um serviço subsidiário para solucionar essas lacunas, muitas vezes não contempladas pelo Estado. Educar os alunos para o serviço de voluntariado não significa cultivar neles um espírito assistencialístico, mas incentivar uma consciência crí-tica e “polícrí-tica”, no sentido lato do termo, para que possam intervir sobre as causas que geram os fenómenos de marginalização e pobreza económica e cultural e não somente cuidar ou sanar os efeitos dos males que afligem os cidadãos17.

Criar um espírito de voluntariado crítico e formado implica, antes de tudo, saber colocar no centro de todas as actividades e de todos os interesses pessoais e sociais a pessoa humana na sua integridade, independentemente das suas condições e situações de vida, que a fazem sofrer, sentir-se solitária e esquecida. Portanto, ser voluntário significa ser solidário com a pessoa que sofre, participando, colaborando na busca de uma solução capaz de pôr ter-mo às causas da precariedade pessoal e social. Daí a necessidade de uma formação de base para que os alunos estejam em condições de compreender o sentido profundo do voluntariado e não uma simples prática sentimental ou emocional de um momento ocasional. Antes, é pre-ciso que os alunos sejam esclarecidos que o voluntariado não é um serviço que se faz somente em grandes ocasiões ou eventos acidentais, mas é uma opção de vida que faz parte do meca-nismo estrutural da sua personalidade. E do ponto de vista educativo, a actividade voluntária implica a interiorização de valores, modelos de comportamentos que permitem ao indivíduo entrar em relação com os necessitados, fazendo o bem, que é expressão de uma personalidade integrada. A assimilação de atitudes comportamentais e de valores que fazem do indivíduo um ser voluntário implica alguns aspectos formativos:

a) A competência profissional: isto é, a capacidade de desenvolver materialmente um serviço. Isso implica ter um conhecimento básico segundo as áreas de intervenção: doentes (noção e enfermagem), deficientes (fisioterapia), idosos, crianças e adolescentes (animação sócio-cultural – jogos de entretenimentos, música etc.). A diferença entre um voluntário e profissional consiste mais na base de gratuidade e disponibilidade que não na competência ou incompetência.

17 Cf. A. GRAMIGNA, Manuale di pedagogia sociale. Scenari del presente e azione educativa, Roma, Armando,

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b) A preparação política, ou seja, a capacidade de instaurar a intervenção directa sobre as pessoas num quadro mais alargado do mundo sócio-económico-político, particular-mente no quadro de serviços sociais. O voluntário deve estar em condições de conhecer o ambiente de marginalização e saber interpretá-lo, superando o risco de fechar-se num único sector de serviço. Trata-se, efectivamente, de um serviço que deve abranger outros sectores para uma maior sensibilização da opinião pública. É bom que o voluntário seja informado sobre a legislação que se interessa das situações marginais.

c) As motivações humanas e espirituais do voluntariado: o voluntário não é um agen-te passivo ou mecânico do serviço que faz, anagen-tes, deve conhecer as razões profundas do seu operar, e estar em condições de avaliá-lo criticamente. Exige capacidade de analisar o seu serviço do ponto de vista humano e, se o voluntário for crente, deverá confrontar-se com os princípios morais e religiosos que determinam e dão sentido às suas actividades caritativas18.

Estas características mostram que a orientação dos alunos no sentido de se dedicarem ao serviço do voluntariado deve ser enquadrada dentro de um contexto que visa a colectivida-de dos sujeitos, as organizações, as associações e os movimentos que colectivida-desenvolvem acções que abrangem as vítimas e as zonas marginalizadas ou rotuladas. Nesse sentido o voluntariado é concebido como um serviço não de um indivíduo particular, mas de um grupo capaz de coa-dunar recursos individuais e colectivos para fazer frente aos fenómenos que afligem as pes-soas e as comunidades territoriais em geral19. O que interessa na formação dos alunos, é a compreensão deste serviço como um instrumento relacional e de reciprocidade que lhes per-mite realizarem-se como pessoas, instaurando uma rede de relações interpessoais para o desenvolvimento social e adquirindo maior consciência da sua intervenção social como con-tributo para o desenvolvimento humano, solidário, moral e espiritual dos cidadãos.

Educar o aluno para o serviço de voluntariado não significa dar ordens e apresentar aquilo que deve ou não deve fazer, mas sim despertar nele um estilo de vida caracterizado pelas atitudes de gratuidade, respeito, partilha, diálogo, reciprocidade e promoção de espírito altruística. São valores que devem criar nos alunos uma nova mentalidade de serviço do voluntariado e que poderá contribuir, também, para um bom exercício das suas funções pro-fissionais. Nesta perspectiva, a educação ao serviço de voluntariado tende a revitalizar nos alunos o espírito de reciprocidade, no sentido de que os ajuda a viver as relações interactivas, isto é: «quem “dá” deve ser educado, ao mesmo tempo, a “saber receber”, e aquele que “rece-be” deve ser educado contemporaneamente a “saber dar”»20. O aluno educado e formado

18

Cf. CARITAS ITALIANA, Volontariato. Condivisione e liberazione, Roma, Caritas Italiana, 1978, pp. 53-54.

19 Cf. L. TAVAZZA, Volontariato e solidarietà, Torino, Sei, 1991.

20 V. PIERONI, Volontari «perché». Dalla «pedagogia dell’alterità» paradigmi e paradossi, in “Orientamenti

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te sentido acabará por perceber que qualquer acção solidária e recíproca na vida é sempre uma ocasião de crescimento pessoal a nível de reciprocidade. Antes, é um tornar-se rico de huma-nidade para poder humanizar todo o ambiente em que se onde vive como pessoa que sabe dar e sabe receber. Portanto, a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” deve insistir sobre os temas de solidariedade, partilha e participação para que os alunos tenham uma visão mais alargada do serviço de voluntariado e que os leve a uma verdadeira descoberta do seu projecto de vida pessoal e profissional.

1.3 A valorização das actividades manuais-profissionais

Na perspectiva de orientar os alunos para a formação profissional, a escola secundá-ria podesecundá-ria promover actividades de reflexão sobre as diversas áreas dos trabalhos manuais como forma de consciencializá-los sobre a importância que os produtos têm para a sobrevi-vência e melhoramento das condições de vida humana na sociedade, assim como, para desper-tar neles interesses para se profissionalizarem nas áreas ligadas ao trabalho produtivo. Além das actividades generalizadas e apresentadas pela escola, cabe à própria disciplina de “Forma-ção Profissional e Social” apresentar temas de estudo e reflexão sobre a valoriza“Forma-ção das acti-vidades manuais. Através dessa formação, os alunos acabarão por ter a consciência de que estão numa sociedade com fracos recursos materiais e, ao mesmo tempo, tem uma potenciali-dade de recursos humanos, em termos quantitativos, superior às expectativas de um emprego, isto é, uma actividade intelectual ou serviço administrativo.

A grande interrogação que se deve colocar à juventude estudantil que se encontra na busca de um projecto de vida e profissional seria: como ocupar profissionalmente os jovens que terminam o Ensino Secundário, Ensino Médio e Ensino Superior num país com poucos recursos materiais e com fraco investimento nas áreas de infra-estruturas? É a partir desta questão que, em nosso entender, o Sistema Educativo deve repensar as estratégias, os métodos e os conteúdos programáticos para o Ensino Secundário, de modo que os alunos sejam prepa-rados profissionalmente e acompanhados progressivamente a entrar no mundo do trabalho produtivo. Esta exigência deverá contribuir para solucionar a grande discrepância entre o nível elevado de escolaridade e o espaço reduzido de emprego na sociedade cabo-verdiana que só contribui para o aumento da exclusão social e minimização das actividades manuais.

Educar os alunos para a formação profissional comporta, antes de tudo, levá-los a fazer uma auto-reflexão sobre a sua própria existência na sociedade e no mundo, para que se convençam da importância dos trabalhos manuais para a sobrevivência e realização de outras aspirações e desejos humanos e espirituais. É fundamental que os alunos percebam que não

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basta ter um título de estudo para inserir-se na vida activa, mas também, uma qualificação profissional numa das áreas do trabalho produtivo. De facto, um aluno intelectualmente pre-parado não só está em condições de qualificar-se numa profissão técnica e manual, como também, poderá gerir racionalmente a sua economia para um eventual investimento, criando fundo de rendimento para a criação de novos empregos.

Estas considerações levam a pensar em formas de revitalizar, transformar e profis-sionalizar algumas actividades ligadas às áreas da agricultura, pecuária, pesca, artesanato,

carpintaria, hidráulica, mecânica, electricidade, construção civil etc. São um conjunto de

actividades que a sociedade cabo-verdiana necessita para fazer frente as diversas demandas. Para que os alunos tenham uma ideia correcta destas e outras actividades, que poderão, even-tualmente, corresponder às suas devidas inclinações, compete à disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” apresentar algumas indicações didácticas, a fim de os sensibili-zar e consciencialisensibili-zar os alunos sobre o valor e a importância do trabalho manual. Preferimos apontar algumas indicações que achamos oportunas e operativas:

a) Orientar o aluno para a valorização das actividades manuais significa, antes de tudo, ajudá-lo a ter um conhecimento das suas próprias inclinações, aptidões, capacidades, motivações, e dos seus próprios valores e interesses. É a partir destas condições intrínsecas que o aluno estará apto para optar por uma profissão ou uma área para a qual poderá qualifi-car-se.

b) É oportuno dar aos alunos a conhecer novas técnicas do desenvolvimento das acti-vidades manuais que, anteriormente, comportavam esforço físico e cansaço. Actualmente, qualquer actividade ligada à natureza (agricultura, pecuária e pesca) e à fabricação e constru-ção exige a utilizaconstru-ção de novos equipamentos tecnológicos e, por conseguinte, implica conhe-cimento e formação na área específica por parte do indivíduo. É aconselhável que o professor da referida disciplina acompanhe e oriente os alunos numa “visita de estudos” nos diversos estabelecimentos de trabalhos manuais ou produtivos presentes na ilha onde está sedeada a escola e, se for necessário, numa outra ilha onde haja um processo tecnológico mais avança-do. No que se refere este ponto, podemos utilizar alguns elementos proferidos pelo G. Serval-li21, que achamos acessíveis para o nosso contexto sócio-cultural e educativo.

– Antes de tudo, há quer ter em conta o objecto de visita: é preciso definir o porquê, o que é e como visitar; estabelecer contactos com os organismos empresariais; documentar-se sobre o assunto que se quer visitar e pesquisar, elaborar esquema de entrevistas ou questioná-rio; organizar trabalho de grupo e dividir as tarefas; prever meios de transporte.

21 Cf. G. SERVALLI, I giovani e l’educazione al lavoro, in N. GALLI, Educazione ai valori nella scuola di stato,

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– Em segundo lugar, é o momento de acção no terreno: entrevista com os trabalhares, os empreiteiros ou empresários sobre uma determinada tarefa profissional; observar e anotar tudo o que se passa no interior do estabelecimento empresarial; pode-se fazer fotografias e filmar, se isso for permitido.

– Por fim, analisar a visita de estudo: trata-se de um exame crítico sobre o desenrolar da visita. Isso permite elaborar de forma sistemática os materiais recolhidos e criar fichas de documentação; implica classificação e enquadramento dos dados por escrito, em gráficos, tabelas, diagramas, lineares ou circulares, esquemas, organigramas, reportagens fotográficas; verificação dos resultados em base dos objectivos estabelecidos.

c) Pode-se, também, convidar diferentes trabalhadores e empresários a apresentarem aos alunos das escolas secundárias as suas experiências, habilidades, competências, motiva-ções e satisfação moral e profissional dos seus trabalhos manuais. É aconselhável suscitar debates para que os alunos possam melhor interiorizar as experiências e os conhecimentos.

d) A elaboração de temas, entrevistas e pesquisas sobre os trabalhos manuais contri-bui para despertar nos alunos a curiosidade e orientá-los para a qualificação e valorização dos mesmos. Trata-se de uma actividade capaz de levar o aluno a descobrir dentro de si mesmo as suas potencialidades e de fazer um auto-análise sobre a sua eventual aptidão. Para que os temas tenham expressão objectiva, seria oportuno que o professor apresentasse ilustrações audiovisuais, projecção de filmes e documentários sobre as diversas actividades manuais.

e) A orientação dos alunos para a valorização das actividades manuais numa perspec-tiva profissional implica ajudá-los a superar alguns constrangimentos sócio-culturais que por séculos colocaram essas actividades numa posição de inferioridade. Através da educação e da formação da nova mentalidade, é possível resgatar o trabalho manual dando-lhe a sua digni-dade humana, social, moral e espiritual.

Embora a formação profissional seja uma área autónoma das escolas secundárias, o contexto social e cultural cabo-verdiano exige que haja um equilíbrio proporcional para um devido enquadramento de várias áreas formativas e que os alunos sejam devidamente orienta-dos a fazer uma escolha condizente com as suas aptidões e inclinações. Apesar dessa autono-mia, cabe à escola secundária, através das disciplinas e, em particular, a da “Formação Moral, Profissional e Social” implementar no programa curricular as componentes necessárias que exprimam uma “cultura do trabalho” para a formação de todos os alunos. Antes, a cultura do trabalho deve ser entendida como «um conjunto de conhecimentos, habilidades, competên-cias, comportamentos que caracterizam o indivíduo, enquanto, membro de um sistema

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tecno-lógico e social de uma empresa»22, para qual, o aluno deve ser preparado e orientado profis-sionalmente. Portanto, a valorização das actividades manuais é um modo de orientar e formar os alunos para a vida activa e para a sua inserção social e torná-los capazes de interiorizar a conciliação das três características fundamentais: saber; saber fazer; saber ser. A educação e a formação profissional dos alunos não podem eximir-se destas três competências indispensá-veis para o seu crescimento humano, moral, social.

2. A participação sócio-política e religiosa dos alunos

Todos estamos conscientes de que a adolescência é, psicologicamente, uma fase de crescimento crítico e contestatário em muitos aspectos, sobretudo no que concerne à vivência social, familiar, política e religiosa. Por isso, achamos justo que o Ensino Secundário propo-nha no seu plano curricular e, nomeadamente, na disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social”, um tema específico que se ocupe da participação sócio-política e religiosa dos alu-nos adolescentes. Não se trata de imposição de concepções ideológicas ou de doutrinas dog-máticas de um determinado partido político e de uma determinada religião, mas de propiciar um clima de diálogo, de orientação e de acompanhamento para que os alunos tenham uma visão real das modalidades de participação na vida social do País com atitudes de tolerância, cooperação e aceitação recíproca na diversidade de ideias, culturas e religiões. A vivência politica e religiosa espelha, muitas vezes, discrepância, divisão, desunião entre os cidadãos e crentes, mas as finalidades deste tema deve ser vista numa outra perspectiva que aponta para uma maior coesão social e espiritual do país e dos cidadãos. Nesta óptica, defendemos que muitas diatribes, incompatibilidades, incompreensões, rivalidades que acontecem na política partidária e nas religiões ou entre os políticos e a população em geral, têm como causa, de entre outras, a falta de uma formação moral e religiosa de base nos estabelecimentos do Ensi-no Escolar cabo-verdiaEnsi-no.

Na apresentação de um quadro operativo e didáctico sobre a participação sócio-política e religiosa dos alunos, convém que a disciplina de “Formação Moral, Profissional e Social” se ocupe, em primeiro lugar, da importância das associações, enquanto espaço social que pode envolver os adolescentes nas diversas actividades sociais, desportivas e culturais, como forma de prepará-los, profissionalmente, para a sua futura inserção social. Pensamos também que é bom para os estudantes adolescentes ter conhecimentos exactos sobre as ideo-logias dos partidos políticos que directa ou indirectamente conduzem o destino da nação.

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Tendo um conhecimento crítico e objectivo de cada partido e do interesse da nação, o indiví-duo adulto estará em condições de optar, livremente, por uma ideologia política, e de exercer o seu direito de voto como cidadão livre e democrático. Os alunos são, ainda, orientados e informados sobre a sua forma de participação religiosa mediante as suas opções e experiên-cias. São elementos que devem contribuir para que o aluno possa perspectivar o seu futuro social, profissional e religioso com determinação e com recursos necessários para o exercício das suas competências e habilidades humanas, morais e espirituais.

2.1 A orientação dos alunos para as associações

A formação da consciência social dos estudantes é um investimento educativo indis-pensável para o desenvolvimento pessoal e da sociedade, em geral. Sendo a escola considera-da uma representação visível considera-da socieconsidera-dade e um espaço considera-da socialização do indivíduo em fase de crescimento, cabe a ela a função de cooperar com os alunos, a fim de ajudá-los a interiori-zar algumas acções de vida organizada e criar neles uma mentalidade solidária, que os levará a se integrarem em associações que promovem o desenvolvimento pessoal e social. Entende-se por associação «uma colectividade mais ou menos estável, constituída voluntariamente, para atingir um ou mais objectivos complementares ou comum a todos os seus associados»23. Certo é que, mediante a participação na associação, o indivíduo aprenderá as regras do saber agir e conviver, democraticamente, na sociedade. Antes, trata-se de uma componente social que contribuirá para despertar no indivíduo a capacidade de interagir na liberdade e perspecti-var um futuro engajamento em actividades sócio-políticas para o desenvolvimento da socie-dade e do País na democracia e no pluralismo cultural.

A orientação dos alunos para as associações não significa impingir neles os modelos sociais de forma repressiva e categórica, antes, implica aceitar uma exigência natural de cada indivíduo (adolescente-jovem) de organizar-se espontaneamente, reivindicando a sua autono-mia em relação ao demasiado controlo dos adultos24. Além das informações e conhecimento teórico sobre a organização, o funcionamento, os objectivos das associações de jovens e adul-tos presentes no território nacional, cabe ao professor da disciplina de “Formação Moral, Pro-fissional e Social” fazer um levantamento sobre os interesses e as sensibilidades sociais dos seus alunos em relação a essas organizações ou movimentos sociais no país. Pode-se dizer que no seio dos estudantes do Ensino Secundário há uma certa inclinação para o desempenho das

23 P. MONTESPERELLI, Associazionismo, in J. M. PRELLEZO et Alii (Edd.), Dizionario di scienze dell’Educazione,

Torino, Elledici, Las, Sei, 1997, pp. 99-101, p. 99.

Referências

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