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QUINTA CÂMARA CÍVEL REEXAME NECESSÁRIO DE SENTENÇA C/ RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL Nº 74582/ CLASSE II COMARCA DE NOVA MONTE VERDE

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INTERESSADO/APELANTE: MUNICÍPIO DE NOVA MONTE VERDE

INTERESSADO/APELADO: SEGUNDO OFÍCIO DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS E TABELIONATO DE NOTAS DO MUNICÍPIO DE NOVA MONTE VERDE

Número do Protocolo: 74582/2006 Data de Julgamento: 06-12-2006

EMENTA

SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO - PRETENSÃO MUNICIPAL DE TRIBUTÁ-LOS PELA COBRANÇA DE ALVARÁ DE FUNCIONAMENTO - CARÁTER PÚBLICO DOS SERVIÇOS – COMPETÊNCIA FISCALIZATÓRIA DA CORREGEDORIA-GERAL DA JUSTIÇA - SENTENÇA CONFIRMADA.

É incabível a cobrança de alvará de funcionamento das serventias extrajudiciais pelo Município.

O poder de polícia a ser exercido sobre os serviços notariais e registrais prestados pelas serventias extrajudiciais, é da competência exclusiva do Poder Judiciário, e não do Poder Público Municipal.

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INTERESSADO/APELANTE: MUNICÍPIO DE NOVA MONTE VERDE

INTERESSADO/APELADO: SEGUNDO OFÍCIO DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS E TABELIONATO DE NOTAS DO MUNICÍPIO DE NOVA MONTE VERDE

RELATÓRIO

EXMO. SR. DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI Egrégia Turma:

Trazem os autos reexame necessário da sentença que deferiu a segurança pretendida pela impetrante, a fim de declarar a ilegalidade da tributação dos serviços cartoriais e registrais prestados pelo 2º Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas da Comarca de Nova Monte Verde.

A sentença em reexame afastou a cobrança de alvará de funcionamento exigida pelo Município, por entendê-la indevida, ante a inocorrência de fato gerador do aludido gravame, não sendo de competência do Município o exercício do poder de polícia sobre a referida serventia extrajudicial.

O Município apresentou recurso de apelação, onde pugna pela reforma da sentença, alegando que a cobrança é legal.

Em contra-razões a apelada rechaça os argumentos expendidos pelo apelante.

A douta Procuradoria de Justiça opina pela confirmação da sentença reexaminanda.

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VOTO

EXMO. SR. DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI (RELATOR) Egrégia Turma:

Afigura-se a discussão judicial acerca da possibilidade ou não de tributação dos serviços cartoriais por meio da cobrança de alvará de funcionamento pelo Município.

Interessa, então, para o deslinde da controvérsia, investigar a natureza jurídica dos serviços prestados pelos Cartórios extrajudiciais.

Dispõe o artigo 236 da Constituição Federal que os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, sob delegação do Poder Público.

Para alguns, o dispositivo constitucional deixou evidenciado que o regime jurídico das serventias extrajudiciais é o de direito privado, e, portanto, os serviços por eles prestados conservam essa natureza.

Não concordamos com tal opinião.

Não é relevante para a classificação da natureza do serviço saber se o mesmo estará sendo prestado pelo Poder Público ou por particulares; o que interessa é aferir o regime jurídico sob o qual é prestado, pois a Constituição Federal expressamente autorizou que serviços públicos fossem prestados pela iniciativa privada, pelos mecanismos da concessão, delegação ou permissão.

E ninguém ousa discordar que mesmo entregues à exploração particular, os serviços públicos concedidos, permitidos e delegados conservam sua natureza publicista, isto é, mesmo prestados pela iniciativa privada permanecem sendo res extra

commercium.

Estamos então que os serviços notariais e registrais são serviços explorados por particulares, mediante delegação do Poder Público, que a teor do próprio texto constitucional, deverá estabelecer por meio de lei federal a forma de remuneração dos serviços

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Essa simples constatação já aponta a natureza diferençada dos serviços em comento, que possuem regras e limites de valores definidos em lei, e ainda submetem-se à fiscalização do poder concedente.

Walter Ceneviva leciona que o "serventuário do chamado foro

extrajudicial é servidor público, sem mais autonomia administrativa que um chefe de repartição, do qual se distingue por não ser remunerado diretamente pelo Estado, mas pelos interessados no registro, segundo critérios que o Estado impõe, delimita, sistematiza e sujeita a fiscalização, disciplina e punição" (in Lei dos Registros Públicos Comentada, 6ª ed., ed.

Saraiva, pág. 51).

Da mesma forma, o Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento de que:

O fato, por si só, de no art. 236, 'caput', da CF, estar inserida a expressão de que os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, não conduz ao entendimento posto no recurso, pois, logo a seguir, está a determinação nuclear de que tais serviços, por continuarem a ser público, necessitam de delegação do Poder Público para quem vai exercê-los, pelo que deverão executá-los de acordo como a lei determinar e só poderão receber tal delegação os que forem, pelo próprio Poder Público, julgados aptos pela via do concurso público.

A natureza pública dos serviços notariais e de registro não sofreu qualquer desconfiguração com a CF/88. Em razão de tais serviços estarem situados em tal patamar, isto é, como públicos, a eles são aplicados o entendimento de que cabe ao Estado o poder indeclinável de regulamentá-los e controlá-los, exigindo sempre sua atualização e eficiência de par com o exato cumprimento das condições impostas para sua prestação ao público (ROMS nº 7.730/RS

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Sendo públicos os serviços, cumpre analisar a necessidade de obtenção do aludido alvará do Município para seu regular funcionamento.

O ponto nodal da controvérsia para se aferir a ocorrência ou não fato gerador que legitime a cobrança do gravame em questão, é fixar de quem é a competência fiscalizatória sobre os cartórios extrajudiciais.

José dos Santos Carvalho Filho, conceituando alvará assevera que:

Alvará é o instrumento formal expedido pela Administração, que, através dele, expressa aquiescência no sentido de ser desenvolvida certa atividade pelo particular. Seu conteúdo é o consentimento dado pelo Estado, e por isso se fala em alvará de autorização, alvará de licença etc (in Manual de Direito

Administrativo, 14ª ed., 2005, ed. Lúmen Júris, pág. 117).

A taxa de polícia ou fiscalização é cobrada em virtude de atividade estatal tendente a limitar direitos ou liberdades individuais em prol da coletividade.

Percebe-se então, que o alvará é decorrência de fiscalização, atuação positiva realizada pelo Poder Público, em relação a uma atividade do particular.

Fixada a premissa de que a atividade do notário e do registrador é considerada serviço público, não tem os Municípios competência para autorizar ou não a sua prestação ou funcionamento.

Aludidos serviços públicos não estão sujeitos à autorização, licença ou mesmo fiscalização pelo Poder Público Municipal. A competência para fiscalizar a atividade dos cartórios extrajudiciais é afeta ao Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, e não ao Município em que está localizada a serventia.

A lei 8935/95 que regulamenta o artigo 236 da Constituição Federal dispõe que:

Art. 37. A fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro, mencionados nos arts. 6o a 13, será exercida pelo juízo competente, assim definido na órbita estadual e do Distrito Federal, sempre que necessário, ou mediante

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A Consolidação das Normas Gerais da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Mato Grosso (CNGC), no Capítulo 8, Seção 7, que fixa as Normas Específicas para os Serviços Notariais e de Registros, estabelece:

“Seção 7 - Da Fiscalização Administrativa

- A fiscalização administrativa é de competência do Juízo da Direção do Foro da comarca, sem prejuízo das atribuições do Corregedor-Geral da Justiça, entendido este como autoridade competente, nos termos do artigo 38 da Lei 8.935/94.”

Nessa senda, o poder de polícia a ser exercido em serviços desta natureza, é da competência exclusiva do Poder Judiciário, e não do Poder Público Municipal, conforme se infere dos dispositivos legais supracitados.

Como bem apontado na r. sentença, verbis:

No caso em tela, forçoso reconhecer que, a Administração Pública Municipal não pode exercer o poder de polícia sobre a atividade dos Serviços Registrais e Notariais, em que pese eles sejam exercidos de forma privada, eis que mantém o seu caráter público por delegação do Poder competente, e cabe tão somente à Corregedoria Geral de Justiça exercer qualquer poder de polícia fiscalizador sobre as suas atividades.

Quebrado o liame que justifica a exigência do alvará de funcionamento, qual seja, o poder de polícia a ser exercido pelo Município, tem-se que os cartórios extrajudiciais prescindem do referido alvará, demonstrando-se indevida a cobrança de qualquer taxa para sua concessão, pois não há que se falar em ocorrência do fato gerador desse tributo (fl.53).

No mesmo sentido aponta a jurisprudência:

EMENTA - REEXAME NECESSÁRIO DE SENTENÇA - MANDADO DE SEGURANÇA - ISSQN - SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS – CARÁTER PÚBLICO NÃO TRIBUTÁVEL IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA -INCONSTITUCIONALIDADE DO DISPOSITIVO DA LEI COMPLEMENTAR

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MUNICIPAL - COBRANÇA DE TAXA DE FUNCIONAMENTO - ILEGALIDADE - ORDEM CONCEDIDA. SENTENÇA MANTIDA.

Os serviços notariais e registrais, exercidos por delegação, são de natureza pública e remunerados por emolumentos que possuem natureza tributária, qualificando-se como taxas remuneratórias de serviços públicos, portanto, não tributáveis e protegidos pela imunidade tributária recíproca instituída pela Constituição Federal.

Não cabe ao Município exigir o pagamento de taxa de funcionamento de Cartório de Registro Público nele situado, se efetivamente sobre este não exerce nenhum poder de polícia justificador da referida taxa.

MANDADO DE SEGURANÇA - ALVARÁ DE FUNCIONAMENTO - CARTÓRIOS EXTRAJUDICIAIS. O poder de policia a ser exercido por serviços desta natureza, ainda que relacionado a questão urbanística, é da competência exclusiva da Corregedoria do Tribunal de Justiça, de forma que a exigência pelo Distrito Federal de Alvará de Funcionamento é indevida (TJDF -

20000110819829APC, Relator EDSON ALFREDO SMANIOTTO, 2ª Turma Cível, julgado em 01/12/2003, DJ 22/04/2004 p. 35)

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MUNICÍPIO DE RIO PARDO. LEI COMPLEMENTAR Nº 1.302/03 QUE, AO CONFERIR NOVA REDAÇÃO AO CÓDIGO TRIBUTÁRIO MUNICIPAL, INCLUIU AS ATIVIDADES NOTARIAIS, REGISTRAIS E CARTORÁRIAS NA LISTA DE SERVIÇOS TRIBUTÁVEIS (ART. 286, § 1º, ITEM 21 E SUBITEM 21.01). COBRANÇA DO IMPOSTO QUE ENCONTRA ÓBICE NO ARTIGO 150, VI, a, e § 3º, DA CARTA FEDERAL, E NO ARTIGO 140, caput, OBSERVADOS POR FORÇA DO ART. 8° DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. INVIABILIDADE DE TRIBUTAR TAIS ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS, DADA A NATUREZA PÚBLICA, CUJA EXECUÇÃO É DELEGADA PELO PODER PÚBLICO, EMBORA PRESTADA EM

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PRESTADOS SOB O REGIME DE DIREITO PRIVADO, NELES NÃO SE INCLUINDO AS ATIVIDADES DESEMPENHADAS PELOS NOTÁRIOS E

REGISTRADORES. EMOLUMENTOS COBRADOS PELOS SERVIÇOS

PRESTADOS QUE POSSUEM NATUREZA TRIBUTÁRIA DE TAXA, CONSOANTE ITERATIVA JURISPRUDÊNCIA DO STF. PRECEDENTES

JURISPRUDENCIAIS NO SENTIDO DA INDEVIDA INGERÊNCIA

FISCALIZATÓRIA DO ENTE MUNICIPAL SOBRE OS SERVIÇOS PRESTADOS

POR TAIS SERVENTIAS. REPRESENTAÇÃO ACOLHIDA. AÇÃO

PROCEDENTE. VOTO VENCIDO (Ação Direta de Inconstitucionalidade Nº

70013991229, Tribunal Pleno, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Ari Azambuja Ramos, Julgado em 10/04/2006)

Por todo o exposto, nego provimento ao apelo, conheço da remessa voluntária, por força do que determina o artigo 12 da Lei nº 1.533/51, e mantenho a sentença reexaminanda, em todos os seus termos.

Sem custas. É como voto.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, por meio da Turma Julgadora, composta pelo DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI (Relator), DR. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (Revisor) e DES. SEBASTIÃO DE MORAES FILHO (Vogal), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, RATIFICARAM A SENTENÇA SOB REEXAME. APELO VOLUNTÁRIO IMPROVIDO.

Cuiabá, 13 de dezembro de 2006.

---DESEMBARGADOR ORLANDO DE ALMEIDA PERRI - PRESIDENTE DA QUINTA CÂMARA CÍVEL EM SUBSTITUIÇÃO LEGAL E RELATOR

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