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Rev. Bras. Anestesiol. vol.65 número4

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Academic year: 2018

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RevBrasAnestesiol.2015;65(4):237---239

REVISTA

BRASILEIRA

DE

ANESTESIOLOGIA

PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologia www.sba.com.br

EDITORIAL

Bem-estar

ocupacional

em

anestesiologistas:

sua

relac

¸ão

com

a

metodologia

educacional

Occupational

wellbeing

in

anaesthesiologists:

its

relationship

with

educational

methodology

Chegou o momento! Está na hora de os anestesiologistas acordarem para anecessidade prementedasatisfac¸ão no trabalhoedeumsaldopositivonavida.Pormeiodevárias iniciativasdoComitêdeBem-EstarProfissionaldaFederac¸ão Mundial de Sociedades de Anestesiologistas (WFSA), do ComitêdeSaúde OcupacionaldaSociedadeAmericanade Anestesiologistas (ASA)e daSociedade Brasileirade Anes-tesiologia (SBA) e da Confederac¸ão Latino-Americana de SociedadesdeAnetesiología(Clasa),associedadesde anes-tesiaemtodoomundoestãotentandocriarumaconsciência sobreaquestãocrucialdobem-estarnotrabalho.

Com o atual interesse em Weingology, a ciência que estuda o bem-estar, umtermo cunhado pelos autores em umcapítuloanteriorsobreobem-estarocupacional,o pre-sente editorial é uma tentativa do Comitê de Bem-Estar ProfissionaldaWFSAdeseidentificarcomobem-estar ocu-pacional. Na segunda sec¸ão deste editorial discutimos o papeldasmetodologiaseducacionaisnareduc¸ãodoestresse epromoc¸ãodobem-estarnotrabalho.

O bem-estar ocupacional pode ser definido como um estado de grande satisfac¸ão e realizac¸ão no trabalho. É caracterizadopor umcompromisso detrabalho positivo edisponibilidadederecursosadequadosparalidarcomas situac¸õesestressantes.Umaintegrac¸ãoharmoniosado tra-balhocomavidapessoalqueforneceumbomequilíbrioea satisfac¸ãopessoalpodelevaraumbem-estargeral aprimo-rado.

Noentanto,estáficandoextremamentedifíciloferecer um ambiente de trabalho que seja completamente livre deestresse físicoe mental. A exposic¸ãoa agentesfísicos comoradiac¸ãoelasers, ruídosegasesanestésicosno cen-trocirúrgico,riscodeexposic¸ãoainfecc¸ões/contaminac¸ões eotrabalhoemambienteshostispodemcausarestressee afetamobem-estarocupacional.

Alguns dos fatores mais estressantes percebidos pelos próprios anestesiologistas são: falta de controle sobre a

jornada de trabalho, vida familiar prejudicada, aspectos médicosejurídicos,problemasdecomunicac¸ãoeproblemas clínicos.Outrosfatorestambémrelatadossão:normas de trabalho, tratamento de pacientes críticos, tratamento de crises, lidar com a morte, problemas relacionados ao padrão(organizacional) dotrabalho, responsabilidades administrativas, conflitos pessoais, conflitos nas relac¸ões profissionais e conflitos fora do ambiente de trabalho. Entreos residentesdeanestesiologia, algumasdas princi-paispreocupac¸õessãomanejarpacientescríticos,lidarcom asmortesdospacienteseequilibraravidapessoalcomas exigênciasprofissionais.

Afaltadebem-estarnotrabalhopodesemanifestarcomo faltadeinteressepelotrabalho,absenteísmo,insatisfac¸ão, baixaqualidadedotrabalho,possibilidadedeerromédico (que pode ocorrer por negligência e resultar em proble-masjudiciais). Todas essas situac¸ões denigrem a imagem doprofissionaleàsvezespodemresultaremabandono da carreira,aposentadoriaprecocee,emcasosextremos, pro-cessoscíveisoucriminaisquepodematélevaraosuicídio.

Fracassoemmanterumrelacionamentosaudávelcomos filhos,perturbac¸ãodavidafamiliar,abusodesubstâncias, depressão,deficiênciamentalefísicasãoalgumasdas con-sequênciassociais.Alémdisso,valemencionaraquiofato dequenãoapenasosfatoresexternos,masosmecanismos individuaisdeenfrentamentoeostrac¸osdepersonalidade tambémdeterminama respostaao estressede diferentes indivíduos quando estão diante de situac¸ões estressantes similares.Ostrac¸osdepersonalidade primárioscomo ide-alismo,perfeccionismo,timidez,inseguranc¸a,instabilidade emocionaleincapacidadederelaxarpodemenfraquecera capacidadedelidarcomoestresse.Fatoresnegativoscomo estratégiasinadequadas oufalta deestratégias para lidar comoestresse,expectativas decepcionantes/experiências negativas,apoioinsuficientedevidoàfaltaderelac¸ões soci-ais/parcerias,faltadegratidãodopacientepeloscuidados

http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2015.05.001

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238 EDITORIAL

médicosprestadoseriscosdelitígiotambémpodemafetar nossobem-estarocupacional.

Assim,o queprecisamos nonível individualé o desen-volvimentodeestratégiasdeenfrentamentoquefuncionem bem.Temosdenostreinarparaidentificarosfatores estres-santesnotrabalho.Opassoseguintepodeserodeidentificar asáreas quepodemsermodificadas paraatenuaros efei-tosdoestresse.Odesenvolvimentodeaspectospositivosdo trabalhodurante oensinodeanestesiologiatambémpode contribuirpara a formac¸ão deum futuro anestesiologista motivadoesaudável.

Como resultado de muitos fatores, incluindo as altas tensões encontradasem salade operac¸ão, as consequên-cias emocionais debilitantes de estar envolvido em uma catástrofenoperíodoperioperatório,oaumentodafadiga de longas horas de trabalho e uma miríade de fatores de personalidade muitas vezes encontrados em médicos que escolhem a anestesiologia como uma especialidade, os anestesiologistas estão em alto risco de esgotamento físico e mental. Sem mecanismos de enfrentamento em vigor, de natureza tanto pessoal quanto institucional, o médicocomesgotamentonãoreconhecidoestáemriscode suicídio e abuso de agentes farmacêuticos como forma deautomedicac¸ão. Apesar dasfortes evidênciasdeque o esgotamentoacarretagrandesprejuízosparaos anestesio-logistasemtodoomundo,umapesquisaanteriordaWFSA feitapelo Comitê de Bem-Estar Médico sobre as socieda-desnacionaisdeanestesiologiaindicouquepoucastinham tomadomedidasaindaquemínimasparadesenvolver méto-dosdeintervenc¸ãoativaparaquebrarociclodemal-estar deseusmembrosemrisco.

O primeiro passo na promoc¸ão do bem-estar entre os anestesiologistaséobteroreconhecimentodequeexisteum problema.Aabnegac¸ãoéumgrandeproblemaqueimpede médicosindividuaisdeprocuraremajuda,bemcomoomedo deseremrotuladoscomofracosouincapazespeloscolegas. Noentanto, umanegac¸ão significativa tambémexiste em colegasquenãoestãodispostosareconhecerourelatarum colegamédicoem apuros.Paraque acomunidademédica possalidareficazmentecomo médicodebilitado, precisa-mosdeixardelado asatitudesde julgamento e entender queaintervenc¸ãoativanãosóiráajudaromédicoemrisco, mastambémospacientesqueestãosendotratadosporesse médico.Fechar osolhos diante de ummédico em neces-sidadeé umaviolac¸ão direta de nosso juramento de não permitir quenossos pacientes sejamprejudicados. A lite-ratura médica está repleta de relatos sobre a erosão da seguranc¸adopacientee aumentosdeerros médicos asso-ciadosamédicosdebilitadosecomesgotamento.Paraque acomunidade anestesiológicaabraceessa necessidadede relatarsemjulgamento omédicodebilitadoumamudanc¸a de atitude é necessária dentro de nossas comunidades médicas e são necessários dentro de nossas instituic¸ões protocolos estruturados que permitam uma comunicac¸ão confidencial,comumaintervenc¸ãorápidaeeficazpara pro-moverobem-estar.

O outro passo fundamental para impedir que os médi-cos entrem no círculo vicioso do esgotamento, suicídio e vícioétorná-losautoconscienteseinternamente percepti-vosdastensõesaquesãosubmetidos.Ensinartécnicasde enfrentamento paraatenuar o impactodas tensões sobre o bem-estar emocional pode ser fundamental para evitar

queumindivíduodeslizeparaofundo dopoc¸oda depres-sãoedoesgotamento.Técnicassobrecomocomerebeber adequadamente,fazerexercíciofísico,terbonshábitosde sonoemanterumequilíbriosocialcomafamíliaeamigos contribuirãoparaevitarqueomal-estardestruaavidado anestesiologista.

A característica-chave necessária para evitar que um anestesiologista adicto fac¸a parte da estatística de mor-talidadeéumprocessoativodereabilitac¸ãoapoiado pela comunidademédica.Comocuradoresmédicos,quemseria melhorparaestarnocomandodenossoprópriobem-estar? Umavezqueareabilitac¸ãotenhaocorrido,dependendoda forma dovício, o anestesiologista pode retornar à profis-são médicaem anestesiologia ouser treinado novamente em algumaoutraárea.Oponto-chaveéqueaformac¸ãoe especializac¸ão doanestesiologistanãoprecisamser perdi-das,esimusadasetalvezredirecionadasparaobenefício tantodoanestesiologistaquantodasociedade.

Dessa forma, a Comissão Mista Americana --- Sentinel EventAlert---solicitamaioratenc¸ãoàprevenc¸ãodafadiga esuasconsequências(síndromedoesgotamentoprofissional [burnout],dependênciaquímica,tendênciassuicidas etc.) entreostrabalhadoresdasaúdeesugeremac¸ões específi-casparaasorganizac¸õesdesaúdecomoobjetivodemitigar esses riscos.Oobjetivodo SentinelEventAlerté abordar osefeitoseriscosdeumdiaprolongadodetrabalho,bem como oefeitocumulativodemuitos diasdehoras prolon-gadas de trabalho. O Alerta da Comissão Mista faz uma série derecomendac¸ões paraasorganizac¸õesde assistên-ciaasaúde,taiscomofaculdadesdemedicina,centrosde formac¸ãomédica,hospitaispúblicoseprivados,sociedades nacionais eregionais, instituic¸õesde segurose outros.As recomendac¸õesespecíficasincluem:

1. Avaliarosriscosrelacionadosàfadiga,taiscomohoras além do plantão, turnos consecutivos de trabalho e níveisnaequipe;

2. Examinar osregistros quando os pacientes são trans-feridosou encaminhados deum cuidador para outro, momentoderiscoqueéagravadopelafadiga;

3. Solicitar a contribuic¸ão daequipe para planejar uma escala de trabalho que minimize o potencial para a fadigaeproporcionaroportunidadesparaqueaequipe expressesuaspreocupac¸õessobreafadiga;

4. Criare implantar umplanodecontrole dafadiga que inclua estratégias científicas para combatê-la, como conversac¸ões,atividades físicas, consumo estratégico decafeínaecochilos;

5. Educaraequipesobrebonshábitosdesonoeosefeitos dafadiganaseguranc¸adospacientescirúrgicos; 6. Determinar osriscosrelacionadosà fadiga,tais como

turnosconsecutivosdetrabalhoeníveisdaequipe; 7. Examinarosprocessosquandoospacientessão

transfe-ridosouencaminhadosdeumcuidadorparaoutro,um momentoderiscoqueéagravadopelafadiga;

8. Solicitar a contribuic¸ão da equipepara projetar uma escala de trabalho que minimize o potencial para a fadigaeproporcionaroportunidadesparaqueaequipe expressesuaspreocupac¸õessobreafadiga;

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entabular conversac¸ões, praticar atividades físicas, consumoestratégicodecafeínaecochiloscurtos; 10. Educarosfuncionáriossobrebonshábitosdesonoeos

efeitosdafadiganaseguranc¸adospacientescirúrgicos.

O Comitê Profissional da WFSA recomenda altamente a leitura do e-livro (baixado gratuitamente a partir de

homepagesdaFederac¸ãoMundialdeSociedadesde Anes-tesiologistas(WFSA),daConfederac¸ãoLatino-Americanade SociedadesdeAnestesiologistas(Clasa)edaSociedade Bra-sileiradeAnestesiologia(SBA).

Para concluir, precisamos ser mais agressivos na formatac¸ãodaeducac¸ãomédicaquantoaosriscosdesaúde ocupacionaldosmédicos,especificamentedos anestesiolo-gistas,quepodemprejudicarasuasaúdeeoseubem-estar. Alémdisso,temsidobemdocumentadoqueessesriscospara os anestesiologistas podem representar sérias consequên-ciasparaaseguranc¸adopacientecirúrgico.

As políticas nacionais paraprevenir e lidar com a sín-dromedeburnoutepatologiasrelacionadasnoprofissional desaúdetambémdevemserdesenvolvidaspormeiode pro-gramasdeeducac¸ãocontinuadaemmedicina.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

Referências

recomendadas

1.GuptaP,NuevoF.Burnoutsyndromeinanaesthesiologists---The actualreality.In: NetoGFD,editor.Occupational wellbeingin anaesthesiologists.RiodeJaneiro:SociedadeBrasileirade Anes-tesiologia(SBA);2014,978-85-98632-24-7.

2.TorchiaroGC.Evaluationofanesthesiologistsoccupational well--being around the world. In: Neto GFD, editor. Occupational wellbeinginanaesthesiologists.RiodeJaneiro:Sociedade Brasi-leiradeAnestesiologia(SBA);2014,978-85-98632-24-7.

3.ImprovingPatientandWorkerSafety.TheJointCommission Sen-tinelAlert---FatigueOpportunitiesforSynergy.Collaborationand Innovation;2012,November19.

4.Healthcareworkerfatigueandpatientsafety;2011,December 14.

PratyushGupta,RogerMooree GastãoF.DuvalNeto∗

MembrosdoComitêdeBem-EstarProfissional daFederac¸ãoMundialdeSociedadesdeAnestesiologistas (WFSA),Brasil

Autorparacorrespondência.

E-mail:gduval@terra.com.br(G.F.DuvalNeto).

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