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O escalonamento do uso da Força pela polícia militar: análise de caso da ponte Rio Niterói/RJ, de 20/08/2019

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GABRIEL CHAGAS VICENTE

O ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR: ANÁLISE DE CASO DA PONTE RIO NITERÓI/RJ, DE 20/08/2019

Florianópolis 2020

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GABRIEL CHAGAS VICENTE

O ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR: ANÁLISE DE CASO DA PONTE RIO NITERÓI/RJ, DE 20/08/2019

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Aldo Nunes da Silva Junior, Esp.

Florianópolis 2020

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GABRIEL CHAGAS VICENTE

O ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR: ANÁLISE DE CASO DA PONTE RIO NITERÓI/RJ, DE 20/08/2019

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 23 de julho de 2020.

______________________________________________________ Professor e orientador Aldo Nunes da Silva Júnior, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Everson Becker Silva, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Priscila de Azambuja Tagliari, Msc.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

O ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA PELA POLÍCIA MILITAR: ANÁLISE DO CASO DA PONTE RIO NITERÓI/RJ, DE 20/08/2019

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, 06 de julho de 2020.

____________________________________

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Dedico este trabalho, primeiramente, a Deus, à minha família que, em todo momento, tem me apoiado, e à minha namorada, sem a qual não estaria onde estou.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter me sustentado em todo momento e me concedido capacidade para chegar até aqui.

Agradeço também à minha família, por me incentivar nos momentos difíceis e pela criação dos meus pais, a qual formaram meu caráter e crença, nos quais tanto deposito fé e confiança.

À minha namorada, que me ajudou a ingressar neste curso e acreditou na minha capacidade, quando eu não acreditava.

Também ao meu irmão, pelos momentos de brincadeira e descontração proporcionados nos piores e mais pesados dias.

Aos meus colegas, que me ajudaram e participaram comigo de todas as fases deste curso.

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“Se eu tivesse nove horas para cortar uma árvore, passaria seis horas afiando o meu machado.” (Abraham Lincoln).

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RESUMO

Este trabalho aborda, de maneira dedutiva, a competência da Polícia Militar, os procedimentos usados nos casos de intervenção de força energética e o escalonamento do uso da força letal, no caso ocorrido na ponte Rio-Niterói/RJ, em 20 de outubro de 2019, frente à proporcionalidade e à necessidade. A técnica de pesquisa foi a bibliográfica, usando doutrinas, artigos, legislações e periódicos. A crescente dúvida que vem sondando a sociedade sobre o uso moderado de meios para cessar ameaças foi um norteador na decisão de fazer o presente estudo, principalmente após ver esta notícia fatídica em que, aproximadamente às 05h00 da madrugada, do dia 20 de agosto do ano de 2019, sobre a ponte Rio-Niterói, iniciava-se o drama com 38 passageiros de um ônibus. Um jovem de 20 anos, aparentemente transtornado, sequestra um coletivo em Alcântara, no ponto final. Após muitas tentativas de negociação, sobre a ponte do Rio-Niterói/RJ, as quais foram inexitosas, o indivíduo foi abatido por atiradores de elite do BOPE – Batalhão de Operações Policiais Especiais, que pôs fim ao sofrimento daqueles passageiros. Assim, busca-se responder à busca-seguinte questão: o uso da força letal pela Polícia Militar nesbusca-se caso, obedeceu às regras do escalonamento do uso da força?

Palavras-chave: Polícia Militar. Escalonamento do uso da força letal. Caso da ponte Rio-Niterói 2019.

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LISTA DE SIGLAS

B.O – Boletim de Ocorrência

BOPE – Batalhão de Operações Policiais Especiais

CCEAL – Código de Conduta para Encarregados de Aplicação da Lei PBUFAF – Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Arma de Fogo PM – Polícia Militar

PMRJ – Polícia Militar do Rio de Janeiro PMSC – Polícia Militar de Santa Catarina T.C – Termo Circunstanciado

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 A ATRIBUIÇÃO DA POLÍCIA MILITAR ... 11

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ... 18

2.2 COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DA POLÍCIA MILITAR ... 21

2.3 COMPETÊNCIA INFRACONSTITUCIONAL ... 23

3 DO ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA ... 27

3.1 CONCEITO ... 27

3.2 O TIRO DE COMPROMETIMENTO E AS NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE O ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA ... 29

3.3 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA ... 32

3.4 NÍVEIS DO ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA ... 37

3.4.1 Nível 1 ... 37 3.4.2 Nível 2 ... 37 3.4.3 Nível 3 ... 37 3.4.4 Nível 4 ... 38 3.4.5 Nível 5 ... 38 3.4.6 Nível 6 ... 38

3.5 MODELOS DO ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA... 39

4 A ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR NO CASO DA PONTE RIO NITERÓI/RJ, EM 20/08/2019 ... 44

4.1 SEQUÊNCIA DA AÇÃO CRIMINOSA ... 46

4.2 SEQUÊNCIA DA AÇÃO POLICIAL MILITAR ... 49

4.2.1 Negociação com o criminoso ... 49

4.2.2 O uso da força letal no abatimento do sequestrador ... 55

5 CONCLUSÃO... 58

REFERÊNCIAS... 60

ANEXOS ... 65

ANEXO A – DECRETO Nº 515, DE 17 DE MARÇO DE 2020 ... 66

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1 INTRODUÇÃO

O escalonamento do uso da força e a energia letal possuem relação direta com a proporcionalidade, com a moderação com que um meio é empregado para inibir ou repelir uma agressão injusta. Existem opções gradativas de repelir uma injusta agressão, e que veremos no decorrer deste trabalho, usando como exemplo o sequestro de um ônibus por um indivíduo armado, que ameaçava atear fogo com 38 passageiros lá dentro.

Dessa forma, o escalonamento do uso da força e a energia letal serve como um meio energético de agredir, respaldado na lei, de forma a impedir que um mal maior aconteça. Vale destacar que esse meio é empregado na medida em que um criminoso atua e no grau de sua hostilidade, não buscamos enaltecer quaisquer excessos, mas sim compreender os níveis em relação aos quais é empregada a energia letal mais gravosa, que é o abatimento com arma de fogo.

Diante da sociedade em constante mudança e evolução, deparamo-nos com situações delicadas. Aqui, nossa situação é o sequestro, devemos nos atentar que a lei que nos subjuga é um produto da democracia do país do qual fazemos parte. Contudo, em que pese tantos esforços para uma sociedade justa, continuamos convivendo com pessoas dispostas a fazer o mal, muitas vezes em troca de recompensas banais.

O objetivo da existência desses meios é impedir que algo mais grave aconteça à sociedade e à ordem pública. Para bem elucidar os fatos que virão ao final, será necessário entender a competência constitucional e infraconstitucional da Polícia Militar, que é a responsável por essa intervenção baseada na energia letal. Também será necessário conhecer o escalonamento do uso da força e a energia letal e seus aspectos legais e doutrinários inerentes.

Os motivos pelos quais entendeu-se necessário o estudo desse caso relacionam-se à crescente dúvida que vem sondando a sociedade sobre o uso moderado de meios para cessar ameaças, principalmente após ver essa notícia fatídica, do sequestro de um ônibus com 38 passageiros como reféns. Também se faz importante, para o meio científico, na medida em que agrupa entendimentos sobre um tema a um caso concreto.

Para bem desenvolver este trabalho, usando o método dedutivo, foram utilizados livros voltados a essa área e artigos científicos, bem como as leis

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pertinentes. Não menos importante, efetuaram-se pesquisas em periódicos e jornais os quais fazem referência ao sequestro, lapidando cada informação para não trazer aqui algo equivocado, por exemplo, desde o número de passageiros até os horários em que aconteceram os fatos.

Este trabalho de conclusão de curso busca responder, mediante estudo de um caso específico, ao seguinte questionamento: O uso da força letal pela Polícia Militar no caso da ponte Rio-Niterói/RJ, de 20 de agosto de 2019, obedeceu às regras do escalonamento do uso da força letal?

Para isso, o desenvolvimento se divide em três capítulos, no primeiro faz-se uma contextualização da história da Polícia Militar e uma abordagem da sua competência de atuação, tanto constitucional como infraconstitucional.

No segundo capítulo, aborda-se o escalonamento do uso da força e a energia letal em cada um de seus níveis, junto com uma capitulação sobre os princípios inerentes ao escalonamento. Além disso, é efetuada uma exposição das normas internacionais, correlacionando com o instituto do tiro de comprometimento.

No terceiro e último capítulo, será estudado o caso do sequestro, com enfoque na atuação da Polícia Militar no caso ocorrido no Rio de Janeiro, em 20/08/2019, detalhando os momentos, a intervenção da Polícia Militar, a negociação com o criminoso, e, finalmente, o abatimento desse criminoso, mediante o uso da força letal por atirador especialista do BOPE - Batalhão de Operações Especiais Policiais.

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2 A ATRIBUIÇÃO DA POLÍCIA MILITAR

No nosso país, a competência da Polícia Militar é extraída da Constituição Federativa Brasileira de 1988, que será abordada em capítulo oportuno, antes disso, é importante entender o que significa a Polícia. Para Di Pietro (2012), é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público. Assim, podemos entender que a Polícia, de modo geral, deve manter a ordem pública, sendo usada, muitas vezes, pelo Direito Administrativo, com a terminologia Poder de Polícia, o que não destoa muito da competência da Polícia Militar.

O Poder da Polícia deriva de uma delegação de poder do Estado para que desempenhe suas funções, na busca por determinados objetivos. Para Muniz e Proença (2007, apud BUENO, 2014, p. 102):

a instituição, qualquer que seja, compromete-se a usar os poderes delegados para: 1) buscar os fins pretendidos; 2) exercer os poderes delegados, escolhendo os meios e formas de ação que não contradigam esse fim; 3) e responder pelas escolhas e resultados.

Isso nos mostra que o Poder da Polícia está amarrado a uma responsabilidade, que diz respeito a sua atuação para alcançar os objetivos da corporação. Desses objetivos se pode tomar como exemplo o de manter a ordem pública. Logo, sua responsabilidade está em responder pelos meios que empregou para manter a ordem Pública. Sendo assim, o Poder da Polícia não é absoluto, tendo ela que usar de meios proporcionais e moderados.

Para o Direito Administrativo, Gasparini (2012) nos diz que o Poder de Polícia se resguarda positivado no art. 78 do Código Tributário Nacional, em que se pode afirmar que é uma atribuição da Administração Pública, para dar limite a certos direitos, por exemplo: restringir a liberdade dos administrados em benefício do interesse público.

Pelo exposto acima, entende-se que o Poder de Polícia está ligado ao Estado e sua atuação material nos direitos dos administrados, enquanto o Poder da Polícia está ligado à delegação feita pelo Estado do seu Poder de Polícia para a Polícia Militar atuar na Segurança Pública.

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Um exemplo novo do exercício do poder de polícia, portanto, pode ser a atuação do Poder Executivo Catarinense ao editar o Decreto Estadual nº 515, de 17 de março de 2020 (anexo A), quando da pandemia causada pelo COVID-19, com o objetivo de evitar a larga propagação da doença, declarou situação de emergência e determinou a suspensão de diversas atividades.

As atividades que não deixaram de ter continuidade foram: farmácias; unidades de saúde; supermercados; postos de combustível; distribuidoras de água/gás; distribuição de energia elétrica; clínicas veterinárias de emergência; funerárias; serviços de telecomunicação; imprensa; segurança privada e coleta de lixo. Dessa forma, destaca-se que todas essas atividades elencadas são essenciais para a população. (SANTA CATARINA, 2020).

O decreto restringiu determinados direitos a fim de barrar a proliferação do vírus, dentre eles estão: a circulação de veículos de transporte coletivo urbano municipal, intermunicipal e interestadual; as atividades e serviços privados não essenciais; as atividades e os serviços públicos não essenciais, no âmbito municipal, estadual e federal; e a entrada de novos hóspedes no setor hoteleiro (SANTA CATARINA, 2020).

Logo abaixo temos uma publicação que melhor demonstra os locais que tiveram e os que não tiveram suas atividades prejudicadas em razão da pandemia:

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Imagem 1 – Locais que podem ficar abertos e que deverão ficar fechados

Fonte: Divulgação de matéria do jornal ND mais (2020).

Como já vimos, o decreto mencionado cerceou determinados direitos individuais para o bem público, que estão acima dos direitos individuais. Como meio de coibição, a PM fez uso do seu Poder de Polícia para abrir processos de interdição contra os estabelecimentos que o descumprissem.

Em razão disso, a Polícia Militar publicou o ato nº 338, de 19 de março de 2020, (anexo B) para cumprir o determinado. A PM iniciou uma fiscalização intensa nos estabelecimentos de atividades não essenciais para que suspendessem seus trabalhos.

Esse ato deu aos policiais atuantes no caso as diretrizes a serem tomadas quando encontrassem um estabelecimento que não se enquadrava nas atividades essenciais previstas no decreto.

A primeira delas é determinar o fechamento do estabelecimento em até uma hora e lavrar um termo de irregularidade administrativa, seguido de um afixamento na porta de entrada do estabelecimento de um aviso de notificação administrativa. (SANTA CATARINA, 2020).

Não surtindo efeito, e o proprietário ou responsável não fechando o estabelecimento no prazo determinado, a segunda atitude a ser tomada é a lavratura de termo de notificação de irregularidade administrativa, e afixar na porta principal do

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estabelecimento o aviso de interdição cautelar de ordem pública. (SANTA CATARINA, 2020).

Se mesmo após todo esse empenho o proprietário negar-se a fechar o estabelecimento, a Polícia Militar encerrará as atividades do estabelecimento, seguido de lavramento de Boletim de Ocorrência ou Termo Circunstanciado, pelo crime de desobediência e pelo crime de infringir uma determinação do poder público. (SANTA CATARINA, 2020).

Nos casos em que for lavrado o Boletim de Ocorrência ou Termo Circunstanciado, o infrator será submetido à Lei Federal nº 13.979, de 06 de fevereiro de 2020, que foi instituída para estabelecer as medidas de enfrentamento dessa situação de importância internacional. (SANTA CATARINA, 2020).

O decreto trouxe ainda que nos casos de descumprimento de quarentena, o policial terá de verificar se existe ordem compulsória de médico ou de equipe médica. Se houver, será lavrado B.O ou o T.C, e após isso encaminhar o infrator ao local da quarentena, depositar objetos apreendidos e registrar no relatório de serviço, sendo informado ao comando do policiamento imediatamente ao término da lavratura do B.O ou T.C para fins de controle.

Vale Ressaltar que até mesmo as igrejas sofreram restrições, que puderam permanecer abertas, mas sem realizar culto ou reunir pessoas, dado ao alarmante perigo de contágio pela população por um vírus de letalidade até então desconhecido. (POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 2020). A desobediência de uns pode levar a uma catástrofe, a imprudência das pessoas foi tanta que as fiscalizações precisaram se estender às praias, pois alguns, mediante a situação de emergência, decidiram aproveitar como se estivessem de férias, conforme se extrai do jornal NSC Total, em notícia escrita por Battistella (2020):

Mesmo com a situação de emergência declarada em todo o território de Santa Catarina por sete dias, o que restringe o funcionamento de serviços considerados não essenciais e, consequentemente, a circulação de pessoas pelas ruas, houve quem não seguiu as recomendações e se dirigiu às praias do litoral catarinense entre a manhã e o início da tarde desta quinta-feira (19), o que demandou medidas mais enérgicas das autoridades.

Por conta dessas pessoas, foi editado o Decreto 521, de 19 de março de 2020, que acrescentou o art. 3º-A ao Decreto 515, tratado anteriormente. O artigo

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acrescentado proibiu o ingresso, no território estadual, de veículos de transporte coletivo de passageiros, interestadual ou internacional, público ou privado, e veículos de fretamento para transporte de pessoas. (SANTA CATARINA, 2020).

Como mencionado em relação às praias, o decreto acima adicionou também o art. 3º-B ao Decreto 515, que proibiu a concentração e permanência de pessoas em espaço público ou de uso coletivo, como parques, praias e praças em todo território catarinense. (SANTA CATARINA, 2020).

Não é exagero quando se fala que o Policial Militar desempenha uma função que lhe exige coragem e dedicação. Nesses dias, fazendo cumprir o decreto, eles ficaram à mercê de se contaminarem, e em todo momento se fizeram presentes para conter a proliferação do vírus.

Interessante destacar que os Policiais Militares estão trabalhando nas ruas com o risco de suas próprias vidas e de seus familiares, pois voltarão para seus lares após terem cumprido essa missão.

Em razão da permanência da situação de emergência (agora, na verdade, estado de calamidade – Decreto 562, de 17 de abriu de 2020), os atos de polícia administrativa continuam a ocorrer após a finalização desta pesquisa.

Por tudo que se expôs, restou exemplificado o Poder de Polícia que o Estado delega à Polícia Militar, para que faça valer seus decretos em função da sociedade e do bem de todos.

A Polícia Militar demonstra grande compromisso com a pátria e seus símbolos. Isso se justifica pela rigidez na formação de novos integrantes desse órgão do governo e sua notada disciplina. Por isso, é chamada de braço do Estado, pois a vemos de forma física nas ruas. Neste contexto, fica claro que é uma Instituição diferenciada em muitos aspectos, notado nos seus próprios regimentos internos. Disso se destacam [...] vários deveres militares, entre os quais o da dedicação e fidelidade à pátria, o culto aos símbolos nacionais, a probidade e a lealdade em todas as ocasiões e circunstâncias [...]. (ASSIS, 2008).

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Desde a criação da Polícia Militar, as pessoas a veem de forma diferenciada em relação às outras instituições de Segurança Pública. Conforme explicado acima, ela possui certas peculiaridades, principalmente pelos riscos inerentes ao exercício das funções pelos policiais militares, seguindo o juramento efetuado no dia de sua formatura, como integrante dessa atividade de segurança, ou seja, o policial jura proteger a sociedade com o risco da própria vida.

Conforme Assis (2008), a disciplina é um elemento essencial para os militares, a obediência os caracteriza, sem isso não teria tanta relevância perante a sociedade. O autor deixa claro quando nos traz que quase a totalidade dos regulamentos disciplinares brasileiros prevê, como sendo uma das manifestações da disciplina, a obediência pronta às ordens dos superiores hierárquicos.

Conforme mencionado pelo autor acima, a obediência e disciplina são condições sine qua non de um policial militar, e isso inegavelmente reflete na eficiência dos serviços que são prestados por ele. Justifica-se esse reconhecimento por "São Paulo virar case mundial na redução de homicídios dolosos e será um dos destaques do principal encontro anual de chefes de Polícia dos Estados Unidos". (PAGMAN, 2019, p. 1).

Dessa forma, compreendemos que sua competência se encontra em ter uma boa relação com a sociedade, usar de força física quando necessário e, na pior das hipóteses, usar a força letal para proteger-se ou proteger a terceiros, isso baseado no patrulhamento ostensivo tanto rural como urbano. Tudo se baseia no anseio de dar conforto para a sociedade, por exemplo, quando estão nas ruas durante a madrugada, cuidando do sono dos que praticam o bem.

E de acordo com Assis (2008, p. 32):

[...] a natureza jurídica dos membros das Instituições armadas brasileiras é a de categoria especial de servidores da Pátria, dos Estados e do Distrito Federal, com regime jurídico próprio, no qual se exige dedicação exclusiva, restrição a alguns direitos sociais, e sob permanente risco de vida.

O autor deixa claro que a Polícia Militar não é uma instituição comum, quando diz que ela atua sob permanente risco de vida. Mais ainda, quando vemos ele dizer que o regime jurídico a ela aplicado exige abdicação de alguns direitos sociais, por exemplo, greve e criação de sindicato. Todo esse escopo é necessário para a boa

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prestação de seus serviços, pois deve ser sem interrupção, e disciplinado, como viemos mencionando.

Por todas essas razões, e por mais que muitos não concordem, a Polícia Militar merece o devido reconhecimento e respeito perante a sociedade que ela serve. Restou cristalino que sua competência encontra-se em assegurar os direitos de cada um dos cidadãos, promovendo a paz, defendendo a democracia e os direitos humanos, e exercendo suas atribuições como braço do Estado, mostrando-se presente ostensivamente, e utilizando dos meios necessários para isso, resguardados pela decência, legalidade, honestidade, probidade e temperança, aplicando a força física quando necessário e a força letal para proteger os bens jurídicos que exijam esse fim.

Temos como base para o exposto acima, as razões traduzidas no Estatuto da Polícia Militar de Santa Catarina, quando nos traz os valores de seus agentes.

Art. 28. São manifestações essenciais do valor policial-militar:

I – o sentimento de servir à comunidade, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o dever policial-militar e pelo integral devotamento à manutenção da ordem pública mesmo com risco da própria vida;

II – o civismo e o culto das tradições históricas; III – a fé na elevada missão da Polícia Militar;

IV – o espírito de corpo, orgulho do policial-militar pela organização onde serve;

V – o amor à profissão policial-militar e o entusiasmo com que é exercida; VI – o aprimoramento técnico-profissional. (SANTA CATARINA, 1983). Mais ainda quando se remete à ética no exercício de suas atribuições, com justificativa também no mesmo Estatuto, quando nos mostra no seguinte artigo e incisos:

Art. 29. O sentimento do dever, o pundonor policial-militar e decoro da classe impõe a cada um dos integrantes da Polícia Militar, conduta moral e profissional irrepreensível, com a observância dos seguintes preceitos de ética policial-militar:

I – amar a verdade e a responsabilidade com fundamento da dignidade pessoal;

[...]

III – respeitar a dignidade da pessoa humana; [...]

XIX – zelar pelo bom nome da Polícia Militar e de cada um de seus integrantes, obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos de ética policial-militar. (SANTA CATARINA, 1983).

Ressalta-se que as Polícias Militares de todos os estados da federação compartilham do mesmo sentimento de valor e ética, bem como outras previsões em

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cada Estatuto Policial Militar. A exemplo o do Rio de Janeiro, correlacionado ao de Santa Catarina, que nos traz os mesmos termos de ética e valor acima citados, mas em diferentes artigos, que são o art. 26 e art. 27 do Estatuto da Polícia Militar do Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO, 1981), e art. 28 e art. 29 quando se refere ao de Santa Catarina.

As atribuições da Polícia Militar foram se moldando com o passar do tempo, ela advém de uma crescente motivação histórica, em que o bem e a ordem pública e os direitos humanos vêm sendo cultivados no interior não só da instituição, mas também entre os profissionais que dela fazem parte.

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A Polícia Militar sempre desempenhou um papel de grande relevância, isso fica ainda mais evidente nos tempos atuais, por sua atuação mais incisiva, por sua presença mais ativa.

No ano de 1835, na província de Santa Catarina, foi instituída a “força policial” por Feliciano Nunes Pires, por meio da Lei Provincial nº 12, de 5 de maio de 1835, criada na época para atender as requisições de autoridades policiais e judiciárias, veio substituir o denominado Corpo de Guardas Municipais Voluntários. (POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 2020).

Como área de atuação, diferentemente da atualidade, atuava também como uma espécie de bombeiro, e restritamente ao âmbito municipal.

O Regulamento da Força Policial, aprovado em 1836, só veio ratificar a missão acima citada, outorgando-lhe a missão ampla e complexa de atender desde incêndios até a prisão de infratores das posturas municipais. Essa foi, durante muitos anos, a principal missão da Força Policial. (PMSC, 2020, p. 1).

Com o passar do tempo, os inúmeros conflitos internos e externos que o Brasil imperial passou, como a Guerra dos Farrapos e do Paraguai, forçaram uma atuação conjunta com o exército Brasileiro, estendendo um pouco mais sua atuação para o âmbito da Segurança Nacional. (PMSC, 2020).

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Assim, percebemos que a Polícia Militar passou por variadas transformações no decorrer das décadas, sendo sempre auxiliadora do Estado, mostrando-se presente sempre que necessário, aumentando seu fator de importância em relação à ordem pública e soberania do nosso país, outrora com regime imperial.

Por todo o exposto acima, a PM foi reconhecida como Força Pública, no ano de 1916, e força reserva do exército de 1ª linha no ano seguinte, em 1917, o que mais à frente lhe garantiria o “status” constitucional, por intermédio da Constituição de 1934 (PMSC, 2020).

Finalmente, ao chegar o ano de 1946, a Constituição Federal a denomina como conhecemos hoje, sendo da União a competência de legislar sobre “a organização, instrução, justiça e garantias da PM”. (PMSC, 2020, p.1).

Como visto, podemos encontrar as competências da Polícia Militar em diferentes dispositivos de Lei, pois (PMSC 2020, p.1):

Além da Constituição Federal, outros instrumentos legais de âmbito Federal e Estadual, fazem referência à missão e competência legal da PM, entre os quais podemos citar o Decreto Lei Federal Nº 667, de 02 de Junho de 1969, que reorganiza as PM e os Corpos de Bombeiros dos Estados, Territórios e do Distrito Federal, e a Constituição do Estado de Santa Catarina de 1989. Seguidamente, a PM abriu espaço para os direitos humanos na formação e atuação de seus agentes, sendo norteados por ele na atuação diuturna com a sociedade. Assim, os parâmetros de direitos humanos foram introduzidos como forma de humanizar e aproximar a sociedade à Polícia Militar.

Como bem nos trouxe França (2012, p. 58):

O processo de redemocratização fez com que as instituições militares implementassem novas mudanças que se voltaram para a busca do aprimoramento de seus profissionais. Essa transição passou a ocorrer através de uma formação pedagógica militar que norteou novos parâmetros. E, para isso, o elemento que se tornou importante no processo de mudança foi a inserção dos Direitos Humanos na formação policial militar. Os Direitos Humanos passaram a ser utilizados como disciplina formativa, misturando-se ao cotidiano da formação PM através de novos conceitos pedagógicos que não mais se resumiam a disciplinas meramente policiais militares.

Mas vale salientar que todo esse enredo dos direitos humanos não diminui em momento nenhum o militarismo baseado na disciplina e na ordem, por mais que muitas vezes isso possa soar contraditório, ambos caminham juntos. França (2012)

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denomina esse fenômeno como um binômio tenso entre disciplinamento e a humanização.

Essa humanização trouxe o benefício de confiança com a sociedade, baseada no contato diário, e agora com procedimentos mais cautelosos em razão dos Direitos Humanos. A exemplo disso temos o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência – Proerd, o qual visa a antecipar a conscientização de jovens e adolescentes em relação às drogas nas escolas, antes de serem alcançados pelo tráfico, e em relação à violência de forma cooperativa com as famílias. (SANTA CATARINA, 2020).

Em Santa Catarina (2020), no site relacionado ao Proerd se extrai que:

O Proerd possibilita à Escola complementar seu projeto pedagógico, segundo o que prescreve a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em seu artigo 2º: A educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Por isso, a atuação da Polícia Militar vai além de um controle Estatal exercido pela ostensividade. Aqui vemos uma atuação latente baseada nos Direitos Humanos, que visa ao futuro, antecipando que cidadãos em processo de formação venham se tornar potenciais criminosos ou infratores da Lei.

Por derradeiro, a PM cedeu espaço ao aparecimento da Polícia Cidadã, a qual se preocupa com os direitos individuais das pessoas. Isso se deu por força da criação da Constituição Federal de 1988, denominada também de Constituição Cidadã. Assim, Schneider (2011, p. 391) nos traz que:

As organizações policiais, em nível nacional e estadual, começaram a repensar seus procedimentos na formação policial, voltando o interesse a uma polícia cidadã, que respeitasse os direitos do homem, uma polícia voltada aos direitos humanos.

Incluir esse tema na formação curricular dos policiais militares desmontou boa parte do que se acredita no senso comum, que os direitos humanos protegem exclusivamente o bandido, e nunca se voltam para a vida da vítima, ou do policial.

O que emerge nesse momento sobre os Direitos Humanos é o direito à vida, pois sem ele não haveria como invocar os outros direitos fundamentais dos seres

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humanos. Assim nos diz Roberto (2008, p. 34), “[...] o direito à vida é o principal direito do ser humano, e deve ser protegido, respeitado e garantido pelo Estado, pois nenhum ordenamento seria justo se não respeitasse esse direito.”

Tão imensurável direito à vida aparece em primeiro no art. 5º da Constituição Federal Brasileira, sendo dado a qualquer brasileiro ou estrangeiro que resida neste país. (BRASIL, 1988).

Inegável que nos tempos atuais a Polícia Militar está mais unida na sociedade pela democracia e tudo que ela nos proporciona por meio dos Direitos Humanos. A Contemporânea Polícia Militar tem por sinônimo a Polícia Cidadã.

Corroborando com essa contextualização, temos as palavras do ex-comandante geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Coronel Wolnei Dias, “superando toda sorte de obstáculo, colocados em nosso caminho por uma crise financeira sem precedentes na história recente do nosso estado, conseguimos seguir em frente, combatendo diuturnamente a criminalidade”. (POLÍCIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO, 2017).

Remetendo-se ao estado do Rio de Janeiro, onde ocorreram os fatos motivadores desse trabalho, temos que, nas palavras acima, perpassam por dificuldades, mas compartilham as Polícias Militares de todos os estados da federação do mesmo anseio de uma polícia mais próxima aos cidadãos. Para isso, continuando nas palavras do Coronel, “Nós, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, estaremos mais estruturados, capacitados e fortalecidos para cumprir a nossa missão de proteger e servir a sociedade”. (POLÍCIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO, 2017).

Essas mudanças sofridas no passar dos últimos cem anos, aproximadamente, traduziram-se na nossa Carta Magna vigente, de 1988, que trouxe em seu bojo a previsão e a competência da Polícia Militar.

2.2 COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DA POLÍCIA MILITAR

O constituinte originário entendeu a necessidade de uma polícia ostensiva no país que outrora emergia em uma nova constituição. Para tanto, previu a Polícia Militar no art. 144, inciso V, da Constituição Federal de 1988. Neto (1991) afirma que

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patrulhamento é sinônimo de policiamento, remetendo-se ao §5 do mesmo artigo, em que prevê a Polícia Militar como ostensiva.

Como bem nos assegura Schneider (2011), pode-se dizer que a Polícia Militar exerce função de polícia administrativa, e preservação da segurança pública dos Estados e Municípios do nosso país. É seguro também afirmar que, constitucionalmente, possui responsabilidade que engloba outras atribuições de outros órgãos policiais, no caso de falências institucional, greves e outras causas, que faça necessário sua expansão de atuação. Nessa toada, as Polícias Militares possuem obrigações com a ordem pública em todo o universo da atividade policial.

Conforme explicado acima, a Polícia Militar estende suas atribuições na medida em que os problemas surgem, e é notório que o constituinte originário depositou grande confiança nesta instituição quando previu essas situações. É interessante, aliás, a menção do autor sobre o universo da atividade policial, de onde extraímos que sempre que houver necessidade, a PM terá competência para atuar, além de sua ostensividade, no universo mencionado.

Conforme a Constituição Federal Brasileira prevê:

Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

[...]

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...]

§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. (BRASIL, 1988).

Por todo o exposto, a competência constitucional da Polícia Militar encontra-se no art. 144, inciso V, complementado pelo §5º. Ainda, verificamos que não se limita somente no que está positivado, pois quando necessário, suas atribuições se estendem de modo que se tornou uma instituição de extrema importância para a ordem pública, visto que atua em todo o universo da atividade policial. Nessa toada, abre-se espaço para o próximo capítulo, que, não menos importante, tratará da competência infraconstitucional.

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Por força da nossa Constituição Federal de 1988, todas as Polícias Militares devem estar adequadas a esses dispositivos de lei, quando da obediência de seus respectivos Estatutos.

A competência da Polícia Militar também se encontra com maior detalhamento nas constituições Estaduais e em seus Estatutos, como forma de delimitar e dar mais objetividade às suas funções ostensivas.

2.3 COMPETÊNCIA INFRACONSTITUCIONAL

Quando se fala em competência infraconstitucional da Polícia Militar, encontramos embasamento nas Constituições dos Estados. Assim, será usada como referência a do Estado de Santa Catarina, em que se escreve este trabalho. Nela encontramos o art. 107, que novamente nos trouxe a figura da polícia ostensiva e preservação da ordem pública. (HEMANN, 2007).

O inciso I já vem estabelecendo as atividades de uma polícia ostensiva, a qual encontramos o patrulhamento, preservação do meio ambiente, a fiscalização e outras atividades atinentes à Polícia Militar. (SANTA CATARINA, 1989). Pode-se então vislumbrar um clareamento do que se entende por polícia ostensiva, a luz da Constituição Estadual de Santa Catarina.

A constituição do Estado de Santa Catarina nos traz o art. 107 da seguinte forma:

Art. 107. À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras atribuições estabelecidas em Lei:

I – exercer a polícia ostensiva relacionada com: a) a preservação da ordem e da segurança pública; b) o radiopatrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial; c) o patrulhamento rodoviário;

d) a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais; e) a guarda e a fiscalização do trânsito urbano;

f) a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal; g) a proteção do meio ambiente;

h) a garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades públicas, especialmente da área fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural. (SANTA CATARINA, 1989).

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A polícia ostensiva, conforme explicado acima, começa a criar forma, pois nota-se nos incisos alguma de suas atribuições. Em linhas gerais, é a polícia mais atuante na forma visível, e que os cidadãos civis possuem maior contato no dia a dia, nas mais variadas formas, seja no trânsito, no cuidado com o meio ambiente e nos âmbitos rurais e urbanos.

O artigo acima que trata a competência infraconstitucional é o da PMSC, assim, é interessante frisar que termos em comum aparecem no art. 2º do Estatuto da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que é onde aconteceram os fatos motivadores deste trabalho, e reforça a unidade das Polícias Militares de todo país.

Art. 2º - A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, subordinada ao Secretário de Estado de Segurança Pública, é uma instituição permanente, organizada com base na hierarquia e na disciplina, destinada à manutenção da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro, sendo considerada Força Auxiliar, reserva do Exército.

No que se refere a sua ostensividade de acordo com Nassaro e Lima (2011, p. 17):

No Brasil, trata-se do cerne da atividade das instituições policiais-militares que, por sua presença ostensiva, em postura neutral (também chamada reativa, em posicionamento territorial estratégico), ou em postura pró-ativa (também chamada propositiva, em intervenções igualmente estratégicas), previnem a incidência de práticas anti-sociais. De fato, esses órgãos estaduais, por definição da Constituição Federal, no parágrafo 5º do seu art. 144, são os responsáveis pelo exercício da polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. Esse é o locus da atividade policial-militar.

Conforme verificado, infraconstitucionalmente é mais cristalina a visão de polícia ostensiva. Disse o autor acima que é o cerne do policiamento militar, logo, sua competência ostensiva é algo que está intrínseco a ela, a qual não poderá jamais ser retirado, caso isso aconteça, desaparecerá sua essência, que tornará invisível sua atuação no meio da sociedade, e não mais coibirá crimes e condutas semelhantes.

Pelo exposto, necessário se faz conceituar a polícia ostensiva, para isso, Nassaro e Lima (2011, p. 52) nos dizem que:

Para exercício da competência constitucional de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, as polícias militares dos estados realizam o chamado policiamento ostensivo, que se compõe de ações próprias que privilegiam a visibilidade e a fiscalização de polícia, em cujo empego o policial militar é identificado prontamente pela farda (uniforme), quer pelo equipamento, armamento, viatura ou fachada de imóveis (base e postos policiais). Trata-se de modo legítimo de exercer o poder de polícia, imanente dessas organizações na esfera de segurança pública. Nessa oportunidade

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em que o Estado é representado ostensivamente pelo agente policial, se necessário, ocorrerá restrição de direitos individuais em nível suficiente para a garantia do bem coletivo.

Essa visibilidade por meio de ostensividade é exercida também pelas unidades territoriais, objetivando atender as necessidades básicas de segurança pública inerentes a comunidade e aos seus cidadãos. (NASSARO, LIMA, 2011).

Na estrutura policial militar, essas unidades se dividem da seguinte forma: Um Tenente Coronel PM, comandante de um batalhão; Capitães PM, comandando suas companhias; Tenentes PM, comandando seus pelotões. (NASSARO, LIMA, 2011).

Nessa toada, os Majores PM, segundo Lassaro e Lima (2011, p. 53), “exercem funções de subcomando e de coordenadores operacionais de batalhão, em nível de supervisão dos gestores capitães.”

Baseada nessa organização para expor a ostensividade, a Polícia Militar pratica as ações coordenadas, chamadas também de operação policial, e para que elas tenham sucesso, é necessário um esforço em unidade de comando, exercida pela liderança, por meio de tática integrada para cobrir o território pretendido com o efetivo policial disponível. (NASSARO, LIMA, 2011).

Para melhor compreensão, Nassaro e Lima (2011, p. 54) nos dizem que:

Apesar de cada fração especializada também possuir área de circunscrição própria (e por vezes até mais ampla que a do batalhão territorial local), não há outra forma de concentrar todos esses recursos humanos e logísticos se não pela liderança do gestor de segurança pública do batalhão territorial responsável pelo policiamento ostensivo geral. Essas operações coordenadas são potencializadas pela radiofrequência única de comunicação, preferencialmente de caraterística digital e inviolável.

Aqui vemos o que anteriormente foi observado no inciso I, alínea “b”, quando trata sobre a radiofrequência por meio do radiopatrulhamento terrestre. A menção de característica digital e inviolável é pela preocupação em relação aos criminosos se anteciparem aos movimentos táticos alinhados pela Polícia Militar, principalmente no que diz respeito ao tráfico de drogas.

Por fim, a Polícia Militar, baseada no art. 107, §1º, I, será “comandada por oficial da ativa do último posto da corporação”. (SC, 1989). Isso traduz-se na figura de um

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Coronel da ativa, na categoria dos Oficiais, sendo, atualmente, o senhor Coronel Dionei Tonet.

Feito todos esses apontamentos e elucidações do que é a Polícia Militar e seus anseios em meio à sociedade, podemos partir para os meios que ela utiliza para manter a ordem pública que é o escalonamento do uso da força.

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3 DO ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA

Nos momentos de situações em que o conflito armado é inevitável para salvar a vida de terceiros ou de si mesmo, a tomada de decisão estará condicionada ao nível de preparo técnico e tático deste agente da segurança pública. (CORDEIRO, 2009). Por isso, é importante o constante treinamento dos que vão utilizar o escalonamento do uso da força e da sua competência em executá-la, e que possui uma gama extensa de instruções que evoluíram com o passar dos anos.

Neste capítulo, poderemos observar os principais pontos para elucidação do tema, passando pelas normas internacionais que balizam o escalonamento do uso da força, tomando como base o tiro de comprometimento. Também alguns princípios norteadores de possíveis conflitos que possam surgir após uma atuação da Polícia Militar no uso da força letal e separação de cada um dos níveis do escalonamento.

Para melhor observação serão apontados, ao fim, alguns modelos que facilitam a compreensão, mostrando quais as condutas do policial em face de condutas criminosas. Mas antes, necessário se faz conceituar o escalonamento do uso da força.

3.1 CONCEITO

Faz-se necessário falar de alguns conceitos básicos no âmbito deste tema. O primeiro deles diz respeito à força, conceituada por Cunha e Cassimiro (2011, p. 15) como “toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou grupos de indivíduos, reduzindo ou eliminando sua capacidade de autodecisão.”

O segundo diz respeito ao nível do uso da força que “é entendido desde a simples presença policial em uma intervenção até a utilização da arma de fogo, em seu uso extremo (uso letal)”. (CUNHA, CASSIMIRO, 2011, p. 15).

De acordo com Cunha e Cassimiro (2011, p.15), o terceiro que se faz importante é o uso progressivo da força, conceituado como a “seleção adequada de opções de força pelo policial, em resposta ao nível de submissão do indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado.”

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Durante toda a formação policial, é investido no aluno policial uma grande fração de treinamento com a finalidade de lhe outorgar autoridade e poder, para ao fim, ter capacidade de aplicar corretamente a lei (CUNHA, CASSIMIRO, 2011). Dessa maneira, pode-se extrair que:

Tamanha é esta autoridade e poder, que o policial, em nome de uma vida e no desempenho de suas atividades, pode até retirar a vida de outro cidadão. Vale lembrar que o uso da força é tão importante que pode ser utilizado como medidor de desenvolvimento social. (CUNHA, CASIMIRO, 2011, p. 16). O Estado, por meio da Polícia Militar, utiliza-se de atirador especializado para desempenhar esse papel. Chamam-se snipers, que durante toda a história, desde a criação do que entendemos por arma de fogo, eles têm tomado espaço na mídia na medida em que se fazem necessários em meio à sociedade, homens que no anonimato executam um serviço tão criticado e eivado de polêmicas. E assim "Compete ao Estado, por meio de seus agentes, a proteção e a efetivação do direito à vida e à integridade dos indivíduos". (FIGUEIRA, 2015, p. 3).

Conforme explicado acima, chegamos ao denominado triângulo do tiro ou triângulo da força letal, que se baseia em três critérios, conforme a imagem abaixo.

Imagem 2 – Triângulo de Tiro

Fonte: Apostila de instrução do uso seletivo da força na PMGO (2011).

Esses critérios de avaliação são feitos pelo operador da Segurança pública, o sniper, quando a crise está se instalando, logo, ele deverá avaliar cuidadosamente cada um desses lados do triângulo. Como mencionado no início do capítulo, este é um modelo de tomada de decisão, que possui três lados (CUNHA, CASSIMIRO, 2011).

O primeiro critério a ser avaliado é o da habilidade, a qual diz respeito à capacidade do suspeito em causar dano ao Policial ou a terceiro, está ligada ao porte

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físico, se está portando arma de fogo, faca, ou tem habilidade em alguma arte marcial, gerando a possibilidade de causar a morte ou alguma lesão grave. (CUNHA, CASSIMIRO, 2011).

O segundo critério é a oportunidade, que “é a impossibilidade de realizar o tiro – mesmo tendo habilidade, devido à falta de alcance da agressão.” (SANDES, 2013, p. 22). Ela pode ser entendida “como: distância, local, distração etc. Ex.: pessoa com uma faca a 20 metros – possui a habilidade, mas a essa distância não há a oportunidade adequada para o intento de ferir.”

O terceiro critério, risco ou perigo, para Cunha e Cassimiro (2011) “ocorre quando o suspeito, de posse de suas habilidades e oportunidades, coloca o policial ou outras pessoas em condições de perigo físico. Ex.: suspeito armado, negando-se a soltá-la.” Notamos que os três estão intimamente ligados, sendo o terceiro a junção dos dois primeiros.

Por todo o exposto, pode-se entender a importância de existir esse escalonamento do uso da força, que se traduz em não permitir abusos ou exagero pelos Policiais Militares no uso de suas atribuições. Serve para que tenham subterfúgio, para saberem como agir nas mais variadas situações. O escalonamento do uso da força também é reconhecido internacionalmente, e para isso existem algumas normas, as quais serão expostas a seguir, junto com o tiro de comprometimento.

3.2 O TIRO DE COMPROMETIMENTO E AS NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE O ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA

Aqui, como bem assegura Silva (2011), faz-se importante frisar no chamado tiro de comprometimento que é uma técnica usada pela polícia na seara da segurança pública. Essa técnica baseia-se no disparo de arma de fogo específica, em uma região do corpo humano previamente ajustada, utilizada por um profissional qualificado e treinado exaustivamente para esses eventos de crise. Importante sempre lembrar que tais ações são adequadas e com fundamentações legais.

Conforme explicado acima, o tiro de comprometimento é um meio letal da atuação militar em momentos de crise. Momento de crise é aquele em que o causador

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toma um ou mais reféns e coloca a vida deles em risco, mediante ameaças e intimidações. Nessas situações a negociação e a conversa vêm primeiro, e na pior das hipóteses, sob o estrito cumprimento do dever legal, do art. 23, inciso III, do Código Penal, o criminoso é abatido. Não menos importante, o mesmo artigo da lei nos aponta a legítima defesa, que é conceituada mais à frente no art. 25, a qual aplica-se esta outra excludente de ilicitude na preaplica-servação da vida de terceiros.

Existe consideráveis divergências na doutrina sobre esse instituto, se ele se adequaria na legítima defesa e/ou no estrito cumprimento do dever legal (ROCHA, 2018). Pode-se afirmar, segundo Rocha (2018), Capitão da Polícia Militar do Estado de Goiás, que “se existir uma norma que legitima a conduta e atuação do sniper, teremos a utilização do instituto do estrito cumprimento do dever legal no gerenciamento de crises.”

Dessa forma, temos algumas normas internacionais balizadoras do uso progressivo da força, sejam elas o Código de conduta para Encarregados de Aplicação da Lei – CCEAL e os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Arma de Fogo – PBUFAF. (CUNHA, CASSIMIRO, 2011).

O Primeiro – CCEAL – criado pela Assembleia das Nações Unidas, não possuindo força de tratado, visa apenas à criação de padrões que os aplicadores da lei vão seguir no policiamento, ética e legalmente. (CUNHA, CASSIMIRO, 2011).

O Segundo – PBUFAF – conforme Cunha e Cassimiro (2011, p. 16), “também não tem força de tratado, tem por objetivo nortear os Estados membros, a assegurar e promover o papel adequado dos policiais.”

Definitivamente, o interesse desses dois instrumentos internacionais é que os Estados equipem seus policiais de forma adequada, com variados tipos de armamentos tanto letais como não letais, permitindo a eles diferentes tipos de opções para utilização e escalonamento da força. (CUNHA, CASSIMIRO, 2011).

De acordo com Pegoraro (2008) "[...] o tiro de comprometimento, por ser uma atitude de risco extremo e sem possibilidade de conserto posterior, deve ser utilizado cercado das maiores cautelas possíveis". O autor, Juiz de Direito no Paraná, deixa

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claro que pode ser uma decisão sem volta, dando aí a importância de avaliar se o caso/crise merece essa forma de solução.

Conforme mencionado pelo autor acima, o tiro de comprometimento possui justificativa no grau máximo do escalonamento do uso da força, e é a alternativa mais gravosa de se repelir ameaça. Portanto, foram criados modelos que ilustram melhor o tema tratado, facilitando o entendimento aqui pretendido no desenrolar deste assunto.

Sobre o que se está discorrendo aqui, observa-se o que fora dito por Special Weapon and Tatics (SWAT, apud FIGUEIRA, 2015, p. 10), dos Estados Unidos:

assim como no Brasil, os atiradores de elite são a terceira opção na resolução de uma crise. São policiais estrategicamente posicionados com armas de longo alcance, a comando do gerente da crise e prontos para realizarem o tiro de comprometimento, disparo letal em determinada região do corpo do perpetrador que o neutralizará.

Assim temos que o tiro de comprometimento possui legalidade de atuação quando atendido todos os requisitos, sem êxito na negociação ou uso de meios não letais. Em algumas vezes o atirador, mesmo autorizado, hesita em efetuar o disparo letal, e logo após o refém vem a óbito. Assim, surge a questão se esses acontecimentos geram responsabilidade jurídica para o atirador, que deixou de agir quando poderia e devia ter agido.

O exposto acima se baseia no art. 13 do Código Penal, o qual diz que o resultado para que exista o crime “somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (BRASIL, 1940).

Também se relaciona à abordagem do trabalho, o que encontramos mais à frente no §2º do art. 13 e alínea “a”, que trata do atirador como quem tem obrigação de cuidado, proteção e vigilância, nesse caso, e torna-se relevante quando o emitente deveria e poderia ter agido para evitar o resultado danoso da crise.

Perfeitamente nos mostra Greco (2014, apud, FIGUEIRA, 2015. p. 12), quando diz o seguinte:

As situações nas quais surge este tipo de dever são as elencadas em lei, fazendo nascer a posição de garantidor, apesar de não exigir que o resultado

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danoso seja evitado a qualquer custo. Deve o garantidor realizar tudo que se encontre ao seu alcance para evitar o resultado lesivo. Se não conseguir, mesmo tendo esgotado tudo que estava a seu alcance, não será responsabilizado.

Temos que o sniper possui a faculdade de não executar o tiro de comprometimento. Isso se dá pelo fato de ele ser exaustivamente treinado e talvez não ter todas as condições para neutralizar o criminoso, pode ser por questões climáticas ou até mesmo por falta de uma visão clara do alvo.

Nessa situação, o atirador não comete crime de desobediência previsto no Código Penal no art. 330, pois pautado nas circunstâncias dita acima, ele não desobedece, porque é autorizado, e não ordenado que efetue o disparo. Qualquer erro que cometa irá refletir na instituição da Polícia Militar, degradando sua imagem, e o contrário, em agindo com cautela, reforça ainda mais a estima e respeito perante a sociedade, pela expertise empregada por profissionais altamente qualificados.

A aplicação desse meio chamado tiro de comprometimento se amolda no grau máximo do escalonamento do uso da força, que é o letal. Nasce, então, a necessidade de observarmos os princípios que o norteiam juridicamente.

3.3 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA

Em oportuno momento remete-se ao princípio da proporcionalidade, invocado quando temos um conflito entre um direito fundamental do ser humano, qual seja, o direito à vida, expresso pela nossa Carta Magna no seu art. 5º e uma ação da Polícia Militar. Pires (2006, p. 108) diz que “eventuais conflitos em que estão envolvidos são sempre resolvidos por meio da ponderação, utilizando-se a Regra da Proporcionalidade.”

Aliado à proporcionalidade, tem a necessidade dita por Barros Júnior (2012, p. 34), que “deve ocorrer quando outros meios forem ineficazes para atingir o objetivo desejado”. Após, o uso da força deve ser igualmente proporcional à ameaça, observando o que o policial pode fazer que está ao seu alcance. Deve ficar claro que a finalidade dessas ações não é ferir ou matar, mas sim cessar e neutralizar a injusta agressão. (BARROS JÚNIOR, 2012).

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Assim surge a indagação de quantos disparos seriam proporcionais em uma ação policial, a realidade é que não existe um número fixo. Segundo Barros Júnior (2012, p. 33) “a regra é quantos forem necessários para controlar o infrator ou cessar a injusta agressão.

Infelizmente, em alguns casos, o único meio de cessar a agressão é o óbito do criminoso, em alguns casos de alteração de comportamento ou de embriaguez, o indivíduo não tem seus movimentos neutralizados com apenas um tiro, dependendo do porte físico, ele só cai após efetivamente ser ferido mortalmente por diversos disparos.

Logo, a ação não é desproporcional se os disparos forem feitos sob controle e sem situação de anormalidade mental, que possa incapacitar o raciocínio do agente, por exemplo, o medo ou desespero, pois ele agirá perfeitamente como aprendeu nos treinamentos.

Bem entendida por Ximenes (2014, p. 25), a proporcionalidade é indicada como

uma técnica de resolução de conflitos entre princípios, especialmente direitos fundamentais, e decorre da exigência de que os órgãos decisores, principalmente o Poder Judiciário, atuem de modo racional e justificado na restrição ou promoção dos direitos. Dessa forma, ela seria um imperativo do próprio Estado Democrático de Direito, que exige que o Poder Público atue de forma pautada pela lei motivando seus atos e atuando apenas quando é necessário, de maneira proporcional.

No Brasil, esse princípio não era tão destacado como é atualmente. Ele não está explícito na nossa Constituição de 1988 (XIMENES, 2014). Logo, sua aplicação não está presa no direito administrativo, como vemos na maior parte da doutrina. Como bem explica Mazza (2018), “a aplicação do princípio da proporcionalidade não se restringe ao Direito Administrativo. Seu alcance atinge diversos ramos do Direito Público, sempre com o objetivo específico de estabelecer limites aos comportamentos estatais.”

Ainda nessa linha de pensamento, na atualidade podemos observar, nas mais variadas decisões de diferentes casos, o uso da proporcionalidade e suas

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características e elementos (MAZZA, 2018). Portanto, separam-se alguns elementos da proporcionalidade julgados importantes para sua aplicação.

Os elementos ditos acima são:

a) adequação ou idoneidade: aptidão da medida estatal para atingir os fins pretendidos; b) necessidade ou exigibilidade: inexistência de outro meio menos gravoso para atender ao mesmo resultado; c) proporcionalidade stricto sensu: ponderação entre a intensidade da medida empregada e os fundamentos jurídicos que lhe servem de justificativa (MAZZA, 2018).

Seguidamente nos deparamos com duas proibições elencadas por Mazza (2018), com fulcro no Habeas Corpus 104.410 da 2º Turma d STJ, essas proibições também fazem parte dos elementos da proporcionalidade.

A primeira é a proibição do excesso em que a “proteção dos cidadãos contra abusos por parte do Estado na limitação de garantias fundamentais, estabelecendo uma “proteção vertical” em favor do particular.” (MAZZA, 2018).

A segunda é a proibição de proteção insuficiente/deficiente que “impõe ao Estado o dever de criar leis e promover políticas de promoção efetiva da segurança pública, implementando uma verdadeira “proteção horizontal” na relação particular-particular.” (MAZZA, 2018).

Ainda temos o objetivo legítimo e o meio legítimo. O objetivo legítimo é que “qualquer atuação estatal restritiva de direitos fundamentais deve estar justificada por um objetivo legítimo (juridicamente admissível)” (MAZZA, 2018).

O meio legítimo, segundo apregoa Mazza (2018), diz o seguinte

A providência estatal (instituto) utilizada precisa ser avaliada à luz da ordem jurídica para aferição da proporcionalidade. Assim, por exemplo, seria meio ilegítimo o emprego da pena de morte para atingir o objetivo (legítimo) de reduzir os custos da execução penal, nos países cujo ordenamento proíbe a pena capital.

Baseado em todos esses elementos, o Estado se amarra a uma responsabilidade pela má atuação de seus agentes, elencada no art. 37, §6º da

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Constituição Federal, em que “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa” (MAZZA, 2018).

Quando o agente público trabalha em desconformidade com a proporcionalidade e causa dano ao administrado, seja em omissão ou exagero, caberá a responsabilização do Estado.

Mazza (2018) induz que “a responsabilidade do Estado por condutas comissivas é objetiva, não dependendo da comprovação de culpa ou dolo. Já nos danos por omissão, o dever de indenizar condiciona-se à demonstração de culpa ou dolo, submetendo-se à teoria subjetiva.”

Superada a responsabilidade do Estado e os elementos da proporcionalidade, forçoso é ponderar sobre a razoabilidade em face da proporcionalidade, pois há lacuna nesta questão, a qual será adiante dirimida.

O atual ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto Barroso, em sua obra datada de 1999, ano em que era Procurador do Estado e professor de Direito Constitucional, elucida que

o princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade sempre teve seu campo de incidência mais tradicional no âmbito da atuação do poder executivo. Estudado precipuamente na área do direito administrativo, ele funcionava como medida da legitimidade do exercício do poder de polícia e da interferência dos entes públicos na vida privada (BARROSO, 1999, p. 158). Dessa forma, extrai-se que a razoabilidade e proporcionalidade são tratadas como o mesmo instituto por Luiz Roberto Barroso, como sinônimos, justificando que isso se deve à origem de cada uma, sendo que possuem o mesmo sentido. (KHAMIS, 2013). Também separa que para aplicar a proporcionalidade tem de se entender o que são regras e princípios.

A razoabilidade possui sua origem no direito anglo-saxão, segundo Khamis (2013, p.14), “remontando à cláusula law of the land inscrita na Magna Charta Libertatum. Contudo, é nos Estados Unidos da América que a razoabilidade surge

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como um princípio constitucional que serve como parâmetro para o controle de constitucionalidade”.

Já a proporcionalidade emerge na “Europa Continental, mais especificamente na Alemanha, onde encontra seu fundamento jurídico-constitucional no princípio do Estado de direito. Inicialmente, o referido princípio desenvolveu-se no âmbito do direito administrativo, como limitador da discricionariedade administrativa.” (KHAMIS, 2013, p.14).

Norteado pelo entendimento de Luiz Roberto Barroso, ambos os princípios emergem do mesmo conteúdo jurídico (KHAMIS, 2013). Dessa forma, Barroso apregoa que “a doutrina e a jurisprudência, na Europa continental como no Brasil, costumam fazer referência, igualmente, ao princípio da proporcionalidade, conceito que, em linhas gerais, mantém uma relação de fungibilidade com o princípio da razoabilidade.” (BARROSO, 1999, p. 155).

Em sendo assim, para toda forma adotaremos que no decorrer deste trabalho ambos serão empregados sem diferenciação, salvo quando assinalado.

Aponta Barroso (2003, apud KHAMIS, 2013, p. 13) que “regras são proposições normativas aplicáveis sob a forma de tudo ou nada (all or nothing). E se os fatos nela previstos ocorrerem, a regra deve incidir, de modo direto e automático, produzindo seus efeitos.”

Em relação aos princípios pontua que:

Princípios contêm, normalmente, uma maior carga valorativa, um fundamento ético, uma decisão política relevante, e indicam determinada direção a seguir. (...) A colisão de princípios, portanto, não só é possível, como faz parte da lógica do sistema, que é dialético. Por isso, a sua incidência não pode ser posta em termos de tudo ou nada, de validade ou invalidade. Deve-se reconhecer aos princípios uma dimensão de peso ou importância (BARROSO, 2003, apud KHAMIS, 2013, p. 13).

Pelo exposto, restou cristalina a natureza jurídica da proporcionalidade como sendo um princípio jurídico, atribuindo a ele a mesma força que os demais princípios aparentes na Lei, seja na legislação infraconstitucional e constitucional. Entendida a

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natureza e aplicação da proporcionalidade partimos aos níveis do escalonamento do uso da força, a qual é empregada.

3.4 NÍVEIS DO ESCALONAMENTO DO USO DA FORÇA

O escalonamento do uso da força possui, em regra, seis níveis, sendo eles a presença física, a verbalização, o controle de contato ou controle de mãos livres, a técnica de submissão (controle físico), as táticas defensivas não letais e a força letal que vem a seguir. (JÚNIOR BARROS, 2012).

3.4.1 Nível 1

Aqui temos o nível mais brando do escalonamento do uso da força, o nível 1 (um), que diz respeito à presença física. Barros Júnior (2012, p. 22) nos fala que

A mera presença física do policial uniformizado, muitas vezes, será o bastante para conter um crime ou ainda para prevenir um futuro crime em algumas situações. Sem dizer uma palavra, um policial alerta pode deter um criminoso passivo, usando apenas gestos. Pois a presença policial é entendida legitimamente como a presença da autoridade do Estado.

O policial não precisa exercer força nesse nível, apenas estar presente para transmitir sensação de segurança à população e insegurança aos criminosos e contraventores em cometer qualquer ilícito por ter uma resposta rápida pela presença Policial Militar.

3.4.2 Nível 2

O nível 2 (dois) que diz respeito à verbalização “baseia-se na ampla variedade de habilidades de comunicação por parte do policial, capitalizando a aceitação geral que a população tem da autoridade”. (BARROS JÚNIOR, 2012, p. 23). Isso se relaciona com os comandos que o Policial Militar efetua, em momento de abordagem de suspeitos, por exemplo.

3.4.3 Nível 3

O nível 3 (três) é o controle de contato ou controle de mãos livres, compreendido por Barros Júnior (2012, p. 23) como sendo

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O emprego de táticas por parte do policial para assegurar o controle e ganhar cooperação. Em certas situações haverá a necessidade de dominar o suspeito fisicamente. Nesse nível, os policiais utilizam técnicas de mão livre para imobilizar o suspeito. Compreende-se em técnicas de condução e imobilização, inclusive através de algemas.

Nesse nível, o policial faz uso de força moderada baseada em seus conhecimentos de arte marcial, que aprende no curso de formação e aperfeiçoa com o passar dos anos, vemos que é um mero movimento para que possa conduzir o suspeito.

3.4.4 Nível 4

O nível 4 (quatro) são as técnicas de submissão (controle físico), que se baseia em o policial usar moderadamente sua força física para superar a resistência ativa do indivíduo, sem se dispersar quanto a um comportamento mais agressivo do que resiste (BARROS JÚNIOR, 2012). Assim, esse se faz necessário quando o indivíduo se mostra mais alterado, geralmente, por estar sob efeito de drogas ou bebida alcoólica.

3.4.5 Nível 5

O nível 5 (cinco) se remete às táticas defensivas não letais, que se mostram quando

Ao se deparar com atitudes agressivas, ao policial é justificado tomar medidas apropriadas para deter imediatamente a ação agressiva. É o uso de todos os métodos não letais, como por exemplo: gases, munições de borracha, bastão policial, arma elétrica incapacitante etc. (BARROS JÚNIOR, 2012, p. 23). Esses meios não letais são efetivos por meio de instrumentos, que o autor elencou acima, os quais deixam lesões no indivíduo, por exigir uma energia gravosa, mas não o suficiente para colocar a vida em risco.

3.4.6 Nível 6

O Nível 6 (seis) faz jus ao grau máximo do escalonamento, fruto do interesse desse trabalho, que é a força letal. Esse grau é utilizado quando todos os anteriores se mostram ineficazes ou já foram utilizados no caso concreto, assim o policial deverá

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