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A (des)educação da escrita

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A (des)educação da escrita

Quando perspectivamos o fenómeno da escrita apenas como um valor de linguagem, dado como universal e produto das conjunturas socio-

históricas, estamos certamente a limitar o seu rico e complexo campo semântico. Se escrever é, em grande medida, um acto histórico, fruto de uma aprendizagem formal e da incorporação de um conjunto de signos culturalmente convencionados, é também, mas num outro nível, um acto de

representação e de encenação da linguagem, que é o mesmo que dizer, do sujeito e das formas do mundo que lhe são possíveis de conhecer. Escrever põe então a nu uma janela: olhando a escrita de fora para dentro, vejo-a como um testemunho ou um sinal da realidade que cada um procura prescrever de acordo com o que consegue registar, redigir e descrever; olhando-a de dentro para fora, vejo-a sobretudo como uma acção de inscrição pessoal e de construção crítica da autoridade. A propósito, George Steiner lembra que o simples facto de escrever – "de lançar mão de uma transmissão escrita", como o próprio diz – significa sempre um acto de reivindicação de autoridade, de reclamar para si o estatuto do escrito, seja ele o texto gravado num pedaço de madeira, num papiro ou num livro impresso, ou seja ele um texto canónico ou

magistral: em todas estas situações do escrito há um acto de inscrição que pressupõe o movimento prévio de um autor. É conhecida a imagem do artista gráfico holandês M. C. Escher onde, num papel, uma mão se desenha sobre si, dobra-se, entra a sai do papel, tornando complexa a noção de quem escreve o quê: é a palavra que «me escreve» ou serei eu a escrevê-la? A dupla mão que escreve na ilustração de Escher corresponde ao jogo dialéctico entre escrita e inscrição, ou dito de um outro modo, à tensão entre sujeito e autor. É que no espaço da escrita, pelo acto de escrever, há um sujeito que se escreve, alguém que se conta por dentro de uma narrativa, ao mesmo tempo que escreve e lê o significante do seu projecto de vida. Escrever e

Autor do Artigo Paulo Nogueira

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

Inf. sobre o artigo Jornal "a Página"

Nº 172

Ano 16 | Novembro 2007 Pag. 41

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fazer o texto é portanto um trabalho de justificação da experiência e, recordando Roland Barthes, inaugura sempre uma relação de crise com a linguagem, uma luta, um confronto, um desejo e uma perda. A experiência escolar pela qual praticamente todos nós já passámos um dia é uma experiência que traça e marca as práticas de escrita e a interpretação que delas fazemos. Infelizmente, o processo através do qual se ensina a escrever

assenta mais num aprender a saber fintar os erros de sintaxe do que a saber fruir o texto que se escreve.

A escrita, na Escola, é ainda pouco vista como uma

«inscrição de si», sendo genericamente reduzida à ideia do uso correcto de uma técnica estranha que por imposição cada um entranha. O pouco

investimento da Escola nos modos pessoais de escrita dos alunos é o pouco investimento da Escola nos diferentes modos de se pensar o prazer de recriar os textos na sua ligação com o quotidiano da vida, aí onde as inscrições começam. Fracturar a mera estética naturalista e a fabricação das escritas no interior da Escola é um trabalho de ruptura com o artificialismo da descrição no qual

frequentemente o acto da escrita se torna, isto é, vazio de autoridade e com pouco sentido de experiência. Significa isto que sobre a falta de interesse da Escola por modalidades de escrita livre e expressiva – modalidades que sejam visíveis e duráveis – persistem, no fundo, os grandes preconceitos e estereótipos da linguagem. E para além destes, há ainda os que se fundamentam no argumento da motivação dos alunos, como se estes não fossem «já de si» muito criativos. E todavia, há textos que ninguém nos obriga a escrever, ninguém nos força a decorar, e no entanto sabemo-los de cor, ou "de coração", diria Steiner. Se assim é, para onde apontam hoje as nossas direcções educativas, para o

«escrever inscrevendo-se» ou, por vício, para o subscrever? "Eu sou a frase que estou a escrever", lia-se hoje de manhã, 18 de Outubro, numa parede vermelha da rua Dr. Ricardo Jorge, no Porto.

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