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O aumento considerável na exigência de conteúdo local nas obras governamentais Nas obras do PAC de mobilidade urbana, por exemplo, a exigência chegou até mesmo

Capítulo 4 – A proposta do PSDB para as grandes construtoras brasileiras

D. O aumento considerável na exigência de conteúdo local nas obras governamentais Nas obras do PAC de mobilidade urbana, por exemplo, a exigência chegou até mesmo

a atingir 100%. Tal medida não é uma novidade trazida pelos governos de Lula e de

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MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO. PAC: visão geral. Disponível em:

http://www.planejamento.gov.br/servicos/faq/pac-programa-de-aceleracao-do-crescimento/visao-geral/qual-a- diferenca-entre-pac1-e-pac2. Acesso em: 31/02/2018.

42 Valores aproximados. Mudaram ao longo do tempo. Principalmente, no governo de Michel Temer que

Dilma. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reivindica para sua paternidade, porém se esquece de dizer que obras de infraestrutura foram praticamente inexistentes em seu governo e que o percentual de exigência de conteúdo local também era menor.

Por mais que já saibamos de cor e salteado o mantra tucano da abertura comercial e financeira, das privatizações e da desregulamentação do mercado de trabalho – não cabe a nós, neste momento, traçar qual seria o programa do PSDB para as grandes construtoras brasileiras, mesmo sabendo que em determinados momentos algumas pautas fiquem bastante evidentes.

Reiteramos: não é o escopo deste trabalho demonstrar a diferença entre os governos de FHC e os governos de Lula e Dilma. Interessa-nos apenas mostrar que o programa tucano não prioriza, muito ao contrário, os interesses das grandes construtoras brasileiras neste dado período de nossa pesquisa.

Levantadas as principais políticas dedicadas aos interesses das grandes construtoras brasileiras desenvolvidas durante o segundo mandato de Lula da Silva e o primeiro mandato de Dilma Rousseff, passaremos à análise das opiniões de próceres do PSDB e de outros intelectuais ligados ao partido sobre tais políticas e verificaremos se as críticas advindas dos mesmos coincidem com os interesses dessas construtoras.

Entretanto, se faz necessário alguns esclarecimentos prévios. É preciso lembrar o leitor que a ideologia enquanto representação inconsciente deforma a realidade de maneira interessada (BOITO, 2017). Ela atua como um jogo de alusão-ilusão (ALTHUSSER, 1968). Alude à realidade, iludindo. Portanto, quando lermos os textos, é preciso que façamos uma espécie de “sociologia política do discurso e das práticas” dos intelectuais analisados. Devemos fazer o esforço de diferenciar a retórica das práticas. É necessário que atentemos para as propostas, os fatos em si e o que eles implicam.

Por exemplo, em várias passagens fala-se do atraso das obras públicas, questiona-se os critérios das licitações e a idoneidade das empresas contratadas, a hipocrisia do termo “concessão” e não “privatização” etc. Todavia, é preciso enxergar além do discurso ideológico da corrupção (BOITO, 2016; BOITO 2017; MARTUSCELLI, 2016a; MARTUSCELLI, 2016b). É preciso que nos perguntemos o que revelam essas afirmações e o que elas escondem. Quando questionam a lisura das licitações de obras públicas onde dominam as empreiteiras brasileiras, não se trata simplesmente de uma questão de ética e justiça – até porque são inúmeros os casos de corrupção no interior do PSDB –, mas de defender interesses que não contemplam tais empresas.

Ao analisar os textos desses intelectuais, estamos questionando também uma certa leitura da economia que tem praticamente dominado o debate público brasileiro – principalmente através dos grandes veículos de imprensa – e que tenta se apresentar como o único modelo de crescimento e desenvolvimento possível. Fazemos um convite à reflexão de quais interesses e projetos estão por trás desse discurso.

Nos textos encontramos uma defesa a qualquer custo do superávit primário, ou seja, defende-se o resultado positivo de todas as despesas governamentais com exceção dos gastos com pagamento de juros. Essa preocupação é oriunda de certos interesses por trás da rolagem da dívida pública.

Ao contrário do que se costuma difundir aos quatro ventos, não é possível que um Estado quebre por dívidas em sua própria moeda. Quando o assunto é finanças públicas, a comparação que se costuma fazer com a economia da dona de casa não se sustenta. Nesse sentido, seguimos com o documento “Austeridade e Retrocesso” quando este diz que:

A obsessão alarmista contra qualquer elevação da dívida pública esconde uma agenda política a favor dos grupos financeiros e internacionais travestida como uma questão meramente técnica, seja ao defender a retração de bancos públicos, seja ao sugerir redução dos gastos sociais. (AUSTERIDADE E RETROCESSO, 2016, p.21).

A opção pelo alcance a qualquer preço do superávit primário é ideológica e não é interessante às grandes construtoras brasileiras, pois nesta opção está implícito cortes de todos os tipos dos gastos do Estado, inclusive investimentos em infraestrutura e como bem sabemos o maior consumidor de obras da indústria da construção é o Estado (ALVES JR, 2015).

Voltando aos textos, analisamos primeiramente o livro “A Miséria da Política” de Fernando Henrique Cardoso. Trata-se, basicamente, de uma coletânea de crônicas escritas entre os anos de 2010 e 2015 sobre o cotidiano da política, mais especificamente sobre que o autor denominou de lulopetismo.

Curiosamente no prefácio do livro, Cardoso emprega um dos conceitos utilizados em nossa pesquisa – bloco no poder. Ele diz que “na releitura do livro dá para perceber como, sob a Presidência de Dilma Rousseff, tornou-se claro como se organizou no Brasil um bloco de poder petista”.

O ex-presidente argumenta que a partir da queda de Antônio Palocci passou-se a vislumbrar uma importante mudança de política econômica que teria destruído as bases que, segundo ele, davam viabilidade à expansão capitalista no Brasil. Critica duramente a chamada

nova matriz econômica que serviu de mola propulsora para as grandes empreiteiras brasileiras. Censura duramente a política de conteúdo local – que em outros momentos faz questão de reivindicar a criação – dizendo que a porcentagem destinada às empresas brasileiras é muito alta, como podemos ver no abaixo:

Sob o fundamento de reação à crise financeira internacional (2007/2010) ter tido sucesso com as políticas anticíclicas, o governo petista passou a propagar outro modelo de crescimento, que denominou nova matriz econômica. Em que consistiu essa novidade? Basicamente, uma atitude regressiva, a partir da qual a preocupação com o equilíbrio relativo das contas públicas seria uma política de direita.

Os cofres públicos foram abertos a toda sorte de ventura, desde projetos faraônicos (como em alguns momentos dos governos dos generais), do tipo trem-bala, até o exagero na dose de conteúdo nacional para o investimento na exploração de petróleo ou à busca de empresários globais formados não pela competição em mercado, mas insuflados por correntes de dinheiro subsidiados via Tesouro/BNDES etc. Ao lado disso, crédito barato e maciço para o consumo, e contínuos aumentos salariais acima dos ganhos de produtividade. Estava feita a mágica do crescimento sem investimento... (CARDOSO, 2015, p.8)

Ainda sobre a política de conteúdo local:

Espera-se mais das oposições. [...] Espera-se que defendam a reindustrialização do país, sem hesitar na crítica a políticas canhestras de conteúdo nacional que, sob a pretensão enganosa de estimular a produção local, acabam por isolar o Brasil e condená-lo à obsolescência tecnológica.(CARDOSO, 2015, p. 253)

Percebe-se também um grande desconforto com a “nova” conduta do BNDES de conceder mais e melhor crédito a outros ramos da economia que não os tradicionalmente privilegiados em seu governo. Refere-se ao programa campeões nacionais como o “bolsa BNDES” (reservada apenas aos “amigos do rei”). Separamos outro trecho bastante elucidativo:

É inegável que há espaço para as oposições firmarem o pé neste novo Brasil. Ele está entre os setores populares e médios que escapam do clientelismo estatal, que têm independência para criticar o que há de velho nas bases políticas do governo e em muito de suas práticas, como a ingerência política na escolha dos "campeões da globalização", o privilegiamento de setores econômicos "amigos", a resistência à cooperação com o setor privado nos investimentos de infraestrutura, além da eventual tibieza no controle da inflação, que pode cortar as aspirações de consumo das classes emergentes. (CARDOSO, 2015, p.54)

O incômodo envolve os bancos públicos de forma geral. É importante ressaltar a importância desses bancos no crescimento das grandes construtoras brasileiras. São eles que vão financiar as grandes obras de infraestrutura (BNDES) e o programa “Minha Casa, Minha Vida” (Caixa Econômica Federal):

O setor elétrico foi vítima de males semelhantes (só à Petrobras as “pedaladas” da Eletrobrás custaram R$ 4,5 bilhões) e não é o único no qual os desmandos vêm se tornando públicos. Se algum dia se abrirem as contas da Caixa Econômica, vai-se ver que o FGTS dos trabalhadores deu funding para uma instituição bancária pública fazer empréstimos de salvamento a empreendimentos privados quebrados. No caso do BNDES, a despeito da competência de seus funcionários, emprestou-se muito dinheiro a empresas de solvabilidade discutível, também com recursos do FAT, ou seja, dos trabalhadores (ou dos contribuintes), oriundos do Tesouro. (CARDOSO, 2015, p.245)

No próximo trecho, diz que o PAC é lento e mal executado, porém não vimos nenhum programa parecido nos governos de FHC – tivemos apenas o Brasil em Ação que se desdobrou posteriormente no Avança Brasil e que quando comparado ao PAC em volume de investimentos se vê completamente ofuscado. Isto dado, a crítica ao modo de realização do programa pode ser, na verdade, uma crítica disfarçada ao próprio programa, já que nos governos de FHC programas de investimentos estatal na área de infraestrutura foram praticamente zero. E ainda mais, se levarmos em consideração que em sua crítica não existe nenhuma proposta prática para que o Programa de Aceleração do Crescimento seja bem organizado, podemos inferir que o ex-presidente da República não está de fato interessado em programas de investimento bem organizados, já que afirmações genéricas sem propostas práticas não possuem nenhum valor.

Na questão da infra-estrutura, depois de uma década de atraso nos editais de concessão de estradas e aeroportos, além das tentativas mal feitas, o governo inovou: fazem-se privatizações, disfarçadas sob o nome de concessões, com oferta de crédito barato pelo governo as empresas privadas interessadas. Dinheiro, diga-se, do BNDES (com juros subsidiados pelo contribuinte) e, ainda por cima, o governo se propõe a levar para a empreitada os bancos privados. Sabe-se lá que vantagens terão de lhes ser oferecidas para que entrem no ritmo do PAC, isto é, devagar e mal feito. Nunca se viu coisa igual: concessões que recebem vantagens pecuniárias e nada rendem ao Tesouro, à moda das ferrovias cujos construtores receberiam abonos em dinheiro por quilometro construído. Só mesmo na Macondo surrealista de Gabriel Garcia Marques. Espero que, aqui, a solidão de incapacidade executiva e má gestão financeira não dure cem anos…(CARDOSO, 2015, p. 152)

Em outro excerto, se refere com desdém ao programa MCMV e a outras medidas governamentais:

O refrão das oposições deve ser: chegamos a tais medidas e ao descalabro atual porque os governos “lulo-petistas” foram irresponsáveis, não se preocuparam em controlar o gasto público e enganaram o povo, enveredando pela megalomania. Os royalties do pré-sal, diziam, vão resolver os problemas da Educação, faremos ao mesmo tempo o trem-bala, a transposição do São Francisco, a Norte-Sul e a Transnordestina, sem falar nos 800 aeroportos! Concessão de serviço público é coisa de vende-pátria neoliberal. Daremos empréstimos no Fies e no Minha Casa Minha Vida, as bolsas acomodarão os miseráveis, e o BNDES dará subsídios em abundância aos empresários. O Tesouro pagará a farra.(CARDOSO, 2015, p. 152)

Neste trecho podemos observar o incômodo na aproximação de países que são parceiros comerciais importantíssimos das grandes construtoras brasileiras:

Diante disso, como ficará o Brasil: pendendo para a Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), de inspiração chavista? À margem da nova aliança atlântica proposta pelos Estados Unidos que, por agora, contempla apenas a América do Norte e a Europa? Iremos fortalecer nossos laços com o mundo árabe longínquo, ou este terminará por se aconchegar na dupla formada pela China e pela Índia, ambos países carentes de energia? E como nos situaremos na dinâmica da nova fase do capitalismo global? Ao que eu saiba, ela continuará dependendo do aumento contínuo de produtividade para assegurar as bases do bem-estar social (que não será decorrência automática disso, mas de políticas adequadas). Como, então, querer acelerar o crescimento utilizando truques e maquiagens, do tipo subsídios tópicos, exceções de impostos setoriais, salvamento de empresas via hospital BNDES ou Caixa Econômica? (CARDOSO, 2015, p.251)

A repulsa pela mudança na relação do estado brasileiro com os outros países da América do Sul continua neste outro trecho:

Enquanto isso, nós só fazemos perder espaços de influência na América do Sul. Nossa diplomacia, paralisada pela inegável simpatia do lulo-petismo pelo “bolivarianismo”, ziguezagueia e tropeça. Ora cedemos a pressões ilegítimas (como a recente da Bolívia, que não dava salvo-conduto a um asilado em nossa embaixada), ora nós próprios fazemos pressões indevidas, como no caso da retirada do Paraguai do Mercosul e da entrada da Venezuela. Ao mesmo tempo fingimos não ver que o “arco do Pacífico” é um contrapeso à inércia brasileira. Diplomacia e governo sem vontade clara de poder regional, funcionários atordoados e papelões por todo lado, é o balanço. (CARDOSO, 2015, p.151)

Se observarmos apenas a opinião de Cardoso nos trechos acima já fica evidente que há uma divergência entre seu pensamento e as políticas que beneficiaram as empreiteiras brasileiras durante os governos Lula e Dilma. Não é o foco de nossa pesquisa, entretanto não

é leviano lembrar que no balanço da política econômica dos dois governos de FHC, tivemos uma somatória de medidas que causaram mais prejuízos do que benefícios às grandes construtoras brasileiras.

Apenas a título de curiosidade, vamos relembrar algumas políticas. Foram elas: a) manutenção do câmbio sobrevalorizado frente às outras moedas43; b) preservação e em certos momentos a ampliação da abertura comercial; c) política de juros altos e d) ajuste fiscal progressivo com o intuito de “equilibrar as contas públicas”, resultando no controle progressivo dos gastos públicos e consequentemente, menos investimentos em obras de infraestrutura.

Por mais que tenhamos assistido posteriormente a algumas medidas compensatórias em resposta aos danos causados pela ortodoxia neoliberal no primeiro governo de FHC –, como por exemplo: uma discreta melhora na taxa cambial; aumento do volume de empréstimos do BNDES com taxas de juros de longo prazo; a lei de concessões e o programa “Brasil em Ação” 44

e sua continuidade, o programa “Avança Brasil”, que buscaram gerar mais obras de infraestrutura – a somatória delas não foi suficiente para que as construtoras nacionais recuperassem seu local de privilégio de outrora. Isso sem contar que a valorização cambial e os juros altos foram transformados em medidas permanentes de estabilização econômica, ou seja, o fundamentalismo neoliberal continuou como o eixo central da política macroeconômica.

O trabalho de SALLUM (1999) nos mostra que o governo de Cardoso persistiu no objetivo de eliminar qualquer resquício da Era Vargas, seu alvo central era quebrar os alicerces centrais do Estado nacional-desenvolvimentista. Outra política extremamente prejudicial às grandes construtoras nacionais, além da preservação do programa de abertura comercial implementado por Collor, foi o fim da discriminação constitucional em relação a empresas de capital estrangeiro, ou seja, empresas de capital nacional e estrangeiro passaram a receber tratamento igual. O objetivo era atrair mais investimento estrangeiro e associá-lo às empresas nacionais.

Além disso, o BNDES recebeu autorização para financiar empresas estrangeiras. Ou seja, o conjunto de medidas adotadas nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso fez mais do que deixar em pé de igualdade as construtoras nacionais e estrangeiras. Ele desvalorizou as empresas brasileiras e favoreceu as empresas estrangeiras, já que as últimas

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A sobrevalorização cambial é uma medida abrasileirada do receituário neoliberal ortodoxo. A ideia por traz era forçar as empresas nacionais a se inserirem neste novo sistema, caso contrário estariam fora do mercado.

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possuem outras formas de financiamento em seus países de origem, isso sem contar os benefícios que suas presenças em outros países e o seu porte lhes conferem.

Alguns ainda argumentarão que foi justamente na era FHC que foram instituídas as políticas de conteúdo local que tanto privilegiam as grandes empreiteiras brasileiras, porém é importante lembrar que o volume de obras de infraestrutura no período é praticamente inexistente, portanto tal política não teve impacto significativo sobre o setor.

Com relação às obras de habitação popular talvez seja ainda maior a discrepância entre as gestões de Fernando Henrique e as de Lula e Dilma. Em entrevista45 concedida ao jornal O Globo, o então presidente da CBIC Paulo Simão afirmou que o programa “Minha Casa Minha Vida” é a primeira iniciativa para a construção de moradias populares desde a década de 1980. O mesmo jornal aponta que desde 2005, os investimentos em infraestrutura foram superiores a 0,37% do PIB contra 0,24% do PIB46 apenas no melhor ano do governo de FHC –2000.

É importante lembrar que a gestão de Fernando Henrique Cardoso simplesmente acabou com o programa federal de habitação popular. Como a Constituição obrigava o governo federal a investir em habitação popular, o ex-presidente designava uma quantia próxima de zero, apenas para simular cumprir a Constituição a esse fim, como nos indica Boito (1999).

Reforçamos: nosso objetivo ao apresentar esses dados e algumas políticas econômicas prejudiciais às construtoras brasileiras na era FHC não é adentrar o debate a respeito da mudança ou da continuidade da política econômica dos governos FHC nos governos Lula e Dilma. Até porque estamos tomando por base que houve sim uma mudança. Esse é o pressuposto do qual partimos e não é possível, para nenhum cientista social, demonstrar todos os pressupostos dos quais parte para realizar a sua análise. O que não é pressuposto, mas sim objeto de análise aqui, é o tipo de crítica de FHC e de outros intelectuais e dirigentes do PSDB à política econômica dos governos Lula e Dilma. Estamos procurando mostrar que essa é uma crítica que aponta para uma política econômica que prejudicaria as grandes construtoras nacionais.

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PAUL, Gustavo & JUNGBLUT, Cristiane. Na disputa obra a obra entre os governos Lula e FHC, caronas e maquiagens. O Globo, Rio de janeiro, 10 de fevereiro de 2010.Disponível em:

https://oglobo.globo.com/politica/na-disputa-obra-obra-entre-os-governos-lula-fh-caronas-maquiagens-3055398. Acesso em: 11/03/2018.

Porém, vale a pena apresentar o gráfico abaixo. Ele contribui para a nossa análise. Podemos observar um aumento bastante expressivo no PIB da construção no período:

GRÁFICO 2- Variação do PIB da construção civil entre os anos de 1995 a 2017 (ano- base:1995)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2017. Elaboração própria.

Como dissemos, a intenção é apenas reforçar através do contraste relativo ao volume de obras entre os governos que a política econômica do governo Lula e do governo Dilma favoreceu esse setor da burguesia e ao mesmo tempo mostrar que apesar de seu discurso que se pretende imparcial em alguns momentos, quando Cardoso teve a oportunidade optou por beneficiar os interesses do capital internacional em detrimento dos interesses das construtoras brasileiras.

SALLUM (1999) alerta que existem tendências no interior do PSDB47 que possuem visões um pouco distintas entre si. Aponta sobre a existência de uma matriz neoliberal e outra liberal-desenvolvimentista dentro do partido – esta última na sua visão encontraria certa intersecção com a visão apregoada pelo neodesenvolvimentismo do PT48. Inclusive temos o caso de Bresser-Pereira, intelectual tucano que saiu em 2011 do PSDB sob a justificativa de

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O estatuto do PSDB afirma que existem quatro vertentes no interior do partido: social-democracia, socialismo democrático, democracia cristã e liberalismo progressista.

que na disputa de tendências no interior do partido, a visão neoliberal teria vencido, com isso os interesses nacionais teriam perdido espaço. Logo em seguida, com o desenrolar da nova matriz econômica, migrou o seu apoio ao PT49.

A despeito das tendências que existem no seio do PSDB, é importante lembrar que o que vale mais como matéria de análise é saber qual tendência é dominante naquele partido, pois é essa que controlará as decisões governamentais com o PSDB no poder. Na ocasião dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso o que assistimos foi a vitória dos intelectuais neoliberais ortodoxos no interior de seu governo. Consequentemente, o programa que foi de fato aplicado às empreiteiras brasileiras no governo de Fernando Henrique Cardoso não poderia ser diferente. Foi a cartilha do fundamentalismo neoliberal ortodoxo que não privilegiava a grande burguesia interna.

Antes de passar para a análise dos outros documentos é importante retomar esta ideia