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A C Ó R D Ã O. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Vigésima Quinta Câmara Cível

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Academic year: 2022

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Agravante: Banco Daycoval S/A Agravado: Aciresio Pacheco Andrade Relatora: Des. Marianna Fux

A C Ó R D Ã O

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONTRATOS DE MÚTUO CONSIGNADO COM DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO E EM CONTA CORRENTE. SUPERENDIVIDAMENTO.

ALEGAÇÃO AUTORAL DE DESCONTO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO EM RAZÃO DE EMPRÉSTIMOS QUE COMPROMETEM, APROXIMADAMENTE, 98,43% DE SEUS GANHOS. DECISÃO QUE DEFERIU A TUTELA DE URGÊNCIA PARA LIMITAR OS DESCONTOS EM 30% DOS RENDIMENTOS LÍQUIDOS DO AUTOR, SOB PENA DE MULTA DO DOBRO DO VALOR COBRADO PARA CADA DESCONTO, DETERMINANDO A EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO ÓRGÃO PAGADOR. RECURSO DO 6º RÉU.

1. A tutela de urgência, prevista no artigo 300 do CPC/2015, estabelece os requisitos para sua concessão, que são a probabilidade do direito, o perigo de dano ou risco de inutilidade do resultado do processo e não ser a mesma irreversível.

2. Recorrido que, em sua peça inicial, aduziu que as instituições financeiras vêm efetuando descontos que chegam a 98,43% de seu benefício previdenciário, comprometendo sua subsistência e de sua família.

3. Pacto firmado com o agravante que cuida de cartão consignado em folha de pagamento, devendo-se observar o limite de 5% reservados, exclusivamente, para esse fim, como autoriza o § 1º do art. 1º da Lei nº 10.820/03, e, na espécie, perfaz a monta de R$ R$ 113,76, não extrapolando o percentual. Precedentes: 0006762- 66.2019.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO – Des(a). FERNANDO FERNANDY FERNANDES - Julgamento:

MARIANNA FUX:33439

Assinado em 01/07/2020 12:06:12 Local: GAB. DES(A) MARIANNA FUX

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17/06/2019 – 13ª CÂMARA CÍVEL. 0018103- 26.2018.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO Des(a). JDS ANA CÉLIA MONTEMOR SOARES RIOS GONÇALVES - Julgamento: 22/05/2018 – 9ª CÂMARA CÍVEL.

4. Recurso provido para indeferir a tutela em relação ao 6º réu/agravante.

VISTOS,

relatados e discutidos estes autos dos Agravo de Instrumento nº. 0014267-74.2020.8.19.0000, em que é agravante Banco Daycoval S/A, sendo agravado Aciresio Pacheco Andrade.

ACORDAM

os Desembargadores que compõem a Vigésima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora.

V O T O

Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Banco Daycoval S/A contra decisão, proferida nos autos da ação de obrigação de fazer proposta por Aciresio Pacheco Andrade, que deferiu a tutela de urgência, nos seguintes termos (indexador 35 do processo originário):

“Defiro a gratuidade de justiça. Anote-se no sistema. Os documentos trazidos aos autos pela autora demonstram cabalmente que os valores descontados em sua folha de pagamento ultrapassam o percentual de 30%, violando o princípio da dignidade humana já que há significativa retenção do seu salário para pagamento de empréstimos que, apesar de terem sido validamente contratados, implicam em endividamento do seu único meio de sobrevivência. Não há risco de irreversibilidade da medida, posto que sempre haverá a possibilidade de compensação patrimonial entre as partes, sendo certo que a presente medida, por ser proferida com base em juízo de probabilidade, e não de certeza, poderá ser revogada rebus sic stantibus. Por todo o exposto, na forma da Súmula 295 do TJRJ, DEFIRO A TUTELA para determinar que sejam limitados os descontos no contracheque da parte autora ao valor total correspondente a de 30% dos rendimentos líquidos até provimento final da lide, estando permitida a variação do valor do desconto, caso comprovado eventual aumento salarial da autora. Intimem- se os réus para que procedam à adequação dos respectivos descontos na forma da planilha de fls. 06, sob pena de multa no valor dobrado para cada desconto em

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desacordo com esta decisão. Expeça-se ofício ao órgão pagador dando-lhe ciência e determinando que proceda às providências cabíveis para atendimento do que ora determinado. Intimem-se todos acerca desta decisão. Com base na Lei nº 13.140/15, art. 2º, V,§2º, que preserva a autonomia de vontade das partes, deixo de designar a audiência prevista no art. 334 do CPC. Intimem-se e Cite(m)-se o(s) réu(s) para, no prazo de quinze dias, contestar(em) a ação, sob pena de serem aplicados os efeitos da revelia e presumidas verdadeiras as alegações de fato formuladas pela autora em sua petição inicial (art. 344 do CPC). Quanto aos réus com domicílio neste Estado, cumpra-se por OJA; os demais, por carta com aviso postal.”. (Grifei)

O agravante aduziu a ausência dos requisitos autorizadores da medida, porquanto no contracheque da autora ainda há a quantia R$ 0,13 de margem consignável, não havendo ilegalidade nos descontos. Afirmou que os valores debitados diretamente na conta bancária, no montante de R$ 1.836,03, não se referem a contratos de empréstimos consignados. Destacou que o pacto celebrado com o autor é na modalidade cartão de crédito consignado, incidindo margem exclusiva de 5%, que, de igual modo, não foi alcançada.

Asseverou a impossibilidade de considerar desconto em conta corrente para fins de cálculo de margem consignável. Apontou ser desproporcional a multa aplicada no dobro do valor cobrado, afigurando-se incompatível com a súmula nº 144 deste TJERJ. Requereu a concessão do efeito suspensivo e, ao final, a revogação da tutela de urgência.

Decisão indeferindo os pedidos de efeito suspensivo (indexador 18).

Certidão informando que o agravado não apresentou contrarrazões (indexador 21).

É o relatório.

Assiste razão ao 6º réu, ora agravante.

Da leitura do artigo 300, do CPC, decorre a necessidade de prova inequívoca, para incutir no julgador a verossimilhança das alegações formuladas pelo pretendente, bem como o receio de dano irreparável ou de difícil reparação para efeito de concessão da antecipação dos efeitos da tutela.

Nessa senda, em sede de cognição sumária, cabe ao Juiz dirigente do

processo aferir a relevância do direito alegado (fumus boni iuris), o que tanto pode

conduzir ao deferimento ou indeferimento do pleito.

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No caso em exame, o juízo de 1º grau deferiu a tutela de urgência para limitar os descontos referentes a todos os contratos pactuados ao patamar de 30%

dos vencimentos líquidos do agravado, observando-se a planilha apresentada no indexador 6 dos autos originários, permitindo a variação do valor do desconto, caso comprovado eventual aumento salarial, sob pena de multa no dobro do valor descontado.

Determinou, ainda, a intimação dos réus para que providenciem as medidas necessárias ao cumprimento da decisão, bem como a expedição de ofício ao órgão pagador para fins de ciência e cumprimento no que lhe couber.

O recorrido, em sua peça inicial, aduziu que as instituições financeiras vêm efetuando descontos em seu contracheque que chegam a 98,43% de seu benefício previdenciário, comprometendo sua subsistência e de sua família.

Deve-se observar que o agravado incluiu na demanda originária 14 contratos distintos e com instituições financeiras diversas, devendo ser analisado cada qual por sua natureza:

Instituição Financeira Valor Modalidade contratada

BONSUCESSO R$ 28,50 Empréstimo consignado

em folha de pagamento

BONSUCESSO R$ 370,05 Empréstimo consignado

em folha de pagamento

ITAÚ R$ 400,97 Empréstimo consignado

em folha de pagamento

BGN R$ 17,00 Empréstimo consignado

em folha de pagamento

AGIPLAN R$ 12,00 Empréstimo consignado

em folha de pagamento

AGIPLAN R$ 289,97 Empréstimo com desconto

em conta bancária

AGIPLAN R$ 861,39 Empréstimo com desconto

em conta bancária

VOTORANTIM R$ 26,02 Empréstimo consignado

em folha de pagamento

DAYCOVAL R$ 113,76 Cartão de Crédito

Consignado

CREFISA R$ 236,08 Empréstimo com desconto

em conta bancária

CREFISA R$ 112,15 Empréstimo com desconto

em conta bancária

CREFISA R$ 112,15 Empréstimo com desconto

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em conta bancária

CREFISA R$ 112,15 Empréstimo com desconto

em conta bancária

CREFISA R$ 112,14 Empréstimo com desconto

em conta bancária

Na espécie, observa-se de que contrato firmado entre recorrente e recorrido é na modalidade cartão de crédito consignado em folha de pagamento.

Assim, cinge-se a controvérsia em analisar a possibilidade de limitação dos descontos decorrentes de cartão de crédito consignado, se deve ser aplicada multa pelo não cumprimento da tutela antecipada, bem como se valor estabelecido pelo magistrado de primeiro grau para as astreintes foi adequado.

A renda auferida pela recorrida é proveniente de aposentadoria pelo INSS (indexador 16 dos autos originários), sujeita à Lei nº 10.820/03, que dispõe sobre a autorização para descontos de prestações em folha de pagamento dos empregados regidos pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).

O artigo 1º da supracitada Lei, com redação dada pela Lei nº 13.172/15, assim determina, in verbis:

“Art. 1º. Os empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, poderão autorizar, de forma irrevogável e irretratável, o desconto em folha de pagamento ou na sua remuneração disponível dos valores referentes ao pagamento de empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e operações de arrendamento mercantil concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil, quando previsto nos respectivos contratos.

§1º. O desconto mencionado neste artigo também poderá incidir sobre verbas rescisórias devidas pelo empregador, se assim previsto no respectivo contrato de empréstimo, financiamento, cartão de crédito ou arrendamento mercantil, até o limite de 35% (trinta e cinco por cento), sendo 5% (cinco por cento) destinados exclusivamente para: I - a amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito; ou II - a utilização com a finalidade de saque por meio do cartão de crédito.”.

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E, na espécie, o contrato celebrado com o agravante cuida de cartão consignado em folha de pagamento (indexador 16 dos autos originários), devendo-se observar o limite de 5% reservados, exclusivamente, para este fim.

O desconto a título de cartão de crédito consignado totaliza R$ 113,76, o que não extrapola o percentual destinado para esta modalidade de contrato.

Sendo assim, assiste razão ao recorrente quanto à existência de percentual específico e exclusivo para o contrato em questão, não se justificando a concessão da tutela para adequação deste desconto, considerando que não houve extrapolamento do percentual legal, o que descaracteriza o perigo de dano e a probabilidade do direito, devendo a decisão ser reformada neste capítulo, restando prejudicadas as questões referentes à aplicação da multa e o seu quantum.

Neste sentido, colaciona-se os seguintes precedentes, ex vi:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO CONSUMIDOR.

TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA. EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS EM FOLHA DE PAGAMENTO E DESCONTADOS EM CONTA CORRENTE. SUPERENDIVIDAMENTO. LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS AO PERCENTUAL DE TRINTA POR CENTO DOS VENCIMENTOS LÍQUIDOS DO DEMANDANTE.

DECISÃO DE DEFERIMENTO DA TUTELA DE URGÊNCIA QUE MERECE PEQUENO REPARO. RECORRENTE QUE LOGROU DEMONSTRAR TER SIDO ENTABULADO CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO PARA DESCONTO CONSIGNADO NO CONTRACHEQUE DO AGRAVADO, NÃO SUPERANDO A MARGEM LEGALMENTE PREVISTA PARA A MODALIDADE. INCIDÊNCIA DO DISPOSTO NO ART. 1º,

§1º, DA LEI N.º 10.820/03. MARGEM CONSIGNÁVEL QUE PODE ALCANÇAR O LIMITE DE 35%, SENDO CERTO QUE 5% SÃO DESTINADOS EXCLUSIVAMENTE PARA A AMORTIZAÇÃO DE DESPESAS CONTRAÍDAS POR MEIO DE CARTÃO DE CRÉDITO OU UTILIZAÇÃO COM A FINALIDADE DE SAQUE COM O CARTÃO. PRECEDENTES DESTA E. CORTE DE JUSTIÇA. AGRAVO DE INSTRUMENTO AO QUAL SE DÁ PROVIMENTO.”. (0006762- 66.2019.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO – Des(a).

FERNANDO FERNANDY FERNANDES - Julgamento:

17/06/2019 – 13ª CÂMARA CÍVEL). (Grifei).

"Agravo de Instrumento. Relação de consumo. Ação de obrigação de fazer c/c pedido de tutela de urgência. Agravante pensionista do INSS que requer a limitação das prestações vincendas, referentes a empréstimos contraídos, ao percentual

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mensal de 30% (trinta por cento) de seus ganhos. Agravante que possui 14 (quatorze) empréstimos atualmente, sendo 05 (cinco) consignados, 01 (um) relativo a cartão de crédito e mais 08 (oito) empréstimos com retenção do valor das parcelas diretamente na conta corrente n° 001-00102948-4, agência n°

3057 da Caixa Econômica Federal. Decisão que indeferiu a tutela para determinar a suspensão dos descontos acima do patamar de 30%dos vencimentos da agravada, sob o fundamento de que os empréstimos consignados estão dentro do parâmetro legal. Entretanto, se considerarmos os 08 (oito) descontos realizados junto a conta corrente da parte autora/agravante, além do realizado junto ao cartão de crédito, somados aos descontos de todas modalidades de crédito, percebe-se que 86,75% de sua renda mensal é destinado ao pagamento de contratos de mútuo bancários, comprometendo sobremaneira o mínimo necessário para a existência digna.

Jurisprudência pacificada quanto à prevalência do princípio da dignidade da pessoa humana que a todos se aplica, impondo- se a limitação dos descontos que venham a ferir tal preceito.

Reserva do mínimo existencial. Legislação específica para aposentados e pensionistas do INSS, que limita ao máximo de 30% os descontos consignados. Inteligência da lei nº 10.820/03. A readequação do percentual está exatamente na esteira do entendimento deste Tribunal, o qual entende que nos casos de superendividamento os descontos efetuados na conta bancária, ou no contracheque do devedor, devem ser limitados a 30% de seus ganhos, independente do vínculo empregatício que o mesmo exerça. Aplicação por analogia das Súmulas nº 200 e nº 295 do TJERJ. Agravante que possui consignado com relação a cartão de crédito. Lei 13.172/15 ampliou para 35% o limite de descontos, sendo 5% adicionais destinados exclusivamente a amortizar as dívidas de cartão de crédito.

Decisão agravada que se reforma para determinar que as parcelas das prestações vincendas sejam limitadas ao percentual mensal de 35% (trinta e cinco por cento) dos ganhos brutos da agravante, sendo que 5% será destinado exclusivamente para a amortização das dívidas contraídas por cartão de crédito. RECURSO AO QUAL SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO." (0018103-26.2018.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO Des(a). JDS ANA CÉLIA MONTEMOR SOARES RIOS GONÇALVES - Julgamento: 22/05/2018 – 9ª CÂMARA CÍVEL). (Grifei).

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Isto posto, voto no sentido de dar provimento ao recurso para revogar a tutela antecipada em relação ao 6º réu/agravante, mantendo-se a decisão agravada em seus demais termos.

Rio de Janeiro, de de 2020.

Desembargadora MARIANNA FUX

Relatora

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