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CRÍTICADEURBANISMO-AREVOLUCIONÁRIASOLIDARIEDADEBRASILEIRANACOPADE2014

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A REVOLUCIONÁRIA SOLIDARIEDADE BRASILEIRA NA COPA DE 20141

Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB.

O Brasil pode oferecer uma lição ao mundo globalizado (e a si mesmo) nessa Copa de 2014. A lição é a da SOLIDARIEDADE aos muitos visitantes que certamente receberemos. Esses visitantes são vistos, pelo governo, pelos empresários, pela imprensa, como um grande e visível “butim”, uma oportunidade certa de lucros advindos dos gastos que aqui farão os turistas, atraídos pelo evento.

As projeções de lucros variam loucamente. Há quem os calcule na ordem de DEZENAS de bilhões de reais, ou mesmo na ordem de CENTENAS de bilhões de reais. Mas também há quem afirme que todo o esforço só valerá mesmo pelo amor ao esporte, pois os gastos públicos com estádios e todo o apoio (hotelaria, transportes, segurança, saneamento, etc.) NÃO serão pagos por essa contabilidade enganosa.

Apesar de imaginosa, a COPA de 2014 é vendida de forma impositiva, sem questionamentos, com a força dos que mandam no dinheiro público, dos que sabem “o que é bom para o Brasil”.

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Prevalece a imagem da cenoura pendurada na frente do burro, que o faria mover incessantemente: a perspectiva de lucro com os turistas estrangeiros deve criar uma enorme competição por sua atenção, pelo aproveitamento de cada dólar, de cada euro. Coisas humanamente loucas acontecem quando nos comportamos como asnos (famintos) apaixonados por cenouras.

O TURISTA DA COPA-2014 É VISTO COMO “FONTE DE DIVISAS”, COMO “GENTE A SER DEPENADA” E NÃO COMO “GENTE A SER RECEBIDA”

Mas, e se a população se comportasse de forma SOLIDÁRIA, e os brasileiros oferecessem suas casas para abrigar torcedores amigos do esporte, do mundo todo? E mais: se déssemos CARONA aos estrangeiros, emprestássemos os nossos CARROS para que eles conhecessem as nossas cidades? Se tratássemos as pessoas que vêm nos visitar como “pessoas da FAMÍLIA”, e colocássemos em prática toda a hospitalidade e carinho que caracteriza as nações verdadeiramente “resolvidas”?

O que os consultores das grandes empresas hoteleiras, das grandes construtoras (inclusive de VLTs e Metrôs), das grandes terceirizações que

serão, bilionariamente, contratadas, teriam a dizer do efeito da

SOLIDARIEDADE?

Diriam: VOCÊS SÃO LOUCOS. VOCÊS NÃO PODEM ESTAR A FALAR SERIAMENTE. ISSO NUNCA VAI ACONTECER. NÃO HÁ SALVAÇÃO FORA DA TERCEIRIZAÇÃO E DE GRANDES OBRAS.

Imagino se o Governo Federal fizesse uma campanha assim,

convocando os brasileiros moradores – assim como os grandes proprietários

de imóveis vazios, desocupados – das grandes capitais que sediarão os jogos, para apoiar um Esforço Nacional de Hospitalidade. Dá para imaginar? Certamente muito mais dinheiro público sobraria para que outra falácia deixasse de ser, efetivamente, uma mentira: a de que a Copa de 2014 vai tornar as nossas cidades muito melhores do que são, de um ano para o outro, e para sempre.

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A FALTA DE SOLIDARIEDADE PODE SER RELACIONADA AO EXCESSO DE CORRUPÇÃO? (OU MESMO À SUA CONTINUADA MANIFESTAÇÃO?)

A solidariedade dos brasileiros tanto pode reduzir drasticamente o volume de dinheiro mal empregado, desviado, super-capturado, que já começou a voar para as largas carteiras dos empresários-políticos, quanto pode por em xeque um dos fundamentos da CORRUPÇÃO: a crença de que ninguém realmente se importa em fazer do Brasil um país sério, um país solidário. A corrupção precisa, essencialmente, de anomia, ressentimento, egoísmo. Nessa escuridão, a CORRUPÇÃO corre solta, forte, impossível de ser contida.

A solidariedade dos brasileiros pode ser um exemplo extraordinário para todos os povos que nos recebem tão mal. O brasileiro, como povo latino e mestiço, como povo submetido a uma elite que bloqueia a chegada de nossa riqueza pública aos serviços públicos de educação, de saúde, na medida em que realmente deveria chegar (sem milagres), é muito maltratado por povos europeus, pelos norte-americanos, pelos povos a que pertencem os visitantes da Copa 2014. Estou muito equivocado ao afirmar isso?

O que seria de um mundo onde o exemplo de solidariedade e hospitalidade prevalecesse, como era o sonho dos povos antigos, em suas primeiras cidades-estado?

IDÉIAS QUE PODEM NÃO CABER NAS CABEÇAS DE TODOS NÓS Você consegue, por alguns segundos, admitir que os turistas da Copa 2014 sejam recebidos por nós, brasileiros, de forma a que não gastem essa dinheirama que os empresários desejam?

De outra forma: você gostaria de chegar a uma cidade estrangeira e ser recebido como uma “pessoa da família”, com carinho, com uma hospitalidade de ruborizar os donos das redes de hotelaria, os grandes senhorios donos do imóveis, do negócios, das almas urbanas?

Você gostaria de saber que, em vez de hotéis, você teria FAMÍLIAS a receber os visitantes, como você? O que você faria por uma família acolhedora? O acolhimento direto dos visitantes não pode estar associado a uma forma direta, sem intermediários ou burocratas, de distribuição de renda?

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Como uma vitoriosa política pública de acolhimento de visitantes poderia ser definida, fortalecida, estimulada?

E também: Há alguma relação entre a forma tradicional, capitalizadora, exploradora do turismo, e a ocorrência de prostituição, infantil, adolescente, adulta? E a ocorrência de violência contra o turista? O que esses especialistas em turismo têm a dizer sobre a HOSPITALIDADE SOLIDÁRIA?

SUSTENTABILIDADE SEM SOLIDARIEDADE?

A solidariedade está na base de uma nova economia realmente sustentável. Esse é um ponto que alguns “especialistas em sustentabilidade” parecem não compreender, de forma alguma. Há um imenso corpo de novas “tecnologias da sustentabilidade” que nada mais são que extensões de velhas maneiras de explorar a sociedade, o trabalho das pessoas, e impor estilos de vida.

Na área da arquitetura temos, por exemplo, os “etiquetadores” que avaliam o custo energético das edificações (desde sua construção até seu uso), mas que nada têm a dizer quanto à qualidade dos serviços prestados aos usuários, à valorização da experiência das pessoas nos espaços construídos, ao impacto que as grandes edificações “etiquetadas” como ambientalmente

corretas têm sobre o ambiente natural – ou sobre o ambiente urbano

pré-existente.

A sustentabilidade tem-se transformado no mais perverso ramo das tecnologias contemporâneas, e ser pode compreendida de forma ESVAZIADA DE VALORES, totalmente desempoderadora das populações urbanas. A sustentabilidade convertida em “tecnicismo” pode ser uma poderosa validadora das piores formas de depredação do ambiente e da população.

Uma das evidências disso é que todo o famigerado Setor Noroeste está a ser devidamente “etiquetado energeticamente” pela FAUUnB, de forma que é ingênua, superficial, míope ou cega, na melhor das hipóteses. Cada etiqueta vale a bênção da grife da UnB sobre um novo empreendimento imobiliário. Um trabalho muito bem pago, que garante a grife UnB num dos maiores desastres ambientais anunciados do Distrito Federal. Nada como ter a benção da Universidade Pública para os grandes negócios imobiliários. Nada como uma

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grande Universidade que NÃO DISCUTE as várias formas pelas quais é usada pela iniciativa privada mais oportunista do País. Devemos discutir isso.

PÁRA TUDO E DISCUTE A TUA RELAÇÃO COM O CAPITAL, UNB! E discute DIREITO, discute através de dissertações e teses, de publicações, dos sindicatos e centros acadêmicos, discute para valer! Esse é o caminho de gigantescas mudanças. Ou não?...

Para favorecer os espertalhões, não precisamos fazer muito. Somente o nome da UnB pode ser, ingênua e docemente, apresentado, ao lado desses grandes negócios. Basta estacionar a “grife UnB” ao lado da iniciativa de negócios. Basta isso.

A sigla sagrada da Universidade (ainda) é moralmente poderosa, parece (ainda) funcionar como uma espécie de LAVANDERIA MORAL. Os empresários do Setor Noroeste pagariam ainda mais por esse apoio, caso o licenciamento ambiental os contrariasse terminativamente.

Um dia a sociedade vai descobrir o que realmente é negociado nessas amplas conexões universitárias, e vai exigir a prestação de contas da

Universidade – que vai, com certeza, operar a imediata DESQUALIFICAÇÃO

de seus críticos. Uma estratégia que não vai funcionar sempre.

A grife UnB não custa realmente caro, é vendida barato e em silêncio. Esse modo multi-fragmentado de o nome da Universidade de Brasília ser usado em consultorias e por lobbyistas, em obras e serviços intermediados por suas Fundações de Apoio, na obscuridade, deve ser criticado, acerbamente. Todos esses negócios devem vir à luz, devem poder ser examinados em detalhe, sem a necessidade de ordens judiciais e grandes escândalos.

Sem transparência também não há sociedade que se sustente.

COMO APAVORAR LOBBYISTAS E OUTROS OPORTUNISTAS UNIVERSITÁRIOS (APROVEITANDO A COPA 2014)

Gostaria de ver alguns desses lobbyistas e consultores empresariais tradicionais, “quadradinhos”, apavorados por uma onda de solidariedade, que detonaria todos os seus parâmetros de cálculo (baseado essencialmente, no comportamento RACIONAL dos agentes econômicos, sobretudo dos donos do capital).

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Gostaria de ver esses consultores e lobbyistas enlouquecidos por algo que não controlam, algo que lhes dá pesadelos (secretos, indizíveis) só de pensar nessa possibilidade: uma comunidade nacional cheia de amor para dar.

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