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A aplicação do princípio da simplicidade nos juizados especiais: Uma Análise de Sentenças da Comarca de Campina Grande

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - CCJ CURSO DE DIREITO. PRISCILA RODRIGUES MOREIRA VILLARIM. A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE NOS JUIZADOS ESPECIAIS: Uma Análise de Sentenças da Comarca de Campina Grande. CAMPINA GRANDE - PARAÍBA 2010.

(2) PRISCILA RODRIGUES MOREIRA VILLARIM. A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE NOS JUIZADOS ESPECIAIS: Uma Análise de Sentenças da Comarca de Campina Grande. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Direito.. Orientadora: Profª Ms. Fernanda Isabela Oliveira Freitas. CAMPINA GRANDE – PARAÍBA 2010.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB. V722a. Villarim, Priscila Rodrigues Moreira. A aplicação do princípio da simplicidade nos juizados especiais [manuscrito]: Uma Análise de Sentenças da Comarca de Campina Grande / Priscila Rodrigues Moreira Villarim.  2010. 87f. Digitado. Trabalho Acadêmico Orientado (Graduação em Direito) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Jurídicas, 2010. “Orientação: Profa. Ma. Fernanda Isabela Oliveira Freitas, Departamento de Direito Público”. 1. Juizados especiais 2. Princípio da simplicidade I. Título. 21. ed. CDD 347.04.

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(5) A Deus, senhor da minha vida, por ter me escolhido e me conduzido até aqui. “Te adorarei, meu Deus, enquanto eu existir Proclamarei as maravilhas que fizeste em mim...”.

(6) AGRADECIMENTOS À minha mãe, pela confiança, pela dedicação aos meus sonhos e, sobretudo, pelo amor que me sustenta. À minha avó, pelos ensinamentos e pelo empenho em me fazer feliz. Aos familiares, pelo afago e pela compreensão para com a minha ausência. Ao meu namorado, pelo incentivo e palavras de otimismo que tornam mais leves os meus fardos, pelo companheirismo e pela paciência. Aos irmãos da Vigília Peregrina, pela constante intercessão. Aos amigos de sempre, pelo carinho e pelo apoio nesta etapa final. Aos amigos juristas Marina, Gabriela, Caique, Rafael, João Alfredo, Marcel, Thiago e Diego, pelos conhecimentos partilhados, pelo sentimento cultivado, pela mão estendida e pela alegria de cada manhã. À tia Janete, pela inestimável colaboração e presteza. Ao magistrado e serventuários do 1º Juizado Especial da Comarca de Campina Grande, pela autorização e subsídio durante a coleta de dados. À minha orientadora Fernanda Isabela, pela prontidão e valiosa orientação durante a elaboração deste trabalho. Aos professores José Marciano e Valfredo Filho, pela disponibilidade e aquiescência..

(7) “Chega mais perto e contempla as palavras Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?” Carlos Drummond de Andrade.

(8) RESUMO. Nesta monografia, tratamos de investigar a aplicação do princípio da simplicidade em sentenças jurídicas proferidas por magistrados dos Juizados Especiais Cíveis da comarca local. A necessidade de ampliar a discussão sobre a simplificação da linguagem jurídica como meio de promover o acesso à justiça determinou a opção pelo tema em estudo, pois estamos certos de que um vocabulário mais simples, direto e objetivo, principalmente no que diz respeito às decisões judiciais, aproxima a sociedade da prestação jurisdicional. Esse estudo objetivou analisar sentenças jurídicas dos Juizados Especiais Cíveis e norteia-se pela seguinte questão: Os cidadãos sem formação jurídica que figurem como partes em um processo no Juizado Especial, postulando sem a assistência de advogado, seriam capazes de entender, sem maiores dificuldades, as sentenças proferidas pelo magistrado? Os fundamentos teóricos basilares dessa pesquisa foram as noções de Juizados Especiais e de acesso à justiça, bem como a simplificação da linguagem e a caracterização do gênero sentença. Nosso corpus é composto por sentenças proferidas no mês de julho do ano corrente pelo juiz titular da 1ª Vara do Juizado Especial da Comarca de Campina Grande e foi analisado sob a perspectiva da metodologia interpretativista. Os resultados revelam que a linguagem jurídica apresenta opacidade e purismo lingüístico que dificultam o seu entendimento e a linguagem utilizada nos Juizados não contempla a o princípio da simplicidade em plenitude.. Palavras-chave: juizados especiais – princípio da simplicidade – sentenças – simplificação da linguagem.

(9) ABSTRACT. In this monographic work, we tried to investigate the application of the principle of simplicity in legal sentences handed down by judges of the Civil Special Courts in their respective county. The need to broaden the discussion about the simplification of legal language as a means of promoting access to justice has determined the choice of the topic in question, because we are certain that a simpler vocabulary, and straightforward, especially with regard to judicial decisions, approach society to adjudication. This study aimed to analyze legal sentences of the Special Civil Courts and is guided by the following question: Would citizens without legal training that included as parties in proceedings in the Special Court, claiming without lawyer assistance be able to understand without much difficulty, the sentences provided by the magistrate? The theoretical underpinnings of this survey were the basic notions of Special Courts and access to justice, as well as the simplification of language and genre categorization sentence. Our corpus is composed by sentences provided at July of this year by the titular judge of the 1st Court of the Special Court of the county of Campina Grande and was analyzed from the perspective of interpretive methodology. The results show that the legal language has opacity and linguistic purism that hinder their understanding. Besides, the language used in the Courts does not include the principle of simplicity in its fullness. Keywords: special courts – the principle of simplicity – sentences – simplification of the language.

(10) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. AMB – Associação dos Magistrados do Brasil CF – Constituição Federal CDC – Código de Defesa do Consumidor CPC – Código de Processo Civil ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente JECIV – Juizado Especial Cível.

(11) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 14 2.1 NATUREZA DA PESQUISA ........................................................................................ 14 2.2 INSTRUMENTO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ......................................... 14 3 JUZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E O ACESSO À JUSTIÇA ....................................... 16 3.1 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS: ESTRUTURA E COMPETÊNCIA .... 17 3.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS JUIZADOS ESPECIAIS ......................................... 21 3.2.1 Princípios Fundamentais.............................................................................................. 22 3.2.2 Princípios Informativos ............................................................................................... 26 3.2.2.1 Princípio da Oralidade............................................................................................. 27 3.2.2.2 Princípio da Simplicidade ........................................................................................ 28 3.2.2.3 Princípio da Informalidade ...................................................................................... 29 3.2.1.4 Princípio da Economia Processual ........................................................................... 30 3.2.1.5 Princípio da Celeridade ........................................................................................... 31 3.3 O ACESSO À JUSTIÇA ............................................................................................... 32 3.3.1 Limitações ao Acesso à Justiça .................................................................................... 35 4 A SIMPLIFICAÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA E A SENTENÇA ..................... 38 4.1 A SIMPLIFICAÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA: PROMOVENDO O ACESSO À JUSTIÇA ............................................................................................................................. 38 4.2 A SENTENÇA JURÍDICA: SOB O PRISMA DO PURISMO LINGUÍSTICO .............. 42 5 UMA ANÁLISE DE SENTENÇAS DA COMARCA DE CAMPINA GRANDE À LUZ DO PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE ............................................................................ 47 5.1 VESTÍGIOS DE LATINISMO E ARCAÍSMO .............................................................. 48 5.2 A FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES E O USO DA LINGUAGEM TÉCNICA .... 51 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 56 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 58 ANEXOS ............................................................................................................................ 61 ANEXO A – SENTENÇA 1 ................................................................................................ 62 ANEXO B – SENTENÇA 2................................................................................................. 65 ANEXO C – SENTENÇA 3................................................................................................. 68 ANEXO D – SENTENÇA 4 ................................................................................................ 72.

(12) ANEXO E – SENTENÇA 5 ................................................................................................. 74 ANEXO F – SENTENÇA 6 ................................................................................................. 78 ANEXO G – SENTENÇA 7 ................................................................................................ 80 ANEXO H – SENTENÇA 8 ................................................................................................ 82 ANEXO I – SENTENÇA 9 .................................................................................................. 85 ANEXO J – PROJETO DE LEI ........................................................................................... 87.

(13) 1 INTRODUÇÃO. Nos últimos anos, tem se acentuado a discussão em torno do efetivo acesso à justiça. Acesso que não tem um significado apenas processual, mas deve ser visto em sua inteireza de garantia fundamental, uma vez que compreende não apenas o direito à prestação jurisdicional, mas também o direito à ordem jurídica justa – alcançada através de mecanismos que efetivem e legitimem essa prestação jurisdicional. De fato, é preciso reconhecer que a simples possibilidade de ingressar em juízo não garante que esse provimento jurisdicional seja pleno e justo. Se por um lado a Lei garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, por outro, deve disponibilizar meios de efetivar esse acesso. Nesse sentido, e com o objetivo de ampliar o acesso à justiça, através da prestação da tutela jurisdicional de forma simples, desprovida de formalismos, de modo célere e com baixíssimo custo, foi promulgada a Lei n 9.099, em setembro de 1995, que criou os Juizados Especiais Estaduais. Nessa ocasião, prezou-se pela celeridade e simplicidade do Judiciário, tendo o legislador elencado como princípios norteadores desse Instituto a oralidade, a informalidade, a simplicidade, a celeridade e a economia processual. A importância do processo instituído pela Lei n 9.099/95, os efeitos benéficos que poderia trazer ao meio jurídico e social e a tendência natural de se tornar mais uma Lei que não atinge os fins para os quais foi criada, diante da inobservância dos princípios que lhes são próprios, nos inquietou, contribuindo, enquanto motivação, para a realização deste trabalho monográfico. Não obstante, e devido ao nosso interesse pela área de linguagem e argumentação jurídica, focamos o nosso estudo na questão da aplicação do princípio da simplicidade nas decisões judiciais proferidas nos Juizados Especiais, especialmente no que diz respeito à linguagem utilizada, que, conforme podemos depreender da Lei n. 9.099, deve ser simples, clara e concisa. Na verdade, não se pode falar em acesso à justiça mantendo-se a população distante das vias judiciais pela barreira da linguagem. Desse modo, podemos afirmar que a necessidade de ampliar a discussão sobre a simplificação da linguagem jurídica como meio de promover o acesso à justiça determinou a opção pelo tema em estudo, pois estamos certos de que um vocabulário mais simples, direto e objetivo, principalmente no que diz respeito às decisões judiciais, aproxima a sociedade da prestação jurisdicional. 12.

(14) Diante da certeza da imprescindibilidade da simplificação da linguagem e da dúvida em relação aos esforços nesse sentido, passamos a levantar uma série de questionamentos, sendo o principal deles: Os cidadãos sem formação jurídica que figurem como partes em um processo no Juizado Especial, postulando sem a assistência de advogado, seriam capazes de entender, sem maiores dificuldades, as sentenças proferidas pelo magistrado? Orientados por essa questão, propomos a presente pesquisa, que visa a atender aos seguintes objetivos: No plano geral: Analisar a aplicação do princípio da simplicidade nas sentenças proferidas pelos juízes do JECIV da comarca de Campina Grande. No plano específico: a) Descrever os aspectos em que se revela (ou não) o princípio da simplicidade; b) Verificar se a linguagem jurídica empregada nas sentenças constitui um obstáculo ao acesso à Justiça. Adotando uma perspectiva discursiva, trabalhamos com a hipótese que a linguagem jurídica apresenta uma opacidade e um purismo lingüístico que dificultam o seu entendimento para o leigo, de modo que os cidadãos sem formação jurídica, partes no processo, não são capazes de entender a decisão que a eles se destinam e que por eles há de ser cumprida. Com base nas apreciações esboçadas na análise dos dados Para o alcance desses objetivos, a presente monografia segue organizada em cinco seções, assim distribuídas: Procedimentos Metodológicos, que apresenta o tipo de pesquisa na qual se insere este estudo e os dados que compõem o corpus; Juizados Especiais Cíveis e o Acesso à Justiça, que aborda a estrutura e competência dos JECIV, seus princípios fundamentais e informativos e a questão do acesso à justiça; A simplificação da Linguagem Jurídica e a Sentença, que trata da linguagem jurídica como facilitadora do acesso à justiça e da caracterização da sentença; Análise dos Dados, apresentando a análise das sentenças e os resultados, e Considerações Finais.. 13.

(15) 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. 2.1 NATUREZA DA PESQUISA. A nossa pesquisa consiste num estudo exploratório, de cunho interpretativo e qualitativo, cujo objeto de estudo não tende à quantificação. Este tipo de pesquisa não se limita à descrição dos dados, o que constitui apenas uma etapa do processo, mas procura, sobretudo, entendê-los, explicá-los, mostrar o que e como significam (DUARTE, 2002). Os dados são de natureza documental, inseridos num corpus coletado previamente. Para a sua observação e análise, utilizamos a indução, método característico da metodologia interpretativista, pois partimos das observações particulares no âmbito jurídico com vistas ao desenvolvimento de possíveis conclusões a partir de padrões encontrados nos dados.. 2.2 INSTRUMENTO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS. A coleta de dados foi realizada no mês de setembro do ano corrente, quando nos dirigimos ao Fórum Afonso Campos, comarca de Campina Grande, a fim de ter acesso às sentenças proferidas nos Juizados Especiais e, a partir delas, investigar como o princípio da simplicidade tem sido aplicado nos Juizados. Para tanto, apresentamos o nosso projeto de pesquisa ao magistrado responsável pelo 1º Juizado Especial Cível, que foi muito solícito ao nos explicar o funcionamento daquela Vara e nos orientar em relação à seleção do material. Devido à implantação do E-Jus no Tribunal de Justiça da Paraíba, o sistema dos processos nos Juizados Especiais passou a ser eletrônico. Assim, se a parte optar por fazer o pedido inicial através de petição escrita (diante de possibilidade fazê-lo oralmente, na Secretaria do Juizado, como será devidamente explicado na sessão seguinte), será feito o upload do arquivo contendo a peça, que só será disponibilizada virtualmente; do mesmo modo se a parte contrária apresentar contestação escrita e se o juiz proferir sentença escrita, em momento posterior à audiência de instrução e julgamento. Destarte, o acesso a essas peças ensejaria certa dificuldade, explicou-nos o juiz titular. 14.

(16) Contudo, como o E-Jus foi implantado em 2007 nesta comarca (a primeira do estado a ser contemplada), ainda era possível encontrar naquela Vara autos de processo físico, cujo protocolo foi realizado quando ainda não vigorava o sistema eletrônico e cujo deslinde se deu apenas recentemente. Logo, em consenso com o juiz titular, resolvemos que seria interessante proceder a análise das decisões proferidas nestes processos e, com a autorização do magistrado, fotocopiamos algumas sentenças proferidas no mês de julho para constituir nosso corpus. Assim, o nosso corpus está composto da seguinte maneira: três sentenças que julgam procedente o pedido (anexos A, B e C); três sentenças que julgam parcialmente procedente o pedido (anexos D, E e F) e três sentenças que julgam improcedente o pedido formulado na inicial (anexos G, H e I). Todas essas sentenças foram proferidas no mês de julho do ano corrente pelo juiz titular da 1ª Vara do Juizado Especial da Comarca de Campina Grande e tratam de ações de indenização e cominatórias.. 15.

(17) 3 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E O ACESSO À JUSTIÇA. Hodiernamente, acentuou-se a discussão em torno do acesso efetivo à justiça bem como o empenho do legislador no sentido de ampliá-lo. Gomes et al (2009) explica que esse esforço se deve (também) ao reconhecimento de novos direitos substantivos, que expandiram significativamente o rol de possibilidades do exercício da cidadania por parte dos jurisdicionados, despertando a necessidade de garantir sua efetivação. De fato, de nada adianta ter um rol de direitos positivados se não há meios suficientes e satisfatórios de garantir a sua defesa. Destarte, as reformas legislativas brasileiras dos últimos anos têm procurado possibilitar a todos o acesso ao Judiciário, na tentativa de popularizar o processo. Nesse sentido, foi promulgada lei que garante assistência judiciária gratuita a todos os que necessitam ajuizar ações e não possuem recursos para pagar custas processuais e honorários advocatícios. Medida que, apesar de louvável, não foi suficiente para assegurar o amplo acesso à Justiça ante a lentidão e burocracia procedimental que maculam a boa prestação jurisdicional. Muitos continuaram não se valendo das vias judiciais, mesmo gratuitamente, por causa da infeliz certeza da lentidão na solução das controvérsias. Nesse ínterim, surgiram os juizados especiais – outrora juizados de pequenas causas, com o escopo de saciar o pleito da sociedade que clamava que os litígios judiciais de menor complexidade e cujo valor não fosse elevado tivessem solução de forma mais simples e mais célere, de modo a incrementar o direito de acesso às vias judiciais. Atendendo a esse clamor, os juizados especiais cíveis foram criados através da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, regulamentando o artigo 98, inciso I, da Constituição Federal de 1988. Prezou-se, na ocasião, pela celeridade e simplicidade dos juizados, tendo o legislador inovado em inúmeros aspectos, como na redução dos procedimentos formais, nos prazos e nas possibilidades recursais. Foram adotados os seguintes princípios informativos: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, elencados no artigo 2º da Lei 9.099/95. Princípios esses que caracterizam o Instituto, assegurando os recursos necessários para garantir que seja cumprido o papel a que a lei se destina, e cuja observância é indispensável para a efetividade da prestação jurisdicional que se pretende.. 16.

(18) Por inobservância desses princípios, em suas plenitudes, o objetivo principal do Instituto – ampliar o acesso à Justiça – tem sido prejudicado. As partes que dispensam a assistência de advogado, conforme o que lhes é permitido pela Lei, sentem-se embaraçadas ante as complicações do procedimento sumaríssimo. Em verdade, o acesso à Justiça não significa mera possibilidade de alcançar as vias judiciais. Sua concepção deve ir além, para conceder aos indivíduos reais oportunidades de contraditar as alegações do adversário, produzir seus próprios argumentos, entender a fundamentação das decisões, tudo dentro das suas capacidades intelectuais. Neste capítulo, discorreremos brevemente sobre o funcionamento dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, destacando sua estrutura e competência; analisaremos os princípios que regem os juizados especiais, tanto os gerais quanto os específicos – estes de maneira mais detalhada, e abordaremos a questão do acesso à justiça.. 3.1 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS: COMPETÊNCIA E ESTRUTURA. A origem legislativa dos Juizados Especiais no ordenamento jurídico pátrio encontrase na Constituição de 1967, capitulada no artigo 144, § 1º, alínea “b” – em que pese a existência do referido dispositivo constitucional, a regulamentação do mesmo se deu apenas dezessete anos depois, por meio da Lei n.º 7.244 de 1984, que institui os Juizados Especiais de Pequenas Causas. A CF de 1988, por sua vez, prevê que a União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados, criarão os Juizados Especiais Cíveis. Desse modo, os Juizados Especiais Cíveis, tal como contemplamos hoje, foram criados alguns anos após entrar em vigor o texto constitucional: precisamente em 26 de setembro de 1.995, com a promulgação da Lei n.º 9.099, que instituiu no ordenamento jurídico pátrio os Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A nova lei cria um mecanismo processual paralelo à Justiça Comum, na tentativa de ampliar a possibilidade de acesso ao Poder Judiciário,como se pode depreender das palavras de Donizetti (2010, p. 366):. A instituição desse microssistema processual representado pelos Juizados Especiais surgiu como resposta à insatisfação popular com a lentidão e o formalismo que dificultam a solução dos conflitos pelos métodos já existentes. Concebeu-se, assim, para as causas de menor complexidade, um processo orientado pelos critérios ou princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e. 17.

(19) celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação (artigo 2º). A finalidade de tudo isso, obviamente, consiste na ampliação do acesso à justiça.. De fato, pode-se afirmar que se introduziu no mundo jurídico um microssistema1 de natureza instrumental e obrigatório, destinado à rápida e efetiva atuação do direito, com a. pretensão de prestar a tutela jurisdicional de forma simples, desprovida de formalismos, atuando de modo célere e com baixíssimo custo, conforme Figueira Junior (1996, p. 13), visando pacificar os conflitos jurídicos e sociológicos dos jurisdicionados, principalmente em benefício das camadas menos afortunadas da sociedade. Para atingir esse fim, o microssistema processual dos Juizados Especiais conta com um rito apropriado e com disposições inovadoras no que diz respeito à competência, capacidade postulatória, composição, aos atos processuais em geral, entre outras. Assim, para compreender o funcionamento desse órgão, como ressalta Donizetti (2010), não basta verificar o procedimento adotado para instrução e julgamento de suas causas, mas atentar para as suas particularidades. Em relação à competência, a Lei n 9.099/95 dispõe que o Juizado Especial Estadual Cível é competente para julgar as causas de menor complexidade, assim entendidas as que preencham os requisitos de seu artigo 3º: I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil; III a ação de despejo para uso próprio e IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo. Compete também aos Juizados promover a execução dos seus julgados e dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo. A menor complexidade a que se refere a Lei 9.099/95 está diretamente ligada ao caminhar processual do litígio em juízo, uma vez que se exclui de sua competência causas cujo valor ultrapasse quarenta salários mínimos, obstáculos processuais que requeiram a dilação procedimental, como a prova pericial, e causas de elevado grau de complexidade da análise do direito material em questão. Desse modo, não basta o pequeno valor da causa para que ela seja de competência dos Juizados, mas é imprescindível que ela não seja considerada de grande complexidade. A lei também dispôs sobre a competência em razão das pessoas. Assim, só podem propor ações perante os Juizados as microempresas, as empresas de pequeno porte e pessoas 1 Para Alexandre Câmara (2007, p. 1), a Lei 9.099/95 juntamente com a Lei 10.259/2001 (que regula os Juizados Especiais Federais) compõe um importantíssimo microssistema processual, distinto do Código de Processo Civil, ainda que a ele tenha de recorrer para se completar.. 18.

(20) físicas capazes que não estejam presas e não sejam cessionárias de direito de pessoas jurídicas; no pólo passivo, não podem figurar incapazes, presos, pessoas jurídicas de direito público, empresa pública da União, massa falida e insolvente civil (art. 8º). A capacidade postulatória nos Juizados pode ser exercida pessoalmente pela parte – sem a assistência de advogado, nas causas de valor até 20 salários mínimos, sendo que se uma das partes comparecer assistida por advogado ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, gratuitamente (artigo 9º, § 1º). A assistência de advogado é obrigatória nas causas de valor superior a 20 salários mínimos e na esfera recursal. Tal modificação simplificadora da forma de postulação em juízo foi muito criticada em doutrina, por diversos fundamentos, especialmente o de que a parte sem auxílio do advogado poderia ser prejudicada no seu direito de ampla defesa, restando em posição de desvantagem em relação ao adversário na lide, o que seria indesejável, em virtude da necessária igualdade dos litigantes face à Justiça. No entanto, tais críticas caem por terra quando se tem em mente que ao juiz cabe manter, no processo, o princípio da isonomia, velando não só pela igualdade formal - tratar igualmente os iguais - como também no seu aspecto material, ou seja, tratar desigualmente os desiguais, como explicaremos mais especificamente na sessão que segue, relativa aos princípios. Ademais, a própria lei dos Juizados Especiais estatui que o juiz alertará a parte das conveniências do patrocínio por advogado, quando a causa o recomendar (artigo 9º, §2º). No que diz respeito à composição, além dos auxiliares da justiça mencionados pelo CPC, compõem-se os Juizados Especiais de juízes togados (juízes de direito), conciliadores, juízes leigos e turma recursal. Ao juiz compete dirigir o processo em todas as fases, inclusive na conciliação, que pode ser conduzida pelo conciliador ou pelo juiz leigo, e adotar a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum (art. 6º). Para a função de conciliador, a lei recomenda que a escolha recaia preferencialmente entre bacharéis em direito; quanto aos juízes leigos, a lei determina como requisito da escolha a experiência de mais de cinco anos de advocacia (art. 7º). Os juízes leigos podem conduzir a conciliação, a instrução e julgar, sendo que sua decisão se submeterá a homologação do juiz togado. Os conciliadores têm a função de conduzir a conciliação, sob a orientação do juiz leigo ou togado, participando ativamente das negociações.. 19.

(21) Apesar da previsão de um juiz leigo ser digna de elogios, porquanto a um só tempo alivia a carga de trabalho do juiz do togado e promove a aproximação com a parte, Donizetti (2010, p. 370) ressalta que não se pode deixar de criticar que pouco haverá de leigo no juiz recrutado entre advogados com mais de cinco anos de experiência. À turma recursal, composta de três juízes togados em exercício no primeiro grau de jurisdição, compete julgar recursos interpostos contra as sentenças prolatadas no Juizado Especial. Os atos processuais, nos Juizados, concorrem para a celeridade e economia processual, desse modo, por isso são escoimados de certas formalidades do Processo Civil. Eles são públicos (não incidem sobre os atos dos juizados as exceções do artigo 155 do CPC) e podem realizar-se em horário noturno. A citação é feita em regra pelo correio, com aviso de recebimento, ou por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória; admite-se a citação por hora certa, mas é vedada a citação por edital em qualquer hipótese. Ainda visando à celeridade e à economia processual, os recursos cabíveis nos Juizados são limitados. São cabíveis apenas os embargos declaratórios e o recurso inominado contra sentença. O recurso terá, em regra, efeito meramente devolutivo – mas pode ser conferido efeito suspensivo a fim de evitar-se dano irreparável à parte (artigo 43). O recurso extraordinário é, em tese, cabível, porém, será difícil que ocorra no julgamento nos Juizados Especiais ofensa direta à Constituição Federal, considerando os temas que normalmente lá são decididos - ofensa meramente reflexa à Constituição Federal inviabiliza a admissibilidade do recurso extraordinário. O processo nos Juizados é regido por princípios informativos, que o singularizam e o adaptam aos fins que pretende alcançar, além dos princípios mais fundamentais do processo, que devem ser observados em qualquer instância. A sessão que segue cuida de descrever tais princípios. Ante o exposto, concluímos que resta induvidosa a importância da Lei dos Juizados Especiais Cíveis a fim de tornar a Justiça Brasileira mais célere e, sobretudo, democrática. Embora a Lei não encontre perfeita aplicação, especialmente em nosso estado, visto que os prazos estipulados bem como outros aspectos normatizados não têm sido respeitos, em virtude do volume de processos e da problemática estrutura do Tribunal, não se pode negar que representa um grande avanço na promoção do acesso à Justiça.. 20.

(22) 3.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS JUIZADOS ESPECIAIS. Os princípios são regras estruturantes, que constituem a base lógico-jurídicoconstitucional de um sistema processual e cujo conteúdo vincula todos os preceitos que o compõem. São verdadeiros baluartes na salvaguarda da aplicação das leis, posto que auxiliam a interpretação e a aplicação da norma abstrata aos casos concretos. Para Miguel Reale (1997), os princípios são verdades fundantes de um sistema, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas. Em outras palavras, os princípios são intrínsecos aos sistemas que regem. Donizetti (2010, p. 74), por sua vez, ensina que os princípios são mandamentos de otimização, normas que ordenam que algo seja cumprido na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e fáticas de cada caso concreto. Eles orientam, podendo limitar ou expandir, as regras de um sistema. Vale acrescentar que certos princípios não se prendem à dogmática jurídica: a eles atribui-se elevada importância. De acordo com as lições de Cintra, Grinover e Dinamarco (2003, p. 50), considerando os escopos sociais e políticos do processo e do direito, esses princípios trazem em si sérias conotações éticas, sociais e políticas, de modo que valem como algo externo ao sistema processual e servem-lhe de sustentáculo legitimador. Estes autores afirmam que a forma e o caráter dos sistemas processuais são dados pelos preceitos fundamentais fixados pela ciência processual moderna, e que há princípios básicos comuns a todos os sistemas e outros que somente se aplicam a determinados ordenamentos aos quais são próprios e específicos, e é a observação destes princípios que qualifica cada sistema, estabelecendo o que ele tem de particular e de comum com os demais, do presente e do passado. Em relação aos Juizados Especiais, aplicam-se os princípios de duas ordens: (1) princípios fundamentais, que traçam regras gerais e são comuns ao processo civil como um todo, e (2) princípios informativos, específicos dos Juizados, estabelecidos pela Lei 9.099/95.. 21.

(23) 3.2.1 Princípios Fundamentais. Mesmo sendo uma estrutura normativa especial e tendo princípios específicos, os Juizados Especiais devem, antes de tudo, obedecer à principiologia constitucional, aos chamados princípios gerais, que regem todo o direito processual civil. Assim, a observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, por exemplo, é estritamente necessária para a legitimidade das decisões construídas também nos Juizados. Donizetti. (2010,. p.. 75). explica. que,. graças. ao. fenômeno. denominado. neoconstitucionalismo, vários princípios do processo ou estão consagrados no texto constitucional ou decorrem da necessidade de se efetivar determinada garantia constitucional. Nesse sentido, Cintra (2003) assinala que é, sobretudo, nos princípios constitucionais que se embasam todas as disciplinas processuais, encontrando na Lei Maior um ponto comum que permite que seja elaborada uma teoria geral do processo. Destarte, revela-se a necessidade de elencar e estudar os princípios constitucionais do processo, quais sejam: a garantia do devido processo legal, princípio do contraditório e da ampla defesa, princípio da isonomia, princípio da inafastabilidade, princípio do juiz natural, princípio da publicidade, princípio da fundamentação das decisões, princípio do duplo grau de jurisdição e inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito. O princípio do devido processo legal teve origem no direito anglo-saxônico2 e sempre foi indiretamente adotado pelas constituições pátrias, mas somente na Constituição de 1988 foi erigido expressamente à categoria constitucional. Ele acha-se consagrado no inciso LIV do art. 5º da CF: "Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". Uma definição estanque para o instituto é difícil, senão impossível, até porque ele não deve ficar restrito a conceitos pré-estabelecidos, porquanto que deve se adaptar aos novos direitos decorrentes da mutabilidade e avanço social. É considerado um princípio fundamental, uma vez que guarda estreita relação com todos os demais princípios aplicáveis ao processo, ao passo que é, ao mesmo tempo, preceito originário e norma de encerramento do processo. O devido processo legal, conforme as lições do professor Donizetti (2010, p. 76), apresenta duas vertentes: material e formal. Na dimensão formal, corresponde ao direito de 2 Foi na Carta Magna de João Sem Terra, em 1215, que ocorreu a original menção desse princípio, que representava uma garantia dos nobres contra os abusos da coroa inglesa, dispondo que ninguém perderia a vida ou a liberdade, ou seria despojado de seus direitos ou bens, salvo pelo julgamento de seus pares, de acordo com a lei da terra.. 22.

(24) processar e ser processado de acordo com as normas pré-estabelecidas – criadas de acordo com processo legislativo previamente determinado. Na dimensão substancial, diz respeito à garantia de que as normas sejam razoáveis, adequadas e proporcionais – para muitos, corresponde ao princípio da proporcionalidade. O princípio do contraditório, por sua vez, está consagrado no artigo 5º da CF e é um dos mais importantes corolários do devido processo legal. Como este, apresenta-se em duas dimensões: formal e substancial. Em sentido formal, é o direito de ser ouvido, de participar do processo. No sentido substancial, é o direito de participar do processo efetivamente, de forma a influenciar o convencimento do magistrado; corresponde à ampla defesa (DONIZETTI, 2010, p. 85). Além de constituir-se uma expressa manifestação do princípio do Estado de direito, o princípio do contraditório possui relação com o princípio da igualdade das partes, assim como seu direito de ação. O próprio texto constitucional, ao garantir a todos os litigantes o contraditório e a ampla defesa, quer com isso dizer que tanto o direito de ação quanto o direito de defesa são a perfeita manifestação do princípio do contraditório. O Julgador, por exercício de seu dever e função de dirimir os conflitos de interesses, coloca-se entre as partes de forma imparcial, ouvindo, pois, ambos os litigantes, conferindo-lhes a possibilidade de expor suas razões, de apresentarem suas provas, ou seja, ao final, por todos os fatos, argumentos e provas apresentados, influir sobre o convencimento do Juiz. Quanto ao princípio da isonomia, podemos afirmar que todas as normas expressas em nossa Constituição são mecanismos, meios ou formas de se conferir a igualdade entre as partes. Essa igualdade, contudo, não deve ser entendida em seu sentido formal, segundo o qual todos são iguais perante a lei, pois os sujeitos são diferentes e devem ser respeitados e considerados em suas diferenças. A igualdade deve ser contemplada em seu aspecto substancial, segundo o qual se deve tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, de modo a neutralizar as desigualdades. Processo devido, portanto, é aquele que assegura a paridade de participação e oportunidades, levando em conta as desigualdades existentes entre os litigantes, tal como ocorre no CDC em relação ao ônus da prova, que foi invertido em razão da hipossuficiência do consumidor. Nessa trilha, consubstancia-se a verdadeira garantia de acesso à justiça. A organização das defensorias públicas também atende à prerrogativa constitucional da isonomia, colocando os litigantes em situação de igualdade, posto que oferece aos mais carentes a assistência de um advogado. 23.

(25) Também figura no rol dos princípios fundamentais o princípio da inafastabilidade, também chamado de princípio da indeclinabilidade, que está previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal: A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Esse princípio diz respeito à garantia de ingresso em juízo e de análise da pretensão apresentada, uma vez que estabelece que o órgão jurisdicional, quando provocado, não pode recusar-se a dirimir o litígio. O processo deve respeitar também o princípio do juiz natural, segundo o qual todo cidadão tem o direito de ser julgado ou utilizar-se das prerrogativas do devido processo legal, com vistas a um julgamento por um Juízo ou Tribunal devidamente pré-constituído, ou seja, por determinado órgão já criado e designado pelo Estado como órgão julgador - investido de jurisdição, competência delimitada e com todas as prerrogativas da função. Esse princípio pode ser analisado sob os enfoques objetivo e subjetivo: na perspectiva objetiva, contempla duas garantias básicas, a proibição de juízo ou tribunal de exceção e o respeito às regras de determinação de competência; na perspectiva subjetiva, conforme Donizetti (2010, p. 79) encerra a garantia da imparcialidade. Outro princípio assegurado constitucionalmente é o da publicidade – que consiste em tornar acessível à sociedade o conhecimento dos atos processuais, conferindo transparência ao processo, ao mesmo tempo em que possibilita à coletividade exercer o controle sobre as atividades do Poder Judiciário. Não se trata, contudo, de uma garantia absoluta, uma vez que a Constituição Federal restringe seu alcance quando importar em prejuízo à intimidade ou ao interesse social. O art. 155 do Código de Processo Civil, em consonância com o texto constitucional, restringe a publicidade do processo às partes e seus procuradores quando houver exigência do interesse público ou a demanda versar sobre “casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores.” Vale uma ressalva em relação ao processo eletrônico: ele fragiliza o princípio da publicidade, na medida em que torna os documentos disponíveis exclusivamente para as partes e seus advogados, sob o argumento da segurança do sistema. Princípio de suma importância é o da fundamentação dos atos decisórios, que consiste na explicitação dos motivos que conduziram o julgador à decisão por ele proferida. A sentença sem fundamentação agride o ordenamento constitucional e mostra a face da arbitrariedade, incompatível com o Estado de Direito. Assinala Moreira (1980, p. 95) que esse princípio aplica-se aos pronunciamentos de natureza decisória emitidos por qualquer órgão do. 24.

(26) Poder Judiciário, seja qual for o grau de jurisdição, sem exclusão dos que possuam índole discricionária ou se fundem em juízos de valor livremente formulados. O princípio do duplo grau de jurisdição, implícito e imanente à ordem Constitucional, é o direito que tem a parte sucumbente de ver por duas vezes debatidas e apreciadas as suas teses em defesa do seu direito. Inerente ao sistema jurídico, esse princípio significa que, para cada demanda, existe a possibilidade de duas decisões válidas e completas no mesmo processo, emanadas por juízes diferentes, prevalecendo sempre a segunda em relação à primeira. No processo, corresponde ao direito a recurso. Este princípio tem fundamentos de ordem subjetiva e objetiva. O fundamento subjetivo diz respeito à necessidade psicológica do ser humano de ouvir uma segunda opinião. Na ordem objetiva, temos que não adiantaria assegurar direitos às partes se elas não tivessem como “obrigar” o juiz a observá-los, recorrendo a uma instância superior para sanar os problemas e inobservâncias do primeiro julgamento. Por fim, deve ser observado o princípio da vedação da prova ilícita. O processo deve ser ético, reprimindo-se a deslealdade das partes, razão pela qual a Constituição inadmite a utilização de provas ilícitas. Ocorre que a proibição constitucional da prova ilícita não é uma proibição absoluta, pois, num caso concreto, tal princípio pode ser afastado, quando em confronto com outro – ao aplicar-se o princípio da proporcionalidade – e a prova ilícita ser acolhida, visando à justa solução para o caso. Elencados todos esses princípios, constatamos que os Juizados Especiais não devem e não podem se eximir de respeitar preceitos constitucionais em nome da celeridade ou informalidade a que se propõem. Apesar de algumas peculiaridades do rito sumaríssimo, princípios como o da isonomia, do juiz natural e demais garantias do devido processo legal são aplicáveis em qualquer instância e em qualquer processo que se pretenda „justo‟. Vistos os princípios fundamentais e constitucionais do processo, que figuram como normais gerais a serem observadas em todos os órgãos e em todas as instâncias judiciais, passemos a estudar os princípios próprios dos Juizados Especiais.. 25.

(27) 3.2.2 Princípios Informativos. O artigo 2º da Lei n. 9.099/95 explicita os princípios que orientam o processo nos Juizados Especiais, os quais convergem na viabilização do amplo acesso ao judiciário:. Artigo 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.. Este artigo trata como critérios o que são verdadeiros e próprios princípios processuais. Conforme Alvim (2010, p. 19), o princípio é mais do que um mero critério, pois, enquanto aquele constitui a própria base lógico-jurídico-constitucional do sistema processual, este constitui um modus faciendi do processo; pelo que a violação de um princípio é mais grave do que a simples inobservância de um critério. Os princípios informativos dos Juizados Especiais assumem inestimável importância na caracterização do Instituto, assegurando-lhe os recursos necessários para que seja cumprido o papel primaz a que a lei se destina – de facilitar o acesso à Justiça; desse modo, a sua observância é indispensável para a efetividade da prestação jurisdicional que se pretende. Vale acrescentar que, observados os fins aos quais se destina o sistema dos Juizados Especiais, sua evidente importância jurídica atual e as perspectivas criadas para o futuro jurídico do país, em contraponto às deficiências do Poder Judiciário que dificultam o acesso à Justiça, os princípios que regem o processo especial, não raras vezes, não são observados, trazendo prejuízos à efetividade da prestação jurisdicional. Inúmeros os fatores que dificultam a aplicação dos princípios, como se pode observar no caso da Celeridade e da Economia Processual, que devido aos meios legais protelatórios, caem no desuso. A aplicação subsidiária do Código de Processo Civil e os critérios variados adotados pelos Juízes muitas vezes conflitam com esses e outros princípios, dando ao processo especial características alheias às previstas pela lei específica, tornando-o formal, complexo e demorado. Uma análise criteriosa sobre os princípios que regem o processo no Sistema de Juizados Especiais se faz necessária diante da importância que essa norma especial infere no judiciário brasileiro: trata-se da implantação de um processo com louváveis pretensões, com características próprias e que merece uma aplicação criteriosa e responsável de seus preceitos.. 26.

(28) 3.2.2.1 Princípio da Oralidade. Em observância ao princípio da oralidade, o uso da palavra falada assume especial relevância no processo dos Juizados Especiais, daí porque o chamam de processo oral (DONIZETTI, 2010, p. 367). Tal princípio manifesta-se desde a postulação do pedido (artigo 14, caput, da Lei n. 9.099), a apresentação da contestação (artigo 30), até a fase da execução dos julgados (artigo 52, IV), ficando a palavra escrita restrita aos atos essenciais. O pedido inicial, sendo oral, será reduzido a termo pela Secretaria do Juizado, a contestação e o pedido contraposto, bem como os demais atos, poderão ser gravados em fita magnética que se anexam aos autos, até o trânsito em julgado da decisão, agilizando em muito o ato processual, sem a necessidade de que seja ditado e digitado o texto, reduzindo-se a termo apenas a síntese do colhido no ato processual, tornando certamente tais atos processuais mais céleres. Em verdade, assim idealizou a lei especial. No entanto, na prática dos juizados estaduais, não se verifica larga aplicação desse princípio. Alerta Donizetti (2010) que, com exceção do ajuizamento da ação, dificilmente os demais atos das partes são praticados oralmente, sobretudo quando as partes se valem da assistência de advogado, cujo apego pela sistemática do processo civil tradicional incentiva a prática da escrita. É lamentável que, seja pela conduta do advogado seja pela problemática estrutura do poder judiciário, não assistamos à verdadeira implantação desse princípio. A oralidade é um remédio contra a aplicação mecânica das leis, na medida em que a sua adoção visou a maior proximidade do magistrado com as partes, com a situação real, e almejou uma decisão assentada sobre o sentir do magistrado e à vista dos destinatários da decisão, por isso mesmo um julgamento mais humano. O princípio da oralidade está relacionado a outros princípios processuais, entre eles o da imediação, que consiste no contato do juiz da causa com os litigantes e as provas que estão a produzir, recebendo o magistrado, sem a interferência de terceiros, como ressalta Cintra, Dinamarco e Grinover (2003), o conteúdo probatório que formará sua convicção. Outro princípio que acompanha o da oralidade é o da concentração, que consiste em reduzir-se ao máximo o número de audiências bem como o prazo entre os atos processuais, o que também não vem sendo observado na prática. Ainda em relação a esse princípio, vale transcrever as lições de Oliveira e Vilela (2006, p. 2): 27.

(29) A oralidade é hoje o princípio inspirador de todo o evento que gera a aproximação das partes, juiz, testemunhas, informantes, peritos e outros sujeitos do processo para transmitir, uns aos outros, na presença do juiz, impressões e entendimentos que tornem possível a reconstrução do caso concreto e a adequada reflexão sobre os aspectos fundamentais da lide. A oralidade é demonstração da participação democrática da formação do consenso e da produção do discurso.. Nota-se, com isso, que a oralidade não comporta mais o entendimento restritivo de ser conceituada simplesmente como o rito verbal, mas como instrumento de aproximação entre os sujeitos envolvidos no processo.. 3.2.2.2 Princípio da Simplicidade. Alguns autores, entre eles o ilustre professor Donizetti (2010), defendem que os princípios da informalidade e da simplicidade não guardam nenhuma distinção entre si, pois que decorrem ambos da perspectiva instrumentalista do direito processual, segundo a qual os atos processuais serão válidos sempre que atingirem sua finalidade. Contudo, apesar da estreita relação que guardam, acreditamos que eles comportam singularidades e por isso preferimos abordá-los separadamente para melhor especificá-los. No que diz respeito ao princípio da simplicidade, vejamos o que diz Cunha (1999, p. 25): Os Juizados Especiais sugerem um modelo que atendam às demandas de menor complexidade, para as quais seja suficiente uma versão simplificada do processo comum, a fim de se solucionar o litígio, tendo por finalidade oferecer solução de forma rápida, descomplicada e a baixos custos, principalmente para os casos que envolvam pequeno valor econômico.. O princípio da simplicidade configura um verdadeiro modo de ser do processo nos Juizados Especiais, sendo um norteador para a atividade do juiz, que o apreciará a fim de garantir que o Instituto cumpra os fins a que se destina. A simplicidade foi contemplada em muitos aspectos da Lei n. 9.009/95, como na competência, capacidade postulatória e na delegação de atividades. Em relação à competência, Catalan (2003, p. 29-30) aduz que o processo regido pela Lei Especial não comporta causas complexas, pois, em se processando causas de maior complexidade, como aquelas em que se faz necessária a prova pericial formal, estar-se-ia. 28.

(30) violando, além deste princípio, também outros como os da celeridade e da informalidade, desvirtuando totalmente o procedimento previsto pela Lei específica. Outro alvitre do princípio da simplicidade é a questão da capacidade postulatória, que nos Juizados pode ser exercida diretamente pelas partes – sem assistência de advogado, nas causas cujo valor não ultrapasse vinte salários mínimos. Neste condão, há de destacar que uma postura diferente deve ser adotada pelos operadores do direito, posto que não se pode exigir do leigo o mesmo conhecimento que possui um profissional, especialmente no que concerne à questões de ordem processual; sendo imperioso o abandonando de formalismos desnecessários. Ainda em observância a esse princípio, a lei em questão autoriza que os atos processuais sejam presididos por conciliadores e juízes leigos, o que, segundo Capelletti e Garth (2002), enriquece a vida da comunidade criando uma justiça mais sensível às necessidades locais. De fato, pessoas mais simples, às vezes, não se sentem muito a vontade defronte aos juízes togados e do natural formalismo do seu cotidiano. Observa-se, contudo, que os juízes leigos e conciliadores não têm acrescentado simplicidade e nem promovido a proximidade com as partes nos Juizados Estaduais, ao contrário, eles revestem-se da formalidade própria dos juízes togados.. 3.2.2.3 Princípio da Informalidade. O princípio da informalidade, juntamente com o da simplicidade, configura o modo de ser do processo nos Juizados Especiais. A informalidade significa que os atos processuais devem ser praticados sem apego a formas e ritos que possam comprometer a sua finalidade. Desse modo, esse princípio deve ser observado especialmente quando suscitada a existência de nulidades processuais, no sentido de que os atos que tiverem alcançado seu fim e não houverem prejudicado a defesa, devam ser aproveitados. Justifica-se, por esse princípio, a prerrogativa concedida à parte para que proponha sua reclamação de forma oral, por meio de simples pedido, sem necessidade da assistência por advogado nas causas cujo valor não ultrapasse os vinte salários mínimos; ou ainda, a permissão de que os juízes leigos presidam as audiências de conciliação e instrução e julgamento. 29.

(31) O princípio em análise justifica, sobretudo, a necessidade de nova postura a ser adotada por todos que atuam no sistema criado pela Lei 9099/95. Segundo Catalan (2010)3, os magistrados, por exemplo, devem ser mais ativos, servindo como apoio à solução dos litígios; os serventuários, por sua vez, devem estar preparados para atender adequadamente os que buscam os serviços jurisdicionais. E os advogados também possuem sua responsabilidade, cumprindo com seu dever ético, especialmente quando a outra parte não estiver devidamente assistida, evitando linguagem rebuscada e estratégias que possam ferir o princípio da isonomia.. 3.2.2.4 Princípio da Economia Processual. Partindo da premissa de que o processo é um instrumento, Cintra, Dinamarco e Grinover (1993, p. 72) destacam que deve haver uma necessária proporção entre fins e meios, para equilíbrio do binômio custo/benefício. É o que recomenda o princípio da economia processual. Este princípio estabelece que se deve buscar o maior rendimento possível na aplicação do direito com um mínimo de atos processuais. Em respeito a esse princípio, a Lei 9.099/95 determina que a manifestação sobre os documentos apresentados deve ocorrer imediatamente, sem interrupção da audiência (artigo 29, parágrafo único) e que, sempre que possível, a audiência de instrução e julgamento ocorra logo em seguida à sessão de conciliação (artigo 27). Catalan (2010) salienta que um dos objetivos dos Juizados Especiais Cíveis é que as demandas sejam rápidas e eficientes na solução dos conflitos, devendo ser simples no seu tramitar, informais nos seus atos e termos, bem como econômicas e compactas na consecução das atividades processuais.. 3 CATALAN, Marcos Jorge. Juizados Especiais Cíveis: Uma abordagem Crítica à Luz da sua principiologia. Disponível em: http://portal.tjpr.jus.br/download/je/DOUTRINA/Uma_abordagem_%20critica.pdf. Acesso em 27 de novembro de 2010.. 30.

(32) 3.2.2.5 Princípio da Celeridade. A Lei n. 9.099/95 prevê a observância do princípio da celeridade, de forma que o processo dure o tempo mínimo possível, atendendo a garantia constitucional de duração razoável do processo. Na justiça comum, avalia-se a duração razoável do processo observando alguns critérios, como o comportamento das partes, a complexidade da causa e a estrutura judiciária. Nos juizados especiais, não são examinadas causas de maior complexidade, por fugir de sua competência e finalidade, e o comportamento das partes presume-se não protelatório, pois buscam através da Lei Especial a celeridade na resolução do conflito. Nos juizados, a celeridade resulta da simplificação do procedimento, da instrumentalidade das formas (repulsa ao formalismo exacerbado) e da busca pela solução dos litígios de forma amigável (conciliação) . Conforme explicita Frigini (2004, p. 63-64), o fator tempo é imperativo para o sucesso do sistema dos Juizados Especiais, devendo os atos processuais serem realizados em tempo exíguo. Destaque-se que o termo adotado para o procedimento estabelecido na Lei n.º .099/95 não é sumário, e sim sumaríssimo, isto é, um rito extremamente rápido. Este princípio está intimamente relacionado com o princípio anterior, da economia processual. Na lição de Portanova (1997, p. 71), a celeridade é uma das quatro vertentes que constituem o princípio da economia processual; as outras são: a economia de custo, a economia de atos e a eficiência da administração judiciária.. Expostos os princípios norteadores do processo instituído pela Lei n. 9.099/95, ressaltamos que nem todos são efetivamente aplicados no dia-a-dia dos Juizados Especiais do Tribunal de Justiça da Paraíba, especialmente na Comarca de Campina Grande, cuja realidade conhecemos de perto. Em razão do princípio da economia processual, por exemplo, a Lei recomenda que, sempre que possível, a audiência de instrução e julgamento ocorra logo sem seguida à de conciliação, o que não verificamos de fato nesta Comarca. Distante disso, as audiências de instrução e julgamento têm sido agendadas, em média, para quatro meses após a audiência de. 31.

(33) conciliação4 e as sentenças, que deveriam ser proferidas na própria audiência ou, quando não fosse possível, em poucos dias após esta, sendo as partes intimadas no próprio termo de audiência da data de sua leitura5, demoram meses para serem proferidas, chegando a angustiar as partes – o que fere também o princípio da celeridade. O princípio da oralidade, por sua vez, não encontra larga aplicação em razão da precária estrutura do Tribunal de Justiça. Ao passo em que, nos Juizados Federais, todos os atos são orais e gravados em arquivos digitais, graças a um sistema acústico e informatizado de última geração, na Justiça Estadual não dispomos desses recursos, de modo que não há gravação nem mesmo em fita magnética, como prevê a Lei n. 9.099 de 1995. A oralidade, como concebida pela Lei, portanto, fica limitada ao pedido inicial – que, vale salientar, só é oral quando feito diretamente pela parte na Secretaria (e por esta reduzido a escrito), pois quando a parte está assistida de advogado, este o faz através de petição escrita. Em relação ao princípio da simplicidade, intimamente ligado ao princípio da informalidade, nos propomos neste trabalho a investigar sua aplicação nestas sentenças. Sabemos que a exclusiva aplicação dos princípios que regem a Lei 9.099/95 não resolve a crise que o direito vive neste início de século, mas, sua fiel observância já constitui um grande passo na construção de um sistema jurisdicional mais justo e eficiente.. 3.3 ACESSO À JUSTIÇA. O Direito Processual Civil, hodiernamente, tem se preocupado com o denominado acesso à Justiça, expressão que ficou consagrada após notável obra dos processualistas Mauro Cappelletti e Bryant Garth (2002), que identificaram os problemas relativos às deficiências do processo e dos procedimentos adotados na solução judicial dos conflitos de interesses bem como os fatores que dificultam o acesso à justiça. A expressão “acesso à justiça”, ao longo dos anos, mostrou-se de difícil conceituação, haja vista a mobilidade de paradigmas reinantes em cada época. Basta perquirir o pensamento. 4 Dados baseados nas audiências de conciliação realizadas no mês de abril do corrente ano, cujas audiências de instrução e julgamento foram marcadas para o mês de agosto. 5 Enunciado 95do FONAJE – Finda a audiência de instrução, conduzida por Juiz Leigo, deverá ser apresentada a proposta de sentença ao Juiz Togado em até dez dias, intimadas as partes no próprio termo da audiência para a data da leitura da sentença. (FÓRUM NACIONAL DE JUIZADOS ESPECIAIS. XXVII. Tocantins, 2010). 32.

(34) da sociedade laissez faire6, em que o acesso à justiça se resumia ao direito formal do indivíduo propor uma ação, independente de ter condições para tanto. O acesso à justiça correspondia, assim, a uma igualdade formal, mas não efetiva. Não obstante, tal conceito individualista foi paulatinamente extirpado pelas sociedades modernas, que passaram a reconhecer os direitos e deveres sociais do governo. O Estado passou a ter uma nítida atuação positiva, como instrumento de resguardo dos direitos sociais básicos. Nesse sentido, o acesso à justiça tem sido progressivamente reconhecido como um direito fundamental à ordem jurídica justa e ainda, nas palavras de Cappelletti e Garth (2002, p. 12), “o mais básico dos direitos humanos”: O acesso à Justiça pode, portanto, ser encarado como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos.. Não por acaso, o constituinte incluiu o princípio do acesso à justiça no art. 5º da Constituição Federal, justamente no âmbito dos direitos fundamentais7. O status constitucional conferido ao direito de acesso à justiça é a percepção de sua importância para a sociedade, visto que a Constituição é a lei fundamental do Estado dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Ademais, o acesso à justiça é a mais importante garantia de todo o sistema jurídico: oferecer à sociedade o acesso efetivo ao provimento jurisdicional quando esta tiver seus direitos violados é concretizar um sistema de normas materiais que por si só não garante a resolução de conflitos ou a tutela de direitos, uma vez que a titularidade de direitos é destituída de sentido na ausência de mecanismos para sua efetiva reivindicação. Dessa forma, observamos a importância de garantir o acesso da sociedade ao Judiciário, como o próprio fundamento de legitimidade desse poder. Nessa perspectiva, o acesso à justiça deve ser analisado sob dois aspectos, que juntos representam a amplitude da expressão: o formal e o material. No aspecto formal, o acesso à justiça refere-se ao fundamento básico do Estado de Direito, qual seja, o direito de ingressar em juízo com uma ação. É inegável a importância desse aspecto, posto que trata da função primeira do Judiciário – o provimento jurisdicional a todo cidadão; contudo, é preciso reconhecer que a 6 Laissez-faire é a contração da expressão francesa “laissez-faire, laissez-aller, laissez-passer”, que significa literalmente “deixai ir, deixai fazer, deixai passar” e é hoje expressão-símbolo do liberalismo econômico. 7 O artigo 5º dispõe que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Trata-se da maior e mais clara garantia de acesso à justiça prevista pela legislação.. 33.

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