• Nenhum resultado encontrado

As grandes construtoras e a política econômica nos governos Lula e Dilma

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "As grandes construtoras e a política econômica nos governos Lula e Dilma"

Copied!
101
0
0

Texto

(1)

Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Mariana Rocha Sabença

As Grandes Construtoras e a Política Econômica nos Governos Lula e Dilma

Campinas 2018

(2)

Mariana Rocha Sabença

As Grandes Construtoras e a Política Econômica nos Governos Lula e Dilma

Dissertação apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Ciência Política.

Orientador: PROF. DR. ARMANDO BOITO JUNIOR

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA

ALUNA MARIANA ROCHA SABENÇA E

ORIENTADA PELO PROF. DR. ARMANDO BOITO JR.

CAMPINAS 2018

(3)
(4)

Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 21 de novembro de 2018, considerou a candidata Mariana Rocha Sabença aprovada.

Profº Drº Armando Boito Junior

Profº Drº Alvaro Gabriel Bianchi Mendez Profº Drº Pedro Linhares Rossi

A Ata de Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/ Sistema de Fluxo de Dissertações e na Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.

(5)

Aos que doaram e ainda doarão suas vidas na luta contra o fascismo.

(6)

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) que viabilizou financeiramente esta pesquisa e ao meu orientador Armando Boito Jr. pela paciência, pela dedicação e por todo aprendizado sem os quais jamais este trabalho seria possível.

Agradeço, sobretudo, aos meus pais, Cidinha e Afonso que sempre fizeram os maiores esforços para que eu pudesse sonhar um dia estar aqui. À minha avó Cléa e minha tia Rosana que mesmo à distância sempre cuidaram para que eu mantivesse o meu sorriso.

Serei também eternamente grata aos amigos, camaradas e companheiros de estudo do Grupo de estudos althusserianos (GEAL) Celso Kashiura, Leandro Forner, Márcio Naves e Vinícius Gonzaga que sempre acreditaram em mim, me incentivaram e sem os quais jamais teria avançado teoricamente. E aos professores Alvaro Bianchi e Marcos Novelli e Pedro Rossi cujas críticas tanto contribuíram para este trabalho.

À André que com sua ternura tornou os dias duros mais doces. À Laís Galliac, Larissa Pichner e Marcos Castro que nunca deixaram faltar encanto na minha melodia e em especial à Juliana Mafia, pessoa ímpar que me presenteou com sua amizade, companheirismo e me ensinou, entre muitas outras coisas, a me permitir. Obrigada por dividir essa e tantas outras jornadas comigo!

Agradeço também a Doraci Lopes com quem dei meus primeiros passos na vida acadêmica. À Gislaine Marangoni, minha amiga fiel, comadre e irmã e à Lorenzo que me faz ter fé no futuro. À Raphael Machado que me acolheu desde meus primeiros dias na UNICAMP e ajudou a viabilizar este trabalho e a Thaís Souza que sonhou junto comigo este sonho e com quem compartilhei deliciosas horas de estudo que sempre lembrarei com saudade.

Às amigas e companheiras de trabalho, Amanda Souza, Nathalia Paz e Suzana Petropouleas por todo apoio nos momentos em que menos acreditei em mim e especialmente à Natália Felix pelas longas conversas que tanto contribuíram para este trabalho, ajudas tecnológicas de todo tipo, mas a cima de tudo pela sua solidariedade e empatia.

(7)

Agradeço também aos camaradas do Partido Comunista Brasileiro que sempre me ajudaram para que teoria e prática caminhassem lado a lado. E, por fim, a todos que me ajudaram de alguma forma na minha trajetória até aqui e que eu possa eventualmente ter esquecido de mencionar, o meu mais sincero agradecimento.

(8)

“Eu preparo uma canção

em que minha mãe se reconheça, todas as mães se reconheçam, e que fale como dois olhos.” (Carlos Drummond de Andrade)

“Quem são os nossos inimigos? Quem são os nossos amigos? Essa é uma pergunta importantíssima para a revolução.”

(9)

Resumo

Esta pesquisa versa sobre os interesses e o posicionamento político das grandes construtoras atuantes no Brasil durante o segundo governo de Lula da Silva (2007-2010) e o primeiro governo Dilma Rousseff (2011-2014) – período que engloba o que estamos chamando de neodesenvolvimentismo. Fizemos o levantamento das maiores construtoras do período e analisamos sua estrutura acionária com o intuito de descobrir a nacionalidade do controle acionário dessas empresas. Para a identificação de seu posicionamento político acerca desses governos, nos debruçamos sobre documentos da ABDIB – entidade representativa nacionalmente dessa camada de empresários. Posteriormente cotejamos os interesses dessas empreiteiras e as medidas e iniciativas estatais referentes a elas adotadas durante esses governos com a opinião de próceres ligados ao PSDB com o propósito de descobrir se essas empresas têm seus interesses vocalizados por esta agremiação no plano partidário durante este período. Defendemos que as grandes construtoras brasileiras são parte integrante do que estamos denominando de burguesia interna – setor da burguesia que procura, em concorrência com o capital financeiro internacional, manter e fortalecer sua posição na economia brasileira e que para isso conta com o apoio do Estado brasileiro.

Palavras chave: burguesia interna, construção pesada, obras de infraestrutura, empreiteiras, ABDIB, governo Lula, governo Dilma, neodesenvolvimentismo, neoliberalismo

(10)

Abstract

This research deals with the interests and political positioning of large construction companies operating in Brazil during Lula da Silva‟s second term as president (2007-2010) and Dilma Rousseff‟s first term (2011-2014) – a period that encompasses what we call new developmentalism. We traced the largest construction companies of such period and analyzed its shareholding structure with the purpose of discovering the nationality of the shareholding control of these companies. In order to identify their political positioning on these governments, we examined documents coming from ABDIB – an entity that represents companies of the infrastructure and heavy industry sector. Subsequently, we compared the interests of these contractors and the government's measures and initiatives adopted during the period mentioned above with the opinion of leaders linked to opposition political party PSDB in order to find out if those companies had their interests voiced by such political party. We advocate that the largest Brazilian construction companies are part of what we call “internal bourgeoisie” – a sector of the bourgeoisie that seeks, in competition with international financial capital, to maintain and to strengthen its position in the Brazilian economy, with the support of the Brazilian government.

Keywords: internal bourgeoisie, contractors, ABDIB, Lula‟s administration, Dilma‟s administration, new developmentalism, neoliberalism

(11)

Sumário

Introdução à pesquisa 13 Capítulo 1– A definição da abordagem 16

Capítulo 2 – A genealogia das grandes construtoras atuantes no Brasil no 2º Governo Lula (2007-2010) e no 1º Governo Dilma (2011-2014) 25

2.1 Segundo Governo Lula da Silva (2007-2010)

2.2 Primeiro Governo Dilma Rousseff (2011-2014)

2.3 A Estrutura Acionária das Grandes Construtoras atuantes no Brasil 2º Governo Lula (2007-2010) e no 1º Governo Dilma (2011-2014)

2.4 Conclusão

Capítulo 3 – A avaliação das grandes construtoras brasileiras sobre a política econômica do 2º Governo Lula (2007-2010) e 1º Governo Dilma (2011-2014) 41

3.1 A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB)

3.2 A avaliação da ABDIB sobre o segundo Governo Lula da Silva (2007-2010)

3.3 A avaliação da ABDIB sobre o primeiro Governo Dilma Rousseff (2011-2014)

3.4 Conclusão

Capítulo 4 – A proposta do PSDB para as grandes construtoras brasileiras 61

Capítulo 5 – A Posição da Grande Mídia Brasileira Sobre as Grandes Construtoras Brasileiras 88

(12)

Conclusão 93

(13)

Introdução à pesquisa

Esta pesquisa se insere em um projeto mais amplo – o Projeto Temático intitulado Política e classes sociais no capitalismo neoliberal. Seu tema geral são as relações e os conflitos de classe no modelo capitalista neoliberal implantado no Brasil a partir da década de 1990 e seu enfoque teórico consiste em vincular o processo e as instituições políticas àquelas relações e àqueles conflitos.

Esse grande projeto contempla pesquisas referentes à classe dominante, às classes médias, ao campesinato, aos assalariados urbanos e à denominada “massa marginal”. Cada uma dessas classes é considerada em suas diferentes frações e camadas – as frações da burguesia e da classe média, as camadas do campesinato e do operariado – e também na condição política em que cada uma se apresenta no período histórico presente – se como força social distinta e mobilizada ou como base política passiva de um determinado campo político etc.

A nossa pesquisa se ocupa da classe dominante. Aqui, o que interessa é analisar a relação da política econômica e social do Estado brasileiro no período de vigência do modelo capitalista neoliberal com a burguesia, levando em conta a diferenciação de interesses entre as frações da classe burguesa.

O período capitalista neoliberal no Brasil – iniciado em 1990 e que se estende até os dias atuais – pode ser dividido grosso modo, no plano político, em quatro fases até o período em que analisamos. A primeira fase – a de implantação do modelo (1990-1996) – corresponde aos Governos de Collor, Itamar Franco e aos dois primeiros anos do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. A segunda representa a consolidação do modelo (1996-1999), a terceira contém uma etapa de crise do mesmo – que se configura nos últimos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso – e, por fim, outra etapa de reforma do neoliberalismo correspondente aos anos do Governo Lula e Governo Dilma.

Uma das hipóteses do projeto temático referente às classes dominantes aventa que o Governo Lula promoveu alterações secundárias, mas significativas no interior do modelo capitalista neoliberal. Por um lado, alargou as políticas sociais compensatórias dirigidas às classes dominadas, mas, por outro lado, articulou a ascensão política da grande burguesia interna dentro do bloco no poder. Com isso, iniciou uma política econômica que

(14)

denominamos neodesenvolvimentismo – política esta de desenvolvimento que tolera os limites estreitos impostos pelas exigências do capital financeiro. Ou seja, pode-se dizer que o Governo Lula representou a ascensão política da grande burguesia interna, burguesia esta que formou uma frente política neodesenvolvimentista juntamente a tal governo e a parte do operariado representado pela CUT e pelo PT.

Estamos aqui particularmente interessados nessa ascensão política da grande burguesia interna no interior do bloco no poder. Na relação da grande burguesia interna – mais especificamente das grandes empreiteiras – com o segundo Governo Lula (2007-2010) e primeiro Governo Dilma (2011-2014) e sua representação de interesses.

As grandes empreiteiras da construção pesada são consideradas empresas que integram o que denominamos grande burguesia interna, que é um setor da burguesia que procura – em concorrência com o capital financeiro internacional – manter e fortalecer a sua posição na economia brasileira. Para isso, conta com medidas e iniciativas do Estado brasileiro: a disposição do governo para investir em obras públicas, políticas públicas voltadas para os setores em questão, juros reduzidos, preferência nas compras e licitações públicas, financiamento a juro subsidiado pelo BNDES, taxa de câmbio favorável, o apoio do Estado brasileiro para as grandes construtoras nacionais que disputam obtenção de obras em outros países da América Latina, da África e do Oriente Médio, entre outras.

A política econômica dos governos Lula e Dilma favoreceu a burguesia interna e ela se reconheceu nessa política econômica. O mesmo não ocorreu com o Partido da Social Democracia (PSDB) – principal opositor destes governos no plano partidário – que não se preocupou em encampar tais interesses. Tendo isso em vista, pretendemos no decorrer desta dissertação desvendar quais são os alinhamentos, as disputas e os conflitos destas grandes empreiteiras brasileiras. A intenção aqui é investigar como um determinado setor da grande burguesia interna brasileira se comportou em uma determinada fase do período neoliberal – o neodesenvolvimentismo – durante os referidos governos.

Nossos objetivos ao desenvolver este trabalho eram: 1) descobrir se essas construtoras podem ser realmente enquadradas dentro do conceito de grande burguesia interna, para isso a primeira etapa deve ser obrigatoriamente descobrir se elas possuem capital internacional, pois se há predominância de controle acionário internacional na maior parte dessas grandes empresas elas não se encaixam dentro do conceito, demonstrando que escolhemos na verdade um caso crítico – ao invés de um caso típico – ou que a teoria que utilizamos não se sustenta;

(15)

2) descobrir e analisar quais as reivindicações do setor para, em seguida, verificar se elas são atendidas pelo governo; 3) com a finalidade de comprovar que o PSDB não é o representante da grande burguesia interna, identificar – através dos intelectuais e economistas ligados ao PSDB – qual a proposta de política econômica da oposição (PSDB) e se elas são interessantes às grandes empresas brasileiras de obras de infraestrutura; 4) analisar a posição da grande mídia brasileira com relação a este setor empresarial.

Desse modo, nosso texto está estruturado em cinco capítulos basicamente. O primeiro capítulo comtempla a discussão teórica e explicativa de como vemos o processo político contemporâneo. Desse modo, adotamos aqui – como referência principal para os estudos sobre as classes dominantes – os conceitos desenvolvidos por Nicos Poulantzas (1977) que são basicamente os de bloco no poder, fração de classe e burguesia interna. E por fim, utilizamos a discussão sobre capitalismo neoliberal no Brasil desenvolvida por Armando Boito Junior que mobiliza o conceito de neodesenvolvimentismo.

No segundo capítulo partimos para a análise empírica. Nossa intenção aqui é descobrir, durante o período do segundo mandato do presidente Lula – que se estendeu de 2007 a 2010 –, quem são as grandes construtoras atuantes no Brasil e como se relacionam e o que pensam da política econômica do governo em questão.

O terceiro capítulo segue a mesma lógica do anterior – descobrir e compreender de maneira aprofundada quem são as grandes construtoras atuantes no Brasil e como se relacionam e o que pensam e da política econômica do governo. A diferença aqui é que nos concentramos no primeiro mandato do governo Dilma (2011-2014).

No quarto capítulo, apresentamos as contrapropostas do PSDB às empresas de obras de infraestrutura. O objetivo é identificar a proposta econômica da oposição (PSDB) para a construção pesada e evidenciar que PT e PSDB apresentam duas políticas burguesas distintas. Analisamos, desse modo, as críticas dos economistas e intelectuais do PSDB à política econômica do período e cotejamos com os interesses das grandes construtoras brasileiras.

E, por fim, no quinto e último capítulo, fazemos um balanço da avaliação que o Caderno Econômico do jornal O Estado de São Paulo faz da política econômica dos governos em questão, com objetivo de descobrir se a grande mídia brasileira possui uma posição de apoio ou oposição ao setor estudado.

(16)

Capítulo 1 – A definição da abordagem

Compartilhamos da análise que compreende o Estado brasileiro como sendo moldado pelas instituições que possui e pelas pessoas que o ocupam, com o interesse de garantir os interesses da classe capitalista. Compreendemos que o Estado, apesar de se apresentar como bastião dos interesses gerais da sociedade, busca na verdade, coordenar e manter a coesão do bloco no poder e, se necessário, combater das mais diversas formas, toda e qualquer tentativa de mudança deste cenário. Essa definição de Estado difere daquela que o analisa como uma arena neutra de interesses e juiz de todas as disputas entre as classes.

Para analisar o caso das grandes empreiteiras atuantes no Brasil durante o segundo mandato de Lula da Silva (2007-2010) e o primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014), adotamos – como referência principal para os estudos sobre as classes dominantes – os conceitos desenvolvidos por Nicos Poulantzas (1977) que são basicamente os de bloco no poder, fração de classe e burguesia interna.

A contribuição deste autor marxista é particularmente interessante, pois nos permite efetuar uma análise pormenorizada, considerando os mais diversos interesses da classe dominante em uma determinada conjuntura política, capturando nuances e tendências no interior da burguesia. Analisar uma determinada formação social sem levar em consideração esses fracionamentos de interesse significaria reduzir a realidade, assumindo o risco de perder detalhes importantes, tornando incompreensível o entendimento das diversas disputas políticas e econômicas e consequentemente da realidade brasileira.

Utilizo aqui as contribuições de Farias (2009) para explicar como as frações de classe de Poulantzas (1977) se formam. O autor argumenta que existem vários sistemas de frações e que a classe dominante pode se dividir de acordo com vários aspectos – por exemplo: com relação às funções do capital, origem espacial, escala de operações, etc. E que existem aglutinações em cada sistema de frações que surgem ao longo do tempo ou se cruzam em uma mesma conjuntura. Todavia, o fator condicionante da predominância de uma fração sobre a outra é a política econômica do Estado, como Saes (2001) nos adverte. É ela que fará surgir aglutinações de frações para defenderem ou rejeitarem uma determinada medida estatal, como as políticas de juros, cambial etc. A ação das classes e frações na cena política e a dinâmica da

(17)

economia mundial também podem influenciar na unificação ou no desfazimento de uma fração.

Nos Estados dependentes, apresentam-se três tipos de burguesias: burguesia compradora, burguesia interna e burguesia nacional. Essa caracterização se relaciona com a origem de seu capital e de acordo com o posicionamento político e ideológico que possuem frente ao imperialismo. A burguesia compradora ou internacionalizada tem seus interesses subordinados ao imperialismo, se comportando como mero agente de intermediação do capital estrangeiro, se opondo no plano político a tudo que possa prejudicar este capital.

Já a burguesia nacional, por possuir base de acumulação própria, possui independência política e ideológica, podendo em certos momentos fazer alianças com as classes dominadas e até mesmo adotar posições contrárias ao imperialismo, o que não exclui envolver-se em lutas de libertação nacional.

A burguesia interna ocupa uma posição intermediária entre as duas posturas. Justamente por se constituir na fase do imperialismo em que a industrialização se torna dependente – em nível financeiro e tecnológico – nos países periféricos, manifesta um comportamento oscilante frente ao capital estrangeiro. É, concomitantemente, dependente e concorrente deste capital. Para concorrer com o capital externo, conta com o apoio estatal. Procura limitar a presença deste capital, mas não rompe em definitivo seus laços com ele. Outro ponto é que a burguesia interna, ao mesmo tempo em que faz essa operação, tenta fincar raízes em outros territórios nacionais e os disputa com o capital estrangeiro, além de explorar as contendas entre os próprios capitais estrangeiros em benefício próprio.

Poulantzas desenvolveu ainda o conceito de bloco no poder para explicar como se dá a relação do Estado com as diferentes frações. Para este autor, é o Estado que vai se ocupar de organizar os interesses políticos das classes e frações através das medidas que toma, já que as frações de classe vivem em uma eterna luta fraticida guiadas por seus interesses econômicos imediatistas. Trata-se, portanto, de uma unidade – mesmo que contraditória – entre as mais diversas frações das classes dominantes, organizada e garantida pelo Estado e que pode incluir sacrifícios em prol dessa unidade política, econômica e ideológica contra a classe dominada e pela manutenção do status quo.

No interior do bloco no poder existe a possibilidade de que uma fração consiga fazer com que seus interesses se sobreponham aos demais, tornando-se uma fração hegemônica e

(18)

obtendo mais atenção por parte das políticas estatais. É importante lembrar que isto não implica, necessariamente, a obtenção, por parte desta fração, de maiores benefícios econômicos quando comparadas às outras.

Não afirmamos aqui que toda a cúpula da burocracia do Estado e dos governos aja em perfeita concordância, como um grupo coeso para garantir os interesses da fração hegemônica do bloco no poder. No caso brasileiro, o que ocorre é que Ministério da Fazenda e o Banco Central – que são os principais centros de concentração do poder em benefício da fração hegemônica – são, ao mesmo tempo, responsáveis pelas variáveis macroeconômicas e pela dotação orçamentária de todos os ministérios.

Complementando esta ideia, entendemos, também, que opera no Brasil um regime político que rebaixa o papel do Congresso e concentra a função legislativa no executivo federal, o assim chamado hiperpresidencialismo (TORRE, 1996) ou o autoritarismo civil (SAES, 2001), que favorece os interesses da fração hegemônica no bloco no poder.

Dessa forma, no capitalismo neoliberal brasileiro, como conhecemos, não existe governo de partido, apenas partido de governo, haja vista que os deputados do partido que ocupa a presidência da República apenas funcionam como base de apoio do governo no Congresso, tendo que respaldar decisões que sequer foram consultados. (POULANTZAS, 2000). Este detalhe é importante para compreendermos o capítulo 4, quando analisamos a opinião do PSDB – e de suas facções que podemos diferenciar basicamente entre neoliberais extremados e neoliberais moderados – sobre as medidas que beneficiaram as grandes construtoras brasileiras durante os governos Lula e Dilma.

Lançamos mão também, durante nossa pesquisa, de outros dois conceitos muito importantes para entendermos como se estrutura o conflito de classes no Brasil. São eles os conceitos de neoliberalismo e neodesenvolvimentismo.

O conceito de neoliberalismo que estamos defendendo neste trabalho não é aquele que visa ser substituto leviano do conceito de capitalismo. Enquanto modelo econômico e político, o neoliberalismo, representa uma nova etapa dentro de uma fase específica do capitalismo – a fase do capitalismo monopolista e imperialista – que designa uma ofensiva política e econômica restauradora e vitoriosa da burguesia e do imperialismo, onde devido a condições históricas específicas, puderam recuperar seu poder e a lucratividade do grande capital que estavam, até então, debilitados pelos modelos de Estado desenvolvimentista e de bem-estar

(19)

social. Além disso, o capitalismo neoliberal também representa uma ideologia que é a responsável pela reprodução de seu próprio modelo. (BOITO, 1999).

Como Boito (1999) nos alerta, a ideologia neoliberal se divide em duas partes. A ideologia teórica, uma camada superficial do discurso que esconde outro nível mais profundo, onde as propostas políticas reais se ocultam – a ideologia prática. A ideologia neoliberal se autoproclama defensora das “reformas orientadas para o mercado” e contrária a intervenção do Estado na economia, mas o fato é que o incômodo com a intervenção estatal na economia se limita às regulações que protegem o trabalhador e o mercado interno das economias dependentes etc. Trata-se, portanto, de suspender a intervenção estatal apenas onde não interessa o capital. O discurso ideológico trata-se de um jogo de alusão e ilusão. Alude-se à realidade, iludindo. Trata-se de uma representação interessada e deformada, ainda que inconsciente da realidade (ALTHUSSER, 1968).

O fato é que a intervenção do Estado na economia não só é vista com bons olhos, mas também como necessária e fundamental pelo capital. Como dissemos anteriormente, a ausência de intervenção estatal apenas deve servir aos trabalhadores e às economias dependentes. Ou, ainda, quando falamos de frações burguesas, cada uma delas conta com o apoio e a proteção do Estado no que lhes convém e espera que Estado seja duro e intransigente com as frações concorrentes e seus inimigos. Independente de qualquer coisa, o campo neoliberal não pode explicitar sua tentativa de tornar seus objetivos particulares, objetivos universais, uma vez que correria o risco não receber o apoio que precisa para atingir suas metas.

Com relação ao capitalismo neoliberal, podemos dizer que a burguesia em geral e o imperialismo tentaram reverter a situação em que se encontraram – nos Estados de bem-estar social e desenvolvimentista na Europa Ocidental e na América Latina respectivamente – onde foram obrigados a respeitar certos limites de exploração da força de trabalho e de expropriação das economias dependentes e foram vitoriosos na missão de desmontar estes Estados. Essa ofensiva imperialista e burguesa só foi possível graças ao refluxo do movimento operário e anti-imperialista e ao declínio e posterior extinção da URSS.

A mudança dos Estados desenvolvimentistas e de bem-estar social para neoliberal pressupõe uma mudança no interior do bloco no poder e das correlações de forças, conflitos de classes, distribuição da riqueza, no nível de emprego, nas relações internacionais, nas instituições políticas e econômicas. Neste processo – no que diz respeito à burguesia – o

(20)

grande capital financeiro nacional e internacional passaram a ser os maiores beneficiários da política econômica no Brasil, deixando de lado a grande burguesia interna. O índice pelo qual é possível aferir essa hegemonia de poder entre as frações burguesas é a política econômica do Estado (SAES, 2001).

Toda a grande burguesia ganha com o neoliberalismo, porém alguns setores se beneficiaram mais que outros das medidas adotadas no período. O grande capital financeiro internacional e os grandes bancos nacionais foram os únicos setores que se beneficiaram de todas as medidas e reformas que apontamos acima e agiram como uma fração distinta de classe. Podemos dizer também que ocuparam a posição de fração hegemônica do período, enquanto a grande burguesia interna ocupou uma posição subordinada, não sendo possível se tornar uma fração autônoma. (BOITO, 2006).

No início da década de 1990, grande parte da burguesia brasileira unificou-se em torno do programa neoliberal. Entretanto, no final deste mesmo período, uma parcela da grande burguesia interna que até o momento apoiava de modo seletivo este programa, passou a acumular uma série de contradições com relação a este projeto, revendo suas posições e passando a destacar-se dele (BOITO, 1999; BIANCHI, 2010). Dentro desse mesmo contexto, o movimento sindical e popular passava a enfrentar dificuldades progressivas com o aumento do desemprego, desembocando em seu refluxo (BOITO, 1999), com exceção do MST (COLLETI, 2002). Desta forma, estavam dadas as condições para o florescimento da frente neodesenvolvimentista que foi basicamente organizada pelo PT.

A grande burguesia interna que ocupou durante o período neoliberal uma posição subordinada no bloco no poder, insatisfeita com o lugar que ocupava dentro deste arranjo, passou a se aproximar do sindicalismo operário, formando uma frente política que foi base de sustentação para a reforma do neoliberalismo implantada durante o Governo Lula. Estes dois setores – liderados pela corrente hegemônica cutista Articulação Sindical e, do lado empresarial, pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – mostravam grande resistência à implantação do capitalismo neoliberal no país e estavam interessados em políticas que estimulassem o crescimento econômico.

Com a ascensão dos candidatos do Partido dos Trabalhadores à presidência da república ao longo dos últimos anos, assistimos a uma reforma no interior do neoliberalismo conjuntamente à ascensão de uma frente política que denominamos neodesenvolvimentista.

(21)

Frente esta que possui uma ampla e heterogênea base de sustentação e que levou a mudanças significativas no interior do capitalismo e da estrutura de classes aqui presentes.

Podemos destacar algumas características importantes dessa frente política que imperou em boa parte dos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff (BOITO, 2014). São os seguintes fatos: a) a grande burguesia interna é a dirigente desta frente (BOITO, 2012); b) frente esta que inclui o operariado, a baixa classe média, o campesinato e trabalhadores da passa marginal (KOWARICK, 1975; NUN, 1978); c) e que mantém uma relação populista com a massa marginal; d) a grande burguesia interna utilizou desta frente para galgar uma posição de maior privilégio dentro do bloco no poder; e) seu principal opositor no processo político nacional é o campo neoliberal ortodoxo, que representa o grande capital financeiro internacional, a fração da burguesia brasileira que está associada e subordinada a este capital, a alta classe média e alguns setores dos grandes proprietários de terra.

Apesar de carregar o “desenvolvimentismo” em seu nome, o neodesenvolvimentismo guarda diferenças importantes com o “velho desenvolvimentismo” dos anos 1930-1980. Relaciona-se à outra forma de desenvolvimento. Ele:

(i) apresenta um crescimento econômico que, embora seja muito maior do que aquele verificado na década de 1990, é bem mais modesto que aquele propiciado pelo velho desenvolvimentismo; (ii) confere importância menor ao mercado interno; (iii) atribui importância menor à política de desenvolvimento do parque industrial local; (iv) aceita os constrangimentos da divisão internacional do trabalho, promovendo, em condições históricas novas, uma reativação da função primário-exportadora do capitalismo brasileiro; (v) tem menor capacidade distributiva da renda e (vi) o novo desenvolvimentismo é dirigido por uma fração burguesa que perdeu toda veleidade de agir como força anti-imperialista. Todas essas seis características, que se encontram estreitamente vinculadas umas às outras, fazem do neodesenvolvimentismo um programa muito menos ambicioso que o seu predecessor, e tais características advêm do fato de o neodesenvolvimentismo ser a política de desenvolvimento possível dentro dos limites dados pelo modelo capitalista neoliberal. As taxas menores de crescimento do PIB são as taxas possíveis para um Estado que aceita abrir mão do investimento para poder rolar a dívida pública; o papel de menor importância conferido ao mercado interno é decorrente da manutenção da abertura comercial; a reativação da função primário-exportadora é a opção de crescimento possível para uma política econômica que não pretende revogar a ofensiva que o imperialismo realizou contra o parque industrial brasileiro; e todas essas características impedem ou desestimulam uma política mais forte de distribuição de rendas. (BOITO e BERRINGER, 2013, p. 32).

(22)

Isto é, nós temos por suposto que a política neodesenvolvimentista retoma um padrão de relação que já existiu no período desenvolvimentista e do qual tinha se afastado os governos de Fernando Henrique Cardoso devido à abertura ao capital internacional.

O programa da frente neodesenvolvimentista, como BOITO (2012) nos alerta, almeja o crescimento econômico, mas desde que isso não rompa com fronteiras impostas pelo capitalismo neoliberal. Sendo assim, os governos de Lula e de Dilma inovam ao incluir alguns elementos de política econômica e social que estavam ausentes nos governos de Fernando Henrique Cardoso. São eles:

a) políticas de recuperação do salário mínimo e de transferência de renda que aumentaram o poder aquisitivo das camadas mais pobres, isto é, daqueles que apresentam maior propensão ao consumo; b) forte elevação da dotação orçamentária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) para financiamento das grandes empresas nacionais a uma taxa de juro favorecida ou subsidiada; c) política externa de apoio às grandes empresas brasileiras ou instaladas no Brasil para exportação de mercadorias e de capitais; d) política econômica anticíclica – medidas para manter a demanda agregada nos momentos de crise econômica; e e) incremento do investimento estatal em infraestrutura. Mais recentemente, o Governo Dilma iniciou mudanças na política de juro e cambial, reduzindo a taxa básica de juro e o spread bancário e intervindo no mercado de câmbio para desvalorizar o real, visando a baratear o investimento produtivo a oferecer uma proteção – muito tímida, é verdade - ao mercado interno. Devido a esses elementos, e apesar de eles não romperem com o modelo econômico neoliberal herdado da década de 1990, optamos por utilizar a expressão desenvolvimentista para denominar esse programa. (BOITO, 2012, p. 5) Como já foi dito anteriormente, o que articula os diversos setores da economia que animam a grande burguesia interna é a reinvindicação por favorecimento e proteção estatal na concorrência com o capital estrangeiro. No plano internacional isto não é diferente. A grande burguesia interna se fortaleceu através da política externa dos governos Lula e Dilma.

Como Berringer e Boito (2013) nos mostram, esta burguesia uniu-se em torno de alguns interesses em comuns neste plano, são eles: busca de maior apoio do Estado para conquistas novos mercados para exportar seus produtos e para realizar investimentos diretos no exterior, prioridade nas compras estatais de seus produtos e maior proteção do mercado interno. Essas prioridades resultaram em uma atuação internacional do Estado brasileiro com maior foco na Rodada Doha da Organização mundial do Comércio (OMC); nas relações Sul-Sul, dando prioridade à América do Sul e nas negociações e no arquivamento da proposta da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

(23)

A ALCA foi um elemento chave para a organização da grande burguesia interna e representou um momento importante de aproximação desta fração com o movimento sindical e demais movimentos populares que também se opunham contra o acordo. Justamente por mobilizar uma parcela importante da população brasileira, a campanha contra a ALCA contribuir a afirmação da plataforma neodesenvolvimentista.

Na tentativa de somar esforços à pressão estadunidense de aceitar o acordo, o Brasil aproximou-se das iniciativas de integração da América do Sul – Mercosul, Comunidade Andina das Nações e da Iniciativa de Integração em Infraestrutura Sulamericana (IIRSA). O Estado brasileiro utilizou o IIRSA para financiar uma parte importante das obras de infraestrutura na região e impulsionou a internacionalização das empresas brasileira através de linhas de crédito especiais do BNDES. Tudo isso, colaborou para o processo de integração regional e de cooperação política entre estes governos, favorecendo a expansão do capitalismo brasileiro regionalmente. (BERRINGER e BOITO, 2013).

Berringer e Boito (2013) ainda afirmam que a política externa brasileira no período procurou:

(...) ampliar e aprofundar as relações Sul-Sul, criou coalizões como o G-20 na OMC, participou do Fórum Índia Brasil e África do Sul (IBAS), participou da missão de paz da ONU no Haiti (Minustah) e aproximou-se de estados do continente africano e do Oriente Médio, bem como da China e da Rússia. Essas relações trouxeram grandes benefícios à burguesia interna brasileira ao aumentar o acesso a novos mercados para a exportação de produtos manufaturados e garantir a instalação de empresas brasileiras nesses territórios. Depois do arquivamento da ALCA em 2005, a Coalizão Empresarial Brasileira (CEB) tem seu papel diminuído e transferido para as secretarias e departamentos de comércio exterior da CNI, da Fiesp e dos grandes grupos econômicos. Em 2004, forma-se o Conselho Empresarial Brasil-China, liderado pela Companhia Vale do Rio Doce e composto por corporações nacionais de mineração, energia, papel, celulose, alimentos e construção civil que tinham interesse em exportar para a China ou em atuarem no seu grande mercado. (BERRINGER e BOITO, 2013, p. 37) Durante os governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o que vimos foi uma tentativa destes governos de contenção e até mesmo reversão das políticas econômicas que tanto prejudicaram as grandes construtoras brasileiras e a grande burguesia interna como um todo durante o período do neoliberalismo puro e duro, como foi o caso da política de comércio exterior e da política de crédito do BNDES, por exemplo.

Como vimos acima, a política externa dos governos Lula e Dilma teve um importante papel de união dos setores empresariais que integram a grande burguesia interna brasileira,

(24)

principalmente através do IIRSA que foi financiado pelo BNDES. O mesmo pode ser dito do Programa de Aceleração do crescimento (PAC) que recebeu a mesma responsabilidade e que foi todo voltado para os interesses da burguesia interna, ocupando-se, entre outras coisas, de promover a integração entre os setores pertencentes a esta burguesia através da modernização da infraestrutura física importante para o desenvolvimento econômico da mesma.

Para essas grandes empreiteiras, algumas políticas são particularmente importantes: a disposição do governo para investir em obras públicas, a política de juros, a política creditícia do BNDES, as normas relativas à licitação de obras públicas e o apoio do Estado brasileiro para que essas grandes empresas nacionais disputem a obtenção de obras em outros países da América Latina, da África e do Oriente Médio. Queremos evidenciar, entre outros, que esses pedidos são atendidos durante o período de nossa pesquisa sobre esses governos.

A política econômica dos governos Lula e Dilma favoreceu a grande burguesia interna e ela se reconheceu nessa política econômica. O mesmo não ocorreu com o Partido da Social Democracia (PSDB) – principal opositor destes governos no plano partidário e do campo político conservador – que não se preocupou em encampar tais interesses no período em questão. A ala majoritária deste partido, que representa a vanguarda eleitoral do neoliberalismo no Brasil, tem exprimido os interesses do capital financeiro internacional e do capital associado a estes interesses.

Lembrando que os partidos políticos obedecem a regras de organização próprias e estão inseridos em sistemas partidários complexos que também possuem exigências próprias, portanto essa representação se dá também de forma bastante complexa e não pode ser rígida, pois um determinado partido pode migrar sua representação para outros setores sociais.

(25)

Capítulo 2 – A genealogia das grandes construtoras atuantes no Brasil no 2º

Governo Lula (2007-2010) e no 1º Governo Dilma (2011-2014)

Nossa intenção neste capítulo foi fazer uma análise aprofundada sobre a constituição das grandes construtoras atuantes no mercado brasileiro no segundo Governo de Lula da Silva e no primeiro governo de Dilma Rousseff, ou seja, entre os anos de 2007 a 2014.

Para isso, foi preciso fazer um levantamento das maiores empresas do ramo e em seguida analisar a estrutura acionária dessas empresas com o objetivo de desvendar qual a nacionalidade de seu controle acionário e descobrir se havia a presença de capital estrangeiro dentro das mesmas.

Para o primeiro passo desta tarefa, utilizamos o ranking que é elaborado todos os anos pela revista O Empreiteiro cujo critério de escalonamento é a receita bruta dessas construtoras. Elencamos, então, as dez maiores empresas de obras de infraestrutura no segundo Governo Lula (2007-2010) e no primeiro Governo Dilma (2011-2014) e organizamos tabelas para uma melhor compreensão dos resultados encontrados e que poderão ser vista abaixo.

2.1 Segundo Governo Lula da Silva (2007-2010)

Tabela 1- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil no ano de 2007 Construção Pesada - 2007 Odebrecht Andrade Gutierrez Camargo Corrêa Queiroz Galvão Delta Construções Construtora OAS Schahin Galvão Engenharia Fidens Engenharia 10º Construcap CCPS FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

(26)

Tabela 2- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil no ano de 2008 Construção Pesada -2008 1º Norberto Odebrecht 2º Camargo Corrêa 3º Andrade Gutierrez 4º Queiroz Galvão 5º Construtora OAS 6º Delta Construções 7º Hochtief do Brasil 8º Carioca Christian-Nielsen 9º Galvão Engenharia 10º Via Engenharia

FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

Tabela 3- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil no ano de 2009 Construção Pesada-2009 1º Norberto Odebrecht 2º Camargo Corrêa 3º Andrade Gutierrez 4º Queiroz Galvão 5º Construtora OAS 6º Delta Construções 7º Carioca Christian-Nielsen 8º Galvão Engenharia 9º W. Torre 10º E.I.T

FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

Tabela 4- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil no ano de 2010 Construção Pesada-2010 1º Norberto Odebrecht 2º Camargo Corrêa 3º Andrade Gutierrez 4º Queiroz Galvão 5º OAS 6º Galvão Engenharia 7º Delta Construções 8º Mendes Júnior Trading 9º Carioca Christian-Nielsen 10º Construcap CCPS

(27)

2.2 Primeiro Governo Dilma Rousseff (2011-2014)

Tabela 5- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil no ano de 2011

Construção Pesada-2011 1º Norberto Odebrecht 2º Camargo Corrêa 3º Andrade Gutierrez 4º Queiroz Galvão 5º OAS 6º Delta Construções 7º Galvão Engenharia 8º Construcap CCPS 9º Mendes Júnior Trading 10º A.R.G

FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

Tabela 6- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil no ano de 2012 Construção Pesada-2012 1º Norberto Odebrecht 2º Camargo Corrêa 3º Andrade Gutierrez 4º Queiroz Galvão 5º OAS 6º Delta Construções 7º Galvão Engenharia 8º Construcap CCPS 9º Mendes Júnior Trading 10º A.R.G

FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

(28)

Construção Pesada-2013 Norberto Odebrecht Camargo Corrêa Andrade Gutierrez Queiroz Galvão OAS Galvão Engenharia Construcap A.R.G Egesa 10º Mendes Júnior

FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

Tabela 8- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil no ano de 2014 Construção Pesada-2014 Norberto Odebrecht Andrade Gutierrez OAS Camargo Corrêa Queiroz Galvão Galvão Engenharia Construcap A.R.G Carioca Engenharia 10º Mendes Júnior

FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

2.3 A Estrutura Acionária das Grandes Construtoras atuantes no Brasil 2º Governo Lula (2007-2010) e no 1º Governo Dilma (2011-2014)

Superado o primeiro desafio, passamos à tarefa de descobrir a nacionalidade de tais empresas, ou seja, seu controle acionário. No entanto, descobrir essa informação não bastava era preciso saber se essas empresas possuíam capital externo e no caso da resposta ser

(29)

afirmativa se essas ações eram ordinárias ou preferenciais. Outra tarefa nada fácil e limitada, em certa medida, pela inexistência de dados de parte das construtoras.

Encontrar essas informações não foi fácil. Para isso, utilizamos algumas ferramentas. Entre elas os sites: Econoinfo1 e Proprietários do Brasil2. O primeiro site “otimiza o modus operandi corporativo ao oferecer serviços de informação que atendam pesquisas de market-share, análise de investimentos, governança corporativa e levantamentos de mercado”3

. E o último possui um ranking que relaciona as empresas mais poderosas do país com o intuito de mostrar que “o capitalismo no Brasil tem nome, sobrenome e endereço”.

O ranking foi elaborado a partir da construção de um sistema de informação inédito que mede o poder econômico não apenas por meio da receita destas empresas, mas também do controle, da propriedade sobre ações ordinárias (com direito a voto) que uma empresa possui de outras empresas e o quanto isso aumenta sua capacidade de influenciar os investimentos do Estado brasileiro. 4

Para driblar a falta de informações confiáveis, recorremos também em alguns momentos, aos sites das próprias construtoras, ao ranking elaborado pelo jornal Valor Econômico e à grande imprensa em geral. Passemos, portanto, aos resultados encontrados.

a) Andrade Gutierrez

Todos os acionistas com ações ordinárias são brasileiros. A Administradora São Miguel possui 33,33% da Andrade Gutierrez S/A, assim como a Administradora Sant‟Ana e a Administradora Santo Estevão S/A com a mesma porcentagens. A Andrade Gutierrez S/A aparece como controladora última e em 11º lugar no ranking das empresas do site Proprietários do Brasil como ilustra a figura abaixo.

Fluxograma 1- Estrutura acionária da construtora Andrade Gutierrez

1

Disponível em: http://www.econoinfo.com.br/. Acesso em: 16 de janeiro de 2013.

2 Disponível em: http://www.proprietariosdobrasil.org.br/index.php/pt-br/. Acesso: 15 de janeiro de 2013.

3

Disponível em: http://www.econoinfo.com.br/solucoes/governanca-corporativa . Acesso em: 5 de outubro de

2015.

(30)

Fonte: Proprietários do Brasil

b) A.R.G

A construtora não divulga em seu site informações relativas à composição acionária da empresa e apesar de existirem fortes indícios de que se trata de uma empresa de controle nacional e com investidores brasileiros de posse das ações ordinárias, não existem informações suficientemente confiáveis para afirmarmos isto.

c) Camargo Corrêa

Também está envolvida apenas com empresas brasileiras. A Camargo Corrêa Investimentos em Infra-Estrutura S/A é controlada pela Camargo Corrêa S/A que é controlada pela Participações Morro Vermelho S/A, controladora última com posição de 26º no ranking do site Proprietários do Brasil, como vemos na figura abaixo. Todas as empresas com ações ordinárias são brasileiras.

(31)

Fluxograma 2- Estrutura acionária da construtora Camargo Corrêa

Fonte: Proprietários do Brasil

d) Carioca Christian-Nielsen

Esta construtora não divulga informações, portanto não existem dados disponíveis no Proprietários do Brasil e no Econoinfo, porém – de acordo com o ranking do jornal Valor Econômico – esta é também uma empresa de capital nacional.5

e) Construcap

Apresenta o mesmo problema, porém em seu site diz “A Construcap tem se destacado pela qualidade do seu desempenho e se situa entre as dez maiores construtoras brasileiras”.6

Podemos assim concluir que a Construcap é brasileira.

5

Disponível em: www.valor.com.br/valor1000/2015/ranking1000maiores/Construção_e_Engenharia Acesso

em: 13 de setembro de 2015.

6

(32)

f) Delta

Apresenta o mesmo problema que a construtora anterior, porém não apresenta as informações que queremos em seu site. Dessa forma, recorremos à grande imprensa que nos apontou 7 em reportagem de título “Grupo Espanhol assume obras da Delta e mira em espaço da Lava Jato” que a construtora pertence ao empresário brasileiro Fernando Cavendish (brasileiro) e que passou, posteriormente, por um período de recuperação judicial, tendo parte de seus ativos e suas dívidas assumidas pelo grupo espanhol Essentium em um período posterior aos anos em que se aplica nossa pesquisa. Sendo assim, podemos concluir que no período em questão a construtora possuía controle nacional.

g) Egesa

A construtora Egesa é controlada por Elmo Teodoro Ribeiro, brasileiro que possui 51,55% das ações ordinárias da empresa. 8

h) EIT

Não achamos informações consistentes sobre essa construtora. Apenas uma reportagem d´O Jornal de Hoje sobre a falência da empresa que diz que a construtora fundada na década de 1950 tem origem brasileira, mas não diz se ao longo do tempo isso mudou, como podemos ver no trecho abaixo:

A EIT Engenharia S/A (sucessora da EIT- Empresa Industrial Técnica S/A, fundada na década de 50 em Recife, que chegou a figurar entre as cinco maiores empreiteiras brasileiras de obras públicas e que, por muitos anos, teve sua sede em Natal, período em que era comandada por José Nilson de Sá) teve sua falência requerida esta semana na 5º Vara Empresarial do Rio de Janeiro. 9

7 VETTORAZZO, Lucas. Grupo espanhol contra Delta Engenharia e mira espaço deixado pela lava jato, Folha de

São Paulo, São Paulo, 2 de junho de 2015. Disponível em: www.folha.uol.com.br/mercado/2015/06/1636933-grupo-espanhol-compra-delta-e-mira-espaço-deixado-pela-lava-jato.shtml . Acesso em: 5 de julho de 2015.

8

Disponível em: https://www.emis.com/php/company-profile/BR/Egesa_Engenharia_SA_pt_1146780.html.

Acesso em: 04 de março de 2018.

9

Requerida a falência da EIR Engenharia na 5ª vara empresarial do Rio de Janeiro. Jornal de Hoje, São Paulo,

s/d. Disponível em:

(33)

i) Fidens

Essa construtora também não divulga seus dados, mas de acordo com o Ranking do jornal Valor Econômico é também uma empresa brasileira. 10

j) Galvão Engenharia

Tal construtora não aparece relacionada no ranking feito pelo site Proprietários do Brasil e nem no site Econoinfo, porém foi possível descobrir em seu site que ela é uma empresa de capital fechado com controle familiar como podemos ver no trecho abaixo:

Com sede em São Paulo e operações em todas as regiões do Brasil, além de representações no Peru, o nosso grupo é gerido pela holding de capital fechado Galvão Participações S.A., de controle 100% nacional. 11

k) Hochtief do Brasil

Mais um caso de construtora que não divulga os seus dados. Dessa forma, fomos obrigados a pesquisar na grande imprensa. O conteúdo de economia do site Uol identifica a construtora como alemã.12 Porém, devemos lembrar que em seu site13 a empresa afirma estar no país há 50 anos e pelas leis brasileiras para uma empresa estrangeira ser considerada brasileira ela precisa apenas se constituir de acordo com a legislação nacional e manter sua sede no Brasil. Sendo assim, podemos considerar a Hochtief como uma empresa nacional.

l) Mendes Junior

Como mostra a figura abaixo, é controlada pela Edificadora S.A que tem 96,42% das ações ordinárias da empresa. A Edificadora S.A é 100% controlada pela Mendes Junior

10

Disponível em: www.valor.com.br/valor1000/2015/ranking1000maiores/Construção_e_Engenharia . Acesso

em: 16 de setembro de 2015.

11

Disponível em: www.galvão.com/quemsomos.aspx. Acesso em: 2 de agosto de 2015.

12

Disponível em: http://economia.uol.br/ultnot/lusa/2008/12/15/ult3679u5475.jhtm . Acesso em: 27 de

setembro de 2015.

13

(34)

Participações S.A- Mendespar, controladora última que ocupa o 376º lugar no Ranking Proprietários do Brasil. Todos os envolvidos são da mesma família e brasileiros. Não existem empresas estrangeiras com ações ordinárias.

Fluxograma 3- Estrutura acionária da construtora Mendes Junior

Fonte: Proprietários do Brasil.

m) OAS

É 100% controlada pela OAS S.A que por sua vez é controlada pela CMP Participações Ltda que detém 98,78% das ações ordinárias. A LP Participações detém os 1,22% restantes da OAS S.A. Todas as empresas e pessoas envolvidas são brasileiras. Segue a ilustração abaixo.

(35)

Fonte: Proprietários do Brasil

n) Odebrecht

Como podemos ver na imagem logo abaixo, a construtora está envolvida apenas com empresas e pessoas de nacionalidade brasileira. Todas as pessoas envolvidas são predominantemente membros das famílias Odebrecht e Peltier Queiroz.

(36)

Fonte: Proprietários do Brasil

A Odebrecht S.A (a holding da organização) tem 100% da Construtora Norberto Odebrecht S.A. Essa holding é controlada pela ODBINV S.A que tem como acionistas a GRAAL Participações LTDA (12,25%) e a Kieppe Participações e Administração LTDA (84,58%), que por sua vez é controlada pela Kieppe Patrimonial LTDA, a controladora última e que está na 17º posição no Ranking Proprietários do Brasil.

o) Queiroz Galvão

É 100% controlada pela Queiroz Galvão S/A (226º lugar no Ranking proprietários do Brasil) como podemos ver na figura abaixo. Todos os membros pertencem à mesma família e todos têm nacionalidade brasileira.

(37)

Fonte: Proprietários do Brasil

p) Schahin

Também não divulgou seus dados. Mas encontramos uma reportagem do jornal Valor Econômico que identifica a empresa como brasileira.14

q) Via Engenharia

O Grupo Via Engenharia apresenta também o mesmo problema. O ranking jornal Valor Econômico15 aponta que essa é também uma empresa brasileira.

r) WTorre

14 Schahim Petróleo e Gás não está em pedido de recuperação judicial. Valor Econômico, São Paulo, 17 de abril

de 2015. Disponível em:

www.valor.com.br/empresas/4012532/schahim-petroleoo-e-gas-nao-esta-em-pedido-de-recuperacao-judicial . Acesso em: 23 de setembro de 2015.

15 Disponível em: www.valor.com.br/valor1000/2015/ranking1000maiores/Construção_e_Engenharia . Acesso

(38)

A WSPMG Participações Ltda tem 98,17% das ações da construtora (todos os acionistas dela possuem o sobrenome Torre e são brasileiros) e a MLP Participações Ltda (todos são membros da família Marques Gillet) com 1,83% como mostra a figura abaixo.

Fluxograma 7- Estrutura acionária da construtora WTorre

Fonte: Proprietários do Brasil

2.4 Classificação final da nacionalidade das construtoras atuantes no Brasil no 2º Governo Lula (2007-2010) e no 1º Governo Dilma (2011-2014)

Tabela 9- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil entre os anos de 2007 e 2010 Construção Pesada 2007-2010

Empresa Nacionalidade

1 Andrade Gutierrez Brasileira 2 Camargo Corrêa Brasileira 3 Carioca Christian-Nielsen Brasileira 4 Construcap CCPS Brasileira

(39)

5 Delta Construções Brasileira

6 EIT ?

7 Fidens Engenharia Brasileira 8 Galvão Engenharia Brasileira 9 Hochtief do Brasil Brasileira 10 Mendes Júnior Brasileira

11 OAS Brasileira

12 Odebrecht Brasileira

13 Queiroz Galvão Brasileira

14 Schahin Brasileira

15 Via Engenharia Brasileira

16 W. Torre Brasileira

FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

Tabela 10- As Maiores empresas de Construção Pesada no Brasil entre os anos de 2011 e 2014

Construção Pesada 2011-2014

Empresa Nacionalidade

1 Andrade Gutierrez Brasileira

2 A.R.G ?

3 Camargo Corrêa Brasileira 4 Carioca Christian-Nielsen Brasileira 5 Construcap CCPS Brasileira 6 Delta Construções Brasileira

7 Egesa ?

8 Galvão Engenharia Brasileira 9 Mendes Júnior Brasileira

10 OAS Brasileira

11 Odebrecht Brasileira 12 Queiroz Galvão Brasileira FONTE: Revista O Empreiteiro. Elaboração Própria.

2.4 Conclusão

Como pudemos perceber no decorrer do capítulo, as maiores construtoras atuantes no mercado nacional no segundo governo de Lula da Silva (2007-2010) e no primeiro governo de Dilma Rousseff (2011-2014), são predominantemente de nacionalidade brasileira, possuem capital fechado, são comandadas em sua maioria por famílias e não possuem o hábito de fazer fusões e aquisições – caminho pelo qual, normalmente, os investidores estrangeiros adentram o mercado local.

(40)

Outro dado curioso é que quando comparamos o conjunto das maiores construtoras no segundo governo Lula da Silva com o primeiro governo Dilma Rousseff, observamos uma concentração cada vez maior de construtoras. Entre 2007 a 2010, soma-se o total de 16 empresas, contra apenas 12 entre os anos de 2011 a 2014.

(41)

Capítulo 3 – A avaliação das grandes construtoras brasileiras sobre a

política econômica do 2º Governo Lula (2007-2010) e 1º Governo Dilma

(2011-2014)

3.1 A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB)

Neste terceiro capítulo, buscamos compreender como essas grandes construtoras brasileiras se relacionaram os Governos Lula da Silva (2007-2010) e Dilma Rousseff (2011-2014) e qual avaliação fazem do conjunto das políticas econômicas desenvolvidas por estes governos.

Para desempenhar esta tarefa, escolhemos a associação que julgamos melhor representar o pensamento e as ações dessas grandes empreiteiras – a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB)16. Como o próprio nome já anuncia não se trata de uma associação apenas de construtoras:

Fundada em 1955, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, cuja missão principal é o desenvolvimento dos mercados de infraestrutura e indústrias de base no Brasil e o fortalecimento da competitividade da cadeia fornecedora de bens e serviços para estes setores.17

A associação em questão agrega uma grande variedade de empresas públicas e privadas e, segundo seu site, conta com mais de cem empresas associadas das seguintes áreas: energia elétrica, gás e derivados, petróleo, transporte, saneamento ambiental, telecomunicações, indústria de base (mineração, siderurgia, petroquímica, papel e celulose), bancos de investimentos, empresas de serviços relacionados à infraestrutura e do já referido setor de construção e engenharia. Grosso modo, podemos dizer que a associação congrega grande parte das empresas que integram isto que estamos chamando de grande burguesia interna.

16

Disponível em: www.abdib.org.br Acesso em: 6 de outubro de 2015.

17 Disponível em: www.abdib.org.br/apresentação.cfm?id_idioma=1&id_apresentacao=1 . Acesso em: 6 de

(42)

Apesar de se tratar de uma associação que articula outros setores da economia, podemos dizer que o ponto de contato entre essas empresas são as construtoras e que são elas que têm maior peso dentro da ABDIB, já que todos os objetivos da associação – que tem como lema principal “contribuir para o crescimento econômico e o desenvolvimento social do Brasil por meio da expansão dos investimentos em infraestrutura e indústrias de base” – são sensíveis aos interesses das mesmas. Inclusive o presidente da associação durante todo período de nossa pesquisa – Paulo Godoy –é sócio da antiga Alusa Engenharia, o que reforça ainda mais o peso das grandes construtoras no interior da mesma.

Existem outras associações que representam as construtoras brasileiras, mas elegemos a ABDIB como a principal representante, pois é a que além de oferecer maior material para nossa pesquisa, melhor representa os interesses deste setor do empresariado, já que das construtoras acima listadas, nove fazem parte da associação, são elas: Andrade Gutierrez, Carioca, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, EIT, Galvão, OAS, Odebrecht e Schahin. Além disso, no período estudado cinco dessas empreiteiras ocupavam cargos na diretoria da associação.

3.2 A avaliação da ABDIB sobre o segundo Governo Lula da Silva (2007-2010)

Nos preocupamos, neste momento, em fazer um balanço da opinião da ABDIB sobre as medidas de política econômica do segundo Governo Lula da Silva. Como já dissemos anteriormente, as medidas que esse setor defende e apoia são típicas do neodesenvolvimentismo e incluem basicamente o financiamento público a juro subsidiado, redução da taxa básica de juro, depreciação cambial, subsídio fiscal, ênfase nas relações com os países do hemisfério sul na política externa, entre outros.

Analisamos um total de 124 textos disponíveis no site da entidade em que esta avaliava a política econômica governamental no período de 2007 a 2010. Todos estavam contidos no item “Opinião Abdib”. Os temas mais comentados eram: desindustrialização, políticas cambiais, políticas creditícias para o setor, ampliação do crédito e redução dos juros para a população, spread bancário, a crise econômica de 2008 (seus efeitos e seus antídotos no Brasil), copa do mundo e concessões em geral –principalmente dos aeroportos. É interessante notar que o animo dos textos melhora gradualmente com o passar dos anos. Poderíamos

(43)

disponibilizar aqui uma quantidade inimaginável de textos, porém como todos seguem a mesma tônica optamos por selecionar alguns para ilustrar o clima dentro da ABDIB.

O primeiro artigo analisado – de título apelativo, “Desindustrialização Silenciosa”, de maio de 2007 – exemplifica bem a insatisfação geral da associação no início. Utilizando um discurso de forte tom nacionalista/desenvolvimentista (com o argumento da exportação de cérebros, da perda de know how, da redução das desigualdades sociais, entre outros) a associação queixa-se do câmbio e dos juros elevados e reivindica políticas protecionistas e compras estatais para o setor.

O termo choca, mas não há melhor definição do que desindustrialização para o que vem ocorrendo na economia brasileira. A combinação de câmbio valorizado com juros reais elevados e impostos excessivos, assim como as demais condições desfavoráveis (excessiva burocracia, infra-estrutura e logística deficientes, por exemplo), têm provocado um grave processo de substituição da produção local por importações e perda de dinamismo das exportações de maior valor agregado. Os fatores de competitividade sistêmica, tudo aquilo que corresponde ao ambiente externo à empresa, estão em clara desvantagem relativamente à média internacional. (...)

Nos dois casos citados, o que está ocorrendo claramente é que o câmbio valorizado está 'subsidiando' importações de produtos e serviços que poderiam ser realizados localmente. Aqui, não se trata apenas de economia de divisas, igualmente importante, mas também e principalmente de um processo de perda de conhecimento em áreas sofisticadas, assim como de desenvolvimento de fornecedores e tecnologia agregadores de jovens profissionais. Não por acaso, a maioria dos países hoje adiantados e muitos países em desenvolvimento de sucesso utilizaram e utilizam instrumentos, como o poder de compra do Estado, o fomento às atividades locais, e uma clara política de câmbio desvalorizado para incentivo à industrialização. Parece que, infelizmente, aprendemos pouco com a experiência alheia e com a nossa própria passada. É surpreendente que essa questão seja tratada de forma tão superficial no debate econômico brasileiro. Há ainda quem veja como saudável o observado aumento de importações de bens de capital, em detrimento da produção local, por 'modernizar a indústria'. Se esse é o objetivo, o instrumento mais adequado para estimular a importação de bens não produzidos localmente não é o câmbio, mas tarifas e incentivos localizados, para evitar que toda a estrutura industrial seja negativamente afetada.

Outro argumento recorrente e que não resiste a uma análise dos fatos é que o câmbio valorizado não tem provocado perdas nas exportações brasileiras. Como citei em artigo anterior neste espaço (Cinco mitos sobre o câmbio no Brasil, 10/2, B2), apesar do volume crescente em dólares, decorrente do aumento de preços no mercado internacional, o ritmo de crescimento das quantidades exportadas está em queda livre há dois anos, reduzindo-se de 19,9% em 2004 para apenas 3,3% em 2006. Somente em 2006, em contrapartida, o quantum de importações cresceu 16,1%. Entre 2000 e 2006,

Referências

Documentos relacionados

Através desta investigação, pretende-se desvendar de que modo é que a robótica pode contribuir para o enriquecimento da prática, através das capacidades que

Resposta: Antonio Cataldi é uma pessoa comum como todos, como objetivos e sonhos iguais da maioria das pessoas que buscam “vencer na vida” por meio de muito esforço pessoal

b) Os novos computadores dessa empresa vêm com um processador menos suscetível a falhas.. RESPOSTA: Em 20 anos. Suponha um trecho retilíneo de estrada, com um posto rodoviário

A utopia moder- nista assegurou, no entanto, a possibilidade do seu registro, com a criação das instituições e instrumentos de salvaguarda dos bens culturais, no caso, os de

Defendemos que os nossos resultados sustentam nossa hipótese segundo a qual a fala dirigida à criança brasileira apresenta pistas prosódicas que permitem a distinção entre as

Repare que você pode usar constantes do Inno Setup no valor, se precisar, para usar caminhos de pastas ou arquivos que variam de sistema para sistema - como no caso, usei a {app}

O relatório dos estudos elétricos na frequência fundamental deve reunir, em um único volume, todos os estudos elétricos de sistema solicitados pelo anexo técnico do edital (tais

Os objetivos deste trabalho foram estimar os valores médios de duração dos subperíodos e do ciclo de desenvolvimento da cultura da soja e determinar as Fdp que melhor