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Treinamento de pilotos: processo cognitivo, consciência situacional e tomada de decisão

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Academic year: 2021

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THIAGO BENTO DE ARAUJO

TREINAMENTOS DE PILOTOS:

PROCESSO COGNITIVO, CONSCIÊNCIA SITUACIONAL E TOMADA DE DECISÃO

Palhoça 2018

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THIAGO BENTO DE ARAUJO

TREINAMENTOS DE PILOTOS:

PROCESSO COGNITIVO, CONSCIÊNCIA SITUACIONAL E TOMADA DE DECISÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Ciências Aeronáuticas, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Aeronáuticas.

Profa. Dra. Conceição Aparecida Kindermann

Palhoça 2018

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THIAGO BENTO DE ARAUJO

TREINAMENTOS DE PILOTOS:

PROCESSO COGNITIVO, CONSCIÊNCIA SITUACIONAL E TOMADA DE DECISÃO

Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Ciências Aeronáuticas e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Ciências Aeronáuticas da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 03 de Junho de 2018.

______________________________________________________ Profa. Orientadora Conceição Aparecida Kindermann, Dra.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Prof. Esp. Antônio Carlos Vieira de Campos Universidade do Sul de Santa Catarina

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Dedico este trabalho à minha família, que sempre me apoiam e apoiaram em tudo na minha vida.

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo geral compreender a importância e relação entre: processos cognitivos (principalmente a memória, atenção e esquemas mentais), consciência situacional (em seus três níveis) e tomada de decisão, analisando possíveis treinamentos para seus desenvolvimentos. Caracteriza-se como uma pesquisa de característica descritiva, com procedimento bibliográfico e abordagem qualitativa. Foram analisados materiais bibliográficos de pesquisa como: artigos, periódicos e livros que abordam temas relacionados à cognição humana, cognição e treinamento na aviação, consciência situacional e tomada de decisão. Ao finalizar a pesquisa, pôde-se evidenciar que a consciência situacional está intimamente ligada à tomada de decisão, e ambas sofrem influência de fatores como: experiência (adquirida ao longo da carreira), treinamento e processos cognitivos (principalmente memória operacional, memória de longa duração e atenção), que podem ser treinadas e, assim, ajudar no desenvolvimento da capacidade de pensamento de pilotos novatos, aumentando com isso, a segurança de voo.

Palavras-chave: Tomada de decisão. Consciência situacional. Processos cognitivos. Treinamento.

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ABSTRACT

The main goal of this resarch is to understand the importance and relationship between: cognitive process (especially memory, attention and mental schema), situational awareness (three levels) and decision making, analizing some trainings to develop them. It is an exploratory resarch, which analize some bibliography, like articles, periodicals and books related to human cognition, cognition and training in the aviation field, situation awareness and decision making. By the end of this resarch, it is concluded that situation awareness is close linked with decision making, and both are influenced by experiency, training and cognitive process (working memory, long term memory and attention), which can be trained and help to develop the thinking capabillity of novice pilots, consequently increasing the flight safety.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Modelo de memória de longo prazo de Tulving (1972) ...14 Figura 2 – Modelo de consciência situacional em tomadas de decisões dinâmicas ... 18 Figura 3 - Mecanismos da consciência situacional...19

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 08 1.1 PROBLEMA DA PESQUISA ... 08 1.2 OBJETIVOS ... 09 1.2.1 Objetivo geral ... 09 1.2.2 Objetivos específicos ... 09 1.3 JUSTIFICATIVA ... 09 1.4 METODOLOGIA ... 10

1.4.1 Natureza da pesquisa e tipo de pesquisa ... 10

1.4.2 População amostra/sujeitos da pesquisa/materiais e métodos ... 10

1.4.3 Procedimento de coleta de dados...11

1.4.4 Procedimento de análise dos dados...11

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ... 11

2 PROCESSOS COGNITIVOS... 12

3 A TOMADA DE DECISÃO E A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL ... 15

4 OS TREINAMENTOS DE CONSCIÊNCIA SITUACIONAL E TOMADA DE DECISÃO ... 20

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 23

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1 INTRODUÇÃO

A segurança de voo é um dos fatores mais importantes estudados e desenvolvidos na aviação. É a maior responsabilidade de um comandante, descrito como “o piloto responsável pela operação e segurança da aeronave, exercendo a autoridade que a legislação aeronáutica lhe atribui” (lei n°7183, 05/04/1984, cap. 2, art.7°), que “poderá delegar as suas atribuições a outro membro da tripulação, à exceção daquelas que se relacionem com a segurança de voo” (lei n°7183, 05/04/1984, cap. 2, art. 10°, parágrafo único).

Pilotos antes, durante e depois do voo têm que tomar muitas decisões, sendo que essas decisões afetam diretamente a segurança de voo, portanto, pode-se inferir que quanto mais rápidas e assertivas forem essas decisões, mais seguro será o voo. Segundo Adams (1993), essas características da tomada de decisão são a grande diferença entre pilotos experientes e novatos. Esse autor também descreve a importância da experiência, do treinamento, da capacidade cognitiva de memória e solução de problemas para se atingir níveis de “expert”.

Endsley (1998), além desses fatores, cita a consciência situacional como fator primordial para a tomada de decisão, sendo esta (consciência situacional) influenciada cognitivamente pela atenção e memória, principalmente. Os autores citados defendem que ao treinar tais habilidades cognitivas, poderá haver desenvolvimento da consciência situacional e da tomada de decisão nos pilotos, principalmente nos menos experientes.

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA

Tendo em vista que os fatores humanos se mostram cada vez mais importantes na carreira do piloto, já que hoje em dia ele gerencia mais os voos (seja seus instrumentos cada vez mais avançados tecnologicamente, sua tripulação, sua regulamentação, seus passageiros, etc.) do que nos primórdios da aviação, no qual a parte técnica era muito mais exigida em relação à não técnica, esta pesquisa baseia-se nas seguintes questões: quais fatores cognitivos são importantes para a consciência situacional e sua relação com a tomada de decisão? Como o desenvolvimento cognitivo pode ajudar no treinamento de pilotos? Qual a diferença, em termos de gerenciamento e julgamento, entre pilotos novatos e experientes?

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Compreender a importância e relação entre: processos cognitivos (principalmente a memória, atenção e esquemas mentais), consciência situacional (em seus três níveis) e tomada de decisão.

1.2.2 Objetivos específicos

Pesquisar sobre processos cognitivos, como a memória (operacional e de longa duração) e a atenção.

Identificar as competências cognitivas necessárias para um piloto, principalmente às relacionadas a consciência situacional e tomada de decisão.

Relacionar consciência situacional e tomada de decisão, analisando, a diferença entre pilotos experiente e novatos.

1.3 JUSTIFICATIVA

A aviação é uma atividade complexa, na qual os pilotos recebem muitas informações de variadas fontes, muitas vezes ao mesmo tempo, e sua função é captar essas informações, processa-las rapidamente, tomar uma decisão assertiva e então, tomar uma ação, fatores importantíssimos para a segurança de voo.

Esses processos são basicamente a consciência situacional e a tomada de decisão, e ambos são influenciados por alguns fatores, dentre eles alguns processos cognitivos que podem ser treinados e desenvolvidos. Pesquisas foram feitas indicando que através desses treinamentos, também é possível treinar consciência situacional e tomada de decisão, fazendo

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com que pilotos novatos atinjam mais rapidamente os níveis de capacidade de pensamento de piloto experiente, aumentando a segurança de voo.

Esta pesquisa procura explorar e, talvez, incentivar o treinamento cerebral e não técnico para o desenvolvimento de pilotos, tendo como público alvo os próprios pilotos, agências reguladoras, e instituições de ensino (escolas, aeroclubes e até mesmo universidades, como a Unisul), baseando-se em estudos da Federal Aviation Administration (FAA), United States Air Force (USAF), artigos científicos sobre fatores humanos na aviação, pesquisas de instituições que promovem treinamento cerebral.

1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Natureza da pesquisa e tipo de pesquisa

Esta pesquisa tem característica exploratória, com procedimento bibliográfico e abordagem qualitativa.

1.4.2 Materiais e métodos

Os materiais bibliográficos analisados nessa pesquisa são artigos, periódicos e livros que abordam temas relacionados à cognição humana, cognição na aviação, consciência situacional e tomada de decisão.

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1.4.3 Procedimentos de coleta de dados

O procedimento de coleta de dados qualitativos usado nessa foi executado através de matérias bibliográficos, como artigos, periódicos, livros e sites de internet.

1.4.4 Procedimentos de análise dos dados

Esta pesquisa foi realizada baseada em materiais bibliográficos com o objetivo de apresentar conceitos gerais de cognição e relacioná-los com a aviação, especificamente com a consciência situacional e tomada de decisão e também, discutir a possibilidade de desenvolvimento destas habilidades nos pilotos através de treinamento. Para isso usou-se o procedimento hipotético-dedutivo.

Os resultados desta pesquisa apontam que há relações entre cognição e habilidades não técnicas fundamentais para um piloto, as quais podem ser treinadas e desenvolvidas.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho divide-se em 5 capítulos, o segundo trata da cognição humana, focando em alguns processos como memória e atenção. O terceiro capítulo aborda a consciência situacional e a tomada de decisão de um piloto, analisando suas relações e os fatores que influenciam suas performances. O quarto capítulo analisa como treinamentos não técnicos são importantes para ajudar pilotos a gerenciarem seus voos e, o quinto capítulo são as considerações finais deste trabalho, seguidas das referências.

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2 PROCESSOS COGNITIVOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar alguns processos cognitivos, focando nos que são considerados mais influentes para alguns fatores na aviação, como a consciência situacional e a tomada de decisão, sendo, portanto, a base para os demais capítulos desta pesquisa.

A cognição é basicamente definida como a capacidade de aquisição de conhecimento. Porém ambos, a aquisição e o uso do conhecimento, envolvem muitas habilidades mentais, como a atenção (dividida ou focada), memória e solução de problemas, por exemplo (REED, 2012). Para esta pesquisa, a ênfase se dará para a atenção e a memória.

Sternberg (2012) defende que a atenção é o meio pelo qual se filtra e se processa-ativamente uma quantidade limitada de informação, proveniente de muitas fontes, através dos sentidos, memórias armazenadas e outros processos cognitivos, podendo ser consciente ou inconscientemente (processo atencional). Ele ainda cita que a atenção tem 4 funções principais que são: detecção de sinais e vigilância: tenta-se detectar o aparecimento de um determinado estímulo e quando detecta-se, já se está preparado para agir rapidamente; pesquisa: tenta-se perceber algum sinal (estímulo) em meio a distrações; atenção seletiva: escolhe-se focar em certos estímulos, ignorando outros, e o foco concentrado de atenção em estímulos informacionais específicos aumenta a capacidade de se manipular esses estímulos para outros processos cognitivos, como a compreensão verbal ou a resolução de problemas; e, por último, a atenção dividida, quando se aloca os recursos de atenção disponíveis para coordenar o desempenho de mais de uma tarefa por vez.

Segundo Mascarello (2016, p. 40), a memória é “a capacidade humana de registrar, conservar e relembrar mentalmente experiências de vida, conhecimentos, conceitos, sensações e pensamentos experimentados no decorrer do percurso da vida”. Além disso, Mascarello ainda cita que alguns autores defendem a possibilidade da existência de vários sistemas de memórias, dividindo-se em memória sensorial, memória de curto prazo, memória operacional (ou de trabalho) e memória de longo prazo. Neste estudo será dada maior ênfase para os dois últimos tipos citados.

A memória operacional (working memory) é definida como um conjunto de processos mentais que permite armazenar e processar informações temporárias, sendo fundamental para execução de tarefas complexas, como a compreensão da linguagem, aprendizagem e o raciocínio. (BADDELEY, 1992).

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De acordo com Baddeley e Hitch (1974), a memória operacional é composta por três sistemas, que incluem componentes para o armazenamento e processamento de informações, são eles: o sistema executivo central, que funciona como um vigilante da atenção, decidindo em que se deve prestar atenção e como organizar uma sequência de operações para se realizar uma ação; o circuito fonológico, que possibilita o gerenciamento e a retenção de materiais orais e escritos na memória; e o plano visual-espacial, que permite gerenciar e reter informações visuais.

Além destes três sistemas, Baddeley (2000) defende a existência de um buffer episódico, que é a integração de informações do circuito fonológico, da área de armazenamento visuo-espacial, da memória de longo prazo e da entrada perceptiva, criando uma sequência coerente. A memória operacional é limitada, e sua capacidade de armazenamento fica entre 5 a 9 partes de informação (chunks of information) ao mesmo tempo, além de ser ativa, ou seja, não só armazena informação como também as processam e as transformam.

A memória de longo prazo é o último estágio da retenção de informação e conhecimento. Diferentemente da memória operacional, acredita-se que ela é ilimitada em termos de quantidade de informação e tempo de armazenamento, sendo que através dela que se torna possível um adulto e/ou idoso se lembrar de acontecimentos da infância.

Segundo Tulving (1972), existem dois tipos de memória de longo prazo, são elas: a memória processual, responsável por armazenar o conhecimento de como executar tarefas, não envolve consciência ou pensamento, ou seja, é automático, por exemplo a capacidade de andar de bicicleta; o outro tipo é a memória declarativa, que armazena datas, fatos e eventos e se divide em: memória semântica, responsável por armazenar informação sobre o mundo, envolvendo conhecimento dos significados das palavras e conhecimentos gerais, usando para isso a consciência e o pensamento, por exemplo, saber que Londres é a capital da Inglaterra; e memória episódica, responsável por armazenar eventos que aconteceram em nossas vidas, envolvendo consciência e pensamento também.

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Figura 1 – Modelo de memória de longo prazo de Tulving (1972)

Fonte:<http://www.psychologywizard.net/tulvings-long-term-memory-ao1-ao2-ao3.html>.

Segundo Schmiedek, Lövdén e Lindenberg (2010), a performance cognitiva pode ser substancialmente melhorada através de treinamento e prática até a idades avançadas e esses ganhos de performance podem ser mantidos por muitos anos, ou seja, é possível treinar e desenvolver essas e outras habilidades cognitivas, devido à plasticidade cerebral, que permite criar novas conexões e incrementar circuitos neurais, assim melhorando sua funcionalidade, ou seja, quanto mais se usa um circuito neural, mais forte ele se torna.

Neste capítulo foi apresentado alguns conceitos importantes de processos cognitivos, os quais serão revistos e relacionados com a aviação nos próximos capítulos. Também foi descrito a possibilidade de desenvolvimento desses processos cognitivos através de treinamento, o que certamente é um fator importante para esta pesquisa.

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3 A TOMADA DE DECISÃO E A CONSCIÊNCIA SITUACIONAL

Neste capítulo será discutido a tomada de decisão e a consciência situacional, que são fatores importantes para os pilotos, como elas se relacionam entre si e com habilidades cognitivas.

A tomada de decisão é um dos desafios mais importantes para um piloto, seja em voo ou no solo, sendo um fator crucial para a segurança de voo. Ela é definida como um processo cognitivo que resulta na seleção de um curso de ação entre vários cenários alternativos (LIMA, 2013). Quando um piloto enfrenta uma situação e toma uma decisão “incorreta”, ou demora para tomar uma decisão ou mesmo não toma nenhuma decisão, coloca em risco diretamente a segurança de voo.

Há pesquisas que demonstram que uma grande porcentagem dos acidentes têm sido classificados como “erro do piloto”. Por exemplo, a pesquisa da Federal Aviation Administration (FAA) que (desde 1977), determinou que a maior causa de acidentes classificados como erro do piloto, envolveu problemas com a tomada de decisão ou processamento de informação cognitiva. (ADAMS, ERICSSON, 1992).

Ainda, segundo Lima (2013), a tomada de decisão pode ser de dois tipos, analítica ou automática (naturalística). No primeiro tipo, o tomador de decisão possui tempo hábil para avaliar a situação, identificar as opções disponíveis, analisar a relação custo x benefício de cada opção e então decidir o melhor curso de ação. Pilotos durante um planejamento de voo, por exemplo, tomam esse tipo de decisão.

O segundo tipo, automática, o tomador de decisão não possui tempo hábil para fazer tantas considerações, ele apenas avalia a situação (reconhece) e toma um curso de ação, sendo este tipo que os pilotos enfrentam em voo. Esta pesquisa tem como foco este tipo de decisão. Para que a tomada de decisão automática aconteça, o piloto usa, basicamente, sua memória, experiência e treinamento, sendo que a velocidade e a assertividade na solução de problemas são uns dos principais fatores que diferenciam pilotos experientes (experts, ou especialistas) de pilotos novatos. (LIMA, 2013).

Pilotos experientes demonstram possuir uma capacidade cognitiva mais avançada, através de decisões mais assertivas, rápidas e quase diretas do curso de ação adequado, sendo que essas decisões são tão rápidas que aparentam ser intuitivas. A evolução desses processos cognitivos nos pilotos mais “especialistas” está relacionada com o desenvolvimento de suas habilidades de voo, resultado de experiência, treinamento e capacidade de uso de sua

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memória, seja ela de longa duração (long term memory) ou a memória operacional (working memory), além de outras habilidades cognitivas, como a atenção (atenção dividida), solução de problemas, processamento de informação e esquemas mentais. (ADAMS, 1993).

Além dos fatores citados, outro fator primordial para a tomada de decisão e que também diferencia pilotos novatos de especialistas (experts) é a manutenção da consciência situacional (vide figura 1), definida como “a percepção dos elementos no ambiente dentro de um volume de tempo e espaço, a compreensão dos seus significados e a projeção das suas consequências no futuro” (ENDSLEY, 1988, p. 97).

Manter um elevado nível de consciência situacional durante o voo é um fator desafiador e crítico para atingir uma performance bem sucedida na aviação e manter a segurança de voo elevada, prova disso é que um estudo dos acidentes envolvendo as maiores companhias aéreas do mundo identificou que 88% dos acidentes envolvendo “erro humano” foram atribuídos a problemas com consciência situacional. (ENDSLEY, 1995).

A consciência situacional, segundo Endsley (1995), é dividida em três níveis, sendo o primeiro a percepção de elementos críticos para o voo, como outras aeronaves, terrenos, condições dos sistemas da aeronave, luzes de alerta, entre outros; o segundo nível envolve a compreensão e o significado desses elementos para o voo, ou seja, vai além do simples fato de perceber o que está havendo, e sim entender o que está acontecendo e; o terceiro e mais alto nível é definido como a habilidade de entender e projetar num futuro próximo as ações dos elementos no ambiente de voo, nível atingido através de conhecimento das condições e dinâmica dos elementos envolvidos e a compreensão da situação (níveis 1 e 2). Uma porção significativa do tempo utilizado por pilotos experts é direcionado em antecipar possíveis ocorrências futuras, dando-lhes tempo e conhecimento necessário para decidir o curso de ação mais favorável em relação à seus objetivos.

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Figura 2 – Modelo de consciência situacional em tomadas de decisões dinâmicas

Fonte: Endsley (1988).

Cognitivamente, a atenção, a memória (operacional e de longa duração) e modelos mentais são fatores cruciais e por serem limitados em capacidade, restringem a consciência situacional e também, a tomada de decisão, principalmente no pilotos inexperientes. Atenção direta é requerida para perceber fatores envolvendo o voo (nível 1 de consciência situacional) e processá-los, selecionar ações e executar respostas (tomada de decisão). Devido a quantidade e diversidade de informação, a seleção de um item específico para se atentar significa “deixar de lado” outras informações, com isso o piloto pode deixar de perceber e agir por falta de atenção, por isso o desenvolvimento da atenção dividida se mostra importante.

A memória operacional também tem papel importantíssimo nos 3 níveis de consciência situacional, pois permite que o piloto modifique sua atenção para informações mais importantes, também ajuda na facilitação da percepção dos elementos envolvidos no ambiente de voo e, uma vez percebidos, a maior parte da atividade relacionada com o processamento de informação acontece também na memória operacional, além da projeção de

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ações num futuro próximo e com isso, tomadas de decisões, gerando uma grande sobrecarga na memória, pois requerem a manutenção das condições presentes e as condições futuras.

A memória de longa duração, na prática, funciona como um apoio da memória operacional, devido sua limitação, ajudando no processo de percepção devido a categorização de elementos “estocados” na memória, além de ser fundamental no desenvolvimento de esquemas (mentais), que providenciam estrutura coerente para o entendimento de informação, abrangendo sistemas altamente complexos, estados e funções (ENDSLEY, 1995).

Um esquema ajuda a organizar muitos conjuntos de informação, e um tipo especial de esquema, denominado roteiro (script), fornece sequência de ações apropiadas para diferentes tipos de tarefas, facilitando os processos cognitivos, pois tornam muitas ações automáticas, com isso, aliviando a “necessidade de pensar” em todas as ações, ou seja, esses esquemas ajudam a criar modelos mentais, que ajudam na compreensão e na projeção de ações, reduzindo o sobrecarregamento da memória operacional.

Figura 3 – Mecanismos da consciência situacional

Fonte: Endsley (1988).

Como o ambiente de voo é complexo e o piloto recebe muitas informações ao mesmo tempo, o limite da atenção e memória operacional muitas vezes são excedidos, levando a uma quebra na consciência situacional devido a má percepção de elementos,

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seleção e foco de elementos errados e falta de processamento de informação, levando a uma tomada de decisão incorreta que, consequentemente, pode levar a um acidente aéreo.

Neste capítulo foi discutido que a consciência situacional e a tomada de decisão estão intimamante ligadas, uma influenciando a outra e, ambas são influenciadas por processos cognitivos como a memória (operacional e de longo prazo) e a atenção. Além disso, pilotos experiententes demonstram possuir níveis mais avançados de consciência situacional e tomadas de decisão mais rápidas e assertivas que pilotos novatos.

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4 OS TREINAMENTOS DE CONSCIÊNCIA SITUACIONAL E TOMADA DE DECISÃO

Este capítulo visa discutir treinamentos de pilotos, especialmente os treinamentos não técnicos, e que envolvam consciência situacional e tomada de decisão.

Apesar da inevitabilidade da tomada de decisão por um aviador, é curioso o fato que o treinamento de pilotos em todos os seus níveis, consiste em sistemas da aeronave, performance, meteorologia, procedimentos de emergência, navegação, controle de tráfego aéreo, etc., mas quase nenhum tempo é dedicado aos conhecimentos do processo cognitivo necessário para ordenar, organizar e aplicar esses conhecimentos (ADAMS, ERICSSON, 1992), além do que, ainda segundo esses autores, a habilidade do piloto de responder a uma acontecimento no voo, gerenciar essa situação, tirar uma conclusão e agir segundo essa conclusão, é possivelmente o único motivo pelo qual seres humanos continuarão nas cabines de comando de aviões no futuro.

Mesmo com a evolução da aviação e do treinamento de pilotos, ainda hoje pouca atenção é dada ao treinamento não técnico, que começou a ser desenvolvido na década de 1970 por grandes empresas aéreas, principalmente no começo da carreira, como nos cursos de piloto privado e piloto comercial, que pouca ou nenhuma atividade é voltada para parte não técnica, seja ela no curso prático ou teórico, especificamente sobre a parte da cognição.

A cognição pode ser definida como:

[...] um componente extremamente importante no treinamento operacional de pilotos da Aviação Civil, levando-se em conta que ela faz parte ativa do processo de conhecimento, o qual é somado aos estados mentais, que por sua vez incluem o pensamento, a aprendizagem, a consciência, as emoções, a atenção, o raciocínio, a memória, o juízo, a imaginação, o discurso e as percepções sensoriais. Todo esse processo é dependente de um melhor desempenho cerebral. (ABREU JUNIOR, 2013, p. 136).

As empresas aéreas brasileiras, assim como outras companhias aéreas estrangeiras, segundo Passaglia (2016), possuem treinamentos não técnicos, e adotam atividades como o CRM (Crew ou Company Resource Management), que é a aplicação prática dos fatores humanos (comportamento do piloto em voo, sua capacidade de tomada de decisão e de interagir bem com membros da equipe, a compreensão de pilotos perante os equipamentos disponíveis a bordo, a interação com o layout do cockpit, a comunicação entre os pilotos e controladores de voo, a orientação situacional e o entendimento dos softwares da aeronave) nos sistemas de aviação, com função de assimilar as teorias aprendidas para que o piloto seja capaz de aplicar seu conhecimentos em uma situação real. Outro treinamento é o

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LOFT (Line oriented flight training), realizado em simuladores de voo, com um cenário realístico e complexo, visando o desenvolvimento da comunicação, gerenciamento e liderança, e sua aplicação em conjunto com o CRM, é a forma mais divulgada para o exercício das habilidades não técnicas na aviação. Apesar de serem bons treinamentos, apresentam limitações. Para isso foram criados novos treinamentos mais completos, como o THS (treinamento de habilidades sociais), que aborda temas como: ansiedade e técnicas para seu controle, habilidades de se manter uma conversação eficaz, formas de se expressar positiva e negativamente, controle da agressividade, técnicas de tomadas de decisão, habilidades de expressar empatia e afeto, habilidades de colocação de opinião, habilidades de lidar com ansiedade e raiva de outros, entre outros e, o NOTECHS (non-technical skills), criado pela agência de aviação europeia, que é um sistema que instituiu uma padronização tanto no treinamento quanto na avaliação destas habilidades dentro de empresas aéreas. O sistema é apresentado em forma de quadros com quatro categorias gerais: cooperação, liderança/habilidades gerenciais, consciência situacional e tomada de decisão. Dentro de cada categoria existem elementos que representam cada habilidade não técnica. (PASSAGLIA, 2016).

Como já citado no capítulo 3, pilotos experts possuem a habilidade de identificar um problema enquanto ele se desenvolve, e através desse pensamento à frente, começam a solucionar problemas intuitivamente através da percepção da situação. Para isso usam habilidades como percepção (atenção), memória, solução de problemas e conhecimento de tomada de decisão.

Adams (1993) cita que pesquisas mostraram que essas habilidades podem ser aprendidas e/ou desenvolvidas através de treinamento específico, além disso, extensivas validações experimentais e testes empíricos na aviação civil e militar mostraram que a taxa de acidentes reduziu 50% comparando pilotos que fizeram e não fizeram treinamento de tomada de decisão. Uma das conclusões que Adams (1993) chegou é que treinamentos para melhorar memória, solução de problemas e atenção, por exemplo, são fatores importantes para o desenvolvimento da capacidade de tomada de decisão, citando que até mesmo programas de treinamento cognitivo sem relação com a aviação podem ser úteis, como o Brain GYM, que visa desenvolver memória, lógica, atenção e habilidades organizacionais.

Além de Adams, Endsley e Robertson (2000) concluem que um bom nível de consciência situacional é o coração de uma boa tomada de decisão e performance na aviação. Um treinamento focado em desenvolver a consciência situacional deveria ser altamente efetivo na redução dos níveis de acidentes e incidentes na aviação. É bem possível que

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programas de treinamento direcionados para melhorar as principais habilidades cognitivas como: atenção dividia, gerenciamento de tarefas, planos de contingência, aquisição e filtragem de informação, entre outras, são importantes para atingir e manter um bom nível de consciência situacional em voo.

Além disso, esses autores defendem que um programa de treinamento orientado para consciência situacional e tomada de decisão deveria ser implementado durante o treinamento inicial de pilotos, após a fase do desenvolvimento psicomotor (na qual o aluno já conhece e opera bem o avião), com foco no desenvolvimento de esquemas e modelos mentais, que permite pilotos experientes terem melhor entendimento da importância, consequências, tempo, níveis de risco e capacidades associadas com diferentes eventos e opções. Este tipo de treinamento focaria na criação dos níveis 2 e 3 de consciência situacional, já estudados no capítulo 3.

Neste capítulo vimos que cada vez mais a indústria aeronáutica se preocupa com a parte não técnica e busca desenvolver treinamentos voltados para as habilidades sociais, muitos treinamentos já foram criados e ainda estão sendo aperfeiçoados.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo geral compreender a importância e relação entre: processos cognitivos (principalmente a memória, atenção e esquemas mentais), consciência situacional (em seus três níveis) e tomada de decisão. Foi utilizada, desta forma, a pesquisa exploratória com abordagem qualitativa. Foram analisados materiais bibliográficos como artigos, periódicos e livros relacionados à cognição humana, cognição na aviação, consciência situacional e tomada de decisão com embasamento teórico de autores como Endsley (1995) e Adams (1993).

Conclui-se com este estudo que muito da capacidade decisória de um piloto é influenciada pelo seu nível de consciência situacional, sendo que ambos são uns dos principais fatores que diferenciam pilotos experts de novatos e, para isso, tanto a tomada de decisão quanto a consciência situacional são influenciadas por fatores como a experiência, o treinamento e processos cognitivos. A experiência é adquirida ao longo dos anos de atividade, treinamento teórico e prático são realizados desde os primeiros cursos até em companhias aéreas, já os processos cognitivos não têm a mesma visibilidade quanto os demais treinamentos, principalmente no início da formação de um piloto, que quase não entram no mérito de treinamentos não técnicos, apesar de sua importância cada vez maior no processo de maturação do piloto.

Habilidades cognitivas como a memória operacional, memória de longo prazo, atenção dividida, foco e solução de problemas, são fatores primordiais para a consciência situacional e a tomada de decisão, que podem serem treinadas e desenvolvidas fora de um ambiente de voo, ajudando no desenvolvimento de pilotos, principalmente dos inexperientes.

Segundo os objetivos específicos deste trabalho constatou-se que a memória (operacional ou de trabalho) e a de longo prazo são habilidades cognitivas distintas e importantes, tanto para a aviação quanto para demais atividades cotidianas e para o aprendizado e, assim como a atenção (principalmente seletiva e dividia), outra habilidade cognitiva, podem ser desenvolvidas através de treinamento específico, devido à neuroplasticidade cerebral.

Pilotos em voo utilizam muito suas competências cognitivas, dentre as quais se destacam as citadas anteriormente, influenciando diretamente a consciência situacional e a tomada de decisão. A memória operacional é limitada em termos de capacidade e tempo de

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armazenamento, ao contrário da memória de longo prazo, que é ilimitada em capacidade e tempo de armazenamento. A atenção é fator crucial para o voo, principalmente para a manutenção da consciência situacional, pois permite que os pilotos percebam uma ou mais informações ao mesmo tempo (atenção dividida) e se concentrem em suas atividades (atenção seletiva).

O desenvolvimento dessas habilidades cognitivas também influenciam o amadurecimento do piloto, já que algumas das diferenças entre pilotos novatos e experientes são: a maior e melhor manutenção da consciência situacional durante o voo e a tomada de decisão mais rápida e assertiva, por parte dos pilotos mais experientes em relação aos novatos.

A grande dificuldade dessa pesquisa foi encontrar um método específico para treinamento direcionado de consciência situacional e tomada de decisão, até porque autores que trabalham com esse tema ainda estão buscando desenvolver tais treinamentos.

Para novos estudos nessa área, sugiro pesquisas de treinamentos específicos para a memória e a atenção de pilotos, assim como a consciência situacional e tomada de decisão. Também sugiro a criação e análise de um programa de desenvolvimento de pilotos, desde a sua formação inicial, que abranjam esse tipo de treinamento não técnico.

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REFERÊNCIAS

ABREU JUNIOR, C. E. Os desafios do treinamento e da qualificação de pilotos no século XXI. SIPAER, 2013. Disponível em < http://docplayer.com.br/11924402-Os-desafios-do-

treinamento-e-da-qualificacao-de-pilotos-no-seculo-xxi-celio-eugenio-de-abreu-junior-1.html> Acesso em: 01 mar. 2018.

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Referências

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