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Identificação, classificação e organização do conhecimento arquivístico: reflexões em torno dos instrumentos de gestão de documentos

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Identificação, classificação e organização do conhecimento arquivístico:

reflexões em torno dos

instrumentos de gestão de documentos

Identification, classification and archival knowledge organization: reflections on the instruments of document management

Alexandre Faben (1), Ana Célia Rodrigues (2)

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense – PPGCI/UFF alexandrefaben@gmail.com (1), anyrodrigues@yahoo.com.br (2)

Resumo

Aborda os fundamentos teóricos da organização do conhecimento arquivístico e sua relação com a identificação e classificação em arquivos, analisando os princípios adotados para elaboração dos instrumentos de gestão de documentos. Analisa os conceitos que norteiam as práticas de classificação em arquivos, que fundamentam o estabelecimento das teorias e metodologias adotadas para representar os documentos de arquivo pelo Arquivo Nacional do Brasil. Observam-se nos resultados desta discussão novas perspectivas de investigação, que permitem refletir sobre as questões que envolvem a construção de metodologias para identificar e classificar o documento de arquivo como requisito para a gestão de documentos. Espera-se que os resultados sirvam de parâmetros para as reflexões sobre as teorias e metodologias desenvolvidas com base na organização do conhecimento em arquivos. Integra a produção científica do Grupo de Pesquisa Gênese Documental Arquivística, UFF/CNPq.

Palavras-chave: Identificação arquivística; Classificação; Organização do Conhecimento Arquivístico; Gestão de Documentos; Arquivo Nacional.

Abstract

Discusses the theoretical foundations of the archival knowledge organization and its relation with the identification and classification in archives, analyzing the principles adopted for the elaboration of the instruments of document management. Analyzes the concepts that guide the practices of classification in archives, which base the establishment of the theories and methodologies adopted to represent the archival documents by the National Archive of Brazil. It is observed in the results of this discussion, new research perspectives, allow to reflect on the issues that involve the construction of methodologies to identify and classify the archive as a requirement for document management. It is hoped that the results serve as parameters for the reflections on the theories and methodologies developed based on the organization of knowledge in Archives. Integrates the scientific production of the Group of Research Documentary Genesis, UFF / CNPq.

Keywords: Archival identification; Classification; Archival Knowledge Organization; Document Management; National Archive.

1 Introdução

Este artigo[1] tem por objetivo propiciar reflexões sobre a Organização do Conhecimento e sua relação com a identificação e classificação no campo da arquivística, analisando os princípios adotados para elaboração dos instrumentos de gestão de documentos, do Arquivo Nacional do Brasil.

A Organização do Conhecimento (Knowledge

Organization) trata de organizar e representar

documentos, bem como os assuntos e conceitos tanto humanos como por programas de computador. Para esses propósitos, são desenvolvidos regras e padrões, incluindo sistemas de classificação. “A organização do

conhecimento em sistemas de classificação e sistemas conceituais são assuntos fundamentais no KO”, destaca Hjorland (2016, tradução nossa). O autor afirma que “a organização do conhecimento dos arquivos deve, no entanto, ser considerada como parte da KO (...)”, salientando que “o princípio específico mais importante da organização para este domínio é o princípio da proveniência”.

Tognoli, Vitoriano e Leme (2017), discutindo esses fundamentos no campo teórico da arquivística, relacionados à função da classificação, afirmam que a classificação

Configura-se como uma função nuclear no processo de organização do conhecimento arquivístico, na medida em

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que restabelece a lógica interna do fundo e permite a recuperação da informação no âmbito das relações funcionais existentes (TOGNOLI, VITORIANO, LEME, 2017, p. 69)

A classificação em arquivos se fundamenta no princípio da proveniência e representa o conhecimento arquivístico no plano de classificação.

O conhecimento arquivístico pode ser entendido como todo aquele conhecimento produzido por uma pessoa física ou jurídica no desempenho de suas atividades e que está representado no (ou pelo) conjunto de documentos que compõe um fundo documental (TOGNOLI, VITORIANO, LEME, 2017, p. 65).

A produção desse conhecimento sobre o contexto de produção dos documentos e os vínculos que se revelam na sua forma e conteúdo “compõem a base teórica da identificação arquivística”, estudos desenvolvidos por Rodrigues (2003, 2008, 2015).

Tognoli e Rodrigues (2018), ao estudarem as contribuições da Diplomática para a organização e representação do conhecimento arquivístico, afirmam que

A identificação enquanto uma metodologia arquivística permite a normalização das funções arquivísticas que apoiam os procedimentos da gestão documental, contribuindo para a organização e representação do conhecimento arquivístico. (TOGNOLI; RODRIGUES, 2018, p. 178)

Nessa perspectiva a identificação arquivística é vista como base da classificação, que representa o conhecimento produzido sobre documento de arquivo e seu produtor, contexto em que se colocam as preocupações que envolvem a sua correta identificação, “cuja chave para sua caracterização reside no estreito vínculo que ele mantém com a função/atividade desenvolvida pelo órgão que o produziu, perspectiva que deve nortear os procedimentos de gestão documental”, como destaca Rodrigues (2015).

2 Identificação e Classificação: o momento de produzir e representar o conhecimento arquivístico

A gestão de documentos está intimamente ligada às funções arquivísticas de classificação e avaliação e deve ter como base o conhecimento pela identificação arquivística, especificamente nos estudos de identificação do órgão produtor.

O termo identificação surge no campo da arquivística nos anos 1980, quando começou a ser utilizado na Espanha por grupos de arquivistas da Direção de Arquivos Estatais do Ministério da Cultura para designar as tarefas de pesquisas realizadas sobre massas documentais acumuladas em arquivos a fim de elaborar propostas de avaliação e classificação.

Trata-se de uma tarefa de pesquisa sobre os elementos que caracterizam os dois objetos de estudos da identificação: órgão produtor, analisando o elemento orgânico (estrutura administrativa) e o elemento funcional (competências, funções e atividades); e a tipologia documental, estudo que se realiza com base no reconhecimento da proveniência e dos elementos externos, que se referem à estrutura física, a forma de apresentação do documento (gênero, suporte, formato e forma) e internos, para denominar o tipo e definir a série documental (RODRIGUES, 2015, p. 74).

Esse conhecimento produzido pela identificação arquivística é a base da classificação.

Em arquivística, a classificação é a função que consiste em estabelecer o reflexo do contexto de produção e acumulação dos documentos, visando à organização e representação do conhecimento arquivístico no plano de classificação.

Para Schellenberg (2006, p.88), a classificação pode ser realizada por meio de três maneiras distintas: funcional, organizacional e por assuntos. O autor, entretanto, afirma que a classificação por assuntos não é recomendada para os arquivos.

Sobre estes aspectos, Schmidt e Smit (2015) afirmam que os documentos de arquivo devem ser classificados

A partir da perspectiva orgânica-funcional, e que o estatuto probatório deste documento não se dá pela natureza do assunto, mas sim pela natureza contextual, afirmamos que na teoria arquivística as informações de contexto são as mais significativas (SCHMIDT; SMIT, 2015, p.3).

A classificação funcional permite representar o contexto de produção e acumulação dos documentos de arquivo a partir das funções e atividades realizadas pelo produtor, que estão registradas nos documentos de arquivo. “Se o documento de arquivo nasce para registrar a ação, a função classificação é realizada para representar essa relação, revelando assim o vínculo arquivístico” (SCHMIDT; SMIT, 2015, p. 4).

Fiorella Foscarini (2010) defende o uso da classificação funcional ao afirmar que:

Em outras palavras, a prática de classificar documentos procede da necessidade de explicitar esse 'vínculo arquivístico' que existe entre todos os documentos que participam da mesma atividade desde o momento de sua criação, assim como os contextos documentais, procedimentais e de proveniência, que caracterizam e assim identificam de maneira única cada documento. Mediante o ato de classificação, a rede de relações inerentes à natureza de qualquer documento não só vem à luz, como também fica estabelecida e perpetuada (FOSCARINI, 2010, p.42, tradução nossa, grifos da autora).

No âmbito dessa reflexão, utiliza-se o termo classificação para designar a ação intelectual de estabelecer esquemas para agrupar os documentos a

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partir de princípios estabelecidos; a ordenação como a disposição dos tipos documentais dentro das divisões estabelecidas no esquema de classificação; e o arquivamento como a ação física de colocar os documentos em pastas ou caixas, orientada pelo esquema de classificação e pela ordenação (SOUSA, 2014).

Antonia Heredia Herrera (2011, p. 119) argumenta que a maioria das funções arquivísticas que fazem parte da gestão de documentos avançaram para o estágio de criação dos procedimentos e, com elas, o arquivista também expandiu seu espaço de trabalho.

Insistindo nas funções que integram a gestão de documentos, a primeira, criação, apesar de não ser muito conhecida, é uma função de planejamento interdisciplinar, compartilhada, na qual os arquivistas representam um papel importante, embora não exclusivo, e no qual os documentos ainda não existam. Muitas das funções de competência exclusiva dos arquivistas, como classificação, descrição e, também, avaliação, são realizadas hoje nesta primeira etapa de criação (HEREDIA HERRERA, 2008, p.44).

Os conceitos que norteiam as práticas arquivísticas de gestão de documentos são fundamentais para o estabelecimento das teorias e metodologias adotadas para reconhecer e tratar os documentos de arquivo. Os princípios e técnicas que unem a teoria e a prática em Arquivologia nasceram da construção de metodologias do desenvolvimento do trabalho prático.

O objetivo da Arquivística é resolver doutrinariamente como os arquivos são formados, organizados e conservados, a fim de obter economia de espaço na conservação de documentos, economia de tempo na pesquisa sobre eles mesmos e economia de pessoal no trabalho e direção do arquivo. Isto implica que esta ciência deve aplicar normas válidas para os arquivos de todos os tempos e de todas as sociedades organizadas, sejam elas antigas ou recém-formadas. Ou seja, a Arquivística deve empregar a metodologia necessária para que o arquivo possa cumprir a esses propósitos. (MENDO CARMONA, 1995, p. 130, tradução nossa).

Como ciência a arquivologia estabelece suas metodologias de gestão a partir da formulação dos seus princípios básicos universalmente reconhecidos, e da identificação, definição e delimitação dos diferentes. agentes e entidades que interagem entre si para realizar os programas de gestão de documentos nas organizações (HERRERO MONTERO; DÍAZ RODRÍGUEZ, 2011, p. 133).

Em outras palavras, desenvolver procedimentos e instrumentos que permitam ao arquivista identificar, classificar, avaliar, preservar e difundir os documentos de arquivo, perspectiva essa que norteia nossas análises dos instrumentos de gestão de documentos publicados pelo Arquivo Nacional do Brasil.

3 Código de Classificação de Documentos do Arquivo Nacional: analise sobre os princípios e resultados da representação do conhecimento arquivístico

O Brasil é um país de dimensão continental, dividido em unidades federativas, entidades subnacionais, com certo grau de autonomia e dotadas de governo e constituição próprias, aspectos que se observa na configuração da gestão de documentos do país.

Em pesquisa recente, Faben (2019) aponta que, das 27 Unidades Federativas, 25 possuem Arquivos Públicos Estaduais e apenas 11 destes Arquivos possuem instrumentos de gestão de documentos publicados e disponíveis online em seus respectivos sites institucionais.

Após essa pesquisa inicial, optou-se por analisar os instrumentos de gestão de documentos do Arquivo Nacional, considerando que sua metodologia influenciou outros arquivos brasileiros.

O Arquivo Nacional (2001) publicou, conforme a Resolução Nº 14 do CONARQ, o Código de Classificação de Documentos de Arquivo e Tabela Básica de Temporalidade e Destinação de Documentos de Arquivo relativos às Atividades-meio da Administração Pública Federal, cuja metodologia esta baseada na de Classificação Decimal de Dewey. A utilização desse princípio metodológico para elaborar um instrumento de gestão de documentos pelo Arquivo Nacional se justifica de acordo com esta Resolução:

A classificação por assuntos é utilizada com o objetivo de agrupar os documentos sob um mesmo tema, como forma de agilizar sua recuperação e facilitar as tarefas arquivísticas relacionadas com a avaliação, seleção, eliminação, transferência, recolhimento e acesso a esses documentos, uma vez que o trabalho arquivístico é realizado com base no conteúdo do documento, o qual reflete a atividade que o gerou e determina o uso da informação nele contida. A classificação define, portanto, a organização física dos documentos arquivados, constituindo-se em referencial básico para sua recuperação [...] Para este instrumento adotou-se o modelo de código de classificação decimal. [...] As classes principais correspondem às grandes funções desempenhadas pelo órgão. Elas são divididas em subclasses e estas, por sua vez, em grupos e subgrupos, os quais recebem códigos numéricos, seguindo-se o método decimal (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 9).

A Classificação Decimal de Dewey (CDD), segundo Hjorland (2016), “é o sistema dominante de bibliotecas em todo o mundo”. A primeira edição construída por Melvil Dewey foi em 1876. O sistema decimal de classificação por assuntos constitui-se em códigos numéricos divididos em dez classes que podem ser subdivididas em 10 subclasses e assim por diante.

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Tomando como exemplo o modelo apresentado pelo Arquivo Nacional, é possível observar, conforme a Figura 1:

Figura 1: Código de Classificação de Documentos – Arquivo

Nacional

A partir da Figura 1 é perceber a relação hierárquica desse Código de Classificação de Documentos.

Os códigos numéricos refletem a subordinação dos subgrupos ao grupo, do grupo à subclasse e desta, à classe. Esta subordinação é representada por margens, as quais espelham a hierarquia dos assuntos tratados. O Código de classificação de documentos de arquivo para a administração pública: atividades-meio possui duas classes comuns a todos os seus órgãos: a classe 000, referente aos assuntos de ADMINISTRAÇÃO GERAL e a classe 900, correspondente a ASSUNTOS DIVERSOS. As demais classes (100 a 800) destinam-se aos assuntos relativos às atividades fim do órgão. Estas classes não são comuns, cabendo aos respectivos órgãos sua elaboração, seguindo orientações da instituição arquivística na sua esfera específica de competência. Compõe ainda este código o índice, instrumento auxiliar à classificação, no qual os assuntos são ordenados alfabeticamente e remetidos ao

código numérico correspondente. (ARQUIVO

NACIONAL, 2001, p. 10).

Tomando, por exemplo, a classe 000, observa-se que a esquematização do Código de Classificação Decimal reflete apenas os assuntos relativos ao órgão, conforme é possível observar na Figura 2:

Figura 2: Código de Classificação Decimal – Arquivo

Nacional

A opção por assuntos para identificar o documento de arquivo se fundamenta no uso da Classificação

Decimal de Dewey (CDD). Com base nas ideias de Bernd Frohmann (1994), o autor afirma que o CDD, como qualquer sistema de representação do conhecimento, intervém em conflitos de interpretação sobre o significado de assuntos, porque sistemas de representação do conhecimento são linguagens de recuperação cujas estruturas articulam assuntos de maneiras diferentes e altamente específicas e o CDD oferece um exemplo de flexibilidade interpretativa de assuntos:

Dewey enfatizou mais de uma vez que seu sistema não representa nenhuma estrutura além da sua; não existe nenhuma 'dedução transcendental'. O CDD é um sistema puramente semiótico com expansão de dez códigos de assuntos. Nele, um assunto é totalmente constituído em termos de sua posição no sistema. A característica essencial de um assunto é um símbolo de classe que se refere apenas a outros símbolos (FROHMANN 1994, s/p, tradução nossa, grifo do autor).

Os debates sobre assuntos se fecharam porque Dewey e seus aliados foram bem-sucedidos na construção de um ambiente em que asseguraram a sua progressão desde a concepção até a entrega, mas também a sua sobrevivência como Sistema de Organização do Conhecimento para bibliotecas.

O CDD tornou-se naturalmente um Sistema de Organização do Conhecimento, porque os elementos discursivos pelos quais ele constrói seus assuntos eram os mesmos que os usados para construir sua rede de instituições de apoio específico e as formas sociais dominantes e hegemônicas dos dias de Dewey (FROHMANN, 1994). O CDD foi criado para ser utilizado como classificação em bibliotecas. O sistema Decimal de Classificação de Dewey propõe uma representação por assuntos, o que não deveria ser aplicado à classificação dos documentos de arquivo. O autor mostra que o sucesso da CDD foi consolidado pelo estabelecimento de vínculos com um contexto social e político mais amplo.

O sucesso da CDD não é devido à sua solução para os

problemas de uma organização específica do

conhecimento do campo epistemológico nem da adequação representacional de sua organização conceitual, mas é devido, em vez disso, à implementação bem-sucedida de estratégias de negociação envolvendo a construção de uma rede social consistindo em muitos elementos heterogêneos (FROHMANN, 1994, s/p, tradução nossa).

O Código de Classificação de Documentos e a Tabela de Temporalidade Documental, publicados pelo Arquivo Nacional, não possuem estabilidade no uso do princípio classificatório, pois, embora a introdução da Resolução nº 14 mencione que os instrumentos refletem as funções e atividades desempenhadas pelo órgão, sua base classificatória são os assuntos. Mas além dos assuntos, aparecem classes que podem ser

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interpretadas ora por funções ora por espécies, conforme é possível observar na indicação a seguir:

No código de classificação, as funções, atividades, espécies e tipos documentais genericamente denominados assuntos, encontram-se hierarquicamente distribuídos de acordo com as funções e atividades desempenhadas pelo órgão. Em outras palavras, os assuntos recebem códigos numéricos, os quais refletem a hierarquia funcional do órgão, definida através de classes, subclasses, grupos e subgrupos, partindo-se sempre do geral para o particular (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 9).

Esse instrumento elaborado pelo Arquivo Nacional do Brasil apresenta inconsistências devido à ausência de metodologia específica fundamentada nos princípios arquivísticos de proveniência e organicidade da qual provém a ação que determina a produção do documento e sua correta contextualização funcional. Um problema recorrente diz respeito à classe 090, que corresponde a outros assuntos diversos, pois essa classe se torna uma miscelânea de documentos, quando um documento de arquivo possui vários assuntos em seu conteúdo e o critério de classificação torna-se ambíguo, por ser possível classificar o documento em mais de uma classe.

O Código de classificação de documentos de arquivo para a administração pública: atividades-meio possui duas classes comuns a todos os seus órgãos: a classe 000, referente aos assuntos de ADMINISTRAÇÃO GERAL e a classe 900, correspondente a ASSUNTOS DIVERSOS (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p.10).

Não se devem misturar em um único nível unidades baseadas em princípios diferentes, pois, dessa forma, abrir-se-ia a possibilidade de ter mais de um local para classificar o mesmo documento. “Isto destrói os objetivos da classificação”, adverte Renato Tarciso Barbosa de Sousa (2007, p. 91).

Faben e Rodrigues (2018, p. 191) afirmam que “reconhecer documentos de arquivo pelo assunto de que tratam compromete a transparência e a qualidade dos serviços arquivísticos”.

Se não sabemos quais são os documentos de arquivo, por quem foram produzidos e qual o real motivo que lhes deu origem, não temos informações suficientes sobre sua natureza probatória.

A classificação é uma atividade gerencial e de planejamento não só para os arquivos, mas para as administrações que geraram os documentos. Assim, a construção do plano de classificação deve contemplar as relações entre os documentos, mas não só essas, também, as relações entre os documentos e as pessoas, assim, o sistema de classificação se tornaria uma ferramenta útil e facilitadora da descrição e avaliação dos documentos (TOGNOLI; BARROS, 2015, p. 97).

As inconsistências demonstradas a partir Código de Classificação de Documentos são ainda mais expressivas quando observados os problemas

decorrentes nas Tabelas de Temporalidade de documentos classificados pelos assuntos.

A avaliação consiste em estabelecer valores para os documentos a fim de determinar os prazos de guarda e destinação final dos mesmos (eliminação ou guarda permanente). A tabela de temporalidade documental é o principal instrumento produzido pela função arquivística da avaliação, que tem por objetivos definir prazos de guarda e destinação final para os documentos.

No Brasil, o primeiro passo para a regulamentação da avaliação ocorreu efetivamente com a lei federal nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que, em seu artigo 9º, dispõe que “a eliminação de documentos produzidos por instituições públicas e de caráter público será realizada mediante autorização de instituição arquivística pública, na sua específica esfera de competência”.

A avaliação constitui-se em atividade essencial do ciclo de vida documental arquivístico, na medida em que define quais documentos serão preservados para fins administrativos ou de pesquisa e em que momento poderão ser eliminados ou destinados aos arquivos intermediário e permanente, segundo o valor e o potencial de uso que apresentam para a administração que os gerou e para a sociedade (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 42).

A tabela de temporalidade documental é o principal instrumento produzido em decorrência da função arquivística avaliação, que tem por objetivos definir prazos de guarda e destinação final.

Sua estrutura básica deve necessariamente contemplar os conjuntos documentais produzidos e recebidos por uma instituição no exercício de suas atividades, os prazos de guarda nas fases corrente e intermediária, a destinação final – eliminação ou guarda permanente, além de um campo para observações necessárias à sua compreensão e aplicação (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 42).

Ao apresentar as diretrizes para a “correta” utilização da Tabela de temporalidade Documental, sobre o campo assuntos, a Resolução Nº 14 do CONARQ indica que:

Neste campo são apresentados os conjuntos documentais produzidos e recebidos, hierarquicamente distribuídos de acordo com as funções e atividades desempenhadas pela instituição. Para possibilitar melhor identificação do conteúdo da informação, foram empregadas funções, atividades, espécies e tipos documentais, genericamente denominados assuntos, agrupados segundo um código de classificação, cujos conjuntos constituem o referencial para o arquivamento dos documentos (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 42).

Ao utilizar esses critérios para a identificação e agrupamento dos documentos de arquivo, os prazos de guarda, bem como a destinição final, incindirão sobre os documentos agrupados genericamente pelo mesmo assunto. A escolha de determinada metodologia

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implica nos resultados obtidos, conforme é possível observar na Figura 3, que se encontra no apêndice. O agrupamento dos documentos por assunto não representa a organicidade dos arquivos. “O arquivo é orgânico porque refletindo o procedimento administrativo que lhe dá origem, como parte integrante do processo, revela que os documentos estão relacionados entre si” (RODRIGUES, 2003).

Os instrumentos de gestão de documentos elaborados pelo Arquivo Nacional do Brasil apresentam inconsistências, pois utilizam um princípio biblioteconômico – o assunto – para reconhecer, agrupar, classificar e avaliar os documentos de arquivo. Apesar da inconsistência, esse modelo do Arquivo Nacional influenciou outras tradições brasileiras, que, mesmo sem a obrigatoriedade de utilizar o modelo de gestão de documentos do Arquivo Nacional, aderiram tal metodologia e serão analisados a diante: Arquivo Público do Distrito Federal; Arquivo Público de Mato Grosso; Arquivo Público do Estado do Espírito Santo; Arquivo Público Mineiro; Arquivo Público do Estado do Paraná; Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul.

Vale ressaltar que o modelo metodológico de gestão de documentos apresentado pelo Arquivo Nacional influenciou algumas tradições arquivísticas e atualmente a metodologia de cinco (5) desses Arquivos Públicos Estaduais consiste em identificar os documentos de arquivo de modo genérico, por assuntos, o que impacta diretamente no agrupamento das séries documentais. Entretanto, seis (6) Arquivos Públicos Estaduais consideram o tipo documental para identificação dos documentos de arquivo, dessa forma os agrupando em série documental tipológica (FABEN, 2019, p. 122).

Observa-se nesses resultados que a sistematização metodológica da organização do conhecimento presente nos instrumentos norteadores de gestão de documentos no âmbito do Arquivo Nacional do Brasil traz em seu aporte teórico novas perspectivas de investigação. Permite refletir sobre as questões que envolvem o desenvolvimento de metodologias para identificar e classificar o documento de arquivo como requisito para a gestão de documentos, que devem ser fundamentadas na representação da ação/atividades, e não dos assuntos.

3 Considerações finais

A gestão de documentos emerge como uma sequência de operações técnicas essenciais para a arquivologia, administração, e para a pesquisa científica e cultural de uma nação. Isso porque o Estado deve assegurar o controle da produção, da utilização e da destinação final aos documentos de arquivo de forma a garantir a preservação e o acesso aos documentos.

As discussões teóricas e experiências metodológicas sobre a produção, organização e representação do conhecimento no contexto arquivístico vêm ganhando força nas discussões sobre a teoria e a prática em arquivística.

Nessa perspectiva, espera-se que os resultados sirvam de parâmetros para as reflexões sobre as teorias e metodologias desenvolvidas com base na organização do conhecimento em arquivos. Apesar do sucesso da implantação do CDD em bibliotecas, sua aplicação nos arquivos não tem se mostrado satisfatória, tendo em vista que os assuntos, genericamente representados, não são suficientes para representar a complexidade das funções e atividades desempenhadas por um órgão produtor.

Notas

[1] Recorte da dissertação de mestrado intitulada “Identificação de documentos de arquivo no contexto da gestão de documentos no Brasil”, desenvolvida com bolsa CAPES, no âmbito da Linha 2, Fluxos e Mediações Sóciotécnicas da Informação, do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense, PPGCI/UFF.

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Referências

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