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TRIBUTAÇÃO EM SEDE DE IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DE PESSOAS SINGULARES DO RENDIMENTO DERIVADO DAS TRANSAÇÕES COM A MOEDA VIRTUAL BITCOIN

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TRIBUTAÇÃO EM SEDE DE IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DE PESSOAS SINGULARES

DO RENDIMENTO DERIVADO DAS

TRANSAÇÕES COM A MOEDA VIRTUAL BITCOIN

Juliana dos Santos Ferreira

Orientador

Dr. Eduardo José de Jesus Oliveira Coorientador

Professora Doutora Liliana Ivone da Silva Pereira

Dissertação apresentada

ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave para obtenção do Grau de Mestre em Fiscalidade

outubro, 2020

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(FOLHA EM BRANCO)

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TRIBUTAÇÃO EM SEDE DE IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DE PESSOAS SINGULARES

DO RENDIMENTO DERIVADO DAS

TRANSAÇÕES COM A MOEDA VIRTUAL BITCOIN

Juliana dos Santos Ferreira Orientador

Dr. Eduardo José de Jesus Oliveira Coorientador

Professora Doutora Liliana Ivone da Silva Pereira

Dissertação apresentada

ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave para obtenção do Grau de Mestre em Fiscalidade

outubro, 2020

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DECLARAÇÃO

Nome: Juliana dos Santos Ferreira

Endereço eletrónico: juliana_sf_7@hotmail.com

Título da Dissertação: Tributação em Sede de Imposto sobre o rendimento de pessoas singulares. Rendimento derivado das transações com a moeda virtual Bitcoin

Orientador: Dr. Eduardo José de Jesus Oliveira

Coorientador: Professora Doutora Liliana Ivone da Silva Pereira Ano de conclusão: 2020

Designação do Curso de Mestrado: Mestrado em Fiscalidade

Nos exemplares das Dissertações /Projetos/ Relatórios de Estágio de mestrado ou de outros trabalhos entregues para prestação de Provas Públicas, e dos quais é obrigatoriamente enviado exemplares para depósito legal, deve constar uma das seguintes declarações:

☒ É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO/TRABALHO

APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

☐ É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA DISSERTAÇÃO/TRABALHO (indicar, caso tal seja necessário, nº máximo de páginas, ilustrações, gráficos, etc.), APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

☐ DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO EM VIGOR, NÃO É PERMITIDA A REPRODUÇÃO DE QUALQUER PARTE DESTA DISSERTAÇÃO/TRABALHO

Instituto Politécnico do Cávado e do Ave,14/10/2020

Assinatura:

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I

TRIBUTAÇÃO EM SEDE DE IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DE PESSOAS SINGULARES

DO RENDIMENTO DERIVADO DAS TRANSAÇÕES COM A MOEDA VIRTUAL BITCOIN

RESUMO

A moeda virtual surge numa altura em que a sociedade se encontra em constante mudança. Faz parte de cada um a adaptação a novas realidades, novos desafios e novas visões. Da mesma forma, deve a estrutura de um país adaptar-se constantemente às mudanças, para que nunca faltem respostas a novas questões. No caso específico, que falaremos durante o trabalho, deve o sistema financeiro e o sistema legal e tributário adaptar- se às alterações que surgem com a criação da moeda virtual. Se os sistemas não fizerem as devidas adaptações no tempo certo, pode originar que atividades ilegais ou ilícitas se aproveitem de lacunas para operarem.

Na presente dissertação pretendemos abordar o tema das moedas virtuais, mais concretamente a Bitcoin, e de que forma esta moeda é regulada em diferentes países, assim como os impactos tributários que advêm das transações com a mesma. Iremos focar a nossa análise no Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS), contudo também faremos breves referências a outros tipos de imposto. O nosso grande objetivo com a dissertação é analisar e chegar a uma conclusão acerca do enquadramento regulatório e tributário relacionado com as operações com Bitcoin, para que a justiça e igualdade tributárias sejam aplicadas também neste tipo de moeda.

Palavras-chave: Bitcoin, moeda virtual, imposto sobre o rendimento, tributação, regulação.

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III

PERSONAL INCOME TAXATION

INCOME DERIVED FROM TRANSACTIONS WITH VIRTUAL CURRENCY BITCOIN

ABSTRACT

The virtual currency appears at a time when society is constantly changing. It is part of each one of us to adapt to new realities, new challenges and new visions. Likewise, a country's structure must constantly adapt to changes, so that answers to new questions are never lacking. In the specific case, which we will talk about at this work, the financial system and the legal and tax system must adapt to the changes that arise with the creation of the virtual currency. If the systems do not make the necessary adaptations at the right time, it can result in illegal or illicit activities taking advantage of gaps to operate.

In this dissertation we intend to address the topic of virtual currencies, more specifically Bitcoin, and how this currency is regulated in different countries, as well as the tax impacts that arise from transactions with it.

We will focus our analysis on the Personal Income Tax (IRS), however we will also make brief references to other types of tax. Our main objective with the dissertation is to analyze and reach a conclusion about the regulatory and tax framework related to Bitcoin transactions, so that tax justice and equality are applied also in this type of currency.

Keywords: Bitcoin, virtual currency, income tax, taxation, regulation.

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AGRADECIMENTOS

Um agradecimento muito especial é dirigido aos meus pais e à minha irmã, sem eles nunca seria possível o meu percurso académico. Por todo o apoio e estrutura que me deram, e por sempre acharem que era capaz de tudo. Agradeço também ao meu namorado, que nunca me deixa desistir e sempre me prova que as inseguranças e os desafios são para serem ultrapassados.

Aos meus orientadores, à Doutora Liliana Pereira e ao Doutor Eduardo Oliveira, por me terem apoiado em todo o processo e me terem disponibilizado o seu tempo e conhecimento.

Ao Instituto Politécnico do Cávado e do Ave pela grande instituição que é, a todos os docentes e colegas dotados de grande experiência e conhecimento, que fizeram todo o percurso valer a pena.

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VI

“É impossível parar coisas como a Bitcoin. Elas irão estar em todo o lado e o mundo terá de se reajustar. Os governos terão de se reajustar.”

John McAfee

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VII

LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS

AMF – Autorité des Marchés Financiers A.C. – Antes de Cristo

ACPR - Autorité de Contrôle Prudentiel et de Résolution ADCA - Australian Digital Commerce Association Art. º - Artigo

ASIC - Australian Securities and Investments Commission AT – Autoridade Tributária

ATO – Australian Taxation Office

AUSTRAC - Australian Transaction Reports and Analysis Centre BCE – Banco Central Europeu BdP – Banco de Portugal

CHF – Franco Suíço

CIRS – Código do Imposto sobre rendimento das pessoas singulares CMVM – Comissão do Mercado de Valores Mobiliários

CVM – Código dos Valores Mobiliários

DGFiP - Direction générale des Finances publiques DL – Decreto-Lei

EBA - European Banking Authority

ESMA - European Securities and Markets Authority FATF - Financial Action Task Force

FSA - Financial Services Agency FSC - Financial Services Commission

FSCMA - Financial Investment Services and Capital Markets Act GST - Goods and Services Tax

IMF - International Monetary Fund

IRS – Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado

nº. – Número ob. cit – obra citada p. - Página

pp. - Páginas P2P- Peer-to-Peer

TGE’s – Token generation events UE - União europeia

USD – Dólar dos Estados Unidos

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VIII

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IX

ÍNDICE

RESUMO ... I ABSTRACT ... III AGRADECIMENTOS ... V LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS ... VII ÍNDICE ... IX

INTRODUÇÃO ... 1

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MOEDA ... 3

2. MOEDA ELETRÓNICA E MOEDA VIRTUAL ... 7

3. MOEDAS VIRTUAIS ... 9

3.1 A CRIAÇÃO DA BITCOIN ... 12

3.1.1 O QUE É A BITCOIN? ...13

3.1.2 A VOLATILIDADE DA BITCOIN ...14

3.2 A BLOCKCHAIN ... 15

3.2.1 AS VANTAGENS DA BLOCKCHAIN ...18

3.2.1.1 A descentralização, a fiabilidade, a confiança, a transparência e a segurança da rede ...18

3.2.1.2 A Blockchain como resposta aos problemas de intermediação ...18

3.2.2 AS DESVANTAGENS DA BLOCKCHAIN ...19

3.3 OS MINERS E A MINERAÇÃO DE BITCOIN ... 20

4. A REGULAÇÃO DAS MOEDAS VIRTUAIS ... 23

4.1 POSIÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA ... 24

4.2 AUSTRÁLIA ... 25

4.3 COREIA DO SUL ... 26

4.4 FRANÇA ... 28

4.5 JAPÃO ... 29

4.6 SUÍÇA ... 30

4.7 PORTUGAL... 30

5. A REGULAÇÃO DAS MOEDAS VIRTUAIS ATRAVÉS DE INSTRUMENTOS DE SOFT LAW E DE AUTORREGULAÇÃO ... 33

6. A TRIBUTAÇÃO DAS OPERAÇÕES E DOS RENDIMENTOS ASSOCIADOS ÀS MOEDAS VIRTUAIS ... 37

6.1 AUSTRÁLIA ... 37

6.2 COREIA DO SUL ... 39

6.3 FRANÇA ... 41

6.4 JAPÃO ... 41

6.5 SUÍÇA ... 42

6.6 PORTUGAL... 43

7. A RESPOSTA REGULATÓRIA E TRIBUTÁRIA ... 45

CONCLUSÕES ... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 49

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X

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1

INTRODUÇÃO

Esta dissertação tem como objeto de estudo principal a Bitcoin, nomeadamente o seu enquadramento regulatório e tributário em diversos países. A escolha do tema deve-se à grande polémica que surgiu em torno da moeda, pelo facto de ser um conceito totalmente novo que gerou rendimentos altíssimos para algumas pessoas no início da sua existência. Ora, estando perante grandes rendimentos, poderemos estar também perante grandes perdas para os Estados, com a possibilidade de esses rendimentos estarem a escapar à tributação. A regulação da moeda é também importante para a evolução e desenvolvimento da tecnologia que a suporta, uma vez que poderá permitir que a mesma se torne legítima , contribuindo para que os retalhistas, consumidores e outros agentes económicos confiem nas moedas virtuais, e as mesmas sejam aceites de forma generalizada. O tema é bastante aliciante, mas também arriscado, pelo facto de podermos estar limitados a alguma falta de informação que advém da novidade e do cariz inovador do tema.

Para a realização do trabalho recorremos essencialmente a literatura sobre a Bitcoin, de forma a explicar o melhor possível o funcionamento da mesma. Consultamos também alguns trabalhos científicos sobre o tema, assim como legislação nacional e internacional, sendo que a grande parte da informação foi obtida em documentos consultados eletronicamente.

O trabalho está desenvolvido em vários capítulos, sendo que o primeiro baseia-se na evolução histórica da moeda, sendo apresentadas as diferentes formas de moeda e a sua evolução ao longo dos anos. No capítulo seguinte é feita a distinção entre os conceitos de moeda eletrónica e moeda virtual, sendo estes conceitos muitas vezes erradamente confundidos.

O capítulo que se segue aborda as moedas virtuais em diferentes pontos, começando pela criação da Bictoin, definindo também os conceitos de Blockchain e Miners, conceitos essenciais para o entendimento de todos os processos e tecnologias que rodeiam a Bitcoin. De seguida, é abordada a regulação das moedas virtuais em diferentes países, analisando para isso países europeus e países fora da União Europeia, de forma a abranger o maior número de diferentes realidades.

Posteriormente, explicamos a regulação da moeda virtual através de instrumentos de autorregulação e de Soft Law, que poderiam ser uma solução viável para o enquadramento regulatório da moeda.

Chegando ao ponto essencial da dissertação, o penúltimo capítulo trata a tributação das operações e dos rendimentos com moeda virtual, nos países já enunciados noutro capítulo.

Por fim, é apresentada a proposta regulatória e tributária para Portugal, na nossa opinião e com base em alguns conceitos, de forma a preencher as lacunas atualmente existentes. São também apresentadas as conclusões retiradas de todo o trabalho, assim como as limitações sentidas no decorrer do mesmo.

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1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MOEDA

Numa economia nenhum ser humano é inteiramente independente, já que necessita de outro ser humano para obter bens e serviços que não possui. Até há cerca de 3.000 anos, a obtenção de bens e serviços era realizada através de trocas diretas, em que um indivíduo oferecia aquilo que produzia, em troca dos bens produzidos pela contraparte com a qual transacionava. Desde cedo que este sistema comporta problemas, sendo um deles o acordo do justo valor da troca. Em substituição da troca direta surgiram as commodities, que são nada mais do que bens e serviços com valor semelhante para a generalidade dos indivíduos, sendo este valor atribuído através do interesse comum nesses bens e serviços. Como exemplo existiam as peles de animais, o sal, as pedras, as armas, entre outros. Assim, as commodities não só facilitavam as trocas comerciais, como também exerciam a função de unidade de conta e de reserva de valor, porquanto o seu valor mantinha-se constante ao longo do tempo1.

Por volta de 1.000 a.C., os chineses2 começaram a substituir as commodities pelas suas correspondências em bronze, sendo estas alteradas até obterem a forma de círculo, tal como conhecemos hoje. Este passo foi fulcral para a criação das mais modernas formas de dinheiro. Foi assim que, em 600 a.C., surgiu a primeira moeda conhecida, numa região designada por Lídia, onde se situa atualmente a Turquia. O reino dessa região emitia de forma controlada a moeda e garantia o seu valor, por conseguinte esta era considerada como oficial e era aceite pela generalidade dos cidadãos. A maioria dos povos de então adotou a moeda metálica, mas cada povo tinha a sua moeda própria. Como consequência, surgiu a necessidade de realizar operações cambiais, sendo essas realizadas pelas partes interessadas nos postos comerciais3. Estes postos, além de operações cambiais, também guardavam e emprestavam dinheiro.

Com o aumento das operações cambiais cresciam do mesmo modo os depósitos que os cidadãos faziam nos bancos, bem como os empréstimos que os últimos efetuavam aos interessados. Por cada depósito o banco emitia um certificado de depósito em papel, designado por nota promissora, no qual indicava o valor referente ao depósito. Descobriu-se assim uma forma de dinheiro mais prática do que a moeda física - o papel-moeda.

Ao longo do tempo foram incluídos elementos de segurança no papel-moeda, que mitigassem o risco adjacente de contrafação, elementos esses que vemos nas notas que usamos atualmente4.

O papel-moeda doutra época era similar ao utilizado hoje, com a diferença de que o primeiro era emitido por bancos comerciais e instituições privadas, e o segundo é hoje emitido por bancos centrais. Inicialmente estes bancos, que tinham o direito exclusivo à emissão do papel-moeda, constituíam reservas em ouro em contrapartida da emissão do dinheiro. O mesmo já não acontece no presente, o que significa que o papel-moeda

1MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, FCA, Lda, 1ªed., pp. 34-35.

2MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., pp. 34-35.

3Nos postos comerciais as partes interessadas sentavam-se num banco para realizarem as operações. Dessa forma surgiu, na época do renascimento em Florença, o termo Banco que usamos hoje para as instituições bancárias. MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., pp. 35.

4MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., pp. 35.

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4 não pode ser convertido em ouro. Assim, o valor do papel-moeda atual advém da crença coletiva de que o mesmo possui um valor assegurado pelo governo, chamando-se por isso dinheiro fiduciário.

O material de que é feito o papel-moeda, ao contrário do ouro, não tem qualquer valor adjacente. Esta moeda é aceite nas trocas de bens e serviços quotidianas porque os cidadãos conhecem o valor de cada nota e confiam que este não se irá alterar com o passar do tempo5.No contexto europeu, existem dois tipos de criação de moeda, sendo que um é suportado pelo BCE - Banco Central Europeu, e o outro é suportado pelos bancos comerciais. O BCE é a entidade que controla o fluxo de meda e de crédito na economia. Os bancos comerciais são financiados pelo BCE, e é assim que a entidade garante os preços estáveis na economia. Os bancos comerciais podem pedir dinheiro emprestado ao BCE para cobrir necessidades de liquidez de curto prazo. Por sua vez, o BCE fixa taxas de juro de curto prazo, de forma a controlar a quantidade de moeda externa em circulação e a procura de reservas por parte dos bancos comerciais. Esta taxa de juro, de muito curto prazo, é o custo da moeda para os bancos comerciais. Os bancos comerciais, por sua vez, podem também criar moeda interna. Esta criação ocorre sempre que os bancos comerciais concedem um empréstimo. A diferença entre os dois tipos de moeda, moeda interna e moeda externa, consiste na característica de que a moeda externa constitui um ativo da economia, sem ser um passivo para ninguém. Por outro lado, a moeda interna é garantida através de crédito privado, e esta só existe enquanto existirem financiamentos face a devedores privados, por isso não é um tipo de moeda presente na economia global, mas sim na economia privada6.

Desde que o papel-moeda deixou de ser convertível em ouro, isto é, desde que o seu valor passou a ser assegurado pelo governo, tornou-se mais fácil o aparecimento de novas formas de dinheiro. A moeda fiduciária não tem de estar obrigatoriamente em suporte físico. Aliás, cada vez é menos usado o papel-moeda e mais os cartões de débito ou crédito para efetuar pagamentos. Estima-se que apenas 8% do total de dinheiro existente no mundo é dinheiro físico, sendo os restantes 92% dinheiro digital7. Assim, a maioria do dinheiro que circula mundialmente é moeda digital, que consiste em valor monetário registado, por exemplo, numa conta bancária de depósitos à ordem. Podemos definir dinheiro digital como uma representação de dinheiro fiduciário, ou seja, papel-moeda, mas sem qualquer suporte físico.

Foram várias as transformações da representação do dinheiro ao longo do tempo. Com os avanços da Internet e as contribuições da criptografia, foi possível chegar ainda a uma nova forma de dinheiro- o dinheiro criptográfico ou dinheiro virtual8.

Na imagem infra podemos ver um resumo da evolução da moeda ao longo do tempo. No início, não existia propriamente uma moeda, mas as transações eram efetuadas através da troca direta de bens. Depois, surgiram as commodities, que se tratava de bens com valor semelhante para todos os indivíduos. De seguida, surgiu a

5Se o Banco Central não garantisse ao longo do tempo a manutenção do valor da moeda fiduciária, esta deixaria de ser aceite nas transações e deixaria de ter reserva de valor.

6 BANCO CENTRAL EUROPEU (2015). O que é a moeda? Disponível em: https://www.ecb.europa.eu/explainers/tell-me- more/html/what_is_money.pt.html, acedido em 15 de maio de 2020.

7MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., pp. 37-38.

8MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., p. 38.

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5 moeda física, evoluindo até ao papel-moeda como conhecemos hoje. O papel-moeda evolui numa nova forma de dinheiro, onde não é necessário qualquer suporte físico, dando assim origem à moeda digital. A mais recente evolução de formas de dinheiro foi a moeda virtual ou dinheiro criptográfico, a qual tratamos neste trabalho.

Figura 1 - Evolução da moeda ao longo do tempo.

Fonte: Elaboração própria.

Troca direta

de bens Commodities Moeda Física Papel-moeda Moeda digital Moeda virtual

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7

2. MOEDA ELETRÓNICA E MOEDA VIRTUAL

Como refere SALGUEIRO, é importante distinguir os conceitos de moeda eletrónica e moeda virtual, o que nem sempre é feito e pode levar a confusão9. Segundo o art.º 2º, alínea d), do Decreto-Lei nº 317/2009, de 30 de outubro (Regime Jurídico dos Serviços de Pagamento e da Moeda Eletrónica), entende-se por moeda eletrónica “(…) o valor monetário armazenado eletronicamente, inclusive de forma magnética, representado por um crédito sobre o emitente e emitido após receção de notas de banco, moedas e moeda escritural, para efetuar operações de pagamento (…) e que seja aceite por pessoa singular ou coletiva diferente do emitente de moeda eletrónica”.

Segundo o BdP, no seu artigo sobre moeda eletrónica, este define o conceito como “(...) um valor monetário armazenado eletronicamente, que pode ser utilizado para efetuar operações de pagamento, isto é, depositar, transferir ou levantar fundos. O valor monetário deve corresponder ao montante de notas e moedas ou de moeda escritural que é entregue pelo adquirente da referida moeda (o cliente portador de moeda eletrónica) ao emitente da mesma, tendo em vista a realização das operações de pagamento. O cartão pré-pago constitui um exemplo de moeda eletrónica, mas existem contas de moeda eletrónica que não têm associados cartões.”10.

No que diz respeito ao conceito de moeda virtual, o BCE refere-se ao mesmo como “(…) um tipo de moeda digital não regulamentada, que é emitida e geralmente controlada por quem a desenvolve e usada e aceite entre os membros de uma comunidade virtual específica”, isto é, a moeda virtual atua “(…) como meio de troca e como unidade de conta dentro de uma comunidade virtual particular”11.

Por sua vez, o Parlamento Europeu, adotando a definição do Financial Action Task Force (FATF), determinou que a moeda virtual é “(...) uma representação digital de valor que não seja [é] (…) ou garantida por um banco central ou uma autoridade pública, que não [está] (…) necessariamente ligada a uma moeda legalmente estabelecida e não [possui] (…) o estatuto jurídico de moeda ou dinheiro, mas que é aceite por pessoas singulares ou coletivas como meio de troca e que […] (…) ser transferida, armazenada e comercializada por via eletrónica”12.

Seguindo na ótica de SALGUEIRO, os dois conceitos apenas se confundem no facto de serem ambas moedas digitais, sendo as diferenças o que mais os distingue, veja-se a transcrição do artigo da autora:

9SALGUEIRO, A. C. (2018). Branqueamento de capitais e moedas virtuais. Disponível em:

http://www.institutovaloresmobiliarios.pt/, acedido em 17 de setembro de 2019, p. 32.

10 BANCO DE PORTUGAL. Moeda eletrónica – O que é. Disponível em: https://clientebancario.bportugal.pt/pt-pt/moeda- eletronica-o-que-e, acedido em 12 de setembro de 2019.

11 BANCO CENTRAL EUROPEU (2012). Virtual Currency Schemes. Disponível em:

https://www.ecb.europa.eu/home/search/html/index.en.html?q=virtual+currency, acedido em 12 de setembro de 2019, pp.11-13.

12 PARLAMENTO EUROPEU (2018). Resolução legislativa do Parlamento Europeu sobre a proposta de diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho que altera a Diretiva (UE) 2015/849 relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo e que altera a Diretiva 2009/101/CE. Disponível em:

http://www.europarl.europa.eu/doceo/document/TC1-COD-2016-0208_PT.html, acedido em 12 de setembro de 2019, p. 44.

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“(i) enquanto nas moedas eletrónicas as denominações são tradicionais (euro ou dólar, por exemplo) e com curso legal, os pagamentos são aceites por entidades diferentes do emitente, são reguladas e sujeitas a supervisão, são emitidas por uma instituição de moeda eletrónica legalmente estabelecida, o reembolso é garantido pelo valor nominal e os principais riscos reconduzem-se principalmente à operacionalidade, (ii) nas moedas virtuais as denominações são inventadas (Bitcoin, por exemplo) e sem curso legal, os pagamentos são aceites no seio de uma comunidade virtual específica, não são reguladas nem supervisionadas, são emitidas por uma entidade não financeira, o reembolso não está garantido, ficando o ónus a cargo dos utilizadores, e os riscos legais, de crédito, de liquidez e operacionais são os principais riscos que lhe são apontados”13.

Assim, podemos concluir que não se podem confundir os conceitos de moeda eletrónica com moeda virtual. A primeira possui curso legal, e é aceite atualmente como qualquer outro meio de pagamento. Por outro lado, a moeda virtual ainda não é aceite em toda a comunidade, é ainda um conceito estranho e desconhecido para muita gente, e mesmo aqueles que a conhecem têm algum receio de a utilizar pelos riscos que as operações com a mesma aportam.

De seguida, podemos ver uma tabela resumo que identifica as principais características e diferenças entre os conceitos de moeda eletrónica e moeda virtual.

Tipo de moeda

Aceitação da moeda

Supervisão da moeda

Emissão da moeda

Regulamentação da moeda

Moeda eletrónica

Aceite por entidades diferentes;

aceite na generalidade.

Supervisionadas pelas entidades

financeiras.

Emitida por entidades financeiras

Regulamentada pelas entidades competentes.

Moeda virtual

Pelos seus utilizadores no mundo virtual.

Não possuem supervisão por

qualquer entidade.

Emitida pelos agentes que a desenvolvem.

Não regulamentada

Tabela 1 - Conceitos de moeda eletrónica e moeda virtual.

Fonte: Elaboração própria.

13SALGUEIRO, A. C. (2018). Branqueamento de capitais e moedas virtuais, ob. cit., p.35.

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9

3. MOEDAS VIRTUAIS

O surgimento das moedas virtuais foi possível devido ao desenvolvimento em diversas áreas científicas, nomeadamente na área da criptografia, da economia (teoria dos jogos) e das ciências da computação (redes Peer-to-Peer - P2P)14. O conceito de redes Peer-to-Peer será abordado mais à frente.

Uma moeda digital consiste num token que existe num determinado sistema de criptomoeda e normalmente possui três componentes, sendo elas uma rede P2P, um mecanismo de consenso, e uma chave para uma infraestrutura pública. Não existe nenhuma entidade central que governa o sistema15.

O International Monetary Fund (IMF) define as moedas virtuais como uma representação digital de valor, emitida por agentes privados e denominadas na sua própria unidade de conta16. Por sua vez, a European Banking Authority (EBA) define moeda virtual como uma representação digital de valor, não emitida por qualquer banco central ou autoridade pública, e que não está necessariamente interligada com moeda fiduciária, mas que é aceite por pessoas ou entidades como meio de troca. Este tipo de moeda pode ser transferida, armazenada ou transacionada eletronicamente17.

Na Polónia, através do artigo de KOWALSKI, podemos encontrar uma definição para o conceito de moeda virtual: representações digitais de valor, que são transmitidas usando tecnologias da informação, e que são usadas como meio de troca, mas não são reconhecidas como meios de pagamento oficial18. O autor também refere que este tipo de moeda é completamente intangível, existe apenas na internet, não é a moeda oficial de nenhum país, mas é aceite pelo mundo como um meio de pagamento.

De acordo com a FATF19, a moeda virtual é uma representação digital de valor que pode ser trocada digitalmente e que funciona como um meio de troca, uma unidade de conta ou uma reserva de valor, mas que não possui curso legal. Não é emitida ou garantida por nenhuma jurisdição, e apenas cumpre as funções referidas anteriormente através de acordo entre os utilizadores da comunidade da moeda virtual. A moeda virtual distingue-se da moeda fiduciária, também conhecida como “moeda real”, porque a última possui curso legal e é emitida e aceite nos países como meio de troca. A entidade também distingue os conceitos de moeda virtual convertível e moeda virtual não convertível. A moeda virtual convertível é assim designada porque tem um valor equivalente e pode ser trocada por moeda fiduciária. Alguns exemplos deste tipo de moeda são a Bitcoin, a e-Gold e a WebMoney. Por outro lado, a moeda virtual não convertível trata-se de uma moeda criada

14BROCHADO, A. (2018). Snapshot da indústria das criptomoedas. Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Disponível em:

http://hdl.handle.net/10071/16498, acedido em 10 de outubro de 2019, p. 2.

15BROCHADO, A. (2018). Snapshot da indústria das criptomoedas, ob. cit., p. 2.

16 IMF Staff Discussion Note (2016). Virtual Currencies and Beyond: Initial Considerations. Disponível em:

https://www.imf.org/external/pubs/ft/sdn/2016/sdn1603.pdf, acedido em 10 de outubro de 2019, p. 7.

17EBA (2014). EBA Opinion on ‘virtual currencies’. Disponível em: https://www.eba.europa.eu/documents/10180/657547/EBA- Op-201408+Opinion+on+Virtual+Currencies.pdf., acedido em 10 de outubro de 2019, p. 7.

18KOWALSKI, P. (2015). Taxing Bitcoin Transactions Under Polish Tax Law, Comparative Economic Research, Vol. 18, Nº 3.

Disponível em: http://cejsh.icm.edu.pl/cejsh/element/bwmeta1.element.hdl_11089_15014/c/cer-2015-0025.pdf, acedido em 11 de outubro de 2019, p. 1.

19A FATF é um órgão intergovernamental independente que desenvolve e promove políticas para proteger o sistema financeiro global contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.

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10 para ser usada especificamente num domínio ou mundo virtual, por exemplo no website Amazon.com, e apenas pode ser usada neste meio, sendo que não pode ser trocada por moeda fiduciária. Outro exemplo de uso deste tipo de moeda é no conhecido jogo World of Warcraft Gold. A segunda distinção que a FATF faz é entre moeda virtual centralizada e moeda virtual não centralizada/ descentralizada. Primeiro, começa por definir que todas as moedas virtuais não convertíveis são centralizadas. Por definição, este tipo de moeda é emitido por uma autoridade central que estabelece as regras, sendo uma das regras a não convertibilidade da moeda. Em contrapartida, as moedas virtuais convertíveis tanto podem ser centralizadas como descentralizadas. Voltando ao conceito de moeda virtual centralizada, esta tem uma única autoridade administrativa que controla o sistema por detrás da mesma. Esta autoridade emite a moeda, estabelece as regras para a sua utilização, mantém uma plataforma de pagamento central e tem autoridade para retirar a moeda de circulação. A taxa de câmbio utilizada para trocar este tipo de moeda por moeda fiduciária tanto pode ser determinada pela oferta e procura do mercado de moeda virtual, como pode ser fixada pela autoridade responsável e mensurada em moeda fiduciária ou qualquer outro tipo de bem real, como o ouro. Atualmente, a grande maioria das transações com moedas virtuais envolvem moedas virtuais centralizadas. Por fim, no que diz respeito a moeda virtuais descentralizadas, estas são as verdadeiras moedas virtuais, como a Bitcoin, que não possuem autoridade administrativa central e não são monitorizadas ou supervisionadas, mas sim protegidas e criadas através de criptografia. É neste tipo de moeda que nos vamos debruçar ao longo deste trabalho20.

Segundo o Relatório do BCE intitulado “Virtual Currency Schemes”21, já referido no capítulo anterior, as moedas virtuais podem ser classificadas como um tipo de dinheiro não regulamentado, emitido e controlado pelos seus criadores. Este tipo de dinheiro é aceite por aqueles que o transacionam no meio virtual. O relatório também distingue três tipos de moeda virtual. O primeiro tipo é a moeda utilizada em comunidades virtuais restritas, como por exemplo, em jogos online, não sendo este tipo de moeda suscetível de ser adquirido com dinheiro real. O segundo tipo de moeda virtual é passível de ser adquirido com dinheiro real, mas apenas pode ser transacionado no meio virtual onde é gerado. O terceiro e último tipo, no qual se enquadra a Bitcoin, é um tipo de moeda que pode ser adquirido através de dinheiro real, e tanto pode ser utilizado para adquirir bens e serviços virtuais, como pode ser utilizado para adquirir bens e serviços reais, ou seja, pode ser transacionado fora do mundo virtual.

No seu parecer de 12 de outubro de 201622, o BCE afirma, contrariamente ao definido pelo Parlamento Europeu, que as moedas virtuais não podem ser consideradas moedas do ponto de vista da União Europeia. O euro é a única moeda da União Económica e Monetária da União Europeia e, por conseguinte, dos Estados que o adotem como moeda. O BCE defende que deveria ser dada outra designação às moedas virtuais, para que

20FATF Report (2014). Virtual Currencies – Key Definitions and Potential AML/CFT Risks. Disponível em: https://www.fatf- gafi.org/media/fatf/documents/reports/Virtual-currency-key-definitions-and-potential-aml-cft-risks.pdf, acedido em 6 de outubro de 2019, p. 4-5.

21BANCO CENTRAL EUROPEU (2012). Virtual Currency Schemes, ob. cit., pp.13-15.

22BANCO CENTRAL EUROPEU (2016).Parecer do BCE sobre uma proposta de diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho que altera a Diretiva (UE) 2015/849 relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo e que altera a Diretiva 2009/101/CE. Disponível em:

https://www.ecb.europa.eu/ecb/legal/pdf/celex_52016ab0049_pt_txt.pdf, acedido em 12 de setembro de 2019.

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11 fique claro que as mesmas não podem ser consideradas moedas. Na mesma linha de pensamento, as moedas virtuais não deveriam ser consideradas meios de pagamento, mas sim meios de troca, uma vez que não possuem curso legal. Além disso, as moedas virtuais podem ser utilizadas para fins vários que não o pagamento, não fosse a blockchain uma rede que permite utilizações bastante distintas. Podemos definir o conceito blockchain como uma lista ordenada de blocos que tem por objetivo armazenar e reunir informações sobre as transações ocorridas, sendo que essas transações podem ser com moeda virtual ou outro tipo de transações, não fosse a tecnologia usada para outros fins que não o da moeda virtual. Uma transação num bloco armazenada na rede blockchain é composta por informações sobre a data, o proprietário, e, no contexto específico das moedas virtuais, o valor monetário transferido23.

Em fevereiro de 2018, o BCE publicou um artigo24 no seu website que atesta o que foi dito no seu parecer de 2016, acrescentando alguns argumentos para a não consideração da moeda virtual como uma moeda:

 Não é protegida por nenhuma autoridade, ou seja, não é emitida por nenhuma autoridade pública central.

 Não é uma forma de pagamento aceite em qualquer sítio. São escassos os locais que aceitam a moeda virtual como meio de pagamento.

 Os utilizadores não estão protegidos, o que significa que a Bitcoin pode ser pirateada e consequentemente roubada.

 É excessivamente volátil. Uma moeda deve ser uma reserva de valor fiável, na qual os utilizadores possam confiar que o dinheiro que possuem tem aproximadamente o mesmo valor hoje ou daqui a um mês, o que não se verifica, de todo, com as moedas virtuais.

Ainda no mesmo artigo, o BCE define a Bitcoin, entenda-se moeda virtual no geral, como um ativo especulativo em que o utilizador investe, tendo a noção do risco adjacente, sendo que esse risco, ou riscos, foram enunciados nos argumentos para a não consideração da moeda virtual como uma moeda, veja-se o parágrafo anterior

A Bitcoin é a moeda virtual abordada neste trabalho, porém existem centenas de outras moedas virtuais. O relevo dado à Bitcoin prende-se no facto de esta ser a moeda mais transacionada, mais conhecida, e com valor mais elevado (veja-se gráfico infra).

23XU, X., PAUTASSO, C., ZHU, L., GRAMOLI, V., PONOMAREV, A., TRAN, A.B., & CHEN, S. (2016). The Blockchain as a Software Connector. Documento da conferência “13th Working IEEE/IFIP Conference on Software Architecture (WICSA 2016)”.

Disponível em: https://design.inf.usi.ch/sites/default/files/biblio/2016_WICSA_BlockChainSoftwareConnector.pdf, acedido em 9 de outubro de 2019, p. 1-2.

24 BANCO CENTRAL EUROPEU (2018). O que é a Bitcoin? Disponível em: https://www.ecb.europa.eu/explainers/tell- me/html/what-is-bitcoin.pt.html, acedido em 6 de julho de 2019.

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12 Figura 2 - As 10 principais criptomoedas. Dados do dia 6 de julho de 2019.

Fonte: https://coinmarketcap.com/pt-br/

3.1 A CRIAÇÃO DA BITCOIN

No ano de 2008, enquanto ocorria uma das maiores crises económicas e financeiras que o mundo se recorda, nasceu a Bitcoin. O criador da moeda, a que todos chamam Satoshi Nakamoto25, desenvolveu em novembro de 2008 um modelo descentralizado que iria abalar o sistema financeiro até então em vigor. Não é coincidência que a moeda tenha surgido em simultâneo com a descredibilização bancária e com o abalo dos mercados financeiros. O suposto criador, um jovem japonês, concebeu uma moeda incapaz de ser controlada pelo sistema bancário, completamente independente de controlo de terceiros e sem dúvida revolucionária26.

Antes de Satoshi já vários se tinham aventurado na tentativa de criação de moedas virtuais, mas o problema do gasto duplo27 impedia-os de terminar com sucesso o processo de criação. O criador da Bitcoin desenhou o sistema que solucionou o problema, sendo que poderemos observar o funcionamento do mesmo no capítulo

“A Blockchain”.

Através do seu paper, o criador da moeda esclareceu os objetivos28 que o levaram a este feito: 1) criar o primeiro sistema de moeda virtual que resolvesse o problema da descentralização da moeda, e a consequente

25A verdadeira identidade do criador da bitcoin permanece ainda hoje um mistério. Ninguém sabe quem era Satoshi Nakamoto, nem qual a sua relação com o mercado financeiro. Em 2011 o autor desapareceu por completo. PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”. Editora Self, Portugal, pp .23-24.

26 PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”, ob. cit., pp .20-22.

27 O problema do gasto duplo (Byzantine General’s Problem) acontece quando um utilizador consegue gastar as mesmas moedas virtuais mais do que uma vez. PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”, ob. cit., p.21.

28PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”, ob. cit., pp .20-22.

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13 falta de controlo; 2) eliminar a possibilidade de qualquer entidade poder exercer poder sobre a mesma; 3) fazer com que os utilizadores usem de forma autónoma o seu dinheiro.

Em janeiro de 2009, Satoshi Nakamoto lançou o software que suportaria as transações com a moeda, no qual apenas eram necessários dois intervenientes para as trocas de dinheiro eletrónico.

3.1.1 O QUE É A BITCOIN?

A Bitcoin é um tipo de dinheiro eletrónico, baseado num sistema peer-to-peer29, usada como método de pagamento online de um indivíduo para outro, sem necessitar de qualquer tipo de intermediário. As redes P2P são assim designadas por serem distribuídas. Os nós (peers) que constituem a rede formam uma rede sobreposta na qual todos os nós cooperam entre si. Todos os nós trabalham em conjunto de forma a fornecerem um determinado serviço, disponibilizando para isso os seus recursos (poder de processamento ou armazenamento).

A grande característica de uma rede P2P é que cada peer desempenha tanto funções de cliente, como funções de servidor, o que não acontece nos modelos de redes tradicionais em que os servidores apenas são usados para disponibilizarem serviços e os clientes apenas desempenham o papel de consumidores30. Quando comparado ao modelo cliente/servidor, onde só há um servidor que recebe e processa requisições, no modelo peer-to-peer os nós têm a responsabilidade de servir outros nós. Assim, não existe um ponto de controlo único. Para que essa troca de informações ocorra, os nós têm de concordar num conjunto de regras previamente definidas31. Abaixo temos uma representação gráfica de como funciona uma rede peer-to-peer:

Figura 3 – Funcionamento da rede peer-to-peer.

Fonte: TANENBAUM (2010, p.7).32

29Peer-to-peer: de um indivíduo para outro, sem passar pelo controlo de uma terceira entidade ou intermediário.

30LOPES, A. D. M. (2014). VoIP em Redes Peer-to-Peer. Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Escola de Engenharia, Portugal, p. 16.

31TANENBAUM, A.S. (2010). Computer Networks, 5ª Ed., Pearson Education, pp. 7-8.

32TANENBAUM, A.S. (2010). Computer Networks, 5ª Ed., Pearson Education, p. 7

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14 A Bitcoin não é só uma moeda, mas também uma rede descentralizada de pagamentos, sustentada por um conjunto de tecnologias e algoritmos, aos quais chamamos blockchain. A Bitcoin foi o primeiro caso de implementação prática da tecnologia adjacente à blockchain, mas esta tecnologia pode ser utilizada para muitos outros fins não relacionados com moeda virtual.

O facto de nos referirmos à Bitcoin como uma moeda não significa que esta possua curso legal. Apesar de esta ser aceite como meio de troca em transações comerciais, a sua classificação jurídica e legal ainda não foi abordada em vários países. Em Portugal o BCE já se manifestou sobre este tópico (conforme apresentamos supra no início deste capítulo).

3.1.2 A VOLATILIDADE DA BITCOIN

A Bitcoin registou ao longo do tempo uma grande valorização, sendo a sua principal característica a alta volatilidade. O seu valor equiparou-se ao dólar americano em 2011, e em março de 2017 excedeu o valor de uma onça de ouro33. À data de julho de 2019 existem mais de 17 milhões de Bitcoins em circulação, sendo que o número máximo em circulação atingiu os 21 milhões de Bitcoin. Uma Bitcoin representa cerca de 10 mil euros, sendo possível adquirir apenas uma parte da mesma. A possibilidade de adquirir uma pequena parte da moeda foi inicialmente desenvolvida tendo em mente que esta poderia ser altamente valorizada, o que efetivamente veio a acontecer, e por isso uma grande parte das transações de Bitcoin correspondem a uma fração desta. Na tabela infra podemos verificar algumas unidades de medida da Bitcoin.

Unidade

Valor em BTC

BTC 1

Cent-Bitcoin (cBTC) 0,01

Mili-Bitcoin (mBTC)

0,001

Micro-Bitcoin ( μ BTC)

0,000001

Finney

0,0000001

Satoshi

0,00000001

Figura 4 – Unidades de medida da Bitcoin.

Fonte: MARTINS (2018, p.60).34

33MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., p. 56.

34MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., p. 60.

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15 A sua volatilidade é visível nos valores mínimos e máximos que a moeda já atingiu: o valor mínimo foi em meados de 2013, representando cerca de 58 euros, e o valor máximo deu-se em dezembro de 2017, atingindo cerca de 17 mil euros.

O gráfico infra exprime a evolução do valor da moeda ao longo do tempo, onde se pode observar uma grande oscilação.

Figura 5 - Evolução do valor da Bitcoin. Dados do dia 6 de julho de 2019. Valores em USD.

Fonte: https://coinmarketcap.com/pt-br/currencies/bitcoin/

O dinheiro eletrónico não é propriamente uma novidade para nós, não fosse este estar presente até no pagamento que fazemos através do cartão de débito. Da mesma forma, conhecemos os pagamentos online, que podem ser encontrados na mais simples transferência bancária feita através do acesso à plataforma digital do nosso banco.

Assim, a parte revolucionária da Bitcoin prende-se na ausência de uma terceira entidade que regule a transação em causa. Com este facto, surge um eventual problema: como é controlada a transação, e como podem os indivíduos ter confiança nas suas transações?

3.2 A BLOCKCHAIN

A blockchain é um tipo de registo distribuído no qual todas as transações são verificadas e gravadas em que todos os participantes da rede têm acesso. As transações não podem ser alteradas uma vez gravadas na

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16 rede35. A blockchain36permite verificar a fiabilidade das transferências de moeda virtual. Trata-se de uma rede de computadores espalhados pelo mundo que verificam, em simultâneo, transferências em blocos de criptografia. Nenhum dos computadores sabe qual a transferência que está a validar, assim como nunca é o único dispositivo a verificar a mesma. A transparência e verdade da transferência não dependem apenas da validação de um computador, mas sim de vários, garantindo assim uma verificação totalmente imparcial. O criador da moeda utilizou a blockchain com o intuito de ter uma espécie de Livro Razão37 público, que organize e sequencie toda a informação relacionada com a moeda. Esta rede descentralizada tem o poder de registar informação que não pode ser alterada posteriormente.

Cada bloco que faz parte da rede contém a identificação da carteira origem da transferência, o valor da transferência e a identificação da carteira destino. Um bloco também é composto por dois hash38, nomeadamente o próprio e o do bloco anterior. O facto de cada bloco possuir o hash do bloco anterior é o que permite encaixar os blocos em cadeia, formando assim a dita blockchain. O processo de criação de blocos em cadeia está ilustrado na imagem seguinte:

Figura 6 - Processo de criação de blocos na rede blockchain.

Fonte: https://cryptobeginners.info/blog/what-is-blockchain/

Com esta tecnologia, se o hash de um bloco for alterado, o bloco seguinte fica imediatamente bloqueado sem saber onde se alocar. A validação de que os hashes encaixam em blocos anteriores designa-se por Proof

35WATANABE, H., FUJIMURA, S., NAKADAIRA, A., MIYAZAKI, Y., AKUTSU, A., & KISHIGAMI, J. J. (2015). Blockchain contract: A complete consensus using blockchain, IEEE 4th Global Conference on Consumer Electronics (GCCE). Disponível em:

https://doi.org/10.1109/GCCE.2015.7398721, acedido em 6 de julho de 2019, pp. 577–578.

36Blockhain é uma Cadeia de Blocos, em que a cada bloco corresponde uma transação de moeda virtual.

37Um Livro Razão é um conjunto de registos contabilísticos de uma empresa que utiliza o método das partidas dobradas, em que estão registadas todas as transações que ocorrem na própria empresa. PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”, ob. cit., pp .68-73.

38Um hash é uma impressão digital, um código, através do qual é possível identificar cada bloco, sendo que cada bloco tem o seu hash, sem repetições. PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”, ob. cit., pp .68-73.

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17 of Work39. Este sistema de segurança torna bastante difícil a adulteração dos blocos, porque isso significa alterar todos os blocos após o primeiro que for alterado. Assim, se um bloco é adulterado, este não contém a informação que deveria para pertencer à cadeia. A imagem seguinte ilustra o que acontece quando um utilizador altera um dado bloco:

Figura 7 - Consequências da adulteração de blocos na rede.

Fonte: https://cryptobeginners.info/blog/what-is-blockchain/

Além do sistema referido, também o facto de estarmos perante uma rede descentralizada torna o processo mais seguro. Como já referimos anteriormente, a blockchain funciona em sistema peer-to-peer, não sendo necessário um intermediário nas transações.

Quando um novo utilizador entra na rede, este recebe todo o histórico de transações até ao dia. Portanto, quando é produzido um novo bloco, ele é distribuído por toda a rede e cada um dos utilizadores pode verificar se o hash daquele bloco não foi adulterado. Caso os utilizadores verifiquem que o mesmo se encontra correto, adicionam o novo bloco à rede. A segurança é, portanto, aumentada, porquanto para ser aceite na rede um bloco corrompido, os interessados teriam que conseguir controlar 51% da rede, o que é praticamente impossível40.

Este controlo de 51% da rede á também designado por 51% Attack, que consiste num ataque informático que implica uma força computacional (hashing power) superior a 51% da força computacional existente na rede blockchain41.

39Esta validação processa toda a informação e verifica qual o bloco anterior que vai encadear no novo bloco, validando assim o hash anterior. Este processo demora cerca de 10 minutos, e é exatamente o tempo de criação de um novo bloco na cadeia. PACHECO, A. V.

(2018). “Bitcoin”, ob. cit., pp .68-73.

40PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”, ob. cit., pp .68-73.

41CORREIA, G. C. (2017). BITCOIN: As inconsistências do modelo. Dissertação de mestrado, Instituto Superior de Gestão, Lisboa, Portugal.

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18 3.2.1 AS VANTAGENS DA BLOCKCHAIN

3.2.1.1 A descentralização, a fiabilidade, a confiança, a transparência e a segurança da rede

GOLOSOVA e ROMANOVS apresentam no seu paper algumas vantagens e desvantagens associadas à tecnologia blockchain, sendo essa mesma informação que iremos analisar de seguida42. A tecnologia por detrás da blockchain baseia-se num sistema descentralizado, e esta característica é a principal vantagem da tecnologia.

Deixa de ser necessário trabalhar com uma terceira entidade ou com um administrador central. O sistema trabalha sem intermediários e todos os utilizadores da rede tomam decisões, ao invés de as mesmas serem centralizadas numa única pessoa ou entidade. Cada transação efetuada é gravada na rede, e o histórico das transações está disponível para todos os utilizadores, sendo que o mesmo não pode ser adulterado ou apagado, garantindo assim a fiabilidade da informação. Este tipo de sistema atribui certas características à tecnologia da blockchain, como transparência, imutabilidade e confiança. A confiança no sistema é baseada na crença de dois ou mais utilizadores, que não se conhecem entre si. A imutabilidade é conseguida em todas as transações aceites e partilhadas na rede. Depois de a transação estar gravada na blockchain, não será mais possível alterá- la ou apagá-la. Toda a informação presente na rede blockchain é inalterável e indestrutível. A transparência do sistema é conseguida através do processo de cópia de transações. Cada transação é copiada para todos os computadores pertencentes à rede, e cada utilizador pode observar as transações, e validar a “honestidade” das mesmas. O alto nível de segurança da rede é conseguido porque cada utilizador entra na rede individualmente e recebe uma identidade única, associada à sua conta. A última vantagem associada à rede apresentada pelos autores é o processamento mais rápido. Nos métodos tradicionais a transação leva bastante tempo a ser processada e efetuada na organização bancária. O uso da tecnologia blockchain ajuda a reduzir o tempo de processamento de aproximadamente 3 dias para vários minutos ou até segundos43.

3.2.1.2 A Blockchain como resposta aos problemas de intermediação

O método de relação de confiança intermediada, em qual se baseiam as sociedades mais desenvolvidas economicamente, é completamente contrário ao método utilizado pela blockchain sendo esta, como já vimos, totalmente descentralizada e, por isso, não aporta qualquer intermediação nas relações económicas44. É certo que os modelos económicos baseados na intermediação tiveram sucesso até então e, talvez por isso, ninguém os questione. Todavia, será que são os modelos ideais e perfeitos para a sociedade moderna?

42GOLOSOVA, J., & ROMANOVS, A. (2018). The Advantages and Disadvantages of the Blockchain Technology, Conference

Paper. Disponível em:

https://www.researchgate.net/publication/330028734_The_Advantages_and_Disadvantages_of_the_Blockchain_Technology, acedido em 18 de setembro de 2019.

43GOLOSOVA, J., & ROMANOVS, A. (2018). The Advantages and Disadvantages of the Blockchain Technology, ob. cit.

44MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., p. 56.

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19 A intermediação, tal como a conhecemos, é sinónimo de lentidão e de despesa, visto que pressupõe a existência de múltiplos agentes numa relação económica. Como exemplo, temos uma transferência bancária, em que nela participam o banco emissor e o banco recetor, a rede bancária e ainda o utilizador. Além disso, o tempo que demora até que o indivíduo recetor tenha o dinheiro na sua conta, e os custos que a transferência provoca, são fatores que desincentivam o uso deste método de pagamento45. Partilha da mesma opinião o Parlamento Europeu, que referiu no seu Relatório sobre moedas virtuais que a tecnologia associada à blockchain pode reduzir os custos operacionais e de transação para os pagamentos e para as transferências de fundos, podendo chegar a uma redução de custos a nível mundial na ordem dos 20 mil milhões de euros46.

Um modelo assente na intermediação também é um sistema vulnerável a falhas e pouco firme. Se o sistema de um intermediário falhar, todos os agentes da cadeia são afetados, e não podem continuar a transação enquanto o problema não é solucionado. Seguindo o exemplo da transferência bancária, se a plataforma online bancária for hackeada, não só os seus utilizadores não podem efetuar transferências, como ainda correm o risco de serem burlados47.

Apesar do contributo que teve e continua a ter nas relações económicas, a intermediação apresenta problemas de lentidão, provoca grandes custos nos seus utilizadores e é bastante vulnerável a falhas. A forma possível de eliminar estes problemas é a redução (ou até mesmo eliminação) do número de intermediários. É o que acontece na blockchain, visto que esta é integralmente descentralizada e não implica qualquer intermediário. É importante referir que o sistema presente na blockchain só funciona se existir uma relação de confiança direta no mecanismo que está implícito ao sistema. Ao contrário do modelo de intermediação, a confiança é depositada num algoritmo e não em seres humanos ou organizações. A credibilidade no sistema descentralizado é superior à do sistema tradicional, dado que não está em causa o critério humano48.

3.2.2 AS DESVANTAGENS DA BLOCKCHAIN

Segundo GOLOSOVA e ROMANOVS, a principal desvantagem da blockchain é o elevado gasto de energia. Este consumo elevado é necessário para manter um registo em tempo real. Sempre que uma nova transação é criada é também comunicada na rede. Outra razão para o elevado consumo de energia e eletricidade é a verificação da assinatura: cada transação deve ser assinada através de esquemas criptográficos, o que exige um grande poder de computação para o cálculo da assinatura. O próximo problema apontado é o alto custo de operar na tecnologia blockchain. O custo médio por transação pode ir de 75 a 160 dólares, a maior parte derivado do consumo de energia49.

45MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., p. 56.

46 PARLAMENTO EUROPEU (2016). Relatório sobre moedas virtuais. Disponível em:

http://www.europarl.europa.eu/doceo/document/A-8-2016-0168_PT.pdf, acedido em 20 de novembro de 2019, p. 5.

47MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., p. 56.

48MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., p. 56.

49 GOLOSOVA, J., & ROMANOVS, A. (2018). The Advantages and Disadvantages of the Blockchain Technology, ob. cit., pp. 5- 6.

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20 Algumas desvantagens da blockchain são também alguns aspetos desconhecidos. Além de ser uma tecnologia complexa, não se sabe que implicações regulatórias esta nova tecnologia pode trazer50.

O Parlamento Europeu também enumera, no seu Relatório sobre moedas virtuais, alguns riscos e desvantagens associados à tecnologia blockchain e às moedas virtuais. Começa por referir que a proteção dos consumidores se encontra comprometida, pela falta de existência de estruturas de governação flexíveis, mas resiliente e fiáveis, causando assim uma fonte de incerteza perante a tecnologia, especialmente no caso de situações que não tenham sido definidas pelo criador do software original. Existem também outras questões problemáticas para os consumidores, como a elevada volatilidade das moedas virtuais e as condições propícias à formação de bolhas especulativas, conjugadas com a falta de normas regulatórias de supervisão e proteção.

A tecnologia blockchain, ou “livro-razão distribuído” como definido pelo Parlamento Europeu, também compreende uma certa insegurança jurídica, não havendo ainda regulação específica através de normas jurídicas. Tal como os autores referidos, o Parlamento Europeu considera também o consumo de energia associado ao funcionamento da rede uma grande desvantagem, afirmando que para colmatar esse custo seria necessário investimento em investigação e promoção de formas mais eficientes para os mecanismos de verificação das transações na rede. A entidade salienta a inexistência de documentação técnica, transparente e de fácil acesso, sobre o funcionamento das moedas virtuais e das tecnologias relacionadas. A última desvantagem referida no relatório do Parlamento Europeu, à semelhança do que é afirmado por outras entidades, é a associação das transações com moeda virtual ao “mercado negro”, branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, assim como a operações de fraude e evasão fiscal51.

3.3 OS MINERS E A MINERAÇÃO DE BITCOIN

A rede é composta por vários utilizadores que possuem computadores onde verificam as transações. Estes computadores são designados por miners52. O trabalho destes elementos é usar o seu hardware para processarem algoritmos e realizarem operações matemáticas53que garantam a confiança do sistema. Para garantir que o trabalho é feito da melhor forma, e para cobrir todos os custos que as máquinas comportam, estes utilizadores são remunerados pelo seu trabalho com a própria moeda. Esta remuneração varia de acordo com a quantidade de blocos que processam e validam. Todavia, nem todos os miners são recompensados com novas Bitcoins: à medida que a rede cresce existe um número maior de miners a competir por um limitado número de validação de transações54. A escolha do tipo de remuneração foi sem dúvida inteligente: qualquer

50PWC. Making sense of bitcoin, cryptocurrency, and blockchain. Disponível em: https://www.pwc.com/us/en/industries/financial- services/fintech/bitcoin-blockchain-cryptocurrency.html, acedido em 23 de setembro de 2019.

51PARLAMENTO EUROPEU (2016). Relatório sobre moedas virtuais, ob. cit., pp.6-7.

52Os miners também podem ser designados por workers ou nodes.

53Os próprios miners desconhecem as operações matemáticas que são usadas pois estas são altamente encriptadas. São necessários equipamentos muito mais sofisticados que um computador pessoal para realizar a atividade.

54 BAL, A. (2014). Taxation of Virtual Currency, Leiden University Repository. Disponível em:

https://openaccess.leidenuniv.nl/handle/1887/29963, acedido em 24 de setembro de 2019, p. 135.

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21 miner tem todo o interesse em que a rede seja totalmente segura e prospere no tempo. Isso significa ganho para o próprio, que também possui investimento na moeda da rede.

A mineração, a atividade de que se ocupam os miners, acontece num processo com várias fases, e este processo é despoletado pelos utilizadores da rede que pretendem efetuar uma nova transação com Bitcoins.

Primeiro, o utilizador coloca um pedido à rede Bitcoin informando que pretende realizar uma transação. Essa informação é espalhada pela rede, de forma a que todos os miners saibam da intenção. Assim que os miners tomam conhecimento do pedido, estes recorrem a processos de validação da nova transação, verificando se todos os dados inseridos pelo utilizador não foram já consumidos em transações anteriores. Verificam também que as respetivas assinaturas digitais são válidas. Assim que esta validação está completa, o miner em causa informa os restantes miners da rede dessa transação, para que esta informação não sejam duplamente publicitada. Os miners juntam um conjunto de novas transações já previamente validadas num bloco de transações, e competem entre si pelo registo dessas transações na base de dados. Esta competição é realizada através de um puzzle criptográfico- o primeiro miner que resolver esse puzzle, junta o bloco de transações pelo qual disputa à sua base de dados e publica a solução do puzzle, assim como o novo bloco na rede. Os restantes miners validam que a solução do puzzle criptográfico é a correta, e registam também o novo bloco de transações nas suas respetivas bases de dados. Apenas após o registo do novo bloco de transações ser replicado por toda a rede de miners é que se pode considerar que as transações nele contidas estão confirmadas55.

O trabalho dos miners consiste em investimento em moeda, neste caso Bitcoin, para obter rendimento de forma alternativa, no caso de receberem pagamento na moeda. A mineração tem a vantagem de ser um investimento passivo, uma vez que não necessita do esforço ativo do investidor para gerar dinheiro. Apesar desta vantagem, tem também a desvantagem de comportar o risco que advém das variações de valor da Bitcoin.

Além disso, a mineração é uma tarefa bastante complicada, que exige um grande investimento em hardware e que implica grandes custos em eletricidade. É mesmo necessário equipamentos e computadores específicos para a mineração, pelo que a mesma não é uma forma de obter rendimento acessível para qualquer pessoa56.

55MARTINS, P. (2018). Introdução à Blockchain, ob. cit., pp. 76-77.

56PACHECO, A. V. (2018). “Bitcoin”, ob. cit., pp .88-93.

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4. A REGULAÇÃO DAS MOEDAS VIRTUAIS

Não existem ainda, na generalidade dos países, organizações jurídicas que determinem as regras de utilização da Bitcoin. Esta regulamentação é fundamental, pois irá permitir que a nova tecnologia seja legalizada, para que mais utilizadores adiram à mesma, contribuindo para uma aceitação geral da Bitcoin e da tecnologia por detrás da mesma.

Apesar da falta de regulação, a tecnologia blockchain cresceu a olhos vistos, o que preocupa os governos e as autoridades dos diferentes países. A maior preocupação é a utilização indevida desta tecnologia, em particular o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo. Também são fatores preocupantes o abalo da eficácia das políticas monetárias centrais, relacionadas com a fraude, a evasão e a equidade fiscais. A tomada de consciência por parte dos países da necessidade de regulação da moeda só demonstra o sucesso da mesma.

São várias as potenciais áreas de regulação das moedas virtuais, sendo que neste trabalho as de principal relevo são as áreas fiscal e jurídica. A área jurídica é a primeira que deve ser abordada, já que as moedas virtuais carecem de classificação da natureza jurídica. Esta classificação influencia as restantes áreas, logo é fundamental definir se as moedas virtuais são uma nova forma de dinheiro virtual, com curso legal, se são um novo meio de troca ou até um novo ativo financeiro digital. Alguns países interpretam a moeda virtual como um meio de troca, enquanto que outros consideram que a mesma se trata de um ativo financeiro digital. Não existe ainda uma classificação comum nem quaisquer critérios objetivos.

A área de maior relevo neste trabalho assenta em matéria fiscal. A posse e utilização, a compra e venda de moedas virtuais terá certamente as suas consequências em matéria fiscal, por conseguinte este ponto terá de ser objetivamente regulado. Caso as moedas virtuais sejam consideradas ativos financeiros, as mais ou menos valias obtidas com as transações da moeda podem ser tributadas no âmbito da tributação do rendimento.

Também se a atividade de mineração for considerada uma forma de rendimento, os retornos obtidos podem ser tributados como resultantes de atividade profissional. Estes exemplos e outros casos serão abordados ao longo dos próximos pontos.

Referências

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