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Psicol. cienc. prof. vol.9 número3

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Academic year: 2018

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Evasão e

fracasso

escolar

Lucila Diehl Tolaine Fini

Faculdade de Educação-UNICAMP

Na literatura educa-cional brasileira coexistem diferentes posições a res-peito de características cognitivas de crianças das camadas economicamente menos privilegiadas da po-pulação, ainda quando a problemática é examinada na mesma perspectiva teó¬ rica-a piagetiana; e dentre elas, a posição do denomi-nado "Grupo de Recife".

Os trabalhos desse grupo, reunidos em "Na Vi-da Dez, Na Escola Zero",

de Terezinha Garraher e outros (Cortez, 1989, 3 ed.) abrem perspectivas in-teressantes para a análise do fracasso escolar, para a compreensão da problemá-tica do ensino da Matemáti-ca e das relações entre a Matemática, a Psicologia e a Educação.

A obra reúne um con-junto de estudos realizados pela equipe pernambucana no decorrer de dez anos de trabalho desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco, nos Progra-mas de Pós-Graduação em Psicologia.

Resume diferentes formas de análise da evasão e do fracasso escolar, pre-sentes na literatura educa-cional brasileira, e propõe

uma perspectiva diferente: que se estude o fracasso es-colar como fracasso da Es-cola. Nessa linha, seus au-tores formulam questões capazes de contribuir para o avanço do conhecimento sobre a grande parcela de crianças que freqüentam as Escolas públicas.

Nos estudos desenvol-vidos, os autores partem da proposta piagetiana de en-contrar "as formas de orga-nização de natureza lógi¬ ca-matemática subjacentes à atividade da criança", e investigam atividades coti-dianas dentro e fora da Es-cola.

"A relação entre a compreensão dos princí-pios e modelos matemáti-cos subjacentes à resolução de problemas em diferentes contextos culturais, e sua representação nesses con-textos", é preocupação fundamental dos estudos reunidos nessa coletânea, de acordo com os autores.

Ao estudar as relações entre a aritmética ensinada nas escolas e a adotada no cotidiano, o "Grupo de Re-cife" utiliza o método clíni-co piagetiano associado, por vezes, a descrições et-nográficas e procedimentos de controle próprios do mé-todo experimental.

Os autores procuram estudar a Matemática em seus contextos culturais ex-plorando as repercussões destes contextos sobre a organização das ações do sujeito, e analisam as rela-ções entre as significarela-ções específicas, o significado de

cada situação e a organiza-ção da aorganiza-ção.

Estudam o desempe-nho em Matermática de crianças que trabalham co-mo vendedores ambulan-tes, nas feiras-livres ou em pequenos negócios, e o de-sempenho, dentre outros trabalhadores, de marce-neiros e cambistas de jo¬ go-do-bicho, em compara-ção com o desempenho de estudantes na Escola.

O resultado das pes-quisas e a análise crítica de diferentes correntes expli-cativas do fracasso escolar levam os autores dessa co-letânea a concluir, enfim, que as dificuldades de aprendizagem de crianças economicamente menos fa-vorecidas não podem ser explicadas cognitivamente, e que representam um fra-casso da própria Escola.

Os resultados dos es-tudos reunidos nessa obra, dentre outras situações re-levantes, mostram:

— que as crianças no contexto informal desen-volvem estratégias próprias para resolução de proble-mas de aritmética, em si-tuações de trabalho, tais como marcenaria ou co-mércio na rua;

— que há discrepân-cias entre o fracasso no de-sempenho de crianças em tarefas escolares e em tare-fas escritas, em oposição ao sucesso na resolução oral e solução de problemas em situações informais;

— que, apesar de re-ceberem instrução formal sobre como calcular o

volu-me de objetos, os alunos que trabalham não conse-guem e náo costumam utili-zar o conhecimento escolar para a solução de proble-mas práticos.

Os autores analisam os resultados das pesquisas e discutem a procedência de inúmeras estratégias uti-lizadas por professores nas salas de aula, no ensino da Matemática, e enfatizam o fracasso da Escola relacio-nado ao desconhecimento dos processos de aquisição de conhecimentos, bem co-mo a incapacidade dos pro-fessores em estabelecer pontes entre o mento formal e o conheci-mento prático que a crian-ça, pelo menos em parte, dispõe.

Com base nos estudos e pesquisas realizadas, os autores concluem que "náo é possível culpar as crian-ças de seus fracassos na es-cola: a escola precisa cobrir o conhecimento des-sas crianças e expan-di-los".

O conjunto de estudos coletados nessa obra dão ensejo a inúmeras questões instigadoras sobre o fracas-so ou êxito escolar, e apre-sentam elementos para to-dos os que se preocupam como o avanço na análise da prática educacional.

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