HIPERINSUFLAÇÃO MANUAL COMO RECURSO FISIOTERAPÊUTICO
Manual hyperinflation as a physical therapy modality
Bruno Pereira Nunes
1, Fabíola Maria Ferreira da Silva
21
Fisioterapeuta pela Faculdade Estácio de Sá Goiás, Pós-graduando em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva pelo Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada - CEAFI, Goiânia/GO.
2
Fisioterapeuta pela Universidade do Triângulo – UNITRI, Uberlândia/MG;
Especializada em Fisioterapia Cardiorrespiratória pelo Hospital Nossa Senhora de Lourdes – HNSL e Especializada em Fisioterapia em Cardiologia: da UTI a Reabilitação pela UNIFESP, São Paulo/SP, Docente do CEAFI Pós-graduação, Goiânia/GO.
Endereço para correspondência: Alameda Joaquim Gustavo da Veiga Jardim quadra 13 lote 15 casa 02 Parque Veiga Jardim IV, Aparecida de Goiânia – Goiás. CEP: 74954-360
brunofisioarte@hotmail.com
RESUMO
Introdução: A Hiperinsuflação manual (HM) é um recurso amplamente utilizado na UTI, porém há poucos estudos investigando seus benefícios e com grandes diferenças metodológicas entre os protocolos utilizados. Objetivo:
Determinar quais os reais benefícios do uso da hiperinsuflação manual em pacientes adultos submetidos à ventilação mecânica invasiva além de definir qual a melhor técnica para aplicá-la. Método: Foi realizada uma revisão bibliográfica envolvendo os periódicos PubMed, MEDLINE e SciELO. Foram selecionados, 14 estudos clínicos realizados entre os anos de 2004 a 2013.
Conclusão: A HM não por si só, mas associada a manobras de mobilização e expansão pulmonar apresenta-se como um recurso de grande utilidade quando aplicado em pacientes sob ventilação mecânica invasiva (VMI) resultando em meios de otimizar redução de resistência de via aérea (Rva), aumento de complacência estática (Cst) e melhores resultados no desmame da VMI.
Descritores: fisioterapia respiratória, hiperinsuflação manual, ventilação mecânica.
ABSTRACT
Introduction: Manual hyperinflation (HM) is a widely used resource in the Intensive Care Unit (ICU), but there are few studies investigating their benefits and with large methodological differences between the protocols used.
Objective: To determine what the real benefits of using the manual hyperinflation in adult patients undergoing invasive mechanical ventilation in addition to defining the best technique to apply it. Method: a literature review involving Periodicals PubMed, MEDLINE and SciELO. We selected 14 clinical studies conducted in the years 2004 to 2013. Conclusion: HM not alone, but associated with mobilization and pulmonary expansion maneuvers presents itself as a very useful feature when used in patients on invasive mechanical ventilation (VMI) resulting in ways to optimize reduction of airway resistance (Rva), static compliance increased (Cst) and better results in weaning from IMV.
Descriptors: Chest Physiotherapy, manual hyperinflation, mechanical
ventilation.
INTRODUÇÃO
Aproximadamente um terço dos pacientes admitidos em uma unidade de terapia intensiva (UTI), necessita do uso de ventilação mecânica invasiva (VMI) devido a existências de distúrbios respiratórios como hipoxemia e hipercapnia.
1A VMI apresenta-se assim como tratamento de suporte, e é utilizado com o objetivo de corrigir os distúrbios, mantendo adequada ventilação alveolar, equilíbrio ácido básico e reduzindo o trabalho respiratório.
2Durante a ventilação mecânica a presença de via aérea artificial, a utilização de altas concentrações de oxigênio, lesão da mucosa traqueobrônquica, alteração do mecanismo de tosse, uso de agentes farmacológicos, imobilidade, alteração da mecânica ventilatória e umidificação inadequada geram produção excessiva de muco e alteração na função mucociliar. Este grupo de pacientes submetidos à VMI esta suscetível à ocorrência de retenção de secreções.
2,3,4,5,6O acúmulo de secreções traqueobrônquicas leva ao aumento da resistência das vias aéreas, resultando em assincronia, queda da oxigenação ou se presente oclusão total da via aérea de condução, pode ocorrer colabamento ou atelectasia de determinada região pulmonar. Esses pacientes apresentam invariavelmente, processos infecciosos como a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). Todas estas complicações acabam culminando assim, no retardo da retirada da ventilação mecânica, prolongando a estadia destes pacientes nas unidades de internação hospitalares.
5,7A fisioterapia respiratória surge como importante recurso na redução da
ocorrência destas complicações, pois promove a desobstrução e
permeabilidade das vias aéreas de condução ou ainda reexpansão de áreas
previamente colapsadas, através de uma grande gama de recursos manuais e
mecânicos visando sempre à melhora da funcionalidade dos pacientes.
5,7,8Além da prevenção de complicações como PAV, a implementação de um
adequado atendimento fisioterapêutico, esta associado ao aumento do sucesso
de desmame da ventilação mecânica, redução da mortalidade, do tempo
necessário de desmame, tempo de VMI e de internação na UTI.
9,10Dentre os vários recursos existentes uma das técnicas de maior uso e difusão dentro das unidades de terapia intensiva é a hiperinsuflação manual (HM). Esta técnica é utilizada principalmente em pacientes críticos sob VMI onde os mesmos são desconectados do ventilador mecânico e ventilados manualmente através de um ressuscitador manual. Há o emprego de uma lenta e profunda inspiração seguida de uma pausa inspiratória e rápida liberação do ressuscitador de forma a gerar assim um rápido fluxo expiratório mimetizando o mecanismo da tosse.
11,12,13Por ser capaz de promover aumento da pressão inspiratória através de emprego de volumes correntes maiores e gerar altos fluxos expiratórios a manobra de HM pode ser usada tanto com o objetivo de reexpansão de áreas atelectasiadas como depuração de secreções traqueobrônquicas.
14,15,16Apesar da manobra de hiperinsuflação manual ser amplamente utilizada na prática fisioterapêutica dentro das unidades de terapia intensiva, existe poucos estudos avaliando sua efetividade, sendo aplicada de forma isolada em adultos submetidos à ventilação mecânica invasiva. Outro fato importante é que a interpretação dos resultados destes estudos tem sido limitada pelas diferenças entre as definições da técnica, dosagens empregadas e técnica propriamente dita.
O objetivo desta revisão é determinar quais os reais benefícios do uso da hiperinsuflação manual em pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva, sua influência sobre variáveis gasométricas, de mecânica pulmonar, mortalidade, tempo de VMI, complicações pulmonares, mortalidade e de seus possíveis efeitos adversos, além de identificar a melhor dosagem e método de aplicação, de forma a alcançar o seu melhor resultado terapêutico.
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão bibliográfica envolvendo os periódicos
PubMed, MEDLINE e SciELO utilizando os seguintes descritores: fisioterapia
respiratória, hiperinsuflação manual, ventilação mecânica. Foram incluídos
apenas estudos clínicos envolvendo aplicação de hiperinsuflação manual em
pacientes adultos submetidos à ventilação mecânica invasiva. Foram
excluídos: cartas ao editor, relatos de casos, editoriais, comentários, revisões
de literatura e estudos experimentais. Foram também excluídos estudos
envolvendo pacientes pediátricos ou neonatais. Após serem aplicados os critérios de inclusão e exclusão, de 21 estudos encontrados foram selecionados para serem analisados 14 estudos clínicos realizados entre os anos de 2004 a 2013.
RESULTADOS
A tabela a seguir traz informações sobre estudos selecionados, apresentando quais foram os objetivos principais buscados pelos autores, as características dos grupos alvos da intervenção e qual a conclusão ao final dos trabalhos. (Tabela 1)
Tabela 1
Autor Objetivo Grupo de estudo Conclusão
Berney et al 2004
Avaliar a associação entre HM e a postura de Trendeleburg sobre a remoção de secreçãoem adultos sob VMI
20 pacientes adultos submetidos a VMI
Melhora da Cst e da retirada de secreção através de aspiração
traqueal
Choy e Jones 2005
Investigar a influência da HM sobre a mecânica respiratória de pacientes com pneumonmia associada à ventilação mecânica
50 pacientes sob VMI
Aumento de 22%
sobre a Cst Redução de 21%
sobre a Rva após 30 minutos da implementação da
técnica
Blatner et al, 2008
Avaliar a influencia da
HM sobre a
oxigenação,
complacência, tempo de VM e de internação e complicações respiratórias
55 pacientes submetidos a CRM
Evidenciou-se melhora da Complacência, da oxigenação e redução
do tempo de VM
Santos et al 2010
Avaliar a eficácia do uso de HM associado
com PEEP em
pacientes submetidos a CRM
18 pacientes no P.O CRM em VMI
Pacientes submetidos a HM obtiveram aumento de VCI, VCE e Cst
Paullus et al 2011
Avaliar a influência do uso da HM sobre a CRF e complicações respiratórias
100 pacientes submetidos a CRM e sob VMI
Atenuação da queda de CRF e menor ocorrência de anormalidades
radiológicas em
pacientes tratados
com HM Paulus et al
2010
Avaliar a incidência de complicações geradas pela manobra de HM
107 manobras
74 pacientes sob VMI Baixa ocorrência de repercussões
hemodinâmicas ou respiratórias
indesejáveis
Godoy et al 2011
Avaliar se a manobra de HM provoca aspiração de secreções orofaríngeas em pacientes sob VMI
29 pacientes sob VMI
226 amostras A HM não propiciou
aspiração de
secreções da
orofaringe em pacientes sob VM Berti et al
2012
Investigar o efeito da HM associada CT sobre a duração de internação na UTI e tempo de VM
49 pacientes sob VMI O uso da HM
associado a
compressão torácica resultou em menor tempo de VM e de internação
Pattanshetty e Gaude et al
2011
Avaliar o uso de vários recursos de fisioterapia respiratória sobre a ocorrência e a recuperação de complicações
respiratórias em pacientes sob VMI
173 pacientes entubados e sob VMI Grupo controle: HM + (AT)
Grupo estudo: HM +
AT + CT +
posicionamento + vibração torácica (VT)
No Grupo tratado com multimodalidades fisioterapêuticas observou-se menor incidência de PAV, menor tempo de desmame e menor tempo de internação
José et al 2013
Avaliar os efeitos da fisioterapia sobre o desmame da ventilação mecânica
50 pacientes
Grupo controle: Sem Fisioterapia
Grupo fisioterapia:
HM + CT + AT
A fisioterapia esteve associada a maior sucesso no desmame, menor tempo de desmame, menor tempo de VM, menor tempo de internação na UTI
HM: Hiperinsuflação Manual PEEP: Pressão positiva expiratória CRM: Cirurgia de