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Problemas psicológicos no serviço público brasileiro: causas, consequências e possíveis soluções

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Academic year: 2021

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TIAGO BATISTA CARVALHO

PROBLEMAS PSICOLÓGICOS NO SERVIÇO PÚBLICO BRASILEIRO: CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Florianópolis-SC 2018

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TIAGO BATISTA CARVALHO

PROBLEMAS PSICOLÓGICOS NO SERVIÇO PÚBLICO BRASILEIRO: CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho

Orientadora: Prof. Ana Paula Karkotli

Florianópolis-SC 2018

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TIAGO BATISTA CARVALHO

PROBLEMAS PSICOLÓGICOS NO SERVIÇO PÚBLICO BRASILEIRO: CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho e aprovada em sua forma final pelo Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 27 de setembro de 2018.

______________________________________________________ Orientadora: Prof. Ana Paula Karkotli.

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Dedico essa monografia à minha família por torcer por mim e sempre me apoiar, da melhor maneira possível, no crescimento profissional.

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AGRADECIMENTOS

Ao corpo docente e à Administração da Universidade do Sul de Santa Catarina por investirem na qualidade dos serviços.

À orientadora Prof. Ana Paula Karkotli por acreditar, estimular e fornecer o devido suporte no trabalho.

Aos meus colegas de trabalho pela contribuição através de informações que foram decisivas no decorrer das atividades.

Aos meus colegas de sala de aula pelo companheirismo, colaboração no astral durante a execução dos trabalhos em todas as disciplinas.

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“Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste” (Sigmund Freud).

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RESUMO

O presente trabalho, ocorrido entre março e agosto de 2018, considera preocupação com a saúde mental do agente público brasileiro e busca informações em uma autarquia federal. Na sequência de atividades são considerados: estudos similares buscando informações sobre histórico do trabalho e da preocupação com a saúde mental, discussão de alguns conceitos como serviço público, agente público, saúde mental, trabalho, assédio moral, síndrome de burnout, Qualidade de Vida no Trabalho por serem termos presentes na pesquisa teórica e também nos resultados; analisa-se o sofrimento psíquico do trabalhador no ambiente de trabalho, incluindo em repartição pública e posteriormente é particularizado o ambiente de trabalho escolhido com seu histórico, finalidades, distribuições internas conforme atual regimento interno.

Após elaboração de questionário é chegado o momento de solicitar que os agentes públicos de todas as divisões da autarquia em estudo se manifestem de forma escrita no material, apontando problemas, informando como procuram sanar as dificuldades descritas valorizando a subjetividade do trabalhador sem traduzir os resultados em números, ou seja, Pesquisa Qualitativa. A coleta de informações ocorreu nas datas de 16 e 17 de julho de 2018. Em seguida são consideradas sugestões de como agir perante as dificuldades apresentadas e provocando que a Qualidade de Vida no Trabalho busque administração participativa, ou seja, discutindo com os trabalhadores. Ainda nessa fase são colocadas publicações oficiais relacionadas a informar, prevenir e tratar quem não está com situação desejada de saúde mental.

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ABSTRACT

This scientific work happened during the year 2018, when it started in march and it finished in august. It worries about public worker considering that the subject is his mental health and it tries to discover information in a national autarchy. In the sequence of activities, considered situations are: similar works trying to discover informations about history of work and concern about mental health, clarification about some concepts like public service, public agent, mental health, work, moral harassment, burnout syndrome, Quality of Life in the Workplace, because these words are important during theoric research and during the analyse of the results; later is required to study the worker´s psychic suffering in his workplace, including public repartition and later the workplace is particularized with its history, purpose, internal distributions based on actual internal regiment.

After elaboration of the scientific questionnaire there is need to ask for the public agents in all the sectors of the autarchy to answer about the questions, citing the problems, writing how they try to solve the described difficulties valuing the worker´s subjectivity without debate about quantity, in other words, this is a Qualitative Research. The information gathering happened in 16th and 17th of July from the year 2018. Suggestions on how to act to face the presented difficulties are considered trying to prove that Quality of Life in the Workplace need to search participatory management, at all times talking to workers. Additional informations about legislations are commented objectifying to inform, how to prevent, how to care the worker who is not in na ideal mental health.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Exemplo de Divulgação de Ranking de Título de Domínio ... 54 Gráfico 2 – Exemplo de Divulgação de Ranking de Contrato de Concessão de Uso ... 55

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Riscos de Saúde Mental no Ambiente de Trabalho ... ...31

Tabela 2 - Funções Vinculadas ao Gabinete...40

Tabela 3 - Funções Vinculadas às Divisões do INCRA ...40

Tabela 4 - Dificuldades do Gabinete...44

Tabela 5 - Funções Vinculadas à Divisão de Administração...46

Tabela 6 - Funções Vinculadas à Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária ...47

Tabela 7 - Funções Vinculadas à Divisão de Obtenção de Terras...49

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 12 1.1 TEMA E DELIMITAÇÃO ... 12 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ... 12 1.3 JUSTIFICATIVA ... 12 1.4 OBJETIVOS ... 13 1.4.1 Objetivo Geral ... 13 1.4.2 Objetivos Específicos... 13 1.5 METODOLOGIA ... 14 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO. ... 14 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 16

2.1 HISTÓRICO DO TRABALHO E DA SAÚDE MENTAL ... 16

2.1.1 Histórico do Trabalho ... 16

2.1.2 Histórico da Saúde Mental ... 18

2.2 CONCEITOS ... 19 2.2.1 Serviço Público ... 20 2.2.2 Agente Público ... 20 2.2.3 Saúde Mental ... 22 2.2.4 Trabalho ... 23 2.2.5 Assédio Moral ... 23 2.2.6 Síndrome de Burnout ... 25

2.2.7 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ... 25

2.3 SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHO ... 27

2.3.1 Sofrimento Psíquico em Ambientes Gerais de Trabalho ... 27

2.3.2 Sofrimento Psíquico no Serviço Público ... 32

2.4 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DE TRABALHO NO INCRA ... 37

2.4.1 Finalidades e Contextualização da Autarquia Federal INCRA... 37

2.4.2 Estruturação do INCRA Conforme Regimento Interno ... 39

3 RESULTADOS E ANÁLISES... 42

3.1 LOCAL DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA ... 42

3.2 MÉTODO DA PESQUISA ... 42

3.3 EXPOSIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO ... 42

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3.3.2 Divisão de Administração ... 45

3.3.3 Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária ... 47

3.3.4 Divisão de Obtenção de Terras ... 48

3.3.5 Divisão de Desenvolvimento ... 50

3.4 OUTROS RESULTADOS COM BASE EM OBSERVAÇÕES E EM PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ... 53

4 SUGESTÕES DE SOLUÇÕES AOS PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL E ATITUDES COMPLEMENTARES ... 56

4.1 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) ... 56

4.2 SUGESTÕES DE MELHORIA À SAÚDE MENTAL CONFORME COLETA DE DADOS ... 56

4.3 ANÁLISES E SUGESTÕES PARA OS PROBLEMAS CONSIDERADOS EM QUESTIONÁRIO ... 58 4.3.1 Ambiente Físico ... 58 4.3.2 Ambiente Químico... 60 4.3.3 Ambiente Biológico ... 61 4.3.4 Mecânicos e Acidentes ... 61 4.3.5 Ergonômicos e Psicossociais ... 62

4.3.6 Dificuldades nas Condições de Segurança – Furto, Roubo ... 64

4.3.7 Dificuldades na Rigidez Normativa ... 64

4.3.8 Afetividade com o Trabalho ... 65

4.3.9 Maneira como o Trabalho Interferiu na Saúde ... 68

4.4 PUBLICAÇÕES OFICIAIS SOBRE SAÚDE MENTAL ... 68

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 71

6 CONCLUSÕES ... 72

REFERÊNCIAS ... 73

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1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA E DELIMITAÇÃO

O tema em questão “Saúde Mental no Ambiente de Trabalho”, delimitando a proposta para as repartições públicas brasileiras como espaço de análise. O serviço público já pôde contar com melhores condições de trabalho, maior quantidade de pessoas, melhor remuneração, já foi mais respeitado pelo público. A queda na qualidade do serviço pode estar interferindo na saúde dos seus agentes, o que pode ser identificado através de situações como desmotivação, estresse, nervosismo, dores na coluna.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

O trabalho em questão busca responder à seguinte pergunta: “por que a saúde mental dos agentes públicos não está em situação desejada”? É preciso analisar a situação atual, no caso de uma autarquia federal, buscar causas e consequências de problemas psicológicos, verificar que atitudes têm sido ou podem ser aplicadas buscando melhorias para a saúde mental dos agentes públicos em análise.

1.3 JUSTIFICATIVA

São comuns nas repartições públicas comentários negativos relacionados às condições de trabalho, seja por envolver equipamentos (obsoletos, insuficientes, mobiliário inadequado), seja em relação à redução do número de servidores ao longo dos anos, comparações com épocas passadas em que servidores eram melhor remunerados, às cobranças (colegas de trabalho, público, chefes, políticos), tudo transmite a ideia de que as atividades se tornaram menos importantes.

Os resultados podem aparecer em forma de estresse, desmotivação, nervosismo, dores na coluna, depressão, uso de drogas lícitas e ilícitas, afastamento do serviço mesmo que de forma temporária, queda no respeito perante ao seu público, entre outras formas.

Conforme Tonini; Kantorski (2007, p. 126-32):

A saúde mental é tão importante quanto a saúde física para o bem-estar dos indivíduos, das famílias, das sociedades e das comunidades; que a saúde mental e a saúde física são dois elementos da vida estreitamente entrelaçados e profundamente interdependentes; que como muitas doenças físicas, os transtornos mentais e

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comportamentais resultam de uma complexa interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Conforme Tittoni; Nardi (2008, p. 73):

A situação de adoecimento não pode ser tomada isoladamente, mas quanto ao seu caráter de descontinuidade na trajetória de vida dos trabalhadores, pois o adoecimento coloca em questão suas práticas cotidianas e seus projetos de vida.

De acordo com Campos (2006, p. 26), a ausência do trabalho e a incapacidade causada por doenças, significam despesas para o Estado, interferindo na Economia do país e para o próprio servidor. Esse custo ocorre também de forma indireta através de substituição do pessoal ou pagamento de hora-extra para os colegas que precisam trabalhar mais tempo compensando as atividades do ausente.

A situação de trabalho influencia a saúde dos trabalhadores. Pressões da repartição por resultados provocam estresse, falha humana, sem contar perdas de horas de trabalho, doenças ocupacionais, absenteísmo. Faltam ações diretivas para garantir benefícios aos trabalhadores permitindo acompanhar os avanços tecnológicos e crescentes pressões por resultados, informa Campos (2006, p. 29).

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Investigar a situação da saúde mental de agentes públicos na atualidade em uma autarquia federal.

1.4.2 Objetivos Específicos

Levantar informações sobre causas e consequências de problemas psicológicos em uma autarquia federal;

Sugerir soluções e comentar sobre atitudes complementares que busquem melhoria na saúde mental do agente público;

Informar a importância da contribuição dos conhecimentos dos agentes públicos na organização do trabalho, evidenciando o impacto na saúde mental.

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1.5 METODOLOGIA

Sobre classificação, trata-se de “Pesquisa Aplicada” do ponto de vista da natureza, por ter aplicação prática em uma autarquia federal e também por buscar solução de determinados problemas específicos relacionados à saúde mental. Sobre a abordagem do problema, o presente estudo corresponde a “Pesquisa Qualitativa” por valorizar a subjetividade do agente público, não levantando quantidades de trabalhadores que se queixam de cada problema considerado na coleta de dados, e sim buscando quais problemas psicológicos, com suas causas e consequências, estão presentes no ambiente em estudo. Do ponto de vista dos objetivos o estudo é uma “Pesquisa Descritiva”, já que de posse de publicações sobre saúde mental, elaborou-se questionário para aplicação no ambiente em estudo, observando também as diferentes situações em todas as divisões da repartição em análise. A respeito dos procedimentos técnicos, tem-se “Pesquisa Participante”, por ocorrer interação entre pesquisador e membros das situações investigadas, seja por fornecer esclarecimentos durante a coleta de dados ou por valorizar as informações colhidas ao propor soluções em etapa seguinte.

Quanto a métodos e a procedimentos de trabalho, o presente estudo dependeu inicialmente de pesquisas, o que ocorreu com devida orientação, na rede mundial de computadores e em biblioteca universitária, visando fundamentação do referencial teórico e posterior elaboração de peça técnica para coleta de informações com os agentes públicos. O questionário produzido foi aplicado em trinta e cinco trabalhadores da repartição atingindo todas as divisões de trabalho, escolhidos por atividades sem discriminação de cargo. Os resultados do presente estudo se basearam na coleta de dados e também nas informações extraídas da página da autarquia na rede mundial de computadores. Após análise das informações coletadas, foram produzidas sugestões de soluções para os problemas apontados. Foram ainda acrescentadas publicações oficiais (portarias, leis, convenções, decretos) visando transmitir e esclarecer informações ao trabalhador sobre saúde mental.

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO.

O presente trabalho considera quatro capítulos distribuídos da seguinte forma: o Capítulo 1 trata de causas e consequências de problemas psicológicos no ambiente e trabalho e posteriormente faz uma caracterização do espaço de trabalho do presente estudo. Ocorreu uma pesquisa histórica do trabalho humano e também histórica da preocupação com a saúde mental

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do trabalhador. São levantados e discutidos conceitos considerados importantes como “Serviço Público”, “Agente Público”, “Saúde Mental”, “Trabalho”, “Assédio Moral”, “Síndrome de burnout”, “Qualidade de Vida no Trabalho”. Foi considerado o sofrimento psíquico dos trabalhadores em geral e depois direcionado ao serviço público. Caracterizou-se a repartição do presente estudo, particularizando o espaço de pesquisa para o Estado de Santa Catarina e informou-se sua estrutura de trabalho com base em Regimento Interno.

O Capítulo 2 trata da exposição dos resultados coletados através de aplicação de questionário, citando-se o local de realização e também método de pesquisa e posteriormente as informações foram organizadas em função de cada divisão do INCRA. Foram considerados também resultados em função de observações e de pesquisa bibliográfica voltada para o serviço público nos aspectos similares ao ambiente em estudo.

O Capítulo 3 considera sugestões de soluções para resultados apontados, considerando a Qualidade de Vida no Trabalho, incluindo cada tópico trabalhado na coleta de dados. Em seguida são consideradas publicações oficiais (portarias, leis, convenções, decretos, normas regulamentadoras) visando informar, prevenir e tratar quem não está com situação desejada de saúde mental.

O Capítulo 4 traz as Considerações Finais onde há sugestões de uma nova pesquisa e após esse capítulo é chegada a hora de concluir. O encerramento ocorre com as Referências Bibliográficas e com o Modelo de Anexo de Questionário utilizado para coleta de informações.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 HISTÓRICO DO TRABALHO E DA SAÚDE MENTAL

2.1.1 Histórico do Trabalho

Nessa primeira parte foi considerada uma sequência visando mostrar as mudanças de comportamento desde a Antiguidade até a fertilização sindical.

Borges; Yamamoto (2004) afirmam que o trabalho é objeto de múltipla e ambígua atribuição de significados ou sentidos. Mesmo nas sociedades antigas as ideias sobre o trabalho eram divergentes e com distintos poderes de influência. A literatura aponta para o trabalho na Antiguidade o pensamento grecoateniense e escravista do Império Romano.

Citam Borges; Yamamoto (2004) que Platão considerava que o cidadão deveria ser poupado do trabalho, enquanto Aristóteles valorizava a atividade política e considerava o trabalho uma atividade inferior que impedia as pessoas de terem virtude. Os cidadãos deveriam evitar profissões mecânicas por limitarem intelectualmente, e atividades de especulação mercantil degradavam eticamente. Essa filosofia clássica via o trabalho como degradante, inferior e desgastante, sendo válido para os escravos. Essa era época de extrema concentração de riquezas, de submissão dos povos conquistados e escravidão legitimada.

Ainda sobre a Antiguidade, para Hopenhayn (2001), na religião o raciocínio era de que os deuses odiavam homens inativos e exaltavam (tomando como sagrado) o trabalho de quem se unisse à terra.

Uma mudança mais visível na reflexão sobre o trabalho ocorreu no surgimento do capitalismo. Para Marx (1983 b), os dois fatos principais que demarcaram o surgimento da produção capitalista foram: a ocupação pelo mesmo capital individual de um grande número de operários, estendendo seu campo de ação e fornecendo produtos em grande quantidade; e a redução significativa das diferenças individuais, passando o capitalista a lidar com o operário médio ou abstrato. Trata-se do surgimento da manufatura que considera um adiantado processo de acúmulo de capital. O resultado desse processo histórico é o dono do capital de um lado e, do outro, os detentores da força de trabalho.

De acordo com Borges; Yamamoto (2004) Adam Smith em suas obras se preocupou com meios para aumentar a produtividade. Considerou o aumento da produtividade através da especialização do trabalhador em uma única tarefa e a justificativa foi a natureza de aptidões individuais. A divisão do trabalho seria uma consequência da propensão da natureza

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humana para permutar, negociar e trocar bens e também das faculdades da razão e da linguagem. Trata-se de uma época em que os governos absolutistas europeus protegiam a burguesia com leis mercantilistas por defender as economias nacionais e também sustentavam o luxo da nobreza com base nos valores da Idade Média.

O protestantismo, segundo Weber (1967), através de formulações ideológicas, interferiu de forma significativa para resolver as contradições do modelo perante às exigências apresentadas ao trabalhador. Para o luteranismo, a realização de um trabalho secular ou missão era um chamado de Deus, então a profissão era um dom divino. Ao mesmo tempo as tendências de protestantismo ascético procuraram complementar esse raciocínio e, ao mesmo tempo, reprovaram as manifestações de comportamento irracional e sem objetivo, além de incentivar a poupança. Houve também defesa do trabalho sistemático e metódico.

Marx (1980, p. 78), tratava a exploração do trabalhador como um dos itens centrais em suas análises e o regime capitalista buscava tomar a produção da mais-valia como finalidade direta e móvel determinante da produção. Marx defendia que o trabalho deveria ser humanizador, mas na forma de mercadoria ele é alienante, explorador, humilhante, monótono, discriminante, embrutecedor e submisso.

De acordo com Borges; Yamamoto (2004), a ética do trabalho (associada à primeira Revolução Industrial) e o marxismo, exaltam o trabalho, mas é importante observar que a defesa do tratamento do trabalho como mercadoria desvaloriza a identificação do trabalhador com o produto e o processo do seu trabalho. É preciso compreender o trabalho como algo para construção da própria identidade do trabalhador, o que permite estruturar a sociedade e o indivíduo.

Taylor (1980) na obra “Princípios da Administração Científica” considera como objetivo principal dos sistemas em administração, assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado. Foi proposta uma troca dos métodos tradicionais por métodos “científicos” eliminando movimentos desnecessários e também substituindo movimentos lentos por rápidos. Considerou necessário decompor as tarefas em suas operações mínimas e também cronometrar os movimentos do trabalhador, que também deveria ser poupado de pensar visando ganhar rapidez e exatidão.

Para Borges; Yamamoto (2004) a administração científica radicalizou a monotonia e a cisão entre o pensamento e a execução, e ampliou a mais-valia relativa. Posteriormente Fayol complementou as contribuições de Taylor, partindo de uma visão macroscópica da organização, preocupando-se com as funções de gerenciamento.

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Conforme Neffa (1990), com o mesmo raciocínio de combate ao desperdício de tempo, surge o movimento chamado de fordismo, por ter sido liderado por Henry Ford. O sistema americano de manufatura cresceu no século XIX representando um modelo para todo o mundo com o objetivo de controlar a qualidade dos produtos e reduzir custos de reposição pela possibilidade de permitir manutenção dos produtos ao substituir as peças defeituosas pelo fato de serem padronizadas. Ford ao fabricar automóveis avançou na padronização com suas inovações como a cadeia de montagem sobre esteira rolante. Ford também implantou um departamento social em sua empresa de tal maneira que o pagamento integral do empregado dependia da produção e também dos hábitos da vida em geral, como dedicação à família, cuidados com a casa, controle no uso de bebidas alcoólicas.

Conforme Borges; Yamamoto (2004) a mecanização do fordismo não se diferenciava do taylorismo no esvaziamento do conteúdo do trabalho, mas a política de remuneração do fordismo deixava os empregados longe dos sindicatos enquanto o taylorismo despertava a mobilização sindical na década de 1910.

No fim do século XIX e início do século XX ocorreu fertilidade sindical, conforme Borges; Yamamoto (2004). Cresceram correntes anarquistas e socialistas e sempre considerando o trabalho como centro da vida das pessoas e organização da sociedade. Apareceram os movimentos de greves gerais e nesse período apareceu o sindicalismo no Brasil, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Não havia política salarial no Brasil nem intervenção do Estado em assuntos econômicos. Eram péssimas as condições de trabalho, sem assistência técnico-hospitalar, as jornadas de trabalho eram elevadas e não havia o que hoje se considera Descanso Semanal Remunerado. Em 1917, em consequência das greves, surgiram Projetos de Lei regulamentando o trabalho, mas focalizando apenas o trabalho urbano, na época minoria.

2.1.2 Histórico da Saúde Mental

De acordo com Silva; Bueno (2017, p. 5), Bernardino Ramazzini publicou em 1700 o livro “De Morbis Artificum Diatriba” (As Doenças dos Trabalhadores) onde trata de doenças ocupacionais descrevendo várias doenças relacionadas ao trabalho e analisou o sofrimento biopsicossocial dos trabalhadores. Ele soube mostrar que o trabalho agride o cérebro por uso de substâncias químicas ou por organização inadequada.

Ramazzini considerou o sofrimento mental como uma das explicações para lesões osteomusculares dos escriturários e dos tipógrafos. Essa publicação, devido aos estudos

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sistematizados em termos de Saúde do Trabalhador, é considerada como base para a Medicina do Trabalho, da Saúde Ocupacional e Saúde Mental Ocupacional.

Silva; Bueno (2017, p. 6) informa que apenas dois séculos depois em consequência de luta, os trabalhadores começaram a ter melhorias nas condições de trabalho e baseando-se em Dejours (1992), são considerados três grandes períodos históricos para contextualizar o processo de mudanças que provocou o estudo da Psicodinâmica do Trabalho:

a) O primeiro período é o século XIX após as mudanças bruscas da Revolução Industrial no sistema capitalista quando houve aumento de produção, concentração das pessoas nos centros urbanos, esgotamento físico, falta de higiene e devido ao fato de os trabalhadores terem sua força de trabalho explorada, foram detectados muitos problemas de saúde no trabalho (Problemas de Saúde Ocupacional) o que deu novo impulso à Medicina do Trabalho; b) O segundo período é o da I Guerra Mundial até 1968 quando ocorreram

movimentos operários de bases mais sólidas com força política e reivindicações de proteção à saúde e também houve manifestações de repúdio à alienação física e mental do modelo taylorista-fordista implantado, o que provocou visibilidade aos efeitos do trabalho sobre o psiquismo dos trabalhadores; e após a I Guerra, acrescentando ao contexto citado, os interesses econômicos de empresários e de seguradoras, foi desenvolvida a Saúde Ocupacional que visa a manutenção do bem estar mental e social dos trabalhadores;

c) O terceiro período foi após 1968 envolvendo reformas sanitárias, trabalhistas e sociais, buscando os significados humanos da existência, o que provocou o surgimento da “Saúde do Trabalhador”, com raciocínio de valorizar e facilitar a socialização de informações e a participação do trabalhador no processo de trabalho como sujeito ativo na construção de sua história e apropriação do seu potencial de produção. É visível ao longo do tempo que os problemas da dimensão psíquica e saúde mental dos trabalhadores foram observados mais cuidadosamente.

2.2 CONCEITOS

Pretende-se nesse espaço conceituar termos importantes utilizados no decorrer do presente trabalho, como Serviço Público, Agente Público e seus subconjuntos (servidor público,

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agente honorífico, político...), Saúde Mental, Trabalho, Assédio Moral, Síndrome de Burnout, Qualidade de Vida no Trabalho (QVT).

2.2.1 Serviço Público

A explicação do conceito de “serviço público” considera a inclusão dos elementos relevantes para identificar suas atividades. Em um primeiro momento vamos utilizar um conceito amplo para mostrar que são consideradas atividades além da parte administrativa prestada diretamente à população e posteriormente será citado um conceito mais restrito da Professora Maria Sylvia di Pietro.

Conforme ALEXANDRINO; PAULO (2010, p. 625):

Na mais ampla das acepções atuais, expressão “serviço público” é empregada como sinônimo de “função pública” ou “atividade pública”. Abrange, assim, o conjunto de todas as atividades que são exercidas sob o regime jurídico de direito público: a atividade jurisdicional, a atividade legislativa, a atividade de governo (atividade política) e as atividades consideradas de administração pública em sentido material – inclusive a prestação de serviços públicos em sentido estrito realizada por intermédio de delegatários.

PIETRO (2016, p.139), também conceitua Serviço Público:

Serviço Público é toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente público.

O segundo conceito é direto e considera as atividades de responsabilidade não exclusivas do Estado para atender à coletividade.

2.2.2 Agente Público

O termo “agente público” é o mais amplo envolvendo os trabalhadores que atendem à coletividade em nome do Estado. Incluem-se aqui os agentes políticos, os agentes administrativos (servidores públicos, empregados públicos e os temporários), agentes honoríficos, agentes delegados e os agentes credenciados. No nosso trabalho, os termos de maior interesse são: agente público, agente administrativo, agente político e agente delegado, com a observação de que um agente administrativo pode estar na situação de agente político e

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todos são agentes públicos. Nossas explicações sobre agente público seguem a linha dos professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo.

Conforme ALEXANDRINO; PAULO (2010, p. 124):

Considera-se agente público toda pessoa física que exerça, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função pública. Os agentes políticos exercem atividades de elaboração das diretrizes de atuação governamental, direção, orientação e supervisão geral da Administração Pública ocupando os mais elevados cargos do Poder Público e geralmente não são hierarquizados. Eles chegam aos cargos através de eleição, nomeação ou designação, sendo que a própria Constituição exaure sua competência considerando prerrogativas para que tenham liberdade de tomar decisões governamentais sem ser responsabilizados como os demais agentes públicos.

Os agentes administrativos são os que exercem atividade pública de natureza profissional remunerada e são sempre hierarquizados. Podem estar em cargos de caráter trabalhista ou estatuários dependendo do ente federado a que pertencem. Entre os agentes administrativos consideram-se os servidores públicos (ocupam cargos públicos de provimento efetivo ou em comissão e estão sujeitos a um regime jurídico estatutário), empregados públicos (ocupam empregos públicos estando sujeitos às normas de Direito de Trabalho), temporários (atuam em cargo público com contrato de natureza pública, não “celetista” com tempo determinado para tender a uma necessidade pública temporária).

Os agentes honoríficos são cidadãos que prestam transitoriamente serviços específicos após requisição ou designação pelo Estado mesmo sem possuir vínculo profissional com a Administração Pública e não necessariamente ocorre remuneração. Trata-se do mesário eleitoral, do jurado.

A expressão “agente delegado” considera o particular estabelecido pela Administração Pública para exercer determinada atividade por sua conta e risco com fiscalização de quem delegou a atividade. É o caso, por exemplo, de uma empresa de construção civil de natureza privada contratada após procedimento licitatório para uma reforma na edificação onde ocorrem as atividades da repartição pública.

Por fim se trabalha o conceito do Professor Hely Lopes Meirelles para os agentes credenciados. Conforme ALEXANDRINO; PAULO (2010, p. 129):

“são os que recebem a incumbência da administração para representá-la em determinado ato ou praticar certa atividade específica, mediante remuneração do

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Poder Público credenciante”. Seria exemplo a atribuição a alguma pessoa da tarefa de representar o Brasil em determinado evento internacional.

2.2.3 Saúde Mental

Para a expressão “Saúde Mental”, a Organização Mundial da Saúde afirma não existir um conceito oficial, mas para tentar explicar seu significado recorremos à Secretaria de Saúde do Estado do Paraná.

Conforme Secretaria da Saúde-PR (2018):

1. Saúde Mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem, contudo, perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro. (Dr. Lorusso);

2. Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida. Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário.

A mesma Secretaria da Saúde-PR (2018) identifica como critérios de saúde mental os seguintes itens: atitudes positivas em relação a si próprio; crescimento, desenvolvimento e auto-realização; integração e resposta emocional; autonomia e autodeterminação; percepção apurada da realidade; domínio ambiental e competência social.

Conforme Houtman e Kompier (2002, p.52) a saúde mental tem relação com características individuais como crises e seus estilos de enfrentamentos devidos: competências e a aspiração (normais para o trabalhador mentalmente saudável), interessada e que participa do seu entorno de atividades motivadoras e busca sua própria proteção por meios pessoalmente significativos.

De acordo com Relatório do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência no Rio Grande do Sul (SINDISPREV-RS, 2003), a organização do trabalho, o ritmo, as atividades e a divisão das tarefas estão diretamente associadas à saúde física e psicológica. Se a organização do trabalho visar apenas lucro e produtividade, desconsiderando aptidões e limitações do trabalhador, ou ainda se ela exigir do trabalhador um ritmo mais intenso que o tolerável, ocorrerão prejuízos físicos e emocionais.

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2.2.4 Trabalho

A explicação de origem da palavra trabalho e também sua mudança de interpretação em seu significado foi buscada no Dicionário Etimológico.

Conforme Trabalho (2018), o termo trabalho tem origem no latim “tripalium”, cuja formação é consequência da junção dos elementos “tri”, que significa “três”, e “palum”, que quer dizer “madeira”. “Tripalium” era o nome de um instrumento de tortura constituído de três estacas de madeira bastante afiadas e que era comum em tempos remotos na região europeia. Desse modo, originalmente, "trabalhar" significava “ser torturado”.

Quem sofriam as torturas no “tripalium” em geral eram os escravos e outros pobres que não podiam pagar impostos, então, nessa época quem "trabalhava", eram as pessoas destituídas de posses.

A ideia de trabalhar como sinônimo de ser torturado passou a estar relacionado também, por extensão, às atividades físicas produtivas realizadas pelos trabalhadores em geral: camponeses, artesãos, agricultores, pedreiros.

A partir do latim, o termo passou para o francês “travailler”, que significa “sentir dor” ou “sofrer”. Com o passar do tempo, o sentido da palavra passou a significar “fazer uma atividade exaustiva” ou “fazer uma atividade difícil, dura”. Aqui já se observa um menor sofrimento no significado do termo.

No século XIV começou a ter o sentido genérico ainda válido, que é o de "aplicação das forças e faculdades (talentos, habilidades) humanas para alcançar um determinado fim". Posteriormente, com a especialização das atividades humanas, imposta pela evolução cultural (especialmente a Revolução Industrial) da humanidade, a palavra trabalho adquiriu uma série de diferentes significados.

2.2.5 Assédio Moral

Conforme Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência do Serviço Público Federal no Estado de Santa Catarina - Sindprevs/SC (2013, p.4), ao longo do tempo, o senso de coletividade e solidariedade sofreu alterações por comportamentos hostis e degradantes entre os seres humanos. O atual modelo econômico tem gerado competitividade e falta de solidariedade no ambiente de trabalho.

A violência emocional ocorre através de atitudes que vexam, humilham, degradam e inviabilizam o colega de trabalho, que passa a ser vítima desse comportamento e as relações

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de trabalho se tornam mais opressivas. A estrutura hierárquica facilita vivência opressiva, provocando insatisfação com o trabalho, que passa a ser fonte de sofrimento, podendo gerar danos à saúde dos trabalhadores, seja através de distúrbios psíquicos ou situações depressivas.

De acordo com Freitas; Heloani; Barreto (2008, p.37), assédio moral é visto como:

Uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho e que visa diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo a sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional.

O assédio moral pode ocorrer de forma direta através gritos, insultos, acusações e também de forma indireta por meio de boatos, isolamento, recusa de comunicação, exclusões. Tal assédio pode ser descendente pela ação do superior hierárquico sobre um subordinado; pode ser horizontal quando ocorre entre pessoas de mesmo nível hierárquico e ascendente quando parte do subordinado para o seu superior hierárquico.

De acordo com Sindprevs/SC (2013, p.8), o assédio costuma ter como objetivo: a) Desestabilizar emocional e profissionalmente o trabalhador;

b) Pressionar o trabalhador a pedir demissão;

c) Provocar a remoção do trabalhador para outro local de trabalho;

d) Fazer com que o trabalhador se sujeite passivamente a determinadas condições de humilhação e constrangimento, às más condições de trabalho.

Sindprevs/SC (2013, p.10) cita exemplos de práticas comuns do assediador como: a) Retirar da vítima a autonomia;

b) Não transmitir informações úteis para a realização de tarefas; c) Criticar seu trabalho de forma injusta e demasiada;

d) Privar o trabalhador de acessar aos instrumentos de trabalho;

e) Retirar trabalho e atribuir tarefas inferiores ou superiores à sua competência; f) Pressionar o trabalhador a não exigir seus direitos;

g) Induzir a vítima ao erro; não conversar com a vítima; h) Isolar a vítima do restante do grupo;

i) Zombar de suas origens, nacionalidade, crenças religiosas ou convicções políticas.

Conforme Rodrigues (2015), no caso do serviço público, pode ocorrer situação de instaurar Processo Administrativo Disciplinar contra servidores desrespeitando o contraditório

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e ampla defesa; e acrescenta que o Superior Tribunal de Justiça informou que assédio moral no serviço público pode ser considerado como ato de improbidade administrativa.

2.2.6 Síndrome de Burnout

Para conceituar e caracterizar síndrome de burnout (SB), buscou-se Mallmann; Palazzo; Carlotto; Aerts (2009, p.2) com base em Maslach (2003).

A síndrome de burnout é vista como um fenômeno psicossocial, uma resposta crônica aos estressores interpessoais ocorridos no ambiente de trabalho e composta por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional.

A exaustão emocional é vista como falta (ou carência) de energia ou de entusiasmo e por sentimento de esgotamento de recursos. A despersonalização provoca no trabalhador um tratamento distante e impessoal às pessoas do seu convívio profissional. A baixa realização profissional é caracterizada por uma tendência de o trabalhador se avaliar de forma negativa e ficando infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional.

Conforme Maslach; Leither (1999), podem aparecer diferentes graus de manifestação, de frequência e intensidade pelo fato de o processo ser gradual e cumulativo. Quando o aparecimento é esporádico, tem-se o menor grau de frequência; mas quando a presença é permanente, ocorre a maior frequência. Sobre intensidade, o nível baixo indica sentimentos de irritação, esgotamento, inquietação e frustração; enquanto o nível alto aponta ocorrência de doenças e somatizações.

O serviço público precisa seguir regras e rotinas, existindo uma supervalorização da hierarquia, paternalismo nas relações, apego ao poder, entre outras especificidades, de acordo com Pires; Macedo (2006), que podem ter como consequência a síndrome de burnout. Mesmo com objetivo de atender à sociedade, há limitações dos recursos que, quando disponíveis dependem de decisões políticas e da situação econômica do Poder Estado.

2.2.7 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)

Sobre Qualidade de Vida no Trabalho, Bastos; Hora; Souza; Costa (2011) informam que muitos fatores precisam ser analisados para se obter a Qualidade de Vida do Trabalho, como, por exemplo, o ambiente de trabalho, as expectativas do trabalhador, os benefícios que a empresa oferece, a integração entre funcionário-empregador, a questão salarial, o relacionamento dos funcionários.

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Walton (1973), considera QVT uma humanização do trabalho, sendo que a responsabilidade social é da empresa, envolvendo o atendimento das necessidades e aspirações do indivíduo. Dal Forno; Finger (2015, p.106-107) informam que Walton (1973) propõe modelo utilizado em várias pesquisas de QVT considerando oito categorias de avaliação:

a) Para ocorrer uma compensação adequada e justa, o salário precisa considerar fatores como experiência e responsabilidade, talento e habilidade;

b) É preciso haver condições de segurança e de saúde no trabalho, considerando-se, por exemplo, horários razoáveis, evitar condições prejudiciais à saúde, respeitar limite de idade para trabalhos que exijam tal restrição;

c) Deve ser considerada a oportunidade imediata para utilização e desenvolvimento da capacidade humana. Aqui são considerados, por exemplo, autonomia, exercício de múltiplas habilidades, informação, planejamento do trabalho;

d) Outra oportunidade também considerada é a futura, buscando-se um crescimento contínuo e segurança, considerando possibilidades de promoção, desenvolvimento de novas habilidades, estabilidade no emprego;

e) Deve ocorrer integração social na organização de trabalho, sempre considerando bom relacionamento interpessoal, evitando-se os preconceitos e outros raciocínios de estratificação social;

f) Comparando-se ao raciocínio constitucional, é preciso haver normas sobre o trabalho, estabelecendo-se direitos e deveres dos trabalhadores, tratamento justo, direito a recurso, entre outros;

g) É preciso haver equilíbrio entre o trabalho e a vida privada;

h) O trabalho deve ser visto como relevante na vida social, sendo que a valorização ou desvalorização do seu trabalho interfere na autoestima do trabalhador.

Schmidt & Dantas (2006) informam que o conceito de QVT considera questões de motivação, satisfação, saúde e segurança no trabalho, discussões sobre novas formas de organização do trabalho e novas tecnologias.

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2.3 SOFRIMENTO PSÍQUICO NO TRABALHO

2.3.1 Sofrimento Psíquico em Ambientes Gerais de Trabalho

Antes de iniciar o levantamento de informações no local de trabalho do presente estudo, necessita-se analisar o que já existe publicado visando organização das informações e conhecer publicações já existentes.

Conforme Laurell; Noriega (1989), considerando o homem como unidade psicossocial, é um ser que responde aos acontecimentos em sua vida, que dependem do modo de vida em determinada época, da sociedade, grupo e comunidade. O homem se adapta aos modos de vida da sociedade por meio de mudanças nos processos biológicos e psíquicos. É uma adaptação em função de sobrevivência, com consequências que às vezes são inespecíficas, insidiosas na totalidade que representa o homem. Tal processo de adaptação pode se converter em padrões de desgaste em função das condições de vida do presente grupo social, sem esquecer possibilidade de respostas atípicas, principalmente no âmbito psíquico, em que a diversidade constitutiva é anterior.

Para Sawaia (1994, p. 106):

o homem é um animal simbólico que reage frente aos significados que ele próprio constrói historicamente, e não às coisas em si. Esses símbolos mudam o ambiente, a natureza, a sociedade e inscrevem-se no biológico.

Ainda no raciocínio de Sawaia (1994), os significados atribuídos em decorrência de valores culturais, familiares e pessoais são mediadores, pois atuam na determinação de necessidades, desejos, expectativas das pessoas e, consequentemente, na determinação do que é saúde e das práticas desenvolvidas pelo ser humano no seu cotidiano com vista à promoção dessa saúde. A necessidade que o homem tem de transformar seu ambiente, acrescentando significados particulares que ele construiu, condicionam a saúde.

Para Sawaia (1995 a, p. 157):

Saúde é uma questão eminentemente sócio histórica e, portanto, ética, pois é um processo da ordem da convivência social e da vivência pessoal.

Saúde é a possibilidade de ter esperança e potencializar esta esperança em ação. Promover a saúde equivale a lutar contra todas as formas históricas de violência do corpo e da alma, geradoras de servidão e heteronomia.

Conforme Tavares (2003, p. 17) sobre Sawaia (1995 a, p. 157) o trabalho aparece como necessidade humana, sendo que através dele ocorrem ações sociais, que são ajustadas

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conforme possibilidades e necessidades percebidas ou é impedido de tal feito em consequência de organização de trabalho rígida e determinada.

Para Sawaia (1995 b, p.50), o sofrimento na psicologia social ocorre com:

a fixação do modo rígido de estado físico e mental que diminui a potência de agir em prol do bem comum, mesmo que motivado por necessidades do eu, gerando, por efeito perverso, ações contra as necessidades coletivas e, consequentemente, individuais. Dejours (1992), considera que o trabalhador se torna uma vítima do seu trabalho por ter sua subjetividade prejudicada pelas relações de trabalho. O mundo do trabalho faz propaganda indicando felicidade, satisfações materiais e pessoais para o empregado, mas logo no início ocorre frustração e desencadeia o sofrimento humano. A maior intensidade dessa situação foi observada após a década de 1960 devido à aceleração desigual das forças produtivas (ciências, técnicas e máquinas) somada às novas condições de trabalho em termos de ambiente físico (luminosidade, temperatura), químico (poeira), biológico (fungos, bactérias), condições de higiene, de segurança, características antropométricas do posto de trabalho nas indústrias, que facilitaram o aparecimento de sofrimentos insuspeitos na vida dos operários.

Os sofrimentos considerados insuspeitos, conforme Dejours (1993) possuem relação direta com fatores históricos, laborativos e também com fatores da vida humana e do trabalho, não necessariamente favoráveis à vida do trabalhador. São detalhados da seguinte forma: sofrimento singular, que é o herdado da história psíquica de cada indivíduo; sofrimento atual, quando há o reencontro do sujeito com o trabalho; sofrimento criativo, quando o sujeito produz soluções favoráveis para sua vida especialmente para sua saúde; sofrimento patogênico, quando o indivíduo produz soluções desfavoráveis para sua vida e estão relacionados à sua saúde.

Conforme Rodrigues; Álvaro; Rondina (2006, p. 5), analisando Dejours (1994), atualmente a regra no trabalho é o sofrimento e não a normalidade. A normalidade seria o equilíbrio psíquico entre constrangimento do trabalho desestabilizante ou patogênico e defesas psíquicas. Como muitos trabalhadores não conseguem manter um equilíbrio psíquico, as investigações na área da Psicopatologia do Trabalho centram-se nas estratégias elaboradas pelos trabalhadores para enfrentarem, mentalmente, a situação de trabalho.

De acordo com Dejours, (1994), o equilíbrio seria o resultado de uma regulação que requer estratégias defensivas especiais, elaboradas pelos próprios trabalhadores; porém, a normalidade conquistada e conservada pela força é trespassada pelo sofrimento.

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Para Codo, W. et al. (1993), o bem-estar no trabalho indica situação gratificante e, nessa situação, os trabalhadores gostam do produto realizado. O sofrimento indica subjugação do trabalho, o que transmite raiva ao produto. Esse “afeto” indica amor ou ódio ao trabalho podendo gerar alegria ou tristeza, entusiasmo ou desânimo. Como o trabalho está mais relacionado à ideia de sofrimento, a ideia de afeto costuma estar associada ao lar e o trabalho acaba sendo visto como insuportável.

Dejours (1994) considera que a ideia de sofrimento é inevitável e sua origem tem suas raízes na história de cada indivíduo. Essa construção social e psíquica acaba repercutindo no ambiente de trabalho, como um “teatro” em que seus personagens são patrão, empregado, supervisor, colega de trabalho; o “enredo” é a estrutura de poder e hierarquia, preconceitos, valores; o “cenário” se refere ao macro-ambiente, ao desemprego, à instabilidade, às incertezas; e os espectadores são amigos, família, adversários que no final aplaudirão ou não. A falta da aprovação pode trazer incômodo e sofrimento psíquico. Esse “teatro do trabalho” muitas vezes se torna um drama da vida real.

Júnior (2010, p. 133-134) informa que:

a relação entre saúde/doença/trabalho é objeto de preocupação de vários estudiosos desde a consolidação do modo de produção capitalista, iniciado pela divisão manufatureira do trabalho que “é uma criação totalmente específica do modo de produção capitalista” (Marx 1988, p.269), em que seu produto opõe-se às forças intelectuais do processo material e produção. É um processo de dissociação que transforma o trabalhador em trabalhador parcial e consolida-se com a grande indústria ao fazer do conhecimento, um instrumento capaz de ser separado do trabalho. A separação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual torna-se mais consistente e profunda com a racionalidade da organização científica da produção proposta por vários economistas da época e, mais especificamente, por Taylor.

Conforme Leontiev (1978), a crescente complexidade do trabalho, acompanhada pelo desenvolvimento da linguagem possibilitou a transformação e a hominização do cérebro, dos órgãos da atividade externa e dos órgãos do sentido, até atingir a atual situação de consciência, que se estrutura como reflexo psíquico da realidade e como construção de motivos e fins.

Se devido a esse histórico-social do trabalho ocorreu a produção da consciência, o surgimento do processo de alienação se deu por meio da divisão do trabalho, sendo que Marx e Engels (1988) informam que a divisão do trabalho só se efetivou com a operação de divisão entre trabalho material e trabalho intelectual.

Afirma Júnior (2010, p. 134-135) que a alienação, então tem origem decorrente das relações de dominação estabelecidas pela divisão do trabalho no modo de produção capitalista

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e é necessário destacar alguns aspectos que não podem ser analisados isoladamente para entender esse sistema de alienação: 1) a relação do trabalhador com os produtos do seu trabalho; 2) a relação do trabalhador com o processo de produção; 3) a relação do homem com o gênero humano; 4) a relação do homem com os outros homens. É certo que tais aspectos foram desenvolvidos ao longo da história humana, mas foi criada a ideologia burguesa de que a alienação sempre esteve presente na vida dos homens como se tal processo de alienação fosse “natural”.

Entre os aspectos do parágrafo anterior, o primeiro indica que o trabalhador passa a ser mercadoria e empobrece na produção inversa da sua produção de riquezas e o trabalho se torna hostil para o trabalhador. O segundo aspecto indica que a objetivação do trabalho ocorre de forma alienada e o trabalho fica externo ao trabalhador, sendo que as necessidades a serem atendidas não são as dele e sim outras por relação de sobrevivência. O terceiro aspecto aponta que o ser humano é um ser genérico por se comportar como um ser universal e livre, mas ao realizar a atividade de forma alienada, ele se distancia do objeto e da sua vida genérica, já que essa apropriação do objeto através do trabalho passa a ser simplesmente um meio de existência. Sobre o quarto aspecto, se o homem não se reconhece como em seu produto, que lhe aparece como algo negativo, não se reconhece como ser genérico nem com os outros homens e eles aparecem como oposição e até como inimigos.

Marx (1983 a, p.24) evidencia que o modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral, se a realização não ocorrer de forma alienada, ou seja, quando o intelecto não deve se separar do material no momento de realização do trabalho, pela ruptura entre motivos e fins da atividade.

Sato (1994) afirma que a ligação entre saúde mental e organização do trabalho é evidente principalmente na organização racional do trabalho do taylorismo-fordismo, onde o trabalhador não entende a situação total e ainda pode provocar atritos entre os colegas de trabalho. Essa divisão social do trabalho não dá importância à relação motivos e fins e uma consequência pode ser o sofrimento psíquico.

Tavares (2003, p. 19), sobre Spink (1996) e sobre Chanlat (1996) analisa o conhecimento prático do trabalho diferenciando o conhecimento da estrutura, normas e regras formais do conhecimento construído no cotidiano, que se baseia nas situações reais. É levado em consideração o conhecimento formado entre as condições objetivas de trabalho, as regras institucionais, as tarefas reais e os diferentes atores sociais. Segue a análise:

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Ao se conceber a saúde, no sentido geral, como resultado do exercício da cidadania, pelo qual se pode viver exercendo direitos, deveres e responsabilidades em todos os espaços da vida social, inclusive no trabalho, no que diz respeito à produção de saberes sobre o trabalho, torna-se essencial a reabilitação do conhecimento do trabalhador enquanto conhecimento válido na identificação dos problemas do ambiente de trabalho, tanto no âmbito da qualidade do trabalho quanto da saúde dos trabalhadores. No cotidiano é que se constrói um corpo de conhecimentos a respeito dessa realidade compartilhada de trabalho, que permitirá um norte nas ações do dia-a-dia, com fins de cumprir as atribuições, contornar as dificuldades, bem como buscar o equilíbrio no dispêndio de energia e esforços, entendidos aqui não somente pelo aspecto físico, mas também mental.

Para finalizar essa etapa geral do sofrimento psíquico, acrescentamos a informação de que o Ministério da Saúde através do Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde com o título de Doenças Relacionadas ao Trabalho (2001) classifica os fatores de risco para a saúde e segurança dos trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho em cinco grandes grupos:

Tabela 1 – Riscos de Saúde Mental no Ambiente de Trabalho.

RISCOS CARACTERIZAÇÃO

Físicos ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas pressão atmosférica anormal Químicos agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa

ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos de trabalho

Biológicos vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária

Ergonômicos e Psicossociais decorrem da organização e gestão do trabalho, como, por exemplo: da utilização de equipamentos, máquinas e mobiliário inadequados, levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más condições de iluminação, ventilação e de conforto para os trabalhadores; trabalho em turnos e noturno; monotonia ou ritmo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações de trabalho autoritárias, falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores

Mecânicos e de Acidentes ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem

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de produtos e outros que podem levar a acidentes do trabalho

2.3.2 Sofrimento Psíquico no Serviço Público

França (1994) destaca que desde a década de 80, com o avanço da crise fiscal do Estado e a preocupação de cortar gastos, o funcionalismo público vem ocupando papel de destaque entre as causas das crises do Estado no discurso neoliberal. Como consequência, em vários momentos, ocorreu enxugamento no quadro de pessoal no serviço público. Para Dallari (1989), é marcante a ideia de que um número excessivo de agentes públicos onera as contas públicas, principalmente considerando contratos temporários sem concurso.

Chanlat (1996) conceitua modo de gestão como:

Um conjunto de práticas administrativas colocadas em execução pela direção de uma empresa para atingir aos objetivos que ela tenha se fixado.

Tal modo de gestão, segundo Chanlat (1996), deve envolver a organização do trabalho, a natureza das relações hierárquicas, o tipo de estrutura organizacional, o sistema de avaliação e controle dos resultados, as políticas de gestão de pessoal e os objetivos, valores e filosofia da gestão.

No caso do serviço público, Chanlat (1996) considera que o modo de gestão é tecnoburocrático, onde é possível verificar forte hierarquia, divisão do trabalho parcelada, presença de normas e padrões formais, grande importância atribuída aos especialistas, controles sofisticados, canais de comunicação inexistentes ou precários (entre os diferentes níveis hierárquicos), centralização de poder, fraca autonomia para os cargos hierarquicamente inferiores. A ação humana se torna limitada principalmente por causa das normas e o trabalhador fica impossibilitado de atender às demandas e às situações não previstas na concepção de tal modo de gestão. A síntese é a frase: “fazer bem o que se tem que fazer ainda que impedido de fazê-lo”.

Assim, Chanlat (1996) considera que a rigidez normativa, as pressões e a desvalorização do trabalhador público podem formar um conjunto propiciador de problemas de saúde e cita como exemplos: problemas cardiovasculares, fadiga crônica, insônia e úlceras.

Tavares (2003) realizou uma análise psicossocial do contexto de trabalho em um Tribunal Judiciário Federal, onde através de entrevistas e observações colheu informações de

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elementos constitutivos, elementos moderadores, estratégias de enfrentamento e expressões de sofrimento no trabalho. Tais registros, ainda comuns em várias repartições públicas brasileiras na atualidade, valem à pena serem citados e ajudam na elaboração de material utilizado na coleta de dados do presente estudo.

Os elementos constitutivos são aqueles cujos conteúdos agregam elementos do trabalho e que constituem seu sofrimento. Foram considerados:

a) Injustiça no ambiente de trabalho, fazendo referência à desigualdade salarial entre pessoas de mesma atividade, desigualdade na distribuição de tarefas e de responsabilidades entre os servidores e também entre os setores da repartição; b) Volume cumulativo de trabalho. Trata-se de demanda crescente pelos serviços

e também a preocupação com os prazos de execução das atividades;

c) Não reconhecimento pelo trabalho, considerando que o profissional não é considerado de forma suficiente pela instituição ou por não haver prática cotidiana do retorno da avaliação da qualidade do trabalho em forma de promoções, acréscimos salariais;

d) Falta de autonomia no trabalho, deixando o trabalho mais mecânico e repetitivo em função de prazos e volumes de trabalho, o que reduz a autonomia para regular o ritmo e as pausas para descanso;

e) Estagnação profissional, tratando aqui de carreira profissional sem crescimento, sendo que ascensão só ocorre por meio de concurso público ou por meio de nomeações para cargos em comissão e funções gratificadas;

f) Opressão por parte de superiores, seja através de tratamento inadequado, punição e humilhação do servidor ao cometer erros, exigências de produtividade com base em ameaça, controle sobre comunicação e expressão no ambiente de trabalho e sobre necessidade de ausentar-se para almoço, banheiro, descanso durante a jornada de trabalho

São elementos moderadores os amenizadores da intensidade de se sentir o sofrimento ao alimentar a esperança na modificação dos elementos constitutivos. Foram aqui considerados:

a) Critérios explícitos e adequados de avaliação e concessão de gratificação, fazendo referência por exemplo a explicitar os critérios para concessão de cargos e funções gratificadas aos servidores. Observa-se que no caso específico do Tribunal Judiciário Federal da pesquisa de Tavares (2003), as gratificações

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são desejadas, mas na autarquia em análise, é fácil perceber que mesmo com convite do superintendente regional é comum haver recusas dos servidores em aceitar tais funções comissionadas por envolver muita responsabilidade, muito volume de serviço e pouco acréscimo na remuneração;

b) Relações sociais positivas no ambiente de trabalho. Se a história do grupo de trabalho é de convívio harmonioso, mesmo que exista situação desfavorável, o grupo tende a manter uma harmonia e equilíbrio;

c) Aprendizado no trabalho, considerando a possibilidade de aprender no desenvolvimento das atividades como elemento de compensação pelo sofrimento causado pelos elementos constitutivos;

d) Gerenciamento adequado do volume de trabalho por parte do dirigente, sendo necessário traçar estratégias para reduzir o volume, simplificar os processos de trabalho, estabelecer critérios de prioridade para os processos, organizar os processos de forma lógica.

Estratégias de enfrentamento:

a) Distanciamento afetivo das causas dos processos;

b) Desinvestimento no trabalho / descomprometimento com o trabalho; c) Busca de outras oportunidades dentro da instituição;

d) Estudar para prestar concursos. Aqui se trata de carreiras jurídicas em função do tipo de repartição;

e) Investir afetiva e intelectualmente em dimensões da vida extra-trabalho. Foram consideradas comuns as seguintes expressões de sofrimento no trabalho: a) Medo;

b) Sentimentos de auto-desvalorização; c) Desesperança, desalento;

d) Contaminação do pensamento e do sono por conteúdos do trabalho; e) Adoecimentos somato-psicológicos.

Conforme Campos (2006, p. 22) sintomas como medo, ansiedade, depressão, nervosismo, tensão, fadiga, mal-estar, distúrbios da alimentação e do sono são diagnosticados como transtornos mentais e comportamentais; podendo ter relação com o trabalho. Mobiliário, equipamentos de trabalho, iluminação, ruídos, temperatura, postura, relacionamentos podem

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provocar efeitos alterações físicas e psicológicas nos trabalhadores. Exigências cognitivas (memória, atenção, tomada de decisão) requeridas podem estar além das suas características psicofisiológicas, podendo provocar insatisfações, desconfortos, sofrimentos e transtornos psicológicos em seus diferentes graus.

De acordo com Campos (2006, p. 23) a presença do absenteísmo tem relação com diversos fatores, como a organização e a forma de gestão do trabalho, a relação das caraterísticas do contrato do trabalhador, a reação do trabalhador às imposições do trabalho, o nexo possível com os transtornos mentais e comportamentais. O absenteísmo exige esforços de outros trabalhadores (hora-extra, atraso, insatisfações de colegas de trabalho e do público) por realizar a atividade do trabalhador ausente, aumentando a carga de trabalho, podendo interferir na qualidade da atividade.

O componente psicológico, segundo Campos (2006, p. 24) também é manifestado em patologias do sistema osteomuscular e do aparelho circulatório, já que possui relação com dimensões do inconsciente, como as emoções, a ansiedade, o medo, a angústia e a queda das defesas do organismo.

Para Guèrin e cols (2001, p. 118), situações comuns como distúrbios infra patológicos (dores de cabeça, distúrbios de sono, dores articulares) e os distúrbios do comportamento (irritabilidade, perda de interesse pela leitura, pelos contatos sociais) podem ter origem nas condições de trabalho e acrescentam que essa situação é parcial pois o trabalhador não costuma revelar ao médico do trabalho todos os problemas de saúde, considerando que distúrbios da vida psíquica e sexual raramente são mencionados; e que absenteísmo é controlado se causado por doenças ou então ele é malvisto ou punido.

A American Medical Association (AMA, 1995) considera disfunção e incapacidade causadas pelos transtornos mentais e comportamentais em função do ambiente de trabalho em quatro áreas: limitações em atividades da vida diária, como comunicação, viagens, sono; exercício de funções sociais, considerando capacidade de interagir bem e comunicar-se adequadamente; concentração, persistência e ritmo em referência à capacidade de realização das tarefas; deterioração ou descompensação no trabalho, tratando-se de falhas repetidas na adaptação a situações de estresse.

Daniellou (1999) informa que os afastamentos dos agentes públicos do seu ambiente de trabalho estão relacionados às patologias organizacionais, ao componente político (incluindo aqui a alternância de poder), ao assédio moral, às tarefas que exigem intenso esforço provocando o aparecimento de estresse, transtornos mentais e comportamentais, problemas músculo esqueléticos.

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O estresse é consequência da interação entre o trabalhador e as condições de trabalho. Para Dalmoro; Verdi (1999) o ser humano está em contínuo estado de adaptação, que provoca a tensão benéfica ou prejudicial.

Ainda sobre o estresse, Karasek; Theorel (1990) consideraram que a pressão (o próprio estresse) surgida no trabalho resulta da conjugação entre alta tensão psicológica e o baixo poder de decisão. Se a carga psicológica do trabalho fosse combinada às possibilidades, alternativas e autonomia do trabalhador, a situação não seria prejudicial. Importante citar que o grau de estresse é mais intenso entre “profissionais do cuidar” e os da área de segurança pública, saúde, educação por combinarem elevada carga psicológica e baixo poder de decisão.

Jackson Filho (2004, p.58) sobre “patologia organizacional” evidencia a precariedade do funcionamento do setor público, considerando que as atividades indicam modo degradado de funcionamento da administração pública, interferência dos processos sociais e políticos, seja na organização e também no desenho do trabalho. Ele reforça que os problemas de saúde dos agentes públicos estão diretamente relacionados às patologias de organização. Sua conclusão foi a de que o serviço público tem características nítidas de “organização patológica” com prevalência de distúrbio músculo esquelético, funcionamento precário e pouca margem de ação da direção local.

Organizações do trabalho rígidas (com um único modo de operação), conforme Jackson Filho (2004), paralisam a atividade psíquica espontânea restringindo o funcionamento psicológico. A precariedade das condições de trabalho, processos de intensificação e racionalização e pressão sofrida pelos cidadãos (conscientes de seus direitos e insatisfeitos com o serviço público) provocam a degradação do funcionamento do serviço público e uma forte associação com o adoecimento dos seus agentes.

Para Dejours (1994), a organização do trabalho inclui estrutura hierárquica, a divisão e o conteúdo das tarefas, a estrutura temporal e as relações humanas no contexto laboral. Permitir progressão funcional na organização significa estimular e reconhecer o bom desempenho das tarefas por parte do servidor. No serviço público a política de valorização do servidor é restrita e frequentemente não observada na prática, provocando desmotivação.

A organização do trabalho é importante fator de adoecimento psicológico. Cruz (2001), procura fazer relação entre tal organização e as cargas de trabalho, considerando que elas são produtos da capacidade em responder às exigências das tarefas e controlar os efeitos sobre as condições físicas e psicológicas do organismo. Cada trabalhador, em função de sua história de vida reage ao contexto laboral de forma diferente, seja ao interagir, adoecer. O

Referências

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