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PRINCÍPIOS DA NARRATIVA TRANSMÍDIA EM PRODUÇÕES JORNALÍSTICAS AMAZÔNICAS 1. Palavras-chave: Convergência e Transmídia; Jornalismo; Amazônia.

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PRINCÍPIOS DA NARRATIVA TRANSMÍDIA EM PRODUÇÕES JORNALÍSTICAS AMAZÔNICAS1

Elaide MARTINS da Cunha (UFPA / Brasil)2 Ana Paula Gomes CASTRO (UFPA / Brasil)3

Resumo

O jornalismo, como vários campos da sociedade, vem sofrendo mudanças estruturais e nas suas práticas processuais com o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação. Com a inserção das mídias digitais e de dispositivos móveis no cotidiano do público, a forma de consumir e, portanto, de produzir a notícia passa por transformações significativas. Nesse cenário marcado por dimensões da convergência, destaca-se a narrativa transmídia, conceito proposto por Henry Jenkins (2009a) e Scolari (2009) como o principal resultado da cultura da convergência. Nesta pesquisa, procura-se identificar e analisar manifestações da narrativa transmídia e da cultura da convergência nas práticas jornalísticas desenvolvidas na região norte do Brasil, mais especificamente nos estados do Pará e Amapá. A partir da realização de entrevistas, observação e análise de portais online, jornais e telejornais, procura-se compreender de que forma o jornalismo contemporâneo vem se reconfigurando a partir da perspectiva transmídia na região amazônica brasileira.

Palavras-chave: Convergência e Transmídia; Jornalismo; Amazônia.

Introdução

O surgimento das chamadas “novas mídias” permitiu que a produção de conteúdo pudesse circular, de forma mais intensa e abrangente, entre diferentes canais e plataformas, intensificando a interação do consumidor com o produto. Segundo Jenkins (2009a, p. 29), a convergência está relacionada ao “fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação”. Como bem ressalta este autor, mais do que as transformações tecnológicas, a convergência refere-se às

1 Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os

dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA. Resultante do projeto de pesquisa ‘Apropriações da Narrativa Transmídia pelo Jornalismo: novas relações, formatos e processos produtivos’ apoiado pelo PIBIC/UFPA.

2 Professora do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia e da Faculdade de

Comunicação da Universidade Federal do Pará. Coordenadora do referido projeto e do Grupo de Pesquisa Interações e Tecnologias na Amazônia (CNPq). Integrante da Rede de Pesquisa Aplicada em Jornalismo e Tecnologias Digitais (JorTec). E-mail: elaide@ufpa.br

3 Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC-UFPA) do referido projeto. Graduanda em Comunicação Social /

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transformações mercadológicas, sociais e culturais da sociedade contemporânea, como também diz respeito à relação interconectada que as pessoas passam a ter com as novas mídias, sendo, portanto, um processo cultural.

Diante dessas mudanças e a partir dos usos e apropriações dos recursos digitais, o jornalismo vem reconfigurando-se. Com novas práticas e alterações em seus processos produtivos, vários termos têm sido adotados para definir o que seria o jornalismo contemporâneo, dentre os quais o “Jornalismo Transmídia” (RENÓ, 2011, 2012; SCOLARI, 2013), conceito ainda em construção e que se ampara nos usos e apropriações que o jornalismo vem fazendo das características da narrativa transmídia, como temos visto em Souza (2011) e Martins (2012, 2014, 2015a). Ao longo de suas pesquisas, esta autora também tem mostrado as transformações provocadas por tais usos e apropriações nos processos produtivos do jornalismo assim como as manifestações da cultura da convergência neste campo (2012, 2013, 2014, 2015a, 2015b). Em uma sociedade em haja uma utilização mais acentuada de smartphones e redes sociais como na sociedade ocidental, a participação do usuário tanto em novas formas de consumo quanto na produção de conteúdo estreita a sua relação com produtos midiáticos, realçando a cultura da convergência.

É neste cenário que se concebe a narrativa transmídia, conceituada por Jenkins (2009a) como o principal resultado da cultura da convergência. Trata-se de uma construção de universo, em que a história se desenvolve em plataformas distintas, porém de forma independente em cada uma delas. A transmidialidade se configura na relação entre as histórias, conectadas por um mesmo enredo, o qual pode, então, ser compreendido isoladamente em cada uma das mídias em que se desenvolve, ou na totalidade, quando se busca o acesso a todas elas (JENKINS, 2009a).

Para que uma narrativa seja considerada transmídia, é necessária a utilização de algumas características que lhes são próprias e que foram sistematizadas por Jenkins em 2009(b) enquanto conceitos-chave, apresentados a seguir: Espalhamento, Capacidade de Perfuração, Continuidade, Multiplicidade, Extração, Imersão, Construção de Mundo ou Universo, Serialidade, Subjetividade e Performance. O significado de cada uma delas será explicado mais adiante.

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princípios são compreendidos, primeiramente, no campo do entretenimento/ficção. Portanto, ao serem levados para o jornalismo, algumas dessas características assumem uma nova compreensão, adaptando-se à prática jornalística, conforme veremos adiante.

Os produtos jornalísticos que constituem nossos objetos de estudo são de plataformas distintas e pertencem a grupos de comunicação de esfera regional nos estados do Pará e Amapá, na Amazônia Oriental brasileira. Do primeiro estado, detivemo-nos a quatro produtos das Organizações Rômulo Maiorana (ORM), sendo dois online (portais ORM News e G1 Pará), um impresso (O Liberal) e um televisivo (Jornal Liberal 2ª Edição – JL2). Do Amapá, a análise enfocou dois produtos da Rede Amazônica, sendo um online (G1 Amapá) e um televisivo (Jornal do Amapá, também exibido à noite). Nossa escolha considerou o fato desses produtos pertencerem, em seus respectivos estados, a um mesmo grupo coorporativo, possibilitando certos aspectos da convergência e da transmídia. Além disso, constituem-se importantes fontes de informação jornalística em suas respectivas áreas.

Destacamos, ainda, que o conjunto de produtos jornalísticos pertencentes a um mesmo grupo indica um tipo de configuração empresarial que se enquadra no conceito de “convergência de propriedade”. Abordado por Rich Gordon, este termo diz respeito à empresa que trabalha de forma integrada e colaborativa na produção de conteúdo (GORDON, 2003) e sua respectiva distribuição a partir de várias plataformas midiáticas. Já para Jenkins (2009), esse contexto é chamado de convergência empresarial, cujo fluxo comercial dos conteúdos da mídia estabelece uma cooperação entre múltiplos mercados midiáticos. Nesse sentido, acreditamos que produtos jornalísticos de uma mesma corporação se constituem um valioso objeto de estudo para esta pesquisa, fornecendo elementos para análise e reflexão sobre os usos e apropriações da narrativa transmídia no campo do jornalismo na esfera regional a partir da cultura da convergência.

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Ao todo, foram definidos três períodos de coleta de dados: o primeiro foi na semana de 9 a 15 de dezembro de 2015, com foco apenas nos produtos do grupo ORM, o segundo correspondeu aos dias 4 a 8 de julho de 2016, ainda com a análise restrita ao grupo ORM4, o terceiro e último período foi dos dias 18 a 22 de julho de 2016, com análise apenas nos produtos da Rede Amazônica, no Amapá. A coleta foi realizada por meio da aplicação do protocolo de análise já citado. É importante ressaltar que no período entre a primeira e a segunda coleta, o portal G1 passou por uma reformulação em sua página inicial, a qual influenciou nas análises subsequentes. Nesse período, foi realizada uma entrevista com o jornalista Ingo Muller5, atual editor chefe do portal G1 Pará, acerca das mudanças que as novas tecnologias vêm trazendo nos processos produtivos na área do jornalismo, mais especificamente no caso local.

A partir desse conjunto de procedimentos, pretendemos não apenas identificar manifestações da cultura da convergência no jornalismo e as apropriações que este faz da narrativa transmídia, mas contribuir com a produção científica no campo da comunicação, sobretudo com o jornalismo, como veremos nos resultados adiante.

Convergência e transmidialidade reconfigurando o jornalismo na Amazônia

A primeira parte da análise consistiu em identificar manifestações da cultura da convergência, através da pesquisa dos princípios da narrativa transmídia nos produtos escolhidos. Como já citado, esses conceitos sistematizados por Jenkins (2009b) foram adotados aqui como categorias de análise e serviram de parâmetro para nortear o olhar sobre os objetos em foco. Os resultados desta observação foram divididos por característica e então analisados em cada produto selecionado, como apresentados a seguir.

Espalhamento

O espalhamento configura-se na possibilidade, fornecida pela plataforma, de o usuário expandir o conteúdo daquele produto, principalmente através de suas redes sociais, participando na (re) circulação do mesmo. Dentre as plataformas utilizadas, apenas os sites ofereciam este recurso.

4 Por se tratar de um corpus de pesquisa maior devido à quantidade de produtos pesquisados, achamos mais

adequado dedicar um período adicional de coleta de dados ao grupo ORM.

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No G1 Pará e no G1 Amapá, as redes sociais disponíveis, nos períodos de coleta, eram o Facebook, o Twitter, o Google+ e Pinterest. Sendo que, após a mudança na página inicial do portal, as três primeiras redes sociais passaram a ficar disponíveis logo abaixo das chamadas de matérias, não sendo necessário abrir o link destas para compartilhá-las via redes.

No caso do portal ORM News, as possibilidades eram maiores. As redes sociais

Facebook, Twitter e Google+ aparecem abaixo do título, contudo, ao acessar a opção “+”,

que se encontra ao lado dessas redes, havia um total de 102 outras opções entre redes sociais, blogs, e-mails e recursos disponíveis (como imprimir), algumas delas podem ser vistas na Figura 1. Tais opções incentivam a interação, o compartilhamento e a circulação de material, inclusive em esferas nacionais e estrangeiras. Essa gama de opções sugere uma preocupação em difundir seus materiais e também ao fato do ORM News ser um portal internacional, que conta com parcerias com outros grupos de jornalismo. Em nossa pesquisa, observamos, ainda, que este site também fornecia um espaço para compartilhar as matérias por e-mail, bem como um espaço de contagem para quantas vezes aquela matéria foi compartilhada especificamente no Facebook.

Figura1: Opções de compartilhamento de conteúdo no portal ORM News.

Fonte: ORM News

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Capacidade de Perfuração

Esta característica associa-se à anterior sob o viés do engajamento do público. Porém, neste caso, o engajamento se dá pela complexidade narrativa e, mais especificamente no campo do jornalismo, a contextualização através de links também pode estar relacionada a este conceito, uma vez que a contextualização permite ir mais longe no conhecimento da notícia. Em geral, as matérias no meio impresso e televisivo apresentavam uma contextualização maior que nos portais, contudo isso se dava através da investigação jornalística e da construção do texto e independiam da participação ativa do leitor/telespectador.

O G1 Pará e G1 Amapá, entretanto, contextualizavam a notícia através de links no meio do texto, da seção “Saiba Mais” (outras notícias sobre o mesmo assunto) e da seção “Veja Mais” (outras matérias do dia), requerendo a iniciativa do usuário de se aprofundar na notícia ou não, o que depende de seu grau de interesse no assunto.

O ORM News, por sua vez, segue uma linha distinta do portal G1 (Pará e Amapá), com textos se aproximando mais da estrutura de jornais impressos, como O Liberal. As matérias com desdobramentos eram inteiramente explicadas no texto principal. Mesmo com poucos links e poucos recursos gráficos, suas narrativas apresentavam-se longas e bem aprofundadas, reafirmando a contextualização e sua respectiva capacidade de perfuração no cenário jornalístico.

Continuidade

A continuidade refere-se ao prosseguimento da narrativa em outra plataforma. Por se tratarem de veículos do mesmo grupo, a relação entre determinadas produções é evidente. No entanto, o que se observou no grupo ORM foi mais uma adaptação do conteúdo para os diferentes veículos do grupo do que propriamente uma continuação da narrativa jornalística.

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portais G1 e ORM News e no telejornal JL2 no dia anterior, pouco se acrescentando ao material que já existia, mas ampliando a sua circulação.

Uma relação muito frequente também foi observada entre o portal G1 Pará e o JL2. Em geral, as matérias exibidas no telejornal são as principais notícias veiculadas pelo G1 Pará ao longo do dia. Quando havia alguma atualização da notícia feita pelo telejornal, esta era adicionada ao portal no dia seguinte. Um aspecto importante a respeito desse fato é que muitas matérias publicadas no G1 Pará vinham acompanhadas de vídeos, no caso, as próprias reportagens feitas pelo JL2 no dia anterior, sendo que, na maioria das vezes, era realizada uma transcrição literal do texto da reportagem para o site, nada se acrescentando nele, quase como uma legenda.

O papel do jornalista de web é totalmente reduzido nesse procedimento, pois nada lhe é exigido em termos do fazer jornalístico, considerando-se que seu trabalho se limita a transcrever um conteúdo já produzido. Algumas matérias do G1 Pará são de conteúdo próprio, mas as que se correlacionam com as outras plataformas do mesmo grupo se resumem a uma cópia do que já foi feito.

Já em relação ao grupo do Amapá, a Rede Amazônica, a relação entre o telejornal e o portal G1 foi mais independente. Algumas matérias do G1 também vinham acompanhadas de vídeos, as reportagens de outros telejornais do mesmo grupo, no entanto, em alguns casos, o texto acrescentava informações e, mesmo quando o texto as repetia, não se tratava de uma mera transcrição. Além disso, o Jornal do Amapá, na maior parte do período de coleta, exibia reportagens que ainda não haviam sido veiculadas pelo portal, o que indica maior autonomia.

A aplicação da continuidade leva a um questionamento sobre como a prática jornalística é exercida nos dias de hoje, especialmente no que diz respeito à apuração dos fatos no meio online, nos levando a perceber a presença do chamado “jornalismo de gabinete”, no qual a apuração é toda feita da própria redação.

Multiplicidade

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Nesta pesquisa, não percebemos essa característica, pois as declarações de pessoas envolvidas na história não eram provenientes ou não levavam a versões alternativas ou secundárias, isto é, fora da matéria principal. As manifestações da multiplicidade são possíveis, por exemplo, nos portais, através dos espaços para comentários do público presentes nas notícias e que permitem maior interatividade.

Extração

Esta característica se apresentou de maneiras diferentes entre as plataformas. Ela está relacionada com os recursos que podem ser absorvidos e levados para espaços na vida cotidiana do público. O que pudemos observar é que influenciar o cotidiano do público é uma premissa básica do jornalismo, desde as matérias de serviços, em que esta é a única função, até em pequenas informações encontradas no texto ou em uma vídeo-reportagem, que podem ser úteis para os mais variados fins.

Como exemplo, podemos citar o portal ORM News, na seção “Entretenimento”, que costuma postar algumas matérias com dicas para o dia-a-dia. Assim, acreditamos que se consideramos que tais dicas podem ser utilizadas pelo público, poderíamos, nesse caso, apontar um caso de extração. Além disso, na página inicial, é possível obter informações sobre os voos que chegam e saem da cidade de Belém e as informações sobre o trânsito – serviços tradicionalmente oferecidos pelo jornalismo, mas que pela perspectiva da narrativa transmídia podem ser classificados como casos de extração.

Outro exemplo é o jornal O Liberal, que apresentou, em muitas notícias durante o período de coleta, aspectos da legislação que envolviam vários casos. Além disso, no jornal de domingo, havia receitas, dicas de cursos e de programação cultural, dentre outros.

Uma forma particular de extração que foi utilizada pelo G1 Pará é a enquete. O portal e o JL2 utilizaram-se dela em matérias que diziam respeito à votação sobre a música que representaria Belém em seu aniversário de 400 anos (comemorados em janeiro de 2016), já que a música não apenas seria escolhida pelo público, como também seria um dos marcos do aniversário da cidade.

Imersão

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imersão, que prevê níveis elevados de interação. Em nossas análises, observamos que apenas o G1 Pará apresentou essa característica, pois, por meio dele, era possível fazer votações, como no caso da música que representaria a cidade de Belém em seus 400 anos. É importante ressaltar que essa mesma votação também era divulgada pelo telejornal e pelo jornal impresso, porém estes indicavam que o telespectador/leitor deveria acessar o G1 para participar (configurando-se, ainda, um exemplo de continuidade), não permitindo tal participação através de suas próprias plataformas. Os portais apresentam a vantagem de ser mais “manipuláveis” pelo público, o que propicia melhores condições para a imersão. No entanto, pouco dessa capacidade foi explorada nos produtos analisados.

Construção de mundo ou de universo

Para a análise deste princípio é necessário considerar que a narrativa transmídia é um conceito vindo do mundo do entretenimento. Quando se analisa filmes, séries e livros, a construção de um universo particular daquela história é clara para quem assiste/lê. Ao transpor essa ideia para o jornalismo, as principais formas pela quais essa construção pode acontecer seriam por meio da contextualização e do conjunto de plataformas que noticiam o mesmo fato (portais, televisão, rádio, impresso, etc.). No entanto, a partir de que ponto uma contextualização, que é uma recomendação e quase um dever da narrativa jornalística, passa a ser uma construção de mundo? Além disso, notamos uma semelhança entre esta característica e a capacidade de perfuração, que está relacionada ao engajamento do usuário, mas que no caso do jornalismo também nos remete à contextualização.

Os resultados obtidos aqui podem ajudar a esclarecer essas dúvidas, contudo novas pesquisas deverão aprofundar as investigações para alcançar melhor compreensão deste conceito no campo do jornalismo. Ressaltamos que, neste trabalho, foi possível observar esta característica principalmente nos portais. No caso do G1, quando um assunto tem muitos desdobramentos (a exemplo do caso Alepa e da separação da Banda Calypso, no G1 Pará), vários recursos são utilizados para contextualizar e apresentar a história toda, desde links para outras matérias publicadas anteriormente sobre o assunto até a seção “Saiba Mais”, que apresenta essas matérias em forma de lista, na lateral ou abaixo da matéria.

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encontra uma série de notícias sobre tais cidades e regiões. Podemos ainda acrescentar a existência das seções especiais no menu do site intituladas “Belém 400 anos”, “Círio de Nazaré” e “Minha Praia”, todos no G1 Pará.

O jornal O Liberal também apresentou aspectos dessa característica através de seus cadernos, como “Polícia” e “Cidades”, que agrupam notícias com a mesma temática. Em sua edição de domingo isso é mais marcante, pois os cadernos do jornal, divididos por tema, criam uma unidade, havendo cadernos específicos (moda, esporte, dia-a-dia, infantil), para determinados públicos, criando a sensação de “representação” e particularidade daquele segmento.

O ORM News, como o G1, também apresenta reportagens especiais que podem ser consideradas construção de mundo, uma vez que agregam uma quantidade significativa de materiais sobre o mesmo assunto, como “Círio 2015” e “Rainha das Rainhas”.

Além disso, havia matérias que estavam presentes em todas as plataformas analisadas em cada grupo. As abordagens dadas pelos diferentes veículos poderiam, juntas, ser consideradas uma construção de mundo.

Serialidade

A serialidade relaciona a parte com o todo, não apenas com a contagem de uma história em tópicos, mas também resgatando e recuperando assuntos com alta repercussão e com desdobramentos, caso da tradicional suíte jornalística. Os portais utilizaram bastante esse recurso. No ORM News, além dos já mencionados links para notícias relacionadas, havia uma seção chamada “Especiais”, nela encontravam-se grandes coberturas estruturadas em subdivisões, em matérias menores, que ajudavam a recuperar o todo. Além disso, as seções “Veja Mais” e “Cobertura Completa” que apresentavam uma relação de matérias relacionadas com o assunto apresentado, além de construção de mundo, também são indicadores de serialidade.

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enquadrada nessa característica, devido à forma de apresentação das notícias regionais, em lista.

Em algumas matérias em O Liberal, as notícias recorriam aos intertítulos para explicar melhor o contexto da história. Isto já é uma prática antiga do jornalismo, mas que, considerando que esta divisão em tópicos dá uma visão mais completa da narrativa, poderia ser reconhecida como um recurso de serialidade?

A serialidade também se relaciona com a construção de mundo na medida em que a primeira é muito utilizada para o estabelecimento da segunda. Exemplo disso é a seção “Notícias Relacionadas” do portal ORM News (com notícias que dizem respeito ao assunto em foco na matéria principal, mesmo que indiretamente), que pode ser enquadrada em ambos os conceitos.

Subjetividade

Em nossa pesquisa, foi possível perceber que os objetos analisados pouco se permitem utilizar uma linguagem mais informal e próxima do público, o que pode ser explicado pela busca da credibilidade jornalística, requerendo que um veículo de comunicação para ser considerado de confiança, precise “se levar a sério”. A subjetividade não foi encontrada no G1, em nenhum dos períodos de coleta. Já nos demais meios, o impresso e o televisivo, ela era mais evidente quando se tratava de esportes ou entretenimento.

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Performance

Esta característica está relacionada ao conceito de “atrator cultural”, algo que chama a atenção do público, e ao de “ativador cultural”, quando, após se sentir atraído por algo, o usuário se envolve e passa a contribuir de alguma forma com aquilo, engajando-se. Pouco se observou desta característica nos produtos analisados. A enquete sobre a música dos 400 anos da cidade que, através do sentimento de pertença, foi um exemplo, pois instigava o usuário a participar, escolhendo a sua música favorita entre as apresentadas. Além disso, nos telejornais, algumas matérias apresentavam conteúdos enviados pelo público. Fora isso, o que mais se assemelha ao processo de ativação cultural se refere ao que já foi mencionado no “Espalhamento”, divulgação através das redes sociais. Essa semelhança ainda não foi descrita nas referências bibliográficas consultadas anteriormente, mas foi percebida em vários momentos desta pesquisa durante a discussão e análise feita pelo grupo.

Assim, após a observação, reconhecimento e análise de cada uma dessas características, é importante ressaltar o quanto elas nos levam a confirmar que, além delas próprias, a essência da narrativa transmídia é a participação ativa do usuário. Todas elas estão vinculadas a essa participação mais atuante. Além disso, percebemos essa narrativa como uma espécie de estratégia para o jornalismo que, cada vez mais, tenta se aproximar de seu público, principalmente com a crescente popularização da internet.

Com exceção dos telejornais, todas as plataformas analisadas tinham meios para que o usuário participasse mais diretamente. Os portais apresentavam enquetes, espaço para comentários, espaço para envio de material (no caso do ORM News e do G1 Amapá, havia inclusive contatos de WhatsApp para a comunicação com o usuário), chat, espaço “Fale Conosco”, etc.

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Quadro 1: Características da Narrativa Transmídia identificadas nos produtos analisados CARACTERÍSTICA O LIBERAL JL2 G1 PARÁ ORM NEWS G1 AMAPÁ JORNAL DO AMAPÁ ESPALHAMENTO X X X PERFURAÇÃO X X X X X X CONTINUIDADE* X X MULTIPLICIDADE EXTRAÇÃO X X X X X X IMERSÃO CONSTRUÇÃO DE MUNDO X X X X SERIALIDADE X X X X SUBJETIVIDADE X X X PERFORMANCE X X

Fonte: Autoria própria

*Não foram considerados como exemplos de continuidade a adaptação do mesmo conteúdo para plataformas diferentes, pois não se trata de uma continuação propriamente dita.

Considerações finais

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Ingo Muller, atual editor chefe do G1 Pará, durante entrevista já citada, demonstrou que o portal é um exemplo desse processo ao afirmar que a ampliação no uso de aparelhos móveis entre a população brasileira foi determinante na alteração da página inicial do site. “Nós mudamos nossa página para que os usuários tenham uma experiência única. Acessando do mobile ou do desktop, a pessoa vai ver a mesma página. No formato antigo, metade da página não era visualizada no celular, então o conteúdo era perdido”.

Como Jenkins já previa, apesar da convergência estar bastante inserida nos vários âmbitos sociais, produtores e consumidores ainda não sabem muito bem como lidar com ela. O G1, mesmo que esteja procurando se adaptar às novas realidades de consumo, ainda tem reservas para grandes alterações em sua forma de apresentação, utilizando pouco do grande potencial que o meio online possibilita. O portal não se permite, por exemplo, suavizar a sua linguagem nem proporcionar altos níveis de manipulação e interação por parte do usuário, que poderiam ser aproveitadas no meio digital.

No entanto, mesmo mantendo-se reservado a grandes mudanças, o G1 (nos dois estados) foi a plataforma que mais apresentou características da narrativa transmídia.

Lorena Kubota, coordenadora do G1 Amapá, em entrevista concedida a Martins (2014) afirmou que a empresa adota o modelo de redação única, agindo em cooperação com a TV. “Se eu tenho um material que pode servir para a televisão (TV Amapá), por que não compartilhá-lo com a emissora?”, explica Lorena, que também deu informações sobre como a apuração é realizada pela equipe do G1 Amapá, em que cada repórter apura, redige e fotografa sua matéria. Essas práticas demonstram como os efeitos e implicações da cultura da convergência podem alterar os processos produtivos e as práticas jornalísticas.

Contudo, o permanece o questionamento sobre até que ponto as práticas estão mudando devido à cultura da convergência e até que ponto o jornalismo está mantendo sua estrutura, mas apenas se adaptando aos novos meios, reforçando práticas tradicionais. O ORM News, por exemplo, apesar de ter uma página inicial atraente, dinâmica e cheia de recursos, é tradicional em sua forma de noticiar, se assemelhando ao jornal impresso.

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– a exemplo dos usos e apropriações das características da narrativa transmídia apresentadas no quadro 1 já mostrado. Como se pode perceber, dentre as características identificadas, a perfuração e a extração foram reconhecidas em todos os produtos analisados e a performance e a continuidade foram as menos identificadas. As demais variam conforme a natureza das plataformas.

Assim, os resultados deste trabalho mostram como o jornalismo vem sendo modificado e reconfigurado no âmbito da cultura da convergência na região norte, mais precisamente no Amapá e no Pará. Contudo, novas pesquisas sobre outras regiões amazônicas e outros produtos de esfera nacional e internacional são necessárias para compreender melhor esse processo.

Referências

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Referências

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