Auto da barca do inferno, de Gil Vicente
Personagem Símbolos
caracterizadores Argumentos de acusação Argumentos de
defesa Movimentação Cénica e Motivo
da condenação
Tipos de cómico Registos de
língua Recursos estilísticos
F ID A L G O
- Pagem- Cadeira- Rabo (cauda do manto)
. símbolos do poder, da riqueza e da vaidade;
. o Pagem serve como “prova judicial” para a condenação e é um elemento que destaca a cate- goria social do Fidalgo.
- Utilizados pelo Diabo:
. «Vejo-vos eu em feição pêra ir ao nosso cais»
. Tu viveste a teu prazer»
. «Segundo lá escolheste»
- Utilizados pelo Anjo:
. «Não se embarca tirania neste batel divinal»
. «Pêra vossa fantasia mui estreita é esta barca»
. «Não vindes vós de maneira pêra ir neste navio»
. «com fumosa senhoria, cuidando na tirania do pobre povo queixoso; e porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-ês tanto menos quanto mais fostes fumoso»
- Tirania, exploração dos mais fracos, arrogância, presunção, má consciência religiosa.
. «Que leixo na outra vida quem reze sempre por mim»
. «pois parti tão sem aviso»
. «Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.»
. «Pêra senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia?»
- Condição social, orações pela sua alma, partiu sem aviso.
- Entra, dirige-se à barca do Diabo, depois vai à barca do Anjo e por fim regressa à barca do Diabo, onde entra.
. É condenado devido à sua vaidade, tirania, desprezo pelos pequenos e por causa da vida imoral que levava (infidelidade)
INFERNO
- Cómico de situação:
. «Pêra lá vai a senhora»
- Cómico de linguagem:
. «Que giricocins, salvanor»
- Cómico de carácter:
. «tornarei à outra vida ver minha dama querida que se quer matar por mi»
.«Dá-me licença, te peço, que vá ver minha mulher».
- Linguagem corrente:
. «Isso bem certo o sei eu.»
- Linguagem popular:
«Par Deus, aviado estou!»
- Linguagem cuidada:
«Porém, a que terra passais?»
- Eufemismo:
. «vai para a ilha perdida»
- Ironia;
. «ò poderoso dom Amrique»
. «Embarqu’a vossa doçura, que cá nos entederemos»
- Antítese:
.«Segundo lá escolhestes,, assi cá vos contentai»
- Metáfora:
. «Oh! Que maré tão de prata»
. «Ó barca, como és ardente!»
- Hipérbole - Apóstrofe
O N Z E N E IR O
- Bolsão. símbolo de avidez, de ganância, da ambição pela riqueza- Utilizados pelo Diabo:
. «onzeneiro meu parente»
. «Irás servir Satanás porque sempre te ajudou»
- Utilizados pelo Anjo:
. «Porque esse bolsão tomará todo o navio»
. «Não já no teu coração»
. «Ó onzena, como és fea e filha de maldição!»
- Avareza, usura, ganância, ambição desmedida.
. «Solamente pêra o barqueiro nom me leixaram nem tanto»
. «Juro a Deus que vai vazio!»
. «Lá me fica de ródão minha fazenda e alhea»
- O bolsão vazio.
- Tem dinheiro para
- Entra, dirige-se à barca do Diabo, depois vai à barca do Anjo e por fim regressa à barca do Diabo, onde entra.
. É condenado porque cobrava juros muito altos e por ser demasiado ambicioso
- Cómico de carácter:
. «Quero lá tornar ao mundo e trarei o meu dinheiro»
- Cómico de linguagem:
. «dá-me tanta borregada como arrais lá no Barreiro»
- Cómico de situação:
. «Dar-vos-ei tanta pancada com um remo, que renegues!»
- Linguagem corrente . presente em todo o texto - Linguagem popular:
. «Pesar de São Pimen- tel, nunca tanta pressa vi»
- Ironia:
. «Ora mui muito me espanto nom vos livrar o dinheiro»
. «Oh! Que gentil recear»
- Eufemismo:
. «me deu Saturno quebranto»
. «Pera a infernal comarca.»
pagar a passagem.
INFERNO
- Metáfora:
. «onzeneiro meu parente»
- Repetição:
«Ora entrai»
Personagem Símbolos
caracterizadores Argumentos de acusação Argumentos de defesa Movimentação cénica e Motivo da
condenação
Tipos de cómico Registos de
língua Recursos estilísticos
Jo a n e , o P A R V O
- Não há símboloscaracterizadores (o que remete para a sua simplicidade)
- Não há argumentos de
acusação - Utilizados pelo Anjo:
. «porque em todos teus fazeres per malícia nom erraste, tua simpreza t’abaste pera gozar dos prazeres» (ou seja, era uma pessoa simples e sem maldade)
- Ausência de malícia
. Entra, dirige-se à barca do Diabo e vai depois à barca do Anjo. Fica no cais, à espera que «venha alguém merecedor de tal bem que deva entrar aqui»
. Não é condenado pois é uma pessoa simples e sem malícia
PARAÍSO
- Cómico de linguagem:
. sobretudo pelas asneiras e pelo
vocabulário relacionado com caprolalia.
- Cómico de situação:
. quando Joane insulta o Diabo
- Cómico de carácter:
. a maneira de ser de Joane provoca o riso («de pulo ou de vôo?»
- Calão : .asneiras, caprolalia - Linguagem popular:
.«Hou! Pesar de meu avô!»
.«Antrecosto de carrapato»
- Linguagem corrente:
. no diálogo com o Anjo
- Eufemismo:
. «Ao porto de Lúcifer»
- Repetição:
«Aguardai, aguardai, houlá!»
- Expressões injuriosas:
. «Barca do cornudo»
. «filho da grande aleivosa»
S A P A T E IR O
- Avental- Formas. símbolos da sua profissão, com a qual roubava o povo
- Utilizados pelo Diabo:
. «E tu morreste escomungado nom o quiseste dizer»
. «calaste dous mil enganos.
. «Tu roubaste bem trint’anos o povo com teu mister»
. «Ouvir missa, então roubar é caminho per’aqui»
. «E os dinheiros mal levados, que foi da satisfação?»
- Utilizados pelo Anjo:
. «a carrega t’embraça»
. «Essa barca que lá está leva quem rouba na praça as almas embraçadas»
. «Se tu viveras direito»
- Roubo, desonestidade, má consciência religiosa
. «Os que morreram confessados, onde têm sua passagem?»
. «confessado e comungado»
. «Quantas missas eu ouvi, nom me hão elas de prestar»
. «E as ofertas, que darão? E as horas de finados?»
. «Isto uxiquer irá»
. «quatro forminhas cagadas que podem bem ir i chentadas num cantinho desse leito»
- confissão, comunhão, missas assistidas, dinheiro dado à igreja, orações pelos defuntos.
- Entra, dirige-se à barca do Diabo, depois vai à barca do Anjo e por fim regressa à barca do Diabo, onde entra.
. É condenado porque morreu excomungado, é mentiroso e roubou o povo durante trinta anos com a sua profissão (daí a sua prática religiosa não lhe valer de nada).
INFERNO
- Cómico de linguagem:
.«e da puta da barcagem»
.«nem à puta da badana»
- Cómico de carácter:
«Mandaram-me vir assi…».
- Gíria:
«cordovão»,
«badana»,
«forminhas»
- Linguagem popular:
. «é esta boa traquitana»
- Calão:
«puta»,
«cagadas»
- Linguagem corrente:
. sobretudo na fala do Anjo
- Ironia:
. «Santo sapateiro honrado!»
- Eufemismo:
. «lago dos danados»
- Hipérbole:
«calaste dous mil enganos»
- Jogo de linguagem . «que vá cozer o Inferno»
- Antítese:
. «...comungado?
E tu morreste escomungado»
- Metáfora:
. «almas embaraçadas»
Personagem Símbolos
caracterizadores Argumentos de acusação Argumentos de
defesa Movimentação
Cénica e Motivo da condenação
Tipos de cómico Registos de
língua Recursos estilísticos
Personagem Símbolos caracterizadores
Argumentos de acusação Argumentos de defesa
Movimentação Cénica e Motivo da
condenação
Tipos de cómico Registos de língua
Recursos estilísticos
F R A D E
- Moça- Espada- Casco - Broquel [símbolos da sua dedicação às coisas do mundo («padre munda- nal», «Frei Capacete») e de não praticar do celibato («padre marido»)]
- Hábito
- Utilizados pelo Diabo:
. «Pêra aquele fogo ardente que nom temestes vivendo»
. «padre mundanal»
. «padre marido»
. «padre Frei Capacete»
- vida mundana, má consciência religiosa
. «Som cortesão»
. «E eles fazem outro tanto!»
. «E est’hábito no me vale?»
. «Um padre … tanto dado à virtude?»
. «Nom ficou isso n’avença.»
. «com tanto salmo rezado?»
.«Padre que tal aprendia no Inferno há-de haver pingos?»
. «minha reverença»
- condição religiosa
- Entra, dirige-se à barca do Diabo, depois vai à barca do Anjo e por fim regressa à barca do Diabo, onde entra.
. É condenado porque se dedicava às coisas do mundo (esgrima, dança) e não praticava o celibato (traz uma moça pela mão que «Por minha la tenho eu»). É significativo o facto de o Anjo nem sequer lhe dirigir a palavra, o que revela o desprezo por esta figura!
INFERNO
- Cómico de situação e - Cómico de carácter:
. quando entra em cena a cantar e a dançar (ainda por cima, com uma moça pela mão!) e quando dá uma lição de esgrima
- Cómico de linguagem:
.«Furtaste o trinchão, frade?»
- Gíria:
.«Deo gratias»
«sus», «um fendente»,
«levada», «talho largo»,
«revés», «colher os pés» e
«segunda guarda», etc.
- Linguagem popular:
«palha n’albarda»,
«Ah! nom praza a São Domingos»
- Ironia
« Fezeste bem, que é fermosa!»
«Devoto padre»,
«Dê…lição d’esgrima, que é cousa boa!»
«Que cousa tão preciosa!»
- Eufemismo
«fogo ardente»
- Antítese
«padre mundanal»,
«padre marido»
- Comparação:
«Tão bem guardado como a palha n’albarda»
A L C O V IT E IR A
- Seiscentos virgos postiços - Três arcas de feitiços - Três almários de mentir - Cinco cofres de enlheos- Alguns furtos alheos (jóias e guarda-roupa) - Moças
- Prostituição, mentira,
impostura, roubo, feitiçaria, má consciência religiosa.
.«Eu sô ua martela tal, açoutes tenho levados e tormentos soportados que ninguém me foi igual. Se fosse ò fogo infernal, lá iria todo o mundo»
.«a que criava as meni- nas para os cónegos da Sé»
.«E eu som apostolada, angelada e martelada e fiz cousas mui divinas.
Santa Úrsula nom con- verteo tantas cachopas como eu: todas salvas pólo meu, que nenhua se perdeo (…) que todas acharam dono (…) Nem ponto se me perdeo!»
- vida de martírio e dedicação aos outros;
- converteu raparigas e ofereceu ao clero.
- Entra, dirige-se à barca do Diabo, depois vai à barca do Anjo e por fim regressa à barca do Diabo, onde entra.
. É condenado devido à vida que levava: criava meninas para os cónegos da Sé e para a prostituição (e «todas acharam dono»), mentindo e vivendo da exploração das raparigas (prostituição)
INFERNO
- Cómico de linguagem:
.«Cuidas que trago piolhos»
- Cómico de situação e - Cómico de carácter (quando tenta seduzir o Anjo, com “palavrinhas doces” e quando, mesmo depois de morta, se mostra preocupada com a sua aparência («pareço mal cá de fora»)
Popular - Ironia
«Que saboroso arrecear»
- Eufemismo
«fogo infernal»
- Comparação
«Santa Úrsula nom converteo tantas cachopas como eu»
- Metáfora:
«meu amor, minhas boninas, olho de perlinhas finas»
C O R R E G E D O R E P R O C U R A D O R
FeitosVaralivro
Corrupção, suborno, má consciência religiosa, desprezo pelos mais pequenos, mentira
- Condição profissional, leis.
- Quem aceita os subornos, é a sua mulher.
- Entra, dirige-se à barca do Diabo, depois vai à barca do Anjo e por fim regressa à barca do Diabo, onde entra.
. o Procurador é conde- nado porque fora conivente com o Procurador, sendo
«filhos da ciência»
INFERNO
- Cómico de linguagem:
. uso do latim macarrónico
- Cómico de carácter:
. o corregedor pretende, neste julgamento, um oficial de justiça - Cómico de situação:
Gíria Cuidada
Metáfora:
“Oh, pragas pera papel”
Ironia:
“Como vindes preciosos…”
JU D E U
Bode - salvação dos pecados, a purificação, o que explica o apego do Judeu ao Bode, mesmo depois da morte. (Símbolo da religião judaica).- religião judaica, profanar lugares sagrados, comer carne no dia de nosso Senhor
- Se a Brízida Vaz vai para o Inferno, ele também tem de ir.
Cais – Diabo – Anjo – Diabo
INFERNO
Linguagem - utiliza o registo de língua popular nos insultos ao parvo e ao Diabo (581- 588)
b. Situação - aparece com o bode às costas e termina a reboque da Barca do Inferno (didascália de entrada:
“com um bode às costas; e, chegando ao batel dos danados, …
Calão - Pragas que roga ao Diabo
Ironia:
- Conversa entre o Diabo e o Judeu
Perífrase:
- «Ao senhor meirinho apraz»
E N F O R C A D O
baraço Crime, ignorância religiosa Passagem pela prisão do Limoeiro, condenação à morte por enforcamento.Garcia Moniz disse que quem morre enforcado vai para o paraíso.
Cais – Diabo
INFERNO
Corrente Popular
Anáfora:
“Disse que era o Limoeiro… mui notório”
Ironia:
“Venhais embora”
Hipérbole:
“E com isto mil latins”
Comparação:
“Nem guardião do moesteiro…
carcereiro”
Repetição:
“Entra, entra no batel”
Q U A T R O C A V A L E IR O S
Cruz de Cristo Espadas escudos
Morte na defesa da fé
cristã - Entram, a cantar, e vão direitos à barca do Anjo, onde entram.
- Não são condenados.
Vão para o Paraíso pois morreram a lutar por Cristo e «quem morre em tal peleja merece paz eternal».
PARAÍSO
Situação:
“Entrai cá! Que cousa é essa? Eu nom posso entender isto!”
Corrente:
“Quem morre por Jesus Cristo não entra em tal barca como essa”
Cuidada:
“Vós, Satanás, presumis atentai com quem falais”
Metáfora:
“barca da vida”
Eufemismo:
“deste temeroso cais”
Anáfora / Repetição:
“À barca, à barca”
Adjectivação:
“sois livres, mártires, nobrecida, guarnecida”.