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AntecedentesdaRevoluçãoRussa

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Academic year: 2021

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Universidade Autónoma de Lisboa

Luís de Camões

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS II

ANTECEDENTES DA REVOLUÇÃO RUSSA

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1. INTRODUÇÃO

As causas da Revolução Russa estão profundamente inscritas na história Russa. Durante séculos, a autocracia e os repressivos regimes czaristas governaram o país enquanto a maior parte da população vivia debaixo de muito fracas condições sociais e económicas. Durante o séc. XIX e inícios do séc. XX muitos foram os movimentos que lutaram contra o regime opressor, diferenciando-se pelos diferentes actores, como estudantes, população civil e membros da nobreza. Dois destes movimentos mal sucedidos foram a revolta contra Nicolau I, em 1825, e a Revolução de 1905. Nestas duas tentativas tentou-se estabelecer uma monarquia constitucional.

A participação muito mal sucedida da Rússia na I Guerra Mundial, mercê não só duma má organização, como da falta de cuidado posta no envio das tropas e do respectivo apoio logístico, constituíram-se como mais uns factores para o descontentamento popular contra a corrupção do governo e da sua ineficiência.

Em 1917 todos estes eventos resultaram na queda do regime czarista e no estabelecimento do Partido Bolchevique, uma facção radical do Partido Social Democrata.

Analisemos sinteticamente este período.

2. A RÚSSIA A MONTANTE DA REVOLUÇÃO

No início do séc. XX a Rússia era um império com um sistema político caracterizado por ter um monarca com um poder absoluto, o Czar, o qual governava com «mão de ferro». Uma enorme burocracia, um exército leal ao Czar, uma polícia política repressiva omnipresente em cada cidade, desenvolvia-se no sentido da repressão de todas as liberdades civis, da liberdade intelectual e dos direitos humanos em geral. Todas as religiões minoritárias, fora da Igreja Ortodoxa Russa eram perseguidas. O regime expandia-se para os países vizinhos, subjugando-os.

A família real encontrava-se no topo dum pequeno número de nobres, mas altamente detentores de quase todas as terras. Esta nobreza vivia numa enorme luxúria, às custas da maioria dos cidadãos, os quais eram na maioria pobres cidadãos, os quais constituíam quase 80 % da população. Outras classes sociais existiam, como sejam os capitalistas, os trabalhadores e os profissionais. O regime czarista incrementou o desenvolvimento industrial, criando desta forma os detentores das indústrias, os investidores nos negócios e que desempenhavam um importante papel, os capitalistas. Com o desenvolvimento industrial criou-se uma nova classe social, dos trabalhadores operários, mais comummente conhecidos como proletariado. Esta classe organizou-se em uniões de trabalhadores, visando lutar por melhores condições de trabalho, as respectivas condições e modos de vida. Como as reivindicações destes grupos foram reprimidas, uma combinação dos vários factores, como a repressão e as más condições de vida levaram a que alguns

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trabalhadores elevassem a sua liderança de contestação política e passassem a integrar organizações revolucionárias.

Os ideais do Iluminismo relativos à democracia, igualdade e direitos humanos influenciaram no séc. XIX um novo movimento revolucionário.

Outro aspecto de realce foi o populismo, uma nova filosofia política, onde se advogava a necessidade de introduzir profundas alterações sociais que beneficiassem as grandes massas populacionais, e em especial, os populares. Outra facção seguia os ideais anarquistas, através do qual se opunham a todas as formas de governação. Os ideais socialistas, contudo, cresciam e influenciavam cada vez a população. Em 1901 formou-se o Revolucionários Socialistas, os quais entendiam que se devia criar uma nova economia baseada nas comunas de populares.

Um dos casos mais importantes historicamente consubstanciou-se com os seguidores da filosofia política de Karl Marx, os quais acreditavam que as classes trabalhadoras, com as suas lutas de organização de uniões comerciais, se tornariam a força primária para uma mudança revolucionária. Em 1903 o Partido Russo Trabalhador Social Democrata (PRTSD) dividiu-se em 2 pólos, os Bolcheviques (que quer dizer «maioritários»), liderados por Vladimir Ilich Lenin, e os Mencheviques (que significa «minoritários»).

Em 1905, em São Petersburgo, a então capital da Rússia, as tropas do Czar dispararam contra uma manifestação pacífica de trabalhadores e das suas famílias, um massacre que causou um efervescer da luta radical contra o poder instituído. As lutas, as insurgências começaram a dar-se por todo o lado, ganhando todos os partidos revolucionários, repentinamente, um novo fôlego de massas. O regime Czarista viu-se assim obrigado a aumentar as liberdades civis e a criar um corpo legislativo, com poderes limitados, chamado de «Duma». Neste momento estabeleceram-se os primeiros sovietes, também conhecidos como concelhos democráticos, em São Petersburgo, Moscovo e outras cidades.

Através do PRSTD muitos Mencheviques e Bolcheviques julgaram que a revolução estava nas suas mãos. Lenine imaginou ter uma revolução ininterrupta, com uma ditadura democrática do proletariado e da população, abolindo-se radicalmente o regime Czarista e abrindo-se o caminho para a democracia e a modernização. A teoria defendida por Leon Trotski, Presidente dos Sovietes de São Petersburgo, lançou uma teoria de revolução permanente, em que a revolução democrática somente poderia vencer se os trabalhadores tomassem o poder político nas suas mãos, recendo para tal o suporte da população, começando o governo da classe trabalhadora a transição para o socialismo. Mas no final de 1905 o regime Czarista retomou as rédeas da governação através de acros de violência dos militares e dos paramilitares, prendendo-se populares, minorias étnicas não Russas, organizações de trabalhadores, em especial os sovietes organizados em São Petersburgo e

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Moscovo, exilando milhares de activista revolucionários. Todavia, as sementes para novos desenvolvimentos na Rússia estavam lançadas.

Em 1912 os Bolcheviques e os Mencheviques construíram os seus próprios partidos revolucionários, coincidindo com um momento de maior desenvolvimento industrial e a radicalização da classe trabalhadora, aumentando o Bolcheviques a sua influência, enormemente nos centros industriais até ao deflagrar da I Guerra Mundial.

3.

A I GUERRA MUNDIAL − INFLUÊNCIA NA REVOLUÇÃO

Na Rússia, como em todo o lado, o entusiasmo no envolvimento na guerra levava a grandes movimentações de massas, e os que não concordavam com a mesma eram considerados traidores e sujeitos a actos de supressão… Nesta altura, apenas os Bolcheviques seguidores de Lenine eram os maiores opositores à guerra, tendo sido socialmente isolados e alvo duma intensa actividade de repressão.

A indústria russa não possuía capacidade de armar, equipar e fornecer apoio logístico a todo o seu efectivo militar envolvido nas operações de guerra. Cerca de 15 milhões de homens estavam directamente envolvidos pela Rússia na guerra. As fábricas eram poucas e ineficazes e insuficientes na sua capacidade de produção. Por outro lado, a rede de caminhos-de-ferro era completamente inadequada. As mobilizações de pessoal, em massa, efectuadas repetidamente, desorganizaram completamente a produção industrial e agrícola, começando a faltar os víveres, e a organização dos sistemas de transportes. Nas trincheiras, os soldados passavam fome, muitas das vezes não tinham fardamento, como sapatos, e falta-lhes munições e armas. As baixas russas eram maiores do que todas as que tinham ocorrido em todas as anteriores guerras. A vida na Rússia tornou-se um flagelo económico e financeiro, onde a falta de todos os bens, o aumento dos preços e a fome começaram a imperar. A Imperatriz Alexandra foi considerada como a culpada deste flagelo, e o monge Gregory Rasputine considerado como uma má influência.

As cidades russas começaram a ser inundadas com refugiados da frente de combate, o que no meio de todo o caos vigente levou a que a Duma pensasse que em breve a Rússia iria ser confrontada com uma nova crise revolucionária. Em 1915 os partidos liberais formaram um bloco que ganhou progressivamente e Duma. No meio deste descontentamento, a Duma advertiu o Czar Nicolau II, em Novembro de 1916, que um possível desastre se avizinhava, caso certas medidas não fossem instituídas, o que foi tacitamente ignorado. Este ignorar foi mais uma vez um acto de favorecimento a Rasputine e aos seus seguidores. Mais tarde, em Dezembro, um grupo de aristocratas assassinou Rasputine.

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Em Fevereiro de 1917, e nomeadamente com as acções realizadas entre os dias 23 a 25, com imensas greves em São Petersburgo, onde uma das maiores exigências era a de se ter pão, começou a demonstrar-se um real poder popular. Estas greves e demonstrações de força tiveram o apoio de cerca de 90.000 pessoas. Mais tarde, a 2 de Março Nicolau II abdicou em favor do seu irmão o Grão-Duque Aleksandrovich e formou-se um Governo Provisório. A saída da Rússia na participação na guerra foi negada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros Milyukov, devido à celebração de acordos secretos que levariam à anexação de Constantinopla e de outros territórios após o fim da guerra. Os 8 meses que se seguiram foram de confronto permanente entre o Governo Provisório e o Soviete de São Petersburgo (à altura, Petrogrado).

Uma carta enviada a 18 de Abril por Milyukov aos governos aliados garantindo a continuação da participação da Rússia na guerra, no intuito de garantir as indemnizações de guerra e a anexação de outros territórios, levou a uma manifestação armada de trabalhadores e militares na capital, com a consequente instauração de crise política e a resignação de alguns políticos, e o aumento do poder e influência do Partido Bolchevique.

Em Julho, e já com Kerensky como Primeiro-Ministro, mais actos de reacção política a manifestações foram tomadas, com a saída de Lenine para um refúgio na Finlândia.

O governo de Kerensky continuou a manter o status quo vigente, mantendo-se a deterioração da situação económica, e com as detenções continuadas em todo o lado, a influência dos bolcheviques começou de novo a aumentar.

Em Outubro de 1917 deu-se a Revolução Russa, e a 3 de Março de 1918, o novo governo da Rússia, controlado pelos Bolcheviques, colocou um término ao envolvimento na I Guerra Mundial, através da assinatura do Tratado de Brest-Litiovsk.

4. CONCLUSÃO

A I Guerra Mundial afectou em maior ou menor grau todos os países do Mundo, mas nenhum sofreu tanto como a Rússia. As consequências do conflito bélico não só alteraram o precário equilíbrio social, político e económico no império dos czares, como deu lugar a uma alteração sem precedentes na história contemporânea. Estas transformações só foram comparáveis com o sucedido em França desde 1789.

No plano internacional a Revolução Russa incitou vários movimentos noutros sectores sociais e políticos, os quais e em consequência da I Guerra Mundial tentaram iniciar autênticas revoluções.

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Bibliografia

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Referências

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