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Teoria Geral do Negócio Jurídico

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Teoria Geral do Negócio Jurídico

Continuação da Teoria Geral do Negócio Jurídico

Escada Ponteana:

Fonte1

Plano da Existência: não é um plano adotado pelo Código Civil de 2002. O legislador optou por não

trabalhar com essa concepção. O primeiro artigo que trata do negócio jurídico (art. 104)2 menciona

a validade. É um plano doutrinário aceito pela jurisprudência, motivo pelo qual deve ser estudado.

1. Elementos Gerais de Existência: são aplicáveis a qualquer negócio jurídico. Se algum elemento de existência falhar, o negócio jurídico será inexistente. São eles:

1

Elementos de direito civil/ Cristiano Cassetari – São Paulo: Saraiva, 2011.

2 Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;

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· Agente;

· Objeto;

· Forma (oral ou escrita);

· Manifestação de vontade (escrita ou verbal – é possível, mas há uma restrição em relação

à produção da prova, que é feita por testemunha, conforme o art. 227; gestual). Quanto ao silêncio, apresenta-se o art. 111 do CC: o silêncio importa manifestação de vontade quando os usos e costumes autorizarem, sem a necessidade de anuência expressa. Vide art. 299 – Assunção de Dívida.

Observação: os adjetivos dos referidos elementos não são analisados nesse momento, somente no plano da validade.

Qual a ação cabível no caso de inexistência de elementos gerais de existência? Ação Declaratória de Inexistência, a qual é imprescritível.

2. Elementos Categoriais de Existência: são aplicados a um determinado tipo de negócio jurídico. Exemplo: elementos específicos da compra e venda. Ainda, podem ser:

· Inderrogáveis: o que não pode ser afastado pela autonomia privada. Exemplo: animus

donandi da doação;

· Derrogáveis: o que pode ser afastado pela autonomia privada. Exemplo: cláusula nom

praestaenda evictione, a qual tem por objetivo excluir a responsabilidade por evicção.

Plano de Validade (art. 104): quando não verificado um dos requisitos de validade, tem-se como consequência o negócio jurídico invalido, originando duas sanções legais: a nulidade ou a anulabilidade, dependendo da situação.

Requisitos Gerais de Validade: são os elementos gerais que cabem a qualquer negócio jurídico. Requisitos Categoriais de Validade: são os elementos concernentes a um determinado tipo de negócio jurídico.

Seguindo a análise dos requisitos gerais de validade:

· Agente CAPAZ: caso o agente seja incapaz, a sanção aplicada observará o grau de

incapacidade. Se for um incapaz absoluto, o negócio jurídico é NULO e se for incapaz relativo, sem assistência, o negócio jurídico será ANULÁVEL.

Obs.: o prazo para a anulação do negócio jurídico é de 4 anos, contados a partir da cessação da incapacidade, que pode se dar: pela maioridade, pela emancipação, por motivos psíquicos (ébrios e pessoas em coma).

· Objeto LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO ou DETERMINÁVEL: o artigo 426 do CC/023

traz um exemplo de objeto juridicamente impossível (pacta corvina). Problema de objeto, o ato é nulo.

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· Forma PRESCRITA e NÃO DEFESA EM LEI: solenidade: necessidade de praticar um negócio

por meio de escritura pública realizada no Tabelionato de Notas (art. 107)4. Em regra, o

negócio jurídico é não solene, em razão do artigo 107, pois a solenidade deve ser exigida em lei. Observa-se que a escritura pública somente torna-se pública, mediante seu registro no respectivo ofício imobiliário. Se houver irregularidades quanto à forma, o negócio jurídico será inválido e o ato será nulo (art. 166).

Vide artigo 1085: atente-se que o salário mínimo, conforme a Constituição Federal, no seu artigo

7º6, é unificado o montante, determinado pelo governo federal. O que existe em âmbito regional é

o piso salarial para as categorias de trabalhadores que não têm convenção coletiva definindo tal soma. Assim, deve-se evitar esse equívoco. Ademais, deve ser analisado o Enunciado n. 289 do CJF, que indica a base de cálculo a ser considerada ao imóvel em questão, qual seja o valor declarado pelas partes. Não é o valor venal, nem valor de referência para fins tributários.

Ainda, vale mencionar que a regra do art. 108 (geral) não se aplica ao direito do promitente comprador, com fulcro no art. 1417 (especial).

4º requisito de validade do negócio jurídico: não está previsto no art. 104, mas é considerado como tal:

· Inexistência de defeito ou vício do negócio jurídico.

Por fim, vale destacar que os requisitos de validade são os requisitos de existência adjetivados!

Defeitos do Negócio Jurídico

1. Vícios da vontade ou do consentimento (artigo 171)7: contaminam o consentimento do agente. A consequência jurídica é igual para todos os vícios, qual seja, ANULABILIDADE, no prazo de 4 (quatro) anos, contados da conclusão da celebração e no caso da coação, o mesmo prazo é contado a partir da sua cessação:

· Erro; · Dolo; · Coação; · Estado de perigo; · Lesão. 4

Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.

5 Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à

constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

7 Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

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2. Vício Social: prejudica a sociedade e a terceiros, em razão da negociação feita.

· Fraude contra credores.

Observação: em relação à simulação, este não gera mais anulabilidade e sim nulidade.

Atualmente, a simulação está prevista nas causas de nulidade, previsto no artigo 167 do CC/20028.

ERRO: é a noção falsa do indivíduo sobre pessoa ou coisa.

· Erro substancial: recai sobre qualidade essencial da pessoa ou coisa (artigo 139)9

. Somente esse erro gera NULIDADE. Exemplo: compra de uma estátua sintética,

achando ser de marfim. Artigo 13810: quem seria a pessoa de diligência normal? Não

mais se refere ao errante, mas sim a outra parte. Dessa forma, a parte que vendeu a estátua, por exemplo, teria condições de perceber que o comprador estava caindo em erro, em razão do dever da informação e o princípio da boa-fé objetiva. Destarte, se o vendedor tinha condições de constatar o erro, o negócio jurídico é anulável, caso contrário, o negócio válido.

Vide o Enunciado n. 12 do CJF11: Adotou-se a teoria da Confiança.

· Erro acidental: recai sobre uma qualidade secundária. Exemplo: compra de uma casa

em que se presumiu que tivesse 7 janelas, mas, na verdade, tem 6 janelas. O problema é resolvido mediante ação indenizadora, pois o negócio é válido.

DOLO: não assume a mesma concepção do dolo no âmbito da responsabilidade civil. Aqui, a acepção de dolo é um artifício astucioso usado para enganar a outra parte.

Observação: o ERRO (ocorre sozinho, de forma espontânea) é diferente de DOLO (é o erro induzido).

· Dolo principal (dolo causam): é a causa determinante da celebração do negócio

jurídico. Se soubesse, não celebraria o negócio. Acarreta a anulabilidade, com prazo de 4 anos, a partir da celebração.

· Dolo acidental (dolo incidens): faz com que a outra parte realize o negócio jurídico

desejável, em condição desfavorável. O dolo acidental não contamina a vontade, pois a pessoa quer celebrar o negócio, o qual se realiza em condições desfavoráveis. Resolve-se com perdas e danos, pois não invalida o negócio jurídico.

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Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

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Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

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Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio

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CLASSIFICAÇÃO SECUNDÁRIA:

· Dolo bonus: dolo bom, em que não há a intenção de prejudicar. Há um exagero de

qualidade. Se for dolo principal, anula o negócio e se for dolo acidental, se resolve com perdas e danos.

· Dolo malus: é o mais frequente. Aquele que objetiva prejudicar o outro. Se incidir no dolo

principal, acarreta a nulidade do negócio, se for incidental, também se resolve com perdas e danos.

· Dolo positivo (comissivo): atuação comissiva da parte. O artifício astucioso, que consiste

em uma ação.

· Dolo negativo (dolo por omissão): consiste numa omissão de informação importante ao

negócio jurídico.

· Dolo proveniente de terceiro (artigo 148, CC/02)12

: é praticado por terceiro, que nada tem a ver com o negócio jurídico. Exemplo: compra e venda de carro. Antes da compra, o carro é levado ao mecânico, o qual mente sobre o estado do carro. Nesse caso, se o vendedor não sabia da mentira, resolver-se-á com perdas e danos contra o terceiro, o mecânico. Se o vendedor sabia da mentira, torna-se caso de anulação do negócio. Aqui também incide a teoria da confiança.

· Dolo enantiomórfico, bilateral ou recíproco: dolo praticado pelas duas partes. O CC/02 o

chama de dolo bilateral. Este dolo não invalida negócio jurídico e não se permite pleitear perdas e danos.

COAÇÃO: é a pressão física ou moral, que impede a real manifestação de vontade.

· Vis absoluta: é a violência física, acarretando a inexistência do negócio jurídico, por falta

de manifestação de vontade. Exemplo: revólver na cabeça.

· Vis compulsiva: é a violência moral. Exemplo: chantagem.

Observação: dois casos passíveis de anulabilidade, com prazo de arguição de 4 anos a partir da cessação da coação (art. 178 do CC), mas no ato inexistente, a ação declaratória de inexistência é imprescritível (tese sujeita à análise do magistrado).

CARACTERÍSTICAS DA COAÇÃO:

· A coação tem que gerar medo de um grave dano conhecido pela outra parte;

· A coação deve levar em conta: sexo, idade, saúde e temperamento;

· O medo, na coação, deve se referir a própria pessoa, sua família ou seus bens.

Observação: O parágrafo único do artigo 151 do CC/0213: se envolver pessoa não pertencente à família, o juiz decidirá se houve, ou não, a coação.

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Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

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Atenção: não confundir a coação com o temor reverencial (respeito) ou exercício regular do direito. Exemplo: ajuizar ação de cobrança não é coação.

A coação pode vir de terceiro. Nesse caso, o art. 154 do CC14 adota a “Teoria da Confiança”, pois se a pessoa favorecida pela coação tiver ou devesse ter conhecimento da sua existência, o ato é anulável, respondendo solidariamente por perdas e danos a parte favorecida e do terceiro (trata-se de um exemplo de solidariedade legal, prevista no art.

265 do CC15). Mas, se a parte favorecida com a coação dela não sabia, o negócio é válido,

mas o terceiro responderá por perdas e danos.

ESTADO DE PERIGO (artigo 156, CC/02)16: alguém assume a obrigação excessivamente onerosa para salvar a si ou alguém da família de um grave dano conhecido pela outra parte. Exemplo: a venda de um remédio que custa R$ 10,00, mas é cobrado R$ 2.000,00 em centro cirúrgico. Se o caso envolver pessoa não pertencente à família, o juiz determinará se houve ou não estado de perigo.

Obs.: A Resolução n. 44 da ANS veda o cheque caução para pessoas que possuem plano de saúde.

LESÃO (artigo 157, CC/02)17: ocorre quando uma pessoa se obriga a uma prestação desproporcional (conceito de sinalagma: prestação e contraprestação vertida de proporcionalidade). Exige 2 requisitos:

· Objetivo: prestação desproporcional;

· Subjetivo: inexperiência ou necessidade.

Vide o Enunciado n. 290 do CJF:

“290 – Art. 157. A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado.”.

Exemplo: um dependente químico vende uma TV de LCD por R$ 150,00. Verifica-se a necessidade e a desproporcionalidade. O negócio é anulável pelo prazo de 4 anos.

Artigo 157, § 2º: não será anulável o negócio se a outra parte oferece o montante suplente antes de anular, em razão do princípio da Conservação do Negócio Jurídico.

Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

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Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.

15 Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. 16

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

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Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

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Enunciado n. 149 e n. 291 do CJF:

“149 – Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002.”.

“291 – Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço.”.

Enunciado n. 148 do CJF:

“148 – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157.”.

Referências

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